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As Provas do
Colombo Português |
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8. Português do Seu Tempo |
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a
) Espírito Profético
Colombo tinha uma visão profética das descobertas?. Esta é uma questão
incontornável quando se estudam os seus textos. Em Janeiro de 1486 apresenta-se aos reis católicos com um
objectivo preciso: chegar à China (Cataio) navegando para Ocidente, e aí arranjar dinheiro
e aliados na Ásia para puder recuperar a cidade santa de Jerusalém e restaurar o Templo de Salomão (Sião).
A partir de 1492 assume-se
claramente como um "predestinado" para cumprir esta importante missão de
derrotar os muçulmanos, libertar Jerusalém e difundir o cristianismo. No final da vida assumia-se
já
como um messias, anunciado em
antigas profecias.
Depois de ter sido preso e expulso das Indias (1500),
resolve escrever um livro - o "Libro
de las Profecias"-
destinado a ser lido pelos reis católicos.
O título completo da obra é um
autêntico programa ideológico: "Libro o colección de auctoridades, dichos,
sentencias y profecías de la recuperación de la sancta ciudad y del monte de
Dios, Sión, y acerca de la invención y conversión de las islas de la India y de
todas las gentes y naciones, a nuestros reyes hispanos.» Na margem esquerda
superior do fólio 1, surge a seguinte nota: «Profecías que juntó el Almirante
Don Cristóbal Colón de la Recuperación de la sa. Ciudad de Hierusalem y del
descubrimiento
de las Indias, dirigidas a los Reyes católicos.»
O manuscrito que chegou até nós, datado de 13/9/1501 a 23/3/1502, está escrito
por várias mãos.
Em Março de 1502 confiou-o ao padre italiano Gaspar Garricio, a
quem lhe havia atribuído a tarefa de descobrir citações e profecias que se
ajustassem à sua condição de predestinado.
Nunca reviu o texto, como era sua intenção fazê-lo. Era constituído por 84
fólios, tendo desaparecido 14 fólios, e alguém escreveu na margem do fólio 77 que eram as
melhores profecias.
Trata-se de um texto ideológico que procura
fundamentar a sua posição de "predestinado" para cumprir uma profecia sagrada: a
reconquista de Jerusalém e a construção de um Império Universal cristão para os reis católicos.
1. Rivalidade com D. Manuel I ?
O modelo ideológico que Colombo
procura construir em Espanha é claramente decalcado daquele que os monarcas portugueses, em
especial D. Manuel I, construíram para justificar as conquistas e os descobrimentos marítimos.
Colombo não consegue disfarçar a sua
rivalidade com D.Manuel I, o Duque de Beja, mestre da Ordem de Cristo que
ascendeu ao trono de Portugal a 27/10/1495.
D. Manuel I, nas palavras dos
cronistas do tempo ascendeu ao trono em circunstâncias que pareceram de
"mistério e de profecia", "havendo então muitas pessoas vivas que antes dele
eram herdeiros, os quaes todos depois faleceram, para ele vir a herdar", nas
palavras de Garcia de Resende.
O nome de D. Manuel, era inspirado
nas Escrituras, como os cronistas também afirmam. Foi escolhido pelo facto do
seu nascimento ter ocorrido no dia do Santíssimo Sacramento quando a procissão
passava à porta da sua casa, na própria altura do parto. Cristovão Colombo também
adoptou um nome com idênticas conotações sagradas ("aquele que leva Cristo" e
"membro de uma irmandade").
D. Manuel, como escreve Paulo
Pereira (33), tornava-se assim no Emmanuel das profecias, nome que
significa em hebraico "Deus connosco", e que era também o nome do
nascituro ("aquele que há de nascer") que messianicamente assinalava a
libertação de Jerusalém, segundo as palavras de Isaías. A conquista de Jerusalém
era um dos grandes objectivos de D. Manuel I, para a qual procurou
chamar outros reinos europeus, como a Espanha, a fim de participarem numa grande cruzada (35).
D.Manuel I recebeu uma educação franciscana, impregnada das ideias de Joaquim de Fiore (36).Os seus
pais, mas também a irmã (a rainha Dona Leonor) manifestaram particulares devotos
do ideário franciscano (45). D.Manuel no seu
testamento fez questão de assinalar que tinha uma especial ligação à Ordem
Terceira de S. Francisco, ao mosteiro da Conceição de Beja e
ao de Jesus de Setúbal. Mandou que as missas em sua memória fossem em mosteiros
observantes (franciscanos), deveria ser sepultado, sem cerimoniais, num túmulo em
campo raso, etc. (41). Colombo foi sepultado, como vimos, numa igreja
franciscana.
Antigas profecias já anunciavam que
seriam os portugueses, e em particular D. Manuel, a descobrirem o caminho maritimo
para a India (37). Colombo, por sua vez, afirma que a descoberta das Indias já estava vaticinada na Bíblia(38):
"Del nuevo cielo y tierra que decía
Nuestro Señor por sant Juan en el Apocalipsi [21,1], después de dicho por boca
de Isaías [65, 17], me hizo mensajero y amostró aquella parte (Bartolomeu de las
Casas, Historia de las Indias, I, 181)
D. Manuel I fez-se representar como
rei David, por exemplo, na inicial do intróito ao 1.º domingo do Advento, no
Missal Rico, de Santa Cruz de Coimbra (39). Colombo identificou-se igualmente
com o rei David (38).
Os ideólogos da corte de D.Manuel,
como Duarte Galvão, exaltavam a sua figura como o de homem providencial,
construtor de um Império Universal. O título de imperador seria o
que mais lhe convinha, diz-lhe o vice-rei da India Francisco de Almeida(40).
Muitos estrangeiros tomavam o rei como o rei
santo que iria reconquistar Jerusalém (34). Foi neste ambiente profundamente
impregnado de profetismo que nasceu Bandarra, o célebre sapateiro de Trancoso,
cujas profecias tem alimentado farta literatura ao longo dos séculos.
Como é sabido, Colombo pertenceu à
Casa dos Duques de Beja-Viseu, encontrou-se com D.Manuel I em março de 1493, no
regresso da sua primeira viagem à America. Fruto de uma rivalidade cujos reais
motivos
desconhecemos, acusa o rei no Memorial de la Mejorada, em 1497, de não
estar a cumprir o que D. João II havia planeado.
2. Livro das Profecias
A
"obra" de Colombo apoia-se
nos profetas do Antigo Testamento, no Apocalipse, mas também em
autores medievais como Santo Agostinho, Joaquim de Fiori, Nicolas
de Lira, Pedro de Aliaco ou o rabi Samuel Jehui de Marrocos. Há três ideias básicas que
estão estão presentes ao longo do "livro das profecias":
- A história da
humanidade tem um sentido escatológico. O
mundo teve um início e terá um fim, por Deus determinado no começo dos tempos.
Após se terem concluído 7 mil anos sobre a sua criação ou 7 idades, viria um Anticristo,
a que seguiria o regresso de Cristo. O tema era corrente em Portugal,
nomeadamente nos cronistas oficiais como Fernão Lopes (c.1378-1459 ?).
As diferenças variavam em função dos cálculos efectuados sobre a duração das 7 idades do
mundo, o que depois se traduzia em diferentes datas para o Apocalipse ou fim do
mundo, e a vinda do Messias ou de Cristo:
Abraão Zacuto, judeu
português, amigo de Colombo e do rei D. Manuel I fixou o dilúvio para 1524 e a vinda do Messias
para 1525;
António de Beja, frade jerónimo, com o apoio de Dona Leonor, publica em
1525, um duro ataque contra os astrólogos, pois tinham previsto um grande
dilúvio para os dias 4 ou 5 de 1525, devido a um "ajuntamento de alguns
Planetas em ho signo de piscis".
Colombo declarou que o mundo acabaria em 1656; Outro judeu
português, Diogo Pires (? -1531) fixou a data para 1666; Fernão Lopes,
no século XV, afirmara que seria em 2156; etc.
D.
Alvaro de Portugal, o grande amigo de Colombo em Espanha, fez-se sepultar em
Portugal numa Igreja dedicada ao autor do Apocalipse - o Convento de São
João Evangelista, em Évora. Na capela-mor onde se encontra o seu túmulo
estão representados os três passos das "Revelações" do Apocalipse
de S. João, sendo o tema central o triunfo da Igreja sobre a Besta do Apocalipse.
A mesma obsessão que Colombo manifesta nas suas profecias.
- Todos os homens e nações tem um destino na terra que terão de cumprir. O
próprio Colombo considera-se a si mesmo um predestinado, atribuindo a descoberta das Indias a
um plano divino, o mesmo se passava com todos os reis de Portugal, sobretudo a
partir da 1º. Dinastia.
- O destino da Humanidade confunde-se com o destino do cristianismo: preparar a
vinda de Cristo, recuperar a terra prometida (Sião) e restaurar o Templo de Salomão,
criando o Império do Espírito Santo. A Fé é o verdadeiro motor da
história.
Esta
visão evangelizadora contrasta com a lógica de conquista e saque que espanhóis tinham das Indias. A barbárie não teve aqui limites. Os cerca de 300
mil indios existentes nas Antilhas, em 1492, foram exterminados em menos de 50
anos. Só no século XVI é que os espanhóis iniciarem a sua evangelização.
Tem
sido salientado que Colombo comunga de uma doutrina cristã muito próxima das
ideias de Erasmo de Roterdão, ao negar por exemplo que o "Espírito
Santo" fosse monopólio de qualquer seita, incluindo a cristã. Trata-se de
uma posição favorável aos conversos, mas também muito próxima da ideias
defendidas pela Congregação de São João Evangelista, protegida por D. Alvaro
de Bragança, amigo de Colombo.
O profetismo em Portugal tinha a
suas raízes mais profundas numa visão apocalíptica do tempo que remontava
a Aprígio de Beja (séc.VI), um dos primeiros comentadores do Apocalipse.
Uma temática alimentada pelos comentários do Beato de Liebana (sec. VIII) , estudados,
por exemplo, nos Mosteiros do Lorvão e de Alcobaça.
Foi também
influenciada pela mentalidade messiânica da vasta comunidade de judeus existente
no país.
No século XV, esta corrente apocalíptica muito viva na sociedade
portuguesa atingiu o seu apogeu na obra "Apocalypesis Nova - Nova
Apocalipse" (29), do
franciscano português - João da Silva Meneses, mais conhecido por beato
Amadeu da Silva ou de Portugal (1427?-10/8/1482) (30), cuja irmã - Isabel
Beatriz da Silva e
Meneses - comungava
de ideias similares.
b
) Espírito de Cruzada
As ideias proféticas de Colombo, nomeadamente o seu espírito
de cruzada constituíam a
base da ideologia que justificava as explorações marítimas e conquistas
portuguesas. O objectivo ideológico era recuperar Jerusalém e combater os
muçulmanos em África e no Oriente.
Colombo
reflecte a mentalidade que existia em Portugal no século XV e que se prolongou até finais do século XVI. Estamos perante uma pessoa que estava intimamente ligado à Ordem de Santiago de Espada, à Ordem de Cristo
ou mesmo à Ordem de Aviz, e que
compartilhava da ideologia do Estado português sobre a Expansão.
-
As crónicas do século XV de Fernão Lopes, Azurara, Duarte Galvão atribuem a
Portugal uma missão providencial.
Crónica de 1419 (42). Trata-se da primeira história de Portugal, escrita 4 anos
depois da conquista da cidade de Ceuta aos mouros no Norte de África.
A expansão é aqui apresentada como uma missão divina anunciada no século XII
ao 1ª. Rei de Portugal - D. Afonso Henriques. O "Milagre de de Ourique" narrado na Crónica era a "prova".
O primeiro rei de Portugal foi escolhido por Deus para levar a cabo
uma obra que faria os portugueses transcenderem-se na sua condição humana. Cabia-lhes combater
os infiéis, difundir o cristianismo e criarem um Império cristão
(a Cidade Santa de Jerusalém no mundo).
Crónica
D. João I. Fernão
Lopes chega ao ponto de afirmar que com a geração de Avis, que iniciara a
expansão para África, o mundo entrara na sua sétima e última etapa do
tempo.
- As principais ordens
militares, como a Ordem Militar de Cristo (sucedânea dos Templários) ou a Ordem Militar de Santiago de
Espada exaltavam o
espírito profético, repetindo os grandes temas da ideologia do Estado.
O
Convento do Carmo, onde foi sepultada a esposa de Colombo - D. Filipa Moniz Perestrelo
- não escapava a este ideário profético. Pertencia à Ordem dos Carmelitas,
foi construído em Lisboa no século
XV pelo Condestável do
Reino D. Nuno Alvares Pereira, onde ingressou e adoptou o nome de frei Nuno de Santa Maria.
Esta
ideologia expandiu-se sobretudo do reinado de D. João I, tendo atingido a
sua maior expressão no período de D. Manuel I.
0Atribuída
a Gil Vicente. 1506. Inscrição: 0.
MVITO. ALTO. PRI(N)CIPE. E. PODEROSO. SE(N)HOR. REI. DÕ. MANVEL.I. A . MANDOV.
FAZER. DO OVRO. I .DAS.PARIAS. DE. QVILOA. AQVABOV. E.CCCCCVI
A Custódia de
Belém foi feita com a primeira remessa de ouro vinda do Oriente, no mesmo
ano que Colombo morreu em Espanha.
Simboliza a
missão evangelizadora de Portugal, tendo no cimo a Pomba (Colombus em latim) do
Espírito Santo.
Colombo
não se cansa de enaltecer esta obra dos portugueses que
implicava enormes sacrifícios, e que segundo
ele consumira mesmo grande parte da população.
. |
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c) Astrologia
O Livro das Profecias revela
que Colombo era um cultivador da astrologia, não vendo nisso qualquer
contradição com o cristianismo.
O seu envolvimento com a astrologia, levaram-no a datar os acontecimentos em função de elementos
astrológicos. Fez coincidir os principais acontecimentos da sua vida, com o número sete e os seus múltiplos. Colombo afirma, por exemplo, que
andou 14 anos (2x7) a servir D. João II antes de ir para Castela. Aqui andou 7
anos a tentar convencer os reis católicos a apoiarem a sua ideia. etc. As suas
conhecidas visões ocorrem de 7 em 7 anos (Natal de 1492 e Natal de 1499). O
Diário de Bordo, da primeira viagem, está submetido a estas crenças
astrológicas.
1. Numerologia. Se o número 7 era de especial
significado para Colombo, não o era menos para os reis de Portugal. D. Afonso
V tinha o número 7 como sagrado (cfr.Damião de Góis, cap.L); As armas de
Portugal durante reinado de D. João II têm frequentemente 7
castelos, em torno de um quadrado.
2. Reis Astrólogos. Como é sabido todos os reis da dinastia de
Aviz eram amantes da astrologia, mas não eram os únicos (1 ).
- Alvaro Gonçalves Pereira, pai de D. Nuno Alvares Pereira era
astrólogo sabedor destas matérias (3), predizendo o futuro, nomeadamente dos
seus filhos.
- Os reis e infantes da Dinastia
de Avis eram particularmente dados à astrologia. O Livro da Montaria,
elaborado a mando de D. João I dá-nos conta dos tratados de astrologia
que na corte eram estudados. As expedições marítimas do Infante D. Henrique eram decididas após prévias consultas
astrológicas. Isaac Franco era
um dos astrólogos deste Infante. O
rei D. Duarte, no Leal Conselheiro dá-nos conta das suas
preocupações astrológicas, ao ponto de mandar que Diogo Afonso Mangancha
estudasse as permissões da Igreja Católica sobre esta matéria (1433-1438).
Este mesmo rei tinha como físico e astrólogo David
Guedelha ben Jachia, cuja família se dedicava também à astrologia. D.
Afonso V continuou a ter como astrólogo o mestre Guedelha, que chegou ao
ponto de sugerir alterações em decisões de Estado ( 4 ). D. João II vivia
rodeado de astrólogos, ao ponto de se fazer representar com um deles. D. Manuel I que tomou como símbolo a esfera dos astrólogos, era particularmente
inclinado à astrologia judiciária, segundo vários cronistas. Antes das
decisões sobre expedições marítimas eram consultados astrólogos. Entre os
que trabalharam para a Corte conta-se os Diogo Mendes Vizinho (morador em
Lisboa), e depois deste morrer Thomas de Torres, Çacoto (morador de Beja),
Abraão Zacuto e outros. A astrologia e a astronomia
andavam na época intimamente ligadas.
Na conspiração de 1484, e que
determinou a fuga de Colombo para Castela, esteve envolvido um astrólogo que
convenceu o Duque de Viseu - D. Diogo - que a conspiração teria êxito e que
ele seria o próximo rei de Portugal.
3.
Astrologia e Nautica nas Descobertas. Os
astrólogos tiveram em Portugal uma importância decisiva na navegação, pois o
longo do século XV, em colaboração com os navegadores, criaram instrumentos e
tábuas que permitiram a navegação astronómica nas descobertas, como o
Regimento da Estrela do Norte e o Regimento do Sol. |
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d ) Devoções
1 ) Espírito
Santo.
O culto
do Espírito Santo foi introduzido em Portugal,
no século XIV, por Isabel de Aragão e D. Dinis, os quais patrocinaram a
criação em Alenquer de um convento com esta evocação. Isabel de Argão,
recorde-se, era neta de Manfredo Hohenstaufen, protector dos joaquinistas.
Nas festividades
portuguesas, o Espírito Santo é apresentado como o Imperador do Mundo. O culto difundido
pelos franciscanos adquiriu durante o século XV uma enorme difusão em Portugal
continental, mas também nos Açores e Madeira e depois por todas as suas
possessões ultramarinas.
Nas próprias Canárias,
em 1504, os portugueses estão directamente envolvidos na construção e
posterior engrandecimento do Convento do Espírito Santo, na cidade de La
Laguna (Tenerife) (7)
Em Portugal no final do século
XV contavam-se 75 cidades, vilas e aldeias cuja matriz tinha o Espírito Santo
como seu orago. Existiam cerca de 80 hospitais e albergarias com uma capela que
lhe era dedicada (9). Calcula-se que existissem também mais de um milhar ermidas e
capelas em conventos e Igrejas desta evocação (8).
Os descobrimentos
foram na época apresentados como uma inspiração do Espírito Santo.
Duarte Pacheco
Pereira atribui os próprios descobrimentos henriquinos à inspiração do
Espírito Santo: "...ho Infante Don Anrrique... o qual alumiado da graça
do spirito santo e mouido por divinal misterio, em muitas grandes despesas da
sua fazenda e mortes de criados seus naturais portugueses mandou descubrir..."
(6 )
Desde o Infante D.
Henrique que as confrarias de mareantes de Lagos, Tavira e Porto tinham
como patrono O Espírito santo. Em Lisboa tinha inicialmente como patrono S.
Francisco, mas em 1455, irmanou-se com a confraria do Espírito Santo, adoptando
este nome. Os reis eram membros desta confraria.
O Infante D. Henrique no seu testamento mandou que fosse perpetuamente rezada uma missão a
Santa Maria e a comemoração fosse a do Espírito Santo. As Igrejas que teriam
esta obrigação eram muito significativamente as de Alcácer do Sal, Restelo, Cabo de S.
Vicente, Ceuta e em todas as que existiam além-mar.
Duas das ordens
militares muito ligadas Colombo deram uma enorme importância a este
culto:
a ) Na região
de Tomar, onde ficava a sede da Ordem da Ordem Militar de
Cristo (antiga Ordem dos Templários) o culto do Espírito Santo ainda hoje
está muito vivo nas tradições populares.
b ) Em Alcácer
do Sal, antiga sede da Ordem de Santiago de Espada, este culto despertava
igualmente uma enorme
devoção:
Um dos mais
importantes edifícios de Alcácer do Sal era o Hospital do Espírito Santo,
na qual existia uma capela com "uma imagem de pedra dourada,
representando Cristo, colocado acima estava uma um retábulo pequeno, de portas,
tendo uma imagem de Santiago, na outra um crucifixo e no meio o Espírito
Santo a descer sobre os apóstolos". (2 )
Na maioria das
povoações alentejanas onde viviam personagens ligadas a Colombo existiam
capelas dedicadas ao Espírito Santo.
Os exemplos podiam
multiplicar-se por grande parte de Portugal, em especial às localidades onde
existiam importantes comunidades de judeus e cristãos-novos.
2) São João
Baptista e São João Evangelista
A 19/11/1493
descobriu a atual ilha de Porto Rico, dando-lhe o nome de São João Baptista (San
Juan bautista). No ano seguinte, atribuiu o nome a outra ilha de São João
Evangelista, actual ilha dos Pinos, a sul de Cuba.
D. Alvaro de
Bragança, Dona Leonor de Lencastre e D. Jorge da Costa, três das personagens
portuguesas às quais teve uma ligação muito especial, tinham como referência
fundamental ambos os santos.
O primeiro financiou
em Évora, a construção do Convento dos Cónegos Seculares de São João
Evangelista (Lóios), onde se fez sepultar. A Rainha promoveu o culto de ambos
os santos, criando os seus paços em Lisboa, junto ao Convento dos Lóios. D.
Jorge da Costa, pertenceu a esta congregação.
3 ) São Fernando 3
Colombo
tinha uma crença muito arreigada em São Fernando. Rezava e fazia
promessas a este santo. Não restam grandes dúvidas que se trata do Infante Fernando (1402 -1443
), conhecido por Infante Santo. São Fernando era o sexto filho do rei João I
de Portugal e de sua mulher Filipa de Lencastre. Era mestre da Ordem de Aviz, cujo símbolo era uma Cruz Verde.
Envolve-se
numa cruzada contra os
mouros no Norte de África.
Em 1437 participa numa expedição, comandada pelo Infante D. Henrique.
Esta revelou-se um desastre, e para evitar a chacina dos portugueses é
negociada a sua rendição, sendo dado como penhor o Infante Santo, sob a
promessa de mais tarde libertarem Ceuta. Esta cidade nunca foi entregue aos
mouros, o Infante não foi
libertado e acabou por morrer nas masmorras de Fez (Marrocos).
D.
Afonso V, em 1471, conseguiu trazer os seus restos
mortais para Portugal, tendo-os depositado no Mosteiro da Batalha,
ao lado dos pais e irmãos, na Capela do Fundador.
Colombo
assistiu certamente a estes acontecimentos que tanto impressionaram a sociedade
portuguesa do seu tempo. Recorde-se que Colombo, quando aportou às Indias
(América) mandou erguer duas bandeiras com uma Cruz Verde, o símbolo da
Ordem de Aviz e de Portugal no século XV.
Alguns
autores associam estes São Fernando a um rei - Fernando III (Século XIII) - que uniu as coroas de Castela e Leão. Morreu em Sevilha (1252)
e foi canonizado santo em 1671 pelo Papa Clemente X.
4
) Nª. Srª. Conceição
Colombo
tinha uma especial devoção
por Nossa Senhora da Conceição, especialmente enquanto "virgem".
Deste facto nos dá conta o seu filho Hernando Colón. Na verdade a segunda ilha
que descobriu fez questão de lhe dar o nome de "Concepcion", isto é,
"Conceição". Em 1495 construiu um forte com este nome, perto da
cidade de Vega (Republica Dominicana). Pretendeu erigir na Hispaniola (R.Domicana/Haiti),
uma igreja dedicada a esta virgem para servir como panteão da sua familia. A igreja
veio a ser edificada pelo seu filho Diego (português).
Em Mouger (Huelva/Sevilha/Espanha), um dos portos usados por Colombo, existe
uma Igreja dedicada ao culto de Nossa Senhora da Conceição. Basta todavia uma
simples pesquisa para se verificar que o mesmo foi introduzido por uma
portuguesa familiar de Colombo, a Marquesa de Montemayor (ou de
Montemor-o-Novo), que fugiu para Castela em 1483.
Nas
cidades em que Colombo é frequentemente associado, como Génova ou Sevilha, no
seu tempo não existia qualquer igreja consagrada a Nª. Srª. da Conceição.
Em Portugal, pelo contrário no século XV abundavam, nomeadamente em Lisboa,
mas sobretudo nas terras alentejanas onde dominava a Casa de Bragança, como a
cidade de Beja.
Na
época em que viveu em Castela/Espanha, Colombo assistiu também à acção de
uma portuguesa em prol do culto desta virgem. Isabel
Beatriz da Silva e
Meneses (Ceuta, 1424-Toledo,
Agosto de 1492),
nascida em Ceuta, onde seu pai foi comandante da fortaleza, após ter vivido em
Campo Maior (Alentejo) foi para Castela em 1444 como dama da rainha
Isabel de Portugal, esposa do rei João II de Castela. Era irmã, como
dissemos, do beato Amadeu de Portugal (30).
Isabel
Beatriz da Silva, depois de uma episódio envolvendo Dona Isabel de Portugal, mãe de Isabel, a
Católica, cria em Toledo uma Ordem religiosa dedicada ao culto de Nossa Senhora da Conceição (Ordem
das Concepcionistas Franciscanas) ,
aprovada em 1491 pelo Papa Inocência VIII.
O
culto de Nossa Senhora da Conceição tornou-se num dos símbolos da Casa de
Bragança, e nomeadamente de Vila Viçosa. Os reis desta dinastia fizeram
questão sempre de o assinalar: Em 1646, D. João IV, decretou que esta virgem
fosse a padroeira de Portugal. Em 1819 , D. João VI, fundou em Vila Viçosa
(Portugal) a Ordem Militar de Nossa Senhora da Conceição.
Nossa
Senhora da Cinta, Alcácer do Sal (Alentejo)
5
) Nª.Srª. da Cinta
Colombo
terá feito a primeira e única referência a esta devoção no dia 3
de Março de 1493, no regresso da 1ª. viagem, no meio de uma tempestade,
quando prometeu ir em peregrinação a Santa Maria de Cinta. Las Casas que
compilou o seu Diário, onde aparece esta referência, afirma que se trata de um
santuário em Huelva. Como já anteriormente dissemos, na sede da Ordem de
Santiago, em Alcácer do Sal (Portugal), na Igreja de Santa Maria dos Mártires,
existe uma imagem de grande devoção, denominada Santa Maria da
Cinta. A Imagem, datada dos finais do século XIV ou princípios do século
XV ainda se encontra na mesma igreja onde desfrutava de enorme devoção.
A
sua iconografia é muito simples: a virgem segura o menino num braço e com o
outro aponta para a cinta
(cinto). O menino segura numa mão, uma pomba, símbolo do Espírito Santo. Ao seus pés surge um cavaleiro
da Ordem de Santiago de Espada. O escudo com uma cruz (espada ) no meio tem duas
vieiras (simbolo dos peregrinos), um cordeiro místico e um pequeno brasão
(Silveiras? Mascarenhas ?).
Em
Huelva, no santuário dedicado à mesma virgem a imagem que
aí se encontra é muito posterior, sendo a sua iconografia também muito diferente de Nª. Srª. da
Cinta.
Acontece que o retábulo primitivo que data do século XV, muito mutilado e repintado, tem uma inscrição escrita
em português que revela que o retábulo terá sido mandado fazer por um português. Está escrito o seguinte: (Mandou) (F)AZER ESTA OBRA FERNANDO
PINTO. ACABO(U) (NO ANO ...). (47).
Fotografia do retábulo do Santuário
de Nuestra Señora de la Cinta, em Huelva (Espanha) com a inscrição em português (47).
Não deixa de ser curioso que a virgem segure uma romã, um símbolo muito usado
pela rainha Dona Leonor de Lencastre e durante o reinado de D. Manuel I
(1495-1521).
Colombo ao evocar Nossa Senhora da
Cinta estaria provavelmente a fazer a um culto muito popular em Alcácer do Sal
(Portugal), que os portugueses estavam a tentar também difundir em Huelva na
segunda metade do século XV.
Quem era o português Fernando Pinto?
No século XV existia em Huelva e
Palos uma importante família, cujo principal membro - Fernando Afonso (Alonso)
Pinto foi condenado em 1496 por heresia (49). Uma acusação que a
Inquisição espanhola fez a milhares de portugueses que viviam Espanha e nas
Indias espanholas, e que resultou no confisco dos seus bens e na morte de largas
centenas. Mais
Acontece que este Fernando Afonso
Pinto era o proprietário da caravela Pinta (48), que sob o comando de
Pinzon fez primeira viagem às Indias.
Las Casas na compilação que fez do Diário de Colombo, alterou
claramente o texto
de modo a estabelecer uma relação da viagem com Huelva. Não
deixa de ser estranho que no mesmo paragrafo faça referências a Lisboa e não
a qualquer outra localidade da Andaluzia. A referência a Huelva está
deslocada do texto, parece ter sido um acrescento.
6
) Sta Maria de Gaudalupe
Tudo leva a crer que Colombo fosse
devoto de Santa Maria de Guadalupe. No regresso da 1ª. viagem, próximo dos Açores,
quando ocorreu uma forte tempestade, foi sorteado a bordo quem iria em peregrinação a "Santa Maria de Guadalupe"
no caso de se salvarem. Na segunda viagem às indias deu o nome de Guadalupe
a uma ilha. A verdade é que não há registo que alguma vez tivesse estado em
Guadalupe, na extremadura espanhola.
Esta virgem
era a padroeira dos resgatados, reféns ou cativos, sendo portanto de particular
devoção pelos marinheiros devido aos perigos que continuamente corriam não
apenas de naufragarem, mas sobretudo de serem capturados por corsários e
piratas.
Um dos problemas é saber a que Igreja/capela/ermida a que se estaria
a referir, tanto podia ser em Portugal, como em Espanha. Mais
7) Sta Maria do O
Na 1ª. viagem, no dia 18 de Dezembro
de 1492, fez questão de anunciar o dia de Santa Maria do O. Este culto estava
amplamente difundido em Portugal no século XV. Foi instituído pelo Concílio X
realizado em Toledo (656), onde estiveram presentes San Frutuoso de Braga
(Portugal), San Eugenio e San Ildefonso. Surge igualmente associado a Nª. Srª.
da Esperança, o culto que Pedro Alvares Cabral levou para o Brasil (1500).
8
) Nª. Srª.do Loreto
Não
foi apenas uma peregrinação a Guadalupe que foi sorteada nos mares dos
Açores, foi também uma a Nª. Srª do Loreto (5). A passagem no Diário
de Bordo parece ser uma invenção de Las Casas, de forma a introduzir o
papa nos escritos de Colombo.
É
possível que tenha falado de Loreto, mas as hipóteses são várias em
Portugal:
- Nossa Senhora do Loreto (Juromenha, concelho do
Alandroal, Alentejo). Segundo
a tradição Juromenha foi conquistada por D. Afonso Henriques, tendo dado o castelo a D.
Gonçalo Viegas, filho de Egas Moniz (antepassado da sua esposa - Filipa Moniz Perestrelo). O "Santuário Mariano"
(século XVIII), afirma que este rei tendo ouvido a história de Nossa Senhora
do Loreto (Itália), deu a esta terra alentejana o seu nome. No início do
século XIII, os castelos de Juromenha e do Alandroal passaram para a Ordem de
Aviz, cuja Cruz Verde, Colombo tinha como símbolo na sua bandeira pessoal ( consultar).
-
A capela de Nª. Srª. o Loreto, existe na freguesia
medieval de Lisboa com o mesmo nome, cujos florentinos transformaram
depois numa Igreja.
-
O Convento de Nossa Senhora do Loreto, em Santiago do Cacém. Este
convento foi fundado por D. Catarina
de
Noronha, esposa de Pedro Pantoja, comendador e alcaide-mor desta
vila e donatário de Tavira. Trata-se de um nobre de origem castelhana, oriundo
de Toledo, tomou o partido de Portugal contra Isabel de Castela, na
guerra da sucessão do trono de Castela (1475-1479).
|
q |
e
) Franciscanismo
Muito se tem escrito sobre o seu
franciscanismo (32), nomeadamente sobre a sua possível filiação na Ordem
Terceira de S. Francisco, muitos a dão como uma certeza. Exemplos: Em Palos ou
Sevilha manteve sempre próximo muito dos franciscanos. Fez-se sepultar num
convento franciscano em Valladolid (1506).
As raízes desta ligação aos
franciscanos tem que ser procuradas em
Portugal, onde Colombo durante 14 anos procurou convencer D. João II a realizar
a viagem que depois fez ao serviço dos reis de Espanha.
Colombo tinha em Portugal fortes
ligações familiares à Ordem Terceira de S. Francisco. Em 1480, quando ainda
vivia em Portugal, faleceu em Guimarães, com fama de santidade, Constança de Noronha,
duquesa de Bragança, familiar da sua esposa. Esta duquesa desde 1460 vestia o hábito desta ordem religiosa,
e com ele se fez sepultar.
Em Sevilha o seu amigo e protector - D. Alvaro de Bragança, foi criador
do convento franciscano de Santa Maria de Jesus (clarissas). A
rainha Dona Leonor, a grande reformadora das clarissas (46), também fez
questão se encontrar com Colombo, quando este regressou das Indias (América), num convento
franciscano (Santo António da Castanheira).
A explicação desta ligação é todavia mais
profunda:
Os franciscanos estiveram envolvidos desde a primeira hora
nos descobrimentos portugueses, este envolvimento constitui um traço peculiar da
expansão portuguesa (43). Esta era a sua fonte de inspiração e
mundividência.
Frei João de Xira,
por exemplo, foi quem pregou em Lagos a santa
cruzada, antes dos portugueses partirem a conquista de Ceuta (1415). Frei Aymano,
igualmente franciscano, foi o primeiro bispo de Marrocos e a seguir de Ceuta. Os
primeiros conventos fundados nas terras que eram conquistas ou descobertas eram
todos franciscanos: Convento de Ceuta (1415), na Ilha da madeira (1440), ilha de
Santa Maria (1446), Angra na Ilha Terceira (1452), Vila da Praia (idem, 1471),
Tanger (marrocos, 1472), etc, etc.
Frei Henrique de Coimbra, que integrava a
expedição de Cabral, celebrou a
primeira missa, em 22 de Abril de 1500, logo que os viajantes aportaram numa
enseada, a que deram o nome de Porto Seguro (Brasil).
O culto dos "mártires de marrocos" (franciscanos, séc.XIII) foi
recuperado no século XV, como uma arma ao serviço do expansionismo português: A
canonização deste martires ocorreu em 1481 (papa Sisto IV).
A
influência dos franciscanos na corte e principais casas da nobreza portuguesa era enorme. A maioria dos confessores reis
e rainhas da primeira e segunda dinastia eram franciscanos, seguidos a larga
distância dos dominicanos (44).
A literatura produzida durante a Dinastia de Avis,
como o Leal Conselheiro de D. Duarte foi profundamente influenciada pelo
ideário dos franciscanos.
1.
Rabida e Cartuxa de Sevilha
Uma
das primeiras pessoas que Colombo procurou em Castela, foi um frade franciscano
português - Frei
João Peres (ou
António de Marchena). no Convento de la Rábida, em Huelva.
Em
Sevilha foi relacionou-se de imediato com os franciscanos da Cartuxa de Santa Maria de las
Cuevas - , cujo altar-mor foi oferecido por D. Afonso V, rei de
Portugal. Neste convento, ainda em 1498, professava um parente da sua esposa - Frei
Rodrigo Móniz. Mais
2.
Ordem Terceira de São Francisco
Colombo
fazia parte da Ordem Terceira de São Francisco,
destinada a leigos, que podiam ser
casados, mas que se sujeitavam a regras muito rigorosas.
Em
Portugal vários
reis e rainhas fizera parte desta Ordem Terceira de S. Francisco. A rainha
"Santa Isabel" (c.1270-1336), mulher de D. Dinis, depois da morte
do marido, vestiu o hábito da Ordem Terceira e com ele foi sepultada. O rei D. Afonso V pretendeu tomar o hábito franciscano no Convento do
Varatojo.
A rainha Dona Leonor (14), mulher de D. João II,
também fazia parte desta ordem, fazendo-se representar com o seu hábito no
célebre quadro Panorama de Jerusalém, existente no Convento da Madre de
Deus (Lisboa), fundado por esta rainha em 1509. Entre os muitos
nobres que pertenceram no século XV a esta Ordem, conta-se o primeiro Duque
de Bragança.
A
rainha Dona Leonor com o hábito da Ordem Terceira de S. Francisco. Pormenor do
quadro Panorama de Jerusalém (1509-1517), oferecido pelo seu primo o
imperador Maximiliano I.
Os
franciscanos portugueses foram os grandes difusores das ideias proféticas de Joaquim de
Fiore. Este
abade cisterciense, numa reinterpretação do Apocalipse, dividiu a historia da Humanidade
em três Idades, correspondentes às três figuras da
Santíssima Trindade.
A Primeira era a do Pai, a do Antigo
Testamento e Temor; a Segunda
era a do Filho, o Novo Testamento ou da graça, e que corresponde à época que vivemos desde
o nascimento de Cristo; a Terceira, será a do Espírito Santo ou do Amor, em que todos atingirão a
iluminação divina. O Amor triunfará, assim com a luz, abolindo-se toda
a autoridade entre Deus e os seus filhos. A Nova Jerusalém será constituída
pelos pobres, fora da Igreja.
A Idade do Espírito Santo seria precedida pela vinda do
Anticristo.
3. Floreto de Sant Francisco.
A profecia de Joaquim de Fiore
foi largamente divulgada na Península Ibérica, a partir de 1450, através de
um texto anónimo chamado "Floreto de Sant Francisco" e que
depois publicado em Sevilha (1492) (11). A rainha
Dona Leonor patrocionou a sua publicação (19).
<<
O
Floreto é composto por 4 partes e 195 capítulos. No capitulo
XIII, onde aparece a célebre profecia, diz-se que apenas duas ordens do cristianismo
- a "Columbina"
(Franciscanos menores) e a "Corvina" (Dominicanos). A primeira
ordem seria aquela que conseguiria converter à fé todos os gentios das terras
conhecidas e das ignoradas, preparando deste modo a Idade do Espírito Santo. Uma terceira ordem havia de surgir quando estivesse para aparecer o AntiCristo, era a
ordem dos "Vestidos de Sacos", que segundo a profecia duraria pouco tempo. O
aparecimento da Ordem Terceira de São Francisco anunciava desta forma que o fim
dos tempos estava próximo.
Cristovão Colombo,
que leu o Floreto de Sant Francisco, provavelmente ainda em manuscrito, comungava das ideias proféticas veiculadas na Ordem Terceira
de S. Francisco.
No
regresso da sua primeira viagem, dirigiu-se para a Ilha de Santa Maria nos
Açores, aportando em Fevereiro de 1493, ao local onde os franciscanos criaram o
primeiro convento neste arquipélago. Em Portugal continental, assistiu a uma
missão com D. João II, no convento franciscano de Nossa Senhora das
Virtudes. Dirige-se a seguir para outro convento franciscano na
Castanheira, como veremos, para se encontrar com a Rainha Dona Leonor,
protectora dos franciscanos.
Depois de regressar da 2ª.
Viagem, a 11/6/1496,
andava pelas ruas de Sevilha vestido com um "saco", o hábito dos
místicos franciscanos da Ordem Terceira (18). A partir de 1501,
como vimos, procurava descobrir os sinais da vinda do AntiCristo.
Em
Fevereiro de 1502, pede ao papa para afastar a Espanha da evangelização das Indias, porque
estava a ser conduzida por Satanás, o Anticristo. Pede ainda para que lhe seja
concedida a direcção desta
nova cruzada, e a possibilidade de escolher aqueles que nela participariam (16).
Colombo afirma-se como alguém possuído de uma missão divina. Numa carta aos
reis espanhóis, em 1501, evoca uma (falsa) profecia de Joaquim de Fiore, na qual este
diz que haveria de sair de Espanha aquele que iria converter os gentios e
reconstruir o Reino de Jerusalém celeste (17).
A
explicação para esta crença de Colombo, está em Portugal, e envolve a rainha
Dona Leonor e um frade português chamado Fr. Afonso da Ilha (da Madeira
?). A teia de relações ainda não está totalmente investigada, eis algumas
pistas:
No
Convento de Xabregas, em 1493, um frade franciscano - Afonso da Ilha -, encadernou um
exemplar do Floreto de Sant Francisco, que havia sido adquirido em Sevilha e fora
pago pela mulher do escrivão dos livros de D. João II
(13).
O
livro foi depois oferecido ao convento de Santo António da Castanheira,
pelo vigário de observância, Fr. João da Póvoa (15), franciscano, confessor e
testamenteiro de D. João II. Foi neste convento que Colombo se encontrou a 11 de
Março de 1493, com a rainha Dona Leonor. O confessor do rei, os frades e
freiras do Convento de Xabregas e da Castanheira, assim como D. João II, a rainha e o próprio Colombo
parecem todos comungar das mesmas
ideias proféticas de Joaquim de Fiore. Mais
Estas
ligações não terminam aqui. Em
1543, na cidade de Medina del Campo, foi publicada um livro - "Tesoro de Virtudes"
-, da autoria de um frade franciscano português chamado "Fr. Alonso da Ilha".
Nesta obra faz-se a apologia de uma missão profética dos franciscanos nas
Indias espanhola. O livro foi dedicado a um enigmático português (Francisco
Pessoa) da corte da
imperatriz Isabel de Portugal.
A
evangelização do Novo Mundo, nesta perspectiva franciscana assumia assim um
visão profética, apocalíptica. No entanto, foi apenas em 1516 que foram para
as Indias espanholas - Venezuela - o primeiro grupo de franciscanos ligados a
este ideário. Os resultados foram desastrosos. Em 1524, partiu para o México
um novo grupo de 12 apóstolos franciscanos, e os resultados desastrosos
continuaram.
Em
Portugal, os franciscanos desde a primeira hora estiveram envolvidos nos
descobrimentos, inspirados nestas ideias proféticas.
O Franciscano Gaspar Gorrício
Desde 1497 que
cresciam em Espanha as acusações contra Colombo. No Vaticano,
o papa Alexandre VI (espanhol), procura controlar também as movimentações de Colombo. Os
espanhóis terão sido os primeiros a atacar afastando os frades franciscanos
portugueses que o apoiavam.
Gaspar
Gorricio, frade
franciscano italiano oriundo da cidade de Novara, foi enviado para
Espanha, tendo-se instalado na Cartuxa de Santa Maria de las Cuevas. A
partir de 1498, surge como o principal
confidente de Colombo.
- Apoia Colombo em questões teológicas e corrigindo textos de modo a
evitar problemas com a Inquisição. As ideias heterodoxas de Colombo
eram um sério problema, numa Espanha dominada pela intolerância e a
Inquisição. Um dos trabalhos que Colombo lhe deu foi o de reunir
profecias biblicas e de outros padres da Igreja para que pudesse
escrever um longo poema sobre o assunto (Livro das Profecias).
- Apoia Colombo nas mentiras que este fazia à Corte espanhola, como está
bem patente na correspondência que trocaram.
a ) A
primeira carta que Colombo lhe escreveu data de 12 de Maio de 1498 e é
uma das suas primeiras mentiras partilhadas. Estava então no porto de
Sanlucar de Barrameda, toda a história que inventa serviu-lhe para se
reabastecer de modo conveniente de modo a poder entrar com grande
aparato na Ilha da Madeira (Portugal) e visitar a Ilha de Porto Santo, e
depois expulsar das suas explorações pessoas incomodas que seguiam na
expedição. Nesta ilha foi recebido com grande entusiasmo, tendo-se
demorado o mais que pode.
b )
Outro dos seus embustes partilhados está na carta 20-25 de Maio de
1502, quando se dirigiu para Arzila para defender os portugueses que
estavam cercados pelos mouros, afirmando orgulhoso ao padre - "fui
o primeiro" a socorre-los !.
c) Apoio Colombo,
quando este procura garantir a transmissão dos seus privilégios ao seu filho
Diogo, envolvendo o Ufficio di San Giorgio (1502).
O padre
Gaspar Gorricio continua a ser um enigma, pois as mistificações que
tem sido alvo não permitem ver com clareza as suas posições. Ele próprio
dá conta da duplicidade, quando escreve - "Carro de las Vidas, é
a Saber, de Vida Activa y Vida Contemplativa" (Sevilha,1500).
A situação
acabou por se tornar explosiva, pois os frades representando diferentes
interesses não tardaram a entrar em guerra entre si. Por volta de 1500
os franciscanos espanhóis e franceses,
tentam afastar a concorrência, e acusam Colombo de estar a criar obstáculos
à evangelização nas Indias e se mostrar indiferente
perante a ladroagem dos estrangeiros, em particular dos genoveses. Colombo
e os seus irmãos são presos em Outubro de 1500.
A esta
contestação dos franciscanos não era alheia a reforma da Ordem que
estava a ser conduzida pelo Cardenal Gonzalo
Jiménez de Cisneros (1436-1517). A Espanha procura controlar o saque das Indias.
Colombo terá
procurado que Gaspar Gorricio, ligado ao Vaticano, interferisse a seu
favor junto do Papa. A sua situação era dramática: - não
confiava em frades espanhóis nem franceses, mas também não podia
apelar aos frades portugueses, pois seria desde logo acusado de traidor. |
Apesar
da sua ligação ao franciscanismo, Colombo não atribuiu nenhum nome a ilha ou
lugar, que sugerisse qualquer ligação a esta corrente cristã. A
interferência dos franciscanos espanhóis, italianos e franceses
desagradaram-lhe tão profundamente que até o santo foi esquecido. Mais.
f
) Jerónimos (Ordem de S. Jerónimo, Hieronimo...)
Colombo
relacionou-se também de forma muito particular com os frades jerónimos.
Aponta-se em especial o seu modo de vida e devoções.
O seu
contacto mais intenso com estes frades é provável que tenha ocorrido em Córdova, cujo convento dos jerónimos
foi fundado por um frade português. A devoção a Nª.Srª. de Guadalupe ter-lhe-á chegado através destes frades, cujo principal mosteiro em Castela
lhes estava confiado.
Em Sevilla, a sua parente - Marquesa de Montemor-o-Novo (conhecida
por marquesa de montemayor ou de Portugal), foi a grande benfeitora do Convento
de Santa Paula, pertencente à ordem dos jerónimos. Em 1498 Colombo
mudou-se para a calle Francos, para junto do Palácio desta marquesa,
frequentado pela sua cunhada e filhos.
A
verdade é que vários jerónimos espanhóis aparecem também no caminho de
Colombo, em geral para o tramarem:
Frei
Hernando de Talavera, prior do Monastero de El Prado, confessor de
Isabel, a Católica (1476), foi o primeiro frade Jerónimo com que se debateu em
Castela. Em Janeiro de 1486 a rainha mandou-o examinar o projecto de Colombo,
nomeando para tal uma comissão de astrónomos castelhanos. Apesar do
financiamento ser desde logo assegurado por Isaac Abravanel, o frade
dá-o por irrealizável (primavera de 1487). Questões diplomáticas impediam na
prática qualquer decisão sobre o assunto. O projecto só teve ordem para
andar, depois do falecimento do principe D.Afonso (18/5/1475-13/7/1491), filho
de João II e genro de Isabel, a Católica.
Os
reis católicos receberam-no, no regresso na sua primeira viagem, no Mosteiro de
San Jerónimo de la Murtra (Catalunha). Na sua segunda viagem, em 1494, levou
consigo frade jerónimo - Ramón Pané -, para aprender a língua dos
nativos. O frade foi obrigado a viver um ano no Forte da Magdalena. Colombo
mandou-o depois para junto do cacique Guarionex, mas pouco avançou na lingua.
Só aprendeu de facto alguma coisa quando Colombo regressou a Espanha, e o frade
foi viver para junto de outro cacique, Mabiatué. Em 1498 entregou-lhe relação
(22), que constitui um notável documento sobre as crenças e os costumes de
povos das Antilhas que foram entretanto exterminados.
Durante
o acidentado vice-reinado de Diego Colón, foram enviados três frades
da ordem de S. Jerónimo para o substituírem no governo de Santo
Domingo. Não tardaram a prosseguir a política de extermínio dos indigenas e
importação de escravos africanos (23). A 10/1/1519, escreveram a Carlos V que
os autorizasse a incrementarem, sem restrições, a importação de escravos
africanos, sob o pretexto que a varíola havia morto um terço dos indios.
Ainda
no inicio do século XVI, um frade jerónimo - António Aspa -, do
Convento de la Majorada, sustentou que Colombo era judeu. Esclarece ainda que
chamar alguém de genovês, queria dizer que o mesmo era judeu.
Em
Portugal não lhe faltavam também ligações aos frades jerónimos. D.Afonso
V e o Duque de Beja - D. Manuel (futuro rei) protegeram de forma
muito especial esta Ordem religiosa. D.Afonso V, em 1448, conseguiu
autorização papal para criação da Província Portuguesa da Ordem de S.
Jerónimo. D. Manuel I, uma autorização para a criação de 20
conventos!
Alguns
conventos e igrejas carregadas de significado:
No Restelo (Lisboa), D. Manuel I, mandou construir um mosteiro para os frades
jerónimos, no mesmo local onde Colombo, em Março
de 1493, chegou da sua primeiro viagem às Indias (América). O mosteiro
não foi todavia para comemorar este feito, mas sim a descoberta do verdadeiro
caminho para a India por Vasco da Gama.
No Cabo de São Vicente, tantas vezes referido por Colombo nos seus escritos,
existiu antes de 1506 um Convento dos Frades de S. Jerónimo.
Em Alcáçovas (Alentejo), onde foi assinado o Tratado de Alcáçovas, os Paços dos Henriques
foram profundamente alterados para darem origem a uma Capela dedicada a S.
Jerónimo.
Em Évora, a primeira iniciativa para a criação do Convento Jerónimo do Espinheiro,
data de 1420. Pedro de Noronha, bispo de Évora, conseguiu do uma autorização
do papa para o fundar (24). Pedro de Noronha, como já dissemos, era familiar
de Cristovão Colombo. O Convento acabou por só ser criado em
1457. Foi nele que ocorreram as Cortes
de 1481,na sequência das quais se desencadearam as conspirações de 1483 e
1485, que levaram Colombo a Castela.
Em
Coimbra, o Convento de São Marcos,
desta ordem religiosa, foi fundado pela mãe de Filipa de Melo, esposa de Alvaro
de Bragança, protector de Colombo, parente e amigo de Juan da Silva, Conde de
Cifuentes. O panteão dos Silva encontra-se neste convento.
A
relação de Colombo com os frades jerónimos portugueses, é muito diferente
daqueles com que se confrontou em Castela e Aragão.
g) Judaísmo
Não restam
dúvidas que Colombo tinha uma forte ligação ao judaísmo.
Nas suas cartas aparecem frequentes elementos que apontam para esta ligação.
Os seus inimigos, assim como os falsários italianos sugerem que se trata de um cripto-judeu.
Esta ligação podia não ser de raça, mas
foi certamente obtida através de um contacto muito próximo com os
judeus. Um facto que o afasta também da possibilidade de ser genovês. Na
verdade, uma das cidades mais anti-semitas de Itália era justamente Génova. Desde o século XII que os judeus estavam proibidos de permanecerem na cidade mais do
que três dias. Um dos nomes pejorativos dados aos judeus era justamente o de
"genoveses". Chamar a alguém de genovês era o mesmo que dizer que ele era
judeu.
Portugal
ao longo de todo o século XV e XVI foi o país do mundo que contou com maior
percentagem de judeus na sua população. Um número que aumentou
consideravelmente, em 1492, quando foram expulsos de
Espanha.
1
) Os judeus foram
largamente protegidos por monarcas como D. Afonso V ou D. João II, amigo intimo de
Colombo. Estavam largamente difundidos pela sociedade portuguesa, ocupando postos chave
na corte, nos negócios maritimos, navegações e estudos nauticos. Muitos portugueses que
iam para Espanha, nesta época, eram apontados como os judeus. Ainda no século
XVII desta fama não se livravam tal era o número de judeus existentes em
Portugal.
Apesar
da expulsão no tempo de D. Manuel I, a maioria dos judeus optou por ficar no
país, tendo-se convertido ao cristianismo ou adoptado práticas cripto-judaicas.
2
) Colombo estava ligado à Casa de Bragança, uma ligação que os seus
descendentes fizeram questão de manter e reforçar. Acontece que a
Casa de Bragança desde o seu inicio esteve sempre ligada aos judeus, inclusive
na sua origem. Os
duques estavam rodeados de judeus que lhes prestavam os mais variados serviços,
nomeadamente o de banqueiros. Uma das suas principais fontes de receitas era
justamente o rendimento obtido na judearia de Lisboa. D.João I, a 20/8/1385 doou a D. Nuno Alvares Pereira o
"serviço Real dos Judeus da cidade de Lisboa e seu termo", o qual pouco depois
doou estes rendimentos à Casa de Bragança, que apenas os deixou de
receber quando em Dezembro de 1496, D. Manuel I "expulsou" os
judeus.
3
) A única esposa
legitima de Colombo - Filipa Moniz Perestrelo - era descendente de judeus
convertidos ao cristianismo, tratava-se portanto de uma conversa ou cristã-nova.
Não é de estranhar que tivesse posições coincidentes com as dos
cristãos-novos sobre as relações entre cristãos e judeus.
Na
região de Portugal em que viveu, estudos genéticos recentes revelaram que 37%
da população portuguesa tinha origem judaica. Um dado ilustrativo do peso que
o judaísmo tinha no país naquela época. |
|
h
) Nobre-Mercador, Escravatura e Ouro
A
conquista e o saque foram justificados por Colombo como meios de obter recursos
para resgatar Jerusalém, um argumento inúmeras vezes usado ao longo da
história por cristãos e judeus, para justificarem todo o tipo de barbaridades.
A sua posição é comum à grande
número de nobres portugueses envolvidos nos descobrimentos marítimos, onde
religião, conquista e comércio andavam interligados.
Quando chega às Antilhas a sua
primeira preocupação foi avaliar a tecnologia dos "indios" (indigenas),
de modo a poder calcular a sua capacidade de resistência ao seu domínio e
escravatura. Avaliar os locais onde podiam ser construídos armazéns, fortalezas
e portos, deixando assinalados no Diário de Bordo muitos destes locais. Ao mesmo
tempo foi fazendo o levantamento do potencial económico de tudo o que
observou: indios, arvores, plantas, frutos, pescarias, metais, etc.
As "conversas" com os "indios" não
tinham outro objectivo senão descobrir potenciais fontes de negócio, em
particular, saber onde se podia encontrar ouro. Chega a proibir as trocas de
outros produtos entre os marinheiros e os indios, não fossem estes pensar que
estariam interessados noutra coisa senão no ouro.
1. Escravatura
Colombo
que andara no tráfico de escravos (Diário de Bordo, 12 de Novembro de 1492),
quando chegou às Indias fez logo
questão de registar que as populações que encontrou podiam ser facilmente
dominadas, isto é, reduzidas à escravatura. Não se cansa de afirmar o seu enorme
valor económico como mercadorias, indicado potenciais mercados para exportação.
Se no princípio ainda descreve os indios como "bons selvagens", rapidamente
abandona este discurso. A
inovação na argumentação de Colombo consistiu em mostrar que os indios das
Caraíbas eram canibais.
O argumento do canibalismo servia na perfeição para justificar a escravatura dos indios, sendo a sua
captura legitimada pelo conceito de guerra justa.
No
Diário de Bordo, a 23/11/1492, dá conta que foi informado por indios que havia
em "Bohío", muito perto do local onde se encontrava: "gente
que tenía un ojo en frente, y otros que se llamaban caníbales, a quien
mostraban tener gran miedo. Y desque vieron que lleva este camino, diz que no
podían hablar porque los comían y que son gente muy armada."
Volta
a referir-se à existência de canibais nas Caraíbas a 27/11/1492. No dia
17/12/1492 conclui que os canibais eram " gente del Gran Can". Volta a
referir-se-lhes a 17 e 23/12/1492, para a 13/1/1493, declarar que as ilhas das
caraibas viviam num grande terror devido aos canibais que nelas existiam.
Colombo
encontrava aqui uma justificação para reduzir à escravatura todos os indios
das Caraíbas, pois não passavam canibais ou seus descendentes ( 27). Havia que
os capturar caso contrário os europeus e os indios potencialmente evangelizados
acabariam devorados.
No regresso da sua primeira viagem,
trouxe dez indios (25), mas só seis chegaram vivos à corte espanhola, e não
tardaram em serem vendidos como escravos.
A partir da 2ª. viagem às
Indias (1493), sobretudo quando chegou às Indias Bartolomeu Colon,
começa a desenvolver-se um intenso tráfico de escravos das Antilhas
para a Europa.
Em
Fevereiro de 1494, apanhou cerca de 1.600 Indios na Hispaniola, depois de várias
fugas e matanças, acabou por conseguir enviar para Castela através de António Torres, em quatro navios, mais de
500 escravos, dos quais perto de 200 morreram a bordo. Cuneo escreveu um retrato
impressionante da diversão que constituía apanhar e matar estes indios. Andrés
Bernaldez, garante que os indios tinham uma "boa idade", isto é, "entre os 12 e
os 35 anos, mais ou menos" (cap.CXXX) (31).
Em Junho de 1496, quando regressa da sua 2ª. viagem, trás consigo
mais um carregamento de escravos, que Hernando Colón descreve como potenciais
canibais.
A 23/4/1497, com a permissão real,
funda um morgadio (mayorazgo) em Vega Real, na Hispaniola, impondo um sistema de prestações
pessoais aos indigenas, que na prática os transformava em seus escravos.
Em 1498, escrevia aos reis católicos que projectava vender aqui
4.000 escravos por ano, esperando obter uma renda superior a vinte milhões de maravedís.
Outras das inovações de
Colombo, irá consistir em usar os indios como "moeda" de pagamento ou
recompensa de serviços. Um sistema que se desenvolve de forma acelerada a
partir de 1499.
Em vez pagar ordenados em falta ou
distribuir comida pelos colonos dava-lhes indios. Os que regressavam a Espanha,
não podiam levar o ouro que haviam extraído, mas tinha a possibilidade de levar
consigo indios para venderem.
Esta distribuição de indios pelos
espanhóis acabou por dar origem às célebres "encomiendas". As terras
atribuídas aos colonos vinham acompanhadas de indios para as trabalharem e
servirem os seus donos, vivessem ou não nas colónias. Em 1511, por exemplo,
Hernando Colon recebeu uma "encomienda" de 300 indigenas na Hispaniola, cujos
rendimentos da sua exploração recebia em Espanha.
Em
Ter-se-á afastado Colombo das suas ideias
proféticas
?
Face
aos quadros mentais actuais existe uma total incompatibilidade entre
cristianismo e escravatura, o que não é verdade até ao século XVIIII ou
mesmo XIX.
Miguel
Angelo, por exemplo, na capela de Sistina no Vaticano, louva a obra dos
portugueses no "resgate" que faziam dos africanos.
As
conquistas portuguesas em África foram equiparadas a cruzadas em 1442 (Bula
Illius Qui), o papa autorizou-os também a reduzirem perpetuamente a escravatura
de todos os africanos a sul dos Cabos Não e do Bojador em 1552 (Bula Dum
Diversas). A única condição que lhes impôs foi a de continuarem a
"guerra justa" contra os infiéis, e procurarem converter ao
cristianismo os escravos negros trazidos para Portugal.
O tráfico de
escravos era uma prática corrente nesta altura, abençoada pelo próprio papa,
e que não escolhia condições,
credos, religiões ou nacionalidades.
A
argumentação de Colombo é no fundo IGUAL à que os negreiros portugueses
faziam na altura, e que será objecto de uma profunda crítica no século XVI
por parte de Fernão de Oliveira.
A
verdade é que Isabel, a católica, em 1500, ficou assustada com o negócio da
escravatura desenvolvido por Colombo, mandando que algumas centenas de escravos
indios estavam em Castela fossem de novo mandados para as Indias. O
negócio continuou a prosperar em Castela e nas Indias.
Em 1508 já a corte
espanhola autorizava a escravização dos indios lucaios (lucayos), e em 1511
autorizava a captura de todos os indios caribes. O resultado foi o extermínio
destes indios.
Lisboa e Sevilha eram os dois principais mercados de escravos
indios das Indias espanholas destinados à Península Ibérica (26).
Os resultados desta brutal
exploração dos indios, nomeadamente na Hispaniola, traduziu-se em poucos anos na
sua quase completa extinção (27).
Não deixa de ser significativo
que o ponto comum a todos os italianos ligados a Colombo, ser o facto de terem
uma longa experiência no comércio de escravos, como era o caso de Juanoto
Berardi, Simón Verde, Piero Rondinelli ou Affaitati. Mais
2. Ouro
Colombo tinha uma verdadeira
obsessão pelo ouro. É elevadíssimo o número de vezes que esta palavra aparece
nos seus escritos. No seu Diário de Bordo, entre 13/10/1492 e 4/3/1493 refere
127 vezes a palavra ouro. Nas obras que possuía é manifesta a sua preocupação em
assinalar todos as terras e locais onde se dizia existir "ouro" ou pedras preciosas, como é bem patente nas
anotações que fez na obra Ymago
Mundi de Pierre d`Ailly.
O ouro é a salvação para tudo, quer
seja para resgatar Jerusalém dos muçulmanos ou para entrar no paraíso:
"El oro es excelentissimo; del
oro se hace tesoro, y con el, quien lo tiene, hace cuanto quiere en el mundo, y
llega a que echa las ánimas al paraíso", Colombo, Carta da Jamaica, 1503
(28).
Este facto, maliciosamente, tem sido
atribuído uma forte influência judaica. Trata-se de uma
obsessão não apenas características dos judeus, mas também dos portugueses
do século XV. Não nos podemos esquecer que o próprio Colombo assistiu à
construção da Fortaleza de S. Jorge da Mina (Gana), onde o ouro, mas também
os escravos seriam abundantes.
A Europa, como sabemos, vivia na
altura uma enorme
escassez deste metal, o que afectava o desenvolvimento do comércio
internacional. Um factor que terá contribuído para a enorme importância que
atribuía a este metal, ao ponto de afirmar que com ele tudo se conseguia,
inclusive entrar no Paraíso...
Colombo revela saber identificar com
precisão os locais onde poderiam existir ouro. Um dos primeiros locais que
identificou, como potencialmente ourífero, foi significativamente comparado com
a foz do rio Tejo, junto a Lisboa, onde durante largos séculos foi extraído
ouro das suas areias.
O problema é que não encontrou ouro
nas quantidades que afirmava existir. Não nos podemos esquecer que para conduzir a Espanha ao logro
das Indias, de início só
poderia dizer que o negócio valia a pena, porque as Indias eram ricas em ouro e pedras preciosas, pérolas.
Um discurso que se viu obrigado a manter ao longo dos anos.
A fim que nenhuma pepita pudesse
fugir-lhe das mãos, montou um brutal sistema para o extrair onde ele pudesse ser
encontrado:
- Os indigenas eram obrigados a
trocarem ouro por todo o tipo de quinquilharias sem valor. Estava sujeitos
pesados tributos em ouro. Em 1495, todos os indígenas que tivessem mais de 14
anos, tinham que pagar este tributo em ouro, cuja parte que pertencia à corte só
era entregue a cada 3 anos, ficando entretanto à guarda de Colombo;
- Os colonos estavam proibidos de
terem ouro, ou fazerem qualquer compra com este metal. Morriam à fome, apesar de
terem consigo ouro. Eram frequentemente multados, de modo a extorquirem-lhes
todo o ouro que pudessem ter. Mais
Perante a continua escassez de
resultados, queixava-se que a culpa era da falta de mineiros competentes e da
preguiça dos espanhóis. Paralelamente vai dizendo que, o principal ouro das
Indias era a abundância de indios para escravizar.
Foi este saque desenfreado de ouro
que, segundo Andrés Bernaldez (1450 - 1513) (31), que o moveu a descobrir
e esteve na origem da sua prisão e dos irmãos em 1500 (cap.CXXXI).
Modelo
de Colonização
A hábil propaganda que Colombo fez
das terras que descobriu a Ocidente, a partir do século XVI irão provocar uma
verdadeira corrida ao "Novo Mundo" por parte de franceses, ingleses, alemães e
depois holandeses. O que é que esperam encontrar?
Duas coisas essenciais: Em primeiro
lugar ouro, muito ouro. A seguir, animais selvagens, com a aparência humana (indios),
mas que na realidade são ferozes canibais. Se a procura do ouro acabou a maioria
das vezes numa completa desilusão, o discurso do canibalismo, legitimou o
extermínio dos povos nativos da América.
O cura de Los Palacios - Andrés
Bernaldez (31) -, explicitou o outro argumento legitimador do extermínio dos
povos indigenas: a questão da sua utilidade. Se os conversos (cristãos
novos) deviam ser exterminados porque viviam da usura e desprezavam a
agricultura, com mais razão se deviam exterminar os povos bestiais, preguiçosos
e maus para trabalhar que Colombo encontrara nas Indias (cap. CXXII).
Andrés Bernaldez, estava de acordo
com Colombo num outro ponto fundamental: - o que verdadeiramente interessava era
o ouro que se podia obter.
As palavras e o exemplo de Colombo
serão inúmeras vezes evocados pelos colonizadores europeus da América. |
.
Beatificação de Colombo
Apesar deste
comportamento contraditório de Colombo, no século
XIX, não deixou de surgir um forte movimento a que reclamou a
sua beatificação. O processo
foi conduzido próprio Vaticano, envolvendo dois papas: o papa Pio
IX e Leão XIII, que não se coibiram de contribuir para a mistificação e
falsificação da biografia de Cristovão Colombo. Mais
Os italianos
emigrados nos EUA, com o apoio do Vaticano e dos Cavaleiros de Colombo, conseguiram
igualmente que o dia 12 de Outubro fosse consagrado como feriado nacional,
o que veio depois também a acontecer em Espanha e nas
suas antigas colónias americanas. Mais |
Carlos Fontes |
|
Notas:
( 1 ) Dicionário de História
Religiosa de Portugal. Dir. Carlos Moreira de Azevedo. Vol.A-C. Entrada
"Astrologia".
( 2 ) Maria Teresa Lopes Pereira, Alcácer
do Sal na Idade Média, pag.104.
(3)
Fernão Lopes,Crónica de D. João I
(
4 ) Rui de Pina, Crónica de D. Afonso V
(5)
Santuário de Loreto (Itália), segundo uma lenda medieval, guarda as paredes da
"Casa" onde morou Nossa Senhora em Nazaré na Galiléia.
(6
) Esmeraldo Situ Orbis, p.14.
Colombo utiliza as mesmas ideias para se referir aos descobrimentos portugueses.
(7)
Juan Manuel Bello León,
(8)
Cortesão, Jaime - Os Descobrimentos Portugueses. Vol. I. p.174
(9)
Muitos dos hospitais do
Espírito Santo, com Dona Leonor, foram transformados em Misericórdias.
(10
) O culto do espírito
santo ocupa uma lugar central nas crenças de Colombo. A associação aos
albuquerques é mais uma vez a chave para identificar outros portugueses que
eram financiados pelos reis católicos. Em Portugal o culto iniciou-se na via de
Alenquer, mas também era muito popular entre os cristão-novos, pelo seu
carácter imaterial.
Igreja do Espírito Santo, situada junto ao rio Alenquer, foi mandada
construir, em 1300, por Rainha D. Isabel de Aragão, esposa do Rei
D.Dinis,
que aqui também viveu. À Confraria do Espírito Santo de Alenquer pertenceram
nos séculos XV e XVI, entre outros:
- D.
Leão de Noronha (1510-1572) - parente da Marquesa de Montemayor, exilada em Sevilha. Recorde-se que o seu
irmão - Leão Henrique de Noronha está sepultado no panteão familiar
nesta cidade mandou criar no Convento de Santa Paula. Foi a grande protectora da familia de Colombo
nesta cidade ( Consultar ).
- Afonso de
Albuquerque
- D.
Isabel de Lencastre (1432 - 1455), filha do Infante-Regente D. Pedro, Duque de Coimbra e de sua
mulher a princesa D. Isabel de Aragão, Condessa de Urgel, filha do rei Jaime II
de Aragão. Casou em 1447 com o seu primo direito D. Afonso V.
- D. Manuel, rei
de Portugal
- Damião de Góis (1501-,
o grande humanista português. Natural de Alenquer onde viria a morrer,
assassinado pela Inquisição.
Nas
beiras as referências a este culto são uma constante entre os cristãos-novos.
(11)
Ulibarrena, Juana Mary Arcelus - La Profecia del Abad Joaquim de Fiore en
Cristobal Colón, in...
(12) A obra conserva-se na BNP (Inc.539).
(13)
Paiva, José de Freitas - Fr. Afonso da Ilha, OFM: Partilha de Nome ou de
Identidade?, in Via Spiritus, I, (1994), pp.209-212.
(14)
A Rainha Dona Leonor desde criança que estava ligada aos franciscanos. Os
Paços Ducais do seu pai, foram construídos em Beja, mesmo ao lado do convento franciscano,
que se tornou no panteão da sua familia.
Dona Leonor financiou a construção de vários conventos franciscanos, dirigiu
a reforma da Ordem de Santa Clara, etc. Financiou também a publicação de
várias obras espirituais, mas também de navegação.
(15)
Fr. João da Póvoa dirigiu desde o inicio o Convento do Varatojo, criado por D
Afonso V, em resultado de uma pelo êxito das suas conquistas em África. Frei
João da Póvoa foi sepultado na capela de S. Francisco, Convento de Nossa
Senhora da Conceição (Matosinhos), do qual foi um dos principais
impulsionadores.
(16)
Colon, Cristobal - Textos y documentos ..., p.479/480
(17)
Carta a Los Reyes (1501), in, Cristobal Colon, Textos y ..., p.448.
(18)
Não sabemos se o seu filho Diego Colon pertenceu à Ordem Terceira de S.
Francisco. Está todavia confirmado que o seu neto - Luis Colón y Toledo -,
não apenas pertenceu a esta como fez questão de ser sepultado no Convento
franciscano de Orán (Argélia) para onde fora desterrado. Foi tresladado depois
por Diego de Portugal y Colón de Toledo (filho de D. Jorge de Portugal), para a
Capela de Santa Ana, no Mosteiro dos Reis de Sevilha, donde saiu para S. Domingo
para outro convento franciscano. Note-se que neste processo não interferem
genoveses, mas apenas portugueses ou seus descendentes.
(19)
(20)
Marques, João Francisco - Franciscanos e Dominicanos confessores dos reis
portugueses das duas primeiras dinastias, in, Rev. Fac. Letras -Linguas e Lit.,
Porto.1993.
(21)
(22)
Ramón Pané, entregou entre Agosto de 1498 e 1500, Colombo um manuscrito
intitulado: "Relación sobre las Antiguedades de los Indios, las cuales con
diligencia com hombre que sabe la lengua de ellos, las recogido por mandato del
Almirante". O manuscrito foi utilizado por Angleria, Fray Bartolomé de Las
Casa e Fernando Colón, que o incluiu no capítulo 61 na "biografia"
do seu pai. Os originais perderam-se.
(23)
Diego Colón foi alvo de enormes acusações. O cardeal Jimenez de Cisneros e
Adriano de Utrecht (futuro papa Adriano VI), enviaram, em 15151, a Santo Domingo
3 frades jerónimos na qualidade de governadores, com eles seguia Bartolomé de
las Casas, na qualidade de "procurador dos Indios". Os frades
jerónimos não tardaram em mandá-lo de regresso a Espanha.
(24)
Sugestões bibliográficas de Leonor
Ferraz de Oliveira, in, Medievalista, Ano 5, Número 7, 2009:
Anselmo
Braamcamp Freire, As sepulturas do Espinheiro, Lisboa, Imprensa Nacional,
1901; Idem, O Mosteiro de Nossa Senhora do Espinheiro, Archivo Histórico
Portuguez, 1905; Cândido A. Dias dos Santos, Os Jerónimos em Portugal: das
origens ao fim do século XVII, Porto, 1980, p.21-22, 24; Gabriel Pereira,
“O mosteiro de Nossa Senhora do Espinheiro”, in Estudos Eborenses, Évora,
1, 2ª ed. integral, 1947, p. 13-29; Maria Hortense N. Vieira Lopes, “O
convento de Nossa Senhora do Espinheiro em Évora: ensaio de interpretação
histórica e artística”, Junta Distrital de Évora: boletim anual de
cultura, Évora, 6, 1965, p. 83-157, etc.
(25)
Mira Caballos, Esteban - El Envío de Indios Americanos a la Península
Ibérica: Aspectos Legales (1492-1542), in, Stud. His., Hª. Mod.., 20, pp.
201-215, Universidad de Salamanca. Uma excelente sintese da questão.
(26)
Caballos, Esteban Mira -Indios y Mestizos en la España Moderna. Estado de la
Cuestión, in, Boletim Americanista, ano LVII, 2007, pp.179-198.
(27)
A bibliografia sobre Colombo e os canibais das caraibas é muito extensa. Alguns
títulos:
-
Blaney, Lucy - Colón y el Caníbal, in,Divergencias. Revista de estudios
linguísticos y literarios. Vol. 6, nº.1, Verão de 2008.
-
Sanguily, Manuel; Ignacio de Armas, Juan - La Fábula de Los Caribes. Um
clássico de 1884
-
Forbes, Jack D. - Colombo e Outros Canibais. Antigona. Lisboa.1998
(27) Cook, Noble David - Una Primera
Epidemia Americana de Viruela en 1493?, in, Revista das Indias, 2003
vol. LXIII, nº.227.pags. 49-64
(28) Karl Mar, glosou esta afirmação de
Colombo, dando-a como exemplo da nova mentalidade da modernidade
capitalista: "Coisa maravilhosa é o ouro! Quem do ouro é dono, é senhor
do que quiser. Com ouro, até se fazem entrar as almas no paraíso",
Capital, T. I, Vol. I.
(29) Beato Amadeu da Silva - Apocalypsis
Nova - Nova Apocalipse. Edição crítica, fixação do texto, tradução,
introdução e notas de Domingos Lucas Dias. Universidade Aberta. Lisboa.
2004.
(30) João da Silva Meneses ou beato Amadeu
de Portugal, era irmão (da santa) Beatriz da Silva. Filhos de Gomes da
Silva de Isabel de Meneses, filha bastarda de Pedro de Meneses, conde
de Vila Real e 1º. Governador de Ceuta. Gomes da Silva, da diocese de
Coimbra, foi escudeiro de D. João I. Participou na conquista de Ceuta
(1415). Foi conselheiro de D. Duarte e D. Afonso V. Foi alcaide de Campo
Maior e Ouguela.
João da Silva Meneses frequentou o paço real de D. Duarte, onde
segundo uma lenda se afeiçoou por Dona Leonor, irmã de D. Afonso V,
casada em 1452 com Frederico III da Alemanha.
Ingressou primeiro no Convento de Nª. Srª.
de Guadalupe (Castela), e a seguir na Ordem dos Frades Menores. Vestiu o
hábito de Ubeda, passou por Genova, Florença, Perúsia (1453) e Assis. Em
Roma tornou-se confessor do papa Sisto VI. Fundou a congregação amadeista,
que em 1568 já contava com 39 conventos em Itália e Espanha.
(31) Andrés Bernaldez - História de los Rey
Católicos. D. Fernando y D. Isabel. Granada. 1856
(32) Sobre o franciscanismo de Colombo,
consultar: Millhou, Alain - Colón y su mentalidad mesiánica en el
ambiente franciscanista español. Valladolid.1983; Herrera, José Sánchez
- Los Movimientos Franciscanos Radicales y la Misión y Evangelización
Franciscana en America, in, Congreso de Historia dos Descubrimiento
(1492-1556), Actas. Tomo IV, madrid, 1992. Ver também a excelente
critica de Mérida, José M. - Los franciscanos y Colón: mitos y misión
franciscana y su influencia en los descubrimientos indianos., idem; etc.
(33) Pereira, Pereira - Enigmas. Lugares
Mágicos de Portugal. Idades do Ouro. Circulo dos Leitores.pp20-23
(34) Soares, Maria Luisa de Castro -
Profetismo e Espiritualidade de Camões a Pascoaes.Coimbra. 2007
(35) As cartas de D.Manuel ao cardeal
cisneros, intermediário dos reis espanhóis, constam do "Catalogo de los
codices españoles de la Biblioteca del Escorial, por Migueléz, Madrid.
T. I, p.228. Foram publicadas e comentadas por Brochado, Costa - A
Espiritualidade dos Descobrimentos e as conquistas portuguesas. Brotéria,
40 (1945), pp.25-42
(36) Oliveira e Costa, João Paulo - D.Manuel
I, 1469-1521. Lisboa. 2007
(37) Castanheda, Fernão Lopes - Historia do
Descobrimento e Conquista a India pelos Portugueses. Vol. I., Livro I,
cap. XXVIII, narra a curiosa profecia de Sibila, descoberta em colunas
em Cascais. Brinca também com o facto dos italianos andarem a dizer que
haviam sido eles os primeiros a descobri-las...
(38) Azcárate, Juan Luis de León, EL «LIBRO
DE LAS PROFECÍAS» DE CRISTÓBAL COLÓN (1504): LA BIBLIA Y EL
DESCUBRIMIENTO, in, RELIGIÓN Y CULTURA, LIII (2007), 361-406
(39) Peixeiro, Horácio Augusto - Retrato de
D. Manuel na Iluminura, in, revista de história da arte nº5 - 2008
(40) Thomaz, Luís Filipe (L`idee Imperiale
Manueline, in, La Decouverte, le Portugal et l `Europe . Actes du
Colloque. Paris. Centre Culturel Portuguais.1990), sistematizou de forma
notável este projecto imperial de D. Manuel.
Primeiro intitulou-se Senhor da Conquista (domínio sobre os territórios muçulmanos), depois Senhor da Navegação
e do Comércio ( exclusividade portuguesa de circulação no
Indico), o que o poderia levar a assumir-se como Imperador do Oriente,
se conseguisse destruir o Islão e reconquistar Jerusalém, então sob o
domínio dos maometanos. Para atingir este objectivo, procurou contactar
Prestes João, envolveu-se em projectos de conquista da Terra Santa
(1506-7), acções militares em marrocos, etc.
(41) Braga, Paulo Drumond; Braga, Isabel M.
D. - As Duas Mortes de D.Manuel: o rei e o homem, in, Rev. Penélope,
nº.14. Dez. 1994.
(42) Moreira, Filipe Alves - Crónica de
Portugal de 1419. Fontes, Estratégias e Posteridade. Faculdade de Letras
do Porto. 2010.
(43) Sobre a ligação dos franciscanos aos
descobrimentos portugueses, desde o inicio do século XV, consultar:
- Cortesão, Jaime, "O Franciscanismo e a
Mística dos Descobrimentos", in Seara Nova, n.° 301, 1932 (O
franciscanismo e a mistica dos descobrimentos / Jaime Cortesão. [S.l. :
s.n., 1950.)
- Franciscanismo, descobrimentos e
missionação / Humberto Carlos Baquero Moreno. Braga : [s.n.], 1973.
- O franciscanismo em Portugal : actas
/ Seminários O Franciscanismo... ; org. Fundação Oriente. Lisboa : F.O.,
1996
etc.
(44) Marques, João Francisco - Franciscanos
e Dominicanos confessores dos reis portugueses das duas primeiras
dinastias, in, Rev. Fac. Letras-Ling. e Lietratura. Porto. 1993
(45) Rosa, Maria de Lurdes - Do «santo
conde» ao mourisco mártir: usos da santidade no contexto da guerra
norte-africana
(1415-1521), Discurso proferido no simpósio internacional »Novos Mundos
– Neue Welten. Portugal e a Época dos Descobrimentos« no Deutsches
Historisches Museum, em Berlim, 23 a 25 de Novembro de 2006
(46) Ivo C. de Sousa - A Rainha D. Leonor e
a Experiência Espiritual das Clarissas Coletinas do Mosteiro da Madre de
Deus de Lisboa (1509-1525), in, Via Spíritus, I (1994).
(47) Gómez, Juan Miguel Gozález - Pinturas
Murales del siglo XVI en el Condado de Niebla; idem, Restauracion del
Mural de la Virgem de la Cinta de Huelva, in, Actas XI Jornadas de
Andalucia y America.
(48) Gould, Alicde B. - Nueva Lista
Documentada de los Tripulantes de Colon en 1492. Madrid 1984, p.186
(49) Liañez, Laureano Rodriguez - Moguer y
Palos en la epoca del descubrmiento ..., in, Actas XI Jornadas de
Andalucia y America, pp. 169-170. |
17) |
Continuação:
9. Cavaleiro de Santiago?
10. Segredos de Estado 11. Navegador Experiente
12. As Indias de Colombo
13. Ameaça
Permanente 14. Espionagem 15. Missão Espanhola
16. Nobre em
Fuga 17. Lugares em Espanha 18. Descobridores e Conquistadores
19. Castelhanos
20. Portugueses em Espanha. 21. Apoio de
Judeus
22. Negociante
Oportuno de Miragens
23. A Bandeira de
Colombo 24. Nomes
de Terras
25. Regresso
da primeira viagem 26. Significado de um reencontro
27. Partilha
do Mundo
28.Defensor de
Portugueses 29. Patriotismo
30. Mentiroso e Desleal 31. Regresso
da segunda viagem 32. Manobrador
33. Assassino de Espanhóis
34. Impacto da Viagem de Vasco da Gama 35. Perseguido 36. Ocultação
37. Armadilha
Genovesa 38. Mercadores-Negreiros Italianos
39. Genoveses
a Bordo
40. Descendentes de Colombo 41. Descendentes (cont. ) 42. Descendentes (concl.)
43. Historiadores Portugueses. 44. Lugares do Navegador em Portugal
45. Cronologia
da Vida de Colombo |
|
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As
Provas de Colombo Italiano
As
Provas de Colombo Espanhol
. |
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Carlos Fontes |
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