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As Provas do Colombo Português
35.
Perseguido
A
vida do espião português Colombo, em Espanha, foi uma continua luta pela
sobrevivência nas condições mais adversas, tendo que enfrentar a
desconfiança dos reis espanhóis,
traições e até trafulhas italianos. Os seus descendentes foram alvo também
de inúmeras perseguições, enfrentando uma desconfiança permanente, mas nunca
cederam. Os reis de Espanha sabiam perfeitamente com quem estavam a lidar e quais eram os seus
objectivos.
a)
Isabel e Fernando, os desconfiados
Colombo
foi para Espanha, em fins de 1484, integrado num grupo de refugiados que haviam
atentado contra o rei de Portugal. Se estes portugueses, apesar de tudo mereciam
maior confiança, a verdade é que ainda recentemente haviam estado em guerra
com Castela (1471-1481). Estava ainda bem viva na memória a humilhante derrota
de Fernando, o Católico, em 1475, pelo príncipe português D. João, na
Batalha de Toro. Apesar refugiados, eram para todos os
efeitos, traidores.
A
agravar a situação, Colombo, tinha um passado de antigo combate pelas causas de
D. Pedro, Mestre de Avis e de Renato de Anjou, contra Fernando de Argão. Com
orgulho contava a forma como aprisionara, em 1472, a galera fernandina.
Mais
Para além de tudo, ocultava em público a sua origem.
Fazia uma
assinatura cabalística (secreta), e sobretudo andava rodeado nobres portugueses,
vivendo na casa de uma portuguesa (
Violante Moniz Perestrelo ). Os contactos que mantinham com judeus aumentavam ainda
mais as desconfianças reais.
Foi
por tudo isto que os reis espanhóis, levaram sete anos a decidir-se a autorizar
a primeira viagem à India, e só depois de grande parte do financiamento ser
assegurado por Isaac Abravanel. O risco era mínimo.
b
) Aumentam as Dúvidas
Colombo
no regresso da sua 1ª. Viagem às Indias, assume um conjunto de acções que
nenhum rei poderia achar normais:
1. Em vez de se dirigir
para as Canárias- Espanha ( a rota conhecida), vai para os Açores-Portugal,
vindo depois para Lisboa, onde durante 10 dias falou com D. João II e
publicitou para toda a Europa as suas descobertas.
Na
carta que escreveu realçou que nas ilhas que descobrira havia muito ouro
e as populações nativas eram facilmente dominadas (escravizadas). Este
paraíso estava ao alcance dos grandes reinos, ficando apenas à distância de
33 dias de viagem. A Inglaterra foi a primeira a ser seduzida pela
sua carta, enviando pouco depois uma expedição para Ocidente.
Os
últimos a serem informados da 1ª. Viagem foram os reis espanhóis.
2. Os reis acabam por
saber que deixara retidos nas "Indias" 39 espanhóis, entre os quais
se contavam os seus informadores. As principais testemunhas da viagem à India
estavam silenciadas. Colombo podia mentir à vontade, como o fez.
3. Em Palos (Espanha),
onde chegou a 15 de Março, reuniu-se durante 15 dias com o português Frei
João Peres Marchena, onde delineou a estratégia a seguir. Os planos são
minuciosamente definidos.
Um
dos seus principais inimigos e testemunhas do que de facto acontecera - Martin
Alonso -, aparece morto poucos dias depois. Outros desaparecem sem deixar rasto.
4. No dia 31 de Março,
numa enorme encenação propagandística, entra triunfalmente em Sevilha.
Ninguém consegue agora silenciar os seus feitos.
É
por todas estas razões que só a 21 de Abril (37 dias depois do regresso) os reis espanhóis
o recebem. Começam a aperceber-se que era uma pessoa em quem não podiam confiar.
c
) Retenção do "Diário de Bordo"
Na
primavera de 1493, é recebido triunfalmente pelos reis católicos em Barcelona.
Estes pendem-lhe mapas, localizações precisas das Ilhas e terras a Ocidente.
Nada lhes dá, mas coagido acaba por lhes entregar o Diário de Bordo.
Este
Diário, como veremos, é uma clara exaltação aos conhecimentos nauticos dos
portugueses e a confirmação da sua presença anterior nas Indias (consultar).
Durante
o verão de 1493 pede-lhes a devolução do seu Diário de Bordo, mas Isabel, a
católica começa a adiar a sua entrega. A 1/7/1493, responde-lhes: "E
quanto a lo que decís: que abéis menester el libro que cá dexasteis, e que se
trasladase e que vos imbiase, ansi se fará...".
Apenas
a 5/9/1493, Isabel, a Católica, confirma o envio do original ou de uma cópia. A
razão para tanta demora era o medo que teriam dos espiões portugueses na sua
corte:"el qual a tardado tanto porque se fysciese secretamente, para
que éstos que están aquí de Portugal, nin otro ninguno non sopiese dello"
( 4) .
A
justificação é aparentemente disparatada: Colombo no regresso da América
não se dirigira para Lisboa, onde conferenciara com D. João II ? Não iam dois
espiões portugueses a bordo, e que haviam sido "presos" quando
desembarcaram ? O Presidente do Conselho Real de Castela não era português
?
Será
que Isabel, a católica duvidava que os "de Portugal" não sabiam tudo
sobre a viagem de Colombo ?
O
que ela pretendia era defender a identidade do "Almirante do Mar
Oceano". O seu Diário de Bordo, sem ser alterado, podia ser a prova de uma
clara traição de que um "Almirante Português", que havia conduzido
os espanhóis para as ilhas do rei de Portugal.
O
que Isabel, a Católica não contava era que Colombo, estava afinal a actuar
como espião de D. João II.
O
original do Diário de Bordo desapareceu, assim como os originais de outros
documentos fundamentais, nomeadamente as célebres Capitulações de Santa Fé
(1492). Este procedimento permitiu que os mesmo fossem depois retocados
(5).
d
) Novas Provas Contra Colombo
A
descobertas das Indias criou um problema diplomático com Portugal. D. João II,
numa operação conjugada com Colombo, afirmou que as terras descobertas eram
suas. Em Abril de 1493 ameaçou partir para uma nova guerra.
Qual
foi a posição de Colombo ?
-
A partir de Março de 1493 insistiu que a Espanha fizesse um Tratado com Portugal, dividindo o mundo
descoberto e a descobrir entre os dois países, excluindo outros países,
nomeadamente qualquer república italiana. Apontou inclusive uma distância
precisa para a linha meridiana de
demarcação - 100 léguas a oeste e sul dos Açores e de Cabo Verde.
O que ficava a oeste desta linha seriam terras espanholas e leste pertenceriam
aos portugueses.
-
Embora tenha feito esta sugestão, Colombo recusou-se a apresentar as
posições das ilhas que descobrira (graus, latitudes, longitudes, mapas, etc). A
única coisa que lhes entrega é o seu Diário de Bordo, um texto
literário onde continuamente fala de como os portugueses navegavam e descobriam
novas terras.
Os
espanhóis andavam a negociar às cegas com os portugueses, dado que não lhes
dava informações precisas. Apenas lhes indicava uma linha divisória do
mundo que antes acordara com D. João II.
-
A 5 de Setembro de 1493, em Barcelona, os reis espanhóis enviam-lhe uma
carta onde insistem com veemência para que lhes entregue as posições,
latitudes precisas e os mapas das "Indias", mas Colombo recusa-se a
fazê-lo. O texto é bem claro das suas preocupações:
"y
porque para bien entenderse mejor los grados en que están las ilas y tierra que
fallaste y los grados del camino por donde fuieste, por servicio nuestro que nos
los enviéis luego".
Também
não lhes deu qualquer carta (mapa), o que os deixava ainda mais desconcertados:
"Y
asimismo la carta que vos rogamos que nos enviáse de antes de vuestra partida,
nos enviaa luego muy cumplida, y escritos con ella nombres; y si vos pareciere
que nos no debemos mostrar nos lo escribid".
Temendo
o pior, sugerem que na próxima viagem leve consigo Frei António de Marchena.
O
que é que fez? Nada. A 25 de Setembro partiu para a 2ª. Viagem, sem lhes
deixar um único documento que os pudesse ajudar nas suas negociações com os
portugueses.
A
fim de evitar uma possível reacção negativa dos reis espanhóis, apenas em
Abril de 1494, envia das Indias António de Torres, com um mapa (desaparecido)
com dados errados.
O Tratado de Tordesilhas foi assinado
a 7 de Junho de 1494. Os espanhóis sem informações precisas cederam a todas as pretensões dos portugueses.
Em vez de 100
léguas, passaram a ser 370 ! Iludidos por Colombo, ficaram convencidos que a Ásia e grande parte de África lhes pertencia (consultar).
Estavam
completamente perdidos com a informação que lhes enviara.
Numa
carta que recebe nas Antilhas, em Outubro
de 1494, pela mão do seu Irmão Bartolomeu,
os reis voltam a reclamar por informações precisas sobre as "Indias"
(posições, latitudes, mapas, etc), e exigem o seu mesmo regresso imediato a
Espanha.
O
que é que fez ? Em vez de regressar ou de enviar Bartolomeu
Colon, experiente navegador e conhecedor de cosmografia, manda-lhes Diogo
Colon, um ignorante nestes domínios. Os espanhóis estavam cada vez mais desorientados.
A farsa continuava.
Colombo
só regressou a Espanha a 11 de Junho de 1496, depois ter passado pelos Açores
e feito escala nas costas portuguesas (Odemira).
e
) Cerco a Colombo
Os
reis espanhóis começaram a pressentir desde Março de 1493 que estavam nas mãos do manhoso.
A sua longa estadia em Lisboa, as conversações com D. João II, eram claros
sinais de traição.
A sua estratégia foi a de
controlar a 2ª. Viagem às Indias, nomeando pessoas da sua inteira confiança. A expedição foi financiada pela Coroa e
não por pessoas desconhecidas (portugueses).
A
23 de Maio de 1493, é nomeada uma figura sinistra como seu adjunto e
co-responsável pela expedição - D. João da Fonseca, arquidiácono de Sevilha
e sobrinho do arcebispo.
A
frota era composta de 17 veleiros, contando com cerca de 1200 homens. Entre elas
destacam-se os fidalgos espanhóis. Ao contrário da 1ª. viagem, o número de
italianos era agora significativo. Eles actuam como esbirros ao serviço de
Espanha, atacando a sua autoridade e promovendo o roubo. Colombo estava cercado,
só tinha uma pessoa de confiança o seu irmão Diego.
Os
reis insistiram, a 5 de Setembro, para que levasse um cosmógrafo, mas Colombo
rejeita esta ideia. O seu objectivo manter tudo em segredo, retardando o mais possível o acesso
dos espanhóis a uma informação precisa sobre as indias. Até 1498 andou a
entretê-los nas Antilhas, enquanto isso, Vasco da Gama chegava à verdadeira
India.
f
) A Guarda Pessoal de Colombo Na
1º. Viagem às Indias não foi permitido a Colombo levar oficialmente um grupo
de contínuos ou fiéis servidores (2). Essa foi uma prerrogativas dos reis
católicos que nomearam logo em 1492 os seus contínuos, como Joan de Peñalosa
(contínuo da Casa Real) e Rodrigo de Escobedo (escrivão da armada). Colombo
aniquilou-os deixando-os nas Indias, onde no anos seguinte apareceram
mortos.
Na
2ª viagem voltou à carga exigindo levar consigo um grupo de contínuos ou
criados da sua inteira confiança. Os reis católicos começaram por recusar a
proposta (3/8/1493), mas acabaram por consentir (18/8/1493), dando entretanto
instruções a Juan de Fonseca para os limitar ao mínimo e exigir que os mesmo
fossem pagos pela Corte.Era a forma de os controlar. O que alarmou estes reis
foi o facto de Colombo pretender levar em cada navio homens armados da sua
inteira confiança, o que foi recusado. O
caso foi assumido como uma ameaça e os reis católicos trataram de mandar um
numeroso grupo de contínuos reais para fiscalizarem e controlar o que se
passava, destacando-se entre eles os seguintes: Pedro Margarit, António de
Torres, Melchior Maldonado, Alonso Sánchez de Carvajal e Juan de Luján. Com
estes representantes reais foram enviados alguns italianos que irão estar na
linha da frente na revolta contra Colombo Colombo
terá percebido que não poderia contar com muitas pessoas de confiança, mas
apenas com um reduzido número como Pedro de Terreros (3 ), Pedro de Arroyal,
mas sobretudo com Diego Mendéz de Seguro, o filho adoptivo do Conde
de Penamacor.
g
) Fraudes Permanentes
Ao
longo dos anos, revelou-se um feroz inimigo dos espanhóis,
sempre envolvido em negócios fraudulentos para a Coroa espanhola e em ataques
contra os seus representantes (5). Não recua perante nada, chega inclusive a
acusá-los de falsos cristãos, numa altura que semelhante acusação poderia
significar a morte às mãos da Inquisição (consultar
).
Outros
exemplos:
A
2ª. Viagem de Colombo, iniciada a 26 de Setembro de 1493, apesar do cerco que lhe montaram, revela a forma eficaz
de um espião trabalhar, minando o terreno ao inimigo:
-
Os espanhóis descobrem, a 28/11/1493, que os seus companheiros deixados na 1ª.
Viagem no Forte de Natividad haviam sido mortos pelos indios. Colombo proíbe que os assassinos
que foram identificados fossem castigados. Noutros locais por coisas bem menores realiza
enormes matanças, violações, roubos de povoações inteiras.
- Conduz
o espanhóis para zonas infectas e perigosas, abatendo progressivamente os seus
inimigos. O trabalho é implacável e sistemático. A 2 de Fevereiro de 1494, 12
navios dos 17 iniciais, tiveram que regressar a Espanha. Até a final da
expedição, 11/6/1496, centenas de espanhóis haviam sido mortos.
-
Sem ter explorado completamente Cuba, a 13 de Junho de 1494, obriga os seus
marinheiros a jurarem e a assinarem um documento que se tratava uma Península
da India. Quem dissesse o contrário seria multado e era-lhe arrancada a
língua. Os mapas foram aldrabados. A confusão estava instalada e só em 1516
foi descoberto o logro colombiano, quando os portugueses já
estavam perto da China.
Os
reis espanhóis, percebendo que Colombo lhes andava a mentir mandam, em Junho de
1494, para as Antilhas um astrónomo e cosmógrafo- o Abade de Lucerna. O pobre andou
sempre perdido e sem informações precisas.
h)
Denúncia
No
verão de 1494, um português exilado em Castela, feroz inimigo de D. João II,
escreve um extenso relatório a Isabel, rainha de Espanha, denunciando o logro
que Colombo estava a conduzir os espanhóis. A "India" que afirmava
ter chegado, não passavam de ilhas que os portugueses conheciam muito bem. El
Memorial Portugues de 1494, descoberto no Arquivo General de Simancas
constitui um documento fundamental para a compreensão deste logro e da sua
intencionalidade (8).
i) Constatação do Logro
Durante
a 2ª. Viagem alguns espanhóis apercebem-se do logro que haviam caído. Em
Outubro de 1494 os catalães Mosén Pedro Margarit e Frei Buil
revoltam-se. Apoderam-se de 3 caravelas e voltam para Espanha, onde chegam a
meados de Novembro. Na Corte denunciam Colombo como um embusteiro. A armadilha
criada dava poucas hipóteses aos espanhóis de se verem livres de
Colombo.
Vasco
da Gama, em Julho de 1497, para a sua expedição à India. Colombo, ao ser
informado, tem a noção clara noção da fragilidade, mais dia menos dia, seria
acusado de mentiroso. Nesse sentido, com a ajuda de D. Alvaro de Bragança,
procurou salvaguardar os seus privilégios e garantir que os mesmos seriam
herdados pelo seu filho Diogo Colon. O
documento original desapareceu, o que hoje subsiste são 4 cópias repletas de
anacronismos e falsificações introduzidas pelos italianos.
Em
1499, como vimos, os espanhóis tinham provas evidentes que foram enganados. Vasco da Gama chega à
verdadeira Índia, trazendo consigo as provas insofismáveis. Os
espanhóis sabem agora que caíram num logro. É
neste contexto que, em Outubro de 1500, Colombo e os seus irmãos são presos
nas Antilhas e enviados para Espanha. É na condição de prisioneiros que
entram em Cádis e em Sevilha. Só foram libertados após seis semanas, e apenas a 17 de Dezembro são recebidos pela corte espanhola em Alhambra.
A
partir daqui Colombo sabe que tem os dias contados.
D.
Manuel I sente que tensão entre Portugal e a Espanha estava a aumentar.
Recorre então à estratégia
matrimonial para acalmar os espanhóis. A 31 de Outubro de 1500, casa-se em
Alcácer do Sal, com a Infanta D. Maria, filha mais nova dos reis espanhóis.
Neste ano de 1500, Pedro Alvares
Cabral parte para uma nova viagem à India (1500-1501), oficializando pelo
caminho a descoberta do Brasil.
No
ano seguinte, em Julho de 1501, aproveita a existência de um clima mais favorável nas relações
entre os dois reinos, e comunica-lhes oficialmente a descoberta do Brasil , e
ao mesmo envia uma nova esquadra sob o comando de João da Nova para a India
(1501-1502).
Vasco da Gama, em 1502, parte
para uma nova viagem à India (1502-1503). Colombo,
a 14 de Março de 1502, é autorizado a fazer a sua última viagem às Indias.
Recebe dos reis espanhóis uma irónica carta
de apresentação dirigida
a Vasco da Gama,
"Capitão do Sereníssimo Rei
de Portugal, o nosso filho". A mensagem era clara: a chegada dos
portugueses à India ficou-se a dever em grande parte ao trabalho de um agente
infiltrado.
Enquanto Colombo anda pelas Indias
(espanholas), duas expedições portuguesas foram enviadas para a India, a dos
Albuquerques (Francisco e Afonso de Albuquerque, Duarte Pacheco
Pereira e Fernão Martins de Almada, 6/4/1503-Junho de 1504) e a de Lopo Soares de Albergaria
(22/4/1504-1505). Em 1505, como é sabido, partiu Francisco de Almeida, o
1º. vice-rei da India (portuguesa).
Calcula-se que entre 1497 e 1504
mais de 5.400 homens tenham partido para a India, através do Cabo da Boa
Esperança, tendo morrido cerca de 1.800 (16). A massa de informações que
recolheram sobre e na verdadeira India e os produtos que dela trouxeram, não
deixavam dúvidas que Colombo estava a enganar os espanhóis.
A verdade é que só lhe resta continuar a defender o que sempre afirmara, isto é,
que havia de facto descoberto a "Índia", assim como ocultar as suas origens para
evitar ser acusado de ser um espião português. Com a morte de Alvaro de Bragança
(1503) e Isabel, a Católica (1504),
Colombo deixou de ter apoios em Espanha e morreu desacreditado dois anos depois
(1506).
J) Contra-Ataque: Acusação e lamento
público... em Veneza !
Durante a Quarta Viagem (1502-1504),
teve oportunidade analisar a situação em que se encontrava e de definir uma
estratégia par lidar com a sua critica situação, contando com a colaboração do seu irmão
Bartolomeu e do seu secretário - Diogo
Mendes de Segura.
Na Jamaica, onde encalhou e perdeu
os dois únicos navios que lhe restavam, Diogo Mendes de Segura escreveu-lhe a
sua célebre relação da Quarta Viagem, numa carta datada de 7/7/1503. O
que diz colombo?
Deus ter-lhe-á directamente confirmado
que os tormentos
que estava a passar eram próprios de um eleito, um predestinado a realizar a
antiga profecia de levar o cristianismo aos povos asiáticos.
Face á magnitude desta tarefa o
que fizeram os espanhóis? Ao longo de 20 anos apesar deste lhes ter dado
tudo, acabaram por o humilhar e espoliar.
Eram um povo de "traidores" e "ingratos": "En el temporal al cabo de ( viente
años de serviçio) que he servido con tantos trabajos y perigros, no tengo (oy
día e)n Casilla una teja y, si quiero comer o dormir, no tengo adónde
salvo al mesón o en taberna, y las más de las vezes falta por pagar el escote,
ní he malbaratado las merçedes."
Colombo confessa-se um homem roubado
pela Espanha a quem deu um "Novo Mundo" repleto de riquezas e de ouro, que
permite a quem o tenha entrar no Paraíso, que ele também descobriu a entrada (Terceira
Viagem). No final da carta denuncia a destruição dos povos indigenas que os
espanhóis, fora do seu controlo, estavam a fazer nas terras que havia
descoberto.
Face a tanta ingratidão, como vimos,
mandou recolher toda a informação das ricas terras que acabara de descobrir na quarta
viagem, de modo a que só ele soubesse onde as mesmas ficavam.
A questão mais importante desta
viagem não está nestes delírios, mas na sua divulgação. Estamos perante um
ato de clara traição a Espanha.
À semelhança do que aconteceu, em
Março de 1493, quando escreveu em
Lisboa uma carta para toda a Europa a divulgar a descoberta das Indias, também a
relação da Quarta Viagem, foi enviada para
Veneza onde foi publicada a 7 de Março de 1505, a a conhecida "Lettera Rarissima",
sendo difundida por toda a Europa
(18).
A escolha de Veneza garantia-lhe que
a carta seria divulgada e usada contra os espanhóis. Como é sabido, depois que
Vasco da Gama havia regressado da verdadeira India (1499), os Venezianos
ameaçados no comércio com o Oriente procuravam reunir e divulgar toda a
informação sobre as expedições de Portugal e Espanha para a India e as Indias.
No Indico não tardaram a armar os muçulmanos para atacarem os portugueses.
A Carta de Colombo dava-lhes um
outro argumento: aqueles que ajudavam os espanhóis a chegarem às "indias"
acabavam roubados.
L
) Pérolas, Contrabando entre Portugal e as Indias espanholas
A enorme rede que Portugal tinha criado em Espanha, controlava as expedições
que eram enviadas para as Indias.
Uma das melhores provas deste facto é a
vinda directa para Portugal de navios das Indias espanholas carregados de escravos,
pérolas, etc. Mais
Colombo
deu sempre o exemplo: Nas quatro viagens que fez às Indias, sempre que pode
decidir, no regresso tomou sempre o caminho de Portugal, tendo aqui aportado
pelo menos duas vezes.
É provável que, combinado com outros portugueses, tenha tentado realizar expedições à margem do
controlo cerrado que lhe movia a Corte Espanhola.
No 22 de Junho de 1497, os reis católicos
viram-se obrigados a ordenar que os seus oficiais de justiça se apoderassem de
barcos armados e preparados clandestinamente a mando de Colombo para uma viagem
às Indias. Os navios foram apreendidos quando já se haviam feito ao mar
"para ciertas partes y viajes" (1).
Foi a 10
de Dezembro de 1498, chegou a Espanha a célebre carta e um mapa de Colombo onde
afirmava ter chegado à Costa das Pérolas. A Corte Espanhola
contratualizou expedições para descobrir e saquear estas pérolas.
Os
expedicionários, aparecem envolvidos desde logo numa rede clandestina que
passava por Portugal.
Corrida
para as Indias
Durante
o ano de 1499 saíram três expedições as Indias, com o objectivo de procuram
a costa das pérolas. Começa então um novo saque das Indias espanholas,
envolvendo desta a primeira hora portugueses.
Na
primavera de
1499, com 15 dias de
intervalo, saíram duas expedições: A primeira de Hojeda- Juan de la Cosa,
a segunda Pedro Alonso Niño - Cristóbal Guerra.
1.
Expedição de Alonso Niño
- Luis e Cristobal Guerra
A licença da expedição foi passada a Alonso Niño, que se associou a Luis Guerra,
que por sua vez exigiu a participação do seu irmão Cristobal Guerra. Constava de
uma única
caravela com 33 homens.
Terão saído de Palos em Julho de 1499, quinze dias
depois a expedição de Hojeda. Exploraram a Terra da Pária, foram à boca do Drago,
desembarcaram na Ilha Margarita, registaram a costa de Cumaná e de Guaiara.
Foi
a
primeira a regressar na
primavera de 1500, tendo a caravela arribado a Bayona na Galiza. Pedro
Alonso Niño foi preso, acusado de não pagar aos reis
a parte que lhes correspondia, e de ter desviado parte das pérolas para
Portugal, só saindo da prisão em 1501. Luis e Cristobal Guerra conseguiram escapar, devido à influência de D. Alvaro
de Bragança.
Um boa parte das pérolas que trouxeram, veio directamente para
Portugal,
como testemunha Cantino, o embaixador-espião do Duque de Ferrara em
Portugal.
A
cunhada de Colombo - Violante Moniz Perestrelo - tinha centenas de pérolas
grandes e pequenas.
No seu Testamento, datado de 21 de Outubro de 1516, não
se esquece de mandar pagar as dividas aos herdeiros
de Pero Niño no valor de "4 ducados de oro por "cierto lienzo", o que
demonstra a cumplicidade entre as duas famílias portuguesas radicadas em Espanha
nestes negócios clandestinos
Mais.
Cristobal
Guerra, em 1503, escreve uma carta a Alvaro de Bragança onde protesta contra a
forma como o mesmo andava a negociar as capitulações, isto é, os contratos da
corte com os privados. Mostra-se desagradado da forma arbitrária como este os
realizava, colocando em paralelo o seu caso com o de Juan
de la Cosa. Acusando este de, em
1503,
ter vindo a Lisboa oferecer os seus serviços a D. Manuel I e ter acabado preso...
Nesta primeira viagem de Cristoval
Guerra levava pelo menos um português - Juan português, que participou
também na
segunda viagem de Cristovão Colombo.
Na segunda
expedição de Cristoval Guerra, com duas caravelas, entre Agosto/Setembro de 1500 e 15/10/1501,
tinha como objectivo voltar a pilharem o golfo das pérolas. Participou pelo menos um português -
Antonio
Rodrigues, sapateiro (çapatero) que foi em nome de Juan Portugués (9). Uma
das caravelas perdeu-se, a outra regressou cheia de escravos e com 50 marcos de
pérolas, muitas das quais vieram parar a Portugal.
Mais de dez anos depois desta
expedição ter sido realizada, os espanhóis, afirmaram que a mesma tinha aportado
ao Brasil em em Agosto de 1500. Uma historieta que se irá repetir em
outras expedições espanholas. O objectivo desta reclamação era afirmar
a prioridade espanhola nesta descoberta, de modo a tentar renegociar o Tratado
de Tordesilhas. Mais.
Cristoval Guerra voltou a organizar
outra expedição, a terceira, entre 1503 e 1504, destinada novamente a pilhar o golfo das
pérolas, levando desta vez consigo um curioso tripulante que dava pelo nome de Antonio
Genovés, mas que na realidade era um português de Chaves (9)
2. A Expedição
de Alonso de Hojeda- Juan de La Cosa, com Américo Vespúcio (?)
A expedição,
inicialmente com um único navio, levava a bordo, pelo menos dois portugueses,
pai e filho. Foi financiada pela
Marquesa de Montemayor, portuguesa exilada em Espanha. Partiu a 18 ou 20 de
Maio de 1499, tocou nas Gomera (Canárias), atravessou o Atlântico, atingindo a
foz do Rio Orinoco, tendo depois percorrido a Terra Firme, ilha Margarita,
Golfo das Pérolas, promontório de Santa Eufémia, incluindo a Ilha dos Gigantes, Curaçao e Arruba.
Dirigindo-se depois para La Hispaniola,
onde foram sujeito a um inquérito.
Esta foi a
primeira expedição a que os espanhóis se agarraram para afirmarem, que haviam
descoberto o Brasil alguns antes de Pedro Alvares Cabral, mas antes deles fê-lo
Americo Vespúcio.
O florentino
publicou no inicio do século XVI, um folheto onde reclama para si os louros de
ter comandado a expedição espanhola que descobriu o Brasil. A reação espanhola
levou alguns séculos a surgir, e atribuíram o comando da expedição a
Alonso de Hojeda- Juan de La Cosa,
embora admitam alguns que Vespucio participu nela como simples comerciante...
Hojeda foi o
primeiro a descobrir o Brasil? Não!. O próprio nunca o admitiu. Na Pesquisa
(Inquérito) a que foram sujeitos, em 1500, na Hispaniola nunca refere semelhante
descoberta ou rota. O Planisfério
de La Cosa, realizado entre 1500 e 1509, também não permite concluir
nada. Estamos perante mais uma tentativa espanhola de falsificação histórica.
Mais
Os resultados a
expedição terão sido decepcionantes, mas apesar disso, a marquesa de Montemor-o-Novo continuou a financiar
estas expedições. Com que objectivo ? Obter produtos e escravos nos
domínios espanhóis definidos no Tratado de Tordesilhas.
Vespúcio depois desta viagem, terá vindo para
Portugal, onde viveu cinco anos.
Hojeda regressou às
Indias, em 1502, tendo aportado em Cabo Verde (Ribeira Brava), onde se envolveu num curioso
processo judicial: reclamava que lhe fosse entregue um calafate português que
se recusou a seguir viagem. Pouco depois é preso nas Indias, por andar a matar
e roubar tudo o que encontrava. Mais
3. Expedição de Vicente Iañez
de Pinzon
A expedição,
composta por 4 caravelas, partiu de Palos, em Dezembro de 1499, destinando-se
também a resgatar as pérolas encontradas por Colombo.
O comando pertencia a Vicente Iañez
de Pinzon (10), membro de uma família de antigos corsários de Palos, aparentada
com portugueses. Era acompanhado de diversos familiares, mas também de
experimentados corsários como Juan Quintero.
A expedição ter-se-á dirigido
para Cabo Verde, onde fundeou na ilha de Santiago, tendo iniciado a 3 de Janeiro
de 1500, a travessia do Atlântico, desconhecendo-se o local que terá atingido.
Nunca desembarcou, porque segundo mentirosos como Pedro Mártir de Angléria, os
indios não o deixaram. Anos mais
tarde, este local vem a ser identificado com o Brasil.
Quando chegaram a Hispaniola, a
23/6/1500, afirmaram que haviam percorrido 600 léguas, sempre ao longo de Terra
Firme. Em Julho perderam duas caravelas, tendo regressado a Palos, em Setembro de
1500, sem meios para pagarem aos credores.
Alguns
historiadores espanhóis, baseados em
tem procurado afirmar que Vicente Pinzon atingiu as costas do actual Brasil, a
26/1/1500, quatro meses antes de Cabral.
A questão, como
vimos, é que este navegador nunca soube onde estava, nem
sequer chegou a desembarcar. Fez a afirmação que havia chegado ao Brasil apenas
em 1513. A análise dos únicos relatos das suas alegadas descobertas, feitos por Pedro Mártir de Angléria, em 1504,
1511 e 1516 vagos, repletos de erros, contradições e acrescentos, lavando-nos a
concluir que nunca terá passado sequer na Guianas. (11).
Mais
É preciso recordar
que na época em que estas afirmações são produzidas - Vicente Yanes de Pinzón e a sua família, aliadas da Corte espanhola
- reclamava para os seus membros a prioridade das descobertas das Indias
espanholas, nomeadamente da Terra Firme. As descobertas de Colombo, mas
também as dos portugueses, teria sido realizada por pinzons (12).
5. Expedição de
Diego de Lepe
Diego de Lepe é uma
verdadeira incógnita. Vespúcio, Pedro Martir de Angléria, Oviedo ou Gómara
ignoram-no, nem sequer o mencionam. O seu nome é no entanto citado por 10
testemunhas nos Pleitos Colombinos de 1512 a 1515
(
Probanzas del Fiscal).
Foi com base numa
leitura apressada destes testemunhos em Tribunal que Bartolomé de las Casas escreveu a
história da sua suposta viagem ao Brasil e a Pária em 1499 -1550. António de
Herrera, copiou Las Casas, fez alguns acrescentos, e a partir daqui surgiu mais
um descobridor do Brasil ao serviço de Espanha.
Diego de Lepe, era irmão
do piloto português João Rodrigo
de Mafra, obteve do bispo Juan de Fonseca, uma licença para resgatar
pérolas. Nesta viagem, a acreditar em Las Casas, ia pelo menos um português: João
Gonçalves, morador em Palos (7).
Estudando os testemunhos fica-se
rapidamente com a ideia que terá organizado 3 ou 4 viagens entre
1499 e 1503. Não é todavia possível saber com precisão, qual as expedições terá atingido o
Brasil, e em particular o Rio Amazonas.
A rota que foi
seguida, segundo Las
Casas, teria sido a seguinte: saiu de Sevilha, em fins de Dezembro de 1499, dirigiu-se para a ilha
do Fogo (Cabo Verde), e num um relato muito fantasioso, a 28/2/1500,
atingiu o Cabo de Santo Agostinho, baptizou-o desta vez de "cabo Rostro Hermoso".
Atingiu depois o Rio Amazonas (Maranhão,
em castelhano), percorreu em seguida a costa da
Venezuela.
Desta expedição resultou um enorme
saque e um mapa que terá feito para o Bispo Fonseca. Foi-lhe dada mais uma
licença para resgatar pérolas (15/11/1500). Terá feito ainda mais uma ou duas ou
expedições às Indias. Na última das quais (1503-1504?), deixou os navios e as
cartas aos espanhóis e regressou a Portugal onde veio a falecer
(6).
Em Tribunal, dez testemunhas, afirmam que foi ele o descobridor
ao serviço de Espanha que atingiu o Rio Maranhão.
Lendo com a atenção
os testemunhos, podemos concluir que este feito, a ter existido, só acorreu depois de 1504.
A prova disto está
no testemunho de Diogo Fernandes Colmero, sobrinho Vicente Yanes Pizon, e
que comandou um dos navios da expedição do seu tio em 1499-1500.
Em Tribunal,
no ano de 1515, afirmou ter visto Diogo de Lepe sair com os seus navios de Espanha para
ir descobrir. Foi nesta expedição que topou o Rio Marañon (Rio Amazonas), na parte sul
da Terra Firme, onde até aí ninguém tivera. Afasta deste modo da
descoberta Vicente Yanes Pinzon, dizendo que o mesmo andava a navegar muito mais a norte
(15). Acontece que Colmero só podia ter visto Diogo de Lepe depois de 1504.
Mais
As provas destas
alegadas re-descobertas do Brasil, estão baseadas em falsários como Vespucio ou
Pedro Martir, ou ainda em
testemunhos contraditórios produzidos durante os Pleitos de Diego Colón (Probanzas
del Fiscal, 1512-1515), mais de 10 anos depois do "achamento" do
Brasil por Pedro
Alvares Cabral.
6. Expedição de Alonso
Velez de Mendonza.
O último dos
descobridores espanhóis do Brasil antes de Pedro Alvares Cabral, foi o
enigmático Alonso Velez de
Mendonza. Nos Pleitos Colombinos de 1512-1515, uma única testemunha resolveu
afirmar que o mesmo se havia se antecipado ao navegador português, e descobrira
o Brasil ainda em 1499... A verdade é que a expedição nunca se
realizou ! Mais
Rivalidades entre Portugal
e a Espanha
O objetivo destas
alegadas presenças de espanhóis no Brasil, antes de Pedro Alvares Cabral,
inserem-se na disputa que a Espanha sustentava com Portugal, depois do regresso de
Vasco da Gama (Julho de 1499) da India.
Convencidos que
as terras descobertas por Colombo eram as mesmas onde Vasco da Gama chegara, só lhes restava forjarem
cartas e mapas, com datas falsas, de forma a reclamarem para si a prioridade da sua
descoberta. Muitos portugueses, como vimos, ajudaram os espanhóis nestas manobras.
Não deixa de ser
curioso constatar que Cabo
Verde, um território português, se tenha tornando no ponto de escala obrigatório
das
expedições espanholas ao Brasil. O rei português, que certamente não deixaria de
ser informado das mesmas, nunca se importou com a questão. Dir-se-ia que o
problema nunca se colocou, porque as expedições espanholas nunca existiram.
Apesar destas
alegadas viagens espanholas, a verdade é que Portugal, nunca manifestou qualquer pressa em reclamar a descoberta do Brasil,
e só o
fez oficialmente, quase um ano depois do seu "achamento, em Julho de 1501 !
Em Maio desse ano, já havia partido para o Brasil, mais uma expedição, composta
por três navios, comandados por Gonçalo Coelho, para reconhecerem toda a costa
brasileira até ao Rio da Prata (14).
7. Expedição
de Rodrigo de Bastidas
Ainda no
âmbito estas viagens menores , temos que registar a expedição, em 1500-1502,
de Rodrigo de Bastidas, que atingiu as costas Colombia e do Panamá.
Nesta região foram encontrados, em 1503, quatro barcos portugueses que andavam a resgatar escravos Indios e
vários produtos (17 ).
8.
Financiamento
O
facto mais interessante destas expedições é que a maior parte eram
financiadas por dois portugueses: a Marquesa
de Montemor-o-Novo e Alvaro
de Bragança . A cunhada de Colombo, Violante Moniz, aparece também
envolvida no negócio das pérolas trazidas das Indias.
|
M) Expedições Portuguesas
Enquanto
Colombo entretinha os espanhóis nas Antilhas, a costa ocidental de todo o continente
americano continuavam a ser exploradas pelos navegadores portugueses, havendo
registos materiais da sua fixação no continente antes de 1500, nomeadamente
nos domínios que "pertenciam" aos espanhóis. Mais
N
) Diogo Colon, o Novo Espião
Os
espanhóis não confiaram em Colombo, nem sequer no seu filho Diogo. Em 1508,
este nomeia um procurador (Juan de la Peña) para accionar um processo contra
corte espanhola por a mesma não lhe querer reconhecer o direito a ser
Almirante, Governador e Vice-Rei das Indias.
O
processo judicial, os famosos "Pleitos Colombinos", prolongaram-se ao
longo de todo o século XVI, tendo um primeiro desfecho em 1536.
A
Corte Espanhola, contou entre 1511 e 1536, como seus aliados os Pinzones, que
trataram de desacreditar Colombo e dessa forma retirarem qualquer legitimidade
aos os seus herdeiros. Os Pinzones afirmaram-se como os primeiros descobridores
das Indias espanholas, mas também do Brasil. Mais
É
neste contexto de verdadeira guerra judicial, o rei Fernando de Aragão e
Castela, acabou por nomear Diego Colon, em 1509, governador da Hispaniola, mas
este afirma-se desde logo como Vice-Rei das mesmas.
Como
governador de S. Domingo, a primeira coisa que começou
a fazer foi a construir um novo palácio e poderosas fortificações, com claros intuitos
separatistas ( para se unir a Portugal ?). A Espanha não tarda a reagir
enviando um grupo de juizes para fiscalizarem a sua governação.
Diego
Colon, em 1524,
seguindo o ensinamento do seu pai, colaborou activamente com o rei de Portugal - D. João III -
contra as pretensões da Espanha em relação às Ilhas Molucas. Dois anos depois
morria.
O
) Hernando Colón e a rede de agentes
O
filho ilegitimo de Colombo, entre 1517
e 1523, revelou-se um
perigo para o Estado Espanhol. Usando os recursos económicos da sua família
começa a fazer um levantamento de toda a Espanha - uma cosmografia - registando
de forma sistemática as localidades, pontos estratégicos, portos, fortalezas,
torres, muralhas, fontes de abastecimento, população, etc. A este levantamento
secreto chamou "Itinerários".
Cria
para o efeito uma rede de informadores que se deslocam por toda a Espanha ao seu
serviço. Estes usam e abusam de cartas que Hernando Colón obteve junto das
autoridades espanholas. Ele próprio participa nestas pesquisas clandestinas. No
dia 24 de Novembro de 1518, por exemplo, entrou clandestinamente em Portugal
(nota 2.561).
Carlos
V é informado do que andava a fazer. Conhecia a
família, o seu passado e ligações a Portugal e agiu de imediato. No dia 13
de Junho de 1523, uma "Real Provision" assinada por si em
Vallodolid, manda terminar os trabalhos de Fernando Colón e da sua rede de
agentes por toda a Espanha.
A
quem se destinavam estas informações ? A Portugal ? A uma potência
estrangeira ?
As
18 localidades portuguesas referidas nos Itinerários são reveladoras das
ligações familiares do seu pai a Portugal. A maioria são do Alentejo, tendo
em destaque Vila Viçosa, a Casa dos Duques de Bragança.
Uma
coisa é certa: Hernando Colón, que participou como delegado nas conversações
de Badajoz sobre a questão das Molucas, continuou a defender uma concepção
comprovadamente errada sobre o mundo, nomeadamente afirmando que o valor de cada
grau era de apenas 56,6 milhas.
Uma
vez mais a família de Colombo estava a provocar o total desnorte dos espanhóis
nas negociações com os portugueses. Enquanto isto acontecia, recorde-se, o seu
irmão Diego Colón, passava a D. João III informações secretas sobre o
assunto.
P)
Fortificação da Jamaica e de Verágua
Apesar
de terem sido espoliados dos seus direitos, em 1536, a família de Colombo nunca
desistiu de expulsar os espanhóis das Indias. NoDucado de Veragua, mas
sobretudo no Ducado da Jamaica, colonizado por portugueses oriundos da Madeira e
Açores, procuram erguer fortalezas, de modo a preparar um possível
libertação do domínio espanhol.
Carlos
Fontes |
|
Notas:
( 1 ) Salvador de Madariaga,
ob.cit.pág.409.
(2 )Los
continos de don Cristóbal Colón, ISTVÁN SZÁSZDI LEÓN-BORJA, in Espacio,
Tiempo y Forma, Serie III, H.^ Medieval, t. 13, 2000, págs. 397-420 (3
) Pedro de Terreros. Desconhecesse a sua nacionalidade, apenas se sabe que
participou em todas viagens de Colombo. A 12 de Junho de 1494 é um dos que
assina que Cuba não era uma ilha, mas parte do continente asiático. Uma coisa
que sabia que não podia ter a certeza pois não tinha explorado completamente
as suas costas. Na 3ª. viagem capitaneou a caravela Santa Maria de Guia,
onde se encontrava Colombo. Foi à Ilha da Madeira, cabo Verde e à "Terra
Firme". Enfrentou a revolta do espanhol Francisco Roldán. Na 4ª. viagem
foi capitão da "Galega", tendo ido socorrer os portugueses cercados
em Arzila. Morreu na Jamaica, a 29/5/1504.
(4) Navarrete, Coleccíon de Viajes ...(54), Tomo
II, p.72 , Doc. XLVI), 107 (doc.LXX) e 109 (doc.LXXI).
(5) Varela, Consuelo - Colón y La Casa de La
Contratación, in, La Casa de la
Contratación y la Nevagación entre España y las Indias ...
(6
) Declaração do Piloto Andrés de Morales, no Pleito del Almirante. (7)
Probanzas del Fiscal, in, Navarrete, 1880, Tomo III, p.558, (8)
El Memorial Portugues de 1494. Una
Alternativa al Tratado de Tordesillas. Prefácio. transcrição, e notas de István
S.Léon-Borja. Madrid. Testimonio Compañia Editorial. 1994
(9) Gil, Juan - Nuevos documentos sobre Vicentiánez
Pinzón y Cristóbal Guerra, in, Congreso Internacional Cristóbal Colón,
1506-2006. Historia y Leyenda. Palos de la Frontera (Huelva), 2006. pp. 183
segs.
(10) Vicente Pizon, segundo a historiografia
espanhola, teria descoberto o Amazonas (1500), e reconhecido a insularidade de
Cuba e a costa do Yucatán (1508). Os cargos que lhe deram - governador do
Maranhão (1501) e capitão de Puerto Rico (1505), não tiveram qualquer efeito,
pois nunca os exerceu. Os espanhóis nem sequer o nomearam piloto maior da Casa
da Contratação de Sevilha. Morreu pouco antes de embarcar como piloto na armada
do Pedrarias Dávila (1514).
(11) A tudo isto há que acrescentar os
depoimentos feitos algumas testemunhas que participaram nos Pleitos que Diego
Colon sustentou em Tribunal contra a corte espanhola depois de 1513 ... cf.:Ortega, padre Angel - La Rábida. Editorial San
Antonio. Sevilla.1925
(12) Consultar: Coleccion de los viajes y
descubrimientos que hicieron por mar los ..., Suplemento Primeiro,
Martín Fernández de Navarrete ...
(14) Para uma introdução a esta mistificação
historiográfica espanhola, consultar:
- Coutinho, Gago - Teria Pinzon descoberto o
Brasil?, in, A Nautica dos Descobrimentos, Vol. II, pp.19-21
- Leite, Duarte - Os Falsos Precursores de Alvares
Cabral, in, H.C.P.B. (Dir. Malheiro Dias et all)), vol. I, pp.107-225; idem
"Os Falsos Precursores espanhóis de Cabral: Pinzon, Hojeda, Diego Lepe", in,
Hist. dos Descobrimentos, vol. I. pp.507-530; idem, Os Falsos Precursores de
Pedro Alvares Cabral, 2ª. ed. Lisboa s/d
(15) Leite, Duarte - Os Falsos Precursores de
Alvares Cabral, Lisboa, 2ª. Edição. s/d.
(16) Silva, Joaquim Candeias - Os Custos Humanos da
Implantação Portuguesa na India (1497-1509), in, Portugaliae Historica, II
Série, Vol. I, Lisboa. 1991. pp.67-101
(17) A 13/7/1503, chegou à corte espanhola a
informação que 4 navios portugueses andavam nas terras descobertas por Bastidas
( desde o cabo da vela ao Panamá) a resgatar escravos e fazer comércio. Cfr.
Navarrete, ob. cit.,T.2, p.161
(18) A Carta Impressa em Veneza, a 7 de Março de
1505, tinha o seguinte título: "Copia de la Lettera per Columbo mandata a li
serenissimo Re et Regina Spagna de le Insule et Luoghi per lui Trovato". Foi
publicada pela Imprensa de Simone de Lovere. A tradução foi feita por Constantio
Baguera, que a dedicou a Francesco Bragademo, alcaide de Brescia.
Existe uma cópia em castelhano desta carta em
Salamanca, e ainda outra com grandes diferenças no Libro Copiador de Colon. Este
livro, adquirido pelo estado espanhol num antiquário de Tarragona, tem um
conjunto de nove cópias manuscritas de documentos das quatro viagens de
Colombo, e terá sido escrito em meados do século XVI, meio século depois do
mesmo ter falecido.
O original da relação da viagem de Colombo desapareceu. |