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Lopo de Albuquerque,
Conde de Penamacor
Lopo de Albuquerque, Conde de Penamacor,
da família dos Albuquerque de Angeja, foi uma figura
de 1º. plano no reinado de D. Afonso V.
Durante séculos
tem-se escrito inúmeros textos sobre o seu envolvimento na conspiração de 1484
contra D. João II, mas tem-se ignorado, por exemplo, igual
participação do seu irmão Pedro
de Albuquerque, almirante mor de Portugal.
É profunda a ligação destes nobres portugueses com Colombo.
1.
Poder
Lopo
de Albuquerque foi durante o reinado de D. Afonso V um dos homens mais poderosos
do reino. Começou por servir o rei nas guerras em África. Participou na
conquista de Alcácer-Ceguer (1458), na perigosa corrida da Serra de Benacofú
(1463), Anafé (1469), conquista de Arzila e Tanger (1471).
O
início poder ocorre em 1463 quando passou a ser camareiro e de guarda roupa do
rei, por recomendação do Conde de Monsanto (camareiro-mor e seu tio). A 24/11/1464 recebe a judiaria de Trancoso e a feira de Marialva.
Ainda neste ano o rei dá-lhe a vila de Abiul, os casais de Val de Milho, etc.
D.
Afonso V, a 7/3/1467, confirma o seu fabuloso contrato de casamento com Leonor de Noronha, cunhada de D. João, futuro Marquês de Montemor-o-Novo
(envolvido na conspiração de 1483). O contrato envolveu também Pedro de
Meneses, Conde de Vila Real.
Por
morte do Conde de Monsanto, na tomada de Arzila (1471), é nomeado no cargo de
camareiro-mor do rei. O seu poder não pára, sendo nomeado
Regedor da Casa
Civil de Lisboa (23), capitão da guarda real de D. Afonso V.
Em
Dezembro de 1474 foi um dos elementos mais activos da estratégia do
casamento de D. Afonso V com Dona Joana, "Beltraneja". No ano
seguinte andou por Castela a obter as
credenciais dos nobres castelhanos que apoiavam este casamento e a consequente
entronização de D. Afonso V como rei de Castela. Foi também a Roma obter as dispensas papais para o casamento,
etc.
D.
Afonso V não pára de lhe fazer mercês. Em Agosto de 1476 dá-lhe a alcaidaria de Penamacor,
mas com resistência da população. Recebe as portagens de Trancoso, as judiarias de Tavira e Faro, mas para não haver problemas com
o Conde Faro, o rei acaba por não lhas entregar. Em troca concede-lhe um rendimento
equivalente ao que obteria das mesmas. Recorde-se que o Conde de Faro esteve
também envolvido na conspiração contra D. João II de 1483.
Como se tudo isto
não bastasse, D. Afonso V, passou a dar-lhe 100.000 reais por ano pelo trato da
"mallagueta e espeçaria da Guinee". Uma fortuna para a época.
Participou
na batalha de Toro (1 de Março de 1476),
onde foi aprisionado. Em Abril de 1476, num momento em que Isabel e
Fernando se preparavam para cercar Cantalapiedra, que havia sido tomada pelos
portugueses perto de Toro, D. Afonso V negoceia através do Conde de Faro, uma
tréguas 6 meses e a libertação dos prisioneiros portugueses, entre os quais
se destacava D. Lopo de Albuquerque. Em troca os espanhóis recebiam as 3
fortalezas que haviam sido tomadas ao Conde de Benavente: Villalba de los
Alcoras, Portillo e Mayorga, o que foi aceite (5). Neste ano de 1476 parte para
França, buscando apoio para a causa do rei, seguindo para a Curia romana.
Esta guerra prolongou-se até
1479, quando foram firmados os Tratados de Alcáçovas e depois de Toledo (1480)(8
).
Devido aos muitos serviços que lhe prestou, D. Afonso V,
dá-lhe a herdade de cavalos entre Lisboa e Santarém, frente a Vila
Franca de Xira e mais uma terra desde a ponte do Gayo para Santa Maria
das Virtudes. Recebe ainda as rendas da aldeia de Meimoa.
A quinta das "ilhas" na Ericeira
(29). O
mais importante foi o titulo de Conde de Penamacor (24/8/1476)
(24).
Estamos
perante um homem da total confiança de D. Afonso V, mas também de D. João II,
tendo acesso a todos os segredos do Estado.
Foi
também camareiro-mor do principe D. João, futuro rei D. João II, a quem ainda
em 1482 lhe eram prestadas as mais altas reverências na Corte.
Após
a conspiração a sua família fixou-se em 1484 na cidade de Sevilha, juntamente com outros parentes portugueses
de Colombo.
A afirmação que
Colombo vivia sozinho em Sevilha e em condições
miseráveis, como se comprova por estes e muitos outros exemplos, é um completo
disparate.
2.
Irmãos
Lopo
teve dois irmãos - Pedro
e Henrique - estando a vida do primeiro envolta num grande mistério.
2.1
Pedro
de Albuquerque,
alcaide-mor do Sabugal e Alfaiates e Almirante mor de Portugal, foi um dos
conspiradores de 1484. D. João II tinha-lhe dado o título de almirante-mor, para dias
depois o mandar decapitar em Montemor-o-Novo !.
Este
caso merece uma mais completa investigação, tendo em conta o seguinte: No rol
dos pagamentos a nobres portugueses exilados em Espanha, no ano de 1492, surge
um avultado pagamento a um "almirante português". Mais.
2.2.
Henrique
de Albuquerque não terá participado na conjura, por isso foi salvo e largamente
recompensado pelo rei. Foi alcaide-mor de Marvão (carta real de 23/3/1474). Não
se lhe conhece o rasto depois de 1492.
Mais
Henrique
era casado com
Catarina Henriques, filha do primeiro donatário de Alcaçovas, Fernando
Henriques, e de Briolanja de Melo, filha de Martim Afonso de Melo. Não teve
descendência. Os monizes, no século XVI, irão ser os herdeiros deste
ramo dos albuquerques.
Henrique
e Catarina pertenciam à casa senhorial de
Beatriz de Lencastre (1430-1506),
filha do Infante D. João. Era casada com o infante D. Fernando (1433-1470). Foi
a mãe de D. Manuel I e de D. Leonor, esposa de D. João II. Era uma das
mulheres mais poderosas do tempo.
Dona
Beatriz (ou Brites) por morte do seu marido, e devido à menoridade do seu filho
- D. Diogo - , por decisão papal,
passou a administrar a Ordem de Cristo. Entre 1472 e 1483 uma mulher
governou esta a poderosa Ordem militar. Foi a grande
promotora das expedições para Ocidente,
nomeadamente para Terra Nova (Canadá).
Henrique pertencia ao núcleo duro
desta casa senhorial, envolvida nas explorações marítimas para Ocidente. Mais
2.3.
Ordem de Santiago e de Aviz
A
análise das
relações familiares dos três irmãos revela que os mesmos estavam ligados a membros das ordens militares de Santiago
e de Aviz, um facto da maior importância.
3.
Leonor Enriques de Noronha, esposa de Lopo de Albuquerque
Lopo casou-se, em 7/3/1467
com a tia de
Colombo - Leonor Enriques
de Noronha- , filha do
arcebispo de
Lisboa
D. Pedro de Noronha (1379 - 1452)
(25)
e Branca
Dias Perestrelo, irmã do donatário da ilha do Porto Santo, Bartolomeu Perestrelo
(pai de Filipa Moniz, casada com Colombo).
Era
portanto irmã de Isabel de Noronha, marquesa de Montemor-o-Novo, que se exilou
também em Sevilha, levada por Catarina da Costa, esposa de Pedro de Albuquerque. Mais
Em Sevilha, exilou-se também outras
das suas irmãs - Maria Enriques de Noronha (1440 - 1523 ), 2ª condessa
de Odemira, senhora de Aveiro, Vimieiro e outras terras, casada com o 1º.Conde de Faro
-
Afonso
de Bragança -que foi
um dos principais conspiradores de 1484.
Na sequência da conspiração de 1484, fugiu para
Castela, tendo-se fixado em Sevilha. Foi sempre financiada com avultadas tenças pelos reis católicos.
Em 1492, 1493
e 1494 recebeu em cada ano uma tença no valor de 200 mil maravedís.
Depois da morte de D.
João II, o rei D.
Manuel I restitui-lhe, em 1496, as rendas, direitos e a jurisdição da
vila de Abiul ( perto de Pombal). Em 1500 confirma-lhe a venda de bens ao barão
do Alvito (cfr. Anselmo, Brasões..., vol.III, p.309).
Em 1510 manda-lhe dar 6
moios de trigo de mercê. A 17/9/1518, dá-lhe mais 5 moios de tença.
Faleceu
em Sevilha em 1519/20 (3).
Diego de Colon, 2. Vice-Rei das Indias espanholas, no seu Testamento de 1509,
antes de partir para as Indias espanholas, afirmando que Leonor de Noronha era sua tia.
Recorde-se que o arcebispo era inimigo do Infante D. Pedro,
morto na Batalha de Alfarrobeira (1449). Após ter resignado ao cargo, refugiou-se em Alhandra, no mesmo palácio dos
albuquerques onde Colombo
pernoitará em Março de 1493.
4.
Filhos
Os
filhos de Lopo e Leonor de Noronha foram os seguintes:
-
Garcia de Albuquerque, o seu filho primogénito, casou-se com
Leonor de Perestrelo, filha de Afonso Leitão e de Mécia Perestrelo, parentes
de Colombo. Foi copeiro-mor de D. João III. Fez parte da embaixada que,
em 1494 negociou, em Espanha, o Tratado de Tordesilhas (16). A sua
presença foi objecto de uma sátira por parte de João da Silveira (17) . O seu filho Luis de Albuquerque,
foi também copeiro-mor do reino, casou-se com Inês de Castro, filha primogénita de
João de Castro, vice-rei da India.
-
Guiomar de Noronha casada com Rui de Melo, alcaide de Elvas. O contrato
de casamento foi firmado em Sintra, a 18/7/1504. Rui
de Melo era filho de Beatriz da Silva e de Manuel de Melo. Era portanto,
parente de Alvaro de Bragança, mas também de Colombo.
-
Isabel de Noronha ( ? - 1546), casou-se com Nuno Vaz de Castelo Branco,
pertencente a uma família de almirantes de Portugal. Estão sepultados no
Convento do Espinheiro, em Évora (18).
-
João (ou Afonso ?) de Albuquerque, entra no dia 5/10/1505 para o
convento dominicano de San Pablo em Sevilla. Foi neste convento que funcionou a
"Santa Inquisición", antes de se mudar para o "Castillo de San Jorge" em Triana.
-
Pedro de Albuquerque (ou de Noronha), sem geração. Fidalgo da casa
d`el rei.
-
Diego Mendes de Segura, filho
adoptivo, e futuro secretário particular de Colombo e do seu filho Diego Colón
(10). Mais
Como
veremos, sabendo ou não, participaram na encenação do enterro de Lopo de
Albuquerque em Santo António da Castanheira.
5.
Fuga
e Vingança
Lopo de Albuquerque teve conhecimento ou participou na conjura contra D. João II
(1484),
na sequência da qual foi supostamente "executado" em Montemor-o-Novo o seu irmão Pedro de Albuquerque
(almirante).
Lopo
refugiou-se em Penamacor. D.
João II foi no seu encalço e negociou com ele a rendição (Outubro de 1484), em
Cortiçada (Proença-a-Nova), permitindo-lhe saída de Portugal com a esposa e filhos, sendo
todavia os seus bens
confiscados em Portugal.
De
Castela não tardou a ir para a
Flandres e outros países, dirigindo-se por fim para Inglaterra, onde usou
um nome falso de "Pedro Nunes". O seu filho adoptivo - Diego Mendez de
Segura - acompanhou-o nestas viagens.
Em
Inglaterra procurou, segundo os
cronistas Rui de Pina e Garcia Resende, prejudicar os interesses de Portugal em
África, aliciando armadores ingleses para fazerem expedições à Guiné e a
outros domínios do reino.
O
rei português ao saber da sua acção, mandou de imediato uma caravela a
Inglaterra, comandada por D. Alvaro Caminha, para o raptar, não sendo a missão
bem sucedida. Mandou depois, João Alvarez Rangel, com cartas para o rei inglês
, pedindo-lhe que o prendesse. O Conde acabou por ser preso na Torre de Londres
(1488 ?). Mal soube do sucedido, D. João II envia o licenciado Aires de Almada, para que o
mesmo fosse trazido para Portugal, o que lhe foi negado.
Andou também pela Noruega e
Dinamarca.
A
história desta traição de Lopo de Albuquerque foi objecto de inúmeras
outras histórias ao longo do século XVI e XVII, entre elas destaca-se a
comédia Antona García, de Tirso de Molina ( Madrid,1622-25), na qual o conde é uma das personagens principais
(31)
|
.
6.
Regresso
a Espanha, relações com Colombo e Morte
Devido
a pressões dos reis católicos, Lopo de Albuquerque acaba por ser solto,
fugindo para Barcelona, quando aí se encontravam os reis católicos, ao tempo
da entrega de Perpinhão, seguindo depois para Sevilha onde tinha a sua mulher e
filhos, "daí a poucos dias faleceu" (4), mais uma falsidade .
A
entrega de Perpinhão (Perpiñán, em castelhano), ocorreu em Janeiro de 1493,
na sequência do Tratado de Tours-Barcelona, entre Carlos VIII de França e os
reis católicos.
Tenha-se
conta quatro factos da maior importância:
a
) A presença de Colombo,
entre
20 de Abril e meados de Maio de 1493, em Barcelona, onde teve o primeiro
encontro com os reis católicos, depois de regressar da 1ª. viagem às Indias. É
provável que Lopo de Albuquerque se tenha encontrado com Colombo, pelas
razões que a seguir se irão mostrar.
b
) Foi nesta altura que
o seu filho adoptivo - Diego Mendez de Segura -
passou a estar ao serviço de Colombo, como seu secretário particular. Após a
morte deste exercerá as mesmas
funções ao serviço de Diego Colon, 2º. vice-rei das
Indias.
c
) Bartolomeu
Colón, irmão de Colombo, acompanhou o percurso de Lopo de
Albuquerque. Em 1488 estava em Inglaterra na mesma altura que é aí preso o Conde de Penamacor.
Dirige-se para França na mesma altura que o Lopo o faz. Em fins de 1493 vai para Espanha
ao encontro de Diego Mendes, na mesma que também para lá se dirige Lopo.
Estes
factos mostram só por si que deviam existir contactos muito estreitos entre Lopo de Albuquerque,
Bartolomeu e Colombo.
d
) Lopo de Albuquerque é oficialmente dado como morto em Portugal, na mesma
altura que Colombo é recebido pelos reis católicos em Barcelona. Há uma
clara intenção, como veremos, de ocultar o seu percurso posterior em
Espanha.
Assim
o confirma a sua sepultura no Convento de Santo
António da Castanheira (Loja Nova, Vila Franca de Xira), o mesmo onde Colombo se encontrou com Dona
Leonor e o futuro rei D. Manuel I depois do seu regresso da América (Março de
1493).
A pedra tumular, no antecoro da
Igreja - Panteão dos Ataídes - diz
que faleceu a 8 de Maio de 1493 ! Uma data que é congruente com o
que dizem os cronistas (oficiais) portugueses, só que falsa.
Por mais estranho que possa parecer,
entre Março e Junho de 1494, D. João II enviou para Espanha o filho do Conde
de Penamacor - Garcia de Albuquerque -, integrado na comitiva portuguesa
que estava a negociar o Tratado de Tordesilhas. Ao mais alto nível os
Albuquerques de Angeja continuavam a merecer a confiança do rei. Dir-se-ia que
D. João II e Lopo de Albuquerque haviam encontrado, secretamente, uma nova forma
de entendimento.
7.
A
Falsa Morte
O
problema é que esta morte anunciada por Rui de Pina e Garcia de Resende e que
consta na pedra tumular no convento de Santo António da Castanheira, não está
conforme com outros dados apurados DOCUMENTALMENTE em Espanha (7):
Lopo de Albuquerque,
ou um seus sósia, estava vivo ainda em 1496. Entre 10/6/1494 e 5/5/1496, como prova documentalmente Marvin
Lunenfeld (1
),exerceu o importante cargo de
corregidor (corregedor) de Baeza-Ubeda, onde existia históricas comunidades de portugueses.
Ginés de la Jara Torres
Navarrete é mais preciso, e com base também em documentos de Ubeda,
informa-nos que entre 10 de Junho de 1494 e 5 de Maio de 1496 exerceu
estes cargo na cidade(9).
Não era um acaso isolado de um português a exercer estas
funções (2), embora o cargo de Ubeda-Baeza tivesse
características muito especiais:
Era ocupado sobretudo por membros da alta nobreza de Castela. Em
1477, por exemplo, Isabel, a católica nomeou corregedor Rodrigo de Manrique,
filho do Conde Paredes, o qual se uniu através do casamento com Mencia de
Benevides, ao condado de Santisteban.
Os seus corregedores estavam ligados à Ordem de Santiago. Alfonso
Enríquez, cavaleiro desta Ordem e capitão militar da mesma, exerceu o cargo de
corregedor entre 1488 e 1493.Por matrimónio estava ligado aos senhores de
Villalba. Em 1500, Alfonso Martinez de Angulo, também cavaleiro desta Ordem e
"Veinticuatro" de Cordoba exerceu este cargo.
Lopo de Albuquerque, ou o seu sósia, em 1495, foi acusado de aceitar beneficios
pessoais de terras.
Pergunta:
- Será que a inscrição na sua sepultura, no Convento de Santo António foi
apenas uma forma do mesmo se eclipsar, depois de se vingar de D. João II,
revelando um dos seus segredos - a existência das Indias (Antilhas) e o modo de
lá chegar ?
A
documentação existente, nomeadamente no Archivo General de Simancas (Valladolid),
não deixa dúvidas que estamos perante um monumental logro, idêntico ao de
Colombo e capaz de o explicar.
8.
João
de Albuquerque, senhor de Angeja
João
Afonso de Albuquerque
(1406 ? - 1486) (11), pai de Lopo, Pedro e Henrique de Albuquerque. Foi um ilustre cavaleiro da casa do Infante D. Henrique. Era
um homem de uma enorme ambição, que não olhava a meios para expandir os seus
domínios. Fazia parte do conselho do rei D. Duarte e de D.
Afonso V.
Participou
na frustrada tentativa de conquista da Grã Canária (1424-25), sob o comando de
D. Fernando de Castro. Aparece envolvido na
ratificação do Tratado de Paz, com Castela (1432). Participou nas campanhas do norte de África:
trágica expedição a Tanger (1437), na conquista de Alcácer Ceguer (1458), incursão
pelos campos de Benacofú
(1463), etc.
Em 1449 opôs-se ao Infante D. Pedro,
colocando-se ao lado de D. Afonso V. Este recompensou-o, confirmando-lhe os seus
bens patrimoniais em Assequiens e Figueredo (12/6/1449). Doou-lhe também os bens
de Pedro Afonso, adepto de D. Pedro (8/7/1449). Em 1454 recebe a jurisdição
civil e criminal de Esgueira e
Pinheiro (20) e em
1459 o privilégio de fidalguia. O seu poder era enorme.
Senhor de
Angeja, Assequins,
Fermelã, Cacia, Canelas, Figueiredo e Pinheiro. Explorava salinas em Aveiro (21). Em 1468, D. Afonso V, concedeu-lhe também uma
tença de 25.000 reais brancos. A 12/5/1477, este rei autorizou-o a deixar
ao convento Dominicano da Nª. Srª. da Misericórdia, em Aveiro, uma quinta e uma
marinha (salina) para a manutenção de uma missa diária (22). Privilégio que foi
confirmado por D. João II, a 3/2/1484.
Era filho
primogénito de Pedro Vaz da Cunha, senhor de Tábua, Angeja, Assequins,
Figueiredo, Pereira, bem como dos Coutos de Pinheiro e Castanheira e de
Teresa de Ataíde, apoiantes de D. João I. Era neto Vasco Martins da Cunha, 7º. Senhor de Tábua e de Teresa
Albuquerque, de onde lhe veio o apelido.
Pelo
lado materno era portanto bisneto
de Fernando Afonso de Albuquerque (c.1330-1387), mestre da Ordem de Santiago
(19) e de uma senhora inglesa. Esta origem também nórdica foi confirmada numa
análise aos seus restos mortais, que revelam uma estatura muito acima da média
(1,7m). (14).
Trineto
de João Afonso de
Albuquerque (c.1310-1354), 6º. Senhor de Albuquerque, mordomo-mor de Pedro
I, o Cruel (Castela). No reinado de D. Dinis, está já em Portugal. Em 1334
aparece a assinar um documento que institui no Sabugal uma feira. Os
Albuquerques (de Angeja) irão ficar ligados à defesa desta zona da fronteira
Portugal (Sabugal, Alfaiates, Penamacor, etc).
Descendente
portanto de Afonso Sanches e de Teresa
Martins Telo (filha mais velha do 1º Conde de Barcelos, tendo como antepassado
o rei D. Dinis
e Aldonça Rodrigues Telha (Senhora de Angeja).
A sua irmã - Isabel de Albuquerque
- foi a
1ª. mulher de João Alvares Pereira, senhor de Santa Maria da Feira,
parente de D. Nuno Alvares Pereira.
João
de Albuquerque, tal como o seu homónimo de Esgueira (Aveiro) foram dois apoiantes
incondicionais de D. Afonso V na Batalha de Alfarrobeira (1449), um facto que
justifica o enorme poder que foi dado à sua família (11).
D.
Afonso V, a 18/12/1454, toma a decisão de lhe alienar a jurisdição
da vila de Esgueira, que pertencia ao Convento do Lorvão. João de Albuquerque
entre 1455 e 1481, aproveita-se deste facto e apodera-se à força de rendas e
foros que não lhe pertencia (26). Foram permanentes o seus conflitos com o povo
de Esgueira e o convento do Lorvão.
O
seu túmulo encontra-se desde 1945 no Museu de Aveiro. Terá sido mandado fazer
pelo seu filho Henrique de Albuquerque, entre 1488 e 1495.
A
arca tumular tem a seguinte legenda em 4 linhas:
Aquy;
jaz: o muito: onrado: Sõr: E vallente: Cavaleyro: Joam Dalboquerqe: Do cõselho:
del Rey: E do seu: linhagem: bisneto: De Dom Ioam Afonso que fez o castelo de
Albuquerq(ue), que p (pro)cedeu do tronco dos reis de castela.
O
q (ual) em idade de 17 anos foy: Na Ida: Da
Grã: canarea: Onde: se: côbateo com um I(n)fant(e) f(ilho) do rei da dita
Canária, e o desbaratou e trouxe preso ao arraial só p(or) si.
E:asy: Nas: partes Dafrica
onde (s)empre (se) mostrou por mui valente (cava)leiro. Esta(n)do com os I
(n)fa(n)tes no
cerco: de tãgere Atee O Recolhimeto: Onde: Per sua lança: Muyta: Gete: Saluou.
E assi(m), se(n)do e(m) todas as cousas qu(e) se e(m) seus dias acon (n)tec(er)am
sempre (of)ereceu s(ua) pessoa aos gran(des) p(er)igos p(a)r(a) o (sery)ço dos
reis.
Co(m)
ele jaz a muito v(irtuosa) dona Helena P(er)eira, uma só mulher dos quais
p(ro)cederam t(rês) filhos, P(edro de Albuquer)q(ue), primo(genito), (Lopo de
A)lbuquerq(ue), conde de penamacor e ama.....e (??????)
a(lbuquerque) a(lcaide) d(e) Marvão. Ele se finou na era milccccelxx
anos a III dias de Janeiro (1487). (13).
A toda a volta do túmulo, podemos observar uma decoração
vegetalista envolvendo diversos brasões de João de Albuquerque e de sua mulher
D. Helena Pereira, apresentando as armas dos Cunha, Albuquerque e Pereira.
Este
túmulo encontrava-se, inicialmente, numa capela lateral da Igreja de Nossa Senhora da
Misericórdia, no Convento de São Domingos (actual Sé
Catedral de Aveiro), encontrando-se desde 1945 (?) no Convento de Jesus (actual Museu de Aveiro).
9. Helena Pereira, senhora de Angeja
Helena
Pereira ( ? - 4/4/1470) (6), mãe de Pedro, Lopo e Henrique de Albuquerque,
era filha do Senhor das Terras de Santa
Maria (Vila da Feira) - João Álvares Pereira - , que participou no
cerco de Tanger, e de Leonor de Melo.
O
povo da Feira foi dos primeiros a apoiar o Mestre da Ordem de Aviz e nesse
sentido, a vila ficou desde logo associada à nova Dinastia real e a esta Ordem
Militar, e em particular à família de Nuno Alvares Pereira.
Os
três irmãos Albuquerques de Angeja eram portanto, por parte da mãe,
descendentes de Vasco Martins de Melo, senhor de Castanheira, Povos e
Cheleiros.
"Desde
1377, que a família (Martins de Melo) detinha os direitos sobre a aldeia de
Cuba, atribuída pelo rei D. Fernando I. Os senhores da Castanheira eram os
poderosos de Cuba", escreve Carlos Calado.
10. Família
Albuquerque
Os
albuquerques,
surgiram no século XIII, ligados à familia real e à dos Menezes. O
primeiro senhor de Albuquerque (povoação que hoje se situa na região de Cáceres,
na fronteira de Espanha com Portugal) foi Afonso Teles de Menezes (2º.
senhor de Menezes e Medelim), casado com Teresa Sanches (filha de
D.Sancho I, de Portugal). Foi também o primeiro povoador de Albuquerque.
Afonso Sanches (1289
-1329), filho do rei D. Dinis (1261-1325) e
de Aldonça Rodrigues
Telha, dama da corte e senhora de Angeja, casou-se, em 1306, com Teresa Martins
Menezes, filha de D. João Afonso Telo de Menezes, conde de Barcelos e
senhor de Albuquerque. O seu filho - Afonso de Albuquerque foi o 1º.
a usar este apelido. O brasão que adoptou tinha as quinas das armas
de Portugal e cinco flores de liz, dispostas como as quinas.
Entretanto a povoação de Albuquerque passou
para o domínio de Castela, mas o nome continuou a ficar ligado a Portugal.
D. Afonso IV foi em Albuquerque
que exilou Inês de Castro que andava de amores com o seu filho e futuro
rei - D. Pedro I. Talvez por esta razão os primeiros Condes de
Albuquerque foram os filhos de Inês de Castro e de Pedro I, rei de
Portugal: Fernando Sanchez, e depois de 1385 a sua irmã de
Beatriz, Infanta de Portugal, que se casou com Sancho de Castela,
filho bastardo de Alfonso XI (rei de Castela) e Leonor Nunez Guzman. Desta união
nasceu Leonor ou Eleonora Urraca de Castela-Albuquerque ( (1374 -1435), que se
casou com Fernando I de Aragão. Da sua vasta prole destacam-se Pedro
de Aragão, conde de Albuquerque (1406-1438), Leonor, infanta de Aragão que
se casou com D. Duarte, rei de Portugal, Henrique de Aragão, duque de
Villena que se casou com Beatriz Pimentel (Benavente, Portugal).
Em Castela, no
século XV, é criado o título de Duque
de Albuquerque (1464) que Enrique IV atribuiu a Beltrán de la Cueva, conde
de Ledesma, o mesmo que se virá a envolver em alegados amores com Dona Joana de
Portugal, mãe de Joana, a Beltraneja.
10.1.
Albuquerques de Angeja, de Esgueira e de Vila Verde dos Francos
Na região de Aveiro, a partir do
século XIV, formaram-se dois ramos dos albuquerques dos filhos de
Vasco Martins da Cunha,
7.º senhor de Tábua, 5.º Senhor da Terra de Cunha, confirmado por D Pedro I em
1357, que também lhe deu Angeja, Pinheiro, Pereira, Bemposta e Castanheira,
assim como as alcaidarias de Melgaço, Castro Laboreiro e de Lisboa. senhor de
Angeja, Pinheiro, Pereira, Bemposta e Castanheira. Casou 2 vezes, com Beatriz
Lopes de Albergaria e Teresa de Albuquerque
(30):
a) De Pero Vasques da Cunha ,
descendem os albuquerques de Angeja, que no século XVI se afirmarão como
copeiros-mor.
b) De Isabel de Albuquerque,
casada com Gonçalo Vasques de Melo (senhor de Castanheira, Povos e Cheleiros),
descendem os albuquerques de Esgueira, mas também os albuquerques de
Vila Verde dos Francos (Alenquer). No século XVI, afirmam-se como donatários
no Brasil (Pernambuco).
Em Vila Verde dos Francos ainda subsiste
as ruinas de um
palácio do século XV (Palácio dos Marqueses de Angeja, título criado em
1714), ligado ao célebre Afonso de Albuquerque (Alhandra, 1462- 1515), Vice-rei da
India. Era o segundo filho de Gonçalo Albuquerque, senhor de Vila Verde dos
Francos, e de Leonor de Meneses, filha de Alvaro Gonçalo de Ataíde (1º Conde
de Athouguia), e de sua mulher Guiomar de Castro. Melhor sorte teve nesta
povoação o
Convento da Visitação, onde ainda se conserva alguns túmulos de membros da família
Noronha.
O facto dos dois ramos desta
família, ao longo do século XV e princípios do XVI, terem adoptado por vezes os
mesmos nomes, tem provocado uma enorme confusão nos historiadores. Em Angeja
temos um João de Albuquerque (pai), Lopo de Albuquerque (filho); Em Esgueira
um
João de Albuquerque (pai), um Lopo de Albuquerque, o bode (filho), um
Pedro de Albuquerque, o Azeite (filho).
10.2.
Albuquerques de Portugal - Albuquerques de Espanha
Familia nobre luso-castelhana. O 1º.
Duque de Albuquerque -Beltran de las Cuevas, originário de Úbeda, foi o alegado amante da rainha Joana de
Portugal, irmã de Afonso V e esposa de Enrique IV de Castela, o
Impotente (homossexual). Dona Joana,a Beltraneja, fruto de um alegado
amor adultero, acabou por provocar uma guerra civil e depois uma guerra entre Portugal e Castela.
A razão provável desta calunia terá sido o facto de ter sido nomeado mestre
da Ordem de Santiago (1464), algo que as grandes casas nobres de Castela
não toleraram, acabando por ser pouco depois afastado da corte.
Os
albuquerques de Portugal estavam intimamente aos albuquerques de Castela, pois
ambos tinham as mesmas origens.
Um dos seus
netos (Luis de la Cueva) casou com Joana Colón de Toledo, filha de Fernando
Colón, neto de Colombo. Os casamentos eram sempre feitos num circulo muito
restrito de familias.
Uma das netas de Beltrán - Dona María de la Cueva foi camareira-mor de Isabel de la Paz,
casada com um principe português -D. Miguel da Paz. Casou-se com Juan
Telléz Girón (IV
Duque de Ureña, I Duque de Osuna),o fundador da "Universidade de Osuna"
(Colégio Mayor y Universidad Literaria de la Inmaculada Concepción de Nuestra
Señora).
Não deixa de ser curioso que um rei português
(D. João III ) tenha
sido o mecenas da publicação em Osuna, do célebre tratado "Declaración
de Instrumentos" de Juan Bermudo (1549), cuja origem está envolta num
mistério.
Solar e Quinta de Sobral da Pichorro (Fornos de Algodres).
Muito perto de Vila Ruiva, em Sobral Pichorro, desde
o século XVI que vivia aí uma familia espanhola que se dizia descendente
do 1ª. Duque de Albuquerque. A mesma terá edificado um Solar e a Capela
dedicada a São Luis Beltrão, no reinado de Filipe II de Espanha. Associado a
este solar, não tardam em surgir os Girões , que erguem uma
capela de S.Luis Beltrão, anexa à casa do Sobral, hoje propriedade do
Seminário de S.José.
Ubeda e Baeza. Lopo
de Albuquerque entre 1494 e 1496 surge como corregedor da
cidade de Ubeda, onde era originário o 1ª. Duque de Albuquerque.
|
11. Albuquerques Angeja e Colombo
11.1. Relação entre Conspiradores
Os albuquerques de Angeja estiveram
envolvidos na conspiração do Duque de Beja. A Condessa de Penamacor
estabeleceu-se em Sevilha, onde mais tarde veio ao seu encontro, Catarina da
Costa (esposa de Pedro de Albuquerque), o Conde de Penamacor e seu filho
adoptivo Diogo Mendes de Segura. Colombo estava intimamente relacionado com este
grupo de exilados.
É possível encontrar outros pontos
de contacto, quando temos em conta afirmações do próprio Colombo, nomeadamente
quando o mesmo afirma que ao abandonar
Portugal, deixou aqui mulher e filhos. Quem seriam estes filhos de
Colombo e de Filipa Moniz Perestrelo?
Monizes de Angeja.
Alguns
autores referem a existência, no século XV, de dois ramos dos monizes:
os de Angeja e os Febo Moniz. Os primeiros
descendiam dos alcaides de Silves (Martim Fagundes e de Branca Lourenço) cujos
filhos se destacaram ao serviço do Infante D. Henrique. As armas desta família
são cinco estrelas de oiro em campo azul. O dois ramos, ao contrário do que
tem tem afirmado, estavam interligados. Durante o reinado de D. Manuel I
(1495-1521), o senhorio de Angeja passou dos Albuquerques para os Monizes.
Que relações tiveram entre si Filipa
Moniz Perestrelo e Catarina da Costa ? A verdade é que estas duas mulheres viveram muito próximas uma da
outra em Lisboa. A
quinta que Isabel da Costa adquiriu em
Lisboa, - a quinta de Pancas, em Santa Apolónia - , abrangia a área onde D.
João II instalou o recolhimento das comendadeiras de Santiago de Espada.
Acontece que foi para este local foram mudadas as comendadeiras antes estavam no Convento de Santos, onde Colombo conheceu
Filipa Moniz Perestrelo.
No
reino das coincidências, aconteceu que
Henrique de
Albuquerque, irmão de Lopo e de Pedro-,
morreu sem descendência. Os seus herdeiros foram justamente Jorge
Moniz e a sua esposa Leonor Pereira, os quais passaram a ser os novos senhores
de Angeja. O filho de ambos chamava-se Diogo Moniz, sendo-lhe dado o mesmo
do filho de Colombo. Jorge reconstruiu, em 1564, o
Convento de Santo António de Aveiro, onde se fez sepultar
(40).
Não
muito longe de Vila Ruiva está o coração dos melos, uma terra de
cristãos-novos.
Os
irmãos de Colombo tinham o apelido Melo. D. Alvaro de Melo, o seu grande
protector em Espanha, faz-se sepultar em Évora no panteão dos Melos. Os três
irmãos albuquerques eram aparentados com os melos, e viviam muito perto do mítico local
da sua origem.
Melos do Alentejo.
A
tão falada ligação ao Alentejo de Colombo é feita aqui pela porta grande. Henrique
de Albuquerque era casado, como dissemos, com Dª. Catarina Henriques,
filha do primeiro donatário de Alcaçovas, Fernando Henriques, e de
Briolanja de Melo, filha de Martim Afonso de Melo.
O
filho deste donatário - Henrique Henriques, foi o 2º. senhor Senhor de
Alcáçovas e Caçador-Mor do Rei D. Afonso V, casado, por 1480, com Filipa de
Noronha, filha do 2.o Donatário do Funchal, João Gonçalves da Câmara e de
Maria de Noronha (dos Zargos ou Câmaras).
Seu
filho, João Henriques fez assento na Ponta do Sol, serviu na India, no cerco de
Safim, e casou com D. Joana de Abreu (dos Andrades, do Arco).
A
ligação é completa aos zarco da Madeira que tanto preocuparam
Marcarenhas Barreto, mas também aos melo de Cuba. O que é mais
interessante é que em 1500, Colombo andava preocupado com a venda de armas dos
espanhóis aos mouros, pois as mesmas podiam servir para atacar Safim !
Alvaro de Bragança, a
figura tutelar dos nobre portugueses exilados em Espanha, ligou-se aos melos, em
cujo panteão em Évora se fez sepultar, no Convento dos Loios. Recorde-se
que se casou
com uma menezes, familia está na origem dos albuquerques.
Alvaro
de Portugal, descendente de D. Nuno Alvares Pereira, foi o nobre português que
maiores apoios recebeu dos reis espanhóis, mas
também aquele que maior poder concentrou nas suas mãos. Ocupou os mais altos cargos da Corte de
Castela.
Bartolomeu
Colón, irmão de Colombo tinha, ao que tudo indica, o apelido de melo.
Mais
Os
três irmãos Albuquerques de Angeja, como dissemos, tinham como antepassado directo-
Vasco Martins de Melo, o 1º. Senhor de
Castanheira e de Cuba.
Herdeiros de Colombo.
No terreno das coincidências, não podemos deixar de assinalar o facto do
herdeiro do títulos de Colombo ser descendente directo de D. Nuno Alvares Pereira,
o celebrado condestável de Portugal. Os três irmãos albuquerques de Angeja
pertenciam, pelo lado materno, à linhagem dos pereira: Helena
Pereira, esposa de João de Albuquerque, era filha de João Álvares Pereira, cavaleiro de D. JoãoI.
Durante
a crise de 1383/85, o alcaide da vila de Santa Maria tomou o partido de
Castela, mas após uma revolta popular o castelo foi tomado e entregue ao mestre
da Ordem de Aviz, o qual passou a partir daí a favorecer os pereiras.
Um
dos elementos físicos que caracterizava Colombo era os seus cabelos ruivos e
nariz afilado. D. Nuno Alvares Pereira, o símbolo maior dos pereiras a partir
do século XV, tinha justamente estas características. Pedro de Albuquerque
pela parte da mãe era pertencia à mesma linhagem do condestável de Portugal
(41).
O
pai de D. Nuno Alvares Pereira, assim como vários membros da Casa de Bragança
(pereiras) cultivaram a astrologia. Recorde-se que a paixão que Colombo tinha
pela astrologia e a forma que procurou articula-la com o cristianismo.
Várias outras ligações se podem
estabelecer entre os albuquerques de angeja e Colombo, através de outras
relações familiares, nomeadamente com os Sotomomaior (43) e os Sousa (44).
10.2. Aveiro
Aveiro,
entre 1470 e 1590, teve uma enorme importância como vila marítima, ligada à
pesca do bacalhau e à exploração do Atlântico Norte. Colombo acompanhou e
regista algumas destas explorações.
A fixação na vila da
princesa Joana, filha de D. Afonso V, atribuiu-lhe uma dimensão nacional. Os
grandes senhores de Aveiro foram:
a
) Infante D. Pedro.
Senhor de Aveiro entre 1431 e 20/5/1449, quando foi morto na batalha de Alfarrobeira. O
pai de Pedro de Albuquerque, como vimos, foi um dos apoiantes de D. Afonso V contra
o infante D. Pedro, sendo por
isso largamente beneficiado pelo rei.
b)
Condes de Odemira, Sancho de Noronha. Grande
opositor do infante D. Pedro, tendo-se recusado a participar nas cortes de
Lisboa de 1439. Foi adiantado do Algarve e governador de Ceuta. Participou na
batalha de Alfarrobeira. Afonso V doou
Aveiro ao conde de Odemira (Alentejo), , a 13 de Junho de 1449.
foi uma das figuras que mais apoiou directamente Colombo em Sevilha, envolvendo
inclusive a comunidade judaica nesta acção. D. Afonso V, em 1467, estipulou
novas regras de sucessão do senhorio de Aveiro. É por esta razão que em 1475 o
Conde de Faro veio a receber o senhorio da vila.
c)
Joana Princesa.
Em virtude do Conde Faro ter participado na conspiração de 1483, D.
João II, retirou-lhe o senhorio de Aveiro, atribuindo-a à infanta D. Joana,
filha de Afonso V e irmã de D. João II, em 19 de Agosto de 1485.
A verdade o senhorio de Aveiro, em
1495, acabou por ser dado à condessa de Faro - Maria de Noronha -, que o
transmitiu ao seu filho - 2º. Conde de Odemira - e só em 1520, o senhorio foi
finalmente entregue a D. Jorge de Lencastre, cumprindo-se a vontade de D. João
II.
d)
Jorge de Lencastre, filho natural de D. João
II, mestre da Ordem de Santiago e administrador da Ordem de Aviz. Tendo a
infanta Joana falecido a 12 de Maio de 1490, no Convento de Jesus, o senhorio da
vila de Aveiro
foi-lhe atribuída, a 24 de Setembro de 1495. D.Jorge foi educado no Convento. A
posse embora tenha sido confirmada por D. Manuel em 1500, só se efectivou, como
dissemos, em 1520. Os seus descendentes
- os Duques de Aveiro - mantiveram este senhorio até 1759 (42).
10.3. Castanheira
A ligação dos albuquerques de angeja
e a
Castanheira, constitui uma importante pista para explicar dois acontecimentos
singulares:
- João da Castanheira, cavaleiro da Casa do Infante D. Fernando (28), foi o capitão que, em Fevereiro de 1493, recebeu Colombo quando
este aportou à Ilha de Santa Maria (Açores).
Este ligação justifica
as palavras de João da Castanheira, quando disse a Colombo que o "conhecia muito bem". A ida deste navegador para a Ilha de Santa Maria, não
parece ter sido fruto do acaso, mas resultado de uma estratégia familiar bem planeada.
- Lopo de Albuquerque, como vimos, "foi" sepultado em a 8 de
Maio de 1493 no
Convento de Santo António da Castanheira, Panteão dos Ataídes, senhores de Castanheira e 1ºs.
Condes de Castanheira.
Continuação
Carlos
Fontes
|
|
Notas:
(
1 ) Lunenfeld, Marvin - Los Corregidores de
Isabel, la Catolica. Barcelona. Editorial Labor. p.171
( 2 ) Juan de Portugal em Leon; Pedro Gómez de
Setubal em Palencia, Ubeda (12/2/1498), Lorca, Cartagena, etc. Os corregedores eram oficiais reais que serviam
como alcaides e juízes superiores em cidades, vilas e aldeias. D. Lopo de
Albuquerque não foi caso único, pois há registo que outros portugueses, nesta altura, exerceram o cargo de
corregedores e juízes residentes em Castela
(3 ) O
titulo de Conde de Penamacor não foi renovado.
D. João III, ainda principe chega a prometer este título, mas acaba por não
o conceder depois de ascender ao trono (1523).
(4 ) Resende, Garcia de - Crónica de D.
João II e Miscelânea, cap. LXXXIII, conforme edição de 1789.
(5 ) Fernández, Luis Suaréz - Los Reys
Católicos. La conquista del Trono.
( 6 ) João Afonso de Albuquerque,
senhor de Angeja (Albergaria-a-Velha) era filho de Pedro Vaz da Cunha, senhor de Angeja e de
Helena de Ataíde; Catarina
Pereira era filha de João Alvares Pereira, senhor de Vila da Feira e de
Leonor Gomes de Melo.
Lopo
de Albuquerque era irmão de:
-
Pedro de Albuquerque, senhor de Angeja e fidalgo da casa de D. Afonso V,
que se casou, em 1468, com Catarina da Costa, irmã do arcebispo de Lisboa e do
conselho de D. Afonso V. Foi assassinado em 1484 às ordens de D. João II. Não
Houve descendência !
-
Henrique de Albuquerque, senhor de Angeja que se casou com Catarina
Henrique. Não houve descendência !.
(7)
Ainda hoje alguns historiadores, como Consuelo Varela, continuam a assassinar
Lopo de Albuquerque, antes do tempo. Esta escritora espanhola afirma que o mesmo
foi assassinado em 1494 por D. João II ...
(
8 ) Os
termos deste Tratado, como vimos, eram questionado pelos reis católicos, que
fizeram um pacto secreto com os conspiradores de 1483 e 1484 para o revogar. D.
Lopo de Albuquerque aparece envolvido, em circunstâncias pouco claras, nesta
conspiração.
(9)
Navarrete, Ginés de la Jara Torres - Historia de Úbeda en sus documentos. Tomo
VII .
(10)
Louis Andre Vigneras
tem publicado diversos estudos sobre Diego Mendéz: "Diego Méndez
secretaire de Christopher Colombe et le Comte de Penamacor", Lisbonne
: Institut Français au Portugal, 1969, Sep.
Bulletin des Etudes Portugaises, 30; "Diego
Mendez, Secretary of Christopher Columbus and Alguacil Mayor of Santo Domingo: A
Biographical Sketch, The Hispanic American Historical Review, Vol.
58, No. 4 (Nov., 1978), pp. 676-696. etc.
(11)
Moreno, Humberto Baquero - A Batalha de Alfarrobeira. Antecedentes e Significado
Histórico. Lourenço Marques. 1973. Uma obra fundamental.
(12
) Magalhães, Hugo de - Notas Antropológicas sobre dois portugueses do século
XV ( João de Albuquerque e sua mulher D. Helena Pereira), Instituto de
Antropologia da Universidade de Coimbra, Porto. Imprensa Portuguesa. 1947. pág.
15.
(13)
Sousa, J. M. cordeiro de - Referências às Canárias no Túmulo de João
de Albuquerque. sep. Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa, nº.11, 12 da
3ª. série. Lisboa. 1946
(14)
Magalhães, Hugo de - Notas Antropológicas sobre dois portugueses do século XV
(João de Albuquerque e sua mulher D. Helena Pereira), Inst. de Antropologia da
Universidade do Porto, Porto. Imp. Portuguesa. 1947. Este
estudo permitiu confirmar dados históricos. João de Albuquerque tinha 1,70 m de
altura e Helena Pereira 1, 559 m.
(16) Ramos, Luis A. de
Oliveira - Repercussões do Tratado de Tordesilhas na Época Contemporânea, In,
Revista da Faculdade de Letras do Porto.
(17) Garcia de Albuquerque e
Pero Moniz, faziam parte da comitiva que se dirigiu a Castela em Março de 1494,
para se entrevistarem com os reis católicos em Medina del Campo, Arévalo e
Tordesilhas, onde o Tratado foi assinando a 7 de Junho. Os dois mancebos andavam
saudosos em Castela dos seus amores em Portugal. Suspiravam e cantavam romances.
João da Silveira, satirizou o facto, que chegou até nós
através do "Cancioneiro Geral" de Garcia de Resende (Livro III, p.358): " De
João da Silveira, a Pero Moniz e a D. Garcia d`Alboquerque (quando foram com D.
João de Sousa a Castela, que foy embaixador ) do que lhe havia de acontecer" . O
caso foi estudado pela erudita Carolina Michaelis de Vasconcelos - "Estudos
sobre o Romanceiro Peninsular. Romances Velhos de Portugal", in Revista Cultura
Española, Madrid, 1907-1909. pp.223-224
(18) Anselmo Brancamp Freire,
Sepulturas do Espinheiro..
(19)
Este Mestre da Santiago teve um papel decisivo na crise de 1383/85, tendo
servido como embaixador em Inglaterra nas negociações do apoio militar contra
os castelhanos.
(20
)1454-12-18 — El-Rei D.
Afonso V mandou passar carta de doação da jurisdição crime de Esgueira a João
de Albuquerque, do seu Conselho (Torre do Tombo, Estremadura, livro 10, fl.
292v).
(21) D. Duarte, em 1434,
privilegiou dois marnotos para que servissem numa marinha de João de
Albuquerque, isentando-os de prestarem serviços no concelho de Aveiro (Torre do
Tombo, Chancelaria de D. Afonso V, Livro 36, fl.127 v).
(22) (Torre do Tombo,
Estremadura, Liv. 8, fl. 135 V.)
(23) Anselmo Braancamp
Freire, Brasões ...., vol.II p.172
(24) O título foi criado em
Maio de 1476, em Placência (Castela), por ocasião dos desponsórios de D. Afonso
V coma princesa Joana. Desta forma o rei pretendeu agraciar os seus serviços.
(25) Misticos Liv. 3º., fl.25
(contrato de casamento)
(26) M. da Silva, Mª. João V.
Branco - "João de Albuquerque, cavaleiro e senhor do século XV, in, Arqueologia
do Estado, 1ªs. Jornadas sobre Formas de Poderes na Europa do Sul, séculos XIII-XVIIII,
Lisboa. História e Crítica. 1988, pp. 291-310. Da mesma autora, ver também -
Esgueira. A vida de uma aldeia do século XV. Redondo. 1994, p. 151 e segs.
(27)
Do casamento
de Lopo de Albuquerque, o bode, com
Joana
de Bulhões nasceram oito filhos: Jerónimo de
Albuquerque, Manuel de
Albuquerque, capitão da Mina (casado com Camila de Noronha), Afonso de
Albuquerque, Francisco de Albuquerque, António de
Albuquerque ,Beatriz de Albuquerque , Isabel de
Albuquerque e Maria de Albuquerque .
(28) Filho de Gonçalo Vaz de Melo e de Dona
Isabel de Brito, descendia portanto de Vasco Martins de Melo - Senhor de
Castanheira, Cuba .
(29)
O conde de Penamacor tinha a propriedade das "ilhas", junto à Ericeira, mas
vendeu-a a um seu credor. D. João II mandou adquiri-la, para dar as rendas à
Ermida de Nª. Srª. do Espichel. Cfr. Luis de Cacegas, Luis de Sousa, Lucas de
Santa Catarina - História de S. Domingos Reino e conquistas de Portugal. Vol. 2,
cap. XVIII
(30)
Luis de Bivar-Weinholtz de Azevedo .- Albuquerques-Gomide. Senhores de Vila
Verde dos Francos. Nota Historica e Genealógica. Lisboa. 2007. p. 34 e segs.
(31) Tirso de Molina abordou temas portugueses em
pelo menos onze das suas comédias, sendo que sete se passam em Portugal: El
vergonzoso en palacio (1611); Averígüelo Vargas (1621); Las quinas de Portugal
(1638); El amor médico (1620); Antona García (1622); Siempre ayuda la verdad;
Doña Beatriz de Silva; La Gallega Mari- Hernández.
40 )
Este Convento franciscano foi fundado em 1524 quando era provincial da Ordem
Frei Bartolomeu de Albuquerque, por iniciativa do juiz João Nunes Cardoso
e da sua mulher Isabel da Costa (parente do cardeal alpedrinha
?).
(41) Os traços
físicos de D. Nuno Alvares Pereira, segundo os cronistas da ordem eram os
seguintes: cabelo ruivo, barba pouco densa mas caída e ruiva,, rosto comprido de
cor branca, olhos pequenos e vivos, sobrancelhas arqueadas, rugas na testa.
Descrição feita pelos carmelitas: Frei Simão Coelho - Primeira parte do
compendio de Chronicas da Ordem da muito bem aventurada sempre
virgem.... Impresso por António Gonçalves. 1472. Lisboa. pp.86-92,
cap.20-21. Frei Jerónimo da Encarnação ...
(42) Marques da Silva, Maria João Violante Branco
- Aveiro Medieval. 2ª. Edição. CM Aveiro. 1997
(43) Uma das
nobres portuguesas que aparece no rolo dos financiados é a condessa -
Teresa Tavora. Era viuva de Pedro Alvares de Sotomaior (Pedro Madruga), um nobre
galego protegido por D. Afonso V, o qual tem sido identificado nas teses galegas
como Colombo.
Entre
os filhos deste casal destacam-se os seguintes: -
Álvaro de Caminha Sotomaior -, aparece em 1488 envolvido numa
alegada tentativa de rapto de Lopo de Albuquerque em Londres. ;-
João Sottomayor - casou-se com Isabel da Costa,
irmã do cardeal Jorge da Costa e de Catarina
da Costa, esposa de Pedro de Albuquerque. Não consta que Isabel tivesse conspirado contra D. João
II. ;-
Cristovão Sottomayor, amigo dos filhos de Colombo.
(44) Os
sousas (e os silveiras) parecem estar ligados ao mistério que envolve os financiamentos dos
reis espanhóis.
Duarte Galvão
recebeu
dos reis espanhóis em 1492 a quantia de 100.000 maravedis. A provável
explicação para este enigmático financiamento, parece estar na sua primeira
esposa -
Catarina de Sousa e Albuquerque,
irmã
de Afonso de Albuquerque, filha de Isabel de Albuquerque e de Fernão de
Sousa, alcaide-mor de Leiria.
Beatriz de Sosa "La de Hernando de Silveyra", outro dos nomes de nobres portugueses financiados pelos reis espanhóis.
Vários outros sousas (souzas) parecem ligados a estes acontecimentos, sem que
ainda os tenhamos relacionado entre si:
Os sousas em que 1494 assinaram o
Tratado de Tordesilhas, um dos quais se fez sepultar ao lado de Alvaro de
Bragança em Évora;
O capitão Sousa que em 1496 andava ao serviço de Juanoto
Berardi a preparar expedições clandestinas às Indias espanholas.
O
João Sousa, casada com Branca de Ataíde, comendador da Ordem de Santiago que
em 1496, D. Manuel I recompensa pelos múltiplos serviços no Norte de África e
Espanha, mas que no seu túmulo em Ferreira do Alentejo alude a uma acusação
de traição.
O Sousa que em 1506 conduziu a embaixada ao papa, na sequência da
qual foi outorgado o Tratado de Tordesilhas, etc.
Aio de D. Jaime de Bragança
Sousa de Cordoba |