Carlos Fontes

Cristovão Colombo, Português ?

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Colombo: Italiano ?

 
 

1. Embustes Italianos

As explorações marítimas portuguesas, a partir do momento que foi definido o plano de chegar à India, em meados do século XV, passaram a representar uma séria ameaça às republicas italianas como Veneza e Génova, cuja o poder e residia no comércio com o Oriente.

É no contexto de uma verdadeira guerra económica que várias republicas italianas encaram as descobertas portuguesas. Aliaram-se aos espanhóis, incentivando-os a romperam os acordos com os portugueses. Quando se apercebem que os espanhóis estão mergulhados num logro a que Colombo os conduziu, irão procurar apropriarem-se dos seus descobrimentos e respetivos rendimentos. Os venezianos, no Oriente, armaram os muçulmanos e incentivaram-nos a combaterem os portugueses.

Propagandistas

Desde o século XV que os italianos eram conhecidos como grandes mestres na fabricação de histórias e na propaganda. É neste sentido que os vários reinos da Península Ibérica, como Portugal, Castela e Aragão os contratam para elaborarem textos de propaganda em latim, a língua internacional da época, os quais  eram depois difundidos pela cristandade. 

Um dos trabalhos em que eram mais utilizados era difusão do poder dos respectivos reinos, fazendo a apologia das suas conquistas pretensamente determinada por motivos religiosos.

As descobertas marítimas foram uma excelente campo de trabalho para estes propagandistas italianos, como Pietro Martire di Anghiera em Espanha ou Giovanni Cataldo Parisio ( 1455-1517) em Portugal. 

Hábeis na propaganda internacional, promoveram igualmente falsos descobridores. Os espiões italianos recolhiam nestes reinos ibéricos informações sobre as suas descobertas, as quais eram depois divulgadas internacionalmente como obras de alegados dos seus navegadores. 

Colombo, como veremos, aparece envolvido numa manobra de encobrimento da sua origem, para a qual aliás contribuiu, e que veio a fazer dele um "genovês". Para descobrir-se hoje a sua verdadeira identidade é preciso desmontar grande parte do que foi sobre ele escrito. 

a ) Mudanças de Nomes

O primeiro embuste destes falsários italianos consistiu na alteração dos nomes, de modo a poder atribuir uma nova identidade a Colombo e aos seus irmãos.

1. Colom passa a Colombo

Os textos escritos pelo próprio Colombo e dos quais se conservam os originais, NUNCA  afirmou que era italiano, nem sequer que tinha este nome. 

Não existe nenhum documento em que Colombo tenha assinado como Cristobal Colón ou Colombo. Desde 1492 assina "Xpo Ferens", "El Amirante", "Virrey", e a partir de 1498 passa a usar quase exclusivamente um anagra em forma  piramidal.

A mensagem é clara: "Cristobal Colón" era um pseudónimo, um "nome de guerra", o nome pelo qual todos o conheciam. Não era o seu verdadeiro nome. Nesse sentido nunca se quis comprometer com este nome, assinando com ele. 

Quando sentiu que o apelido "Colón"/"Colombo" estava a ser identificado com a Itália, resolveu de forma radical suprimi-lo. 

Na correspondência que mantém com o Banco de S. Jorge de Génova, entre 1502 e 1504, ele e o seu filho Diego, nunca usa o sobrenome Cólon, Colombo ou outras das suas variações. Nem nas cartas privadas que escrevem ao embaixador genovês usam o seu suposto nome de família.  Assinam apenas com "Don Diego" e "Domino Christoforo" (10). 

O seu último nome, como foi tratado no século XV em Portugal e Espanha (Cristoval Colon), sofreu diversas modificações. 

Em Março de 1488, D. João II, rei de Portugal  numa carta que lhe envia a partir de Avis (sede da Ordem de Avis), trata-o da seguinte forma:  “A Christovam Collon noso espicial amigo em Sevilha."; "Christoval Colon nos Dom Joham per graça de Deos Rey de Portugal e dos Algarves...”. (15). Como veremos, desde  1469 que temos referências a diversos corsários em Portugal com o nome de Colom ou Coulão.

Em Espanha desde que aí se fixou, vindo de Portugal, nunca foi tratado por Colombo, mas sim por "portugues" (20/01/1486; 18/10/1487), Cristóbal Colomo (5/5/1487; 27/8/1487; 16/6/1487), 16/6/1488), Cristobal Colom (16/6/1488) e Cristobal Colon.

O seu filho ilegitimo Hernando Colón escreveu que o pai era da linhagens dos colons, mas trata-se de uma versão romanceada publicada em Itália para mostrar a antiguidade da familia que remontaria aos tempos do Império Romano !.  

Hernando Colón, no século XVI, percorreu as localidades que em Itália eram apontadas para a sua terra natal, e em nenhuma delas descobriu qualquer prova ou pessoa que soubesse algo sobre a familia do seu pai (2). Esteve também em Portugal, mas secretamente, e nunca falou do assunto. O imperador Carlos V, quando soube do facto, proibiu-o de continuar as investigações.  

Acontece que, em 1494, em Basel, um bispo italiano de Monte Peloso, troca o nome de Cristoval Colon por Christoforus Colombo na última parte do texto. O assunto não teria tido qualquer importância, não fosse o facto de em princípio do século XVI, os  italianos terem começado a difundirem a tese da sua origem genovesa (italiana) e a trocarem sistematicamente o seu nome por aquele que este bispo lhe dera em 1494.

O que os sucessivos falsificadores italianos fizeram foi transformar Cristoval Colon em Cristofaro Colombo, e depois em procurar em Itália alguém com este nome. A partir daqui foram compondo toda uma história para bater certo com a sua suposta naturalidade. As contradições e falsidades são mais do que muitas.

Os portugueses embora fossem os únicos que podiam desfazer todas as mentiras até meados dos século XVII, mas não estavam interessados. O embuste corria a seu favor.  

A maioria dos historiadores está de acordo que terá existido em Génova, no século XV, um italiano com o nome de Cristoforo Colombo. O problema é que não existe qualquer relação entre o Colombo genovês e o navegador saiu de Portugal em 1484 ou 1485.

A história da sua identidade italiana é um dos maiores embustes que a humanidade já conheceu.

2. Diego igual a Giovanni e Jacobus

Em Itália o Cristovão Colombo tinha um irmão chamado Jacob  (Iacobum), os falsários italianos procuraram afirmar que o mesmo se mudou para Espanha e passou a chamar-se Diego.

Diego Colón seria uma tradução em espanhol de Giovanni, Giacomo, Jacobus ou Jacobe Colombo ou Columbus. Para eles Diego e Giovanni são o mesmo nome, isto apesar de terem origens muitos diferentes e de não existir um único caso de uma pessoa que, ao mudar-se de Itália para Espanha, tenha alterado o seu nome desta forma.

Ora, o irmão de Cristobal Colon, em Espanha, sempre foi tratado por Diego e nunca por Jacobe.  Mais

1.  Pietro Martire di Anghiera, o propagandista

Anghiera foi o mais brilhante propagandista  "italiano" do seu tempo. Ao serviço dos castelhanos/espanhóis atacou  a legitimidade da sua própria existência do reino de Portugal, desvalorizando igualmente a importância dos seus descobrimentos. Mais

É apontado como uma das principais fontes de informação sobre Cristovão Colombo. Sobre a sua identidade, alimenta a confusão.

Colunus

As suas cartas publicadas por um alemão, em 1511, Colombo chama-lhe Colunus, apresenta-o como ligure

Entre estas cartas forma publicadas, em 1511, duas têm a data de 1493, pouco depois de Colombo chegar. Uma dirige-se a um arcebispo de Braga (Portugal), onde dá conta que chegara "um tal Colunus". A outra destinava-se ao Conde Giovanni Bardomeo afirmando que chegara  "Christophom Colunus", "ligure".

Em 22 cartas onde é referido Colombo, nunca o trata por "Christophorus Columbus", mas sim por "Christophom Colunus". 

Os originais destas cartas desapareceram. Nas edições posteriores nunca pararam as adulterações e os acrescentos.


Nas Oceani  Decadas, publicadas em Sevilha (1511), e depois de haver contacto com Colombo, mas cinco anos depois do mesmo haver falecido, continua a tratá-lo por "Colonus”.

Ligure

Mascarenhas Barreto notou que que D `Anghiere nunca afirmou que Colombo fosse italiano, nem sequer genovês, como alguns tradutores apressadamente afirmam (6). Identifica-o apenas como sendo ligure

Na antiguidade clássica,como refere este investigador, os ligures habitavam também na antiga Lusitânia, mas precisamente na região do Alentejo e em parte da Andaluzia.

Vários geógrafos da antiguidade clássica que referem os ligures como pertencendo a esta região, eram conhecidos e citados por Colombo e pelo seu filho Hernando Colon. Nesse sentido, enquanto foi vivo Colombo nada teria a opor-se a esta afirmação.

Hesíodo refere os ligures. Estrabão (63 a.C. ou 64 a.C. - cerca 24 d.C) afirma que os ligures são o "povo principal do ocidente" (Colombo cita-o, por exemplo, a carta sobre a 3ª. Viagem). 

Diodoro da Sicilia (~ 80 - 20 a. C.) descreve os ligures da Hispânia;  Rufo Festo Avieno (Séc. IV), na sua Ode Marítima liga os ligures à região dos Tartessos (região do Guadalquivir). Os ligures também foram identificados como habitando o norte de Portugal, sul da França e as costa da Itália. As referências são deste muito muito imprecisas.

A estratégia de D` Anghiera era subtil. Sabendo que Colombo era originário da Lusitânia (Portugal), começa por separar estas duas entidades históricas, e depois desencanta um nome antigo  - Liguria - para identificar a região onde Colombo nasceu. Não sendo a Lusitania o mesmo  que Portugal, logo Colombo também não podia ser português.

Acontece que este nome de Liguria se prestava, como referimos, a enorme confusão pois tanto podia ser o nome antigo de uma região de Portugal, como o de uma de Itália onde ficava Génova. A palavra descontextualizada podia ser usada para identificar as duas localizações possíveis. A falácia era perfeita.  

Limites da Liguria/ Lusitania. Adquire agora todo o significado o enorme apontamento que Hernando Colón dedica à questão dos limites da antiga Lusitânia, afirmando que a sua capital era Lisboa. Este apontamento é escrito numa altura que a sua família era acusada de ter enganado a Espanha.

D` Anghiera revelou-se um mestre na arte da propaganda, mentindo descaradamente nas Décadas. Exemplos: Os indios são identificados como canibais, o que justificava o seu genocídio. Pinzon é dado como o descobridor do Brasil, etc.

Devido aos seus reconhecidos méritos propagandísticos foi eleito, em 1518, para o Conselho das Indias Espanholas.

Depois de Colombo falecer, em 1506, D` Anghiera iniciou a publicação de antigas cartas onde aproveitou para fazer alterações ao seu conteúdo, nomeadamente ligando Colombo a Génova. Muitos dos defensores da tese genovesa, apoiam-se nestas cartas corrigidas, cujos originais desapareceram. 

2.  Angelo Trevisan (Trevigiano), o plagiador

Trevisan (Angelo Trevisano), espião veneziano, foi para Espanha, em 1501, como secretário de Dominico Pisano do embaixador veneziano na corte dos "reis católicos".

Numa carta, supostamente datada de 21 de Agosto deste ano, escreveu ao almirante Dominique Malpiero, que durante o verão se havia tornado amigo intimo de Colombo, gabando-se de ter conseguido o  acesso aos seus segredos marítimos.

Conheceu também Pietro Martire di Anghiera, conseguindo copiar e traduzir para veneziano grande parte da primeira Década. Voltou a ter acesso aos textos, quando di Anghiera se deslocou a Veneza, levando-os consigo, com a intenção de aí os publicar.

Trevisan em 1504 publica um resumo da primeira Década, com muitas alterações, sob o título de -Libretto di Tutta la navigazione dei Rei di Spagna della Isola e Terreni Nuovamente Trovatti (4).

O nome de di Anghiera é omitido na publicação. Os historiadores ignorando este plágio, passam a considerar Trevisan o autor de uma obra que se limitou a traduzir e a introduzir acrescentos. 

Trevisan afirmar que "Cristoforo" (Cristovão) era "zenoveze. A naturalidade de ligure, atribuída por di Anghiera passa deste modo a genovesa.

Afirma igualmente que Colombo, muito antes de 1498, fez duas viagens à América do Sul. Alguns historiadores, muito imaginativos, fixaram o ano das expedições em 1494/5. O  objectivo desta falsificação insere-se nas manobras espanholas da época, envolvendo a família dos Pinzons, e que pretendiam reclamar para a Espanha a primazia da descoberta do Brasil.

Duas novas mentiras começam a ganhar forma. A obra desapareceu (5), mas sabemos da mesma através de Montalbodo, e por uma suposta cópia manuscrita do século XVI, que existe na Biblioteca do Congresso nos EUA,  Mais

3. Francesco (Francazano) de Montalboddo, o ladrão

Este professor de humanidades (língua e literatura grega e latina) em Vicenza, estava ligado a uma rede italiana que se dedicava a espiar e roubar importantes documentos sobre as navegações realizadas por Portugal e Espanha.

O seu objetivo era publicar uma colecção de documentos sobre os descobrimentos portugueses e espanhóis, onde os italianos acabassem por aparecer como os verdadeiros heróis... 

Montalboddo, com o produto destes roubos e falsificações, em 1507, publica uma miscelânea de textos, intitulada: - Paesi Nuovamente Retovati & Nuovo Mondo da Alberico Vesputio Fiorentino Intitulato (14). Até 1528 conhecem-se 17 edições, que revelam importantes modificações.

Na edição latina de Archangelo Madrignano, em 1508, o título é alterado de forma a destacar Américo Vespúcio. Foram feitas interpolações nos textos de modo a atribuir aos venezianos descobertas portuguesas, nomeadamente a da Terra Verde, por Gaspar Corte-Real em Setembro ou Outubro de 1500 ( 13).

Entre os textos que se a apropria está a primeira Década de di Anghiera, que havia sido plagiada por Trevisan.  Montalbodo, não se limita a omitir o nome de  di Anghiera, assume-se como o seu autor.

Baseado em Trevisan afirma que Colombo era genovês, e o mais importante: - o verdadeiro descobridor do Novo Mundo foi Américo Vespúcio.

Para dar corpo a esta gigantesca fraude, na mesma altura, na Alemanha, é publicado um mapa-mundo onde o novo continente aparece com o nome de América em homenagem ao seu descobridor... Américo Vespúcio !.(Martin Waldeemulller - Cosmogragraphiae Introductio, Estrasburgo, 1507). A floresta de equívocos estava criada.

Montalbodo está envolvido, entre outros, no roubo das cartas dos capitães da 1ª. viagem de Pedro Alvares Cabral à India (1500-1501), durante a qual foi "achado" o Brasil. 

Montalbodo publicou uma destas cartas de marear roubada, mas como um típico ladrão italiano, omite também o nome do português que a fez (Carta do Piloto Anónimo, 1507), fazendo também desaparecer os respectivos originais. Este facto diz tudo sobre os seus métodos.

Face a tantas mentiras, o aldrabão Pietro Martire di Anghiera,  desistiu durante largos de publicar as suas Décadas só o fez, como dissemos, numa edição latina em 1516.  Di Anghiera não parou de acusar os autores italianos das edições de 1504 e 1507, de terem alterado e mutilado a sua obra. Em relação aos espanhóis que a editaram em 1511, calou-se.

4. Antonio Gallo

Cronista oficial de Génova, conselheiro do Banco de San Jorge, em 1508-16 (?), escreveu uma fantasiosa biografia de Colombo, afirmando que o mesmo procedia de aldeia de "Quinto" junto à cidade de Génova, e pertencia a uma humilde família de tecelões da mesma. O seu irmão Bartolomeu teria sido o primeiro a vir para Lisboa, onde se dedicou ao ofício de produção de mapas. Colombo não tardou a vir também.

Esta história terá servido de base a Agostino Giustiani para fabricar a sua biografia do navegador, prontamente desmentida por Fernando Cólon.

Quando se procura os originais descobre-se mais uma sucessão de mentiras. Dos seus 11 manuscritos conhecidos, apenas 4 referem a história de Colombo. A verdade é que nenhum dos 4 é do século XVI, mas dos séculos XVII e XVIII. O mais antigo manuscrito existente, é datável do século XVI , e com dissemos, não refere a história de Colombo. Encontra-se guardado na Biblioteca de Kopenagen (ms.antigo Fundo Real,nº.2205), ( 7 ).  

5. Agostino Giustiniani

Giustiniani, na sequência do que havia dito (? ) Trevisan, e repetido Montalbodo, em 1516, trata-o por "Christophorus Columbus". Não se limita a repetir esta afirmação, contrói uma biografia: Colombo era genovês, "nascido de pais humildes", etc. etc.

Estas afimações foram produzidas 10 anos depois de Colombo ter morrido, e numa altura em que a Corte o acusava a sua família deste ser um traidor português e de ter enganado a Espanha conduzindo-a para uma falsa India. 

          .  Hernando Colón, na Historia del Almirante demonstra que Giustiniani era um aldrabão, apresentando mais de 12 provas das suas mentiras.

          . Bartolomé de Las Casas, na Historia das Indias  insurge-se também contra este italiano, afirmando a impossibilidade de Colombo ser artesão.

A verdade é que estes falsários acabaram por dar suporte histórico à suposta origem italiana de Colombo. Os que lhe sucederam procuraram dar corpo a esta teoria, inventando uma historieta que envolve tecelões, corsários e naufrágios. 

A confusão interessava ao italianos, pois dessa forma pretendiam apoderar-se dos rendimentos do navegador, mas também obter prestígio para a Itália. Os portugueses estavam também interessados nela, pois dessa maneira protegiam a sua verdadeira identidade e a dos seus cúmplices.  

O próprio Colombo alimenta os equívocos, mas nunca afirma que é italiano, nem sequer os seus filhos.

Em Espanha os estrangeiros eram habitualmente denominados por "genoveses" e Colombo era um estrangeiro neste país. 

Variações de um Nome 

Ao longo dos 21 anos que Colombo viveu em Castela/Espanha o seu nome foi variando, assim como a sua nacionalidade. Começou por ser "estrangeiro" que após melhor conhecimento passou a ser "português". Os falsários italianos começaram por dizer que era  "ligure", terminando por ser identificado como "genovês".

O apelido inicial era "Colon", isto é, membro de uma organização ou irmandade, para terminar em "Colombo", um "pombo" em italiano. Mais 

b )Ignorado pelos Italianos 

Todos os italianos que conviveram directamente com Colombo, mesmo os mais aldrabões, como Américo Vespucio, jamais escreveram ou afirmaram que o mesmo era italiano. A sua suposta origem italiana, nomeadamente genovesa, é uma invenção feita sobretudo pelos que não o conheceram. 

- Frei Gaspar Gorricio de Novara 

Frade franciscano da Cartuxa de Santa Maria de las Cuevas, em Sevilha. A partir de 1498 passou a ser amigo intimo de Colombo, um verdadeiro confidente. Prova dessa confiança está no facto de ter ficado com os seus documentos secretos. Apesar disto NUNCA afirmou que Colombo fosse italiano (genovês, veneziano, milanês, etc) e por incrivel que possa parecer nunca se correspondeu com ele em italiano, mas apenas em espanhol. 

- Embaixadores Genoveses

Os embaixadores da cidade de Génova Francesco Marchesi e Giovanni Grimaldi estavam em Barcelona, quando em 1493, os reis de Espanha receberam triunfalmente Colombo após a sua chegada da sua 1ª. viagem às Indias. 

Apesar de serem supostamente da mesma cidade, revelaram desconhecer que estavam perante um seu compatriota. 

Nicoló Oderigo, embaixador extraordinário de Génova. Em 1501 passou a relacionar-se com Colombo, com o qual estabeleceu uma curta amizade (1501-1502). 

Colombo procurava na altura, desesperadamente, uma forma de garantir a transmissão dos seus privilégios para o seu filho português Diego Colón. Neste sentido, confiou a este genovês duas cópias em pergaminho do seu "Libro de los Privilegios". Este ter-lhe-á garantido, a troco de uma fortuna, que o conseguiria fazer envolvendo o Banco de S. Jorge.

Na correspondência que mantiveram, NUNCA  trocaram qualquer palavra em italiano. 

Paolo Emilio Taviani, refere um discurso deste embaixador aos reis católicos, de Abril de 1501, onde afirma que Colombo era "nosso conterrâneo" (11). Este político italiano esconde que esta afirmação é referida muitos anos depois dos factos terem acontecido. 

Colombo estava a ser alvo de uma enorme perseguição acusado de trair os espanhóis ao serviço de um principe estrangeiro. Fora preso em 1500. Procurava por todos os meios, como dissemos, encontrar uma protecção internacional para os seus privilégios, tendo para tanto recorrido ao Banco de S. Jorge de Génova. 

- Américo Vespúcio 

Este italiano, esteve durante anos ao serviço de Colombo antes de vir para Lisboa, onde terá vivido entre 1500 e 1505. Nunca afirmou que Colombo fosse italiano.  

- Lucio Marineo Siculo 

O cronista italiano (siciliano) ao serviço de Fernando de Aragão , cuja maior parte da sua vida foi passada em Espanha, trata-o por Pedro Colom e não por Cristovão Colombo. Nunca afirmou que o mesmo fosse italiano. 

- Nicolo Scillacio (1493-1522)

Professor da Universidade de Pisa, escreveu uma relação da 2ª. Viagem de Colombo (1493-1496), em De insulis meridiani atque indici maris sub auspiciis invictissimorum regnum hispaniarum nuper inventis,segundo o testemunho do aragonês Guillermo Coma. Nunca o identificou como italiano, nem sequer como estudante da Universidade de Pisa, como referem os falsários italianos.

O historiador italiano Maurizio Tagliattini, após longos anos de estudo sobre a origem de Colombo, em 1998, escreveu um 10 capítulo à sua obra "crítica" (10), onde confessa a sua perplexidade: Colombo não apenas ocultou a sua origem, mas também pretendeu cortar todos as possíveis ligações à Itália e à sua suposta família genovesa. 

No século XVI, os genoveses vasculharam os seus arquivos à procura da alegada família de Colombo que Gallo, Bartolomeo Senarega e Giustiniani falara. Estava então em jogo a herança de uma enorme fortuna. A verdade é que nada encontraram. Em 1586, o embaixador de Génova junto da Corte Espanhola - Giambattista Doria -, recebe instruções para apoiar a tese de que Colombo era de Cogoleto, porque em Génova não se encontrara nenhuma prova que o ligasse à cidade. Os historiadores genoveses acabam por o ignorar até ao século XVIII.

O trabalho de Hubert Foglietta, 1559 (Roma) "A República de Génova", edição revista de 1575 (Milan), entre os cidadãos famosos de Génova não o menciona.

O senador genovês Federico Federici (que morreu em 1647) também não fornece nenhuma informação sobre Colombo. 

Os anais do século XVIII dos genoveses, como Gianbattista Richeri não oferecem mais luz sobre o assunto. Entre 1299 e 1502 registam 18 Columbus, mas nenhum Domenico. Apenas um Christopher está no seu Foliatum Notariorum Genuensium (1724 aprox .) (o texto original pertence à "Biblioteca Berio de Gênova City"). 

O manuscrito de William da Cassina inclui anais que datam de 1191, mas também não fornece informações úteis para este estudo.

Em resumo, até 1708, quando surge o fantasioso trabalho do genovês Filippo Casoni (1662-1723), os genoveses ignoram a existência de Colombo. Os seus arquivos que haviam sido vasculhados nunca encontraram nenhuma pista que o ligassem à cidade, nem à República.  

C) Fabricação de um Retrato

As pinturas e gravuras que hoje são divulgadas de Colombo não correspondem à sua descrição física feita pelos seus contemporâneos. 

Em Espanha depois de 1484 Colombo é descrito da seguinte forma:

- Cabelos louros ou ruivos. Depois das primeiras viagens foi ficado com os cabelos brancos.

- Olhos Azuis

- Usava barba

- Cara avermelhada, queimada pelo sol, com sardas.

- Estatura acima da média.

- No final da vida devido à gota foi ficando com problemas nas articulações, o que era agravado com um doença nos olhos, mal conseguindo escrever. 

Muitos dos que privaram com ele referem o seu aspecto envelhecido, parecendo aparentar mais idade do que aquela que tinha.

Traços que são característicos de membros de várias família de Portugal, mas que se acentuou depois de D. João I ter casado com Dona Filipa de Lencastre. 

Muitos membros da casa real da dinastia de Avis possuíam alguns traços fisionómicos particulares, como cabelos ruivos e olhos verdes, derivados da ascendência dos Lencastres. Este facto pode ser observado no Museu de Aveiro, no que aí subsiste das relíquias de Princesa Joana, irmã de D. João II. Algumas das pessoas que descreveram Colombo, afirmam que o mesmo possuía também cabelos ruivos.

No entanto D. Pedro I também era ruivo, assim como D. Nuno Alvares Pereira , um facto da maior relevância se tivermos em conta que é um descendente do condestável que irá ser o herdeiro dos títulos de Colombo. É enorme a coincidência dos traços fisionómicos entre ambos, mas não só (consultar ).

Retratos Idealizados

Na esmagadora maioria dos "retratos" mais divulgados de Colombo são de origem italiana. Neles aparece vestido à moda de Itália de forma a dar cobertura à sua suposta origem genovesa. Tratam-se de puras invenções sem qualquer correspondência com as descrições da época. Nesse sentido, não é de estranhar que os retratos feitos em Espanha sejam muito distintos dos produzidos em Itália (12). A verdade é que Colombo nunca se deixou retratar.

Alegado retrato de Cristoval Colón (Colombo), realizada pelo "espanhol" Alejo Fernández, no quadro "Virgem de los Navegantes", na sala dos Almirantes - Real Alcazar em Sevilha. A pintura terá sido realizada entre 1531-1536. O "retrato" segue um modelo anterior, datável de 1508. Mais

O "

Cristoforo Colombo, 1519, New York, Metropolitan.

Alegado retrato de Colombo do italiano Sebastiano Luciani ou Sebastiano del Piombo (Venezia, 1485 - Roma,1547 ). A imagem não tem qualquer relação com Colombo histórico, apesar de ser das mais divulgadas.

Alegado retrato de Colombo, atribuído ao pintor espanhol Pedro Berruguete (c.1450-1504). Em 1991, os genoveses anunciaram com grande aparato que haviam descoberto um retrato autêntico de Colombo, feito ainda por cima pelo pintor dos reis espanhóis - Pedro Berreguete. A obra estava em Génova, tendo sido adquirida nos EUA.

António Romeu de Armas demonstrou pouco depois que jamais esta personagem poderia ser o Almirante das Indias. Matías Diaz Padrón, conservador do Museu do Prado, mostrou por sua vez que a obra também não poderia ser atribuída a  Berruguete (9). Não corresponde ao seu estilo e técnica. Estamos perante mais uma típica mistificação italiana.

Alegado retrato de Colombo realizado por Ridolfo Ghirlandaio (1483-1561). Cada pintor seu retrato, sem que nenhum deles corresponda às descrições feitas na época do vice-rei das Indias espanholas.

Retrato de Colombo segundo um pintor não identificado (anónimo). Cerca de 1540. Fundación Lázaro Galdiano, Madrid. Atrás de Colombo está São Cristovão, o seu alegado patrono. O pintor procurou descodificar o nome de Colombo, como aquele que leva cristo. 

Retrato de Colombo numa gravura de Johann Theodor DeBry, século XVI. O modelo é italiano, inspirado em del Piombo.

Colombo, irmãos e filhos

Quando se compara a imagem de Colombo feita por italianos, com as produzidas sobre os seus irmãos e filhos, facilmente nos constatamos que não existe qualquer traço fisionómico comum entre elas. O que confirma que o retrato de Colombo foi uma criação destinada a veicular uma dada imagem da personagem, tendo pouco ou nenhuma correspondência com a sua imagem real.

Retrato de Hernando Colon, filho ilegitimo de Cristovão Colombo.

Carlos Fontes.

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  Notas:

( 1) Carande, Ramón - Carlos V y sus banqueros. 2 vols. Barcelona, 1987

( 2 ) Tem-se afirmado que Hernando Colon, pouco antes de morrer terá escrito em testamento onde afirma que o seu pai era de Génova. Como iremos mostrar, o dito Testamento não foi concluído pelo mesmo, nem sequer é um documento original. As duas cópias que existem em Sevilha estão repletas de erros.

Na segunda parte do Testamento, fazem-se recomendações sobre o funcionamento da sua livraria e dos procedimentos a seguir para adquirir livros.

Em relação aos livros que fossem adquiridos em Itália, Hernando Colon, teria recomendado que o comprador dissesse que Colombo era de Génova, pois dessa forma conseguiria um melhor preço para os livros.

Recomenda ainda que o comprador fosse italiano, para melhor os poder convencer. No caso de ser impossível arranjar um italiano, se contratasse um alemão ou um francês, pois os livreiros seriam mais receptivos a fazerem descontos. O que nunca deveriam enviar para Itália a fazerem aquisições de livros era um espanhol, ninguém gostava deles... Mais

(4) Harrisse, Colomb, II, 116-123,  chamou a atenção para o facto deste manuscrito ser uma  versão da primeira Década de D`Anghiera.

(5)

(7) Antonio Gallo, Commentarii de rebus Genuensium et de navigatione Columbi (a cura di Emilio Pandiani), Rerum Italicarum scriptores : raccolta degli storici italiani dal Cinquecento al Millecinquecento (ordinata da L. A. Muratori), Città di Castello : S. Lapi, 1910-1911.

(8) Na versão de 1638 do mapa Mercator, os aldrabões italianos conseguem introduzir a legenda: "Coguretto Christophori Columbi patria", de forma a reforçarem esta tese.

(9) ABC, 29/11/1991

(10) Maurizio Tagliattini, The discovery of North America: a documented history : with a critical study on the origin of Christopher Columbus, on the origins of Columbian literature and other studies.1998

(11) Taviani, Paolo Emilio - Cristoforo Colombo. Genio do Mar, 1991, p.36

(12) - Carlos Javier Castro Brunetto, tem produzido alguma reflexão histórica sobre a produção da imagem de Cristovão Colombo:

 - La imagen de Cristóbal Colón en el arte in, Catharum - Revista de Ciencias y Humanidades del Instituto de Estudios Hispánicos de Canárias.

- Iconografía de Cristóbal Colón en Brasil, in, Actas del Congreso Internacional "V Centenario de la Muerte del Almirante", Valladolid 15 a 19 de mayo de 2006.

- Iconografía colombina en el mundo portugués, Revista de estudios Colombinos, nº.2, 2006 . Este professor da Universidade de La Laguna, sustenta que a ignorância e desinteresse revelado pelos historiadores portugueses sobre Colombo, se deve a um "cierto orgullo nacional, algo trasnochado, que se niega a aceptar el paso de Colón a Castilla y los descubrimientos colombinos para los reys católicos." Para todos os efeitos, continuam presos à ideia do século XV que identificou todos os nobres que fugiram para Castela, na sequência das conspirações de 1483-1484, como traidores, renegados, etc. , e que é forçoso esquecer. Mais

(13) E. de Canto - Os  Corte Reaes. Memoria Historica, in, Arquivos dos Açores IV, Ponta Delgada, 1882, p.423

(14) Paesi é composta por seis livros: o 1º. livro (cap.1-47) narra as viagens de Cadamosto com os portugueses a Cabo Verde e aos Senegal em 1455-1456; o 2º. Livro (cap.48-50), narra a continuação de Cadamosto, Pedro Sintra ao Senegal, inclui também a viagem de Vasco da Gama, por Girolamo Sernigi, e a de Pedro Alvares de Cabral à India, com a descoberta do Brasil(cap.63-70). O 3º. Livro (cap.71-83), continua com a viagem de Pedro Alvares Cabral; o 4º. Livro (cap. 84-113), copia a versão de Pietro Martire di Anghiera das viagens de Colombo, Alonso Nino e Pinzon. O 5º. Livro (cap.114-124), copia o Novo Mundo de Vespúcio. O 6º. Livro (cap.125-142), retoma as viagens dos portugueses: as cartas de Crético, de 27/6/1501; a carta anónima da nau que saiu de Lisboa a 27/3/1502 e regressou a 15/12/1503; a carta de Pascualigo ao irmão, datada de 19/10/1501; a carta de Francesco Saita (Affaitadi) a 16/09/1502; a relação do padre José Indiano sobre o Oriente (cap.129 e segs). (cfr. Andrade, A.A. Banda de - Mundos Novos do Mundo, Vol. II, pp.527-532

(15) No século XVI historiadores portugueses, pelas razões mais diversas, nomeadamente as historietas italianas, passam  referir-se-lhe como "Colombo". João de Barros, como veremos, continua a chamar-lhe "Cristovão Colom" e não Colombo.

 

Continuação:

2.  Tecelão de Lã 

3.  Falsificações Italianas

4.  Estranho Filho de Itália 

5. A Itália de Colombo

6. Lugares de um Tecelão em Itália

7. Cronologia Italiana

 

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