1.
Embustes Italianos
As explorações marítimas
portuguesas, a partir do momento que foi definido o plano de chegar à India, em
meados do século XV, passaram a representar uma séria ameaça às republicas
italianas como Veneza e Génova, cuja o poder e residia no comércio com o
Oriente.
É no contexto de uma verdadeira
guerra económica que várias republicas italianas encaram as descobertas
portuguesas. Aliaram-se aos espanhóis, incentivando-os a romperam os acordos com
os portugueses. Quando se apercebem que os
espanhóis estão mergulhados num logro a que Colombo os conduziu, irão procurar
apropriarem-se dos seus descobrimentos e respetivos rendimentos. Os venezianos,
no Oriente, armaram os muçulmanos e incentivaram-nos a combaterem os
portugueses.
Propagandistas
Desde
o século XV que os italianos eram conhecidos como grandes mestres na
fabricação de histórias e na propaganda. É
neste sentido que os vários reinos da Península Ibérica, como Portugal,
Castela e Aragão os contratam para elaborarem textos de propaganda em
latim, a língua internacional da época, os quais eram depois difundidos pela cristandade.
Um
dos trabalhos em que eram mais utilizados era difusão do poder dos respectivos reinos, fazendo a apologia das suas
conquistas pretensamente determinada por motivos religiosos.
As
descobertas marítimas foram uma excelente campo de trabalho para estes
propagandistas italianos, como Pietro Martire di Anghiera em Espanha ou Giovanni Cataldo Parisio ( 1455-1517) em Portugal.
Hábeis
na propaganda internacional, promoveram igualmente falsos descobridores. Os espiões italianos recolhiam nestes reinos
ibéricos informações sobre as suas descobertas, as quais eram depois
divulgadas internacionalmente como obras de alegados dos seus navegadores.
Colombo,
como veremos, aparece envolvido numa manobra de encobrimento da sua origem, para
a qual aliás contribuiu, e que veio a fazer dele um "genovês". Para
descobrir-se hoje a sua verdadeira identidade é preciso desmontar grande parte
do que foi sobre ele escrito.
a ) Mudanças de Nomes
O primeiro embuste destes falsários italianos consistiu na alteração dos nomes,
de modo a poder atribuir uma nova identidade a Colombo e aos seus irmãos.
1. Colom passa a Colombo
Os textos escritos pelo próprio Colombo e dos quais se conservam os originais,
NUNCA afirmou que era italiano, nem sequer que tinha este nome.
Não existe nenhum documento em
que Colombo tenha assinado como Cristobal Colón ou Colombo. Desde 1492 assina "Xpo
Ferens", "El Amirante", "Virrey", e a partir de 1498 passa a usar quase
exclusivamente um anagra em forma piramidal.
A mensagem é clara: "Cristobal
Colón" era um pseudónimo, um "nome de guerra", o nome pelo qual todos o
conheciam. Não era o seu verdadeiro nome. Nesse sentido nunca se quis
comprometer com este nome, assinando com ele.
Quando sentiu que o apelido
"Colón"/"Colombo" estava a ser identificado com a Itália, resolveu de forma
radical suprimi-lo.
Na correspondência que mantém com o Banco de S. Jorge de Génova, entre 1502 e
1504, ele e o seu filho Diego, nunca usa o sobrenome Cólon, Colombo ou outras
das suas variações. Nem nas cartas privadas que escrevem ao embaixador genovês
usam o seu suposto nome de família. Assinam apenas com "Don Diego" e
"Domino Christoforo" (10).
O
seu último nome, como foi tratado no século XV em Portugal e Espanha (Cristoval Colon), sofreu
diversas modificações.
Em Março de 1488, D. João II, rei de
Portugal numa carta que lhe envia a partir de Avis (sede da Ordem de
Avis), trata-o da seguinte forma: “A Christovam Collon noso espicial amigo em Sevilha."; "Christoval Colon nos Dom Joham per graça de Deos Rey de Portugal e dos
Algarves...”. (15). Como veremos, desde 1469 que temos referências a
diversos corsários em Portugal com o nome de Colom ou Coulão.
Em Espanha desde que aí se fixou, vindo de
Portugal, nunca foi tratado por Colombo, mas sim por "portugues" (20/01/1486; 18/10/1487), Cristóbal Colomo (5/5/1487; 27/8/1487;
16/6/1487), 16/6/1488), Cristobal Colom (16/6/1488) e Cristobal Colon.
O seu filho ilegitimo Hernando Colón escreveu que o pai era da linhagens dos colons,
mas trata-se de uma versão romanceada publicada em Itália para mostrar a antiguidade da familia que
remontaria aos tempos do Império Romano !.
Hernando
Colón, no século XVI, percorreu as localidades que em Itália eram apontadas para a sua terra natal, e em
nenhuma delas descobriu qualquer prova ou pessoa que soubesse algo sobre a familia do seu pai (2). Esteve também em Portugal, mas secretamente, e nunca
falou do assunto. O imperador Carlos V, quando soube do facto, proibiu-o de
continuar as investigações.
Acontece que, em 1494,
em Basel, um bispo italiano de Monte Peloso, troca o nome de Cristoval Colon por Christoforus Colombo na última parte do texto. O
assunto não teria tido qualquer importância, não fosse o facto de em princípio
do século XVI, os italianos terem começado a difundirem a tese da sua
origem genovesa (italiana) e a trocarem sistematicamente o seu nome por aquele
que este bispo lhe dera em 1494.
O
que os sucessivos falsificadores italianos fizeram foi transformar Cristoval Colon
em Cristofaro Colombo, e depois em procurar em Itália alguém com este nome. A partir daqui foram compondo toda uma história para
bater certo com a sua suposta naturalidade. As contradições e falsidades
são mais do que muitas.
Os
portugueses embora fossem os únicos que podiam desfazer todas as mentiras até
meados dos século XVII, mas não estavam interessados. O embuste corria a seu favor.
A maioria dos historiadores está de
acordo que terá existido em Génova, no século XV, um italiano com o nome de
Cristoforo Colombo. O problema é que não existe qualquer relação
entre o Colombo genovês e
o navegador saiu de Portugal em 1484 ou 1485.
A
história da sua identidade italiana é um dos maiores embustes que a
humanidade já conheceu.
2. Diego igual a Giovanni e Jacobus
Em Itália o Cristovão Colombo tinha um irmão
chamado Jacob (Iacobum),
os falsários italianos procuraram afirmar que o mesmo se mudou para Espanha e
passou a chamar-se Diego.
Diego Colón seria uma tradução
em espanhol de Giovanni, Giacomo, Jacobus ou Jacobe Colombo ou Columbus.
Para eles Diego e Giovanni são o mesmo nome, isto apesar de terem origens muitos
diferentes e de não existir um único caso de uma pessoa que, ao mudar-se de
Itália para Espanha, tenha alterado o seu nome desta forma.
Ora, o irmão de Cristobal Colon, em Espanha,
sempre foi tratado por Diego e nunca por Jacobe. Mais
1. Pietro Martire di Anghiera,
o propagandista
Anghiera foi o mais brilhante
propagandista "italiano" do seu tempo. Ao serviço dos
castelhanos/espanhóis atacou a legitimidade da sua própria existência do
reino de Portugal, desvalorizando igualmente a importância dos seus
descobrimentos. Mais
É apontado como uma das principais
fontes de informação sobre Cristovão Colombo. Sobre a sua identidade, alimenta a
confusão.
Colunus
As suas cartas publicadas por um alemão, em 1511,
Colombo chama-lhe Colunus, apresenta-o como ligure.
Entre
estas cartas forma publicadas, em 1511, duas têm a data de 1493, pouco depois de Colombo chegar. Uma
dirige-se a um arcebispo de Braga (Portugal), onde dá conta que chegara
"um tal Colunus". A outra destinava-se ao Conde Giovanni Bardomeo
afirmando que chegara "Christophom Colunus", "ligure".
Em
22 cartas onde é referido Colombo, nunca o trata por "Christophorus
Columbus", mas sim por "Christophom Colunus".
Os
originais destas cartas desapareceram. Nas edições posteriores nunca pararam
as adulterações e os acrescentos.
Nas Oceani Decadas, publicadas em Sevilha (1511), e depois de haver contacto
com Colombo, mas cinco anos depois do mesmo haver falecido, continua a tratá-lo
por "Colonus”.
Ligure
Mascarenhas Barreto notou que que D
`Anghiere nunca afirmou que Colombo
fosse italiano, nem sequer genovês, como alguns tradutores apressadamente
afirmam (6). Identifica-o apenas
como sendo ligure.
Na antiguidade clássica,como
refere este investigador, os ligures habitavam também na antiga Lusitânia, mas precisamente na região do Alentejo e
em parte da Andaluzia.
Vários
geógrafos da antiguidade clássica que referem os
ligures como pertencendo a esta região, eram conhecidos e citados por Colombo e
pelo seu filho Hernando Colon. Nesse sentido, enquanto foi vivo Colombo nada
teria a opor-se a esta afirmação.
Hesíodo
refere os ligures. Estrabão
(63 a.C. ou 64 a.C. - cerca 24 d.C) afirma que os ligures são o "povo
principal do ocidente" (Colombo cita-o, por exemplo, a carta sobre a 3ª.
Viagem).
Diodoro da Sicilia (~ 80 - 20 a. C.)
descreve os ligures da Hispânia; Rufo Festo Avieno (Séc. IV), na
sua Ode Marítima liga os ligures à região dos Tartessos (região do
Guadalquivir). Os ligures também foram identificados como habitando o norte de
Portugal, sul da França e as costa da Itália. As referências são deste muito
muito imprecisas.
A
estratégia de D` Anghiera
era subtil. Sabendo
que Colombo era originário da Lusitânia (Portugal), começa por separar estas
duas entidades históricas, e depois desencanta um nome antigo - Liguria - para
identificar a região onde Colombo nasceu. Não sendo a Lusitania o mesmo
que Portugal, logo Colombo também não podia ser português.
Acontece que este nome
de Liguria se prestava, como referimos, a enorme confusão pois tanto podia ser o
nome antigo de uma região de Portugal, como o de uma de Itália onde
ficava Génova. A palavra descontextualizada podia ser usada para
identificar as duas localizações possíveis. A falácia era
perfeita.
Limites da Liguria/ Lusitania. Adquire
agora todo o significado o enorme apontamento que Hernando
Colón dedica à questão dos limites da antiga Lusitânia, afirmando que a sua
capital era Lisboa. Este apontamento é escrito numa altura que a sua família era acusada de ter enganado a
Espanha.
D`
Anghiera
revelou-se um mestre
na arte da propaganda, mentindo descaradamente nas Décadas. Exemplos: Os indios
são identificados como canibais, o que justificava o seu genocídio. Pinzon é
dado como o descobridor do Brasil, etc.
Devido aos seus reconhecidos méritos
propagandísticos foi eleito, em 1518, para
o Conselho das Indias Espanholas.
Depois
de Colombo falecer, em 1506, D`
Anghiera iniciou a publicação de antigas cartas onde aproveitou para fazer
alterações ao seu conteúdo, nomeadamente ligando Colombo a Génova. Muitos
dos defensores da tese genovesa, apoiam-se nestas cartas corrigidas, cujos
originais desapareceram.
2. Angelo Trevisan (Trevigiano), o plagiador
Trevisan
(Angelo Trevisano),
espião veneziano, foi para Espanha, em 1501, como secretário de Dominico Pisano do embaixador veneziano na corte
dos "reis católicos".
Numa carta, supostamente datada de 21 de Agosto deste
ano, escreveu ao
almirante Dominique Malpiero, que durante o verão se havia tornado amigo intimo
de Colombo, gabando-se de ter conseguido o acesso aos seus segredos marítimos.
Conheceu também Pietro Martire di
Anghiera, conseguindo copiar e traduzir para veneziano grande parte da primeira
Década. Voltou a ter acesso aos textos, quando di
Anghiera se deslocou a Veneza, levando-os consigo, com a intenção de aí os
publicar.
Trevisan em 1504 publica um resumo da primeira Década, com muitas alterações, sob
o título de -Libretto di Tutta la navigazione dei Rei di
Spagna della Isola e Terreni Nuovamente Trovatti (4).
O nome de di Anghiera é omitido na
publicação. Os historiadores ignorando este plágio, passam a considerar Trevisan
o autor de uma obra que se limitou a traduzir e a introduzir acrescentos.
Trevisan
afirmar que "Cristoforo" (Cristovão)
era "zenoveze. A naturalidade de ligure, atribuída por di Anghiera passa deste modo a genovesa.
Afirma igualmente que Colombo, muito
antes de 1498, fez duas viagens à América do Sul. Alguns historiadores, muito
imaginativos, fixaram o ano das expedições em 1494/5. O objectivo desta
falsificação insere-se nas manobras espanholas da época, envolvendo a família
dos Pinzons, e que pretendiam reclamar para a Espanha a primazia da descoberta
do Brasil.
Duas novas mentiras começam a ganhar forma. A
obra desapareceu (5), mas sabemos da mesma através de Montalbodo,
e por uma suposta cópia manuscrita do século XVI, que existe na Biblioteca do
Congresso nos EUA, Mais
3. Francesco (Francazano) de Montalboddo, o ladrão
Este
professor de humanidades (língua e literatura grega e latina) em Vicenza, estava ligado a uma rede italiana que se
dedicava a espiar e roubar importantes documentos sobre as navegações realizadas
por Portugal e Espanha.
O seu objetivo era publicar uma
colecção de documentos sobre os descobrimentos portugueses e espanhóis, onde os italianos
acabassem por aparecer como os verdadeiros
heróis...
Montalboddo, com o produto destes roubos e falsificações, em 1507, publica uma
miscelânea de textos, intitulada: - Paesi Nuovamente Retovati & Nuovo Mondo da Alberico Vesputio Fiorentino
Intitulato (14). Até 1528 conhecem-se 17 edições, que revelam importantes modificações.
Na edição latina de Archangelo
Madrignano, em 1508, o título é alterado de forma a destacar Américo Vespúcio.
Foram feitas interpolações nos textos de modo a atribuir aos venezianos
descobertas portuguesas, nomeadamente a da Terra Verde, por Gaspar Corte-Real em Setembro ou Outubro de 1500 ( 13).
Entre os textos que se a
apropria está a primeira Década de di Anghiera, que havia sido plagiada por
Trevisan. Montalbodo,
não se limita a omitir o nome de di Anghiera, assume-se como o
seu autor.
Baseado em Trevisan afirma que Colombo era genovês, e o mais importante: - o
verdadeiro descobridor do Novo Mundo foi Américo Vespúcio.
Para dar corpo a esta
gigantesca fraude, na mesma altura, na Alemanha, é publicado um mapa-mundo onde o novo
continente aparece
com o nome de América em homenagem ao seu descobridor... Américo Vespúcio !.(Martin
Waldeemulller - Cosmogragraphiae Introductio, Estrasburgo, 1507).
A floresta de equívocos
estava criada.
Montalbodo está
envolvido, entre outros, no roubo das cartas dos capitães da 1ª.
viagem de Pedro Alvares Cabral à India (1500-1501), durante a qual foi
"achado" o Brasil.
Montalbodo publicou uma destas
cartas de marear roubada,
mas como um típico ladrão italiano, omite também o nome do português que a fez (Carta do Piloto Anónimo, 1507), fazendo
também desaparecer os respectivos originais. Este facto diz tudo sobre os seus métodos.
Face a tantas mentiras, o aldrabão
Pietro Martire di Anghiera, desistiu durante largos de publicar as suas
Décadas só o fez, como dissemos, numa edição latina em 1516. Di Anghiera não parou de acusar os autores
italianos das edições
de 1504 e 1507, de terem alterado e mutilado a
sua obra. Em relação aos espanhóis que a editaram em 1511, calou-se.
4. Antonio Gallo
Cronista
oficial de Génova, conselheiro do Banco de San Jorge, em 1508-16 (?), escreveu
uma fantasiosa biografia de Colombo, afirmando que o mesmo procedia de aldeia de
"Quinto" junto à cidade de Génova, e pertencia a uma humilde família de
tecelões da mesma. O seu irmão Bartolomeu teria sido o primeiro a vir para
Lisboa, onde se dedicou ao ofício de produção de mapas. Colombo não tardou a
vir também.
Esta história terá servido de base a Agostino
Giustiani para fabricar a sua biografia do navegador, prontamente desmentida por Fernando Cólon.
Quando
se procura os originais descobre-se mais uma sucessão de mentiras. Dos seus 11
manuscritos conhecidos, apenas 4 referem a história de Colombo. A verdade é
que nenhum dos 4 é do século XVI, mas dos séculos XVII e XVIII. O mais antigo
manuscrito existente, é datável do século XVI , e com dissemos, não refere a
história de Colombo. Encontra-se guardado na Biblioteca de Kopenagen (ms.antigo
Fundo Real,nº.2205), ( 7 ).
5. Agostino Giustiniani
Giustiniani,
na sequência do que havia dito (? ) Trevisan, e repetido Montalbodo, em
1516, trata-o por "Christophorus Columbus". Não se limita a repetir
esta afirmação, contrói uma biografia: Colombo era genovês, "nascido de pais humildes",
etc. etc.
Estas
afimações foram produzidas 10 anos depois de Colombo ter morrido, e
numa altura em que a Corte o acusava a sua família deste ser um traidor português
e de ter enganado a Espanha conduzindo-a para uma falsa India.
. Hernando Colón, na Historia
del Almirante demonstra que Giustiniani era um aldrabão,
apresentando mais de 12 provas das suas mentiras.
. Bartolomé de Las Casas, na Historia das Indias insurge-se também
contra este italiano, afirmando a impossibilidade de Colombo ser artesão.
A
verdade é que estes falsários acabaram por dar suporte histórico à suposta
origem italiana de Colombo. Os que lhe sucederam procuraram dar corpo a esta
teoria, inventando uma historieta que envolve tecelões, corsários e naufrágios.
A
confusão interessava ao italianos, pois dessa forma pretendiam apoderar-se dos
rendimentos do navegador, mas também obter prestígio para a Itália. Os
portugueses estavam também interessados nela, pois dessa maneira protegiam
a sua verdadeira identidade e a dos seus cúmplices.
O
próprio Colombo alimenta os equívocos, mas nunca afirma que é italiano, nem
sequer os seus filhos.
Em
Espanha os estrangeiros eram habitualmente denominados por "genoveses"
e Colombo era um estrangeiro neste país.
Variações de
um Nome
Ao longo dos 21 anos que
Colombo viveu em Castela/Espanha o seu nome foi variando, assim como a sua
nacionalidade. Começou por ser "estrangeiro" que após melhor
conhecimento passou a ser "português". Os falsários italianos
começaram por dizer que era "ligure", terminando por ser
identificado como "genovês".
O apelido inicial era "Colon",
isto é, membro de uma organização ou irmandade, para terminar em "Colombo", um
"pombo" em italiano. Mais |
b
)Ignorado
pelos Italianos
Todos
os italianos que conviveram directamente com Colombo, mesmo os mais aldrabões,
como Américo Vespucio, jamais escreveram ou afirmaram que o mesmo era italiano. A
sua suposta origem italiana, nomeadamente genovesa, é uma invenção feita
sobretudo pelos que não o conheceram.
- Frei Gaspar Gorricio de
Novara
Frade
franciscano da Cartuxa de Santa Maria de las Cuevas, em Sevilha. A partir de
1498 passou a ser amigo intimo de Colombo, um verdadeiro confidente.
Prova dessa confiança está no facto de ter ficado com os seus documentos
secretos. Apesar disto NUNCA afirmou que Colombo fosse italiano (genovês,
veneziano, milanês, etc) e por incrivel que possa parecer nunca se correspondeu
com ele em italiano, mas apenas em espanhol.
- Embaixadores Genoveses
Os
embaixadores da cidade de Génova Francesco Marchesi e Giovanni Grimaldi estavam
em Barcelona, quando em 1493, os reis de Espanha receberam triunfalmente Colombo
após a sua chegada da sua 1ª. viagem às Indias.
Apesar
de serem supostamente da mesma cidade, revelaram desconhecer que estavam perante
um seu compatriota.
Nicoló
Oderigo, embaixador extraordinário de Génova. Em 1501 passou a
relacionar-se com Colombo, com o qual estabeleceu uma curta amizade
(1501-1502).
Colombo
procurava na altura, desesperadamente, uma forma de garantir a transmissão dos
seus privilégios para o seu filho português Diego Colón. Neste sentido,
confiou a este genovês duas cópias em pergaminho do seu "Libro de los
Privilegios". Este ter-lhe-á garantido, a troco de uma fortuna, que o
conseguiria fazer envolvendo o Banco de S. Jorge.
Na
correspondência que mantiveram, NUNCA trocaram
qualquer palavra em italiano.
Paolo
Emilio Taviani, refere um discurso deste embaixador aos reis católicos, de
Abril de 1501, onde afirma que Colombo era "nosso conterrâneo" (11).
Este político italiano esconde que esta afirmação é referida muitos
anos depois dos factos terem acontecido.
Colombo
estava a ser alvo de uma enorme perseguição acusado de trair os espanhóis ao
serviço de um principe estrangeiro. Fora preso em 1500. Procurava por todos os
meios, como dissemos, encontrar uma protecção internacional para os seus
privilégios, tendo para tanto recorrido ao Banco de S. Jorge de Génova.
- Américo Vespúcio
Este
italiano, esteve durante anos ao serviço de Colombo antes de vir para Lisboa,
onde terá vivido entre 1500 e 1505. Nunca afirmou que Colombo fosse italiano.
- Lucio Marineo Siculo
O
cronista italiano (siciliano) ao serviço de Fernando de Aragão , cuja maior parte
da sua vida foi passada em Espanha, trata-o por Pedro Colom e não por
Cristovão Colombo.
Nunca afirmou que o mesmo fosse italiano.
- Nicolo Scillacio (1493-1522)
Professor
da Universidade de Pisa,
escreveu uma relação da 2ª. Viagem de Colombo (1493-1496), em De insulis meridiani atque indici maris sub auspiciis invictissimorum
regnum hispaniarum nuper inventis,segundo o testemunho do aragonês
Guillermo Coma. Nunca
o identificou como italiano, nem sequer como estudante da Universidade de Pisa,
como referem os falsários italianos.
O
historiador italiano Maurizio
Tagliattini, após longos anos de estudo sobre a origem de Colombo, em 1998,
escreveu um 10 capítulo à sua obra "crítica" (10),
onde confessa a sua perplexidade: Colombo não apenas ocultou a sua
origem, mas também pretendeu cortar todos as possíveis ligações à Itália e
à sua suposta família genovesa.
No
século XVI, os genoveses vasculharam os seus arquivos à procura da alegada
família de Colombo que Gallo, Bartolomeo Senarega e Giustiniani falara. Estava
então em jogo a herança de uma enorme fortuna. A verdade é que nada
encontraram. Em 1586, o embaixador de Génova junto da Corte Espanhola -
Giambattista Doria -, recebe instruções para apoiar a tese de que Colombo era
de Cogoleto, porque em Génova não se encontrara nenhuma prova que o ligasse à
cidade. Os historiadores genoveses acabam por o ignorar até ao século XVIII.
O
trabalho de Hubert Foglietta, 1559 (Roma) "A República de Génova",
edição revista de 1575 (Milan), entre os cidadãos famosos de Génova não o
menciona.
O senador genovês Federico Federici (que morreu em 1647)
também não fornece nenhuma informação sobre Colombo.
Os anais do século XVIII dos
genoveses, como Gianbattista Richeri não oferecem mais
luz sobre o assunto. Entre 1299 e 1502 registam 18 Columbus, mas nenhum Domenico.
Apenas um Christopher está no seu Foliatum Notariorum Genuensium (1724 aprox .) (o
texto original pertence à "Biblioteca Berio de Gênova City").
O manuscrito de William da
Cassina inclui anais que datam de 1191, mas também não fornece informações
úteis para este estudo.
Em resumo, até 1708, quando surge o fantasioso trabalho do genovês Filippo Casoni
(1662-1723), os genoveses ignoram a existência de Colombo. Os seus arquivos que
haviam sido vasculhados nunca encontraram nenhuma pista que o ligassem à
cidade, nem à República.
C)
Fabricação de um Retrato
As
pinturas e gravuras que hoje são divulgadas de Colombo não correspondem à sua
descrição física feita pelos seus contemporâneos.
Em
Espanha depois de 1484 Colombo é descrito da seguinte forma:
-
Cabelos louros ou ruivos. Depois das primeiras viagens foi ficado com os cabelos
brancos.
-
Olhos Azuis
-
Usava barba
-
Cara avermelhada, queimada pelo sol, com sardas.
-
Estatura acima da média.
-
No final da vida devido à gota foi ficando com problemas nas articulações, o
que era agravado com um doença nos olhos, mal conseguindo escrever.
Muitos dos que privaram com ele referem o seu aspecto
envelhecido, parecendo aparentar mais idade do que aquela que tinha.
Traços
que são característicos de membros de várias família de Portugal, mas que se
acentuou depois de D. João I ter
casado com Dona Filipa de Lencastre.
Muitos
membros da casa real da dinastia de Avis possuíam alguns traços fisionómicos
particulares, como cabelos ruivos e olhos verdes, derivados da ascendência dos
Lencastres. Este facto pode ser observado no Museu de Aveiro, no que aí
subsiste das relíquias de Princesa Joana, irmã de D. João II. Algumas das
pessoas que descreveram Colombo, afirmam que o mesmo possuía também cabelos ruivos.
No entanto D. Pedro I também era
ruivo, assim como D. Nuno Alvares Pereira , um facto da maior relevância
se tivermos em conta que é um descendente do condestável que irá ser o
herdeiro dos títulos de Colombo. É enorme a coincidência dos traços
fisionómicos entre ambos, mas não só (consultar ).
Retratos
Idealizados
Na esmagadora maioria dos "retratos" mais divulgados de Colombo são de
origem italiana. Neles aparece vestido à moda de Itália de forma a dar cobertura à sua suposta
origem genovesa. Tratam-se de puras invenções sem qualquer correspondência com
as descrições da época. Nesse sentido, não é de estranhar que os retratos feitos
em Espanha sejam muito distintos dos produzidos em Itália (12). A verdade é que
Colombo nunca se deixou retratar.
Alegado retrato
de Cristoval Colón (Colombo), realizada pelo "espanhol" Alejo Fernández, no quadro "Virgem de los
Navegantes", na sala dos Almirantes - Real Alcazar em Sevilha. A pintura
terá sido realizada entre 1531-1536. O "retrato" segue um modelo anterior,
datável de 1508. Mais
O "
Cristoforo
Colombo, 1519, New York,
Metropolitan.
Alegado retrato de Colombo
do
italiano Sebastiano Luciani ou Sebastiano del Piombo (Venezia, 1485 - Roma,1547 ). A imagem não tem qualquer relação com Colombo
histórico, apesar de ser das mais divulgadas.
Alegado retrato de Colombo,
atribuído ao pintor espanhol Pedro Berruguete (c.1450-1504). Em 1991, os
genoveses anunciaram com grande aparato que haviam descoberto um retrato
autêntico de Colombo, feito ainda por cima pelo pintor dos reis espanhóis -
Pedro Berreguete. A obra estava em Génova, tendo sido adquirida nos EUA.
António Romeu de
Armas demonstrou pouco depois que jamais esta personagem poderia ser o Almirante
das Indias. Matías Diaz Padrón, conservador do Museu do Prado, mostrou por sua
vez que a obra também não poderia ser atribuída a Berruguete (9). Não
corresponde ao seu estilo e técnica. Estamos perante mais
uma típica mistificação italiana.
Alegado retrato de Colombo realizado
por Ridolfo Ghirlandaio (1483-1561). Cada pintor seu retrato, sem que nenhum
deles corresponda às descrições feitas na época do vice-rei das Indias
espanholas.
Retrato de Colombo segundo um pintor não identificado (anónimo). Cerca de
1540. Fundación Lázaro Galdiano, Madrid. Atrás de Colombo está São Cristovão, o
seu alegado patrono. O pintor procurou descodificar o nome de Colombo, como
aquele que leva cristo.
Retrato de Colombo numa gravura de Johann Theodor DeBry, século XVI. O modelo é italiano, inspirado em del Piombo.
Colombo, irmãos e filhos
Quando se compara a imagem de
Colombo feita por italianos, com as produzidas sobre os seus irmãos e filhos,
facilmente nos constatamos que não existe qualquer traço fisionómico comum
entre elas. O que confirma que o retrato de Colombo foi uma criação
destinada a veicular uma dada imagem da personagem, tendo pouco ou nenhuma
correspondência com a sua imagem real.
Retrato
de Hernando Colon, filho ilegitimo de Cristovão Colombo.
Carlos
Fontes.
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