3. Hernando Colón
Hernando
Colón, nasceu em Córdova, a 15 de Agosto de 1488, filho
de Colombo e Beatriz Enríquez de
Arana, filha Pedro de Torquemada e de Nuñes de Arana, pequenos
agricultores e lagareiros de Trassierra, um pequeno lugar a poucos quilómetros
de Córdova. Quando Colombo conheceu a cordobesa, por volta de 1487, esta não
teria mais do que vinte anos.
Filipa Moniz Perestrelo, em 1488,
ainda era viva, ao contrário do que Hernando Colon mais tarde irá escrever,
tendo em vista não ser considerado um filho ilegítimo.
Colombo, antes de partir para a sua
primeira viagem, mandou entregar aos cuidados de Beatriz Enríquez o seu filho
primogénito - Diogo, natural de Lisboa, que contava na altura 12 anos e Hernando
4 anos. Temia que a sua cunhada, Briolanja Moniz Perestrelo, suficiente conhecida par ser localizada,
pudesse vir a ter problemas caso a sua viagem fracassasse. Briolanja tinha
desde 1485 o seu filho primogénito. A cordobesa era uma simples aldeã, cujo
paradeiro era difícil de descobrir.
No regresso, em Março de 1493,
mandou vir para Sevilha os seus dois filhos, que foram entregues aos cuidados de
Violante Moniz Perestrelo, em casa da qual passaram a residir. Hernando Colon
nunca mais viu a sua mãe cordobesa, pela qual passou a nutrir um profundo
desprezo.
Á semelhança do seu irmão Diego (cerca de 8 anos mais velho)
foi também nomeado pagem do principe de Espanha. Tomou posse nos princípios de
1494. Após a morte do principe (4/10/1497), passaram a pagens da rainha Isabel, a
Católica (18 e19/2/1498), recebendo Hernando um soldo de 9.400 mvds ano. O seu preceptor na corte foi o célebre aldrabão italiano - Pietro
Martire di Anghiera, o
que poderá justificar muito do seu comportamento ardiloso.
Retrato
de Hernando Colón. Anónimo.Sevilha.Séc.XVI
A
partir de 1498 assistiu à perseguição movida
contra o seu pai, nomeadamente à sua chegada sobre prisão em Outubro de 1500.
Em Maio de 1502 embarcou com ele na 4ª. e última viagem às Indias. A
humilhação da sua família era completa.
Após
a nomeação do seu irmão governador da Hispaniola, em 1509, foi uma temporada
para Santo Domingo, onde se encarregou da supervisionar a construção de
igrejas. Regressou pouco depois à Espanha, nunca mais voltando às Indias.
Entre 1510 e 1512, andou a estudar a
forma de explorar as Indias espanholas e retomou a ideia de Colombo de uma volta
ao mundo. Fernando de Aragão, negou-lhe a autorização, obrigando-o a permanecer
em Córdoba ou Sevilha a seu serviço (16).
Entre 1512/13 viajou por Roma. Em 1515 esteve em
Génova, à procura de possíveis descendentes do seu pai, mas nem um encontrou.
Quando começou a
pesquisar Portugal, a corte espanhola proibiu-o.
Em 1518 veio clandestinamente a
Portugal. Dois anos depois foi à Flandres assistir à coroação de Carlos
V, tendo-o acompanhado pelos Estados da Alemanha e da Itália, onde procura sem
êxito familiares do seu pai. O novo rei de Espanha, pensado que o mesmo era um
especialista em cosmografia, passou a pagar-lhe um salário de 200.000 mvds
anuais, que em 1523 foram acrescidos de mais 65.000 (15).
Renuncia entretanto aos seus
direitos à herança de Colombo a favor de Diego Colon, a troco de uma renda
vitalícia de 200.000 mvds anuais (17)
Regressou
a Espanha. Carlos V nomeou-o membro da comissão espanhola que participou nas
Juntas de Badajoz de 1524 que discutiu o direitos de possessão das ilhas
Molucas, entre Portugal e a Espanha. Nesta altura foi também nomeado para
elaborar um mapa-padrão na Casa da Contratação. O problema é que Carlos V foi
rapidamente informado que Hernando Colon estava completamente desfasado dos
avanços cosmográficos do seu tempo, continuando a defender a mesma concepção com
que o seu pai enganara os reis católicos.... Foi por esta razão que acabou por
ser afastado da Junta e da concepção do mapa-padrão que acabou por ser realizado
por um português.
Em Sevilha, entre 1493 e 1525, a sua
casa foi sempre a de Violante
Moniz Perestrelo, onde também sempre residiu o seu pai. Ainda a
22/1/1519, deu amplos poderes ao seu aio Jerónimo de Aguero, em casa de
Briolanja Munis (13).
Em 1525 decidiu começar a pensar em
construir a sua própria casa. Acabou por adquirir uma casa, em 1526, no Barrio
de los Humeros, entre a muralha e o rio, junto à Porta de Goles (12).Entre 1526 -1529 dedica-se à construção da sua casa em Sevilha
onde reúne uma vasta biblioteca.
Em 1529 parte para a Alemanha e Itália, onde
permanece até 1533. Cinco
anos depois procura fundar, em Sevilha, um "Colégio Imperial" destinado a
ensinar jovens na arte de navegar, projecto que nunca se concretizou. Apesar
disto, a historiografia espanhola continua a afirmar que criou um "centro de
estudios cosmográficos", o que é uma completa mentira.
Morreu em 1539 sendo sepultado na Catedral de
Sevilha.
A
sua preciosa biblioteca ficou fechada durante alguns anos para se fazer um
catálogo, tendo os livros sido mudados para o Convento de São Paulo. O
Cabido da Catedral de Sevilha colocou o caso em tribunal, tendo os livros
voltado para a catedral em 1552, onde ainda permanecem. Em virtude dos inúmeros
roubos, a biblioteca inicial está reduzida a um terço.
A
sua obra é de enorme importância, tendo nela procurado construir a imagem do
seu pai como um homem só, desamparado e sem apoios. A única forma de
evitar que lhe fossem descobertos os seus verdadeiros cúmplices:
- "Historia del Almirante" (Historie della Vita e dei Fatti
di Cristoforo Colombo), apesar de todas as
adulterações e mentiras continua a ser uma fonte imprescindível sobre a vida de seu pai.
Nesta obra contesta a ideia que o seu pai fosse plebeu, nunca confirmando que
fosse italiano. Afirma que o nome
"Colón" significa "membro" de uma organização.
- "Itinerários". Um levantamento de Espanha, mas também
de Portugal, realizado entre 1518-1523, com inúmeras pistas para a descoberta
da verdadeira identidade do seu pai.
- - "Testamento". Trata-se de um documento produzido no final da vida,
e que aparentemente contradiz, como veremos,
tudo o que antes afirmara durante anos sobre a nacionalidade do seus pai.
Recomendações de um Testamento
O
testamento original Hernando Colon perdeu-se, mas restam do mesmo duas cópias, uma no Archivo
de Protocolos e outra no Archivo de la Catedral de Sevilha. Hernando Colon
começou a escrevê-lo, a 16/3/1439, mas não o terminou. Sabemos que foram os seus
outros que o concluíram o seu Testamento, nomeadamente Marcos Filipe, quando já
estava gravemente doente. Intervieram também no mesmo, alguns dos seus credores
italianos, como Franco Leardo, Gregório Cataño ou Leonardo de Spíndola (19). Fruto destas intervenções as cópias do Testamento estão repletas de erros (Juan Guillén, ob.cit.,p.150)
Na segunda parte do Testamento,
Hernando Colón "faz" diversas recomendações sobre o funcionamento da sua
biblioteca, e os procedimentos a seguir quanto à aquisição de livros.
Em relação às aquisições de
livros em Itália, manda que sejam feitas por italianos. O comprador deveria
apresentar-se como sendo da "librería de Fernandina que instituyó don Fernando
Colón hijo de don Cristóbal Colón, genovés, primer Almirante que descubrió las
Indias y que por razón de ser de la patria del fundador le pide merced le
favorezca en lo que se le ofreciere ... porque sabía que siempre hallaría en los
de su padre muy bien ayuda."
A afirmação no Testamento de que
Colombo era genovês, não passa afinal de uma estratégia para obter descontos na
aquisição de livros em Itália. A ideia agradava aos italianos, pouco
interessando se fosse verdadeira.
No caso de não se conseguir arranjar
um italiano para fazer estas aquisições de livros, recomenda que as mesmas
fossem realizadas por comprador alemão ou francês, mas nunca por um espanhol...
O autor deste texto do Testamento
afirma que estas recomendações derivam da experiência do próprio Hernando Colon,
que havia concluído que fora de Espanha:
" siendo de cualquiera de estas tres
naciones (Alemanha, França e Itália) era más seguro y le miran con mejores ojos
que no al español, y esto lo tenía muy experimentado; cuando andaba fuera de los
reinos de España siempre hablaba italiano doquira que fuese por no ser conocido
por español."
Hernando Colón, não apenas manifesta
vergonha em assumir-se como espanhol, mas sobretudo não vê nisso qualquer
vantagem nas suas aquisições de livros em Itália.
Podemos concluir que a referência à
origem genovesa de Colombo, no Testamento de Hernando Colon, não foi feita pelo
próprio, e em última instância, não passa de uma manobra para enganar os
italianos obtendo dos mesmos descontos na compra de livros !.
Apesar
da sua condição de filho ilegítimo, procurou defender os interesses da sua
família, e em especial os do seu irmão Diego. O seu brasão parece indiciar a
possibilidade do mesmo se assumir como um novo "membro".
O que Procurava
Hernando Colón ?
Entre 1517 e 1523 o filho de
Colombo contratou uma série de agentes para fazerem um levantamento da Espanha.
Não se limitou a este país e realizou também o levantamento de uma região e
de várias localidades de Portugal, onde em 1518 entrou o clandestinamente.
Carlos V informado destes trabalhos tratou logo de os proibir.
O temia Carlos V ? O que procura
Hernando Colón em Portugal ? O que dizem as suas notas ? (1)
1. Alentejo
O seu principal foco de atenção
em Portugal centrou-se sobre o Alentejo, em localidades à volta da Casa de
Bragança (Vila Viçosa).
Recolheu notas sobre as seguintes
localidades: Villaviciosa (Vila Viçosa), Olivenca (Olivença), Buyn (Boim,
Elvas), Alaondral (Alandroal), Alfayates (Alfaiatas - Cuba ou Alfaiates-
Sabugal ?), El Redondo (Redondo), Ebora (Evora) e Portalegre. O que
procurava Hernando Colón no Alentejo ? A terra do seu pai ?
2. Lisboa
Hernando Colón tem longas referências
a Lisboa. Descreve-a como a capital da antiga Lusitânia que no seu
entender englobava toda a extremadura, incluindo Sevilha. O que estava
a procurar dizer quando afirma que Lisboa e Sevilha tiveram na antiguidade o
mesmo nome - Lusitânia ?
Refere ainda outras localidade á
volta de Lisboa: Setúbal, Almeirim, Santarém e Óbidos .
3. Norte de Portugal
A norte apenas regista a região
do Porto, Braña (Braga ?), Chaves e Freixo de Espada (à Cinta), esta última
vila termina com o nome de uma virgem de grande devoção de Colombo. Andaria
à procura da origem de "Nossa Senhora de Cinta" ?
4. Cabos
Refere o Cabo Espichel (perto da
Arrábida) e o Cabo de S. Vicente (Algarve). Assinala também na costa
portuguesa as Ilhas Berlengas.
Amigo de André de
Resende
As ligações de Hernando Colon a
Portugal foram cuidadosamente ocultadas, no entanto uma carta que acompanhava um
dos seus livros acabou por o trair.
No verão de 1531 foi, pela
terceira vez, a Lovaina, onde recorreu ao célebre humanista português - André de
Resende - para que o mesmo o apresentasse Nicolau Clenardo (1493 - 1542).
A sua ideia era trazer Clenardo para Espanha, onde passaria durante algum tempo
a trabalhar na sua biblioteca. Clenardo aceitou ir para Espanha, mas acabou a
dar aulas em Salamanca. Não tardou a vir para Portugal (Dezembro de 1533),
recrutado por D. João III para dirigir a educação do infante D. Henrique, futuro
cardeal-rei de Portugal (20).
Avós
Portuguesas
Hernando Colón na História del Almirante parece desconhecer totalmente a família portuguesa do
seu pai. Trata-se todavia de uma ideia errada. Em 1518, como vimos, entrou
clandestinamente em Portugal provavelmente à procura destes laços familiares,
mas foi proibido de continuar a fazê-lo por Carlos V.
A verdade é que,
em 1526, dirigiu-se ao embaixador português em Espanha - António de Azevedo
Coutinho -, invocando o facto das suas avós serem portuguesas para obter o
deferimento de um pedido. A carta, datada de 14/4/1526, foi remetida pelo
embaixador a D. João III (3).
Ocultação
A família de Colombo colaborou de forma coordenada e empenhada, na ocultação da
sua verdadeira identidade. Estava em causa títulos e uma enorme fonte de
rendimentos. Hernando Colón não se poupou a esforços (a mentir) para
deliberadamente confundir todos aqueles que procuram descobrir a verdade.
Fray Gaspar
Gorricio de Novara (?- Dezembro de 1515).
Colombo, como é sabido, quando se viu acusado de estar a trair os espanhóis,
viu-se cercado de italianos que lhe prometeram que o ajudariam a garantir a
transmissão dos seus títulos e herança para o seu filho primogénito - Diego
Colon, filho de Filipa Moniz Perestrelo.
Gaspar Gorricio,
frade italiano que estava no Mosteiro de Las Cuevas, em Sevilha, colaborou em
muitas mentiras de Colombo, nomeadamente na redação do Livro das Profecias,
onde este surge como um predestinado. Colombo seria o eleito por Deus para
cumprir a "profecia" de evangelizar os indios e libertar Jerusalém, o que nunca
fez, nem verdadeiramente estava interessado.
Colombo entregou-lhe
grande parte da sua documentação, a qual não tardou a dispersar.
A verdade é que a
familia de Colombo passou depois de 1500, a confiar no frade devido à sua
suposta influência na Santa Sé. Foi no mosteiro de Las Cuevas que Diego Colon e
a sua esposa Maria de Toledo fizeram o seu Testamento (1509). Fê-lo também
Bartolomeu Colon, tendo os mesmos ficados aí depositados ao cuidado do frade.
Quando
morreu Bartolomeu Colon, em Agosto de 1514, foi o frade que se incumbiu de
transmitir os seus bens ao primogénito Diego Colon. Aquando da morte de Diego
Colon, irmão de Colombo, actuou como representante da família. Foi ele que
recebeu a ossadas de Colombo, que foram trazidas de Valladolid a Sevilha
por Juan António Colombo.
Todos os membros da
familia Colombo que faleceram em Espanha foram sepultados no mosteiro do frade,
menos Hernando Colon (18).
As manhas do frade
italiano não lhe passaram despercebidas, pelo que nunca manifestou qualquer
simpatia pelo mesmo, ignorando-o. Uma coisa era ajudar a familia, outra
participar na apropriação da sua fortuna.
Maria de Toledo,
esposa de Diego Colon, quando este morre trata logo de retirar a documentação do
Mosteiro de las Cuevas, os cartuxos não inspiravam confiança. A documentação foi
transferida para os dominicanos de San Paulo, a cuja ordem pertencia o seu
irmão.
Bibliófilo
Colombo, como vimos,
quando regressa à Espanha da sua segunda viagem, em Junho de 1496, é
desmascarado em público. Não tem argumentos para contrapor às acusações que lhe
são feitas de andar a enganar os espanhóis. Foi Alvaro de Bragança que o salvou,
defendendo os seus privilégios em Burgos.
A partir de 1497
percebe que tem que fundamentar melhor as suas mentiras, corrigir textos antigos
e desfazer-se de outros. Nesse sentido, começa a adquirir um apreciável número
de obras de autores antigos para sustentar melhor o logro que havia levado os
espanhóis até ao Japão e à China navegando para Ocidente.
Hernando Colon,
quando o seu irmão lhe pede para assegurar a defesa dos títulos e privilégios da
sua família junto da corte espanhola, sente também a necessidade de ter uma boa
biblioteca pessoal.
As ideias
retrógradas que defendia em termos geográficos e cosmográficos eram cada vez
mais difíceis de sustentar, obrigando-o a ter um bom conhecimento dos autores
clássicos, mas também os que no seu tempo eram a favor ou contra as concepções
do seu pai.
Falsificações
da "Vida del Almirante"
A mais antiga biografia de Colombo foi escrita
pelo seu próprio filho Hernando. Os manuscritos originais foram também
levados para Itália, a fim de serem traduzidos e acabaram por desaparecer. Um
dos tradutores
foi um espanhol - Alfonso de Ulloa - que realizou o trabalho enquanto se encontrava preso,
tendo morrido em 1570, sem ter concluído a tradução.
O
editor (italiano) fez questão de escrever: "Eu publico isto para glória de Génova". A sua publicação coincidiu com as manobras da ladroagem italiana em torno do
Testamento de Colombo.
A
obra está povoada de "espanholismo", "italianismo",
erros, adulterações e falsificações.
O próprio nome do autor foi adulterado, em vez de Hernando
Colón ( o seu verdadeiro nome) aparece Fernando Colombo.
Os
erros e incongruências são particularmente notórias até ao capítulo XV, em
que é feita a biografia de Colombo, onde se pretendeu fundamentar a sua origem italiana.
Os restantes capítulos ( XVI a CVIII), centram-se na descrição das quatro
viagens.
Não deixa de
ser surpreendente que apesar das mutilações a leitura da obra coloca em causa
a biografia oficial de Colombo.
Bartolomeu
de las Casas serviu-se desta obra, no final da vida, para escrever a sua
biografia de Colombo, tendo todavia introduzido bastantes alterações.
Mentiras
e Mutilações
No
final dos século XIX quando se começou a analisar esta biografia, não
tardaram a aparecer investigadores que afirmaram que a mesma era falsa. Desde
então tem-se acumulado as provas de mutilações e falsificações dos XV
primeiros capítulos, levando vários investigadores a negarem a sua
autenticidade.
Principais
Mentiras:
-
A origem romana de Colombo.
-
Os seus estudos superiores em Pavia (Itália).
-
A história da chegada de Colombo a Portugal, em 1485, envolvendo um combate ao
lado de Colon o Moço, ao largo do cabo de S. Vicente, contra galeras
venezianas.
-
O alegado ódio de Colombo a Portugal
-
A história da revolta da tripulação na primeira viagem
-
Os testemunhos de um marinheiro cego de um olho e de um Pero Velasco, galego,
destinados a ocultar as viagens de Diogo Teive à Terra Nova.
-
A história das "ilhas flutuantes", onde faz referência da
passagens de obras inexistentes (4). O seu objectivo foi neste caso desacreditar
as ilhas que António Leme havia descoberto a ocidente da Madeira.
-
Mistura a história da viagem do "Piloto Anónimo" de Oviedo com a de
Vicente Dias de Tavira, de modo a confundir ambas (5).
- Atribui
a Colombo a crença absurda que os portugueses nunca tinha navegado 100 léguas
para ocidente dos Açores (5), apresentado depois factos que contradizem esta
afirmação (7).
-
A proibição do Psalterium decretada pela Senhoria de Génova (8), não passa
de uma mentira.
-
Afirma que Colombo estava viúvo quando saiu de Portugal. A sua esposa Filipa
Moniz Perestrelo só faleceu em 1497.
-
A localização de Palos em Portugal
- Tentou passar a ideia de
que Toscanelli e Colombo se teriam correspondido através e um florentino -
"Lorenzo Girardi" (sic) - que vivia ou residia em Lisboa. Trata-se de uma
falsidade, partilhada por Las Casas, para tentar associar Colombo a Itália,
desorientando os investigadores.
Mutilações:
-
A viagem à Terra Nova ( "Terra di bacalaos", sic) de Fernão Dulme (Femaldolmos)
é enunciada a sua descrição, mas a mesma desapareceu do texto. Estamos
perante uma clara mutilação de forma a ocultar esta expedição
portuguesa à Terra Nova, a partir dos Açores (1487).
- Procura confundir a identidade de Pero Vasquez de
Fronteira, dizendo que era de Palos Moguer em Portugal.
A
maioria dos historiadores que defendem a autenticidade deste texto, afirmam que
estas mentiras e mutilações tiveram como objectivo ocultar a identidade de
Colombo e valorizar a sua descoberta.
Autores das Mentiras e
Mutilações:
- Rumeu de Armas foi o
primeiro a identificar com rigor dois autores diferentes da Historia del
Amirante.
- Geoffrey Symcox, na
análise publicada no Repertorium Columbianun identifica cinco
mãos diferentes.
Ideias
incontornáveis dos XV primeiros capítulos:
-
Nobreza. Recusa a possibilidade do mesmo ser de origem plebeia.
-
Nome: Colón significa "membro" de uma Ordem/irmandade.
-
Fontes Italianas: Os italianos são uns aldrabões, o que afirmam sobre Colombo
é falso.
-
Formação e Experiência. As únicas referencias concretas que faz sobre a formação
teórica e prática de Colombo estão sempre ligadas a Portugal. Nenhuma envolve
qualquer parte de Itália. |
Cosmógrafo
e Examinador de Pilotos
Hernando
Colón, era apontado como o herdeiro do saber cosmográfico de Colombo, sendo
particularmente escutado pela corte espanhola.
A
sua concepção do mundo correspondia àquela que Colombo defendera em 1487,
junto da corte castelhana para a convencer a apoiar a sua viagem: As Indias
faziam parte da Ásia, não existia nenhum novo continente. As dimensões
do mundo eram muito reduzidas.
Apesar
de todas as evidências em contrário, continuou a defender ao longo dos anos
uma concepção do mundo ultrapassada.
Junta de Badajoz. Assim
aconteceu em 1524, durante as conversações entre Portugal e Espanha sobre
a posse das Ilhas Molucas, que tiveram lugar em Badajoz.
Os negociadores portugueses, trataram
de afastar logo o único representante de Espanha que sabia de cosmografia - o
português Simão de Alcáçovas.
Hernando
Colon, assumiu então as negociações, apresentando os cálculos do seu pai.
Neste sentido continuou a dizer que o valor do grau equivalia a 56 milhas e dois
terços, o que dava 14 léguas e dois terços. As suas referências geográficas
continuavam
a ser as de Ptolomeu, Alfragano, Marco Polo, etc., um completo delírio. Produziu
três memorandos sobre a questão das Molucas.
Apesar das posições disparatadas que
assumiu na Junta de Badajoz, a verdade é que as suas posições iam ao encontro
dos interesses de Portugal, dado que dilatavam a questão no tempo:
Considerava que não bastava
assinalar num mapa o meridiano, havia que marcar nas próprias ilhas das Molucas,
o local onde passa o meridiano (14). Uma posição que para os espanhóis
representava um verdadeiro desafio: atravessar o Oceano Pacífico, o que depois
da travessia de Fernão de Magalhães (1521), só o conseguiram fazer em 1565.
Carlos V acabou por o afastar da
Junta de Badajoz.
Os negociadores portugueses
cedo se aperceberam que estavam a lidar com ignorantes, chefiados por um ignorante (10),
e que o problema só podia ser resolvido em termos políticos, não
científicos. Uma posição era aliás partilhada por Hernando Colon.
Sebastián
Caboto, piloto maior da Casa da Contratação de Sevilha, entre 1526 e 1530
empreendeu uma expedição às Molucas, que terminou de forma trágica no Rio da
Prata. Após o seu regresso foi preso em Madrid (1530) e depois desterrado para
Oran.
Mapa-Padrão. Dada
a ausência de Caboto, o imperador Carlos V,
em 1526 (Granada, 6/10/1526), encarregou Hernando Colon de rever o
"mapamundi", isto é, o mapa padrão que servia de base a
todas as cartas de navegação espanholas, assim como de incluir no mesmo os
seus domínios. Como era evidente, Hernando Colon nada
sabia de cosmografia, razão pela qual o seu trabalho nunca foi concluído.
Carlos V teve
que recorrer a cosmógrafos portugueses, como Alonso de Chaves ou Diogo
Ribeiro,
para realizar o trabalho que Hernando Colon se mostrou totalmente incompetente.
O mapa padrão só foi elaborado, em 1529, por Diogo Ribeiro, e ainda existe na casa da Contratação de Sevilha.
Exame de Pilotos. O
Conselho das Indias, a 2/8/1527, mandou que estes portugueses, pilotos da Casa
da Contratação, fizessem também o exame do novos pilotos. Alguns historiadores
espanhóis espanhóis, afirmam que os portugueses se serviram nestes exames da casa de Hernando Colon (11),
o que constitui outro completo disparate.
Pleitos
Colombinos
A família Colombo entre 1500 e 1536, desenvolve uma verdadeira guerra judicial contra a
Corte Espanhola, reclamando para a os privilégios e títulos hereditários que
tinham sido dados a Colombo em 1492, confirmados em 1493 e 1497,
consumindo nas batalhas judiciais grande parte da fortuna familiar.
Após a morte de Colombo, em 1506, os seus filhos
prosseguiram nesta luta.
Em consequência do casamento
de Diego Colon, com Maria de
Toledo, em 1508, o rei Fernando
de Argão nomeia-governador das Indias, mas não
vice-rei.
A família Colombo instaura um novo
processo contra a corte espanhola (1508-1511). Hernando Colon, em representação do seu irmão,
irá fazer desta luta judicial um dos principais objectivos da sua vida,
desenvolvendo uma vasta argumentação, que assentava na seguinte tese: - Os privilégios de Colombo resultavam de um
contrato com a Corte espanhola, e como tal as condições do contrato obrigavam ambas as partes,
e não apenas
uma. A sentença dada pelo "Consejo Real en Sevilla", a
5/5/1511, constitui uma pequena vitória: Diego Colon recebia 1, 5 milhão de
maravedís; Hernando Colon, uma encomienda de 300 indios na Hispaniola, cujos
rendimentos passa a receber em Espanha; Fradique de Toledo, o Duque de Alba, tio
de Maria de Toledo recebia 1 milhão de ouro das Indias... Diego Colon acabou
também por ser integrado na dignidade de Almirante.
Hernando Colon, entre 1512 e 1516
esteve em Roma, a tratar do problema levantado pela amante de Diego Colon, para
anulação do seu casamento com Maria de Toledo. Mais É também provável que andasse a
informar o papa da necessidade de expulsar os espanhóis das Indias, como
defendia em 1502 o seu pai, e o fazia Las Casas.
Regressou a Espanha, em 1516, quando
Fernando de Aragão e regente de Espanha faleceu.
Em 1516 e 1517, apresentam
uma proposta para colocar a " Audiencia Real em Santo
Domingo, sob a alçada de Diego Colón, mas a mesma foi rejeitada. O Pleito de
Darién acaba em 1518.
Em
1519 Diego Colón e Bartolomé de Las Casas, elaboram plano que apresentaram à
corte para povoarem um vasta região da Terra Firme. Hernando Colón, aconselha
o irmão a pedir a governação perpétua desta região. A proposta foi
rejeitada.
Em 1523-24,
defende o seu irmão Diego Colon das gravíssimas acusações que lhe são
feitas de ter abusado do poder nas Indias ( 1521- 1522).
Em 1524
a corte pretendeu abrir um processo global contra Colombo, para
averiguar quais os motivos que tinham levado á sua prisão em 1500. Hernando Colon e a sua família tratou de fazer desaparecer este processo.
Depois
da morte de Diego Colon, em 1526, a influência de Hernando Colon parece ter
diminuído no seio da família.
Em 1532-1536, a corte espanhola contra-ataca,
apoiando-se na família Pinzon, pondo em causa a primazia da descoberta de
Colombo. A família de Colombo é obrigada, a 28/6/1536, a ceder grande parte dos seus privilégios,
mas a guerra judicial prossegue.
Subornos. Hernando
Colon nestas lutas judiciais não olha a meios para atingir os fins, nomeadamente
mentindo e subornando todos os que pode.
Carlos
Fontes
Início . Anterior . Próximo |