As Provas do
Colombo Português
16. Nobre em Fuga
Colombo
foi para Espanha, em princípios de 1485, numa altura que
vários nobres portugueses eram acusados de
conspirarem contra D. João II, e também fugiram de Portugal. As conspirações
de 1483 e 1484 envolveram as duas principais casas da nobreza de Portugal: Os
Duques de Bragança e os Duques de Viseu-Beja, ambos familiares de Isabel,
rainha de Castela e do próprio Colombo.
Os
reis espanhóis não tinham dúvidas sobre a sua origem e estatuto social, e
nesse sentido, sem ter descoberto nada ao serviço de Castela ou Aragão,
trataram desde logo de lhe dar uma tença.
Estamos perante um
nobre português em fuga que se transformou com o tempo num espião ? Ou um espião
de origem nobre que aproveitou a circunstância para se infiltrar entre os
exilados portugueses em Castela ?
Fuga ?
Hernando
Colón não sabendo ou não querendo dizer a razão porque Colombo saiu de
Portugal afirmou que a fuga tinha sido precipitada. As suas
palavras são muito claras a este respeito.
Uma história que se
enquadra na perfeição com a situação política vivida pela alta nobreza em
Portugal.
Sobre
esta fuga convém recordar o seguinte:
a
) Colombo quando saiu de Portugal, deixou aqui mulher e pelo menos um filho.
Trata-se de uma exigência que D. João II fez igualmente a outros
conspiradores, como Alvaro de Bragança que se exilou também em Castela
.
Desconhecemos
as circunstância em que Dona Filipa
Moniz Perestrelo e um dos filhos vieram depois a falecer. Talvez esteja aqui a
razão porque continuou a visitar Portugal, e da carta de D. João II, datada de
1488, onde afirma o perdoa quanto aos casos que tinha pendentes em Portugal.
b)
Onde se refugiou Colombo na
Andaluzia?
Onde de refugiou, se é que o
fez, é uma questão que continua a suscitar alguma polémica. Não restam dúvidas
que foi para junto de portugueses exilados na Andaluzia, mas quais?
Hipóteses:
- Foi para casa da sua cunhada
Briolanja Moniz
em San Juan del Puerto (Huelva), em
casa da qual sempre viveu em Castela/Espanha. Tudo leva a crer que o tenha
feito, embora se tenha ausentado algumas temporadas.
- Procurou refugiu, como outros
nobres portugueses exilados, em casa do
Duque de Medinaceli
- Luis de la Cerda y Mendonza (1443-1501), em casa do qual terá ficado,
dois anos, entre 1483 e 1486 . O encontro terá ocorrido no
Puerto de Santa María- Cádiz
(33). Recorde-se a ligação deste
duque ao
Conde de Faro, um dos principais
conspiradores de 1483. A carta do Duque aponta para que o tenha feito entre 1483
e 1486 (31), Bartolomé de las Casas, aponta para uma data posterior. Os
historiadores espanhóis não se entendem sobre a data em que Colombo ficou
alojado em casa do Duque, durante dois anos (32).
Colombo terá então tentado convencer
o Duque de Medinaceli a financiar a expedição, mas após ter
avaliado as enormes suas elevadas exigências que lhe eram propostas,
remeteu o assunto para os reis católicos. Apesar disso, como vimos, alojou-o
durante dois anos (1484-1485?).
- Foi para Sevilha para a casa de
outros conspiradores portugueses, como a da sua sobrinha, a
marquesa de Montemor-o-Novo ?.
c
) Não houve nenhuma fuga precipitada de Colombo. Ádám Szászdi
Nagy ( 2 ),
baseado numa analise rigorosa da documentação da época sustenta que não foi sozinho para Castela, mas
sim
acompanhado do primo-irmão da sua
mulher - D. Pedro de Noronha, mordomo -mor e comendador da Ordem de
Santiago, em fins de Junho de 1485.
D. João II encontrava-se neste mês em
Santiago do Cacém, e enviou então uma embaixada de obediência ao papa
(Inocêncio VIII), que integrava para além do embaixador anterior, o doutor
Vasco Fernández de Lucena ( 3 ) e Ruy de Pina, como secretário. A
embaixada terá se dirigido para Mértola (antiga sede da Ordem de Santiago) e
dali para Castro Marin (antiga sede da Ordem de Cristo). Atravessaram a
fronteira, seguiram para Huelva, Palos/Moguer e dali para Sevilha.
A
embaixada seguiu depois Córdoba a caminho de Roma, no regresso voltou a passar
por esta cidade. Onde
terá ficado Colombo? - Em Huelva, Sevilha ou em Córdova ?
1.
Itinerário em Castela (1485-1492)
A
região procurada por Colombo foi tudo mesmo ocasional.
San Juan del Puerto (Huelva) - Moguer - Palos.
Quando saiu de Portugal dirigiu-se ao encontro da sua cunhada -
Briolanja Moniz - que desde
1484 vivia em San Juan del Puerto. Foi aqui que deixou o seu filho primogénito
- Diego Colon.
É de todo improvável que o tenha deixado ao cuidado de
Frei João Peres de Marchena,
no convento de La Rabida (Palos),
como escreve Lopez Gómara.
A prévia presença dos familiares
da sua esposa nestas localidades, indicia que estamos perante uma fuga planeada.
A
proximidade desta povoação a Castro Marim, onde a Ordem de Cristo, tinha uma
importante fortaleza reforça a mesma convicção.
Briolanja Moniz estava ligada aos
conspiradores de 1483/4, que atentaram contra D. João II, pelo que provavelmente
fugiu com o marido para Castela, onde o Duque de Medina Sidónia lhe arrendou uma
vasta propriedade com vários quilómetros de extensão entre San Juan del Puerto e
Trigueiros.
Cordova - Sevilha.
O seu itinerário em Castela, no ano de 1485, continua ser objecto de controvérsia.
Hernando Colon e Las Casas referem
que
Colombo partiu de Huelva para Córdoba, onde estaria a corte dos reis católicos.
Sabemos que a corte permaneceu em Sevilha de 2/10/1484 a 25/2/1485 (25), e
devido à peste, se mudou em Março de 1485 para Córdoba (23), onde se manteve até
cerca de Outubro deste ano, quando partiram para a fronteira de Granada.
Foi durante este período que D.
João II, em Julho de 1485, enviou a Córdoba um embaixador - Fernando da
Silva Meneses (29) - a solicitar aos reis católicos para que deixassem de dar
apoio aos exilados portugueses que haviam ido para Castela (28), pedido que foi
recusado. A escolha deste embaixador é muito significativa, dado o mesmo
ter estado envolvido na assinatura do Tratado de Alcaçovas-Toledo (30). Este facto
revela, só por si, a preocupação de D. João II com um novo exilado português...
Embora Las Casas (cap.29), afirme
que os primeiros contatos com membros da Corte começaram a 20/1/1485,
a corte estava então em Sevilha e não em Córdoba.
Colombo, em Sevilha, contava com
apoio de familiares portugueses, como a
marqueses de montemor ,
Alvaro de Bragança ,
Condes de Odemira,
mas de muitos outros exilados portugueses.
Las Casas refere os
nomes de pessoas a quem foi apresentado o projecto:
- Hernando de Talavera, prior
do Prado, frade jerónimo e depois arcebispo de Granada. Mais
<
- Pedro Gonzáles de Mendonza,
arcebispo de Toledo, e depois cardeal. Mais
- Luis de Santángel,
aragonês, escrivão da fazenda na Corte. Mais
- Diego de Deza, frade
dominicano, depois arcebispo de Sevilha. .
Mais
- Juan Cabrero (Saragoça,
1440-1514), aragonês,
camareiro mor do rei Fernando de Aragão. Mais
- Gutierre de Cárdenas y
Chacón ( -1503),
comendador mayor de León da Ordem Militar de Santiago. Mais
Em todo o caso, terão sido estes os
primeiro a apreciar o
projecto de Colombo. Las Casas não consegue esclarecer como é que Colombo acedeu a este
grupo de pessoas, mas a verdade é que os mesmos limitaram-se a protelar o caso.
Vida de Corte.
Las Casas afirma que depois de Janeiro de 1485, Colombo passou a andar com a
Corte dos reis católicos (Cap.29), durante "más de cinco años, sin sacar
fruto alguno."
Apesar disso, em 1485, ainda arranja
tempo para vir a Lisboa, encontrar-se com o D. João II e o mestre José Vizinho.
A primeira audiência com os reis católicos terá tido lugar a 20 de Janeiro de 1486, em Alcalá de Henares, depois de
ser ouvido pelo Real Conselho de Espanha, do qual fazia parte desde Março de
1485 - Alvaro de
Bragança. O
seu projecto continuou a ser estudado, sem que houvesse qualquer decisão.
Salamanca.
Entre Novembro de 1486 e Janeiro de 1487, teria exposto
a sua ideia a uma "Junta" de
sábios de Salamanca, a qual faziam parte entre outros,
Abraham Zacut,
astrónomo e
Diego de Torres,
professor de astrologia. Teria ficado
hospedado na Convento Dominicano de Santo Estevão (San Esteban). Não existe
documentação que sustente esta deslocação a Salamanca, a única coisa que se sabe
é que os reis católicos estiveram nesta cidade durante este período (24).
Córdova. Desloca-se, em 1487, a Córdoba para se encontrar com a
rainha. Apesar de não haver
qualquer decisão, passa a receber uma tença (5/5/1487). Durante esta curta
estadia conhece a sua amante
Beatriz Aranha, mãe de Hernando Colon.
Sevilha.
Por volta de 1488, segundo Las Casas, começou a fixar-se em Sevilha, onde viviam os seus ricos
parentes ligados à Casa de Bragança (14)
Contactos que se revelaram desde logo
decisivos, pois foi sempre recebido pelos grandes senhores de
Castela.
Entre finais de Abril e Julho de
1488, desloca-se a Múrcia
para tentar encontrar-se com os reis católicos, os quais estiveram nesta cidade
de 26/7 a 28/7/1488, antes de deslocarem para Valladolid. Colombo terá conhecido
em Múrcia, o cristão-novo - Luis de Torres (interprete na 1ª viagem) e
Juan Cabrero, camareiro-mor de Fernando de Aragão (21).
Em fins de 1488, desloca-se a
Lisboa, para se encontrar com D. João II. O rei,
em Março, respondendo a cartas do seu
"especial amigo" , autorizou-o a visitar Portugal, continuando a animá-lo para que
persistisse em convencer os reis católicos a apoiarem a sua viagem.
Colombo anda desesperado, a Corte
espanhola nada decide sobre o seu projecto. Os
reis católicos, a 12 de Maio de
1489, concedem-lhe um privilégio especial, ordenado que em toda a Espanha lhe
fossem garantido alojamento e alimentação em condições condignas à sua condição.
A nova reunião termina inconclusiva, ficando o assunto de ser estudado, uma vez
mais a cargo de Hernando de Talavera.
Graças à influência da comunidade
portuguesa em Sevilha, entra em contacto com o Duque de
Medina Sidónia -Enrique de Guzmán (Las Casas, cap.30). Contactou também o
marquês de Cádiz - Rodrigo de León, mas ambos estavam sem recursos para o
apoiarem devido à guerra com o Reino de Granada.
É provável que quando a corte
espanhola residiu, em 1490, na cidade de Sevilha, Colombo fosse informado das
conclusões negativas da comissão de Hernando de Talavera.
Andrés Bernáldez (Memórias,p 270),
apresenta outra versão dos factos: afirma que os reis católicos se mostraram
interessados no projecto de Colombo, mas razões não explicadas os impediam de o
autorizar.
Palos.
Após a morte do principe português - D. Afonso (Julho de 1491), abrem-se novas
condições para que o projecto de Colombo pudesse avançar. Regressa a Palos, onde
se encontra com Frei Juan Peres de Marchena. Este escreve à rainha, ainda em
Julho de 1491, insistindo para que receba Colombo, autorize a viagem e concordo
com as suas exigências. A rainha recebe frei Juan Peres em Santa Fé.
Santa Fé.
Os reis católicos, instalam-se num
acampamento improvisado em Santa Fé, em julho de 1491, para o último assalto à
cidade de Granada. Muitos portugueses estão envolvidos nesta guerra. D. João II,
rei de Portugal, fornece inclusive pólvora. A cidade capitulou a 2 de Janeiro de
1492.
Colombo, em finalmente recebido pela
rainha Isabel, em Setembro de 1491, em Santa Fé. Para as despesas de viagem e
compra de novas roupas, recebe 20.000 maravedis. Inicia-se uma nova apreciação
do projecto e as suas enormes exigências. O problema central está agora nas
exigências de Colombo, próprias de um grande senhor medieval. Opõe-se-lhe
Hernando de Talavera e os seus
partidários (Las Casas, cap. 31, Hernando Colon, cap.XIII).
Entre Janeiro e Março de 1492, é
informado que o seu projecto fora de novo recusado. Decide então partir para
Córdova, mas eis que a rainha decide autorizar a viagem e concordar com as suas
exigências. Hernando Colon atribui a decisão da rainha à intervenção de Luis
de Santángel e a outros, que não nomeia (Cap.XIV). Las Casas
(cap.32), atribui toda a responsabilidade a Santángel, inventado um longo
diálogo entre ele e a rainha e a célebre historieta das joias. O seu objectivo,
parece ser, o de dar credibilidade a uma decisão que escondia outros e
outros motivos.
Colombo que se encontrava a duas
léguas de Granada, na puerta de Pinos, foi mandado chamar e recebido de novo
pelos reis. Em Abril de 1492 eram estabelecidas as capitulações de Santa Fé.
2. Estatuto
Ao
contrário do que se procurou fazer crer, Colombo ainda
sem ter feito qualquer descoberta ao serviço de Espanha, já desfrutava do estatuto
de Alta Nobreza.
Entre 1484 e
1492 foi oficialmente reconhecido como um
nobre:
a) Tenças Reais.
1486:
É recebido em audiência pelos reis
católicos no 20 de Janeiro de 1486, no palácio arcebispal de Alcalá de Henares,
residência do cardeal
Mendonza (34), depois de
ser ouvido pelo Real Conselho de Espanha, do qual fazia parte desde Março de
1485 - Alvaro de
Bragança (12).
1487:
5 Maio - 3.000
maravedis (em
Córdoba) (7);
3
Julho: 3.000 maravedis, "para ayuda de costa" (9)
27 de
Agosto- 4.000, para ir al Real (Málaga) a mando de suas altezas. No
livro de registos referem-se outras quantias anteriores pagas. (8)
18
de Outubro - 30 doblas (c.26.100 maravedis) (10)
1488:
16
Junho- 3.000 meravides. "por cédula de sua alteza" (11).
É
provável que também tenha recebido mais, mas não nos esquecemos que Colombo esteve
em Lisboa neste ano. (11)
1489:
12 de Maio, os reis católicos concedem-lhe um privilégio
especial, ordenado que em toda a Espanha lhe fossem garantido alojamento e alimentação
em condições condignas à sua condição ( 1 ).
1491:
Julho
- Isabel, a católica, após ter sido contactada por Frei Peres de Marchena
(português), manda-lhe dar 20.000 maravides em florins.
1492:
Colombo foi nomeado "Almirante
do Mar Oceano", acontece que
neste mesmo ano, um "Almirante
de Portugal", cujo nome não é
revelado, recebeu de Isabel, a Católica - 60.000 maravides
( 5).
Trata-se de uma das mais importantes descobertas dos últimos anos ( 6 ),
pois estamos perante mais uma prova da identidade portuguesa de Cristovão
Colombo.
O dinheiro para Colombo
nunca faltou, o que é um caso extraordinário se tivermos em conta que nesta altura os cofres da Corte
Espanhola estavam vazios devido à guerra para conquista do Reino de Granada.
b
) Dom.
Só um nobre podia ser tratado como "Don" (me espanhol), ora ele foi desde o início tratado como tal.
Num documento datado de 1486 é este o tratamento que lhe é dado. As
exigências que Colombo impôs à Corte Espanhola, para lhes dar as Indias eram
a prova de alguém que mais do que dinheiro ambicionava ser um rei nos
seus territórios (Capitulações de 17/4/1492 e Acta Jurídica de 30/4/1492).
c
) Cavaleiro das Esporas
Douradas . Uma das
muitas exigências de Colombo foi ser armado cavaleiro de esporas douradas
pelos próprios reis católicos, um grau da cavalaria que só era concedido a
fidalgos. Para o seu filho Diego Colón, procurou que o mesmo fosse armado
cavaleiro da Ordem do Tosão do Ouro. Recorde-se que o seu secretário
particular - Diego Mendéz de Segura - , foi também armado cavaleiro das
esporas douradas pelo rei D. Fernando de Aragão. -
d)
Almirante, Vice-Rei, Governador.
Colombo exige o estatuto próprio da alta nobreza, apenas acessível em Espanha
aos filhos primogénitos de reis.
d
) Brasão.
Colombo usava um brasão entre 1484 e 1493. Os reis espanhóis a 20 de Maio de 1493, concedem-lhe um
novo brasão, permitindo que este mantivesse o seu antigo Brasão. Foi nesta
altura nomeado cavaleiro das esporas
douradas.
e
) Criados. Uma
das primeiras preocupações de Colombo na sua primeira viagem foi constituir
uma verdadeira corte para o servir, na segunda viagem pretendeu constituir uma
guarda pessoal, etc. Entre seu os muitos criados, contam-se etre muitos outros,
os seguintes: Diego
Mendez de Segura (secretário particular), Pedro de Terrerros (Mestre
Sala, na 1º. e 2º. viagem, e depois capitão), Pedro de Salcedo (pagém
de Colombo), Pedro de Arroyal, Alvaro Peres de Meneses, Francisco Barrasa,
Diego Tristão, Diego de Escobar, Juan Cerón, Diego de Cañizares, Martin de
Lanuza, etc (19).
Estão
identificados dezenas de criados, o que diz bem dos hábitos que
possuía.
f
) Salvo conduto
(colectivo). Em Setembro
/Outubro de 1488 Colombo veio para Lisboa onde permaneceu até ao ano seguinte.
A 12 de Maio os reis católicos concedem-lhe um salvo conduto para entrar em
Castela e dirigir-se à Corte, obrigando aqueles onde passasse a darem-lhe
alojamento e comida. A particularidade deste salvo conduto é que ele não se
destina apenas à sua pessoa, mas abrange também os seus criados e acompanhantes (4
). Estamos perante um nobre e não um pobretanas, como afirmam as historietas
correntes.
g
) Pagens.
Ainda antes da sua primeira viagem à América já o seu filho Diego Colon
(português) tinham sido nomeado pagem do futuro rei de Espanha.
O seu filho ilegitimo Hernando Colon foi mais tarde também nomeado pagem
do principe espanhol.
h
) Irmãos nobres.
Não foi apenas Colombo que tinha o estatuto de nobre, mas também os seus dois
irmãos que eram reconhecidos como tal.
A
20 de Maio de 1493, os seus
dois irmãos - Diogo e Bartolomeu -, por mercê real foram considerados "fidalgos
e cavaleiros", sendo-lhe concedida a dignidade de usarem "Dom".
Nenhum deles tinha feito qualquer descoberta ou prestara qualquer serviço à
Espanha. Bartolomeu nem sequer estava neste país, ainda se encontrava em França
O
estatuto de Colombo em Espanha não era de um tecelão italiano, mas
de um nobre fugido de Portugal. Nenhum nobre
espanhol contestou a forma de tratamento que recebia, nem a nobreza da sua família.
Andou quase sempre em viagens e nunca lhe faltaram recursos para o
fazer.
3. Antecedentes
Colombo quando chegou a Castela,
estava longe de ser um desconhecido para a rainha Isabel, dita "a católica".
É provável que à semelhança de
muitos outros corsários portugueses
tenha ido para a Catalunha, em 1464, para defender a causa de D. Pedro,
Duque de Coimbra e Condestável de Portugal, quando este se tornou rei da
Catalunha e de Valência.
Após a sua morte de D. Pedro, como
muitos outros por lá terá ficado, passando a defender a causa de Renato d`Anjou
contra Juan II de Aragão, pai do futuro rei - Fernando de Aragão. O seu
objectivo era, neste caso, ajudar a anexar a Catalunha à França, evitando a sua
união a Castela. Mais
É com grande orgulho que refere que,
em Outubro de 1472, foi a Tunes aprisionar uma galera do rei de Aragão,
tendo inclusive enganado a tripulação sobre o seu verdadeiro destino.
É também muito provável que, em
1475, tenha sido enviado pela Duquesa de Beja-Viseu - D. Brites -, a Castela
para negociar secretamente um acordo com a rainha Isabel. Colombo faz
explicitamente referência a este serviço.
Mais
Estamos, perante factos que a rainha
Isabel certamente conhecia.
Face a antecedentes Fernando de
Aragão irá procurar controlar os movimentos de Colombo, através de um conjunto
de subditos aragoneses como o camareiro Juan Cabrero, o secretário
Juan de Coloma,
o escrivão da fazenda Luis
de Santángel e o seu aliado Gutierre de Cárdenas . Não é por acaso
que a única cópia existente das capitulações de Santa Fé, tenham sido
encontradas nos arquivos de Aragão.
4. Protegido da rainha
A
maioria dos historiadores está de acordo num ponto: a Rainha Isabel, a
Católica (1451-1504) protegeu Colombo. Há um dado fundamental que
raramente é referido: Esta rainha de Castela e Leão,
a primeira de Espanha (país criado em 1492) era filha de
uma infanta portuguesa - D. Isabel de Portugal ou Isabel de Avis (1428-1496),
também rainha de Castela e Leão. Na sua corte viviam muitos nobres de
origem portuguesa.
Isabel de Portugal, filha de João de Portugal (1400 – 1442) e de
Isabel de Bragança (1402-1465), tinha enormes afinidades físicas com Colombo,
nomeadamente cabelos ruivos. Pelo lado paterno, à semelhança de Colombo,
estava intimamente ligada ao Alentejo e à Ordem de Santiago de Espada, em
particular à sua sede em Alcácer do Sal.
Isabel,
a Católica, filha de uma portuguesa (Isabel de Portugal), criada por uma ama
portuguesa (Maria Lopez) (26), aprendeu deste criança a falar português (27).
Era bisneta do
1º. Duque de Bragança e trineta de D. Nuno Alvares Pereira (condestável de
Portugal) e de D.João I. Na sua corte contou sempre com muitas damas
e nobres portugueses, alimentando a sua ligação familiar à Casa de Bragança (13), onde
Colombo possuía vários parentes. Se
tivermos em conta este
contexto não admira que o tenha apoiado, mesmo sem nada descobrir para Castela:
-
Em Maio de 1487 mandou-lhe dar uma tença, que lhe
permitiu viver folgadamente e viajar pela Espanha. O que continuou a fazer anos
seguintes, sendo-lhe concedidos privilégios excepcionais (1489). O
problema é que o seu projecto fora entregue a uma Comissão que não lhe deu
andamento, porque a própria rainha de Castela, também não o pretendia.
-
Em Julho de 1491 ao saber da morte do seu genro, o Principe D.
Afonso de Portugal, e que D.Manuel, Duque de Beja, senhor de Viseu, das Ilhas
Atlânticas e mestre da Ordem de Cristo se tornara o herdeiro da cora de
Portugal, predispõem-se a apoiar o projecto de Colombo.
Frei João Peres de Marchena (português),
aproveita a conjuntura, e faz saber a Isabel, do desânimo de Colombo. Em 15
dias, a rainha castelhana, toma o assunto nas suas mãos,
afasta do processo a Comissão nomeada em 1486 para o estudar, manda
entregar-lhe mais dinheiro e ordena que se passe a negociar apenas as exigências de
Colombo (títulos, etc).
Alguns historiadores associam esta mudança de atitude da rainha a um suposto
segredo que Colombo terá contado ao Frei Peres de Marchena e que este, por sua vez,
contou à rainha na carta que lhe enviou. Qual seria o segredo ? Este frade terá
dito que Colombo já havia estado ao serviço de Portugal nas Indias (América),
e que
tinha provas que os portugueses já lá haviam estado ( 2 ).
A Minuta
das Capitulações (17/4/1492) é clara neste ponto: Colombo já conhecia as
Indias, a viagem que pretendia fazer tinha como objectivo dá-las aos reis de
Espanha.
A
verdade é que a longa hesitação da rainha de Castela, durante 7 anos,
pretendeu-se com uma questão mais importante em termos políticos: Aquando da
Celebração do Tratado de Alcáçovas, em 1479, ficara acordado que o principe
herdeiro de Portugal se casaria com a sua filha mais velha, o que de facto veio
a acontecer em 1490.
Se
aceitasse a proposta de Colombo, estaria a alimentar as desconfianças entre os
dois reinos ibéricos. Este era para todos os efeitos um traidor, pois fugira
para Castela, por estar aparentemente envolvido na conspiração contra D. João
II, chefiada pelo Duque de Beja e Viseu - D. Diogo.
A
ideia de Colombo interessava também a esta casa ducal, pois afastava os
castelhanos dos seus domínios: as ilhas atlânticas e as ricas costas da
Guiné.
A
morte do principe português, em Julho de 1491, alterou o quadro da situação:
D. Manuel, Duque de Beja e senhor de Viseu, irmão do D. Diogo, tornou-se no
herdeiro do trono de Portugal. A Rainha de Castela não tinha
agora
qualquer impedimento para avançar com um projecto acarinhado pelos seus
parentes portugueses: os Duques de Viseu-Beja e os Duques de Bragança.
Meses depois partia para a América a 1ª. Expedição.
Isabel, a católica tinha na corte então um apoio fundamental:
Alvaro de Portugal,
Governador da Justiça e presidente del Consejo Real de Castilla.
-
Em Setembro de 1491, Colombo é recebido pela rainha, acompanhada de um
grupo de pessoas do alto clero e nobreza espanhola. O assunto volta a não ter
grande abertura na Corte, mas a rainha não desiste. Em Janeiro de 1492
convida-o a assistir á queda de Granada, numa posição própria da alta
nobreza, e apesar de alguma hesitação foi decidido avançar com a viagem,
nomeadamente porque apareceu desde logo quem a financiasse.
O problema mais
complexo das negociações, prendia-se com as desmesuradas exigências de
Colombo, mas mesmo assim estas acabaram por ser todas satisfeitas (Minuta das
Capitulações de Santa Fé, 17 de Abril de 1492 e Acta Jurídica,
30/4/1492).
Isabel,
a Católica ao proteger Colombo estava também a proteger um dos seus parentes,
por isso não teve dúvidas em lhe dar o tratamento de nobre mal ele chegou a
Castela em 1484. Recorde-se que a neta de Colombo (Isabel Colon ), cujos descendentes foram os herdeiros dos
seus títulos, fez questão de se re-ligar aos descendentes
directos Casa de Bragança, e em particular ao ramo que ostentava o nome de D.
Nuno Alvares Pereira.
A
legenda do brasão de Colombo (1493), revela esta ligação privilegiada a
Isabel, a Católica ao explicitamente afirmar que o Novo Mundo por si descoberto
foi dado a Leão e Castela, ignorando o Reino de Aragão.
5. Ocultação da Identidade
Não
restam dúvidas que os reis católicos conheciam a verdadeira identidade de
Colombo. Condescenderam com a mudança do seu nome e até mesmo com a sua
alegada origem italiana, uma ideia que já circulava na corte espanhola em 1496.
Provavelmente esta seria a melhor forma de o proteger, algo que faria todo o
sentido se o mesmo fosse um nobre português em fuga. Outros, como vimos,
fizeram o mesmo.
No
entanto, em documentos oficiais, sempre recusaram a que ficasse escrito que o
mesmo era genovês, milanês ou de outra qualquer região de Itália. Foram ao
ponto de corrigirem o seu embaixador em Londres que pensava ser esta a origem de
Colombo. A origem dos seus irmãos também não consta em nenhum documento da
corte espanhola. Este era um segredo de Estado.
Ao
longo de todo o século XVI, a Corte Espanhola chegou a condenar Génova pela
falsificação de documentos que estava a produzir sobre a origem de
Colombo, mas nunca revelou a sua verdadeira identidade.
Os
juízes espanhóis que analisaram caso tiveram a clara noção que estavam
perante uma enorme mentira. Neste sentido, em princípios do século XVII
recusaram-se a admitir que o mesmo
fosse sequer italiano.
Apesar
disto, parece evidente que se fez passar por italiano, assim como os seus próprios irmãos.
Como já dissemos, Colombo, assumiu como suas a origem da esposa. Filipa Moniz Perestrelo - tinha raízes italianas, cujo avô
Palestrelli, por volta de 1380,
se mudou de Piacenza para Lisboa. Era fácil tomar como suas as raízes
familiares de Filipa. Mais.
.
6.
Amante Cordovesa: Beatriz Enriquez
A
passagem da embaixada de Portugal por Córdova (Córdoba),
parece ter tido uma
consequência: Colombo ter-se-á relacionado com uma jovem de cerca de 20 anos,
chamada Beatriz
Enriquez (1465/67 - 1521), natural de Santa Maria de Trassierra
(Córdoba), filha de Pedro de Torquemada (?-1471) e de Ana Núnez de Araña (?). Alguns historiadores
afirmam que se trata de uma família de cristãos-novos, aparentada com o
célebre inquisidor Tomás
de Torquemada.
Colombo
voltou a Córdoba, em Maio de 1487, para se encontrar com a corte espanhola.
Foram-lhe então pagos 3.000
maravedis. Encontrou-se de novo (?) com Beatriz Henriquez, e desta relação nasceu um filho ilegitimo - Hernando Colón
(1488-1539). Em Junho de 1488 estava em Múrcia, seguindo pouco depois para
Lisboa. Em Outubro deste ano já estava em Sevilha. (17)
Não
há registos que Colombo tenha voltado de novo a Córdoba, mas é provável que
isso tenha acontecido.
A verdade é que pouco
antes de partir para a sua primeira viagem, em 1492, confiou a Beatriz
Henriquez o seu filho
legítimo Diego Colón durante cerca de um ano.
A educação de Diego Colon, entre 1485 e 1492,
estive a cargo de um frade português no
Mosteiro de La Rábia. Quem o levou para Córdoba foi Juan Rodriguez Cabezudo,
que com o padre Martin Sanchez assumiram a incumbência de guardar e
"educar" Diego Colón.
Em
Julho de 1493, Diego Colón e o se irmão Hernando Colon assistiram em Sevilha
ou Cádiz à partida de Colombo para a sua segunda viagem às Indias. Ambos
ficaram então a viver em Sevilha, na casa de Colombo, a cargo de Violante
Perestrelo.
Hernando
Colon, a partir de Julho de 1493, foi completamente a afastada do seu filho,
quando este contava apenas 5 anos de idade.
Bartolomeu
Colón, em Janeiro de 1494, levou à corte que estava em Valladolid - Diego
Colón- , para ser educado como pagem do principe Juan. Pouco depois terá
ido Hernando Colón. A ambos tiveram como ama Juana de la Torre, cujo irmão
(António de la Torre) foi levado por Colombo na sua segunda viagem. Jerónimo
de Aguero assumiu as funções de aio dos dois irmãos.
Após
a morte do principe espanhol, passaram a serem pagens da rainha Isabel, a
Católica (18/2/1498).Estavam em Granada quando souberam que Colombo
desembarcara, em Cádiz, preso com cadeias (20/1/1500).
As
relações de Colombo com Beatriz Henriques estavam terminadas pouco antes de partir
para as Indias. A título de compensação, no seu testamento de 1506,
manda que o seu filho Diego Colon, faça o seguinte:
"E
le mando que aya encomendada a Beatriz Enríquez, madre de don Fernando, mi hijo,
que la probea que pueda bevir honestamente, como presona a quien yo soy en tanto
cargo. Y esto se haga por mi descargo de la conçiençia, porque esto pesa mucho
para mi ánima. La razón d´ello non es líçito de la escrevir aquí.
"
Não
fixou qualquer quantia, deixando o caso ao critério de Diego Colon. Beatriz
Enriquez, em todo o caso, nunca reclamou nada, preferindo
morrer na pobreza.
Colombo nunca se referiu a Beatriz como "Haranda" ou "Araña".
Nos anos 20 do século XVI, esta apelido como começou a ser-lhe associado:
Numa
escritura datada de 1521, surge com o nome de Beatriz Enríquez de Harana (sic),
“para el cobro de los maravedíes que tenga a bien darle por su
hijo Hernando Colón”.
Hernando
Colón, em 1525, concede
poderes a um tal Pedro de Harana (sic) “para tomarle cuentas
de la administración de los bienes que Hernando tenía a su cargo en Puerto
Plata de la isla Española”.
Numa
segunda escritura, em 1525 ( ? ) concede a este Pedro de Harana, e não
Araña, os seus bens de raiz que havia herdado da sua mãe Beatriz Enríquez,
na Santa María de Trassierra (Córdoba).
6.1. Hernando Colón
Hernando
Colón, nasceu provavelmente em Córdova, em 1488, filho
de Colombo e Beatriz Enríquez. Com o seu irmão Diego (7 anos mais velho)
foi pagem do principe de Espanha e após a morte deste da rainha Isabel, a
Católica.
Parece
ter sempre nutrido um enorme desprezo pela sua mãe, ao ponto de amaldiçoar
o leite que dela
recebera, como é bem patente neste poema que lhe dedica e que se encontra nas
margens do Livro das Profecias:
"Maldigo
quien m`engendró
Puese
fue causa que padezca
Quien
en su leche me dio
Cruel
tormenta merezca."
Não apenas ignora a sua mãe, mas faz
questão depois da sua morte se dirigir a Córboba para desfazer-se
dos bens que dela tinha herdado, oferecendo-os ao seu primo Pedro de Arana (17/8/1525).
Retrato
de Hernando Colón. Anónimo.Sevilha.Séc.XVI
A
partir de 1498 assistiu à perseguição movida
contra o seu pai, nomeadamente à sua chegada sobre prisão em Outubro de 1500.
Em Maio de 1502 embarcou com ele na 4ª. e última viagem às Indias. A
humilhação da sua família era completa. Apesar
da sua condição de filho ilegítimo, procurou defender os interesses da sua
família, e em especial os do seu irmão Diego. O seu brasão parece indiciar a
possibilidade do mesmo se assumir como um novo "membro". Mais
7.
Os Aranhas (Arañas em espanhol)
Na
1ª. e na 3ª viagem de Colombo são referidos dois "aranas"
(Aranhas) naturais de Córdoba (Cordova em português), que são apontados
como familiares de Beatriz Henriquez.
-
Diego de Arana:
participou na 1º.
Viagem (1492/1493) é apontado como primo de Beatriz Enriquez.
Desempenhou o cargo de "Alguacil" maior da nau Santa Maria, com um
soldo de 24.000 mvds.
Colombo
gostou tanto deste Arana que tratou logo de o matar na 1ª. viagem, deixando-o
no Forte da Natividad. Apareceu morto, em 1493, com outros 38 espanhóis e 1
italiano.
A filha deste Arana, interpôs mais
tarde um processo à coroa exigindo uma indeminização de 13.455 mvds pelos
serviços prestados pelo seu pai.
-
Pedro de Arana:
participou na 3ª. viagem
(1498/1500) é apontado como irmão de Beatriz Enriquez.
Colombo
após ter ido para a Madeira, dirigiu-se para a Ilha de Gomera (Canárias). Entre 19/21
de Junho de 1498, onde dividiu a frota composta por 6 navios:
Três navios, comandados por Pedro de Arana, Caravajal e Giovani Colombo
(italiano), seguiram directamente para a Hispaniola. Foram desde logo
afastados da possibilidade de descobrirem novas terras.
Três navios, comandados por Colombo, seguiram para Cabo Verde e foram explorar
as terras que D. João II lhe havia falado existir a sudoeste das Canárias.
Aparentemente
não confiava em nenhum italiano, nem no seu cunhado "Arana"
para fazer descobertas. Afastava os "Aranas" do seu caminhou ou matava-os !
Quando
os voltou a reencontrar Pedro de Arana, Caravajal e Giovani, a 31 de Agosto
de 1498 confirmou as suas suspeitas. A revolta tinha explodido nas Indias.
Os espanhóis e os italianos acusaram Colombo de os ter enfiado em ilhas
miseráveis, onde só lhes restava matar e escravizar indios e contrair sifilis.
Alonso
Hojeda acusou-o de estar estar a impedir os espanhóis de fazerem novas
descobertas, guardando para si os segredo de novas terras e riquezas. Colombo
não confiava no espanhóis, nem nos Aranas. Em Outubro de 1500,
acompanhado pelos seus irmãos regressa a
Espanha sob prisão.
Las
Casas foi o inventor da ligação entre Beatriz Enriquez e os Arana, quando
escreveu o seguinte: "Pôs, por capitão de um navio, um Pedro de Arana,
natural de Córdova, homem honrado e, se
bem recordo (sic),
irmão da mãe de D. Hernando Colón, filho segundo do Almirante (Colombo) e
primo do Arana, o que ficara na fortaleza com 38 homens, os quais no regresso, o
Almirante encontrou mortos".
O
próprio Las Casas coloca em dúvida esta ligação, afirmando que pode estar
equivocado. O texto foi escrito dezenas de anos depois dos acontecimentos.
Este Arana terá ficado a viver em
Puerto Plata, na Hispaniola, onde teve dois filhos, Diego e Pedro. Morreu em
1521.
Em 1525, este Pedro de Aranha veio a Cordoba para casar-se, tendo Hernando Colon,
lhe dado todos os bens da sua mãe (17/8/1525), quando esta faleceu. Mais tarde
serviu como seu criado. Foi testemunha no seu Testamento e morte. Em 1535 foi
ouvido no processo para a entrada de Diogo Colon na Ordem de Santiago.
Afirma, em Madrid, a 8/3/1535, que sobre a origem de Colombo ouvira dizer
que era genovês, mas que não sabia ao certo de onde era natural ( Processo -
Archivo Historico Nacional de Madrid, Leg. 172, exp.804).
Existe alguma confusão com este
apelido, pois um documento datado de 30/1/1509, menciona um Pedro de Arana,
criado de Colombo, que não poder ser o anterior, pois estava em Santo Domingo..
O
apelido de Araña em Portugal, remonta pelo menos ao século XIV. No final do
século XV, na sede da Ordem de Santiago em Alcácer do Sal, existia uma
proprietária de um quintal, no
interior do castelo que tinha o nome de Beatriz de Aranha (Arana).
Coincidência ?
.Colombo,
D. Afonso V, Sousas e Córdova
O
que terá levado a fixar-se durante algum tempo em Córdoba ?
-
A passagem da
Embaixada portuguesa que se dirigia a Roma, em Julho/Agosto de 1485,
poderá ser uma explicação, mas não é a única.
-
Os amores entre Dona Brites
Henriques e Carlos Enriquez de
Guzmán, de Cordova (15),
não pode ser também descartados.
A
razão principal, parece-me, ser a relação especial que alguns
cordoveses tinham com Portugal, a Dinastia de Aviz, e em particular com D.Afonso V:
a)
Família Sousa de Portugal. A 3 de Janeiro de 1482, esta família
cordobesa de origem portuguesa, fez questão de na capela funerária que
possuíam na Mesquita-Catedral de Córdoba, escreverem numa
coluna que os seus antepassados estavam ligados à família real de
Portugal (D.Afonso III), mas também à de Castela (Enrique II).
b)
Frei Vasco Martins
de Sousa. O
principal convento de Córdoba foi fundado por um português. Vasco de
Sousa, frade Jerónimo, natural de Portugal, depois de uma viagem a
Itália, fixou-se em Toledo, regressou a Portugal onde fundou o Convento
da Penha Longa (Sintra). Foi depois para Castela, fixando-se em
Córdova, onde fundou, em 1405, o Mosteiro dos Jerónimos, em
Valparaíso. O bispo D. Fernando Gonzalez Deza, de origem portuguesa,
deu-lhe todo o apoio.
Não
existem provas que Colombo tenha alguma vez visitado Gaudalupe, mosteiro
de frades Jerónimos, mas fseguramente
visitou este mosteiro, onde existiria uma imagem desta
virgem.
O
primeiro Duque de Medina Sidónia era um Sousa, assim como foram os
primeiros senhores de Cabra, Alcalá e Morón,etc (18). Os
Sousa, que reclamavam ainda em 1482 a sua origem portuguesa, eram a
principal família de Córdoba.
c)
Afonso de Córdova, em meados de 1462, por encomenda do Infante
D. Pedro, produziu um escrito onde advogava a aproximação de Portugal
de Castela e Castela, intitulado: Comemoración breve de los muy
insignes y virtuosos varones qu fueron desde el magnifico rey don juan I
hasta el muy esclarecido rey don alfonso quinto. Um texto de
propaganda da linhagem portuguesa de Avis. O infante, condestável de
Portugal, assumiu pouco depois o trono da Catalunha, opondo-se a João
II de Aragão.
d)
O Livro Vermelho de D. Afonso V (1471), entre as várias cidades do mundo
que são referidas, destaca-se Córdova. (Saul António Gomes, ob.cit.,p.150). quando, em 1475,
se casa com Dona Joana, a Excelente Senhora, proclama-se também rei de
Córdova. (idem,p.352).
e)
Os senhores de Córdoba, como Alonso de Aguilar ou os
Portocarrero, no início da guerra da sucessão (1475-1479), à
semelhança de outros nobres andaluzes, colocam-se ao lado de D.Afonso V.
Como
se tudo isto não bastasse, existia em Córdova uma importante comunidade portuguesa.
Mais
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Carlos
Fontes
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