No
século XIX, a Alemanha, França, Itália, Espanha, Inglaterra, Holanda procuravam
sustentar internacionalmente o seu pioneirismo nos descobrimentos marítimos, na
ciência e tecnologia nautica,
desvalorizando completamente as realizações dos portugueses.
Tratou-se de uma
verdadeira guerra propagandística, na qual as várias potências europeias
procuravam legitimar a posse de vastas regiões do mundo. Historiadores
ao serviço destes objectivos colonialistas fabricavam-se histórias de
pseudo-descobertas geográficas ou científicas, de forma a legitimar a apropriação.
Os alemães, através
de Alexandre Humboldt (1769-1859), afirmavam-se os pioneiros da ciência
nautica e da cartografia dos séculos XV e XVI. Os marinheiros portugueses não
passavam de uns ignorantes. A obra do Infante D. Henrique ou de D. João II foi
anulada. O pouco que os portugueses sabiam deviam-no a Martin Behaim (Martinho
da Boémia) que veio para Portugal em 1484, trazendo consigo as obras de
Regiomontano ( 9 ). Alguns historiadores portugueses do tempo, como Oliveira
Martins (iberista), Rodolfo Guimarães (11) ou mesmo Sousa Viterbo, colocaram-se ao
serviço dos alemães, proclamando o eminente papel da ciência nautica alemã nos
descobrimentos portugueses (10). A confusão estava instalada.
Os franceses sustentarem o pioneirismo dos navegadores na exploração de África, e
depois na descoberta do mundo. As realizações dos portugueses
foram sistematicamente omitidas ou deturpadas. Navegadores e cartógrafos
portugueses foram assumidos como franceses.
Os espanhóis,
seguindo uma prática muito antiga, "nacionalizaram" navegadores,
cartógrafos e conquistadores portugueses que andaram ao serviço de Espanha. Por
toda a Espanha surgiram cidades, vilas e aldeias a reclamarem serem o berço onde
nasceram estes portugueses. Quando o não puderam fazer incluem-nos na categoria
de "ibéricos" ou simplesmente omitem a sua
existência.
Os italianos,
apoiados nos EUA pela sua enorme colónia de emigrantes, reclamaram a origem de Cristovão Colombo, transformando-o com
John Cabot, Américo Vespúcio e Varrazano, nos únicos
navegadores que mereciam ser recordados pelos seus feitos. O pioneirismo dos
portugueses nas descobertas geográficas, ciência nautica e cartográfica foi
completamente ofuscado.
Os holandeses,
embora tendo iniciado as suas descobertas dois séculos depois dos portugueses,
seguiram o exemplo dos alemães.
Os ingleses, devido
à sua aliança histórica com Portugal, foram ao longo dos séculos beneficiários
directos das suas realizações. Talvez por este facto, alguns dos seus
historiadores, embora de forma paternalista tenham-se dado ao trabalho
de estudarem melhor os descobrimentos portugueses (12). No século XIX, os
debates historiográficos entre portugueses e ingleses sobre África, devem ser
interpretados no contexto da disputa deste continente pelos europeus.
Portugal mergulhado
em convulsões internas, dificilmente tinha meios, nem uma elite cultural capaz
de se opor a esta
mistificação internacional sobre os descobrimentos. A acção esclarecedora do Visconde de Santarém (14), Joaquim Bensaúde ou Luciano Pereira da Silva era claramente insuficiente para repor a verdade dos factos.
Qual
foi a posição dominante dos historiadores portugueses, nomeadamente em relação à
origem de Colombo?
Nacionalismos versus Ignorância
Muitos historiadores portugueses
sustentaram a ideia de que se não devia dar importância ao estudo da
figura de Colombo, nem sequer à sua presença em Portugal. Se o fizessem estariam
a contribuir para desviar as atenções de outros navegadores portugueses, como
Bartolomeu Dias ou Vasco da Gama, enaltecendo indirectamente os "descobrimentos"
espanhóis e italianos (?). Nesse sentido, muito "patrioticamente" ignoram-no.
Esta atitude acabou por os conduzir
a um problema mais profundo: a enorme ignorância que revelam sobre este
navegador.
Em
finais do século XIX era tão profunda a ignorância dos historiadores
portugueses sobre Cristovão Colombo, que facilmente se transformavam em agentes
(involuntários) da propaganda italiana.
Lisboa,
por alturas do 4º. centenário da descoberta da América (1892), tornou-se no
principal centro de credibilização das teses genovesas.
Prospero
Peragallo, publicou aqui, em italiano, vários "estudos" sobre
Colombo e os descobrimentos portugueses, que se tornaram na principal
referência até aos nossos dias dos historiadores portugueses (5).
Peragallo,
não se limita a mistificar a origem de Colombo, e a realizar uma verdadeira
proliferação de genoveses por tudo quanto é sítio, inventa histórias sobre
Filipa Moniz Perestrelo e a sua família, as quais seriam facilmente desmentidas
por qualquer historiador minimamente atento.
Os
seus estudos editados em Lisboa tiveram larga repercussão mundial, mas por
todo o lado surgiram provas que mostravam as suas inúmeras falsidades (6). Os
únicos que não reagiram foram os historiadores portugueses, que para cumulo as
repetiram até hoje.
Decadentismo versus
Iberismo
A
esmagadora maioria dos historiadores portugueses, depois de 1822 não acreditava
no futuro de Portugal. Passavam a vida a prever a anunciar o seu breve
desaparecimento. As invasões franco-espanholas (1807-14), o abandono de país
pela família real (1807), a independência do Brasil (1822) e a guerra civil
(1828-1834) foram acontecimentos traumáticos que pareciam anunciar este fim
iminente. A partir daqui seguiu-se um longo período auto-fágico de
destruição sistemática da memória histórica do país.
Face
a este quadro decadentista, os historiadores portugueses mantiveram-se alheados da
questão da origem de Colombo, limitando-se a repetir de forma acrítica
o que os falsários italianos e espanhóis diziam.
Apesar de
todas as provas que apontarem para a origem portuguesa, preferiram ignorar o assunto, repetindo ingenuamente as historietas italianas baseadas em documentos falsos ou
falsificados. Ninguém estudou o assunto.
Os mais rigorosos
adoptaram a
estratégia de atribuir a responsabilidade a outros:
"Diz-se que ...", "Afirma-se que ...". Outros
descartaram-se do problema afirmando
que a questão da origem era irrelevante.
Aparentemente
não estavam dispostos a entrarem numa polémica internacional sobre um assunto desta
natureza. Portugal tinha navegadores em tanta quantidade e ainda por estudar, que mais um menos um
era-lhes indiferente.
Para
este alheamento, contribuiu também a mentalidade derrotista da maioria dos
historiadores portugueses do século XIX, como Oliveira
Martins, o principal ideólogo dos iberistas em Portugal (consultar).
Nas
histórias que produziram limitaram-se a exaltar as capacidades de outros povos (alemão,
francês ou mesmo espanhol) e a denegrirem as capacidades do povo português,
num inacreditável processo de auto-castração mental. Chegaram ao ponto de
comprimirem a História de Portugal, amputarem parte do território português,
como Olivença, nos mapas e histórias que produziram.
A
simples possibilidade de Colombo ser português não se encaixava neste esquema
auto-castrador, por isso foi ignorada.
Esta
visão decadentista acabou por fazer escola ao longo de todo o século XX,
continuando a repetição acrítica as teses italianas,
espanholas ou até islandesas. Tudo servia desde que não relacionasse Colombo
com Portugal. As raras vezes que a hipótese foi colocada, os críticos do
costume acusaram os seus autores de nacionalistas doentios e ignorantes.
Monumentos
centrais para a explicação de Colombo em Portugal , como o Convento de
Santo António da Castanheira, em Vila Franca de Xira, foram abandonados e
ignorados.
Nas últimas décadas de forma impune foram profanados os túmulos
deste convento, em particular os do Panteão dos Ataídes onde estão os túmulos de Lopo de Albuquerque ou de Tomé de Sousa, primeiro governador do Brasil, o que só por si revela as
profundas raízes que esta mentalidade auto-castradora criou na sociedade
portuguesa. O objectivo é anular a memória do país.
Marxismo e Estruturalismo
A
historiografia portuguesa no século XX foi profundamente influenciada pelas
correntes marxistas e estruturalistas, as quais valorizaram sobretudo as
acções colectivas e os períodos de longa duração, relegando para um papel
secundário a análise das acções individuais, a pequena história.
Neste
contexto, a biografia de Colombo, como a de muitos outros navegadores e
exploradores portugueses tornou-se sem qualquer importância. Este facto acabou
por contribuir para o desconhecimento real de inúmeras figuras marcantes da
história de Portugal.
a ) Uma Questão
Incontornável
Colombo
viveu, trabalhou, casou e teve um filho em Portugal. Durante anos, como
corsário, combateu os italianos e espanhóis ao serviço dos reis de Portugal ( D. Afonso V
e D. João II). Participou em várias expedições promovidas pela Coroa
portuguesa. Nos seus escritos faz numerosas referências a
Portugal e aos portugueses, e ignora praticamente a Itália e os italianos. Ás
terras que descobriu deu nomes portugueses, mas nenhum italiano.
Mesmo
depois de ir para Castela (1484), nunca deixou de manter relações com Portugal
e defender os seus interesses. Por último, em Castela nunca se casou de modo a
poder deixar os seus títulos e a herança ao seu único filho legitimo - Diego
Colon Moniz Perestrelo, nascido em Lisboa e que veio a ser o 2º. Vice-Rei das
Indias espanholas.
Aqueles
que se deram ao trabalho
de estudar a vida de Colombo, consultar documentos, confrontar fontes e
verificar factos, não tiveram
dúvidas que nada batia certo na sua biografia baseada nas fontes italianas.
A
conclusão a que chegaram após terem analisado as múltiplas
ligações com Portugal e as inúmeras coincidências que não podiam ser
obra todas do acaso é que só
poderia ser português.
Etapas
dos Estudos Colombianos em Portugal
1. Silenciamento da
Traição
Há uma antiga
tradição portuguesa que associa um português que vá para
Espanha a um ser desprezível que todos procuram ignorar ou esquecer. Pouco
ou nada se conhece em Portugal da vida de milhares de portugueses que
ao longo dos séculos foram para Espanha e as suas colónias e aí tiveram um papel de relevo. Eles não
contam, não existem !
A
questão é ainda mais grave quando envolve uma traição contra o próprio
país. Nos séculos XV a XVIII a alta nobreza de Portugal procurou esconder uma
terrível infâmia praticada pelos seus pares:
A Casa de Bragança, a Casa real de Portugal, em 1483 e 1484, esteve envolvida
numa conspiração internacional destinada a matar D. João II, colocando no
trono um rei serviçal para com os interesses dos reis católicos (Isabel e
Fernando, de Castela e Aragão). Descoberta a traição e mortos os mentores da
conspiração, a Casa de Bragança procurou por todos os meios ocultar a
conspiração que manchava a honra dos seus membros, fazendo desaparecer todas as
provas. Ao que tudo indica Colombo terá participado na conspiração de 1484.
Os
traidores, que envolviam as principais famílias do reino, em troca de apoio de
Castela e Aragão garantiram que o novo rei revogaria os Tratados de Alcáçovas-Toledo (1479-1480), que impediam o livre acesso dos navios
castelhanos e aragoneses às costas ocidentais de África, nomeadamente à
Guiné e Mina. Entre o mais afectados por estes tratados, estavam os duques de
Medina-Sidónia, que durante anos procuraram controlar as Canárias e se
apoderar do Norte de África. Tratava-se de uma grave traição aos interesses
de Portugal protagonizada pela alta nobreza portuguesa, que se refugiou em
Castela, e na sua maior parte em Sevilha, como Colombo.
O
bisneto de Alvaro de Bragança
Durante o
domínio filipino (1580-1640), as familias envolvidas na conspiração contra D.
João II, foram largamente recompensadas pelos espanhóis, entre eles os
descendentes de D.Nuno Alvares Pereira. Um exemplo:
- Nuno Alvares
de Portugal, filho do 2º. Conde de Vimioso, e neto de Alvaro de Bragança, foi nomeado corregedor da
cidade de Lisboa (presidente do município) por Filipe II de Espanha, e
depois fez parte da 1ª. Junta Governativa do reinado de Filipe III de Espanha, entre 1/9/1621
e 30/8/1623. A ocultação das provas da sua
ligação a Portugal, tornou-se uma questão de honra para a própria Casa de
Bragança e para o próprio país.
Durante
o governo desta Junta Governativa, Portugal entrou num acelerado processo de ruína: perdeu
os mercados do norte da Europa, os seus portos entraram em decadência,
vendo o movimento de navios estrangeiros diminuir de forma radical; os holandeses (apoiados por milhares de
portugueses) assaltam as suas possessões ultramarinas, nomeadamente no Brasil;
Fecharam muitas importantes feitorias, perdeu Ormuz a sua principal
feitoria no Oriente; a população foi sobrecarregada de impostos para
sustentar a corrupta corte espanhola; assistiu-se a
uma brutal centralização do domínio espanhol, num claro desrespeito
pelo que tinha sido acordado nas Cortes de Tomar ; a fome alastrou pelo país,
provocando motins em Lisboa e muitas outras localidades; a Inquisição instalou
em Portugal
o terror, em proporções nunca vistas (4); etc.
Nuno Alvares
de Portugal, tornou-se uma
personagem odiada pelos portugueses, não tardando a ser morto (1623). Neste
mesmo ano morre outro dos miseráveis cúmplices dos espanhóis - o Bispo Mexia
(22 de Agosto). A revolta contra o domínio espanhol generalizou-se (2), criando
as condições para a posterior libertação (1640).
A traição de 1483/84 tornou-se
duplamente penosa de suportar. O nome de Colombo não deixava de estar associado estes
traidores, evocando terríveis lembranças
que
todos procuravam esquecer.
No
século XVIII, o Marquês de Pombal irá destruir a Casa dos Távoras, outra das
famílias que participou nestas juntas governativas servindo os inimigos de
Portugal durante a ocupação (1580-1640).
1.1.Revisão Histórica
Agostinho Manuel
de Vasconcelos (1584-1641) foi o político e historiador português (18), ao serviço da
Casa de Bragança (19) e dos reis
espanhóis (20), entre outras funções foi encarregue de revisitar a biografia de D. João II
(21) e fixar das
relações de Colombo com o rei português.
Na obra "Vida
y acciones del rey Don Juan el Segundo, Decimoterico de Portugal", escrita em 1624,
reduz as conspirações de 1483-1484, a problemas internos portugueses, sem
interferências castelhanas. Ofende no entanto a Casa de Bragança ao tentar
justificar a morte do Conde D. Fernando por D. João II . Um rei sábio que soube
defender o povo contra os abusos dos grandes.
Sobre o
descobrimento da "América" retoma a versão de Rui de Pina - Garcia Resende,
procurando mostrar como os dois reinos - Portugal e Espanha -conseguiram
ultrapassar as suas divergências, partilhando a conquista do mundo (Livro VI,
pp. 291-303). O objectivo de Cristovão Colombo não era a Ásia, mas as Indias
Ocidentais, algo que os cosmógrafos portugueses não haviam percebido. Desta
forma, iliba-o de ter mentido aos espanhóis.
Como conclusão desta
santa harmonia luso-espanhola, em 1639, publica -Sucesión del Señor Rey Don Felipe Segundo en la Corona de Portugal - afirma que Filipe II, em 1580, era o único candidato
legitimo ao trono de Portugal. Francisco Quevedo, encontra nas suas palavras uma
forma velada legitimar também o direito Casa de Bragança ao trono de Portugal.
Após a restauração
da Independência, em 1640, resolve regressar a Portugal. No ano seguinte, 28
de Julho de 1641 é preso com um grupo de conspiradores contra D. João IV.
No dia 29 de Agosto integra o grupo de conspiradores pró-espanhóis foi executado na
praça do Rossio, em Lisboa, entre os quais se contava, também o duque de Caminha, o marquês de Vila Real, o conde de Armamar. O arcebispo de
Braga, morreu meses, preso na Torre de S. Julião. O Inquisidor-geral Francisco de Castro, outros dos conspiradores, é preso
durante dois anos.
A versão de Garcia
de Resende era a principal referência, no século XVII, para a maioria dos
historiadores portugueses que abordavam as relações entre D. João II e Colombo
(22). Uma versão que agradava à Casa de Bragança.
2. Enigmas
Apesar
da enorme censura nos séculos XVI e XVII, muitos foram os que afirmaram de
forma directa ou indirecta que a nacionalidade de Colombo era portuguesa. Está
por fazer um levantamento sistemático destas afirmações. A questão despertou
algum interesse no final do século XVII e princípios do século XVIII.
2.1. O Anónimo
Português Informador de Colombo
Manuel de Faria e
Sousa (1590-1649), natural de Pombeiro (Felgueiras) é uma das personagens
mais fascinantes do período filipino (23). Para os leitores atentos da sua obra
é um patriota, para os outros um traidor. Viveu em Pombeiro, Porto, Lisboa,
Madrid, Génova (onde perdeu um filho) e Roma. Na sua vasta obra, chegou às
seguintes conclusões sobre Colombo:
- Aprendeu a arte
de navegação em Portugal (Asia Portuguesa, Tomo I, Parte I, cap. III).
- Foi um
português lhe deu a notícia das indias Ocidentais. Afirma-o desde 1628,
na sua obra "Epitomo de las Historias
Portuguesas (3ª. parte, cap. 14) (24). Repete a mesma afirmação na sua obra
póstuma - História del Reyno de Portugal, dividida en cinco parte (1730). Quando
apresentou a ideia a D. João II de chegar as indias ocidentais, à ilha de
Cipango (Japão), foi desprezado. Trata-se da versão
portuguesa do célebre "piloto anónimo" criada por Oviedo?
- Enquanto
Colombo entretinha os espanhóis no Ocidente, os portugueses atingiam (sozinhos)
o Oriente, a verdadeira India e o Japão (Epitomo, 3ª. parte, cap.14). A
proposta de Colombo aos reis espanhóis procurava desta forma afastá-los do
caminho seguido pelos portugueses para atingir o Oriente. Um espião, como o foi Manuel de Faria e
Sousa ?
Deixou também uma
obra inédita sobre a história da "América Portuguesa" , o que nela terá
revelado, incomodou de tal modo os espanhóis que Diogo Soares, secretário de
Estado de Filipe IV fez questão de destruir o manuscrito (17).
2.2.Enigmática Posição de
D. João II
Manuel Telles da
Silva (1641-1709), marquês do Alegrete, em 1689,
publica em latim, a "Vida e Feitos de D. João II" (13), no qual aborda as
relações do navegador com este rei. Colombo teria apresentado a sua proposta a
D. João II numa grande assembleia convocada para o efeito, destacando-se as
intervenções de duas personagens:
- Diogo Ortiz de
Vilhegas (c.1443 - 519) (16),
natural de Castela, leccionou Astrologia na Universidade de Salamanca (15). Veio para Portugal em 1476, ocupando um lugar cimeiro nos descobrimentos. Opôs-se à proposta de Colombo, defendendo que Portugal devia atingir a India contornando África.
- Pedro de
Meneses Noronha (1425-1499), 1º. Marquês de Vila Real, 3º. conde de Vila
Real, 7.º Conde de Ourém, ( parente
de Colombo ? ), defendeu a realização de expedições para outros destinos que
não apenas o africano. D. João II, assim como a maioria dos presentes da
assembleia concordou com esta posição.
Depois de escrever isto, Manuel Telles da
Silva, sem mais explicações afirma que Colombo foi para Castela por lhe terem
rejeitado a proposta ...
O autor deixa no ar,
a ideia que a não aceitação proposta de Colombo se deveu à ação do bispo
castelhano, pois todos estavam de acordo com a mesma, incluindo o rei !
Neste alegado
conselho ninguém duvidou que a viagem até às "indias" fosse impossível. A corte
portuguesa conhecia a existência de terras a Ocidente da Europa. Colombo
escreveu inclusive que D. João II lhe falou da existência de um continente no
Hemisfério Sul. A discórdia incidia apenas sobre a vantagem para Portugal de
fazer semelhante viagem para Ocidente.
2.3. Enigma maçónico das origens de Colombo
No
ano em que se comemorava os 200 anos da chegada de Colombo à América (1692),
são publicadas duas obras genealógicas muito enigmáticas, uma delas acabou
por ser proibida.
Ambas
aparecem com as mesmas referências, mas todas são falsas: autor - Prior D. Tivisco de Nasao
Zarco y Colona; editor - Novelo de Bonis;
local da edição - Napóles; etc. Este facto revela que a publicação destas
obras foi combinada entre os seus verdadeiros autores.
2.1. "Theatro
Genealogico, que contem as Arvores de Costados das Principaes Familias do Reyno
de Portugal, & suas Conquistas. ". Em língua portuguesa terá sido
publica em Portugal "a bordo de um navio estrangeiro". O
verdadeiro autor foi Manuel de Carvalho e Ataíde ( m.1720), capitão de
cavalaria e fidalgo da Casa Real, e pai do futuro Marques de Pombal - Sebastião
de Carvalho e Melo. Pertencia a uma lógica maçónica.
Esta
obra foi proibida, em 1703, por D. Pedro II, sob o pretexto de conter graves
erros genealógicos, que não são identificados.
2.2.
"Pericope Genealogica y Linea Real Separada Aqui de las muchas
otras, que la acompañan en las Casas à quen toca. " Em língua
espanhola terá sido publicada em Espanha, em local incerto. O
seu verdadeiro autor era
um frade português chamado Jacinto de Sousa Sequeira, também conhecido por Frade Jerónimo de
Sousa (m.1711), frade Franciscano, lente, membro do Santo Ofício, etc.
Pertencia à família do pai do marquês de Pombal.
Porque
é que estes dois autores, embora familiares, resolveram adoptar o mesmo
apelido? Que segredos resolveram revelar duzentos anos após a descoberta da
América (1492) ?
Uma
análise sistemática à duas obras revelou o seguinte:
a
) Os apelidos "Zarco" e Colon", em Portugal escondem um segredo familiar sobre a ascendência comum de Manuel de Carvalho e Ataíde e de Jacinto de Sousa Sequeira.
b
) Os seus autores reclamam-se descendentes de João Gonçalves Zarco e de
Cecília Colonna.
A
principal controvérsia diz respeito ao nome de Cecília Colonna. Jacinto
de Sousa, afirma que era filha de uma dama da Sicilia e filha iligitima de
Giacomo Sciarra-Colonna, e sobrinha de Agapito de Colonna que virá a ser bispo
de Lisboa . Era portanto descendente dos reis da Sicília, Chipre e Jerusalém.
Estando também ligada aos senhores de Colonna, Monteporzio, Zagarolo, Gallicano
e Palestrina.
Cecilia
Colonna casou-se em 1377, com o português Rodrigo Anes de Sá, na cidade
de Roma, tendo vindo pouco depois para Portugal, onde deixou larga
descendência. Uma sua descendente - Constança Rodrigues de Sá Colona,
casou-se com João Gonçalves Zarco, unindo desta forma as duas famílias. É
por esta a razão os autores destas obras se reclamam descendentes dos "zarco"
e dos "colona".
c
) Este segredo familiar envolve directamente a mulher de Colombo - Filipa de Moniz
Perestrelo, mas também o próprio Colombo. A família de Filipa ligou-se na
Madeira aos zarco-colona. Afim de reforçarem esta associação publicam os
livros no ano de 1692 e supostamente em Itália, adoptando um pseudónimo comum italinizante.
d
) Alguns autores, com base nestas obras, pretenderam ter descoberto o segredo do
verdadeiro nome de Cristovão Colombo - Salvador Fernandes (filho de Fernandes)
Zarco (e Colona). Uma hipótese que permitiria esclarecer alguns factos da
sua vida, mas não todos.
Fica
sempre a dúvida se os autores estavam a procurar engrandecer as suas origens
familiares, ou se pelo contrário estavam de facto a revelar de facto um
verdadeiro segredo familiar.
No
século XVIII, Cirilo Wolkmar Machado (1748-1823), pintor neoclássico e um
notável estudioso dos séculos XV e XVI, não apenas em Portugal, mas também de
Itália que percorreu (3 ), foi convidado em 1476 para trabalhar no Convento de Mafra,
onde viveu 11 anos.
Na chamada sala
das descobertas executa uma interessante pintura com as principais
figuras dos descobrimentos portugueses: Vasco da Gama, Pedro Álvares
Cabral, Infante D. Henrique e Cristóvão Colon, tendo este a seguinte
legenda - "A Castilla y a Leon Nuevo Mundo dio Colon"). Colombo
aparece agrilhoado, numa evocação ao facto de ter sido preso em 1500 por
Bobadilla. Nas paredes desta sala existiam quadros representando outras
personagens portuguesas como os Castros, Albuquerques, Almeidas e Mascarenhas e que
foram com D. João VI para o Brasil e não regressaram. Os apelidos
destes navegantes ainda se encontram pintados nos medalhões das paredes. Cirilo
procura mostrar a ingratidão dos espanhóis por quem lhes deu um "novo mundo",
referindo no seus escritos que foi Portugal que Colombo soube da existência das Indias
em papéis do seu sogro (27).
Apesar das pistas interessantes que traçaram, estas investigações mas não tiveram qualquer continuidade, sendo
inclusive censuradas. Na verdade apontavam para um mistério de uma
personagem que na altura pouco ou nenhum interesse despertou. A familia
Colombo, como vimos, ligou-se com D. Nuno Alvares aos ocupantes de
Portugal.
3.
Voz da Terra Alentejana
Durante
a 1ª. República (1910-1926), Patrocínio Ribeiro (Ericeira, 1882 -
Mafra, 1923), fica espantado com os estudos que os espanhóis estavam a fazer mostrando a
inconsistência das provas apresentadas pelos italianos.
As
provas espanholas, nomeadamente as apresentadas pelos galegos, pecavam pelo
mesmo defeito: eram inconsistentes e baseadas em documentos falsificados.
Os
historiadores portugueses, mostravam-se indiferentes à questão e numa atitude
acrítica, continuaram a repetir as historietas do costume.
As
ligações com Portugal eram tão evidentes que Patrocínio Ribeiro. Publicou o seu
primeiro trabalho, em 1915: " O caracter Misterioso de Colombo e o problema
da sua nacionalidade" (opúsculo). Voltou a questão em " A nacionalidade portuguesa de Cristovam Colombo. Solução do debatidíssimo
problema da sua verdadeira naturalidade, pela decifração definitiva da firma
hieroglífica" (Lisboa,
1927). Nesta obra
apresenta algumas pistas decisivas para futuros investigadores sobre Colombo: Nobreza,
Brazão, Alentejo, Conspiração Contra D. João II, Toponímica Comparada,
Linguagem, Crenças, Judaísmo, Assinatura Cabalística, etc.
4.
Códigos Secretos
As publicações de Patrocínio
Ribeiro despertaram uma enorme curiosidade, embora a principal questão que mobilizou
os historiadores portugueses tenha sido o problema da decifração da assinatura cabalística
de Colombo.
Moses Bensabat
Amzalak publicou, em 1927, um interessante estudo centrado nesta assinatura
- Uma Interpretação a assinatura de Cristovam Colombo. Afirma que numa
interpretação judaica, que as letras que estão antes do nome, se devem ler:
"Deus dos exércitos e único" ou "Deus Santíssimo e único". Exclui a
possibilidade do mesmo ser "genovês", devido à ausência de elementos que o
liguem a esta antiga república italiana.
Deixa no ar uma
interrogação: "Será Colombo um pseudónimo deduzido da "insula dei columbi", nome
da ilha de Santa Maria (Açores), na carta catalan e no atlas da biblioteca
Pinelli?" (8)
João Antunes,
um conhecido publicista de temas misteriosos, em 1927, na revista Eleusis (números 1, 2, 4 e 5) faz um importante levantamento sobre as várias hipóteses
que então eram colocadas sobre a origem de Colombo, assim como as suas
relações com Portugal.
Manuel
Gregório Pestana Júnior, em D. Cristóval Colón ou Syman Palha na
História e na Cabala" (1928), viu em Colombo o duplo de Simão Palla,
que em 1479-1480, apresou uma frota castelhana no Algarve. Teria ido depois para
o Porto Santo onde casaria com Filipa Moniz Perestrelo. A interpretação
cabalistica seria a chave para o enigma. A obra peca por ser muito rudimentar e
não tem em conta toda a informação que na altura estava disponível.
Dois
outros investigadores dos mistérios que envolvem Colombo - Major G.L. Santos Ferreira e António Ferreira de
Serpa - tentaram decifrar a sua assinatura cabalística e os dois livros
publicados em 1692 e trouxeram novos dados.
G.
L. Santos Ferreira, em 1922, publica um primeiro estudo intitulado: O
Mistério de Colombo; Em 1938, em colaboração com António Ferreira
de Serpa, publica a sua principal obra: Salvador Gonçalves Zarco (Cristobál
Colón). Os Livros de D. Tivisco e confirmações Históricas;
A
última obra, no melhor espírito cabalístico é um verdadeiro romance, e com o
tal continua a fascinar muitos investigadores, como Manuel da Silva Rosa,
que procuram descobrir o seu
fundo de verdade. Mais
A abordagem
cabalística da assinatura de Colombo conduz Carlos Roma M. de Faria a um novo
exercício imaginativo: A Nacionalidade Portuguesa e o Nome de Cristobal Colón.
Coimbra, 1934.
Em 1939,
surge um novo livro intitulado - Cristóbal Colón : Salvador Gonsalves Zarco
: Infante de Portugal, da autoria de Arthur Lobo d'Ávila [e] Saúl
Santos Ferreira, editado em Lisboa, pela Tip. Empresa Nacional de
Publicidade. Em 1942 publica um novo exercício cabalístico: Um Infante de
Portugal (Salvador Gonzales de Zarco). Descobridor do Novo Mundo.
O
filão de Salvador Gonsalves Zarco estava criado, assumindo na pena alguns
historiadores dimensões de um verdadeiro delírio.
O
assunto interessava a muito poucos em Portugal, a posição mais cómoda foi a
de repetir o que outros no estrangeiro diziam. A maioria escolheu a tese italiana, por
razões óbvias. "De Espanha nem Bom Vento, Nem Bom Casamento".
5.
Espião de D. João II
A
grande mudança nos estudos sobre Colombo em Portugal ocorre em 1935. Neste ano, Armando Cortesão sustenta num artigo - "Espionagem dos
Descobrimentos, separata de "Vida Contemporânea"- que
Colombo era um agente de D:João II, enviado por este aos reis católicos, para
os convencer a afastarem-se da costa africana, por onde passava a rota do
caminho maritimo para India.
Publica também, em
1935, a sua principal obra - Cartografia e Cartógrafos Portugueses dos
Séculos XV e XVI (Contribuição para o estudo completo). Seara Nova. Lisboa.
No 1º. Volume, da pagina 187 à 242, apresenta-nos as suas perplexidades sobre
Colombo, e escreve:
"Parece que nunca
questão histórica tem sido, desde há séculos já, tratada com mais imoralidade! E
é tal a abundância de documentos falsos, que os estudiosos sérios e
desapaixonados se veem, por vezes, perplexos e a cada passo obrigados a duvidar
ou a semear os seus trabalhos com pontos de interrogação", p. 191.
Após ter analisado a
documentação disponível ao tempo, não tem dúvidas em afirmar a questão da sua
identidade italiana é um completo logro. Está baseada em documentos falsos e na
propaganda internacional realizada pelos historiadores italianos. As teses
portugueses, embora ainda incipientes, porque pouco aprofundadas tem manifestas
virtualidades.
Dois anos depois volta a escrever outro artigo,
agora em inglês - "The Mystery of Columbus, in, The Contemporary
Review, vol. CLI,1937,pp.322-330, onde sustenta a mesma tese. O autor reedita
este artigo em 1974, na sua obra Esparsos (Coimbra).
Nos
anos 50 surgem novas contribuições em abono desta tese. Alexandre Gaspar de Naia, em
Lisboa,
publica - Cristobal Colón.
Instrumento da Política Portuguesa de Expansão Ultramarina (Caderno
da Revista Neptuno) - . O seu profundo conhecimento do mar, permite-lhe corrigir
interpretações erróneas. A novidade está todavia na forma como integra
Colombo na história da expansão portuguesa. No ano seguinte, com novos dados
pública em Coimbra o seu melhor trabalho - D. João II e Cristobal Colón.
Factores Complementares na Consecução de um mesmo objectivo. Publica
depois outros estudos de menor dimensão, mas não menos interessantes: O
"Problema Colombino" Resolvido (Revista de História, nº. 18,
São Paulo, 1954); Génese
do Equivoco Colombino. Um "Colombo" Corsário e um "Colombo"
Lanério" (Revista de História, nº20, São Paulo, 1954) ; As
Concepções Geográficas de Cristobal Colón (Revista de História,
São Paulo, 1954); In Perpetuan Rei Memorian; Historiografia dos
Descobrimentos. Impertinências Elucidativas de um Curioso. (Revista de
História, São Paulo, 1956); Colombo e Colon: Mentiras Transitórias e Verdades
Eternas (Edição de autor, Lisboa, 1956).
Este
investigador desenvolve a tese que Colombo e os seus irmãos eram filhos do
Infante D. Fernando, Duque de Beja e Viseu, mestre da Ordem de Santiago e de
Cristo. Um dos aspectos inovadores foi ter feito a ligação de "Colombo,
o Velho" e "Colombo, o Moço" com a identidade da mãe do
navegador.
A
sua obra
passa complemente despercebida, e só 30 anos depois muitas das suas ideias são retomadas e
desenvolvidas por outros investigadores que, frequentemente o copiam sem o
referir.
6.
Perplexidades e Ignorância
A maioria dos
grandes historiadores portugueses sobre os descobrimentos, com raríssimas
excepções, pouco ou nada conhecem sobre Cristovão Colombo, limitam-se a repetir
aquilo que outros escrevem, preferindo a versão italiana, para não entrarem em
polémicas.
6.1.Jaime
Cortesão. Foi um dos raros historiadores portugueses que se deu ao trabalho de
ler os escritos de Colombo e iniciar o seu estudo. A maioria
limita-se a comentar os comentários de historiadores estrangeiros (7).
À
medida que avançou no seus estudos, acabou por chegar á conclusão que Colombo
tinha uma relação muito especial com D. João II. Na sua opinião o rei serviu-se
da ignorância nautica e geográfica de Colombo para afastar os espanhóis das costas africanas e do caminho
marítimo para a India.
Embora
tenha mantido a ideia que o mesmo era "genovês", sempre foi dizendo
que o mesmo tinha muitos nomes, deixando em aberto a possibilidade da sua
nacionalidade por ser outra.
6.2. Vitorino Magalhães Godinho. O
mais brilhante historiador português dos descobrimentos, nas muitas
referências faz a Colombo revela um profundo desconhecimento da sua vida e
escritos, o que o leva a reproduzir de forma acrítica todo o tipo de disparates
que já se escreveram sobre este navegador. É inacreditável o que escreve e
reproduz de forma acéfala em várias obras .
Tomando
apenas como exemplo o que escreveu na sua obra maior - Os Descobrimentos e a
Economia Mundial (2ª Edição, vol. III, p. 194), afirma este ilustre
historiador, entre outras disparates os seguintes:
-
"Colombo, esse, entrou em 1471 ao serviço dos Centurione".
Colombo, segundo a biografia italiana, na altura era um simples tecelão em
Génova. Como se isto não bastasse, nunca foi encontrado qualquer documento antes ou depois que ligasse de forma inequívoca Colombo a esta casa genovesa.
-
"Por conta deles vai ao mar negro e a Inglaterra, a Chios e navio fretado
pelos Spínola e Di Negro". Godinho baralha documentos comprovadamente
falsos, troca nomes e serviços, inventa (?) viagens (ao mar negro) nunca
referidas em qualquer documento, mesmo os falsos ou falsificados.
-
"Enviado pelos centurione, que tem feitor em Lisboa, vai à Madeira comprar
açucar" (1478). A famosa viagem à Madeira de Colombo ao serviço desta casa
genovesa, terminou sem efeito. Os supostos encomendadores genoveses não tinham
dinheiro. Os "documentos" que "comprovam" referida encomenda são um conjunto de
folhas soltas, produto de uma reles falsificação genovesa. Este facto não impediu os historiadores
portugueses de andaram a repetir a história de Colombo-Mercador.
Vitorino Magalhães
Godinho, numa das suas tiradas imaginativas escreve:
"Em 1482 encarrega o filho Diogo de pagar certas somas a Luigi Centurione,
Paolo di Negro e ao genro de Centurione estante na capital portuguesa". Este
ilustre historiador português ao escrever sobre o que não estudou, nem conhece, acaba por confundir tudo: O filho de Colombo, em 1482, tinha apenas um ou dois anos de idade !
Estamos
perante um exemplo, entre muitos outros, do nível de conhecimentos sobre
Colombo dos melhores historiadores portugueses. O assunto não lhes interessa,
por isso limitam-se a repetir todo o tipo de disparates.
Este
facto é tanto mais aberrante, quanto estes mesmos historiadores ao percorrerem
a documentação e Portugal ou no estrangeiro sobre os Centurione, Di Niegro ou
Spínola, não encontram documentos que comprovem o que reproduzem acriticamente
( Godinho, ob. cit., p.194).
7. A Viragem, Reacções e
Falsificações
Nos
anos 80, muitas das teses anteriores são retomadas e desenvolvidas, agora com um
forte impacto na comunicação social.
7.1 Mascarenhas Barreto
Publica uma obra que constituiu um
marco: -"O Português Cristovão Colombo, Agente Secreto do Rei D. João
II". Traduzida depois para inglês. A quantidade de pistas
abertas é agora surpreendente.
Dez
anos depois da primeira obra, volta à carga e publica dois
volumes - "Provas Documentais". Apesar de vários erros
históricos, como a confusão entre Cristobal Colon e Cristobal Guerra, os novos dados são demolidores
e a maioria dos
seus críticos fica em silêncio.
7.2. Reacções
A
primeira obra de Mascarenhas Barreto suscitou na altura uma enorme indignação
de muitos historiadores e literatos portugueses. Na sua quase totalidade de
Colombo apenas conhecem um texto de divulgação de Paolo Emilio Taviani, que se
limitam a reproduzir sem qualquer espírito crítico.
Mascarenhas
Barreto é acusado de ser um burro e um ignorante. Publicam-se várias obras
repletas de insultos, mas nenhuma analisa os documentos ou a relevância da
tese:
- Luís de Albuquerque, Dúvidas e Certezas na História dos Descobrimentos
Portugueses, Lisboa 1990; idem,
Colombo - Columbus, Lisboa, CTT, 1992.
- Alfredo Pinheiro Marques,
As Teorias Fantasiosas do Colombo "Português", Lisboa, 1991
- Vasco Graça Moura, Cristóvão Colombo e a floresta das asneiras,
Lisboa, 1991
- Luiz de Lancastre e Távora, Colombo, a Cabala e o delírio, Lisboa,
1991.
- José Manuel Garcia, Ao
Encontro dos Descobrimentos: temas de história da Expansão. Lisboa. 1994
- Domingues, Francisco Contente - Colombo e a Política de Sigilo na
Historiografia Portuguesa, in, Centro de Estudos de História e de Cartografia
Antiga, Lisboa,1992. O autor sem nunca se referir a M.Barreto, sustenta que
Colombo não era um espião, mas um ignorante, cujas ideias não importunavam os
projectos de D João II. Nesse sentido, o rei mostrou-se sempre indiferente face
às suas descobertas. É impressionante a ignorância revelada pelo autor sobre as
relações entre D. João II e Colombo.
- Luís de
Mello Vaz de São Payo, Carta
aberta a um “curioso" de Genealogia, Armas e Troféus, IX Série,
T. I, 1999. Idem, Carta aberta a um agente secreto, Armas e Troféus,
VII Série, T. I, 1996.; idem, Primeira Carta Aberta a Mascarenhas Barreto, Armas
e Troféus, VI Série, T. VI, 1994.
A
maioria destes autores estava ligada à Comissão para as Comemorações
dos Descobrimentos de Portugueses (? ), cuja grande obra foi a construção do Pavilhão de Portugal na Feira de Sevilha (1992),
cuja principal novidade consistia em requintadas e sofisticadas casas de banho e respectivas retretes, em especial
as do responsável pelo pavilhão. O que diz tudo
sobre o nível como abordaram a questão.
7.3. Vasco Graça Moura
A obra de Mascarenhas Barreto
provocou em alguns historiadores como Vasco da Graça Moura (Cristóvão Colombo e
a floresta das asneiras) reacções delirantes, levando-os a publicarem "provas"
falsas para tentarem sustentar a tese genovesa.
Este antigo presidente da Comissão
para as Comemorações dos Descobrimentos de Portugueses, numa prova de enorme
sabedoria publicou, por exemplo, um conhecido desenho de Lazzaro
Tavarone do século XVII, como sendo da autoria do próprio Colombo. O desenho
foi acompanhado de uma assinatura falsa. Mais
7.4. Luís Filipe Thomaz
Este notável historiador português,
em 2016/17, resolve retomar as teses de Mascarenhas Barreto e defender de forma
acrítica a origem genovesa de Cristovão Colombo, em dois artigos - "Cristovão Colón. Português, natural de Cuba, agente secreto de D. João II ?" (Anais de
História de Além-Mar, XVI, 2015, pp.483-542) e "Cristovão Colombo e a Vila de
Cuba" (Boletim da Associação de Professores de História, APH, 1916) -, os quais
tiveram eco na comunicação social: "Historiador reafirma que Colombo não era
português nem espião de D. João II. Luis
Filipe Thomaz reabre o debate sobre a origem do navegador num artigo publicado
pela Universidade Nova", artigo da autoria de Virgílio Azevedo, Expresso,
22/04/2017.
O texto de Luis Filipe Thomaz é um
repositório de ideias feitas, revelando uma inacreditável falta de conhecimento
dos textos e contextos de vida de Colombo. Fica-se por uma crítica às teses de
Mascarenhas Barreto ignorando tudo o que depois disso se escreveu em Portugal,
mas não só, sobre o assunto.
Encontros Oceânicos: canoas indias e
navios portugueses.
Enquanto os
historiadores portugueses se empenhavam a desvalorizar todas as ligações
de Colombo a Portugal, o historiador espanhol - Juan Pérez de Tudela
y Bueso - procurava demonstrar que antes de 1492 ocorrera um
encontro entre portugueses e indios.
Mulheres
indias, vindas de Guadalupe ou Martinica em canoas, por volta de 1482/3, encontraram-se a 350
ou 400 léguas a oeste da Ilha Ferro, nas Canárias, com um navio
português.
Pérez de
Tudela chegou a esta conclusão baseado num estudo rigoroso da História Rerum de Eneas Silvio Piccolomini, dos Tratados do
cardeal Pedro de Ailly e em centenas de relatos, muitos dos quais
registados pelo próprio Colombo. Este encontro permitiu aos portugueses
terem conhecimento das indias, um conhecimento a que Colombo teve acesso
durante os muitos anos que viveu e navegou em Portugal (25).
"(...) fue
el encontro de ameríndias y portugueses en el centro del atlântico, lo
que engendró el movimiento de inquietudes "inventoras" de islas, que
Colón elevaría a descobrimiento de un Nuevo Mundo" (26).
Esta
teoria é curiosamente coincidente com o mais antigo Roteiro de Marear
que se conhece feito em Portugal, data de 1480-1485. Neste Roteiro, como
observou o historiador Vitoriano Magalhães Godinho, consta já a rota
para chegar às Antilhas a partir da Ilha do Ferro (Canárias), fixando-se
inclusive a distância: 700 milhas. Colombo seguiu exactamente este
caminho e referiu a mesma distância. Mais |
8.
Confronto Global de Informação
As obras de Mascarenhas Barreto tiveram o condão de estimular nos EUA, uma
importante investigação realizada por Manuel
da Silva Rosa e Eric J. Steele - "O
Mistério e Colombo Revelado" (2006). O mesmo autor produziu depois uma
interessante síntese intitulada - "Colombo Português" (2009),
na qual revelou novos dados.
A
verdade é que a partir de 2000 regista-se uma mudança de atitude dos intelectuais portugueses face ao mistério de Colombo.
As facilidades proporcionadas pelo acesso global
a documentos e ideias, através da internet, permitiram um confronto que ultrapassava as visões
locais. O fácil acesso às obras que defendem a tese da nacionalidade
italiana (genovesa ou outra) tornou bem patente as suas enormes contradições e
inconsistências. As teses espanholas são no mínimo
ridículas, mas tem a vantagem de fazerem o levantamento de muitos
problemas.
Este confronto de fontes à escala global mostrou
mais do que nunca a pertinência da origem
portuguesa de Colombo (Cristoval Colon).
Carlos Fontes
A Verdadeira
Identidade de Cristovão Colombo ?
A primeira coisa que qualquer
historiador descobre quando investiga a origem de Cristovão Colombo, é que o seu
verdadeiro nome é outro. A segunda é que ele não tem qualquer ligação a nenhum
Estado italiano da época, nem sequer à sua suposta familia genovesa. Tal como os seus irmãos, desconhece, por exemplo, o Italiano ou
qualquer um dos seus dialectos.
Os documentos oficiais nos 21 anos em que viveu
em Castela/Espanha, quando referem explicitamente a sua nacionalidade identificam-no
como "português" ou "estrangeiro", nunca lhe atribuem outra origem. O mesmo acontece com os seus irmãos.
O único
documento italiano que alegadamente refere a sua nacionalidade genovesa é
comprovadamente falso.
Como se tudo isto não bastasse
nunca manifestou qualquer ligação afectiva com Itália, ao ponto de
sistematicamente procurar prejudicar todos os seus Estados. As suas relações com
italianos quando são puramente financeira.
A profunda ligação que Colombo manifesta
com Portugal é de tal modo evidente que, por mais que tenha sido ocultada, não
pode deixar de ser colocar a questão da sua origem portuguesa. Em
Portugal e em Espanha, por exemplo, viveu sempre entre portugueses e na casa de
portugueses, nunca se afastou dos mesmos.
No estado actual da nossa investigação, podemos afirmar que pertencia a uma família nobre
com laços profundos à Casa dos Duques de Beja-Viseu, Duques de Bragança,
aos Noronhas, Albuquerques, Ataídes e Monizes.
Integrou a elite dos
navegadores portugueses (ligados à Ordem de Santiago de Espada) e teve acesso aos
segredos do Estado português. Era amigo pessoal de D. João II.
Manifesta uma profunda ligação à Ordem de Avis e à dinastia real de Portugal, ao ponto de levar consigo uma
bandeira com a Cruz Verde quando, a Outubro de 1492, aportou às Indias
(América).
Mas qual seria a sua identidade ?
A tarefa não é fácil de resolver, dado que estamos perante alguém procurou e
conseguiu ocultar as suas origens. As razões porque o fez continuam a ser motivo
de especulação.
Os historiadores portugueses que
se tem debruçado sobre o problema, seguiram duas vias para o identificar:
A) Personagem Fictícia
Com base em certos indícios e
interpretações frequentemente esotéricas dos escritos de Colombo, criaram uma
personagem fictícia a que depois procuram dar consistência histórica.
- Salvador Fernandes Zarco. Colombo
era filho bastardo de um nobre português, um caso nada estranho para a
época, pois ele próprio teve também um filho bastardo em Castela (D. Hernando
Colón). Nasceu no Alentejo, numa família ligada à Ordem
Militar de Avis e / ou de Santiago de Espada. Mais
B ) Personagem Real
Partindo de dados históricos
conhecidos sobre Colombo, procuram depois encontrar uma personagem real que
seja ajustável ao seu percurso de corsário e navegador, tendo em conta muitos
outros aspectos (textos, ligações familiares, nobreza, conhecimentos, crenças, etc).
- Pedro de Albuquerque. Um nobre corsário que chega, em
1484, a Almirante-Mor de Portugal. Mais
- Pedro João Coulão. Um enigmático corsário que entre 1469 e 1485 andou ao serviço de
Portugal. Mais
- Henrique, o alemão. O filho de um rei polaco que se
exilou na Ilha da Madeira, e se transformou num experiente navegador. Mais
Nesta sucessão de hipóteses, o
grau de concordância com os factos históricos é muito variável. Algumas estão
formuladas de forma tão vaga é que impossível testar a sua veracidade.
Carlos Fontes |
|
|