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As Provas do Colombo Português
37.
Armadilha Genovesa
Os
genoveses entraram na vida de Colombo explorando os seus segredos, quando o
sentiram encurralado pela corte espanhola tentaram explorá-lo, depois de o mesmo
ter falecido inventarem dívidas e dádivas. Como nada disto funcionou, como
veremos, tentaram uma vez mais sem sucesso herdar os seus bens e privilégios.
a)
A Escolha de Castela
Colombo
afirmou que durante 14 anos, isto é, entre 1470 e 1484, tentou convencer D. João
II a dar-lhes o comando de uma expedição para atingir a India navegando para
Ocidente.
Durante
estes anos, foi muitas vezes à Guiné, participou em expedições ao Atlântico
norte, mas também na longa guerra de Portugal contra Castela e Aragão
(1475-1479). Foi na sequência de uma conspiração contra D. João II (1484), que
"fugiu" para Castela, como muitos outros nobres portugueses. Em
Castela não foi à procura de nenhum italiano, mas de uma portuguesa, a sua
cunhada Violante Moniz Perestrelo, em casa da qual sempre viveu antes e depois
de 1492.
A partir de
1485 passou a tentar convencer a rainha de Castela a apoiar
a sua expedição. Porquê Castela?
Colombo adoptou uma posição comum a
outros portugueses que se exilaram em Castela: Aparentemente quando fugiu para
Castela estava ciente que aí teria protecção e uma generosa recompensa da rainha
de Isabel. Muitos foram os exilados portugueses que na mesma altura se colocaram
ao serviço de Castela. Mais
Durante a guerra com Castela
(1475-1479) ficou claro que Castela estava interessada e empenhada em ter acesso
às pescarias do Cabo do Bojador, ao escravos e ouro da Guiné. Colombo
conhecia muito bem este interesse dos castelhanos, mas não os levou para África,
afastou-os cuidadosamente dela.
Na altura a França e Inglaterra não
manifestavam grande interesse por África e muito menos pelas descobertas geográficas. O
único interesse que podiam ter era no saque obtido pelos seus corsários-piratas
dos navios dos reinos da Península
Ibérica, o que constatou Bartolomeu Colón depois de 1488.
As
repúblicas italianas, como Génova, Florença ou Veneza, no século XV, não
tinham poder, nem meios para enfrentarem os portugueses e os castelhanos no Atlântico,
o seu espaço natural era o Mediterrâneo.
D.
João II, encarou a oferta de Colombo a Isabel de Castela não como uma traição, mas como uma
excelente ideia para afastar os espanhóis das costas de África. A carta que lhe
escreve, em 1488, dá-nos conta do apreço que o rei manifestava pelo seu trabalho
em Castela.
Colombo e o seu irmão Bartolomeu, recebem todo o apoio do rei português.
Foram então realizadas várias operações internacionais, de forma de afastar
os castelhanos/espanhóis de África. Mais.
Esta cumplicidade entre Colombo e D.
João II, várias vezes denunciada, levanta a questão do real motivo da "fuga"
para Castela. Conspirador ou espião infiltrado entre exilados?
b)
O
Segredo do Financiamento 1ª. Viagem
A
primeira viagem de Colombo à América, em 1492, envolve um grande segredo: - quem a financiou ?
Sabemos é que o custo total da viagem ficou em 2.000.000
maravedíes, assim repartido:
1)
1.140.000 representaram a contribuição da Corte Espanhola, a qual se
socorreu de vários empréstimos:
Abravanel,
um judeu português, emprestou à corte pelo menos 500.000 maravedis (12). O restante foi pedido emprestado a outros
espanhóis, e curiosamente a nenhum italiano. O célebre banqueiro judeu Luiz de
Santángel, entrou com apenas 140.000;
2)
500.000, o dobro de um oitavo, constituiu a contribuição de Colombo, dado que
teve que custear também o "resto".
3)
360.000 terão sido suportados "à força" pelos habitantes de Palos,
correspondentes ao frete de 2 caravelas.
A
contribuição de Colombo representa uma soma muito avultada, se tivermos em
conta que se tratava de um pobre plebeu, na sua versão italiana. Não
restam dúvidas que desembolsou esta quantia, confirmada pelo seu filho no
processo que moveu contra a corte espanhola (25).
A
situação era tanto mais complicada se pensarmos que esta quantia tinha que ser disponibilizada
em cerca de 15 dias: Entre o dia 17 de
Abril (data das "Capitulações") e 5 de Maio de 1492 (data
fecho das ordens de pagamento).
Quem lhe terá emprestado
esta avultada quantia em dinheiro ?.
Durante
a sua vida, NUNCA ninguém apareceu a reclamá-la.
A partir destes dados muitas têm
sido as hipóteses formuladas para explicar a origem desta avultada quantia.
Credores
Italianos
Estes alegados
credores italianos só surgiram depois da sua morte (1506), inventando
histórias que haviam financiado a
primeira viagem, mas foram rapidamente desmentidos. Os documentos que apresentaram eram falsos.
Entre os supostos financiadores
italianos são particularmente referidos os seguintes:
-
Juanoto Berardi,
florentino, agente de Marchione. Os seus netos, em 1512, afirmam que no
seu testamento,
Berardi diz que terá
contraído um avultado empréstimo para financiar a 1ª. Viagem.
Mais
-
Os três genoveses de três cidades diferentes, referidos pelo Frade Antonio de
Aspa. Mais
Pistas
de Lisboa
Tudo indica
que tenham sido portugueses a financiar a viagem, pelos mais diversos motivos.
1. D. João II.
A viagem de Colombo interessava aos
seus objectivos, pois afastava os castelhanos/espanhóis da rota que os
portugueses estavam a seguir para atingir a India. Marchione, um dos seus
banqueiros-negreiros, podia-o fazer sem grandes envolvimentos do próprio rei.
D. João II sabia,
o entanto, que jamais poderia reclamar o dinheiro
investido nesta expedição, pois Colombo seria acusado traição. O segredo
teria que manter-se, o que veio a acontecer.
Não
deixa de ser curioso que após o seu regresso da 1ª. Viagem, a primeira coisa
que Colombo fez foi comunicar com os seus reais financiadores: Dirigiu-se a
Lisboa para conferenciar com D. João II e enviou desta cidade uma carta para o
banqueiro Santángel. Ele sabia melhor que ninguém quem o estava a financiar.
2. Exilados portugueses
Colombo
desde que chegou a Castela viveu sempre rodeado de portugueses exilados, em particular
os da família da sua esposa. Entre os exilados portugueses, destacavam-se os
bragança: Alvaro de
Bragança, a Marquesa de Montemor e o Duque de Faro, e o poderoso seu poderoso
banqueiro: Don Isaac Abranavel.
Qual
deles lhe terá dado os 500.000 maravedis
que necessitava? Não sabemos, mas tudo aponta para que tenha sido este último.
2. 1. Don Isaac Abranavel
Entre os
grandes mercadores-banqueiros judeus de Lisboa, no século XV, contam-se
as famílias Negro ( Ibn Yahia), Abranavel, Lantam e Palaçano.
Estes poderosos
judeus cortesãos tinham
acesso directo aos reis, aos quais emprestavam enormes fortunas, gozando de
enormes privilégios na sociedade portuguesa.
Um acontecimento vai marcar a sua vida de Don Isaac Abranavel: o seu
envolvimento na conspiração de 1483 do Duque de Bragança contra D. João II,
tendo assegurado o seu financiamento até 38.000.000 reais, uma quantia fabulosa
para o tempo ( 3). A conspiração foi abortada e Abranavel, à semelhança de
muitos outros nobres portugueses, refugiou-se em Castela para não ser morto. No ano seguinte, a partir de Castela, apoiou
a conspiração D. Diogo, Duque de Beja-Viseu.
Don Abravanel
(ou Abrabanel, Bravanel, Bababanel), nasceu em Lisboa (1437), pertencia a uma das mais poderosas famílias de mercadores e
banqueiros de Portugal no século XV.
Eram os principais banqueiros da
família real e das duas principais casas da nobreza portuguesa: a Casa dos Duques de Bragança e
a dos Duques de
Beja-Viseu.
Aparecem como os credores do infante D.
Fernando, que morreu em Fez. Juda Abrabanel, tio-avô de Isaac foi o tesoureiro do
Infante D. Fernando de Portugal, mestre da Ordem de Cristo e da Ordem de
Santiago. Isaac financiou a sua esposa a infanta Dona Beatriz e o seu filho D. Diogo (assassinado,
em 1484, por D. João II) (21).
Isaac Abravanel
era um verdadeiro cortesão, integrando a corte de D. Afonso V,
estando desde muito novo
destinado a ser um alto funcionário de Portugal. Como banqueiro da corte participou,
por exemplo, no financiamento da
guerra contra Castela (1474-1479).
Era amigo do 3º. Duque de Bragança (decapitado em 1483 ), estando muito ligado ao 1º. Conde Faro de quem era amigo pessoal.
Em
1470 escreveu-lhe uma célebre para o consolar da morte do
seu sogro o 1º.Conde de Odemira (Sancho de Noronha, 1390 - 1470 ?).
Quando fugiu
para Castela, a 31/5/1483, fez-se acompanhar de outros membros da sua família,
como os seus filhos Judah Abranavel (Lisboa, 1460-Itália, 1535), Samuel
Abranavel (Lisboa, 1473-Ferrara, 1547) e José Abravanel (Lisboa, 1471-Ferrara,
1552).
Começou por residir junto à fronteira de Portugal, em Segura de Leon (Badajoz),
mas em Junho de 1485 já tem residência em Alcalá de Henares. Outros
membros da sua família, como o seu filho Leão Hebreu (Judah Abravanel),
médico e filósofo, instalaram-se em Sevilha, onde existia uma enorme comunidade
de exilados portugueses.
Gozando do estatuto de abastado exilado, Abravanel,
por mediação de Alvaro de Bragança, converteu-se em pouco tempo, num dos
principais banqueiros de Castela e conselheiro da rainha Isabel (24). Em Março
de 1484 era recebido, em Tarazona, pelos reis católicos. Passa a
arrendar e a arrecadar as rendas da Corte espanhola (2). Em 1488, por exemplo,
recebia as rendas de Plasencia. Detentor de uma enorme fortuna, empresta aos
reis católicos, em 1491, a quantia de 1.500.000 maravedis para financiar a Guerra de Granada
(20).
Desde muito cedo aparece relacionado
com a família Mendonza.
A partir de 1487 gere as rendas do cardeal Mendonza. A 10/9/1490 surge como
contador mor dos Duques do Infantado (Casa Mendonza), mudando-se no ano seguinte
para Guadalajara (33).
Entre
1491 e 1494 foi o principal fiador de Rabi Mayr (Fernan Núnez Coronel, nome
cristão), o banqueiro dos reis espanhóis. Colaborou também com Don
Abraham Senior.
Esta relação com o poder, leva-o a
pensar que está a salvo da perseguição que os judeus eram vítimas em Espanha, o
que se revela uma pura ilusão. A 31 de Maio de 1492 é obrigado a sair de
Espanha, levando consigo 1.000 ducados de ouro e joias de prata. Uma parte dos seus bens
são logo confiscados pelo Duque de Plasencia e o Mestre da Ordem de Alcantara (Juan
de Zúñiga y Pimentel (1473-1492), ligada a Fernando de Aragão, a outra parte é entregue à guarda
de Fernan Núnez Coronel.
Em
Nápoles, onde se refugiou, serviu a família real, mas também daqui teve que
fugir, vendo a sua rica biblioteca ser destruída pelos franceses. Mudou-se
depois para a Sicilia, Monopoli (Bari) (9), estabeleceu-se por último em Veneza (1503), onde colaborou nas
negociações de um tratado
comercial entre Portugal e esta republica do Adriático. Morreu em 1508, sendo o seu
corpo cremado em Pádua, onde se encontra sepultado outro lisboeta: Santo
António de Lisboa.
Parte da sua família
permaneceu em Portugal depois de 1483, vindo a recuperar grande
parte dos empréstimos a D. Diogo (21), tendo alargado os seus
negócios à feitoria portuguesa de Antuérpia (8).
2.2. Abranavel - Marchione e
África
A ideia de Colombo de
navegar para Ocidente, afastando os castelhanos/espanhóis de África
correspondia aos interesses de Abranavel e da sua família.
A rede
de negócios da familia Abranavel, em Lisboa, era muito ampla
abrangia, por exemplo, o açúcar da Madeira, mas também negócios na
Guiné. Nos anos de 1482/83 arrendaram o trato da vintena da Guiné,
isto é, um imposto de 5% sobre os escravos, ouro, pescarias,
etc.(14)
Outro
banqueiro-mercador interessado neste afastamento dos espanhóis de África, era o
florentino naturalizado português -
Marchione -,
sócio de Don Isaac Abranavel em vários negócios..
Em 1475, por exemplo, um estudante português, em
Perúsia, Afonso Rodrigues, tem uma conta
aberta em Florença no valor de 200 ducados de câmara, creditada por Don
Isaac Abranavel e mestre Latam, por intermédio de
Marchione ( 4 ).
Estamos perante
outra das personagens que através do seus agentes em Espanha, como veremos, irá
continuar a apoiar o financiamento de Colombo.
2.
3. Financiamento
de Colombo
Abravanel não apenas
estava ligado ao mesmo grupo de conspiradores de Colombo, mas também
objectivamente tinha interesse na sua viagem, pois afastava os espanhóis de uma
área de negócio que era muito rentável à sua familia.
Face a esta situação
é fácil de perceber porque desde
desde
1487 aparece a apoiar Colombo.
Integra um grupo de judeus
portugueses e espanhóis ligados a Diogo de Deza (D`Eça), um bispo com raízes portuguesas.
Em Salamanca, neste ano, é o primeiro a manifestar-se disponível para
financiar a viagem de Colombo, mas a iniciativa ficou sem efeito pois a
viagem não foi autorizada pela Corte.
Porque o terá feito
? A pedido dos braganças aos quais estava ligado? A pedido de outros nobres
portugueses exilados em Espanha ou de Marchione ? Todas as hipóteses são
possíveis.
O que sabemos
é que a sua acção não terminou em 1487, muito pelo contrário.
Acaba por ser mais tarde
o principal financiador da primeira viagem de Colombo (1492), contribuindo com
pelo menos 500.000 maravedis, dos 1.140.000 investidos pela corte espanhola(12).
A contribuição de Luis de Santangel para esta viagem, até agora
o único mencionado, fez apenas
um modesto empréstimo. embora seja o mais divulgada, e não passado de 140.000 (19).
Poderá ter assegurado o financiamento da comparticipação do próprio Colombo,
ou envolveu nesta operação
o seu amigo e sócio de negócios em Lisboa - Marchione
ou o próprio Alvaro de Bragança.
Nesta altura Marchione, com o apoio de D. João II, montava uma rede mercadores e
prestamistas em Castela e em Aragão (Espanha) de forma a controlarem não
apenas o tráfico negreiro, mas também as viagens às Indias. Tudo se passa num circulo muito restrito de pessoas, sempre ligadas a
Lisboa.
Dada
a fuga de Espanha, em 1492, de Don Isaac Abranavel é natural que o
dinheiro que emprestou a Colombo nunca tenha sido reclamado,
mantendo-se como um segredo entre os exilados portugueses.
|
c
) Logro das Indias Espanholas
Colombo quando
regresso da sua primeira viagem, em 1493, faz questão de anunciar a partir de
Lisboa que encontrara na Ásia terras e povoações riquíssimas.
Perante tantas riquezas, os
espanhóis ficaram receosos que outros reinos europeus resolvessem entrar na
corrida, e aceitaram um novo Tratado de partilha do mundo com
Portugal. Os portugueses de inimigos, tornaram-se rapidamente em seus aliados na
defesa dos respectivos domínios marítimos e territoriais.
A verdade é que as Indias espanholas, não tardaram a revelar-se um desastre total.
Colombo quando voltou às Indias, com
o apoio dos seus irmãos, praticou uma política sanguinária em relação aos espanhóis,
impedindo-os de aí se fixarem. Limita-se durante alguns anos a saltar de ilha em ilha, sem nunca
descobrir as prometidas riquezas da India.
O anónimo português que, em 1494,
escreveu o "Memorial Português"
alertou os reis espanhóis para o logro que Colombo os estava a conduzir,
combinado com D. João II, rei de Portugal.
Os espanhóis que foram na segunda
viagem, quando conseguiam fugir das Indias, mal regressavam a Espanha, iniciavam
uma ativa campanha de denuncia do logro das Indias.
Em vez das ricas cidades asiáticas,
que Colombo não se cansava de dizer que descobrira, o que encontravam eram povos
que andavam nus e viviam em condições miseráveis. O ouro era escasso. A única
grande riqueza explorável eram os nativos, rotulados por Colombo de "canibais",
para melhor justificar a sua escravatura.
A partir de 1495, alguns espanhóis
passaram a sustentar que Colombo não chegara à Ásia, mas a uma ilhas perdidas no
Atlântico.
Colombo viu-se obrigado a regressar
a Espanha, em 1496, para defender a sua posição. Andrés Bernáldez, (1450 -
1513), conhecido por cura de los Palacios, em casa do qual ficou alojado, acabou
por o desmascarar em público, mostrando-lhe a impossibilidade do mesmo ter
atingido a Ásia.
Ao aperceber-se da frágil situação
em que se encontrava, Colombo sente a necessidade de reforçar os fundamentos das
suas mentiras, e garantir a defesa dos seus privilégios.
Alvaro de Bragança envolve-se na
sua defesa, e consegue junto dos reis espanhóis, negociar a manutenção e
reforço dos seus privilégios. Foi então autorizado a instituir um Morgadio,
do qual mandou fazer quatro cópias, que distribuiu pelos sítios mais
diversos de modo a impedir que a Espanha os pudesse destruir. Tinha a consciência
que se tratava de uma segurança temporária.
Portugal não para a exploração do
mundo. Duarte Pacheco Pereira, em 1497/8, é enviado por D. Manuel I para explorar
toda a linha do Tratado de Tordesilhas, fazendo um amplo reconhecimento das costa da América do Sul e central,
chegando segundo Vitorino Magalhães Godinho, à Florida. Uma viagem que Colombo
terá certamente sido informado e que o levou a aumentar a necessidade de
proteger os interesses do seu filho Diego Colón.
Vasco da Gama, também em
1497, é enviado para a India, o que deixa os
espanhóis ficam inquietos. Evocam o Tratado de Tordesilhas (1494), e afirmam a
ilegitimidade de Portugal ultrapassar o Cabo da Boa Esperança.
No
seu entender, a partir deste cabo para Oriente, pertencia-lhe a Pérsia, a India,
em suma toda a Ásia e incluindo a parte Oriental de África.
Colombo convencera-os disso, levando-os a assinarem o Tratado de
Tordesilhas.
Colombo é chamado, em 1497, a
preparar uma defesa das posições espanholas perante estas investidas dos
portugueses. Limita-se a dizer que D. João II nunca ultrapassou o cabo da Boa Esperança, mantendo-se
desta forma fiel ao que fora acordado. Atira as culpas para cima de D.
Manuel I, que teria desrespeitado os limites do Tratado de Tordesilhas.
Graças à acção de Alvaro de Bragança
volta às Indias, agora com novos e mais amplos poderes. Durante a Terceira
Viagem era suposto ter-se encontrado na India com Vasco da Gama. Justifica o
facto de não o ter encontrado pela estranha forma da terra - "Pezonoidal". As
mentiras acumulam-se. Mais
Após
a chegada de Vasco da Gama da verdadeira India, em 1499, a situação tornou-se insustentável.
As riquezas que trouxeram do Oriente, mostravam que Colombo andava a
mentir aos espanhóis (14).
A Corte
retira-lhe a exclusividade das explorações marítimas, pouco depois decreta a
sua prisão (1500). Culminava desta forma dramática, o logro iniciado em 1985.
Era difícil persistir em afirmar que havia chegado à
India, quando o que espanhóis encontravam eram nativos vivendo em condições
miseráveis. As cidades e palácios orientais não passavam de um sonho.
d)
Protecção Bancária Internacional
Um
ano depois do regresso de Vasco da Gama da India, e após ter vindo preso da
Indias, através da amizade que estabelece o padre Gaspar Gorricio,
franciscano italiano, surge-lhe a ideia de procurar uma protecção
internacional para os seus privilégios.
Os genoveses apercebem-se da
fragilidade da sua posição, e das possibilidades de saque que lhes
oferecem. Mais
A
estratégia dos genoveses começa a ser desenhada, em 1501, quando Nicoló
Oderigo, embaixador extraordinário de Génova toma contacto com a situação
de Colombo.
Estava
em Espanha desde Maio de 1500, afim de protestar contra a acção devastadora
que os corsários catalães e maiorquinos faziam a barcos genoveses. Terá sido
em Granada que se encontrou com Colombo, onde lhe garantiu ter encontrado uma forma de garantir a transmissão dos seus privilégios
para o seu filho português - Diego Moniz Perestrelo Colón -, a troca de uma pequena fortuna para um banco
genovês - Ufficio di San Giorgio (Banco de São Jorge).
A
protecção seria feita pelo banco genovês a troco de 10% das rendas que Cristovão Colombo obtinha das Indias
espanholas (5 ).
Confiante
nas promessas do genovês,
em 1502, entrega-lhe duas cópias em pergaminho do seu "Libro de los Privilégios" (1 ), e aceita se associado aos genoveses, embora
os mantenha sempre à distância. Nicoló Odorigo regressou a Génova em
Março de 1502.
Os
genoveses rapidamente percebem que podem explorar a seu favor a situação, uma
vez que Colombo jamais pode revelar a sua identidade e perdeu o controlo da
mesma, está velho e
doente, e sem grande capacidade de manobra.
O negócio com o banco genovês jamais se efectuará.
Mais
Este
afirma-lhe tem uma solução para proteger os seus privilégios e garantir a
transmissão dos mesmos para o seu filho Diego Colon, uma questão que o estava
a deixar doente.
Entre
1501 e 1504, escreveu várias cartas para este embaixador e o referido banco, no
sentido de estabelecer a mencionada garantia internacional para os direitos do
seu filho português.
Era
evidente que o banco genovês, não lhe podia dar semelhante garantia, por isso
o projecto nunca se concretizou.
Um
dos aspectos curiosos desta correspondência é que Colombo nunca usa o seu
apelido, nem do seu filho Diego, mesmo na correspondência com o embaixador.
Assinam "Dom Diego" ou "Domino Christoforo". As suas cartas
estão escritas em castelhano aportuguesado.
Uma
análise mais atenta desta correspondência revela que algumas cartas foram
alteradas e outras são comprovadamente falsas.
1.1.
Carta a Nicolás Oderigo, Sevilha, 21/3/1502
A
carta refere que os reis espanhóis lhe haviam confirmado os seus privilégios e
ele solicitava agora, os serviços do embaixador genovês para garantir que os
mesmos fosse herdados pelo seu filho Diego Colon.
A carta original desapareceu,
o que existe é uma cópia guardada no Palazzo Municipale di Genova,
Municipio de Génova. O interessante desta carta é a referência a Girolano de Santo
Stefano (Jerónimo de Santo Estevão).
Colombo, nesta carta, dá a entender
que estava à espera em Sevilha da chegada de "Gerónimo de Santiesteban",
mas como este não chegou, e ele ia partir para uma nova viagem ( a quarta), diz
que Gerónimo de Santiesteban não se devia preocupar, pois o rei e a rainha de
Espanha dão-lhe tudo o que que for preciso até que ele (Colombo) regresse das Indias. O que veio só a acontecer dois anos depois...
Como é sabido, a célebre carta deste
mercador genovês veio parar a Portugal, onde foi publicada justamente a 4 de
Fevereiro de 1502,
com o Livro de Marco Polo, numa edição patrocinada pela Rainha Dona
Leonor. Mais
Os falsários italianos, ao incluírem
o nome de Girolano de Santo
Stefano na carta,
procuraram credibilizar o seu conteúdo, estabelecendo uma ligação a Colombo, a Portugal e
a Lisboa.
A ligação a Portugal é ainda maior,
se tivermos em conta que a carta de Girolano de Santo
Stefano foi dirigida a Joham Jacome Mayer, a 1/9/1499. Acontece que membros desta
familia italiana vieram para Portugal, em princípios do século XVI, tendo depois
se fixado no Brasil.
1.2
Carta ao Banco de San Jorge, Sevilha, 2/4/1502
Colombo
começa por afirmar que não é imortal, e que deseja que o seu filho tome posse
dos seus bens. Refere o nome do embaixador genovês como o seu intermediário
junto do Banco, e pede aos seus dirigentes para que vejam os seus privilégios.
Em troca dos serviços do Banco, mostra-se disposto a dar-lhes "para
sempre" 10% dos seus rendimentos.
Lápida
em Génova, no Palácio de San Giorgio, com a reprodução da célebre carta de
Colombo (2 de Abril de 1502).
A
carta cujo original desapareceu, pertence ao Municipio de Génova. Numa simples
análise são facilmente detectáveis várias falsidades, como a referencia a um
suposto Conselho que Colombo pertenceria. Não tem um destinatário preciso,
tudo muito vago, de moda a evitar que o falsário fosse descoberto.
1.3
Carta da Nicolás Oderigo, Sevilha, 27/12/1504
Nesta
carta queixa-se de nunca ter obtido qualquer resposta do Banco de S. Jorge, pelo
que afirma: "Si ansí es, descortesía fue d`eses señores de San georgi de
non haber dado respuesta; ni por ello han acrescentado la fazenda y esto es
causa que se diga: que quíen sirve a común non sirve a ní(n)guém".
Queixa-se
por último, ao embaixador genovês, que o seu filho "Don Diego non fue
puesto en la posesión ansí como fue la promesa".
O
original da carta desapareceu, a cópia da carta encontra-se também no Municipio
de Genova.
Estas
cartas estão escritas em castelhano aportuguesado, pois
ele não sabia falar, nem escrever italiano ou qualquer um dos seus dialectos.
1.4.
Carta da Juan Luis de Mayo, Sevilha, 27/12/1504
Colombo
manifesta-se desesperado, pois não encontra forma de passar os seus privilégios
para seu filho Diego Colon. Continua a alimentar a ideia que o Banco de S.
Jorge lhe dará uma resposta, pois continuam a assegurar-lhe essa possibilidade:
"Padre
Juan diz que loss San Georgi son muy nobles señores y que cumplirán comigo, de
que debo yo dar infinitas gracias a Dios Nuestro Senor".
Não
só revela não conhecer ninguém no Banco, mas tudo o que dele sabe provém de
outras fontes de informação. A questão é sempre a mesma: uma garantia
internacional que o seu filho herdaria os seus privilégios.
Esta
carta conserva-se em Madrid, mas não é o original.
As
suas relações com os genoveses reduzem-se a esta frustrada tentativa de
negociação, iniciada por o embaixador genovês. É por esta razão que o seu
nome não consta sequer na lista dos clientes do banco.
1.5.
Falsificações Genovesas
Os
genoveses nãos e contentaram com estas cartas, nem se limitaram a intercalar
novos dados, produziram duas cartas falsas, que teriam sido enviadas a Colombo
ou ao seu filho Diego pelo Banco de S. Jorge
para Colombo.
As
cartas são ambas datadas de 8 de Dezembro de 1502 e são dirigidas é supostamente dirigidas a Colombo
e a seu filho Diego. Um é tratado por "Domino Christoforo" e outro
por "Dom Diego". Nenhum deles as recebeu.
As falsidades
detectadas são tantas que nem sequer são levadas em conta por nenhum
historiador minimamente sério.
Esta
correspondência comercial tem sido usada pelos italianos para
afirmarem a alegada identidade genovesa de Cristovão Colombo, o que é um
completo disparate.
2.
2.
Feitoria Portuguesa de Génova
O
facto mais interessante desta alegadas relações entre Colombo e o banco genovês
é o seguinte: as mesmas só ocorrem numa altura que D. Manuel I, rei de
Portugal, resolveu abrir uma Feitoria em Génova, colocando à sua frente uma
cavaleiro da Ordem de Cristo. Esta Ordem terá sido a intermediária nestas
negociações ?
Só
nesta altura, e com o apoio de portugueses na cidade, é que Colombo solicitou
os serviços do banco genovês para guardarem documentos que protegiam
internacionalmente os interesses do seu filho português.
3.
Aproximação de Colombo ao Papa
Em
reinos católicos como Portugal ou a Espanha, no séculos XV ou XVI, o papa
desempenhava um papel de protecção muito importante. Em teoria tinha apenas
conta os interesses da Igreja, como a grande comunidade de todos os cristãos.
Apesar destes saberem que os papas eram corruptos e estavam ao serviço de
interesses vários, ninguém nos países católicos podia passar sem os evocar.
Colombo, como Portugal não deixaram de solicitar o apoio do papa na defesa dos
seus direitos.
É
neste contexto que por volta de 1498, Colombo vê no padre Gorrício, italiano,
uma forma de poder chegar ao papa, solicitando-lhe a defesa dos seus privilégios.
Desesperado
com a situação em que se encontrava, em Fevereiro de 1502, escreve uma patética
carta a Alexandre VI, solicitando-lhe o seu apoio para a obra de expansão da fé
que estava a realizar nas Indias. Nela evoca o quanto já dera à Espanha,
e o que lhe haviam prometido.
O
seu irmão Bartolomeu Colon, em 1506, fará uma visita a Roma com o mesmo
objectivo.
O
que oferecem ao Vaticano era mais do que a expansão da Fé cristã, eram as próprias
Indias espanholas.
5.O
que Colombo esperava dos Italianos ?
A
pretensa origem italiana de Colombo só se colocou no final do século XV,
quando os italianos o procuraram ligar a várias cidades e em especial a Génova.
Não foram os únicos, os portugueses, mas também os espanhóis estavam
aparentemente interessados nesta confusão. O
que esperava Colombo dos italianos ?. A julgar pela documentação que deixou,
tinha objectivos muito específicos em relação aos mesmos. Contratou-os para:
1.
Divulgarem internacionalmente as suas descobertas, de modo a
comprometer os reis de Espanha com os seus compromissos. Neste trabalho de
divulgação das notícias verdadeiras e falsas que serviam os interesses de
Portugal, serve-se de italianos, como Américo Vespúcio (c.1454 - 1512).
2.
Assegurem a circulação de capitais entre a Espanha e Portugal.
Os italianos funcionam como intermediários de transferências secretas de
dinheiro para pessoas em Portugal. O seu cunhado Francisco de Bardi
italiano, circulava entre Lisboa e Sevilha (em 1508 aparece morto).
3.
Guardarem documentos
depositados em conventos.
Esta função tem sido posta em causa, mas é a principal que sido atribuída ao
frade Gaspar Gorricio. Uma função que o mesmo não cumpre pois fez
desaparecer os documentos que estavam à sua guarda.
4.
Garantirem uma
protecção bancária internacional dos contratos que celebrara com a Corte
Espanhola. Génova
significava para Cristoval Colon um Banco Internacional que lhe poderia garantir
a protecção dos seus privilégios em Espanha. As suas relações com a cidade
são puramente comerciais e passam exclusivamente através deste banco. Porquê
Génova ? O sistema bancário italiano era o melhor do mundo, e os italianos hábeis
em transferências de dinheiro.
Colombo
só recorre a este Banco quando os portugueses chegam à verdadeira India, em
1498. Ele sabe que não pode continuar a mentir por muito mais tempo e não
tardará a ser desmascarado como um espião ao serviço de Portugal.
f
)
Beneficiários e Credores Italianos
Os
falsários italianos procuraram apropriar-se da herança de Colombo, forjando
documentos nos quais aparecem dívidas e dádivas a genoveses e
à própria cidade de Génova. Acontece que nenhuma
destas dádivas ou dividas foi saldada:
- Os descendentes de Colombo consideram-nas fraudes.
- Os tribunais que no século XVI
e seguintes julgaram estes casos, não tiveram
dúvidas em classificar os supostos credores de burlões e os documentos que
exibiam de falsos.
Para
dar maior credibilidade a estas dávidas ou dívidas,
os falsários italianos fizeram constar nos documentos nomes de pessoas ou
mercadores residentes ou com negócios em Lisboa.
A
fim destas pessoas não puderem ser identificadas, assim como as suas supostas
dívidas, as referências foram feitas em termos muito vagos de forma a
impossibilitar qualquer confirmação.
Os
documentos onde constam estas supostas dividas não estão assinados, nem têm testemunhas.
Não
há qualquer registo que estes supostos credores ou beneficiários de Colombo
tenham alguma vez recebido o que quer seja de Colombo ou da sua família, mas
também não se importaram com a situação.
A razão é simples: Não
tinham dividas a receber, porque tudo não passava de uma aldrabice !
Estes
nomes fazem parte de um plano para ligar Colombo a Génova, de forma a legitimar
o ataque dos
ladrões italianos à sua herança.
Dívidas no "Codicilo de 1506"
A
história desta falsificação conta-se em poucas palavras:
Colombo
um dia antes de morrer, a 19 de Maio de 1506, na cidade espanhola de Valhadolid,
mandou escrever um novo Testamento
, onde nunca refere a sua origem
genovesa, nem sequer manifesta
qualquer ligação a Itália ou a italianos. Este Testamento está
devidamente autenticado por um notário, com testemunhas, data, etc.
O testamento anterior, como é nele referido, teria sido redigido em 1502, tendo
ficado guardado no Convento de las Cuevas ao cuidado do frade Gorricio
(italiano), mas acabou por desaparecer. Os
falsários genoveses trataram
rapidamente de acrescentarem um apêndice (codicilo) ao ao Testamento de 1506, onde surge uma relação pessoas
a quem Colombo teriam emprestado dinheiro. Trata-se de uma folha solta que foi acrescentada a um documento oficial. Esta
folha de papel não está assinada, não tem testemunhas, o próprio nome do
notário é diferente do que fez o Testamento. Em suma, a relação de
dividas não possui elementos jurídicos que possam confirmar a sua autenticidade.
O alegado notário
diz que as transcreveu de um documento escrito pelo próprio Colombo, o qual
teria que o ter escrito muito antes de falecer. Havia muito tempo que o mesmo
não tinha condições físicas para o fazer.
Não se percebe
porque o notário que fez o seu Testamento não foi o mesmo que transcreveu as
dívidas. Para aumentar as suspeitas de falsificação, o documento fala de
Colombo como já tivesse morrido, pois se lhe refere como o que "Foi"
das Indias, no entanto alegadamente teria sido escrito quando ainda estava vivo.
Estamos perante mais uma típica falsificação italiana.
As
alegadas dívidas de aparecem no Apêndice ao Testamento de 1506, o conhecido "Codicilo"
, são uma completa aldrabice. A maioria dos contemplados são
genoveses, embora para não
levantarem suspeitas têm quase todos ligações a Portugal. Mais
Dádivas
Uma
das mais hilariantes falsificações italianas é o chamado Codicilo Militar,
supostamente datado de Valladolid, a 4 de Maio de 1506. Apareceu milagrosamente
quando se procedia à destruição de uma parede, na casa Corsini, na cidade de
Roma, em 1779.
Da herança da família de Colombo,
estava na altura, em disputa o Ducado de Verágua.
Neste
novo "testamento" Colombo "mandava" que depois
de morrer fosse dado à cidade de Génova um livro de preces que lhe havia sido
oferecido pelo papa Alexandre VI. Fosse instituída a fundação de um novo
hospital de pobres na cidade. Numa última disposição estabelecia que no caso
da sua linhagem não ter descendência masculina, o Almirantado das Indias
espanholas deveria ser entregue à cidade de Génova.
A
falsidade destes e outros documentos forjados por italianos e alegadamente
atribuídos a Colombo, não é hoje questionado por nenhum historiador. A
intenção dos italianos é sempre a mesma: forjar documentos para se
apropriarem da sua herança. Mais
Heranças
Colombo
deixou em 1493 nas Indias 39 tripulantes, os quais apareceram todos mortos meses
depois. Os falsários genoveses não tardaram a
tirar partido do silêncio dos mortos.
Produziram
um dois documentos falsos:
O
primeiro documento aparece supostamente escrito em Cádiz, a 20 de Fevereiro
1493.O Almirante ordena que os que haviam ficado nas Indias entregassem todo o
ouro numa arca, distribuíssem as suas três chaves a diferentes pessoas. No dia
20 de Fevereiro Colombo não estava em Cadiz, mas nos Açores. O ouro deveria
ser entregue em Cadiz.
O
segundo documento, é apenas um fragmento de uma alegada carta de Colombo aos reis espanhóis,
datada de 1497. Nesta carta recorda-lhes que nas Indias morreram muitos espanhóis,
mas também estrangeiros, cujas famílias
deviam ser indemnizadas. Colombo volta a falar da arca, com três chaves, onde
afirma que iria depositar as indemnizações solicitadas durante três
anos.
O final da carta desapareceu, pelo que não podemos
sabemos o que os falsários desta vez estavam a congeminar. Aquilo que sabemos é que a
mesma está guardada em Génova, onde é exibida como um documento
autêntico.
Carlos
Fontes
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