Carlos Fontes

 

 

   

Cristovão Colombo, português ?

 

.

Inicio . Anterior . Próximo

 
 

 

As Provas do Colombo Português

 

33. Assassino de Espanhóis

 

Colombo não confiava nos espanhóis e em várias cartas classifica-os como: preguiçosos, de maus costumes, jogadores, cegos pela cobiça, pretendiam apenas enriquecer rapidamente sem trabalho ( 1). É por esta razão que nos seus assuntos particulares prefere tratar com estrangeiros. 

 

- A sua animosidade para com a Espanha, leva-o a afirmar, por exemplo, a Diego Deza que Fernando de Aragão era uma pessoa de má fé, em quem não se podia confiar, fazendo em simultâneo um paralelo com D. João II, a quem não poupa elogios. 

 

- Procurou desvalorizar o contributo do reis espanhóis na sua descoberta afirmando que muito pouco haviam nela investido. 

 

- A razão porque escolheu os reis espanhóis e não os outros três principes (reis de Portugal, França e Inglaterra), como fez questão de referir, deve-se ao facto de lhe logo o terem honrando e lhe fazerem mercês de "títulos de Honra" (Textos, p. 530).

A pressa colocada pelos reis espanhóis na empresa, foi o que o impediu de aceitar o convite do rei Portugal e de contactar o papa com idêntico propósito. (Textos, p.479).

 

Longe de Castela e Aragão, nas Indias, esta desconfiança transformava-se facilmente em ódio, tornando-o num perseguidor e assassino de espanhóis. Entre 1492 e 1500, foram dezenas os que foram enforcados ou mutilados em processos sumários por Colombo e o seus irmãos. Apesar de todas as insistências do reis espanhóis, recusou-se sempre a prestar contas destes actos. 

 

A maioria dos historiadores sempre manifestou uma enorme dificuldade em perceber este comportamento, porque se recusam a encarar a possibilidade do mesmo ser português. 

 

.

 

A) Inimigo de Fernando de Aragão

 

Colombo, à semelhança de muitos outros corsários portugueses foi para a Catalunha, em 1464, para defender a causa de D. Pedro, Condestável de Portugal, mestre da Ordem de Avis, quando este se tornou rei de Aragão.

 

Após a sua morte de D. Pedro, como muitos outros portugueses por lá terá ficado, passando a defender a causa de Renato d`Anjou contra Juan II de Aragão, pai do futuro rei - Fernando de Aragão. O seu objectivo era, neste caso, ajudar a anexar a Catalunha à França, evitando a sua união a Castela. Mais

 

É com grande orgulho que refere que, no Outono de 1472, foi ao serviço de Renato de Anjou, a Tunes para a apresar a galera aragonesa - Fernandina -, tendo enganado inclusive a tripulação sobre o seu verdadeiro destino.

 

"Ami acaeció que el Rey Reynel (Renato de Anjou), que Dios tiene, me envió á Tunez para prender la galaeza Fernandina..." (Colon, Textos, p. 285, Carta a los Reys, La Espanõla, Janeiro de 1495; Las Casas, Hist. das Indias, Livro I, cap.III; Hernando Colón, ob.cit. cap.IV).

 

As exigências de Colombo, consagradas nas Capitulações de Santa Fé (1492), constituíram, como vimos, uma clara afronta a Fernando de Aragão.

 

A questão da escravatura dos Indios oporá também Colombo a Fernando de Aragão. O primeiro vê na escravatura dos indios uma importante fonte de rendimentos, indispensável para prosseguir o seu projecto. O segundo pretende ver nos indios vassalos e não escravos, dando instruções para que os mesmos não fossem molestados (8).

 

Amizade entre Corsários?

 

Colombo lutara contra Fernando de Aragão defendendo Renato d`Anjou, e  os Pinzons de Palos?

 

Em 1477, Vicente Yáñes Pinzón, andava numa armada de três caravelas - duas de Sevilha e uma de Palos, a atacar e roubar as costas da Catalunha (5).

 

Dois anos depois, Vicente com o seu irmão Martin Alonso Pinzon, com uma caravela, chamada chamada Condesa atacaram e roubaram um navio carregado de trigo, propriedade dos moradores de Ibiza, súbditos aragoneses de Fernando, o católico (6).

 

Esta atividade de corsários dos Pinzon contra o reino de Aragão, coincide com o período em que Portugal estava em guerra com Castela e Aragão (1475-1479). Apenas cessaram os ataques quando ocorreram as pazes entre estes reinos (Tratado de Alcaçovas-Toledo, 1479/80).

 

Este passado de corsários, e sobretudo, o de ladrões dos súbditos do rei Fernando de Aragão, terá certamente contribuído para a aproximação de Colombo dos pinzons de Palos. Ambos andaram a saquear as mesmas vítimas, nos mesmos mares.

 

Estamos perante mais um motivo para a escolha de Palos, e a aproximação inicial entre dois experimentados corsários.

 

Apesar deste passado comum de corsários, Colombo não perde uma oportunidade para se defender de Pinzon. Nas Indias, como é sabido, Martín Alonso Pinzón e a sua gente andou a roubar enormes quantidades de ouro aos indios. Colombo quando foi informado (6/1/1493),  aproveitou a ocasião para o acusar estar a roubar o que pertencia a ele e aos reis católicos, recusando-se a aceitar o ouro. Pinzon acabou por trazer o ouro ilegalmente para Palos. Colombo pensava, provavelmente, denunciá-lo, mandando-o prender. A chantagem seria perfeita caso o pudesse pôr em causa nas suas mentiras. Pinzón morreu pouco dias depois do seu regresso à Europa.

 

O ouro que Colombo também roubou aos indios não o trouxe para Espanha, mandou-o enterrar no Forte da Navidad, pensando mais tarde vir a recuperá-lo sozinho (20).

 

 

Ataques pessoais

 

A sua deslealdade para com os reis espanhóis, como veremos, não se limitou a as acções. Acusa-os de não terem investido nas suas descobertas. Caracteriza Fernando de Aragão como uma pessoa em quem ninguém se podia confiar. Para o diminuir, nas cartas que lhes escreve elogia Portugal e sobretudo D. João II. 

 

As próprias Indias diz que lhe foram dadas por Deus, e foi ele que as deu a Espanha. 

 

Negação de Factos

 

O comportamento de Colombo depois de 1497, revela uma crescente hostilidade em relação aos espanhóis, fazendo  tudo o que pode para os expulsar das Indias.

 

A 24 de Abril de 1498, D. Manuel I de Portugal é jurado herdeiro do trono de Castela e Leão em Toledo. Colombo terá assistido à cerimónia. Pouco depois, a 3 de Maio parte para a sua 3ª. viagem às Indias, tendo visitado a ilha da Madeira e Cabo Verde. Após 5 anos a entreter os espanhóis saltando de ilha em ilha, só então resolve ir descobrir a "Terra Firme", o continente que D. João II rei de Portugal lhe havia falado existir a Ocidente de Cabo Verde. 

 

Depois de explorar as novas terras que naturalmente encontrou, junto a actual Venezuela, comunicou o facto à corte espanhola afirmando que havia encontrado um novo continente. A sua convicção profunda era que as novas terras seriam um dia pertença de D. Manuel I ou do príncipe português que se casou com a filha herdeira dos reis católicos.

 

A morte da esposa de D. Manuel I e do principe português, alterou por completo os planos de Colombo (?). É então, por volta de 1499/1500 que passa a afirmar que aquilo que havia encontrado em 1498 não passavam de ilhas, iguais a tantas outras que existiam no mundo. Recusando-se assim atribuir o novo continente aos espanhóis.

 

 

A partir do ano de 1500, os espanhóis passaram a acusá-lo de preparar a entrega as terras descobertas (ao serviço de Espanha) a um "Principe" estrangeiro (o rei de Portugal). 

 

Aliança com o Papa

 

Numa carta que escreveu ao papa, em Fevereiro de 1502, faz uma verdadeira declaração de guerra à Espanha, rogando ao papa que passe a governar as Indias, uma vez que os reis espanhóis seguiram o caminho de satanás (Cfr. Textos, p.481-482).

 

Afirma que descobriu as Indias com um único propósito: arranjar recursos servir a causa da expansão da Fé cristã. Os reis espanhóis, guiados por Satanás, afastaram-no da governação das Indias.  Um discurso que será depois retomado por Frei Bartolomeu de las Casas, quando denunciou o extermínio que estavam a cometer nas Indias.

 

Colombo pretende que o papa, assuma o controlo das Indias espanholas, suplicando-lhes que lhe desse "sacerdotes" e "religiosos" e que possa escolher até seis superiores de qualquer ordem de São Bento, da Cartuxa, de São Jerónimo, de Menores e Mendicantes. Com que objectivo ? Reconquistar as Indias espanholas para o cristianismo, afastando das mesmas a Espanha.

 

Estamos, como dissemos, perante uma declaração de guerra e uma acusação grave aos seus reis, cognominados de "católicos".

 

No fim da vida,  fez questão de assinalar no seu epitáfio que a Castela e a Leão tinha dado um Novo Mundo, excluindo do mesmo o Reino de Aragão.

 

Colombo sempre olhou Fernando de Aragão como um adversário ou inimigo. Um ódio que também manifestaram os seus filhos Diego e Hernando Colon.

 

(...) habiendo (Colón) hallado siempre al rey algo seco y contrario a sus negocios. Esto se vio más claro en la acogida que le hizo  (refere-se ao ano e 1505), pues aunque en la apariencia le recebió con buen semblante y fingió volver a ponerle en su estado, tenía voluntad de quitárselo totalmente, si no hubiese impedido la verguenza.", Hernando Colon, Historia del Amirante, cap.CVIII.

 

Las Casas, grande amigo de Diego Colon, considerava igualmente que Fernando de Aragão era um inimigo da familia Colombo.

 

 

B ) Antecedentes: Guerra contra Castelhanos e aragoneses

 

A documentação existente em Itália é clara num ponto:

Durante 15 anos, este navegador andou ao serviço de Portugal a combater castelhanos, aragoneses, genoveses e venezianos para além de muçulmanos.

 

A sua alegado iniciação como corsário terá começado, em 1469, ao largo costa portuguesa. 

 

O seu "mestre" no corso terá sido Guillaume de Casenove Coulon ou Coullon, um corsário francês que serviu Portugal durante largos anos

 

Uma das primeiras referências a Colombo enquanto corsário, data de 1470, e na qual o Senado de Veneza o identifica como português e diz que o mesmo aprisionara um barco veneziano na Galiza. A partir daqui sucedem-se os ataques contra navios espanhóis e italianos. Entre 1470 e 1473, por exemplo, D. Afonso V financia 4 expedições deste corsário. Em 1474, Veneza apela ao rei de Portugal para controlar as actividades de "Colombo corsário", com o qual teria uma relação privilegiada. Apesar deste pedido, em 1476, afunda 4 navios genoveses e 1 flamengo. 

 

Na guerra entre Portugal e Castela-Aragão (1475-1479), estes e outros corsários atacaram sem descanso as costas da Andaluzia e da Catalunha, assim como as tentativas dos espanhóis se apoderam da Guiné.

 

Vários historiadores espanhóis desde o século XVI, como Nuncibai ou Joseph Ortiz y Sanz (Historia General de España, vol. 6, lib. XV, cap. III, p.131), afirmam que Cristovão Colombo veio para Portugal, em 1476, para ajudar D. Afonso V na guerra contra Castela e Aragão.

 

Recordemos que, em 1478, 35 navios castelhanos quando regressavam da Guiné foram aprisionados pelos portugueses. Colombo terá participado certamente nestas expedições.    

 

Colombo relembra, na sua carta de 15 de Outubro de 1495, um outro conflito que opunha os portugueses aos de Palos: o acesso às grandes pescarias entre o Cabo do Bojador e a Guiné, uma região que foi muitas vezes ao serviço de Portugal (9).

 

Quando chegou "secretamente" a Castela, em fins de 1484,  estava longe de ser uma personagem que inspirasse confiança aos castelhanos.

 

Para cúmulo adoptou um nome de guerra - Colom -, que não deixava de evocar outros famosos corsários com identicas alcunhas que saqueavam navios castelhanos e aragoneses.

 

Era um nome apropriado para poder afirmar a sua autoridade nos mares e infundir respeito a outros corsários espanhóis. Não nos podemos esquecer que o primeiro sítio onde se fixou foi em Palos, o principal centro da pirataria andaluza entre 1468 e 1492. Neste porto viviam corsários como Martin Alonso Pinzón, Vicente Yánêz ou Francisco Martím. O nome de Colom inspirava certamente respeito a estes piratas.

 

La Gomera

 

Colombo, como é sabido, nas Canárias tinha relação especial com La Gomera. Os historiadores tem-se centrado num pseudo-romance entre ele e uma Bobadilla, sobrinha de Beatriz de Bobadilla (12), com o mesmo nome.

 

Esta viúva de Hernán Pereza e senhora da Ilha de Gomera, teria conhecido Colombo antes de 1484, pois só assim se justifica que o mesmo logo na sua 1ª. expedição em 1492 se tenha dirigido para esta Ilha. Continuou a frequentá-la em 1493 e 1498 para se reabastecer, tendo-o feito depois na Gran Canaria quando esta para lá se mudou. Os motivos são mais antigos e estratégicos. Mais.

 

.

B ) Viagens às Indias

 

Uma das formas que podemos acompanhar crescente ódio que Colombo vai manifestando ara com os espanhóis, analisar as suas quatro viagens.

 

1ª. Viagem às Indias (1492-1493)

 

Durante esta viagem Cristoval Colon não hesita em matar espanhóis para garantir o êxito da  sua missão em Espanha:

 

Constatação do Logro

 

Colombo atingiu as Antilhas de 11 para 12 de Outubro de 1492, mas após após algum tempo a percorrer as ilhas tornou-se evidente para toda a tripulação dos três navios que não haviam chegado ao Japão (cipango), nem sequer andavam perto da ambicionada India.

 

Andavam no meio de Ilhas, cujos habitantes eram mais primitivos do que os africanos. Não encontravam por todo o lado as ricas cidades, palácios, nem sequer conseguiam descobrir ouro ou objectos valiosos. O que observam eram palhotas, gente nua e com adornos miseráveis. O fiasco era total, só se aproveitando a paisagem.

 

O descontentamento era cada vez maior, por mais que Colombo continuasse a mentir, afirmando que estavam perto do Japão, algures numa parte qualquer das Indias. 

 

Exclusividade do Saque

 

Colombo impôs aos espanhóis brutais restrições: estavam proibidos de resgatar (apanhar) indios para venderem como escravos, ou de assaltarem aldeias para roubarem tudo o que de valor encontrassem. O único que o podia fazer era o próprio Colombo, ou  alguém sob as suas ordens. Fez mesmo questão de assinalar o facto no seu Diário de Bordo "yo no deje tomar nada" (21/10/1492). O pobre do Rodrigo de Triana, como vimos, terá sido o primeiro a avistar terra, mas quem ficou com o prémio de 10.000 maravedís anuais, oferecido pelos reis espanhóis, foi Colombo...

 

Farto de tantas proibições Martin Alonso Pinzon, no dia 22 de Novembro resolve separar-se de Colombo, de modo a poder pilhar as populações indígenas (18), uma atividade a que se dedicou durante 45 dias.

 

 

Afundamento da Santa Maria

 

Na perspectiva de Colombo as coisas começaram a compor-se quando a 22 de Novembro, a caravela Pinta, pilotada por Martin Alonso, desaparece, ficando perdida algures entre Ilhas. O seu desaparecimento surgiu como algo providencial. Os seus principais críticos estavam no navio, era lógico que pensasse que estariam mortos.

 

Quando se preparava para regressar, eis que ocorre um facto inesperado- a Pinta volta a aparecer (6 de Janeiro de 1493). Colombo, num crescente acesso de fúria, atira-se ao capitão -Martin Alonso Pinzon - acusando-o de insubordinado. O seu pesadelo recomeçava (Cfr.Las Casas, Hist.Indias, cap.65-67). 

 

 

 Enquanto a Pinta era dada como perdida, a  25 de Dezembro de 1492, Colombo e o seu comparsa  Juan de la Cosa, afundam a nau Santa Maria. A manobra é engenhosa  e típica de um espião.

 

O navio é levado para junto da costa, numa zona de perigosa navegação. Colombo, comandante da Santa Maria, foi dormir. O mesmo fizeram o pilotos de guarda - Juan de La Costa e Pedro Alonso Niño. O navio navegando à noite ficou entregue a um marinheiro que também foi dormir, o qual entregou por sua vez o governo da Santa Maria a um grumete (7) .

 

Como era previsível, pelas 4h30 da manhã, a nau Santa Maria encalha, e quais ratos a tripulação foge do navio. Carlos Etayo - La Verdad sobre la "Santa María", "Pinta" y "Niña"- , não tem dúvidas em afirmar que o naufrágio foi intencional.

 

Colombo atribui as culpas ao mestre (Juan de la Cosa), que com a tripulação ("quase todos da sua terra") não quis salvar o navio. A verdade é que junto da corte acabou por não o culpabilizar, sendo o mesmo recompensado pelos danos sofridos. Na perspectiva de Colombo fizera um excelente trabalho. Ao longo dos anos Juan de La Cosa foi sempre muito considerado. Entre 1493 e 1510  desempenhou funções de mando como piloto maior e chefe de expedições.

 

 

Mapa desenhado por Cristóvão Colombo mostrando a costa norte da Hispaniola, onde se teria "afundado" a nau Santa Maria. o Haiti após a perda do Santa Maria, disse Clifford.

 

Manuel da Silva Rosa, defende uma outra versão para explicar o fim da nau Santa Maria. Baseado na análise do Diário de Bordo, afirma que esta não se afundou a seis milhas de la costa norte de Haití como Colombo afirma. Estamos perante outra das muitas mentiras criadas por Colombo para enganar os reis católicos.

 

O próprio Colombo diz que “todo lo que en la nave había no se perdió, ni una tabla, ni un clavo, porque ella quedó sana y salva cuando partió desde España” . Nada se perdeu no mar (19).

 

Na noite de 24 de Dezembro o mar estava calmo, e a nau foi levada para a actual praia do Caracol, onde no dia 2 de Janeiro de 1493 foi trespassada por um tiro de canhão. Qual era o seu objectivo ?

 

-  Deixar na ilha um grupo incómodo de tripulantes que o podiam denunciar, como o aguacil da frota, o controlador e o secretário.
-  Forçar a Espanha a enviar uma frota de resgate, envolvendo-a desta forma nas indias.

-  Para evitar a tentação dos que ficaram na ilha reconstituirem a nau e tentarem regressar, levou consigo todos os pilotos.  

-  A nau Santa Maria possivelmente não estaria também em grandes condições enfrentar o mar de inverno dos Açores, no caminho de regresso à Europa.

 

A nau Santa Maria foi transformado no "forte da natividad", que passou a ser morada dos que se viram obrigados a permanecer no Haiti (La Hispaniola). Os indigenas não tardaram a atacar os espanhóis que ficaram no forte, matando-os um a um.  

 

 

Forte da La Navidade e questão da ocupação das Indias

 

O afundamento da nau Santa Maria revelou-se providencial. Na concepção jurídica do tempo, para tomar posse de uma terra não bastava descobri-la, havia que a ocupar (3). Este era um os maiores problemas de Portugal: não tinha gente para ocupar todas terras que descobria ou conquistava.

 

É por esta razão que Colombo teve que providenciar a construção de um forte e escolher uma guarnição para defender a ocupação das ilhas que havia descoberto.

 

Neste sentido,  mandou desmontar a nau Santa Maria e construir com as suas madeiras um forte, chamado da La Nativid, em honra do dia em que tudo tinha acontecido. 

 

Após a destruição deste navio, segundo pensava Colombo, restava apenas um única caravela - a Niña. A Pinta, como dissemos, era dada, na altura, como perdida.

 

O afundamento, contado no seu Diário como se fosse um feito providencial,  foi o pretexto para deixar nas Antilhas, 39 pessoas.

 

Entre elas contavam-se os espiões dos reis espanhóis: Diego de Arana (mestre de armas), Pedro Gutierrez (comissário real), Rodrigo de Escobedo (secretário da armada), Rodrigo Sanches (fiscal das contas públicas).

 

No ano seguinte todos apareceram MORTOS (38 espanhóis e 1 italiano).  

 

Se estes espanhóis tivessem regressado poderiam ter sido um perigo, pois certamente o denunciariam aos reis espanhóis, desfazendo as mentiras que difundiu, nomeadamente que havia chegado à India. 

 

- Envolvimento. O facto de terem ficado na "India" os tripulantes da nau Santa Maria, era motivo mais do que suficiente para obrigar os reis espanhóis a fazerem uma nova viagem para os resgatarem. Desta forma a Espanha envolvia-se nas " Indias" descobertas por Colombo.  A estratégia era perfeita.

 

Regresso a Palos

 

Na hora de partir afirma que vai tomar uma rota que os conduziria directamente a Espanha. Não se tratava da rota já percorrida, através das Canárias, mas aquela que só ele conhecia. Dirige-se então para os Açores

 

No meio de uma enorme tempestade, a 13 de Fevereiro, a Pinta volta a desaparecer, e é dada de novo como perdida. As coisas voltaram subitamente a recompor-se. Seria um milagre o navio de Alonso Pinzon salvar-se,  em mares que Colombo conhecera ao serviço dos reis de Portugal.

 

No dia 15 de Fevereiro de 1493 chega à Ilha de Santa Maria nos Açores. É recebido inicialmente com algum receio, mas depois com grande apoio por parte do capitão que o conhecia.

 

Depois dos Açores dirige-se para Lisboa, onde chega às 9h00 da manhã, do dia 4 Março de 1493, atracando junto à praia do Restelo, em Belém. Durante dez dias permanece na cidade e só depois regressa a Espanha. 

 

Colombo estava convencido que a caravela Pinta estava perdida e a sua tripulação morta. A nau Santa Maria fora desmantelada e os espiões de Espanha entregues aos indios nas Antilhas. Apesar disso tomou todas as cautelas. O tempo jogava a ser favor.

 

- Sem pressas para regressar. Colombo não tem pressa em regressar a Espanha. Das Canárias para as Antilhas levou 33 dias, mas no regresso levou 57 dias. Escolheu a rota mais longa, em vez de se dirigir para as Canárias ( a rota já conhecida), dirigiu-se para os Açores, uma rota que aparentemente não conhecia. 

 

No regresso parou em tudo quanto era sítio. Em Lisboa fez o ponto da situação ao rei D. João II: A caravela Pinta havia-se perdido. Os espiões do rei ficaram entregues aos indios. O rei confirmou que nada se sabia da Pinta, o que era verdade. 

 

No dia 13 de Março, pelas oito horas da manhã, saiu de Lisboa em direcção de Palos. No dia seguinte achava-se na cidade de Faro (Portugal), onde só saiu no dia seguinte depois do pôr do sol. Neste dia teve mais do que tempo para visitar um familiar - Nuno Pereira Barreto, alcaide-mor da cidade. Só no dia 15 de Março chega a Palos.

 

No mesmo dia que chegou a Palos, no horizonte surge a Pinta, conduzida por o incomodo Martin Alonso Pizon. Andara perdido tendo ido ter a Baiona/Bayona, junto a Vigo. Informou os reis espanhóis da sua chegada, tentando sem êxito convencê-los a recebê-lo, mas estes talvez avisados da chegada de Colombo a Lisboa recusaram o pedido, mandando que o mesmo fosse para Palos, uma humilhação. Mais

 

Dias depois, em fins de Março de 1493, esta testemunha incomoda aparece morta. Colombo estava agora mais seguro. Na Corte Espanhola, Alvaro de Bragança, chama a si o processo da familia Pizon e controla a situação. 

 

Afim de evitar possíveis fugas de informação na Galiza, o português  Pedro de Tavira - foi enviado em Março de 1493 para a mesma para informar os marinheiros e armadores dos diversos portos que estavam proibidos de irem por sua livre iniciativa às Indias. Não deixa de ser espantoso que seja um português e não um espanhol a fazê-lo.

 

Durante 15 dias reúne-se no Convento de La Rábia com o seu amigo português Frei João Peres de Marchena, tinham muito que combinar.  No dia 31 de Março entra triunfalmente em Sevilha e a 21 de Abril  é recebido pelos reis de Espanha com pompa e circunstância. Pormenor importante: nunca lhes deu a posição exacta, nem sequer um mapa das ilhas que havia descoberto.  

 

- Assassínio Implacável. Colombo nunca hesitou em assassinar todos aqueles que pudessem por em perigo a sua missão  ao serviço do rei de Portugal.

 

Tendo as suas mais incomodas testemunhas retidas nas Antilhas, Pinzon morto, Colombo pode inventar tudo o que quis aos reis espanhóis e até ao papa (espanhol).  

 

A estratégia era genial e foi isso que aconteceu. Os espanhóis caíram no logro que lhes havia sido preparado.

 

 

2ª. Viagem (1493-1496 )

 

A barbárie que aconteceu na 1ª. viagem voltou a repetir-se nas restantes, só que com uma maior intensidade e numa escala superior. A ferocidade de Colombo e dos seus irmãos contra espanhóis e italianos não teve limites, acusando-os de a única coisa que lhes interessava era obterem ouro e escravos. Ao não conseguirem as quantidades que pretendiam, levavam a vida a acusá-lo de o terem enganado com uma falsa India e a promoverem contínuas revoltas contra o "estrangeiro" ou o "português"...

 

Centenas são mortos e a maioria escravizados.  As Antilhas tornaram-se rapidamente num verdadeiro inferno, onde a população nativa (cerca de 300 mil pessoas) foi chacinada depois de reduzida à escravatura pelos espanhóis e italianos. A barbárie foi total. Os que se revoltam são "julgados" em processos sumários.

 

Dos 17 navios que partiram, 12 acabaram por regressar pouco depois. A desilusão apossa-se rapidamente dos que chegam às Indias. Em vez de ouro em abundância, o que encontram são condições miseráveis, fome, doenças e a hostilidade dos nativos.

 

A cidade que criou, em 1494, para servir de capital ao vice-reinando das Indias - "Isabela" - foi implantada no pior local que se possa imaginar. A zona era desabrigada e virada a norte. As águas pouco profundas, faziam com que os navios de maior porte tivessem que "estacionar" longe da praia. A água potável ficava muito afastada da cidade, as terras em volta da mesma eram pobres para a agricultura europeia, etc. Após dois anos de existência, mortes e despesas incalculáveis na sua construção, a cidade teve que ser abandonada.

 

Juan Rodriguez da Fonseca é dos poucos que tenta consegue fazer frente a Colombo, procurando quebrar o monopólio que este havia criado nas Indias. A Real Provisão de 10 de Abril de 1495, procurou libertar os espanhóis do julgo opressor de Colombo e dos seus irmãos, mas a verdade é que nas Indias quem fazia as leis e mandava eram eles.

.

Fome. A violência não tem limites. Colombo resolve matar os espanhóis à fome. Um dos muitos que morreu nestas circunstâncias foi o galego Loazes, devido a uma "mala orden" na repartição dos mantimentos. Um caso que escandalizou a corte (4).

 

Revoltas e Assassinatos. As revoltas contra a administração de Colombo não tardaram a eclodir, sendo barbaramente reprimidas. Um dos primeiros conspiradores foi Bernal Diaz de Pisa, lugar tenente dos contadores e agente de Juan Rodriguez de Fonseca, juntou à sua volta um vasto grupo de descontentes. Colombo não o autoriza a regressar a Espanha (Fevereiro de 1494), acabando por o prender num navio e castigar os seus cúmplices. Foi necessário a intervenção dos reis para o contador poder regressar a Espanha.

 

A simples suspeita de homossexualidade era punida com a morte. Um  dos primeiros a ser enforcado foi o aragonês Gaspar Ferriz, criado de Bernal de Pisa, outros se lhe seguiram. Juan de Luján foi degolado (Consuelo, Queda...).

 

Face ao avolumar das queixas, os reis espanhóis vêm-se obrigados a intervir. Em Outubro de 1495 chega o primeiro inspector para analisar a situação - Juan Aguado. Colombo não o deixa trabalhar.

 

Aguado não tarda a regressar a Espanha (Cádiz), a 11 de Junho de 1496, no mesmo navio de Colombo. Este faz questão de aportar, uma vez mais, a Portugal (Odemira), levando consigo mais um carregamento de escravos. Maior controlo e aproveitamento de recursos não era possível.

 

Bartolomeu Colón, irmão de Colombo, não contemplações com os espanhóis, obrigando-os a trabalharem, nomeadamente em atividades manuais.  Os revoltosos multiplicam-se, recusando-se a aceitar as suas ordens.

 

Dois aragoneses protagonizaram este descontentamento: o padre Bernardo Boyl e o capitão Pedro Margarit (16), que  afirmavam que as Indias eram um logro. Margarit recusava-se também a aceitar ordens de Bartolomeu. Foi também graças à intervenção do reis espanhóis que puderam regressar a Espanha, onde chegaram a 25 ou 26 de Novembro de 1494.

 

Os problemas aumentaram exponencialmente quando Colombo regressou a Espanha (1496). Bartolomeu fica nas Indias como "Adelantado" (Governador), impondo um regime de verdadeiro terror ( 2 ).

 

As violações sistemáticas das mulheres indias tiveram uma nefasta consequência para os violadores: a propagação da sífilis, que não tardou a difundir-se também pela Europa. 

 

Psicopata?

 

Se o Diário de Bordo da primeira viagem nos mostra um homem (Colombo) que para atingir os seus objectivos não hesita em matar espanhóis, italianos ou indios. Os relatos que temos da segunda viagem, nomeadamente a longa carta de Miguel de Cuneo, retrata de forma objectiva a total indiferença com que o "Almirante do Mar Oceano" mata e escraviza populações inteiras, arrasa aldeias, viola mulheres, tortura e mata a própria tripulação dos seus navios, ultrapassando os costumes mais violentos do seu tempo.

 

Extermínio dos Indios das Caraíbas

Quantas pessoas viviam nas ilhas das Caraíbas em 1492? Durante grande parte do século XX, supôs-se que não podiam ser mais de 300.000. Mais recentemente estudos no terreno, realizados por Sherburne Cook e Woodrow Borah, da Universidade da Califórnia, em Berkeley, calculam que só a ilha de Hispaniola (actual Dominicana e Haiti) tivesse oito milhões de habitantes (18).

Depois de 1493, a matança indiscriminada das populações locais (tainos, caribes, etc) pelos espanhóis, mas também a difusão de doenças trazidas da Europa, como o sarampo, a "influenza", o tifo, a pneumonia, a tuberculose, a difteria, a pleurisia, e varíola (1518), produziram um verdadeiro extermínio. Como se tudo isto não bastasse, a introdução de animais de grande porte, a desflorestação sistemática e o sistema de grandes herdades (ranchero), alteraram por completo os meios de subsistência das populações indigenas, provocando fomes prolongadas.

O resultado de tudo isto foi o extinção dos indios das caraíbas. Censos que os espanhóis realizaram em Hispaniola em 1508, 1510, 1514 e 1518 revelam a dimensão desta catástrofe. No censo de 1514, o mais detalhado, revela que existiam apenas 22.000 indios adultos. Las Casas, em 1542, constavam que restavam na ilha cerca de 200 indios. Uma década mais tarde eram dados como extintos (18). Na mesma altura, os espanhóis exterminavam igualmente nas Canárias os últimos guanches.

A solução encontrada para a falta de mão-de-obra foi a introdução massiva nas caraíbas de escravos africanos, exportados pelos negreiros portugueses, muitas vezes vendidos localmente por genoveses. Mais

 

 

3ª. Viagem (1498-1500)

 

Em Espanha, apesar das enormes barbaridades que cometera nas Indias, graças ao apoio de Alvaro de Bragança,  irá ver confirmados todos os seus cargos e privilégios, mas também ter maiores poderes para enfrentar os seus inimigos nas Indias.

 

Colombo, logo após o seu regresso às Indias (1498), com os seus irmãos, revela uma clara intenção de expulsar os espanhóis. Haviam montando um vasto sistema de roubo dos colonos e dos indigenas.

 

Fome: Os abastecimentos eram controlados por Colombo e seus irmãos, fazendo com que a comida fosse 4 ou 5 vezes mais cara do que em Espanha (13). As poucas centenas de espanhóis que por volta de 1500 conseguiam resistir nas Indias, sob este governo (tirânico) sofriam, na sua maioria, de subnutrição. Muitos eram os que morriam de fome (15). As queixas por falta de comida eram uma constante.

 

Espoliados . Colombo montou um sistema que lhe permitia controlar não apenas tudo o que era conseguido nas Indias, mas também os abastecimentos que à mesma chegavam.

 

Os indigenas que permaneciam "livres" tinham que pagar regularmente pesados tributos em ouro. Eram também forçados a trocarem ouro por quinquilharias sem valor algum. As suas terras e os seus corpos serviam para Colombo distribuir pelos colonos espanhóis.

 

Os espanhóis que por lá andavam, eram obrigado a declararem todo o ouro que encontravam. Não podiam trocar ouro por comida. Por tudo e nada eram multados. Os soldos que tinham a receber estavam sempre muito atrasados, de modo a permanecerem sempre nas mãos de Colombo. A maioria acabava por não conseguir pagar as dívidas que se eram forçados a contrair para puderem sobreviver ... 

 

Revoltas. As revoltadas nunca tendo desaparecido das Indias espanolas, em 1498, atingiram o seu ponto alto.

 

O caso mais complicado foi a rebelião de - Francisco Roldán Jiménez, alcaide maior de Isabel, que se recusava a aceitar as ordens de Bartolomeu Colón.

 

Colombo ao aperceber-se que não tinha forças para o derrotar,  aceitou firmar um acordo - "convénio de la Concepción (16/11/1498) - que permitia aos revoltosos regressarem a Espanha, os soldos ser-lhes -iam pagos, obtinham um certificado de bom comportamento, para além de puderem levar consigo centenas de indios para venderem...

 

Os revoltados acabaram por renegar o acordo (21 de Novembro), refugiando-se em Jaragua, tendo os conflitos prosseguido. Colombo, a partir daqui manteve alguma cumplicidade com Roldán, ao ponto de combater a rebelião de Adrián de Múgica e Hernando de Guevara, que se lhe opunham. O primeiro foi morto na fortaleza de Santo Domingo, o segundo no forte de Concepción, onde se encontrava Colombo.

 

Prisões e Assassinatos: As prisões, torturas e os enforcamentos sucediam-se. Não se instruíam processos, as decisões totalmente arbitrárias. A dominava a tirania.

 

Os condenados por sodomia estavam proibidos de regressarem a Espanha, sujeitando-se a pesadas penas atém falecerem.

 

A 23 de Agosto de 1500, por exemplo, quando Bobadilla chega Santo Domingo, depara-se com um cenário de enforcados. Diogo Colón, nos últimos dias havia mandado enforcar sete espanhóis, e cinco aguardavam a sua vez... 

 

Encomiendas: Administrou as Indias de forma a evitar a fixação nelas de espanhóis, não lhes distribuía terras, mas indios, as conhecidas encomiendas. Reclamou constantemente pela expulsão dos colonos que para lá havia sido enviados. 

Enquanto governou as Indias espanholas, prosseguiu uma política que frontalmente contrariava o seu povoamento, recorrendo a todos os expedientes para os expulsar. Para quem estaria a guardar as Indias ?

 

   

Fortalezas: Promovem, como dissemos, a construção de uma complexa estrutura defensiva na Hispaniola. Tudo aponta para que tenha procurado criar as condições para um dia separar as Indias da Espanha.

 

Seguindo uma política tipicamente portuguesa criou até Outubro de 1500, uma rede de fortes junto à foz dos rios e tentou uma aliança política com os caciques locais de forma a arranjar aliados para uma possível guerra com os espanhóis. 

 

Ao longo dos anos Colombo e o seu filho não pararam de ampliar as defesas do Forte da Conceição (Fuerte de La Concepción), em Hispaniola (actual República Dominicana), constituindo aí um sólido bastião militar nas Indias

 

Em Espanha não era possível ignorar o que se passava nas Indias, tantas eram as denúncias. Os próprios filhos de Colombo - Diego e Hernando - são alvo de constantes insultos: "Mirad, ahí tenéis a los hijos del Almirante de los mosquitos, que ha descubierto tierras de vanidade y engaño para sepulcro y miséria de los hidalgos castellanos" (10). 

 

Comendador Bobadilla

 

Juan Rodriguez de Fonseca, em 1499, passa à ofensiva. Em Maio consegue que o comendador da Ordem de Calatrava Francisco de Bobadilla  (11) seja nomeado "juez pesquisador" das Indias, que a 21 de Maio de 1499, em Madrid, recebe as cartas credenciais e instruções para agir em relação a Colombo, sendo na altura investido como governador de fortalezas, edificios, navios, finanças e abastecimentos.

Mal chegou ao porto de Santo Domingo, a 23 de Agosto de 1500, depara-se como cenário de horror: os corpos dos enforcados ainda estavam expostos. Diego Colón foi o único dos três irmãos que encontrou, pois andava entretido a enforcar presos...

Colombo estava de Forte de Concepción, em la Vega Real, cujos cárceres não faltavam presos espanhóis.

Bartolomeu Colon perseguia rebeldes em terras de Jaragua. Dentro de um poço tinha 16 presos que esperavam a ordem para serem enforcados (Consuelo Varela, Queda de um mito)...

Não foi fácil convencer Colombo a vir a Santo Domingo. Quando aqui chegou a 14 ou 15 de Setembro de 1500, foi logo preso com os seus irmãos (Diego e Bartolomeu), sendo depois enviados sob prisão para Espanha. O que Bobadilla apurou do governo de Colombo consta num longo documento recentemente publicado (2):

- Conspirava contra a Espanha para entregar as Indias a um rei estrangeiro.

- Mobilizou caciques e o que restava da população local contra Bobadilla, indo desta forma contra as ordens do reis espanhóis.

-  Andava a escravizar não apenas os indigenas, mas também os espanhóis. A sua crueldade para com estes últimos não tinha limites (cortava narizes ou orelhas, fazia julgamentos sumários, etc). 

- Impedia o baptismo dos indigenas, apenas permitindo o de crianças recém nascidas (30 ou 40 entre 1493 e 1500). Os sacerdotes estavam proibidos de circularem nas ilhas. Cada baptismo carecia de uma licença de Colombo...

O retrato era assustador.

 

4ª. Viagem (1502-1504)

Numa estratégia arriscada, em 1501, D. Alvaro de Bragança torna-se o representante de Colombo junto da corte espanhola. Como recompensa pelos serviços prestados, em 1502, ainda lhe arranja mais uma viagem.

Desacreditado, os únicos resultados visíveis desta viagem, foi a constatação da sua débil situação política. O novo governador das Indias impediu-o de aportar a Hispaniola.  Os sobreviventes desta desastrada viagem terminam naufragados na Jamaica, onde permanecem mais de um ano à espera de serem resgatados.

No dia 2 de Janeiro de 1504, Francisco e Diego Porras, dois agentes de Fonseca, revoltam-se contra Colombo. 48 homens tomaram duas canoas para fugirem para Hispaniola, mas viram frustrada o seu objectivo, em virtude da chegada de uma caravela enviada pelo governador desta ilha, a mando de Diego de Escobar (14). A revolta foi abafada, mas não desapareceu.

No regresso a Espanha, Colombo e o seu irmão, como dissemos, irão procurar junto do papa apoio para expulsarem os espanhóis das indias...

 

C ) Ação Coordenada

Estamos perante uma total incompetência ou uma acção deliberada de criar o caos nas Indias espanholas? Os historiadores espanholas defendem a tese da incompetência, mas se tivermos em conta o apoio que Colombo recebeu sempre de D. Alvaro de Bragança e dos portugueses, a leitura é outra.

Envolvidos nestes contínuo desastre, pouca espaço sobrava aos espanhóis para se atreverem a enfrentarem os portugueses, no caminho que estavam a seguir em relação à verdadeira India...

 

D ) Assassinato de cunhados

 

Colombo não hesita em assassinar todos aqueles que o impede de cumprir a sua missão, ainda que sejam seus cunhados. 

 

O seu cunhado Miguel Moliarte (Muliarte, ou Muliert, ou Müller) - casado com a portuguesa Violante Moniz Perestrelo - participou na segunda expedição de Colombo, tendo-se juntado aos revoltosos, pelo que foi assassinado ainda nas Indias (1495).

 

Ao que se apurou teria traduzido para castelhano a carta de um frade francês, onde este dava conta da brutalidade como Colombo tratava os espanhóis. 

 

O segundo marido de Violante Moniz, também vindo de Lisboa, foi o  florentino Francisco de Bardi, com quem se casou-se em 1505. Apareceu morto em 1508 e desapossado da sua importante fortuna.

 

A causa da sua morte não está esclarecida. Suspeita-se que Bradi se tivesse associado a um bando de italianos que andava a procurar apropriar-se da herança do navegador.

 

.

 

Beatificação de Colombo

A Igreja Católica, no princípio do século XIX, precisa de um "santo" que pudesse unir simbolicamente a Europa e a América.  Cristovão Colombo acabou por ser o escolhido por dois papas italianos, por muito que este facto custasse a engolir aos espanhóis. Mais 

 

Carlos Fontes

  Notas:

( 1 ) Mártir de Anglería, Pedro - Décade, Cap. IV., etc.

( 2 ) Varela, Consuelo - Colombo. A Queda do Mito (LA CAÍDA DE CRISTOBAL COLÓN, EL JUICIO DE BOBADILLA), Lisboa. Caleidoscópio. 2007

(3) Donat, Luis Rojas - España y Portugal ante los Otros. Derecho, Religión y Politica en el Descubrimiento Medieval de America. Ediciones Universiad del Bio-Bio. Chile. 2002; idem, Infidelitas. Esbozo para la Historia de un concepto en los siglos XIV y XVI. ...1986; idem, Dos Analisis Historico-Juridicas en torno al descbrimiento de las Indias: la accesion y la ocupación, in, Revista de Estudos Historico-Juridicos, nº19. Valparaiso.1997.

(4) Declarações feitas a Juan Aguado, publicadas pela duquesa de Berwick y de Alba (Autografos de Cristobal Colón y Papeles de América. Madrid. 1892., p.1)´; Cédula de 1 /6 / 1495 (Cfr. AGI, Patron, 9, 1 f.90 r.)

(5) Manzano, Los Pinzones y el Descubrimiento de America, p.16

(6) Manzano, ob.cit., p.20

(7) Martinéz, Ángele Luis Díaz del Río - América en el Horizonte, p.237

(8) Ory, Eduardo de - La llegada de los primeros barcos de América a Cádiz. Diário de Cádiz. 8 de Março de 1986

(9) Revelando um conhecimento preciso das pescarias da Guiné, afirma que só se podia aqui pescar dois meses por ano.

(10) Iova, Jaime Peña; Svet, Yakov - Cristobal Colón, p.266

(11) Bobadilla, aragonês, 1º. senhor de Pinos e Beas, capitão dos  guardas dos reis católicos, corregedor de Jaén e Córdoba. Foi inquisidor, comendador da Ordem de Calatrava. Morreu num naufrágio, em Abril de 1502, com outros inimigos de Colombo, como Nicolás de Ovando, quando regressava a Espanha.

(12 ) Os historiadores tem assinalado dois casos amorosos entre portugueses e mulheres da familia Bobadilla.

O primeiro ter-se-á passado entre Dona Beatriz de Bobadilla, mulher do 1º. marquês de Moya (Andrés de Cabrera) e o português D. Alvaro de Portugal. Em 1487, durante o cerco e conquista de Málaga,  todas as crónicas do tempo, referem explicitamente que a marquesa encontrava-se sozinha na mesma tenda de D. Alvaro quando este foi assaltado por um mouro. O que estariam a fazer ? 

(13) Prétou, Pierre - Colón entre el Fraude y el Furor: El mal gobierno del oro en las antillas, in, Anuario Americanistas, nº 4-5, 2006-2007, pp. 29-46

(14) Guerrero, Mª. Montserrat León - Rebeliones y Motines de los Viajes Colombinos ...

(15) Varela, Consuelo - La Vida en la Colonia durante o virreinato colombino... p.265

(16) O Padre Boyl foi enviado às Indias, em 1493, por Fernando de Argão, como Vicario Apostólico, faculdade autorizada pelo Papa Alejandro VI.

Margarit foi um dos que mais ajudou Colombo a "pacificar" (exterminar) os indigenas de La Hispaniola, pelo que o Almirante o nomeou governador da governador da fortaleza de Santo Tomás nesta ilha.

(17) Marcos, Jesús Varela - Colón-Pinzón una sociedad para el descubrimiento del nuevo mundo, p.21 -23, in, Descubrimientos y Cartografia (II). Tordesillas.1998

(18) Sale, Kirkpatrick - The Conquest of Paradise (christopher Columbus and the Columbian Legacy). Alfred A. Knopf, inc. Nova York. 1990. Existe tradução portuguesa.

(19) Uma das âncoras do Santa Maria, que se encontra hoje no museu haitiano em Port-au-Prince, foi encontrada numa plantação em Limonade, a cerca de 6 km da praia do Caracol. O sino do Santa Maria foi encontrado em 1994 na costa de Portugal, perto do navio San Salvador, que afundou em 1555. Muitos intrigados sobre como o Campanário de Santa Maria sobreviveu quando o resto do navio afundou. O sino terá sido recuperado por Colombo, quando por lá passou a 28 Novembro de 1493. Foi guardado em Sant o Domingo até 1555 quando foi enviado para a Espanha em 1555. Estes exemplos mostram, segundo Manuel Rosa, que a nau nãos e afundou a 6 milhas da costa.

(20 ) Juan Pérez de Tudela y Bueso, Las Armadas de Indias y los orígenes de la política de colonización: 1492-1505, Oviedo.1956; idem, Mirabilis in Altis, Madrid,1983;Adám Szásdi - Portugal y Palos e la vida de Colón: algunas observaciones...

 

 

 

Continuação:

 

34. Impacto da Viagem de Vasco da Gama 35. Perseguido 36. Ocultação

37.  Armadilha Genovesa  38 Mercadores-Negreiros Italianos  39.  Genoveses a Bordo 

40. Descendentes de Colombo 41. Descendentes (cont. ) 42. Descendentes (concl.)

43. Historiadores Portugueses. 44. Lugares do Navegador em Portugal

45. Cronologia da Vida de Colombo

 

.

As Provas do Colombo Português

As Provas de Colombo Italiano

.

  Carlos Fontes
 
Inicio . Anterior . Próximo

Para nos contactar: carlos.fontes@sapo.pt