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Na
maioria das biografias Colombo começa por ser descrito como um navegador
experiente, com sólidos conhecimentos matemáticos, geográficos e nauticos,
para depois terminar como um louco obstinado, um navegador desorientado que confundia as
Antilhas com a India.
Embora soubesse exactamente o que procurava, a rota a
seguir e a distância a que ficavam as Indias, estava permanente a mentir aos
espanhóis sobre as mesmas, obrigando inclusive outros a fazê-lo.
Estamos
perante um experimentado navegador que nunca se cansou de dizer que os mares que
estava a percorrer já eram conhecidos dos
portugueses. A sua missão não era a de descobrir um "Novo
Mundo", mas de o dar a Castela.
Os
relatos das suas viagens, em particular a compilação do seu Diário feito por Las Casas,
apesar de todas as adulterações são claros sobre a sua origem, formação,
experiência e conhecimentos.
A )
Duques de Viseu-Beja
A
fuga de Colombo para Castela, em 1485, coincide com a conspiração da
Casa Ducal de Beja-Viseu que durante largas décadas promovia os descobrimentos em
Portugal. O Infante D. Henrique foi, por exemplo, o primeiro Duque de
Viseu. O Infante D. Fernando, 2º. Duque de Viseu e 1º. Duque de Beja promoveu
as expedições para Ocidente, expedições que foram prosseguidas e
incrementadas pela sua esposa Dona Beatriz.
Esta
casa ducal salientou-se pelo facto de ter esquadras de navios que se dedicavam
ao corso-pirataria, nomeadamente no Mediterrâneo.
Na
conspiração de 1484,surge também envolvido também o Almirante-Mor de
Portugal, Pedro de Albuquerque. O simples acto de Colombo surgir em Castela
associado a esta conspiração, deu-lhe logo um enorme crédito aos seus
alegados conhecimentos nauticos. As suas principais referências nauticas estão
todas ligadas a nautas dos Duques de Viseu-Beja, um facto transcendente
significado.
B
) Família de Almirantes, saber nautico
Colombo,
em 1501, escrevendo aos reis de Espanha afirma que foi em idade "bem
tenra" que começou a andar no mar. O seu filho Hernando Colón ouvira-lhe dizer
que tinha começado a andar no mar aos 14 anos. Afirma
igualmente que não era o primeiro almirante da sua família (15). A hipótese de uma
origem portuguesa é a única que permite sustentar esta afirmação.
Em
Espanha, os reis católicos não têm dúvidas do seu saber. Numa carta que lhe
escrevem, a 5 de Setembro de 1493, pedindo-lhe para definir com urgência
a linha de demarcação do Tratado de Tordesilhas, atestam o seu saber nautico: "porque sabemos que disto sabeis vós más que outro algum". Colombo,
contudo, nunca lhes deu a resposta ao pedido que faziam, de modo a deixá-los
nas mãos dos negociadores portugueses.
C ) Navegação
pelos Astros e a Nova Cartografia
Quando se iniciou as explorações
marítimas de forma sistemática, no inicio do século XV, o melhor método para
determinar a posição de um navio no mar, era através das distâncias
estimadas pelos pilotos e a direcção magnética fornecida pela agulha de
marear. As primeiras cartas portuguesas - os portulanos (7) - ,
eram construídos com base na informação recolhida desta forma.
Á medida que nas
navegações avançavam pelo alto mar, os portulanos e o método de
localização foram-se tornando insuficientes, carecendo de uma verdadeira
revolução neste domínio. Um problema que se agravou com a descoberta e
povoamento dos Açores (1427), mas sobretudo quando o Cabo do
Bojador foi ultrapassado (1434). Os navegadores portugueses descobriram
que no regresso era melhor levar o navio para o largo, afim de contornar
ventos e correntes contrárias, e depois navegar para norte, em direcção aos
Açores, e daí para Lisboa, tirando partido da circulação dos ventos.
Estas viagens
pelo alto mar exigiram um novo método de localização dos navios baseado na navegação astronómica (8) e uma nova cartografia - os mapas planos
(9) .
Deve-se ao Infante D. Henrique o desenvolvimento da navegação pelos astros.
Não deixa de significativo que entre 1440 e 1450, lhe sejam conhecidos 5
médicos, os quais, como é sabido, eram simultaneamente astrólogos (22).
Localização
do Açores no Oceano Atlântico
A prova
irrefutável destes conhecimentos nauticos foram as viagens regulares que a partir de
1427 os portugueses passaram a fazer aos Açores, situados em pleno Atlântico, entre a
América e a Europa. Semelhante façanha só poderia ser possível caso
os navegadores soubessem localizar com exactidão onde ficavam estas ilhas algures no
imenso oceano.
Colombo no
regresso da sua 1ª. viagem, em 1493, revela não apenas saber
as ilhas dos Açores, mas também determinar a posição do navio em relação
às mesmas e a Portugal. Só este facto explica porque no seu
regresso, em vez de se dirigir para as Canárias tomou a rota dos Açores,
o que voltou a fazê-lo na sua 2ª. e 4ª. viagem. Na 3ª. não o fez porque
veio preso às ordens de Bobadilha.
Onde aprendeu a
navegar pelos astros? Alguns historiadores ignorantes dos conhecimentos dos
tempo, atribuem-lhe esta descoberta, que na verdade eram fruto de um
trabalho de investigação sistemática que se fazia em Portugal desde o tempo
do Infante D. Henrique, como alias o próprio reconhece.
1. Método de
Observação dos astros.
Durante muito
tempo a navegação astronómica era feita pelos portugueses, com base na
determinação da latitude da estrela polar, dando origem ao Regimento da
Estrela do Norte ou Estrela Polar. A primeira informação concreta da
utilização de um quadrante para observar a altura da Estrela Polar, como
forma de identificar o local onde se navegava, consta de um relato de Diogo
Gomes, numa viagem ao largo das Ilhas de Cabo Verde, entre 1455 e 1460.
O método continuou a ser aperfeiçoado.
Em 1485, os
cosmógrafos portugueses já estavam a investigar a determinação de latitudes pela altitude meridiana do sol.
Sete anos depois (1492) já utilizavam um método de navegação astronómica
por diferenças da altitude, ou por altitudes locais. Duarte Pacheco Pereira
deixou-nos um relato impressionante como este trabalho foi realizado de
forma sistemática, na década de 80 do século XV, ao longo da costa Africa. Os progressos não
pararam.
Colombo acompanhou
não só estes progressos na navegação astronómica portuguesa, mas revelou
várias vezes, em especial em 1492 e 1498 que seguia o Regimento da Estrela do
Norte:
Nas notas que
registou de observações efectuadas na Guiné, demonstra de forma
inequívoca a utilização já deste método.
No Diário de
Bordo, em várias passagens, como nos dias 17 e 30 de Setembro de 1492, revela
não apenas a
sua utilização, mas a própria terminologia que utiliza é portuguesa.
Na Relação da
Terceira Viagem (cfr.Textos, p.376) descreveu com todo o detalhe a aplicação
deste método. Todas as suas descrições das suas viagens, as contínuas observações
nocturnas, revelam que era o seu método predilecto de orientação.
Eva Taylor que
estudou profundamente a questão, afirma que a versão do Regimento da Estrela
do Norte que seguia corresponde à de um texto arcaico de regras da marinharia
portuguesa, incluído no Reportório dos Tempos, de Valentim Fernandes
11)..
2. Variação
Magnética
Colombo fez
anotações, onde aparentemente regista as variações da agulha magnética da bússola,
utilizando termos portugueses para referir este fenómeno: "Nordestar" (variar no
sentido nordeste), "noroestar" (variar no sentido noroeste), etc.
A descoberta destas variações foi particularmente estudada pelos nautas
portugueses, pois era fundamental para a navegação em alto mar.
Na terceira
viagem, com base em informações recebidas de Portugal, sugere já a existência
da linha ágono que se encontra a 100 léguas dos Açores. Esta linha
permitia aos marinheiros portugueses uma orientação precisa num eixo norte-sul.
Se Colombo
regista a variação das agulhas, mostra-se todavia incapaz de explicar as
observações que realiza. Os três navios no dia 17 de Setembro de 1492,
chegaram a um ponto na terra onde se pode ver a "rotação" diurna da Estrela
Polar, fenómeno que não é visível nas latitudes do Mediterrâneo. Deste modo,
os marinheiros encontram a Estrela Polar inicialmente de um lado do norte, e
depois obtém o norte do outro lado orientando-se pela bússola. Começaram por
atribuir a causa desta variação a avarias das bussolas, mas Colombo atribuiu
a variação ao movimento da própria Estrela do Norte: "La causa fue porque a
estrella que haze movimiento" (Diário, 17/9/1492); "También en anocheçiendo
las agujas noruestean una cuarta y en amaneçiendo están con la estrella
justo, por lo cual pareçe que la estrella haze movimiento como las otras
estrellas, y las agujas piden siempre la verdad."(Diário, 30/9/1492).
Também neste domínio os progressos dos portugueses foram impressionantes,
atingindo o seu apogeu, em 1515, com a publicação do Tratado sobre a
Bússula, do piloto João de Lisboa, onde indica com precisão que a linha
ágono passava entre as ilhas de Santa Maria e São Miguel nos Açores,
prosseguindo ainda pelos Cabos da Boa Esperança e Frio, nos derradeiros
limites da África Austral. As
pesquisas não pararam por aqui (6).
3. As Léguas e
Milhas
de Cada Grau
É
impressionante o rigor dos cálculos efectuados pelos portugueses das
dimensões da terra, o que lhe permitia saberem com precisão a posição de
terras e navios nos oceanos.
Esta questão tem
levada muitos a pensarem que Colombo era um ignorante e por isso foi
facilmente manipulado por D. João II
Duarte Pacheco
Pereira, um dos negociadores do Tratado de Tordesilhas (1494), calculou que
cada grau da Terra correspondia a 18 léguas, errando portanto em 4,5 km.
Qualquer cosmógrafo ou navegador português do tempo conhecia estes valores.
Os historiadores
ficam confusos quando analisam o valor do grau, da légua e das milha de
Colombo. O erro é enorme, quando comparado com o que os portugueses sabiam no
tempo. Em relação a Duarte Pacheco Pereira, seu contemporâneo, cometia
um erro enormíssimo ao dizer que um grau correspondia apenas a 14
léguas, um erro portanto de 84 quilómetros. O problema é que apesar
de usar valores tão disparatados, nunca errou nas distâncias, nem o seu
irmão quando em 1493 foi para as Indias com base nos seus cálculos. Se
pensarmos que estava a confundir os espanhóis, tudo faz sentido (consultar)
.
Ao
contrário do que se tem procurado divulgar, Colombo sabia calcular com enorme
precisão a posição em que se encontrava. Seis exemplos:
-
No regresso da sua 1º. viagem, 15 de Fevereiro de 1493, a Niña estava
aparentemente perdida no Oceano Atlântico. As opiniões eram desencontradas
sobre algo que surgiu no horizonte: " Alguns decían que era la Isla de
Madera; outros que era La Roca de Cintra, em Portugal, junto a Lisboa."
(...) "El Almirante, por navegacion, se hallaba estar con las islas
de los Azores, y creía que aquella era una dellas; los pilotos y marineros se
hallaban ya con tierra de castilla". Colombo era única que soube calcular
a posição no oceano, e identificar a Ilha açoreana.
-
Colombo calculou a 27 de Fevereiro de 1493 (Diário de Bordo) que a Ilha de Santa Maria nos Açores estava a 231 léguas de Lisboa (c.
6 km por légua). Esta distância, como Manuel Rosa provou, era justamente
indicada por Valentim Fernandes no seu Livro de Marco Paulo (20), mas também a que o
Infante D. Henrique menciona na doação da Ilha Terceira a
Jacome de Bruges em 1450 (21).
-
Apesar dos cálculos completamente errados que apresentou em 1493 aos reis
espanhóis, o seu irmão Bartolomeu Colon, com base nas informações que lhe
prestou, foi directo ao seu destino nas Antilhas.
-
Durante a 2ª. viagem, em 1494, escreve que a 14 de Setembro, estando na "Isla
Saona", no cabo Oriental de La Hispaniola (Haiti) observou o eclipse da Lua,
calculou que a distância entre o local onde se encontrava e o Cabo de São Vicente em
Portugal eram de 5,5 horas (real: c.5 fusos horários) (Livro das
Profecias). (Textos, p.454)
-
No regresso da 2º. viagem, nova situação de desorientação a 8 de Junho de
1496. Colombo afirmou que estavam ao largo da costa de Portugal, junto a
Odemira, por isso durante a noite fez amainar as velas "por miedo al
peligro de tierra". Todos se riram, uns diziam que estavam no canal da
Flandres, outros perto de Inglaterra, os menos equivocados diziam que estavam
perto da Galicia. Colombo estava mais uma vez certo, e até sabia que Odemira
(Vila Nova de Mil Fontes), D. João II tinha um reforçado as guardas
contra pirataria (5 ).
- Na 4ª. Viagem ,
a 29 de Fevereiro de 1504,estando na Ilha de Jamaica, no porto de S. Gloria (St.
Ann's Bay), no meio da Ilha na parte setentrional, houve um eclipse da Lua,
devido ao sol ainda não se ter posto, não o pode observar completamente.
Calculou que distância entre a Ilha da Jamaica e a Ilha de Calis (Cadiz),
em Espanha, era de 7 horas e 15 minutos . Calculou também, que o referido
porto ficava a 18º. N (real: 18º 12` N). (Livro das Profecias)
(Textos,455). A cópia do Livro das Profecias que nos chegou revela que foi
feita por muitas mãos diferentes.
A verdade é que
Colombo sabia que as dimensões da Terra era muito maiores do que as que
procurava convencer os espanhóis. Um exemplo:
- Em 1488 esteve em Lisboa para assistir à chegada de Bartolomeu Dias do Cabo
da Boa Esperança, num navio que trazia também Duarte Pacheco Pereira. Tomou
então nota que Bartolomeu Dias de Lisboa até ao Cabo ( na actual África do
Sul), percorrera 3.100 léguas, o que só por si ampliava consideravelmente as
dimensões da Terra. O erro neste caso era por excesso, e não por
defeito.
3.2.
A Explicação do Enigma
Colombo
teria sido intencionalmente enganado por D. João II ? Jaime Cortesão não
tem dúvidas em afirmá-lo, apontando um dado importante. Em 1489 Henricus
Martellus publica uma mapa com estas mesmas medidas, as quais lhe terão sido
fornecidas pelo Bartolomeu Colón . Mais
D.
João II neste caso manobrou Colombo para que o mesmo conduzisse os espanhóis
par um logro - a falsa India -, dando-lhe medidas muitos reduzidas da Terra,
mas também indícios da existência de terra a Ocidente, mapas, etc. O
seu irmão, morador em Lisboa, teria sido igualmente instrumentalizado levando
para o estrangeiro estas informações. (12).
Esta
teoria não tem, todavia em conta, os conhecimentos que Colombo, por vezes,
demonstra nos seus cálculos. A única explicação plausível que é o
mesmo estava feito com o rei de Portugal para iludir os espanhóis.
Mapa-
mundi de Henricus
Martellus (1489). As posições da Ilha do Idolo, Mina e cabo da Boa
Esperança correspondem as que Colombo afirma que lhe foram transmitidas em
Lisboa por José Vizinho e Bartolomeu Dias, na presença de D. João II. No
entanto, a distância entre a Europa e a Ásia é mínima.
Colombo
foi enganado ? Os cosmógrafos
portugueses estavam equivocados ? Ou tudo não passou de um embuste para enganar
os espanhóis ?
.
A
perícia de Colombo serviu-lhe para enganar os espanhóis. O Diário
de Bordo da 1ª. viagem é revelador da forma como actuava. Para a
tripulação apresentava uma versão dos cálculos, no seu Diário registava
outra. Mentia quando lhe convinha mentir, dizia a verdade sempre que isso fosse
conveniente. O rigor dos seus cálculos (quando lhe interessava) eram
impressionantes.
A tese que Colombo
era um ignorante e nada aprendera com os portugueses do seu tempo, é um
perfeito disparate como o demonstrou Manuel Rosa. Torna-se num verdadeiro
absurdo se tivermos em conta que a sustentou até morrer (1506), isto é, 7 anos depois de Vasco da Gama ter chegado da
verdadeira India, e 4 viagens às Indias e inúmeras observações, estudos,
etc.
Tudo seria
verdade, se Colombo não estivesse permanentemente a mentir aos espanhóis. O valor
do grau que lhes disse durante as negociações foi sempre aquele que repetiu
ao longo dos anos, para não ser acusado de estar ao serviço dos reis de
Portugal. |
3.3.
Léguas e Milhas de Cada Grau de Colombo
Qual
o valor que atribuiu a cada légua ou milha? É dificil de saber, dada a
forma sistemática como baralhava os dados aos espanhóis. A única coisa que
pode dizer é que uma légua equivalia a 4 milhas.
Equivalências
do Grau, Léguas e Milhas
Colombo |
Grau
equinocial |
Léguas
-Milhas |
Léguas
-Metros |
14 Léguas
1/6 (56 milhas e 2/3) (2) (10) |
1 L = 4 milhas (2) |
? |
Bartolomeu
Dias |
16
2/3 léguas (4) |
.1L = 4 milhas |
? |
José
Vizinho |
17
1/2 léguas |
.1L = 4 milhas |
? |
Duarte Pacheco
Pereira |
18 léguas (106,
560 km) (3) |
1 L = 4 milhas |
1 L= 5920
metros |
Fins
do século XV em Portugal |
17
1/2 léguas |
..1L = 4 milhas |
.1 L= 5.555 a 6.600 metros
(9) |
Regimento
de Munich (c.1509) (26) |
17
1/2 léguas |
.1L = 4 milhas |
? |
Regimento
de Évora (c.1517) (26) |
17
1/2 léguas |
.1L = 4 milhas |
? |
Reportório
dos Tempos (1ª.ed.1518) (26) |
16
1/3 léguas |
.1L = 4 milhas |
? |
Pedro Nunes,
Francisco Faleiro |
16
1/3 léguas |
..1L = 4 milhas |
? |
Valor
corrente em Portugal no século XVI |
17
1/5 (25) |
..1L = 4 milhas |
1
L = 5.920 m (7)
1
L = 6.195 m (8) |
Valor Actual |
18,75 Léguas
(60 milhas) -111 Km |
1L
= 3,2 milhas |
1 L = c.6.000 m |
Fontes: 2- Diário de Bordo (1492-1493); 3 -DPP, Esmeraldo Situ Orbis; 4- Luís
de Albuquerque, A Arte de Navegar; 7-
Uma
Viagem Redonda da Carreira da Índia (1597-1598)”, de Joaquim Rebelo Vaz
Monteiro, Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, 1985;(9-
Jorge Couto, A Construção do Brasil. Lisboa, Ed. Cosmos, 1998. p.141;
10- Relação da Segunda Viagem; 25 - Mapa dito de Cantino; (26)
A.Teixeira da Mota - Bartolomeu Dias e Valor do Grau Terrestre,
Lisboa, 1961. |
O valor da légua não era
em todas as latitudes o mesmo, dada a esfericidade da Terra. No século XVI, a
18º equivalia a 6.195 metros; 20º. a 5.555,56 metros; 25º. a 4.444,44 metros.
Perplexidades
Os
historiadores ficam baralhados quando compararam as distâncias que Colombo que
percorreu em léguas, com o valor que supostamente as mesmas teriam. A única conclusão a que se
chega é que o valor real de cada légua só pode ser muito diferente do que
tem sido dito.
A
única forma de ultrapassarmos este problema, é segundo Manuel Rosa, obtermos o
valor aproximado da sua légua, com base na relação entre as léguas que afirma
ter percorrido e as distâncias reais. Os valores que têm sido encontrados,
enquadram-se dentro dos valores máximos usados pelos navegadores portugueses na
época.
Distância
Percorrida |
Léguas
apontadas por Colombo |
Distância
real equivalente em km |
Valor
da Légua |
Canárias ao
Haiti (1ª. Viagem) |
850 |
5.612 Km |
6.602
m |
Ilha de Santa
Maria (Açores) a Lisboa (1ª. Viagem) |
231 |
1.430 Km |
6.190
m |
D ) Conhecimento dos Ventos e Correntes do Atlântico
A
navegação à vela pressuponha um conhecimento dos ventos e correntes
marítimas, cujo conhecimento Colombo manifesta conhecer em 1492, não apenas
sobre o Atlântico Sul, mas também do Norte.
1.
Volta da Guiné ou da Mina
A
investigação destas correntes pelos portugueses começou logo no inicio do
século XV. Em 1415 foi enviada às Canárias, uma expedição, sob o comando
de Fernando de Castro, a qual quando regressou se deparou com uma forte
corrente. O infante D. Henrique tratou logo de estudar a sua origem, tendo
promovido diversas expedições, como a de Gil Eanes em 1416. O objectivo era
não apenas chegar à Guiné, mas descobrir a rota para regressar, o que implica o
conhecimento dos ventos e correntes na região. Os
portugueses esperavam encontrar na Guiné grandes riquezas.
O problema, como é sabido, foi
primeiro ultrapassar o Cabo Não (Cabo Chaunar, Cabo Nun, Cabo
Noun ou Cabo
Nant), considerado o limite inultrapassável das navegações europeias e árabes.
Em 1417 os navios do Infante D. Henrique já o haviam atingindo um
novo mítico limite - o Cabo do Bojador (37º. N) - a
partir do qual se estendia o "mar tenebroso". Um enorme número de navios
portugueses afundaram-se neste ponto, pois ao navegarem muito perto da costa
embatiam contra uma "restinga de pedra que entrava pelo mar adentro (18).
Durante 12 anos (1420-1432), os
navios do Infante procuraram descobrir a forma de o ultrapassar o Cabo do
Bojador e voltar em segurança a Portugal. A solução era afinal, como vimos, era os navios à vela
ou as galés seguirem uma rota ao largo do referido Cabo, e depois no regresso
entrarem pelo alto mar até atingirem ventos e correntes favoráveis no
Atlântico, o que os podia levar até à ilha da Madeira ou aos Açores (19). Gil
Eanes acabou por ser o rosto desta descoberta colectiva (1434). Foram 12 anos de
estudo e de vidas humanas até se encontrar a rota segura entre Portugal e a
Guiné. A partir daqui os portugueses aventuram-se cada vez mais pelo alto mar,
como forma de vencerem correntes e ventos contrários junto à costa africana.
As
descobertas ao longo da costa ocidental de África, foram revelando novas
correntes e ventos. Fruto destes conhecimentos acumulados, em 1446, os portugueses chegaram à Guiné. Em 1460 tinham atingido a Serra Leoa (7º, 2/3), no ano em que o Infante D,
Henrique faleceu.
Em 1470 João de Santarém e Pedro Escobar
chegavam a São Tomé, em pleno Equador e pouco depois à Mina (Elmina, golfo de Benim,
Ghana). No regresso para Lisboa, estes navegadores depararam-se com
correntes contrárias que os atiravam para Oeste, isto é, para as costas do Brasil.
Aponta-se o ano de 1471, como
a data em que o conhecimentos dos ventos e correntes marítimas no Atlântico
Sul já estão plenamente consolidados,
sendo denominados por Volta da Guiné ou da
Mina. Os navegadores vindos do sul passaram a fazer uma volta
pelo meio do Oceano e só depois rumavam para Portugal.
A
segunda descoberta foi quando começaram a constatar, na mesma época, que navegando de Lisboa para o sul do Atlântico era preferível
fazê-lo pelo largo, junto à costa do Brasil e só depois curvar para Oriente.
Anos depois, os guias de navegação para a India passaram a recomendar esta
rota junto ao Brasil.
Jaime
Cortesão, com base numa extensa documentação, demonstrou que os navegadores
portugueses do século XV, sabiam que um navio à vela na zona equatorial
e meridional, que a partir de Cabo Verde se arrojasse para sul, conseguindo que
fosse atravessar a zona das calmarias, desde que caísse na corrente equatorial
e na zona das gerais de S.E., era com toda a probabilidade arrastado para as
costa do Brasil (13).
- Vasco da Gama, em 1497, fará também esta volta dirigindo-se primeiro para os ilheus de S. Pedro e
S. Paulo no meio do Oceano Atlântico, entre o Brasil e África (29°22'
long. O; 0°56' lat. N, a cerca de 1300 km da costa brasileira e 1500 km da
costa da Guiné), e só depois dos
avistarem rumou então para Oriente para atingir o cabo da Boa Esperança.
Foram três meses em pleno mar alto, sem ver terra, nos quais Vasco da Gama
conduziu sem engano a sua armada até à ponta de África. Esta precisão na
navegação implicava um prévio conhecimento não apenas dos ventos e correntes
de todos o Atlântico Sul, mas também da posição exacta do Cabo da Boa
Esperança.
- Duarte Pacheco Pereira,
notável navegador e cosmógrafo, em 1498, fez uma viagem de
reconhecimento da costa brasileira, assim como da região onde passava o
meridiano do Tratado de Tordesilhas (1494) que dividia os domínios entre
Portugal e de Espanha.
"Como
no terceiro ano de vosso reinado do ano de Nosso Senhor de mil quatrocentos e
noventa e oito, donde nos vossa Alteza (D. Manuel I) mandou descobrir a parte
ocidental, passando além a grandeza do mar Oceano, onde é achada e navegada
uma tam grande terra firme, com muitas e grandes ilhas adjacentes a ela e é
grandemente povoada. Tanto se dilata sua grandeza e corre com muita longura, que
de uma arte nem da outra não foi visto nem sabido o fim e cabo dela. É achado
nela muito e fino brasil com outras muitas cousas de que os navios nestes Reinos
vem grandemente povoados.". in Esmeraldo
de Situ Orbis" (1505-1508).
Este
cosmógrafo foi um dos que negociou e assinou este Tratado em nome do rei de
Portugal. Na sua obra Esmeraldo revela que conhecia perfeitamente as
correntes e os ventos do Atlântico Sul, em particular a volta que os navios
faziam junto ao Brasil. Refere, no capítulo 3º do Livro III, que esta
travessia pelo largo, era conhecida dos portugueses no tempo de D. João II
(faleceu em 1495). Indica no capitulo 2º, do mesmo livro que as primeiras
viagens pelo largo terão ocorrido no tempo do Infante D. Henrique (faleceu em
1460), quando os portugueses atingiram a Serra
Leoa.
- Colombo, em 1498, depois de ter ido à Ilha da Madeira, dirigiu-se
para as Canárias e a seguir para Cabo Verde, rumou para sul, até se encontrar
no paralelo da Serra Leoa, entrou na
zona das calmarias, dirigiu-se então para poente e foi parar à Ilha da Trinidad, junto à
Venezuela, que pertenciam aos domínios espanhóis, acordados no Tratado de
Tordesilhas. Conforme o
próprio afirma, seguiu uma rota que lhe havia sido dita por D. João II, o qual
lhe garantiu que existia a sul um continente (Textos, 370 e segs.)
Recorde-se
que esta viagem só foi possível, porque D.Manuel I a autorizou. Colombo
navegou na Madeira e em Cabo Verde nos domínios portugueses, tendo em ambos
recebido apoio dos representantes deste rei que lhe forneceu igualmente a
informação para esta viagem. D.Manuel I foi neste ano jurado, em Toledo,
herdeiro do trono de Espanha.
B
Carta
dos ventos e correntes marítimas do Atlântico. O seu conhecimento pelos
portugueses por volta de 1471 permitiu-lhes descobrirem o Brasil e as Antilhas (Caraíbas)
muito antes de 1492.
A
- No Verão ; B- No Inverno.
As
setas a preto indicam a direcção dos ventos. As vermelhas as correntes. Fonte:
Damião de Peres.
2.
Volta dos Sargaços
O
conhecimento das correntes e ventos do Atlântico Norte terão sido obtido pelos
portugueses ainda na primeira metade do século XV, quando começaram a navegar
de forma regular para a Madeira, Canárias e os Açores.
Em 1436 já
informam Andréa Bianco da existência do mar de Sargaço, ou mar da Baga, o
qual o incluiu no seu mapa. O nome é significativamente português. Este mar estava no
centro de um conjunto de correntes e ventos que formam uma movimento circular,
como é bem patente nas gravuras acima publicadas.
Os
navios que partiam de Portugal e se dirigiam para sul apanhavam as correntes
norte africanas que os atiravam para as caraíbas, sob o impulso das correntes
equatoriais. Uma vez nas Caraíbas, a melhor forma de regressar a Portugal era
apanhar as correntes do golfo que os atiravam para norte na direcção dos
Açores onde apanhavam outras correntes vindas do norte que os conduziam para
Portugal.
Colombo
utilizou precisamente estas correntes e ventos para chegar e regressar das Indias
(1492/1493) e em
1498 para atingir a Terra Firme (continente americano).
Daí a sua
preocupação em reunir toda a informação possível nomeadamente sobre a Guiné, onde
afirma que foi muitas vezes ao serviço dos reis de Portugal.
E
) Tecnologia Naval
Os avanços realizados pelos
portugueses no estudo dos ventos, correntes marítimas e navegação pelos astros
foi acompanhado por um extraordinário desenvolvimento da tecnologia nautica. A
navegação através de galés, muito apropriada no Mar Mediterrâneo revelou-se
insuficiente no Oceano Atlântico e em particular no alto mar. Mais
Houve necessidade de criar um navio
capaz de aproveitar ao máximo os ventos, capaz de efectuar longas e demoradas
viagens em alto mar, mas também junto à costa e explorar as embocaduras dos
rios. Os portugueses, após logos anos de pesquisa, por volta de 1440, tinham
criada a caravela latina.
A caravela latina era um
navio com cerca de 25 metros de comprimento, 7 de largura e 3 de calado. Podia
ter 1, 2 ou 3 mastros, com um convés único e uma popa elevada. A tripulação era
mínima, cerca de 20 pessoas, para as capacidades do navio. A vela (triângular)
permitia-lhe navegar com escassos ventos e à bolina ( em zizague contra o
sentido dominante dos vento), entrando em zonas de águas pouco profundas. Á
medida que as explorações marítimas avançaram tornou-se necessário criar navios
com maior capacidade de armazenamento, melhorassem o aproveitamento dos ventos e
fossem adaptados a situações guerra naval.
A caravela redonda, surgiu em
finais do século XV, foi outra criação portuguesa. Tinha 4 mastros, 2 com velas
redondas nos da proa e velas latinas no restantes. As velas eram em formato
trapezoidal, adquirindo a forma "redonda" quando enfomadas pelos ventos.
Aproveitavam os ventos largos, atingindo grandes velocidades. Foi o primeiro
navio criado para a guerra no alto mar, sendo muito usado na defesa da costa, do
estreito de Gibraltar, das ilhas da Madeira e dos Açores. Era também muito usada
como cargueiro em viagens de grandes distâncias. A capacidade destas caravelas
mais do que triplicou no século XVI, atingido os 180 tonéis.
As travessias oceânicas levaram os
portugueses a desenvolverem mais dois navios de maiores dimensões, as naus e os
galeões. As naus era usadas, como cargueiros em viagens muito longas,
nomeadamente nas travessias oceânicas. Os galeões, surgiu no tempo de
D.Manuel I, era um navio de guerra, que só esporadicamente era usado no
transporte de mercadorias.
Colombo manifestou sempre uma enorme predilecção pelas caravelas
portuguesas. Nas
cartas que escreveu lamentou-se frequentemente da má qualidade dos navios feitos
em Espanha, o que lhe provocou constantes problemas nas viagens que realizou.
Na primeira
viagem levou duas caravelas - a Pinta e Niña - , mudando nas Canárias as
velas de latinas para redondas. O terceiro navio era uma nau
que afundou nas Antilhas.
Na
segunda viagem (1493-1496) dos 17 navios que partiram, passados alguns meses a
maioria já tinha regressado a Espanha. Os que Colombo usou nas suas
explorações eram caravelas. Foi também com caravelas que fez as
suas explorações na terceira e quarta viagem, a última.
F
) Caminhos e Práticas Conhecidas
Uma
das melhores fontes de informação para saber das viagens que os portugueses
fizeram antes de 1492 à América são justamente os documentos de Cristovão
Colombo. Não apenas descreve viagens feitas antes de 1492 à América, como regista
indícios e vestígios em solo americano que o
confirmam.
1. O Segredo de Frei João
Peres de Marchena (português)
Vários
biógrafos de Colombo afirmam que em Julho de 1491, este frade contou a Isabel,a
Católica um segredo que a fez mudar de opinião em relação à realização da
1ª. viagem à América. As suas hesitações desapareceram nesse dia. Qual foi
o segredo ? Colombo ter-lhe-ia revelado que já teria ido à América com os
portugueses ou estes lhe haviam contado que já lá tinham estado. Recorde-se
que Colombo esteve em Lisboa em 1488, em conversações com Bartolomeu Dias e
outros navegadores. O que terá então sabido ? Que no regresso estes
navegadores ou outros terão passado pelo Brasil ? A ideia
que os navegadores portugueses já tinham estado em ilhas a Ocidente estava muito difundida na
época, e foi mesmo usada no século XVI por alguns espanhóis para afirmarem
que Colombo não foi o primeiro a chegar à América. Por esta razão, diziam
que ele mentira porque sabia que não estava na Índia, mas numas
índias (ilhas) no Atlântico (Antilhas, Caraíbas).
2. A Minuta das
Capitulações de Santa Fé
No
dia 17 de Abril de 1492, Frei João Peres de Marchena (português e
representante de Colombo) e Juan de Coloma (jurista, representante dos reis
católicos), elaboram uma proposta de acordo jurídico quanto aos privilégios
que lhe seriam dados. Nessa minuta não se fala na Índia, mas nas Índias. O mais interessante da minuta é que nela Colombo afirma que já
descobrira as Índias, e a nova viagem que iria fazer era para oficializar a
descoberta, dando satisfação aos reis: "las cosas suplicadas é que vuestras Altezas dan y otorgan a
D. Cristóbal Colon, en alguna satisfacion de lo que ha descubierto en las
mares Oceanas, y del viaje que agora, com el ayuda de Dios, ha de hacer por
ellas en servicio de vuestras Altezas". Repetimos: a descoberta já fora
feita, a viagem que ía ser feita era para dar as Indias aos reis católicos. (
1 )
Na
Acta Jurídica, elaborada no dia 30 de Abril de 1492, desapareceu esta
afirmação que as Indias já haviam sido descobertas, pois a mesma seria o
reconhecimento jurídico que as mesmas já haviam sido descobertas por Portugal.
Recorde-se
que todo este processo de negociações entre a Corte Espanhola e Colombo, era
dirigido um português: D. Alvaro de Portugal, Governador da Justiça e
depois presidente del Consejo Real de Castilla.
3.Rota para Ir
Antes de iniciar a sua 1ª. Viagem, em
1492, num momento de particular hesitação da tripulação, um piloto português - Pedro Vasquez
- intervém para dar o seu testemunho. Em 1452 andara ao serviço do
Infante D. Henrique, numa expedição comandada por Diogo de Teive, escudeiro do
dito Infante, tendo avistado terra firma a Ocidente dos Açores. Nesta sua
intervenção apontou a rota que deviam seguir para atingir as Antilhas, o que iriam encontrar (mar dos Sargaços) ,etc.
Tendo
como referência a posição geográfica dos Açores e das Canárias, qualquer
navegador sabia determinar a zona Oceano onde ficava o mar dos
Sargaços. Depois era só avançar para Oeste, quer os marinheiros da Ilha da
Madeira, quer os dos Açores, garantiam que havia terra a Ocidente. Foi esta a
rota seguida por Colombo.
Diário
de Bordo - 14/9/1492:Colombo recorda as palavras do português que lhe
havia dito antes de partir: quando encontrasse sargaços estava perto da Índia.
Ao vê-los não tinha dúvidas que já estava perto. Toda a tripulação que
fora avisada pelo português, assim também o pensava. A agitação a bordo era
enorme. Olhando para o mar começaram a ver ervas, troncos, caranguejos mortos,
etc.
4. Gomeira nas Canárias
Colombo
na
sua primeira viagem (3/08/14921492- 15/3/1493),
depois de sair de Palos, dirigiu-se para o arquipélago das Canárias, mas mais
especificamente para a Ilha de Gomera (Gomeira). O episódio tem sido
pouco estudado (2 ), pois o mesmo releva a sua enorme ligação a
Portugal.
No
trajecto entre Palos e as Canárias desengonçou-se o leme da "Pinta", comandada pelo espanhol
Martin Alonzo Pizon. No dia 11 Agosto estando em frente à Ilha da Grã
Canária (Gran Canaria), onde se situava a capital das Canárias (Real de Las
Palmas), resolveu separar-se de Pizon, enviando-o à ilha para consertar o leme.
A sua atitude é aparentemente incompreensível, dado que seria na capital que
poderia obter maior apoio para a sua expedição oficial. A verdade é que Colombo evita a todo o
custo dialogar
com as autoridades espanholas. Incomodava-o visitar Real Las Palmas, por isso resolveu separar-se de Pizon e
dirigir-se para as duas ilhas mais afastadas do arquipélago: Tenerife e Gomera (Gomeira).
A
escolha destas ilhas, como veremos, revela a sua clara intenção de
navegar apenas em rotas já conhecidas e controladas por portugueses. Real
das Las Palmas, evoca-lhe tristes recordações, por isso resiste em aportar a
esta ilha. Mais
5.Aves.
Diário
de Bordo - 7/10/1492: Colombo observa o percurso da aves
e a partir do mesmo traça o caminho para as ilhas que procuravam. Recorda que
fora assim que as ilhas dos Açores haviam sido descobertas. Foi o que fez ! "...sabia
o Almirante (Colombo) que a maioria das ilhas que tem os portugueses
descobriram-nas pelas aves". "Por isto o Almirante acordou em deixar o
caminho do Oeste e pôr a proa (da caravela) em direcção Oeste-Sudeste". Foi desta maneira que descobriu as "Índias", a América (Diário, Colombo).
A
observação das aves para descoberta de ilhas, está amplamente documentada no
Diário de Colombo, compilado por Fray Bartolomé de las Casas ( o original
desapareceu).
6.
Utilização de Mapas e Roteiros Emprestados
Algumas
das suas "descobertas" revela claramente que estava a guiar-se por
mapas e roteiros que lhe haviam dado.
No
Diário de Bordo, a 25/9/1492,
Pinzon encosta à nau de Colombo para discutirem os mapas que este lhe havia
emprestado, onde figuravam ilhas naquelas parte do mar. (Las Casas)
7.
Distâncias Precisas
Nos
dias 9 de Outubro de 1492, a tripulação recusa-se a prosseguir viagem, pois
está descrente da existência de terras a Ocidente. Colombo afirma faltavam
apenas de três dias para as encontrar, o que se confirmou. Simples
coincidência?
O
mesmo irá acontecer, em 1498, quando descobrir "Terra Firme", o
continente americano.
Embora
a Ilha da Trindade, a 31 de Julho de 1498, ainda não tivesse sido "descoberta",
Colombo não deixou de registar que ficou
espantado por levar mais tempo do que o previsto para a encontrar. "yo
al cabo de diez y siete dias, los cuales nuestro Señor me dió de prospero
viento, martes 31 de Julio, a medio dia, nos mostró tierra, e yo la esperava
el lunes antes", como escreve na carta sobre a 3ª. viagem. O
Roteiro que estava a utilizar tinha uma distância mais curta.
8. O Segredo da Rota de Regresso
Após
ter descoberto as Indias, Colombo não regressa pela rota já conhecida, mas
dirige-se para os Açores, numa rota aparentemente desconhecida.
Na
verdade Colombo sabia exactamente a rota que devia seguir, embora não a
quisesse revelar. Os cálculos que afirma ter feito estão completamente
errados, e são mais uma vez incompreensíveis.
No dia 30/10/1492, em Cuba, afirmou que estava a “quarenta e
dois graus norte da linha equinoxial”. No dia 2/11/1492, volta a escrever :“Nesse
local [não muito longe do anterior], nessa noite, o almirante fez o ponto com o
auxílio de um quadrante e achou que estava a quarenta e dois graus da linha
equinoxial”.
Trata-se de uma informação falsa, destinada a demonstrar
aos reis católicos que
estava muito acima do paralelo definido no Tratado de Alcaçovas-Toledo (27º na realidade) (12).
Apesar
de afirmar que se encontrava a 42º N, e estar portanto numa latitude superior à das Canárias (Grã Canária, 27º 56`N),
Cádiz (36.32N), Palos (37° 14' N) ou mesmo de Lisboa (38º 43`N), no regresso
a Espanha avançou ainda
mais para norte. Um aparente absurdo.
De forma intencional procurou atingir os
Açores, aportando à Ilha de Santa Maria (37º 43' N). No dia 20/2/1493, dirigiu-se
sem êxito para a Ilha de S. Miguel (37º 44' N), avançando ainda mais para norte. A latitude destes
lugares, era bem conhecida no tempo. Colombo não estava equivocado, sabia
exactamente o que estava a fazer.
Esta decisão
de se dirigir para norte a partir das Caraíbas demonstra que conhecia perfeitamente as correntes de
todo o Atlântico. Ao longo do percurso de regresso
mostrou sempre que sabia a posição e as distâncias a que se encontrava. Perto dos Açores
os pilotos sentiram-se perdidos, mas Colombo indicou com precisão a ilha
açoriana de que estavam próximos. Nada do que fazia
tinha qualquer novidade. O seu Diário de Bordo é muito elucidativo a
este respeito.
Colombo na 1ª. e 2ª. viagem seguiu sempre a mesma rota. Começou por ir
às Canárias, mas no regresso das "Índias" (Antilhas) dirigiu-se para
os Açores. Na primeira viagem dirigiu-se directamente para Lisboa. Na segunda dirigiu-se para Odemira (Vila Nova de Mil Fontes).
Em qualquer das viagens o ponto de chegada a Portugal foi intencional,
fazendo questão de se demorar vários dias. Em Lisboa, 8 dias e em Odemira, 2 ou
3.
Na 3ª. viagem não foi às Canárias, tendo-se depois dirigido para a Madeira e
Cabo Verde, a seguir foi explorar o tal "continente" que D. João II
lhe falara. O regresso das Antilhas, com os seus irmãos foi outro, porque estava preso pelos espanhóis (Outubro de 1500).
Na 4ª. viagem dirigiu-se
primeiro para Arzila para defender os portugueses, e no regresso voltou de novo
pelos Açores, mas de forma muito discreta.
Rota
seguida por Colombo na 1ª, 2ª. e na 4ª.Viagem às Índias. A sua
escolha teve sempre em conta as correntes e ventos marítimos do Oceano
Atlântico conhecidas desde a primeira metade do século XV pelos portugueses.
9.
Existência de um Novo Continente
Colombo,
como vimos, fez questão de assinalar várias vezes que os portugueses já conheciam a existência de um
vasto continente no outro lado do mar (consultar).
Evocou o testemunho o próprio rei D. João II. Os reis espanhóis, em 1493,
escrevem-lhe a comunicar idêntica convicção. Duarte Pacheco Pereira, um dos
negociadores portugueses do Tratado
de Tordesilhas, em 1498 fez uma viagem ao outro lado do Atlântico
identificando aquilo que viu como um novo continente (14).
Actuando
ao serviço de D. João II, Colombo em 1493 propôs aos reis espanhóis, uma linha que dividia o mundo,
contemplando uma parte da América do Sul para
Portugal.
Processos judiciais
No
século XVI a familia de Colombo vê-se envolvida em diversos processos
judiciais, onde várias testemunhas que com ele viajaram afirmam que o mesmo era
português e que já conhecia a terras que descobrira: "Pleyto con la
Corona" (1512/1515), "Pleyto
de la Prioridad" (1532), no qual os filhos do Capitão Pinzón não tem
dúvidas em afirmar a sua nacionalidade portuguesa e o seu conhecimento de
terras a Ocidente e que as mesmas não eram a Índia.
Carlos
Fontes |
|
Notas:
( 1 ) Salvador de Mariaga ,
Vida del .... Os comentários deste autor são pertinentes, mas o mesmo
revela uma enorme perplexidade em encontrar uma explicação racional para facto.
( 2 ) Santiago, Miguel -
Colon en Canarias, In, Anuario de Estudios Atlanticos, nº.1. Ano 1955.
Patronato de la "Casa de Colon". Madrid - Las Palmas.
( 3 ) Beatriz de Bobadilla,
nasceu em Medina del Campo. Era filha de Juan de Bobadilla (caçador-mor da reis
de Castela) e de Leonor Alvarez de Vadillo. Era sobrinha de Beatriz de Bobadilha,
a célebre marquesa de Moya. Muito jovem andou amantizada com Fernando, o
Católico. Em 1481-1482, por imposição de Isabel,a Católica, foi obrigada a
casar-se com Hernán Pereza (~1460-1488), senhor da Ilha de Gomera. Com o seu
marido destacou-se pela forma barbara como oprimia e escravizava a população
guanche. Ficou viuva em 1488. Voltou a casar-se em 1498, com Alonso
Ferandez de Lugo, adelantado das Canárias, que se salientou também por
exterminar os guanches e os vender como escravos.
Tudo leva a crer que Colombo
conheceu Beatriz Bobadilla antes de finais de 1484, quando fugiu de
Portugal.
Recorde-se que Beatriz Fernández de Bobadilla, esposa de Andrés Cabrera,
Marquesa de Moya, terá tido um caso amoroso com D. Alvaro de Bragança,
nobre português que se exilou em Castela em 1484, como veremos.
( 4 ) É enorme a influência portuguesa nas
ilhas de Tenerife e Gomeira. Muitas localidades foram fundadas e colonizadas por
portugueses. Na evangelização tiveram um papel destacado. Em 1456, por
exemplo, o papa Calixto
III louva a evangelização do franciscano português Estevão de Loulé nestas
ilhas.
(5 ) Hernando Colon, Historia del
Almirante, cap. LXIV.
(6) Francisco Faleiro, no seu
Roteiro transmitiu a ideia a Fernão de Magalhães. A Ideia foi contudo
demonstrada como falsa, por D. João de Castro (1538), quando descobriu o
magnetismo terrestre no Cabo das Agulhas.
(7) Portulanos. Guias nauticos que descreviam
detalhadamente o litoral e os acidentes geográficos, registando a toponímica.
Difundiram-se a partir de finais do século XIII/ princípios do XIV.
(8) A navegação astronómica foi um processo
gradual. Não restam hoje dúvidas que desde finais do século XIV, os portugueses,
sabiam como o fazer de forma muito rudimentar e aplicaram-no nas suas
explorações marítimas. Os grandes avanços deram-se todavia no século XV, podendo
ser assinaladas duas fases:
a) Numa primeira fase , as alturas da estrela
polar eram usadas apenas estimar os deslocamentos norte-sul, relativamente a uma
posição de referência;
b) Na segunda fase, durante a 2ª. metade do
século XV, introduziram-se as tabelas de efemérides e fez-se uma simplificação
do quadrante e do astrolábio. Com estes meios tornou-se possível determinar a
latitude no mar com grande rigor;
(9) Mapas planos. Nestas cartas os meridianos e
paralelos são aproximadamente retilineos, equiditantes e perpendiculares entre
si. Em sintese, estes mapas são construídos com base numa estrutura geométrica
previamente definida. Ao ignorarem a curvatura da terra, provocam grandes
distorções nas distâncias, nomeadamente junto ao Equador. Um exemplo típico de
um "mapa plano", contruído com base em observações astronómicas, é o planisfério
dito de Cantino (1502)
(11) Taylor, E.G.R. - The
Navigating Manual of Columbus, in Bolletino Civico Instituto Italiano, Anno I,
Num. I, 1953, p.32-43. A este
respeito consultar também Luis
de Albuquerque, Introdução à História dos Descobrimentos Portugueses.
Mem Martins. Publicações Europa-America. s/d. 3ª. edição
(12)
Cuba (Havana),
recorde-se, situa-se a 23º 08' N, o que claramente ficava dentro dos domínios
de Portugal.
(13 ) Cortesão, Jaime - A
Colonização do Brasil, p. 27 e segs.
(14 ) Colombo, em 1498, afirma que
encontrou um Continente, mas dois anos depois diz foram apenas ilhas.
(15) O cargo de Almirante Mor em Portugal, foi
criado por D. Diniz, em 1317, sendo atribuído a título hereditário ao genovês
Manuel Pessanha.
No século XV, encontramos as seguintes famílias
cujos membros foram almirantes mor de Portugal:
- Pessanhas. Manuel Pessanha (Paçanha,
Peçanha, Pezagno), 1º. Almirante Mor, desde o seu inicio que se integrou na
sociedade portuguesa, perdendo rapidamente a sua ligação a Génova. O seu filho -
Lançarote Pessanha (1320-1384, 3º. Almirante), foi demitido por D. Fernando I,
devido à forma incompetente e cobarde como atuou no cerco de Lisboa feito por
Henrique II de Castela (1373). A população de Beja assassinou-o, em 1384, quando
tomou o partido de Castela contra os portugueses, liderados por D. Nuno Alvares
Pereira.
O título de
almirante acabou por ser herdado por membros de outras familias, normalmente
através de casamentos com descendentes dos ditos peçanhas:
- Meneses
João Afonso Teles de Meneses (1310-1381), 4º.
Conde de Barcelos e 1º. Conde de Ourém, tornou-se o 4º. Almirante mor; Pedro de Meneses
(c.1370-1437), devido ao seu casamento com Genebra Pessanha, foi o 7º.
Almirante Mor.
- Melos
Rui de Melo, casado com a segunda
filha de Carlos Paçanha, em 1453, foi nomeado almirante mor. Era cavaleiro da
Casa do Infante D. Henrique, fronteiro mor do Algarve, etc..
- Castelo Branco
Nuno Vaz de Castello
Branco, por ser filho de Catarina Paçanha, neta do almirante Carlos Paçanha,
em 1467, foi nomeado almirante mor.
- Albuquerques
Pedro de Albuquerque, sem
nenhuma ligação directa aos Pessanhas, em 1484, foi nomeado almirante mor.
- Azevedos.
Lopo Vaz de Azevedo
(1430-1501), filho de Izabel Vaz Peçanha, irmã do almirante mor
Nuno Vaz de Castelo Branco, tornou-se o 11º. Almirante Mor (29/3/1485), dando origem
a uma longa linhagem de almirantes na familia azevedo. Era cavaleiro da Ordem de
Aviz.
A que família de almirante se dizia descendente
Cristovão Colombo? Todas estas familias podiam afirmar, ainda que remotamente,
serem originarias de Génova e de almirantes genoveses.
cfr. Vasconcelos de Saldanha, António - O
Almirante de Portugal: Estatuto Quatrocentista e Quinhentista de um cargo
medieval. Coimbra. 1988
(16) Casaca, J. - A Légua Náutica Portuguesa do Séc. XV ao Séc.
XVII. Memória Nº 5, da Sociedade de Geografia de Lisboa.2005.;
idem, O Palmo Craveiro e as antigas unidades de comprimento. Edição
LNEC. Lisboa. 2006
(17)
(18) Duarte Pacheco Pereira, Esmeraldo, cap. 22
(19) Relação de Diogo Gomes. Documentos sobre a
Expansão Portuguesa, Edições Gleba, vol. I, p.24
(20)
O Livro de Marco Paulo conforme a impressão de Valentim Fernandez, feita em
Lisboa 1502, Publicações da Biblioteca Nacional, Lisboa 1922
(21) História Insulana de Padre António Cordeiro,
1716, Liv. VI, Cap. II, pg. 9
(22) Cortesão, Jaime - Expansão dos Portugueses
no Período Henriquino. Obras completas. Portugalia Editora. Lisboa. p. 55 e segs |