As Provas do Colombo Português
30.
Mentiroso e Desleal
A
maioria dos historiadores estão de acordo num ponto: Colombo mentia de forma
premeditada e sistemática aos reis espanhóis.
Não deixa de ser revelador que, entre as obras que leu,
aquela que lhe mereceu mais comentários nas margens - As Vidas Paralelas
de Plutarco. Os temas que lhes despertaram maior interesse foram os
augúrios, a adivinhação, os esconjuros e sobretudo, a questão da importância
do engano como instrumento de actuação. Anotou todos os exemplos de
actuações astutas de políticos ou de estratégias militares. Um facto que revelador
da sua preocupação com a
questão.
Entre 1485 e 1492, a sua principal
preocupação foi forjar dados sobre as dimensões da terra, de modo a tornar
credível o seu projecto de chegar à India navegando para Ocidente. Manifestou
desde logo um comportamento dúplice, enquanto negociava e era pago pelos reis
espanhóis, correspondia-se e servia o rei de Portugal.
Durante a primeira viagem às Indias
(América) (1492-93), o seu objectivo parece ter sido o de enganar a própria
tripulação, aniquilar todos aqueles que o pudessem colocar em causa,
nomeadamente sobre o que havia descoberto. Depois a história inicial continuou a
ser mantida, com algumas ligeiras modificações. Usou todos os meios para a
difundir internacionalmente, numa atitude de profunda deslealdade para com os
reis espanhóis.
Depois de 1497, quando Vasco da Gama
partiu para a verdadeira India, sente que em breve irá ser descoberto. Prepara
então a sua defesa, apoiando-se em Alvaro de Bragança, nomeadamente para confirmar os seus privilégios. Adquire
diversas obras, de autores como Claudio Ptolomeu, para emendar ou rectificar
cartas, Diários de Bordo e outros documentos que o pudessem comprometer. Vários
documentos terão sido forjados, nesta altura, para darem cobertura à continuação
das mentiras iniciais, e muitos outros destruídos.
Na sequência da sua prisão e dos
seus irmãos, em 1500, entra num processo de mentiras sistemáticas, servindo-se
de todos os meios para dar cobertura à fraude a que tinha conduzido os
espanhóis. Está em jogo a sua sobrevivência, numa altura que é acusado de
traição e de estar ao serviço de um principe estrangeiro (português). Recorre,
por exemplo, a Pedro Martir de Anghiera para divulgar a sua
biografia, em latim, com base dados que lhe fornece. A mentira continua.
A ) Actor
Uma das características mais
interessantes de Colombo era a sua capacidade de encarnar personagens de modo
conseguir iludir a corte
espanhola.
Um dos exemplos mais brilhantes da
sua arte ocorreu no verão de 1496.
Neste ano, regressou das Indias a 11
de Junho, tendo para apresentar aos reis espanhóis resultados desastrosos. Os
seus inimigos não o poupavam. Esperando uma má recepção, quando desembarca
resolve assumir o papel de vítima, aparecendo vestido com o hábito de
S. Francisco, com o respectivo cordão para se auto-flagelar (31). Para
mostrar o seu empenho na evangelização dos indios, mandou que dois deles
fossem baptizados, a 29 de Junho de 1496, no Mosteiro de Santa Maria de Gaudalupe (32), oferecendo ao mosteiro uma lâmpada de prata e várias jóias
de ouro. Actos próprios de um cristão piedoso e desprendido das riquezas do
mundo. Mais discretamente, em Sevilha, foram postos à venda os escravos,
ditos "canibais", que trouxe das indias ...
Ainda neste verão resolve dirigir à
corte que estava em Burgos para falar com os reis. O papel de frade franciscano
foi rapidamente substituído pelo papel de um glorioso almirante das Indias.
Para poder representar este papel
condignamente, ainda em Sevilha, a 20 de Julho, manda que Cristobal de Torres,
venda uma enorme quantia de ouro (33). Dirige-se então para Valladolid (9 de
Agosto). Nesta cidade, 12 de Agosto, ordena a Carvajal que venda outra enorme
quantia de ouro. Apenas no princípio de Setembro resolve partir para Burgos. O
que andou a fazer tanto tempo em Valladolid? A resposta é simples: a comprar
roupa !
Em Burgos, onde permanece entre a
primeira quinzena de Setembro de 1496 e 10 de Maio de 1497, assume-se como um
membro da alta nobreza, aparecendo com um riquíssimo colar de ouro...
Nas negociações com a corte
espanhola sobre os seus privilégios, o seu representante era
D. Alvaro de
Bragança...
Apesar do enorme desastre que
tinha sido o seu governo das Indias, tudo o que pediu lhe foi
concedido (34) .
Depois de regressar a Sevilha, faz
questão de mudar a residência para a calle dos Francos, para ficar ainda mais
perto com Violante Moniz Perestrelo, das casas da Marquesa de Montemor-o-Novo e
de D. Alvaro de Bragança. Sem esta retaguarda portuguesa em Espanha era
impensável conseguir iludir tanta gente.
Mais
Esta radical mudança de papéis,
ilustra a sua incrível capacidade para tornar credíveis, os mais disparatados
absurdos com que conseguiu convencer durante anos a corte espanhola.
Messias
Depois que Vasco da Gama partiu para
a India, em 1497, Colombo percebe que mais ano menos ano o logro a que havia
conduzido os espanhóis seria descoberto.
A partir daqui procurou afirmar-se
como um "predestinado" cuja missão era espalhar o cristianismo por outros
povos do mundo, ainda que tal pudesse implicar inúmeros sacrifícios de vidas
humanas.
É provável que muitos dos seus
escritos anteriores tivessem sido retocados e emendados, depois de 1497,
nomeadamente o Diário de Bordo, para apresentar esta dimensão divina.
Introduz a ideia da ocorrência de um
"milagre" na narrativa dos acontecimentos mais marcantes em que está envolvido:
a chegada Portugal depois do naufrágio (1476), o contacto com D. João II, a
entrada no porto de Lisboa (Março de 1493), etc..
No Diário de Bordo, a 14/10/1492,
afirma que os indios de Guanahaní os descreveram como tendo vindo do céu e davam
"gracias a Dios" por semelhante milagre. Os primeiros indios que os viram foram
chamar outros dizendo: "Venid a ver los hombres que vinieron del çielo,
traedles de comer y de bever". Foi portanto como figuras celestiais
que foram recebidos e tratados quando chegaram às Antilhas (América).
Esta dimensão divina da sua missão,
como dissemos, aumenta de intensidade quando Vasco da Gama parte para a India.
Na Terceira Viagem (1498), descobre a entrada para o Paraíso Terreal.
Na
carta que envia a Joana de la Torre, ama do principe juan (1500), assume-se como
um escolhido pelo próprio Deus: "Del nuevo çielo y terra que dezía nuestro señor
por Sant Juan en el Apocalipsu, depués de dicho por la boca de Isaías, me hizo
mensajero y amostró aquella parte."
No Livro das Profecias (1500/2), num
discurso delirante, apresenta-se o escolhido por Deus para realizador antigas
profecias (34).
Assumindo-se como o imperador de um
novo reino cristão, pede ao papa Alexandre VI para
expulsar os espanhóis das Indias (Fevereiro de 1502), pois eles são maus católicos. Não fosse a
cobertura que Alvaro de
Bragança lhe deu estaria em maus lençóis...
A "Relação da Quarta Viagem"
(Jamaica, 7 de Julho de 1503), por exemplo, é um discurso de típico um
tresloucado. Equipara-se a figuras bíblicas
como Moisés ou David, assumindo-se como um Messias (enviado) a quem Deus aparece
e fala quando se sente ameaçado pelos espanhóis. A sua autoridade advém-lhe
directamente de Deus, não de qualquer rei.
Cristovão Colombo apropria-se do
discurso messiânico, muito difundido nos reinos da Península Ibérica, não apenas
para afirmar a sua autoridade (sobrenatural), mas também para combater os reis
espanhóis, retirando-lhes qualquer legitimidade sobre as Indias Ocidentais
(América).
B)
Mestre na arte da mentira e da ocultação
Durante
7 anos Colombo andou a mentir aos reis espanhóis, tentando convencê-los a
promoverem a primeira viagem às Indias (América). Depois continuou a
mentir-lhes de forma sistemática.
1.
Dimensões da Terra
A
base de todas as mentiras aos espanhóis estava o problema das dimensões da Terra.
Tirando partido da ignorância dos reis espanhóis (Isabel e Fernando) sobre as
mesmas, começou por convencê-los que o grau do meridiano ou da equinocial
tinha 56 milhas e 2/3, indicados por Alfragano, e alegadamente
confirmado pelos cosmógrafos portugueses.
O
logro consistiu em nunca lhes dar uma indicação precisa sobre o valor da
milha que estava a usar: a milha de Alfragano ou a milha Romana
(Italiana)?
É
provável que durante as negociações tenha utilizado o valor da milha romana,
que correspondia a mil passos ou seja 1.480 metros. A dimensão da
circunferência da Terra, é desta forma reduzida em 25%. Ptolomeu
imaginava a Terra muito maior !.
A
distância entre a Europa e a China (Cataio) era desta forma consideravelmente
reduzida. O oceano que as separava tornava-se num pequeno mar facilmente
atravessado.
Foi
com base neste valor que, em 1493, combinado
com D. João II, sugeriu um novo de Tratado de Partilha do mundo com os
portugueses. A linha meridiana que apresentou aos reis espanhóis e que lhes
criou a ilusão
que os seus domínios no mundo passariam a abranger toda a Ásia e incluindo
grande parte de África até ao meridiano do Cabo da Boa Esperança.
Colombo
irá manter ao longo dos anos esta ambiguidade sobre o valor da milha que
utilizava, o mesmo o fará a sua família.
Fernando
Colon, em 1524, foi chamado a pronunciar-se sobre a quem é que pertenciam as
ilhas Molucas, se a Portugal ou à Espanha. Como se nada tivesse passado desde
1492, apresentou a Carlos V, um memorial cujo título diz tudo sobre o seu
conteúdo:
"Declaracion
del derecho que la Real Corona de Castilla tiene à la conquista de las
provincias de Persia, Arabia é Indias, é de Calicut é Malaca, con todo lo
demás que, al Oriente del cabo de Buena Esperanza, el Rey de Portugal, sin
titulo ni derecho alguno, tiene usurpadas, fecha por D. Hernando Colón, hijo
del primer Almirante de las Indias, y dirigida a S. C.C. magestad el Emperador
nuestro señor, año de 1524".
Passados
32 anos sobre a primeira viagem às Indias (América), um dos filhos de Colombo
continuava a afirmar que a Terra tinha as reduzidas dimensões com que o seu
pai havia enganado os reis católicos.
Enquanto
isto acontecia, o filho primogénito - Diego Colón -, entregava secretamente ao
rei de Portugal informações reunidas por Colombo sobre o
assunto.
Este
caso ilustra a forma como Colombo e a sua família mentiam descaradamente aos
espanhóis, actuando de forma coordenada
com os reis de Portugal.
2.
Cálculos Contraditórios
Se
nunca esclareceu qual era o valor da milha que utilizava, uma coisa é
certa: os seus cálculos
sobre a latitudes estão completamente errados.
Os
cálculos que afirma ter feito na Guiné, Serra Leoa ou na Mina, pecam todos por
defeito.
Os
cálculos que apresentava sobre os Cabo da Boa Esperança ou a Islândia,
pecavam todos por excesso. Colombo pretendia neste caso passar a ideia da sua
enorme distância..
Para
credibilizar as suas falsidades, repetia frequentemente que os seus cálculos
estavam de acordo com os dados obtidos por cosmógrafos e navegadores
portugueses, como José Vizinho ou Bartolomeu Dias, a que acrescentava que os
mesmos haviam sido verificados por D. João II. Na verdade, nenhum português no
tempo, nomeadamente José Vizinho, podia concordar com semelhantes valores.
2.1.
Medições na Guiné
Nas suas célebres notas
em livros escreve o seguinte:
- "O Rei de
Portugal enviou à Guiné no ano do Senhor de 1485 mestre José, seu físico e
astrólogo, para observar a altura do Sol em toda a Guiné, o que fez e
comunicou ao dito Sereníssimo Rei, estando eu e outros presentes a 11 de
Março. Ele achou que a ilha dos Ídolos estava afastada do Equador 5 graus (0
?) minutos, o que verificou com o maior cuidado. Mais tarde, o mesmo
Sereníssimo Rei enviou ainda e muitas vezes fez observadores a outros lugares
da Guiné (...) e encontrou os respectivos resultados sempre de acordo com
mestre José, o qual considerava como certo que o castelo da Mina estava sob o
Equador" ( 7).
Estes cálculos estão errados.
O valor real da latitude é muito superior. Na
realidade a Ilha dos Idolos está a 9º. 30´ latitude Norte. O Forte da Mina
não está na perpendicular do Equador, mas a 5º.
05´ Norte. Duarte Pacheco Pereira, no Esmeraldo Situs Urbis
calculava 9º N. e 5º N respectivamente, um erro desprezível.
Colombo, parece
não saber calcular a latitude pela Estrela Polar, embora o afirme, e de não
saber usar a altura do sol para determinar a latitude, apesar de o
dizer. Será que naquela latitude perdeu a Estrela Polar ? A
explicação só pode ser outra, uma vez que ele menciona outras fontes de
informação, como o mestre José Vizinho.
- "Nota que
navegando muitas vezes de Lisboa para o sul da Guiné tracei (na carta) a
estrada percorrida, como é uso entre pilotos e marinheiros. Tomei igualmente
muitas vezes a altura do Sol pelo quadrante e por outros instrumentos e
observei que os resultados concordavam com os de Alfragano, isto é, que cada
grau correspondem a 56 2/3 milhas e que se deve ter confiança nesta
medida. Podemos dizer que a circunferência da terra sob o Equador é de
20.400 milhas. Ao mesmo resultado chegaram mestre José, médico e astrólogo,
e outros especialmente encarregados desse trabalho pelo Sereníssimo Rei de
Portugal. isto poder ver qualquer que meça nas cartas de marear, do Norte
para Sul, no Oceano e para além das terras, por linha recta por exemplo da
Inglaterra ou da Irlanda até á Guiné" (8).
Analisaremos, mais
abaixo, a questão do valor de cada légua ou milha.
2.2. Medições
no Cabo da Boa Esperança
Bartolomeu Dias é
uma figura fundamental nos apontamentos de Colombo:
-
Numa nota marginal escrito no seu exemplar da Imago Mundi de Pedro
d`Ailly, afirma que no ano 1488, chegara a Lisboa Bartolomeu Dias, que havia
navegado até 45º abaixo do Equador. Verificou com o navegador português légua a légua
a distância
percorrida.
Colombo
volta a errar, mas desta vez por excesso. A distância real do ponto mais a sul de África é de 36º 21`
latitude sul. O seu objectivo era mostrar que era um
erro chegar à India contornando África, como pretendiam os
portugueses. Desta forma protegia esta rota.
- "Nota que
em 88 (1488), no mês de Dezembro, regressou a Lisboa o capitão de
três caravelas que o Sereníssimo Rei de Portugal enviara à Guiné a
descobrir terras - Bartolomeu Dias - e participou ao próprio Sereníssimo Rei
que navegara 600 léguas para além do já conhecido, sendo 450 para Sul e 250
para Norte, até a um promontório a que dera o nome de cabo da Boa
Esperança, que supomos ser Agesimba, tendo nesse lugar, que dista de Lisboa
3100 léguas, verificado por astrolábio achar-se a 45º além do Equador.
essa viagem desenhara-a e descrevera-a ele, de légua em légua, numa carta de
navegação para que o Sereníssimo Rei por seus próprios olhos tomasse
conhecimento. A estas coisas estive presente." (10)
Colombo reafirma
uma vez mais o seu acesso à informação obtida pelos cosmógrafos e
cartógrafos portugueses, sancionada pelo próprio rei. Neste caso os dados
estão errados mas por um enorme excesso:10 graus. Duarte Pacheco Pereira calculava
a posição do cabo da Boa Esperança em 34º. 30´, e encontra-se de facto a 34º. 21´ lat. S.. O erro neste caso é mínimo.
Este alegado erro
de Colombo, faz parte da sua estratégia de enganar os reis católicos,
aumentando desmesuradamente a distância até ao Cabo da Boa Esperança,
mostrando a enorme dificuldade que os portugueses tinham em pretenderem
atingir a India contornando
África.
2.3.
Medições nas Antilhas e no Atlântico
Mestre
na arte da mistificação, nunca forneceu aos reis espanhóis medidas exactas,
os dados contraditórios são uma constante.
Durante
a 1ª. Viagem, registou cinco observações que pecam todas por excesso:
Em Cuba, a 30/10/1492, 2/11/1492 e 20/11/1492, registando sempre 42º Norte
(real - 21º 30`). No
Haiti, a 13/12/1492, no dia a seguir ao solstício de Inverno, obteve 34º Norte
(real- 19º 35` N). No dia 3/2/1493, no regresso, tentou mas não conseguiu fazer calculos da latitude em que se encontrava.
Perante a dimensão destes erros nos
cálculos, historiadores como Morison não tem dúvidas em afirmar que Colombo era
um completo ignorante, não tinha qualquer conhecimento das estrelas, nem sequer
sob o ponto de vista estético...
A verdade é que Colombo
afastou deste modo as Indias que havia descoberto da linha do Tratado de Alcaçovas-Toledo (1479/80),
que passava pelo paralelo de La Gomera (28ºN). Com estas informações era também
impossível aos reis espanhóis localizarem as referidas ilhas (8). A confusão
estava instalada.
A
partir daqui começou a ter um um novo problema: - Não era possível continuar
a manipular continuamente as informações geográficas, pois os espanhóis acabariam
por perceber o embuste. Nesse sentido, foi alterando os seus próprios
calculos, mas sempre com enormes erros.
Na
Relação da Segunda Viagem, em 1494, estando na Ysavela (Haiti), calculou
que estava a 26 N (real = 19º
57`),
persistia na mentira. Afirma também que La Gomera, nas Canárias, ficava a 26º. 30`(Real: 28° 01').(Textos,
249), um calculo que era dificil de justificar.
Durante
a 3ª Viagem, em 1498, quando percorreu domínios de Portugal, com a
autorização de D.Manuel I, registou quatro observações, todas elas erradas,
mas seguindo a lógica anterior.
-
Partindo das Canárias, quando chegou a Cabo Verde, verificou que
latitude da Estrela Polar variara entre 5 e 15 graus. O valor real percorrido foi
7 e não os 10 que indica. Colombo aumentou deste modo a distância que separava
as Canárias de Cabo Verde.
-
A partir do paralelo da Serra Leoa (4), que calcula situar-se a 5 graus (Real: 9º
N), avançou para Ocidente, verificando que nesta latitude a altura da Estrela
do Norte, variava entre 5 e 10 graus segundo Las Casas, e entre 6 e 11 de acordo
com Hernando Colon ( Cap.LXVI). Esta variação, levou-o à conclusão que
estava a bordejar uma elevação em pleno Atlântico - o Paraíso Terreal (consultar).
Ao chegar à Foz do Orenoco, a entrada do Paraiso, calculou que estava a 5º N (real:09°15'N).
Estes valores são muito inferiores aos reais, situando estes territórios muito
a sul, numa região que de acordo com Tratado de Alcaçovas-Toledo (1480)
pertenceriam a Portugal. A distância entre o Orinoco e Cuba, por exemplo, era
segundo Colombo de 37 graus, mais do dobro do valor real !
3.
Fundamentos da Mentira
A
maioria dos historiadores está convencida que Colombo era um charlatão e
ignorante em matéria de cosmografia, pois imaginava a Terra muitissimo mais
pequena do que ela é, não colocando a hipótese do mesmo estar a mentir.
Basta
termos em conta os seus cálculos da distancia entre o Equador e Cabo da
Boa Esperança, para chegarmos à conclusão que sabia que a terra era muitíssimo maior do que
se afirma.
A
esmagadora maioria dos historiadores, ao recusarem a ideia que ele estava
intencionalmente a enganar os reis espanhóis, entraram num completo delírio.
Vejamos as possíveis fontes de informação que Colombo se teria servido nos seus
delírios geográficos:
-
Aristóteles. Em De Caelo, dá como provável que as Indias estivessem
muito perto das Colunas de Hercules. Diz-nos que haviam matemáticos que
calculavam a circunferência da Terra em dez vez 10.000 estádios.
- Marino de Tiro (séc.I).
Afirmava que desde as costas ocidentais da Península Ibérica até ao final do
oriente, por terra, haviam 225º., e que em direcção a oeste, por mar, a
distância era só de 135º. Na realidade, a distância de Lisboa a Shangai, por
terra é de 130º., mas medida para ocidente, por mar é de 230º.
-
Claudio Ptolomeu
(90-168 d.C).
A principal autoridade entre os cosmógrafos no século XV. No seu Guia
Geográfico (Almagesto, em árabe) afirma que metade do mundo
era ocupado pela crosta terrestre num continuo Europa-Ásia, atribuindo a
África um reduzida dimensão.
Atribuiu ao equador terrestre -
círculo máximo - o valor de 16.177 milhas nauticas atuais, equivalentes a
29.957,4 km, em vez dos 39.999,9 na realidade. A circunferência da terra ficava
reduzida um terço.
O grau terrestre era
de 62,5 milhas italianas (1 milha = 1.477,5 m, equivalente a 0,8 milhas nauticas
actuais).
Plolomeu modificou os cálculos de
Marino de Tiro, considera que de Lisboa ao Oriente eram sensivelmente 180º. para
cada lado. O meridiano "0" no seu mapa passa pelas ilhas Canárias.
-
Alfrayran (Alfragano) (Século IX), geografo muçulmano, na sua
célebre obra (Elementos de Astronomia), corrigiu os
calculos de Ptolomeu. Reduziu as milhas de grau para 56 2/3, mas aumentou
o valor de cada milha para 1.973,50 metros actuais. A circunferência da Terra
passou a corresponder a 20.400 milhas, isto, é a 40.259.400 metros. O erro foi
reduzido para 251.880 metros, mas agora por excesso.
- Toscanelli. A distância
entre Lisboa e Quinsay, na China, é reduzida para 130º, isto é, a
distância seria de 8.125 milhas italianas. O valor do grau é de 62,5 milhas
italianas.
- Pedro de Ailly. Na sua
célebre obra - Imago Mundi - afirma que o grau da terra no equador é de
56 2/3 milhas italianas, o que dá um circulo máximo de 20.397, 6 milhas
italianas, equivalentes a 30.137,4 km. Reduz, portanto, as dimensões da terra em
um terço, como Ptolomeu.
Outro dado importante é que o
cardeal considera que o mundo é composto de 6 partes de terra e uma de
mar. Uma ideia que é corroborada pelo profeta Esdras, no seu
pseudo-biblíco Livro IV, cap.6, no qual diz que "seis partes do mundo são terra
seca e uma de água". Neste sentido, o continente euro-asiático abrangeria
300º e o Oceano que separa as costas europeias da India teria apenas 60º.
Baseado nesta informação, é fácil
perceber, como demonstrou Manzano, que o Oceano que separa Lisboa da India,
teria no máximo 2.914 milhas italianas, isto é, 2.331 milhas nauticas actuais,
equivalentes a 728 léguas. A India, o Japão ou a China ficariam a poucos dias de
viagem de Cabo Verde ou dos Açores.
Aparentemente Colombo serviu-se
destes cálculos baseados em Esdras e em Pedro de Ailly para convencer os reis
espanhóis.
Colombo
não se cansa de afirmar que Ptolomeu estava errado, que a Terra era muitíssimo
maior do que o geografo de Alexandria imaginava.
Concorda, como vimos, com os cálculos de Alfragano, os quais diz que foram
confirmados pelos cosmógrafos portugueses.
Dá conta da enorme extensão do Oceano
Atlântico, mas para espanto de muitos historiadores afirma aos reis espanhóis
que o grau
da Terra tinha apenas 56 e 2/3 milhas, isto é 14 léguas. O perímetro da Terra
no equador era de apenas 20.400 milhas.
Quais
as suas fontes de Informação ?
A
esmagadora maioria dos historiadores tende a associar Colombo a Ptolomeu, o que
é um manifesto erro. A sua principal referência, como o próprio afirma é
Alfragano e os cosmógrafos portugueses.
Embora
mentisse descaradamente ao reis espanhóis, a verdade é que afirmou de forma
muito clara que seguia Alfragano e não com Ptolomeu. Disse também que se
apoiava nos
cosmógrafos portugueses, e não nos de qualquer outra nação.
O
problema é que os cosmógrafos portugueses, discordavam de Alfragano e
atribuíam ao grau um valor diferente. Como
é sabido, por volta de 1494, atribuíam ao grau
três valores: 16 2/3 léguas (Bartolomeu
Dias), 17 léguas 1/2 (José Vizinho) e 18 léguas (Duarte Pacheco
Pereira). O seu valor do grau em léguas é apenas comparável a Alfragano.
Qual
o valor da milha?
A
maioria dos historiadores como dissemos, afirmam que utilizava a milha romana ou
italiana (1.477, 50
metros), o que tem
conduzido a um verdadeiro absurdo. O mundo de Colombo era, neste caso, muito
mais pequeno do que o
imaginado por Ptolomeu.
A verdade é que
nenhum dos seus textos sustenta a ideia que usava o valor da milha italiana. As
suas palavras vão noutro sentido, quando afirmou que concordava com os calculos
de Alfragano confirmados pelos cosmógrafos portugueses.
Usaria
a milha portuguesa ? O problema é saber qual milha. Os
navegadores portugueses a fim de calcularem as léguas percorridas no mar, e corrigirem as distorções nos seus calculos nas diversas latitudes,
criaram o chamado Regimento das Léguas, no qual se fixou valores
diferentes para a chamada légua portuguesa:
- Légua de 18 ao grau,
equivalente a 6.172,4 metros (milha: aprox. 1.543,1 metros)
- Légua de 20 ao grau,
equivalente a 5.555,56 metros (medida oficial da légua marítima)
- Légua de 25 ao grau,
equivalente a 4.444,44 metros (milha: aprox. 1.111,1 metros).
Os
valores da légua e da milha de Colombo no equador
(7.894 m e 1973,5 m) são indubitavelmente os Alfragano, embora matematicamente
sejam coerentes com os valores da légua portuguesa (5).
Henry
Vignaud sustenta os cálculos do perímetro do mundo de Colombo são uma mistificação, para
iludir os reis espanhóis. Alguns historiadores tem chamado à atenção para a
possibilidade das suas célebres notas, serem todas posteriores a 1494
quando se tornou evidente que não chegara à India. Ele sentiu-se na
necessidade de falsificar documentos para justificar as suas afirmações
anteriores, nomeadamente que no outro lado do Atlântico, a 33 dias, estava a
China (Cataio).
Pierre
Chaunu atribui os múltiplos erros de Colombo a uma causa desconhecida, mas
recusa a ideia que tivesse concebido um mundo de tão reduzidas dimensões.
Não restam dúvidas que ele
tinha uma noção exacta das distâncias reais dimensões
da terra ( Consultar
), no entanto
quanto
começou a ser desmascarado, fez-se passar por um místico ignorante, no que se
mostrou um verdadeiro mestre.
C)
Duplicidades
Em
1486 foi recebido pelos reis de Castela e Aragão. A partir de Maio de 1487
passaram-lhe a dar uma tença pela ideia que lhes apresentou e que passou a ser
estudada de atingirem a India navegando para Ocidente.
Enquanto
estava ao serviço de Castela, Colombo não fiou quieto, escreveu a D. João II, rei de Portugal. A carta
que o rei lhe dirige em Março de 1488 revela que este lhe andava a prestar serviços
importantes em Castela, ao ponto deste elogiar o seu engenho e o tratar por "especial
amigo".
O
seu irmão Bartolomeu Colon também não esperou pelo desfecho das
negociações. Em 1488 saiu de Lisboa, e dirigiu-se para Inglaterra e depois para
França, a fim de aliciar os respectivos monarcas a avançarem primeiro que o
castelhanos, levando consigo inclusive um mapa-mundo
Esta
duplicidade foi sempre uma constante nas relações entre a família Colombo e
os espanhóis.
D
) Mentiras sobre a Primeira Viagem (1492/3)
Durante séculos os espanhóis consideraram Colombo um mentiroso.
A sua estratégia é absolutamente notável na forma como conduziu a Espanha para
um logro monumental.
1.
Equívocos da India
Colombo jogou
com as expectativas e ignorância dos reis de Espanha em matéria de geografia.
Eles pretendiam atingir a India antes dos portugueses, e ele deu-lhe não
uma, mas várias "Indias".
Neste
sentido jogou com o equivoco entre India (na Ásia) e "Indias"no meio dos "mares
oceanos" ligadas à India. A verdade é que os reis espanhóis ficaram
convencidos que ele ia para a India, e não para as Indias.
- Nas
Capitulações de Santa Fé (1492), escreveu que iria descobrir ilhas e terras a
Ocidente. Após o regresso da 1ª. viagem, em Março de 1493, afirmou que as
Indias que encontrara constituíam a região mais a leste da própria India. Foi
a forma que encontrou para continuar a mentira.
Nas
cartas que enviava aos reis espanhóis, nunca deixou todavia de afirmar que
estava cada vez mais próximo da India. A 5/7/1503, escrevia, por exemplo, que
estava a "diez jornadas" do Rio Ganges (Relação da 4ª. Viagem, Ilha
da Jamaica).
O
passaporte que lhe foi entregue pelos reis espanhóis dizia que
enviam o "nobre Christofurus Colon" aos "Mares da Oceanos às partes
da Índia" (30/4/1492)
-
A carta de credencial dirigia-se ao "Principe Sereníssimo"
(reis e principes da famosa India), não aos indios analfabetos das Antilhas que
encontrou.
-
Era portador de "cartas régias de recomendação para o Grão-Can
e para todos os potentados da India e qualquer outra região que viesse a
descobrir" (cfr.Las Casas).
-
O título que lhe é conferido estava à altura de tão elevada missão:
"Almirante do Mar Oceano" (30/4/1494).
Os
reis espanhóis estavam convencidos que partira para a India, e não
para umas ilhas no Oceano Atlântico. Ao longo dos tempos manteve sempre a
ambiguidade entre a India e as Indias.
A
confusão não era dele, mas de quem o ouvia que assim o interpretava. Ainda hoje há historiadores
equivocados com esta questão.
2.
Produtos para trocar com os ricos principes da
India
Que
indios esperava encontrar Colombo ? Os indianos que esperava
encontrar não eram certamente pessoas bem vestidas vivendo em palácios
requintados, mas apenas indios miseráveis, nús, canibais vivendo em palhotas e dedicando-se a
actividades recolectoras (desconheciam a agricultura). Nesse sentido levou
consigo baús cheios de
guizos, missangas de vidro e outras coisas sem valor.
Os
habitantes que tinha a certeza que iria encontrar pouco se distinguiam daqueles que
conhecera
na costa ocidental de África, com os quais desde o inicio o compara. É significativo que os primeiros que conheceu e
descreveu, o tenha feito utilizando palavras portuguesas de origem africana.
As
Indias que deu aos espanhóis eram pouco rentáveis face às elevadas
expectativas que havia criado. O principal negócio eram escravos, madeiras (pau
brasil) e algum ouro. A exploração e escravatura desenfreada dos indios levou
ao seu completo extermínio nas Antilhas. A consequência disto tudo foram as
continuas rebeliões e revoltas para matar o estrangeiro (Colombo), assim como
os seus cúmplices.
A
mudança do em velame das embarcações, na 1ª. Viagem, mostra que ele sabia
exactamente o que ia encontrar. Dois dos seus navios tinham panos redondos, muito
adequados para viagens comerciais, rotas conhecidas e ventos favoráveis de
través ou de popa. O outro navio, a "Nina", tinha panos latinos,
triangulares, excelentes para explorar costas desconhecidas e bolinar em
ângulos apertados contra o vento (14). Quando saiu das Canárias mandou mudar o
velame da Nina para panos redondos, revelando que sabia muito bem os ventos que
iria encontrar e, deixando claro os objectivos comerciais da sua
viagem.
3.
Evangelização
Las
Casas pretendeu difundir a ideia que Colombo era um enviado de Deus para
difundir o cristianismo num novo continente. Que povos pretenderia evangelizar ? Os cristãos convertidos por São
Tomé ?
Na
sua primeira viagem à India resolveu não levar qualquer padre. Os indianos que esperava encontrar pertenciam a tribos mais primitivas do que aquelas que conhecera em
África. Por isso levou
consigo homens capazes de os dominar e reduzir à escravatura.
Com
o tempo deixou de falar em evangelizar os indios e passou a dedicar-se ao
tráfico de escravos, o único "produto" verdadeiramente rentável nas Indias.
Mais
Depois do enorme extermínio que esta
"evangelização" provocou nas indias espanholas, a Igreja católica acordou para o
problema. O papa Pio V condenou a Espanha, por nada haver feito para evangelizar
os indios. Filipe II viu-se obrigado a nomear a célebre Junta Magna (1568), para
responder às exigências papais (36). Morto o papa tudo continuou na mesma, como
no tempo de Colombo.
4.
Viagem até à India
Os
investigadores sempre tiveram dúvidas sobre a rota efectivamente seguida na
1ª. Viagem às Indias (Ásia), onde afirma que a partir da Ilha de Ferro (Canárias)
navegou sempre para Oeste até Guanahaní. Trata-se de uma efectiva impossibilidade.
Se o
tivesse feito, por exemplo, ser-lhe-ia impossível medir as distâncias percorridas, dado que
na altura não se conseguia fazê-lo com base na longitude.
Uma análise minuciosa do Diário de
Bordo, revela que o mesmo foi falsificado por três mãos diferentes, com
objectivos diferentes(28):
-Colombo alterou-o de modo a ocultar
que havia navegado numa zona que pertencia a Portugal, segundo o Tratado de
Alcaçovas-Toledo (1479/80), vigente em 1492; D João II, em Março de 1493,
chamou-lhe à atenção deste facto.
- Hernando Colon modificou o texto
para introduzir referências a Cataio (china), Cipango (Japão) e ao Grã Khan de
modo a enaltecer o seu pai.
- Alguém que procurou defender os
seus direitos, alterou aspectos comprometedores.
Por este facto, nada bate certo na
sua rota para as Antilhas: correntes, ventos, aves, destroços encontrados,
peixes, etc.
Muitos são os indícios que ao
contrário do que afirma, depois da Ilha do Ferro, não terá navegado directamente
para Oeste, mas se dirigiu na direcção do arquipélago de Cabo Verde, para
apanhar as correntes favoráveis e os alísios de NE, que especialmente nessa
época do ano sopram com suficiente força para o levarem até às Antilhas. Foi por
este motivo mudou as velas da caravela Niña de latina para redonda,
mandando fazer o mesmo à Pinta nas Canárias.
As aves que afirma
terem avistado (andorinhas do mar e rabo-de-palha), entre a Ilha de Ferro e as
Antilhas não se afastam mais de 25 léguas da terra.
Afim
de não o acusarem de estar a mentir, registou no seu Diário de Bordo que
quando saiu das Canárias, foi avisado que uma esquadra portuguesa composta por
3 navios o esperava sul da Ilha Gomera, tendo-se visto obrigado a rumar para
Oeste e Sudoeste, e só depois para Noroeste.
O cura de Los Palacios - Andres
Bernaldez - que, em 1496, hospedou Colombo na sua casa e com ele analisou as
viagens que entretanto este fizera, não se deixou enganar. Escreve que na
primeira viagem, Colombo foi a Cabo Verde, e partir deste arquipélago navegou
para Ocidente, tendo ao fim de 32 dias encontrado terra (35).
Na realidade, a partir das Canárias
rumou na direcção de Cabo Verde, tendo atingido esta latitude, deu uma volta a
Sul e rumou para Noroeste, indo parar às Bahamas, aproveitando as correntes e
os ventos já conhecidos dos pilotos portugueses. Esta rota, como vimos,
aparece já descrita num Roteiro português anterior a 1485.
Distâncias percorridas pela
"Santa Maria" (26)
Colombo partiu de La Gomera a 6 de
Setembro de 1492, numa viagem que calculara em 750 léguas. No dia 8 de Setembro,
encontrou bom vento do nordeste (o alíseo) e tomou a rota do Poente, conseguindo
andar nesse dia 9 léguas. Das Canárias às Bahamas percorreu 1.100 léguas,
ou seja, 6.660 km, em 34 dias, um valor muito alto, mesmo tendo em conta os
erros propositados de Colombo. Estes valores podem-se facilmente se explicados
se tivermos em conta que o mesmo rumado a sul em direcção a cabo Verde, e só
depois a Noroeste.
Dia |
Léguas |
Km |
Dia |
Léguas |
Km |
8 de Setembro |
9 |
54 |
26 |
31 |
186 |
9 |
49 |
294 |
27 |
24 |
144 |
10 |
60 |
360 |
28 |
14 |
84 |
11 |
40 |
240 |
29 |
24 |
144 |
12 |
33 |
198 |
30 |
14 |
84 |
13 |
33 |
198 |
1 Outubro |
25 |
150 |
14 |
20 |
120 |
2 |
39 |
234 |
15 |
30 |
180 |
3 |
47 |
282 |
16 |
39 |
234 |
4 |
63 |
378 |
17 |
50 |
300 |
5 |
57 |
342 |
18 |
55 |
330 |
6 |
40 |
240 |
19 |
25 |
150 |
7 |
28 |
168 |
20 |
8 |
48 |
8 |
12 |
72 |
21 |
13 |
78 |
9 |
31 |
186 |
22 |
30 |
180 |
10 |
29 |
354 |
23 |
22 |
132 |
11 |
50 |
300 |
24 |
15 |
90 |
Totais |
1.100 |
6.660 |
25 |
21 (26) |
126 |
Na segunda viagem, percorreu apenas cerca de 750
léguas, em 20 dias, a partir da Ilha do Ferro, seguindo também a rota do roteiro
português de anterior a 1485.
A
sua preocupação em esconder dos espanhóis esta rota, levou-o na 2ª. viagem a
impor algumas medidas de segurança. Os pilotos deviam apenas limitar-se a
seguir a sua nau, e só em caso de se perderem eram autorizados a consultar a
rota que constava num envelope fechado (13).
5.
A distância até à "India"
No dia 2 de Novembro de 1492,
calcula que desde que saiu da Ilha do Ferro (Canárias) até o Cataio (China),
percorrera 1.142 léguas. Uma distância que correspondia aos seus calculos
iniciais: 750 léguas até a Cipango (Japão) e depois cerca de 382 léguas até ao
continente asiático. Estamos perante mais uma mentira.
Colombo
anunciou que levara apenas 33 dias da
Europa à Ásia.
Trata-se de
uma distância demasiado curta, mesmo para um geógrafo pouco habilitado na época.
Uma
distância tão pequena pressuponha um globo terrestre minúsculo, o que
contradizia todas as evidências.
As explorações sistemáticas que os
portugueses faziam, desde o século XIV, das costas africanas, mostravam que as
dimensões deste continente eram muito maiores do que os geógrafos antigos pressuponham. Tal facto
implicava, só por si, ter que ampliar as dimensões da Terra (2). Colombo,
para convencer os reis espanhóis, fez justamente o contrário do que as
evidências mostravam.
6.
Latitude da "India".
No
seu Diário de Bordo, por duas vezes (30/10 e 2/11/1492) regista os cálculos
que efectuou sobre a latitude de Cuba. O valor que encontrou foram 42 graus
norte. O valor real é de 23º
08' N (Havana). O erro é enorme, incompreensível para qualquer navegador
experiente. Las Casas, chega mesmo a colocar a hipótese de se tratar de um
erro, mas confirma este era o valor registado pelo Almirante.
A
prova que estava a mentir aos reis espanhóis, dando-lhes uma falsa
localização das Indias, foi quando no regresso em vez de rumar para sul,
dirigiu-se ainda mais para norte.
7.
O que encontrou na "India"
Colombo não se furtou a descrever
inúmeras coisas que viu ou lhe foram contadas que existiam nas terras que
descobriu, que confirmavam tudo aquilo que os antigos diziam que existia na
India. O delírio foi total.
Para além de seres
fantásticos, como sereias, cinocéfalos, canibais, ilhas de amazonas, homens com
rabo, animais exóticos, descreve uma enorme variedade de produtos, tais como a
almástica (lentisco, almecegueira, aroeira), aloés, pimenta, ruibrabo ou a noz
moscada, tudo em grande abundância. Com pouco trabalho e em pouco tempo,
qualquer um poderia tornar-se rico (22).
- No
dia 4/11/1492, um português que ía a bordo da caravela de Martin Alonso de
Pinzón, depois de ter ido a terra viu indios com 2 grandes molhos de canela, e
trouxe alguns pedaços para bordo. Colombo, segundo Las Casas, não parece ter
concordado que fosse canela, tendo mostrado todavia aos indios canela e pimenta
que tinha abordo. Estes confirmaram a sua existência a sueste do local onde se
encontravam. Mostrou também ouro e pérolas e, uma vez mais, estes confirmaram
a sua existência, indicando inclusive o local onde as poderiam encontrar. O
objectivo era convencer os espanhóis que estavam na India, e conseguiram-no.
Contudo, aquilo que Colombo soube
que existia em grandíssima quantidade era ouro e pedras preciosas.
O ouro era tanto que em pouco tempo, os reis de Espanha se tornariam os mais
poderosos do mundo. Ele chegara muito perto das minas de ouro de Ofir,
celebradas pelo rei Salomão. Semelhante riqueza não podia deixar ninguém
indiferente.
-
No regresso da 1ª. Viagem, numa carta aos reis católicos, datada de 14 de
Março de 1493, afirmou que havia tomado na India uma grande cidade, com comércio
florescente e inúmeras actividades lucrativas, etc.
Para aguçar o apetite afirma que vinha do Cipango (Japão) e dos vastos
territórios dependentes do Gran Can, qe supostamente ainda dominaria o Cataio
(China).
O
próprio papa Alexandre VI cai no logro, e numa bula de 17 de Abril de 1493,
menciona "as pérolas preciosas, o ouro, a prata e as especiarias".
O
cenário que pintou convenceu os monarcas espanhóis e até o papa. O
logro foi perfeito.
Durante
a 1º. Viagem Colombo abandonou nas Antilhas 39 tripulantes, entre os quais se
contavam os espiões dos reis espanhóis. Livre destas testemunhas incómodas,
Colombo pode mentir à vontade sobre o que vira na "India".
8.
Enganava toda a tripulação, pilotos e capitães
Las
Casas na sua relação do Diário de Bordo de Colombo, assinala que a partir de
10/9/1492, constatou duas coisas:
-
Está permanentemente a mentir à tripulação sobre as distâncias percorridas.
O seu objectivo seria não desanimar a mesma, fazendo-a crer que haviam navegado
menos do que tinham feito.
-
Confundia deliberadamente os pilotos e os capitães de modo a que os mesmos não
soubessem onde estavam, nem mais tarde pudessem retornar às terras descobertas
(cf. Diário de Bordo, 19 de Fevereiro de 1493). A acusação é gravíssima e
não deixa margem para dúvidas sobre as suas intenções.
Ao
longo dos anos como um verdadeiro espião português, continuou a mentir aos
espanhóis.
9. Antecipação do Regresso
Colombo, no Diário de Bordo, a 19 de
Outubro de 1492, escreve que tencionava regressar por volta de Abril de 1493. A
razão é simples: Ele já sabia, por viagens anteriores ou informações
obteve em Portugal, que neste mês estariam passado a estação das tempestades no
Atlântico Norte.
A verdade é que no dia 8 de Janeiro
de 1493, contra tudo o que antes dissera anuncia que iriam regressar de imediato
para darem a noticia da descoberta. No dia 9 de Janeiro escreve que tinha
encontrado o que procurara. O que o fez mudar de planos?
O historiadores italianos afirmam
que ele tendo descoberto ouro em quantidade (?), nada mais lhe interessava nas
Indias, e por essa razão resolveu antecipar o regresso.
A razão era outra. No final de
Novembro de 1492 Martin Pinzon
separou de Colombo e andou a explorar sozinho, isto é, sem controlo, uma
das ilhas. O "Almirante do Mar Oceano" percebeu claramente que poderia ser
descoberto por Pinzon. Era óbvio que não estavam na Ásia, nem nos domínios do
Grande Khan. Tudo não passava de um logro. O risco era enorme
se continuassem a fazer novas explorações. Perante esta possibilidade de vir a
ser descoberto, resolve antecipar o regresso da expedição, aventurando-se no
Oceano Atlântico Norte numa altura do ano de tempestades.
10.
Percurso de regresso
No
regresso, em vez de se dirigir para Espanha veio para Portugal informar
D. João II da missão e combinar os passos seguintes. Durante 10 dias
permaneceu em Lisboa e só depois partiu para Cádiz (Espanha), mas teve tempo
para parar na cidade portuguesa de Faro (1 dia).
-
Colombo percebeu que mais tarde poderia ser acusado de traidor. Esta estadia em
Lisboa, onde chegou a 4 de Março, comprometia-o. Nesse sentido escreveu duas cartas aos
reis espanhóis, onde fazia crer que havia regressado pelas
Canárias (onde não fora), omitindo o rumo que tomara. As datas das cartas são
as seguintes:
-
A 1ª. está datada de 15 de
Fevereiro de 1493, constando na mesma que foi redigida numa caravela nas ilhas
Canárias.
-
A 2ª. tem uma data
posterior - 14 de
Março -, e afirma que estando nas ilhas Canárias, ocorreu uma tempestade que o
levou ao "porto maravilhoso" de Lisboa.
Nesta altura Colombo já havia saída da cidade (a 13 de Março).
Estas
cartas escondem a mentira que ele julgava poder veicular dado que pensava que a
outra caravela se havia perdido nos mar dos Açores.
10.1.
Chegada a Lisboa
Para
tornar mais convincente a tempestade do dia 4 de Março, afirma que nunca haviam
visto um inverno com tantas tormentas como aquele. Haviam barcos retidos à
quatro meses no porto, 25 naus da Flandres perderam-se devido às tempestades,
etc. Trata-se de uma enorme aldrabice, cujo único objectivo era do de
justificar a sua vinda directa dos Açores para Lisboa..
E
) Deslealdade
Colombo nunca confiou nos espanhóis. Quando descobriu a
"India" (1492), no regresso veio primeiro para Portugal e a partir de
Lisboa comunicou para toda a Europa a sua descoberta. A datação da carta começa
um com uma falsidade - "15 de Fevereiro", nas Canárias, quando na
realidade estava no mar dos Açores. A data que acaba por colocar é 4 de Março,
em Lisboa. Las Casas, escreveu que terá sido enviada de Lisboa, a 14 de Março
de Março, dando a entender que foi escrita depois da conversa de Colombo com D.
João II.
Fez questão de assinalar que se
tratava de uma expedição ao serviço dos reis de Espanha, de forma a
comprometê-los, e que a descoberta estava devidamente documentada, um aspecto em
que se mostrou exímio.
Como
se dirigia a um público ilustrado e não ignorantes em geografia, como os reis
espanhóis eram, afirmou que havia descoberto o caminho marítimo para as Indias
e não para a India.
Indicou
também a distância e a direcção fazendo desta forma um convite a outras potências europeias
para que disputassem a sua posse aos espanhóis, sendo a carta divulgada
rapidamente através da imprensa.
-
Só em 1493 foram publicadas 11 edições da carta que enviou para toda a
Europa, abrangendo a Espanha, Itália, França, Suíça e os Países
Baixos.
Os primeiros a saberem da sua "descoberta" ao serviço de
Espanha não foram os espanhóis, mas portugueses. A partir de Lisboa,
num golpe de génio, informou pessoas bem posicionadas na Europa e só em
último lugar os reis de Espanha.
Colombo
não apenas mentia aos espanhóis, mas também lhes escondia as terras que havia
descoberto. Em 1493 recusou-se a dar a posição exacta das Indias, numa altura
que este país negociava com Portugal o Tratado de Tordesilhas, deixando os
negociadores espanhóis nas mãos dos portugueses.
F
) Obrigou Outros a Mentir
Colombo
não apenas mentiu como exigiu que outros o fizessem. Durante
anos os espanhóis estiveram convencidos que Cuba fazia parte de um Continente.
Porquê ?
Na Segunda Viagem, sem
ter explorado completamente a Ilha de Cuba, a 12 de Junho de 1494, obrigou a
tripulação de três caravelas (Niña, San Juan e Cardera) a jurar por escrito que a mesma fazia parte da
Ásia.
As
penas eram cruéis para quem depois dissesse o contrário: "les puse pena
de dies mil maravedíes por cada vez que lo que dixere cada uno que después en
ningún tiempo el contrario dixese de lo que agora diría, e cortada la len gua;
e si fuere grumete o persona de tal suerte que le daría ciento açotes y le
cortaría la lengua."
Colombo não se limitou a ameaçar
todos aqueles que vo pudessem desmascarar, proibiu alguns do que o podiam fazer
de saírem da ilha La Hispaniola.
Um traidor italiano - Miguel de Cúneo, de
Saona -, afirma nas suas cartas que Colombo, em Fevereiro de 1495, não deixou regressar a
Espanha o "abad de Lucerna", porque o mesmo defendia que Cuba era uma
ilha e não parte do continente asiático (24).
G) Impede a Comunicação com os Nativos
Seguindo uma prática aprendida com
os portugueses, trouxe consigo na primeira viagem sete indios com o objectivo de
os usar depois como interpretes.
Na segunda viagem, Colombo levou
consigo o indio Diego, como interprete, para poder comunicar com os indios de
Cuba, mas procurou logo impedir que o mesmo falasse com os espanhóis de modo a
limitar-lhes o acesso à informação. O frade Bernardo Buil foi um dos que
se lamentou, e foi vítima, desta sua manobra (20). Acabou por regressar a
Espanha denunciando a forma como Colombo o impedira de fazer a evangelização dos
indios.
H
) Apostilhas, Memorial, Cartas
A
partida de Vasco da Gama para a verdadeira India, em 1497, deixa Colombo numa
situação numa dificil situação, pois a breve trecho acabaria por ser
desmascarado. Nesse sentido, como vimos, Alvaro de Bragança, negoceia o seu
Morgadio (1497). Paralelamente, começou a ser falsificar e a produzir documentos que
visavam mostrar que tinha agido de boa fé quando propôs aos reis
espanhóis atingir a India navegando para Ocidente..
1.
Apostilhas
Os
historiadores que têm estudado as célebres apostilhas (glosas) de Colombo,
descobriram três coisas inquestionáveis:
-
Pelo menos 4 pessoas terão escrito os comentários que lhe são
atribuídos (Colombo, Bartolomeu Colon, Hernando Colon e o Padre Gaspar
Gorrício). Bartolomeu terá escrito grande parte inclusive destes
comentários. Estamos perante uma obra de várias pessoas, embora seja
sistematicamente atribuída apenas a uma;
- Os comentários estão escritos num latim irrepreensível, revelando um
domínio muitíssimo superior ao que Colombo manifesta da língua espanhola,
onde introduzia frequentes palavras portuguesas. Face a este panorama,
alguns historiadores, afirmam que os comentários à margem dos livros foram
escritos e revistos por latinistas, e depois copiados por Colombo !
-
A (quase) totalidade dos seus comentários foram claramente ante-datados, isto é, foram
feitos depois de 1497, mas escritos de modo a passarem por ser anteriores a 1492.
As obras anotadas, como demonstrou Juan Gil, foram quase todas adquiridas
depois de 1497, numa altura que Colombo era acusado de ser uma fraude em
termos geográficos. Neste ano foi recebido em casa de Andrés Bernal, cura de
los Palacios, que lhe demonstrou em publico que ainda lhe faltavam mais de
1.200 léguas para atingir o Cataio, na China (22)ao contrário do que ele
supunha. Sem resposta,
desmascarado publicamente, Colombo tratou depois de munir-se de obras de autores
clássicos e da Igreja que pudessem tornar credíveis os seus delírios.
Não foi apenas o livro de Marco
Polo que foi anotado depois de 1493, foi também o de Plínio, Pio II e quase
todas as outras obras onde aparecem apostilhas marginais (23). Os textos
atribuídos a Colombo e ao seu irmão Bartolomeu Colón - diários de bordo,
apostilhas, cartas e outros documentos-, estavam em permanente retificação,
nunca eram dados por concluídos, de forma a ajustá-los aos interesses do
momento. As falsificações eram constantes.
1.1. Diários de Bordo
O Diário de Bordo da primeira
viagem que foi forçado a entregar aos reis católicos, não passava de um
simples resumo, que não permitia orientar nenhum navegador até às Indias.
Colombo, como se tudo isto não bastasse, tratou de o corrigir ao longo dos anos.
No princípio insere uma "cópia" de
uma suposta carta aos reis católicos, onde deliberadamente comete erros
grosseiros na cronologia três distintos acontecimentos, dando a entender
que tinham ocorrido todos no mês de janeiro de 1493: A rendição de Granada (2 de
Janeiro), as Capitulações de Santa Fé (17 de Abril) e a expulsão dos judeus
(31 de Março). Estes erros cronológicos, sem dúvida intencionais, continuam a
alimentar a imaginação de muitos historiadores (39).
Juan
Gil (7), analisando os comentários ao Livro de Marco Polo, obtido através
de um espião inglês (John Day), demonstrou que Colombo só o consultou
entre fins de 1497 e Agosto de 1498.
Esta leitura permitiu-lhe retocar
(emendar)
o seu Diário de Bordo da primeira viagem (1492-3), assim como aperfeiçoar
as suas mentiras sobre a India. O seu objectivo, nesta altura, foi dar
cobertura a tudo o que afirmara sobre a India apoiando-se em Marco Polo e em
escritores da antiguidade clássica. Alterou também, como vimos, a rota que
seguiu para as Antilhas.
O caso mais curioso de falsificação
de um "Diário de Bordo", é todavia, "Relación del tercer viaje"(1498-1500),
no qual Colombo faz gala em mostrar-se um grande humanista, revelando uma
profunda erudição.
Face à quantidade de autores citados, torna-se evidente que
não poderia ter levado a bordo um tão grande número de obras, nem sequer teria
tempo para as consultar. Tudo leva a crer que depois de 1504, tenha emendado e
acrescentado a relação da terceira viagem (25).
1.2.
Outras Falsificações
O
estudo das apostilhas, por Juan Gil (7) permitiu descobrir que as mesmas
foram usadas para Hernando Colon e o Padre Gorrício para mentirem
à Corte Espanhola.
O primeiro afirmou na sua biografia de Colombo, que o mesmo
iniciava sempre os seus escritos com : "Jesus Cum Maria Sit Nobis in
Via". Trata-se de uma completa falsidade. Apenas em 2 documentos oficiais e
em 2 apostilhas (Marco Polo e Plínio) isto acontece. Estes documentos foram
exibidos como prova num processo movido contra a Corte Espanhola, para
autenticar uma doação de Colombo ao seu filho.
Na intensa campanha que realiza para
justificar o logro a que conduzira dos espanhóis, apoia-se em pensadores da
própria Igreja. Facilmente se consta que muitas das suas citações são falsas: Santo Agostinho,
por exemplo, é citado como um milenarista, posição que o próprio bispo de Hipona
condenava.
2.
Memorial
O
conhecido Memorial de la Mejorada (Julho
de 1497), atribuído a Colombo, afirma que seguia um
plano de D. João II, mas infelizmente interrompido devido à morte do rei (1495). As suas palavras são mais do que nunca enigmáticas. Fica no ar
a ideia que o Tratado de Tordesilhas tinha uma agenda secreta, que deixara de
ser cumprida.
A
culpa do que estava a acontecer era do novo rei de Portugal, D Manuel I. Porquê
? Porque havia mandado navios para Ocidente, quer para as Indias espanholas,
quer para sul (Brasil, Duarte Pacheco Pereira ?), quer ainda para Oriente
contornando África (Vasco da Gama). Desta forma, Colombo atribui a outros a
razão do insucesso das Indias espanholas.
3.
As Cartas de Toscanelli
Hernando
Colón, no Cap. VIII, na biografia do seu pai, publica três cartas em latim de
Toscanelli, sendo que duas delas são dirigidas a Colombo, uma das quais
transcreve uma terceira carta, datada de 1474, dirigida a um cónego
de Lisboa. Nestas cartas, o cosmógrafo florentino, defende a ideia de que a
partir de Lisboa a India ficava a uma curta distância, bastava navegar para
Ocidente.
Historiadores
como Henry Vignaud, demonstraram que estamos perante mais uma fraude, feita
depois de 1497 para enganar os reis espanhóis, neste caso com a intervenção
de Bartolomeu Colon.
4.
Destruição de documentação ?
Como
é sabido, não existe um único documento original de Colombo anterior a 1498,
o que possuímos são apenas cópias do que supostamente
escreveu.
Os
falsários italianos terão destruído uma parte significativa, de forma a terem
maior liberdade para produzirem as cópias que bem entenderam. No entanto, não
é de excluir a hipótese da própria família de Colombo, terem participado
nesta destruição sistemática da documentação original, afim de mais facilmente
a puderem modificar.
I
) Delírios
O
objectivo da primeira viagem de Colombo, em 1492/93, era de chegar à
Ásia, à ilha de Cipango (Japão) e depois, no continente asiático encontrar-se com o Gran Can, o imperador de
Cataio/Catai/Catay/Cathay (norte da China), e entregando-lhe uma carta dos Reis de Espanha, Fernando e Isabel.
Esta carta diplomática deveria dar inicio as relações comerciais entre a Espanha e o Imperador
dos mongóis.
Colombo
tinha como principal fonte de informação ( e inspiração) para a Ásia, os
mapas de Ptolomeu, Toscanelli (14) e o livro de Marco Polo
que, entre 1271 e 1295, andou pela Ásia (16). É provável que tenha consultado
estas obras em Portugal.
Em
Portugal, como já dissemos, existiam não apenas os mapas Ptolomeu e de
Toscanelli, mas também o livro de Marco Polo desde o inicio do século XV. Colombo só adquiriu esta obra em fins
de 1497, tendo-lhe então servido para corrigir e modificar descrições
anteriores, nomeadamente as que constam no Diário de Bordo da 1ª. Viagem
1492-1493 (13).
Mapa
de Toscanelli, 1474 (reconstrução de Hapgood)
As
descrições que fez da Ásia, sobretudo durante a sua primeira viagem (1492/1493),
estão conformes às informações recolhidas no livro de Marco Polo e no mapa
de Toscanelli.
De
acordo com Marco Polo e Toscanelli, depois de sair da Ilha de Gomeira (Gomera),
iria encontrar uma grande ilha - Cipango / Cipangu (Japão) - que ficava à
frente do continente asiático.
No
dia 27/10/1492, chegou a Cuba, e ficou na dúvida se estaria na China (Cathay)
ou no Japão (Cipango), inclinou-se para a ideia que já estaria na
China. A 29/10 partiu na direcção da sua maior cidade - Quinsay (Hangchow,norte
da China) . Fez então cálculos e descobriu que estava a 42º. a norte do
Equador, um monstruoso erro. Las Casas tem dificuldade em aceitar este valor,
como verdadeiro.
Diario
de Bordo, 30/10/1492: "... el rey de aquella tierra tenía guerra con el Gran
Can, a cual ellos llamaban Cami, y a sua tierra o ciudad, Faba y otros muchos
nombres."
Enviou
então uma embaixada à procura do Gran Can, constituída por Luís de Torres, Rodrigo de
Jerez e dois indios como guias. Eram munidos de uma carta em latim dos reis de
Espanha dirigida ao rei dos reis da Ásia. O único resultado desta embaixada
foi a descoberta ocasional do tabaco...
Diário
de Bordo, 1/11/1492: afirma que está junto ao continente asiático
"perante Zaiton e Quinsay, a mais ou menos cem léguas de distância de uma
e outra". A verdade é que Colombo, neste momento, em vez de seguir na
direcção destas cidades, resolve afastar-se delas, seguindo para sul...
A
China, segundo o relato de Marco Polo, vivia dominada dominada pelo Gran Can (Grande Khan), cujos soldados, entre outras
particularidades eram comedores de pessoas (canibais). Colombo,
à semelhança de Marco Polo, também ele acaba por afirmar que no império
do Gran Can, existiam canibais e outros seres fantásticos, como homens com um só olho,
com cabeça de cão (Diário de Bordo,
26/11/1492), sem cabelo e até um reino de amazonas, etc. Afirmações baseadas
em relatos dos próprios indios.
Na
continuação da viagem pela "Ásia", chega a 5/12/1492, a Hispaniola (actual Haiti/Rep.Dominicana),
habitada pelos indios Taínos (Arawacos). A 23/12, foi-lhe dito que a ilha se
chamava "Cibao", ao que Colombo terá deduzido que se trava de Cipango.
Estava finalmente no Japão ! (15)
Foi
portanto no Japão (Cipango) que mandou erguer o primeiro forte da
"Ásia", o Forte de "La Natividad" (actual cidade de Cap
Haitien ).
O
problema é que Colombo nunca viu nada semelhante às cidades, portos, palácios
e pessoas que Marco Polo havia descrito. Nesse sentido, para não ser acusado de aldrabão, afirma
que não percebia nada do que os
indios lhe diziam... (17)
Na
segunda viagem
(1493-1496) só poderia
ser de confirmação das descobertas asiáticas anteriores.
Neste sentido, identifica Cuba
como parte do continente asiático, obrigando os tripulantes das três caravelas,
a jurarem por escrito que era verdade. Afirma que descobriu a província de
Mangi (China), que estava muito próxima de "Áurea Quersoneso"
(península de Malaca).
Diz inclusive que poderia dar a
volta ao mundo, vindo para a Europa pelo Oriente, mas confessa que não tem
mantimentos suficientes para realizar esta atravessia: "yo provara de volver a
España por Oriente, biniendo a Gangas (a India do Ganges), dende, y al Signo
Árabico (golfo Pérsico), y después por Etiopía".
A Jamaica é identificada como
o bíblico reino de Sabá da Arábia. Foi deste reino, como esclarece o
aldrabão Miguel de Cuneo, que saíram os três Reis Magos que vieram adorar
"Cristo" na Nazaré...
A Hispaniola (Haiti) é, por
sua vez, identificada como a mítica região de Ofir, onde se situavam as minas
de Salomão.
Estamos perante um verdadeiro
delírio, que será ultrapassado, como veremos, na terceira viagem.
Depois de tantas fantásticas
descobertas, fica profundamente doente entre 26 de Setembro de 1494 e Março de
1495, devido ao facto de não dormir durante muitos dias.
Na
terceira viagem (1498-1500), quando começa a ser acusado de estar a enganar os
espanhóis, retoma coerentemente um discurso delirante. Desta vez para além
de Marco Polo, toma a própria Biblia como fonte de inspiração.
Um ano depois Vasco da Gama ter partido para a India, descobre o "Paraíso Terreal" na
embocadura do Rio Orenoco. Em apoio deste completo delírio, cita Pedro Alliaco, Santo
Ambrósio, Santo Isidoro e até Estrabão (cfr. Relação da 3ª. Viagem, 1498).
Apresenta também uma nova
configuração para a Terra, que imagina como uma pera (Tierra Pezonoidal,
em castelhano). Trata-se, como veremos, mais uma artimanha para enganar os reis
espanhóis.
Os seus discursos vão-se tornado cada vez mais místicos, descrevendo povos e
cidades fantásticas que se encontravam na Ásia, mas que ele nunca vira.
Se
os discursos revelam um sonhador, a sua prática mostra-se um torcionário
para os espanhóis, matando-os sem piedade e procurando impedi-los de se fixarem
nas Indias (Ásia).
Significado da "Tierra Pezonoidal"
A Terceira Viagem de Colombo
(1498-1500), tinha como objectivo chegar à India para onde partira Vasco da
Gama, acabando por ir parar a uma região que denominou "Retrete" (pia, cloaca),
sem encontrar sinais dos portugueses. É neste sentido faz uma surpreendente
"descoberta": - a terra, na zona do Equador, tem a forma de uma pera ou do seio de uma
mulher, a "Tierra
Pezonoidal"... (30)
A elevação começava a verificar-se a
partir das 100 milhas dos Açores, atingindo a "pêra" o seu ponto mais alto sobre
a linha do Equador, onde situava o "paraíso terreal", a "arvore da
vida" e o lago onde nasciam os quatro grandes rios do oriente, o Ganges da India,
o Tigre e o Eufrates da Arménia e o Nilo da Etiópia.
Colombo, com esta imaginosa
teoria sobre a forma da terra, consegue explicar, entre outras coisas, porque naquela região existiam ilhas com
rios como o Orinoco, um dos rios do Paraíso...
A explicação para ter concebido esta delirante
teoria era afinal algo muito simples: - Tratava-se de explicar a razão porque não conseguira encontrar os portugueses
na India. Segundo ele, não os encontrou porque passou
grande parte do tempo da viagem a contornar esta saliência, e não tendo
barcos em condições teve que desistir e dirigir-se para
La Hispaniola.
Para contentar os espanhóis, acabou
por revelar que havia descoberto uma região rica em pérolas. |
Na
Quarta Viagem (1502 -1504)
Colombo propõem-se dar uma uma volta ao mundo, contornando a enorme saliência terrestre, e encontrar-se
finalmente com os portugueses na India.
Uma vez que pretendia regressar pelo
Cabo da Boa Esperança, percorrendo vastas zonas ocupadas por muçulmanos pede
dois ou três interpretes de árabe, sendo-lhe concedidos dois (carta real de
26/2/1502)(38). Pretendia também encontrar-se com o Gran Khan .
Parece incrível como é que os
espanhóis continuavam a cair nas mentiras de Colombo, depois de dez anos a
andarem pelas Caraíbas, tendo inclusive interpretes que já sabiam a língua
dos seus nativos. O facto é tanto mais absurdo, quanto os Portugueses nesta
altura já tinham trazido para a Europa uma vasta informação sobre a Ásia e os
seus povos.
Colombo continua a recusar que tenha
encontrado um outro continente, afirmando sem equívocos que as Indias (Caraíbas)
faziam parte da Ásia.
Uma vez nas Indias (Ásia), e não
tendo encontrado os portugueses que supostamente por lá andavam, Colombo recorre mais uma
vez à sua fértil imaginação para enganar os espanhóis.
Na actual Costa Rica
afirma que encontrou nativos que lhe garantiram que a nove jornadas por terra,
se achava a célebre província de Çiguare, e atingiria facilmente o Rio Ganges,
na India, o qual estava a apenas a dez jornadas a pé...
A conclusão era simples de tirar: - Se não fossem os contratempos da
viagem, a má qualidade dos navios, os rebeldes espanhóis a bordo, e a sua
própria saúde, poderia ter ido ao encontro dos portugueses na India !
Afirma que havia encontrado em
Verágua grandes quantidades de ouro, mas só ele sabia como se podia chegar a
esse região, e para que não restassem dúvidas mandou recolher todos os mapas que
os pilotos e marinheiros possuíam ... Mais
M
) Duas Concepções da Terra
As
sistemáticas mentiras de Colombo aos espanhóis conduziu-os a uma concepção
retrógrada do globo terrestre, que se prolongou entre espanhóis e italianos
até as anos 30 do século XVI.
Hernando Colón participa activamente nesta
farsa, defendendo uma concepção do mundo que negava que o carácter
continental da América. Mais
O resultado desta acção foi o
desnorte completo dos geógrafos espanhóis, como o aragonês Guillermo Coma
que coloca La Hispaniola (Santo Domingo), na Arábia (21). Outro dos que andava
desnorteado era o geografo catalão Jaime Ferrer de Blanes que afirmava
que Colombo já havia atingido a India superior, pouco lhe faltando para chegar
ao golfo arábico...
Em Espanha, mas também em Itália, os
cosmógrafos e cartógrafos influenciados por Colombo, identificavam
o continente americano, como parte do continente asiático. O mapa de
Bartolomeu Colón (1507), contra todas as evidências, continuou a considerar
a América como parte da Ásia. Hernando Colon também nunca admitiu
outra hipótese.
A cosmografia espanhola ao longo de
todo o século XVI continuou a basear-se na Geografia de Claudio Ptolomeu
(c.90-c.165), nomeadamente para defenderem contra os portugueses, o seus
direitos sobre a India.
As Antilhas
continuaram vistos como a região leste do Cipangu (China). Quando pretendiam
afirmar que a América do Sul era Terra Firme, os cartógrafos espanhóis
separavam-na da América do Norte (9). Andavam baralhados.
O
conhecido mapa-mundo de Juan de la
Cosa, antigo piloto de Colombo, é bem ilustrativo da concepção retrógada
espanhola: o mundo continua a ter apenas três continentes - Europa, Africa e
Ásia (1508). As terras descobertas por Colombo faziam parte deste último
continente.
Americo
Vespúcio, por exemplo, estava convencido que o "Novo Mundo" (América
do Sul) fazia parte da Ásia, não constituindo portanto nenhum continente.
Esta
concepção foi também difundida pela maioria dos italianos do tempo: O
Mapa-mundo de Francesco Roselli, em 1508, liga a Terra Nova e as Antilhas à
Ásia, o oceano Atlântico banha as costas da Ásia. O Brasil é representado
como uma Ilha. Giovanni da Empoli, em 1514, continuava a afirmar que as Antilhas
do rei de Castela e a Terra de Côrte Real estão unidas a Malaca (11).
Dez anos
depois, nas sua conhecidas cartas, Martir de Anghiera, ainda não tem uma posição definida se a
América é ou não um novo continente. A confusão era total entre
espanhóis e italianos.
Os representantes espanhóis na Junta de Badajoz
e Elvas
(1524), continuaram a basear-se em Ptolomeu, Marco Polo ou Juan de Mandevilla
para defenderem a localização o Maluco (27). Hernando Colon, Fray Tomas Durán,
Sebastián Caboto e Juan Vespuche revelaram, nestas reuniões, uma completa
ignorância da nova cartografia do mundo. Em 1566 foi de novo a Ptolomeu que recorreram os cosmógrafos espanhóis
para sustentarem que o Maluco, como as Filipinas, pertenciam a Filipe II. Ainda
em 1611, Arias de Loyola, defendia que o Maluco pertencia a Espanha
baseado em Ptolomeu...
Portugal
Em
Portugal, desde o último quartel do século XV que prevalece a concepção da
continentalidade das terras desde a Terra dos Bacalhaus (Canadá)
ao Brasil incluído (19). A América era, para os portugueses, um continente separado da Ásia.
Uma concepção que está
bem presente no Mapa dito de Cantino (1502).
Numa carta do embaixador de Veneza
em Lisboa - Pietro Pasqualigo -, datada de Lisboa a 18 de Outubro de 1501 e
recebida em Veneza a 28 e Dezembro de 1501, este é muito claro sobre a concepção
continental que os portugueses possuíam da América.
Ao referir-se à Terra Nova que os
portugueses andavam a explorar escreve : " Também acreditam estar ligada com as
Antilhas, que foram descobertas pelos reis de Espanha, e com a terra dos
papagaios, novamente encontrada pelos navios deste rei (de Portugal) que
foram a Calecut (armada de Pedro Alvares Cabral)." (18)
Carlos
V, imperador alemão, quando pretendeu acabar com esta confusão em que os
espanhóis andavam mergulhados no século XVI, contratou
cosmógrafos e cartógrafos portugueses.
Colombo e Duarte
Pacheco Pereira
A
concepção retrograda do mundo de Colombo tem algumas semelhanças com a
concepção de Duarte Pacheco Pereira.
Ambos
influenciados por Ptolomeu acreditam que a água ocupava apenas a sétima
parte da Terra. O oceano era lago interior.
Ambos
nunca falam que as terras que exploraram no outro lado do Oceano
Atlântico constituíssem um novo continente(29).
A partir
daqui as diferenças são muitas:
-
Colombo até morrer, em 1506, afirma que as terras que encontrou
faziam parte da Ásia. Diz ter atingido o Japão (Cipango) e a China (Cataio)
e de haver navegado pelos mares da arábia. A distância da Europa ao
Japão era de apenas 750 léguas. O planisfério de Juan de La Cosa
(1500-1508) plasma esta concepção do mundo.
-
Duarte Pacheco Pereira, em 1506, afirma que existiam três
continentes (Europa, África e Ásia), mas também que os portugueses (e
ele próprio) haviam explorado uma vasta e continua massa de terra ao
longo de 98º e 30` (70º para Norte e os restantes para sul). Estava de
Portugal à
distância de 36º, ou seja, 648 léguas (a 18 léguas por grau). O Brasil
não é uma ilha, mas faz parte desta enorme massa de terra. Não se tratava da Ásia,
muito menos era uma parte da mesma, era sim um território distinto dos
continentes conhecidos.
Não se
aventura, todavia, a dizer que estamos perante um novo continente.
Afirma apenas que esta enorme extensão de terra faz a ligação entre o
polo Ártico e o polo Antártico (regiões geladas), criando deste
modo a Ocidente da Europa, uma barreira entre o Atlântico e o Índico, e
consequentemente os mares da China e do Japão.
Nesta
concepção da Terra, o Oceano aparece como um grande lago interior.
O grande
problema que se coloca para a navegação, nesta concepção da Terra, é o de descobrir
um estreito
que permitisse chegar à India navegando para Ocidente.
A ideia não era
nova, várias expedições portuguesas foram enviadas para o actual Canadá
e o sul do continente americano à procura de um estreito para o Oriente.
Colombo, baseado em informações portuguesas tentará encontrá-lo
na região do Panamá, em 1498, mas rapidamente desistiu de o achar.
Fernão de Magalhães teve a glória de o encontrar e explorar, no
extremo sul da América.
Mais
A concepção do mundo de Duarte Pacheco Pereira aparece plasmada no
planisfério de Lopo Homem (1519).
Planisfério de Lopo Homem (1519)
|
L ). Confissão do Logro
No
final da vida Colombo era um homem desacreditado, apenas podia confiar num circulo
muito restrito de pessoas em Portugal e em Espanha. A sua sobrevivência e da
sua família passava pela continuidade da mentira.
Em
1505 regressou a Espanha vindo de Lisboa, um dos maiores aldrabões da História
- Américo Vespucio. Estivera, segundo o próprio 5 anos em Portugal ao serviço
dos reis de Portugal, era portanto alguém que Colombo podia confiar.
Não tardou em combinar com o mesmo uma nova mentira ou a continuidade da mesma.
Ele devia convencer a Corte Espanhola que as Indias descobertas por Colombo
eram maiores e mais ricas do que as verdadeiras Indias a que Vasco da Gama havia
chegado (1498).
Numa
carta escrita para o seu filho Diego Colón, datada de 5 de Fvereiro de 1505, a
escreve:
"Querido
filho (...) falei com Amerigo Vespucci, portador desta (carta), que vai aí (à
Corte) chamado sobre assuntos de navegação. Ele sempre teve desejo de me
agradar (...) vai com um dos meus e com grande desejo de fazer algo que me
beneficie, se estiver ao seu alcance (...) vai
determinado a fazer por mim tudo o que lhe for possivel (...) tudo
fará e falará e porá em
prática e seja tudo feito secretamente, para que não suspeitem dele.
Eu, tudo o que se podia dizer-lhe sobre isto, disse-lhe e informei-o do
pagamento que me foi feito e que ainda se faz. Esta carta será também para o
Senhor Tenente (Bartolomeu Colon), para que veja como ele (Amerigo Vespucci)
pode ser benéfico e o avise disso. Sua
Alteza deve acreditar que os seus navios foram para a melhor e mais rica das
Indias. E se resta algo mais a saber sobre o dito, eu satisfazê-lo-ei lá
verbalmente, porque é impossivel dizê-lo por escrito"
( 1 ).
Colombo
não podia ser mais claro ao confirmar que a história da India foi a forma de conduzir
os reis de Espanha a um logro, no qual participava toda a sua família e amigos.
Vespúcio só começa a participar neste logro após ter estado cerca de cinco
anos em Lisboa.
As
mentiras irão continuar ao longo de todo o século XVI, envolvendo os seus
filho Diego Colón e Hernando Colón, mas também Las Casas.
Carlos
Fontes
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