Descoberta
da Austrália pelos Portugueses
Os
portugueses foram os primeiros europeus a chegar à Austrália. A afirmação
é cada vez mais consensual. Os argumentos avançados são os
seguintes:
Na
primeira metade do século XVI os navegadores portugueses percorriam não
apenas os mares da Austrália, mas estavam firmemente estabelecidos na
região, em ilhas como Timor, Solor, etc. Vários achados arqueológicos e
tradições orais aborigenes locais apontam para a sua presença ao longo
de todo o século XVI. Por último, observando os mapas portugueses do século
XVI, aparecem terras com uma configuração semelhante à actual Austrália.
A razão porque aí não se
terão fixado é simples. A Austrália era demasiado longe de Portugal
(mais de um ano de viagem marítima), não tinha população com quem se
pudesse fazer comércio ou utilizar como mão-de-obra, mas sobretudo de
acordo com o Tratado de Tordesilhas (1494) era um território que seria da
Espanha e não de Portugal.
O assunto continua
apaixonar muitos investigadores desta antiga colónia penal inglesa. O nome de Austrália,
como é sabido, foi-lhe dado pelo célebre navegador português Pedro Fernandes
Queirós, em 1606, quando andava ao serviço da Espanha Atribuiu às
Novas Hebridas que descobriu, o nome de "Austrália do Espírito Santo",
nome que acabou por abranger a Austrália propriamente dita.
Malaca
Afonso de Albuquerque, em
1511, conquista Malaca (Malásia), transformando esta cidade-fortaleza num
entreposto comercial. mas também numa base para a exploração da Ásia.
Todos os anos saíam de Malaca uma ou mais expedições oficiais.
Paralelamente, como escreveu Luis Filipe Tomaz, muitas outras expedições
eram realizadas por iniciativa de mercadores e aventureiros portugueses.
Malaca é pois uma referência fundamental para entender as primeiras
expedições portuguesas à Austrália.
Timor
Em 1513 os mercadores já
estavam instalados em Timor, que dista da Austrália 334 milhas em linha
recta, ou seja, 2 dias de viagem com vento de feição (5).
Nova Guiné
Os portugueses chegaram à
Nova Guiné, por volta de 1525, ficando mais uma vez muito perto da
Austrália. Gomes Sequeira e Diogo Rocha foram para lá
enviados por Jorge de Meneses, governador de Ternate (Molucas),
tendo atingido as ilhas Carolinas a nordeste da Nova Guiné. No ano
seguinte, foi a vez de Jorge de Meneses explorar região, aportando na
ilha de Weige, na papua ocidental da Nova Guiné. Em 1538, temos
conhecimento que João Fogaça chegou a Papua Nova Guiné, enviado
por António Galvão.
O estreito que a separa a papua-Nova Guiné da Australia foi,
como veremos, descoberto em 1606 por um português - Luiz Vaz de Torres -
ao serviço de Espanha.
Questão das
Molucas
Entre 1519 e
1529 ocorreu um longa disputa entre Portugal e a Espanha sobre a posse das Ilhas
Molucas (1519-1529), com base nos limites
fixados no Tratado de Tordesilhas (1494).
É neste
período que ocorrem uma série de expedições de Portugal para avaliarem
a riqueza das terras ainda não exploradas, como a Austrália. A cidade de
Malaca é a base a partir da qual as mesma são lançadas.
A
disputa só foi resolvida, apenas em 22 de Abril de 1529, com a celebração do Tratado de
Saragoça. Portugal
mostrou-se então disposto a pagar uma fabulosa soma pela posse das ilhas Molucas, mas em
troca obteve como compensação o avanço da linha de marcação de
domínios portugueses - 14º. para Oeste - de modo a ficar com a parte
Oeste
da Austrália partir do cabo York, mas também com a China e o Japão. A nova linha de demarcação dos
domínios na Ásia passou a ficar a 17º. leste das Molucas, o que
corresponde nos nossos dias a 142º E de Greenwich. Uma decisão política que só agora foi possível encontrar a
verdadeira explicação.
Descobridores
oficiais
Quatro navegadores portugueses disputam esta descoberta:
a) Diogo
Pacheco. Comandou
duas expedições à Austrália, então designada por "ilha do Ouro". A
primeira inconclusiva ocorreu em 1518 e a segunda no ano seguinte. Na
última ,segundo as "Décadas da Ásia" de João de Barros, acabou num
naufrágio e na sua morte às mãos dos locais (10). A notícia da sua morte
foi transmitida pelos sobreviventes desta expedição. Terá morrido em Kimberley, onde foram encontrados
canhões do século XVI portugueses
(1).
b) Cristovão de Mendonça.
Este capitão, dado
por vários historiadores como o descobridor da Austrália, comandou uma
expedição, em 1521,
composta por três naus, tendo como objectivo a Ilha do Ouro.
Terá passado pelo estreito de Torres (Luiz Vaz de Torres,
outro português ao serviço
de Espanha), virou a sul para o cabo York, tendo percorrido a costa
oriental da Austrália. No ponto onde
virou para regressar a Malaca, acabou por deixar um importante vestígio, o
célebre "Mahogany Ship (nau de mogno ou de madeira de caju). A
exploração da Ilha do Ouro (Austrália) terminou
em 1524.
c)
Diogo Rocha e Gomes
Sequeira. Diogo
Rocha, almoxarife do forte de Ternate (Molucas), embarcado numa fusta
cujo piloto era Gomes Sequeira, poderá ter atingido, em 1525, o cabo
iorque, de fronte da Nova Guiné. Não faltam testemunhos, como os de João
de Barros, assim como registos cartográficos (5). Gomes de Sequeira, fez
uma segunda viagem entre 1527-28, em que terá atingido a Nova Zelandia.
d) João
Afonso. Conhecido
em França como Jean Alphonce de Saintonges, por se ter casado e radicado
na região de Saintes (13). Viajou e terá cartografado
as costas da Austrália (12), tal como constam nos mapas de Dieppe (5). D. João
III procurou por todos os meios evitar a sua fuga para o estrangeiro. Em
1541 o rei Francisco I concedeu-lhe a nacionalidade francesa.
Outros
descobridores portugueses
Não faltaram, como escreve Luiz
Filipe Tomaz (5), mercadores e aventureiros portugueses que a partir da ilha de Timor tenham
abordado a Austrália. Os vestígios arqueológicos apontam claramente
para esta probabilidade.
Terão os
portugueses informado os ingleses da existência da Austrália no século
XVIII ? Recorde-se que a Inglaterra era aliada de Portugal, tendo desde
o século XVII lhes sido dadas várias possessões ultramarinas portuguesas
como a cidade de Bombaim na India.
Mapas
e Crónicas
A
análise de vários mapas da primeira metade do século XVI, deixam poucas
dúvidas de que os descobridores da Austrália tenham sido os
portugueses.
O mapa
português da Austrália, conhecido por "Terra de
Java"pertencente à Biblioteca de Huntington, San Marino,
Califórnia, EUA. Representa com precisão e com nomes portugueses vários locais ao
longo da costa este australiana. A disposição exacta do mapa só
recentemente foi descoberta por Peter Trickett.
Os chamados mapas da "Escola de Dieppe" (França) baseados na
cartografia portuguesa, tem sido desde o século XVIII um verdadeiro
manancial de informações para resolver a questão de quem descobriu a
Austrália, Tasmania, Nova Zelândia e outras ilhas da Oceania. Chegaram até nós de 1535 a 1587 um
total de 7 atlas e 12 planisférios, ao todo são 280 cartas.
Estes mapas representam a
sul de Java as costas de um grande continente (Austrália). A toponímica
é de origem inequivocamente portuguesa. O continente está deslocado 16º.
para Ocidente, de modo a integrar-se o mais possivel nos limites
portugueses definidos no Tratado de Tordesilhas.
Os cartógrafos franceses não
tendo informações directas da Oceania, trocaram a posição dos mapas que
receberam de Portugal, provocando uma verdadeira confusão, por exemplo,
na representação da Austrália.
Entre
os cartógrafos portugueses que estiveram na origem da cartografia de Dieppe e que andaram em
explorações nos mares da Austrália, destaca-se, como já referimos,
João
Afonso, conhecido
em França como Jean Alphonce de Saintonges. Deve-se
seguramente ao mesmo os
primeiros mapas da Austrália.
Entre este
vasto conjunto mapas destacam-se o Atlas de Nicolas Vallard (1447) e o Mapa do Delfim
(1541).
- Atlas de
Vallard (2).Uma colecção de 15 mapas roubados em
Portugal, no século XVI.
Peter Trickett
descobriu, em
2007, que um deles representava a costa este da Austrália. Os
ladrões (franceses) desconhecendo a configuração precisa da Austrália
trocaram a posição dos vários mapas lançando desta forma a confusão nos
historiadores.
Este mapa
contém 120 nomes portugueses para características geográficas.
- Mapa do Delfim
(9). Elaborado entre 1536-1538, a Austrália aparece representada, sob a designação de Java Grande (Java la
Grande). Os topónimos são quase todos portugueses ou num português
afrancesados. Não restam dúvidas que se trata de uma cópia de um mapa
português.
O
primeiro a estudá-lo em profundidade foi Collingridge
que, no final do
século XIX, não teve dúvidas em afirmar a prioridade dos portugueses na
descoberta (3). McIntryre
mais recentemente, encontrou neste mapa a prova decisiva da descoberta da
Austrália pelos portugueses (7).
Após o grande
período das explorações oficiais portuguesas (1519-1529), escrevia em
1531, o italiano Oronzio Fineo (1494
-1555) - "Uma terra austral recentemente achada, mas ainda não
plenamente conhecida" (8). Desconhece-se quem lhe passou a
informação.
A Terra
Austral, no Globo de Mercator (1541), tem uma curiosa legenda: "Região
dos papagaios, assim chamada pelos portugueses por causa da incrível
grandeza das aves". Trata-se de pinguins, que apontam para o facto
das navegações portuguesas andaram não apenas pelas Austrália, mas muito
a sul da mesma.
- O
Planisfério de Guilhaume Brouscon (Dieppe,1543). Aparentemente o
cartógrafo revela uma inexplicável
incompetência ao cartografa, em 1543, a América do Sul.
Na realidade
Brouscon, que apenas conhecia os mapas portugueses sobre terras que
desconhecia, resolveu encaixar um desses mapas na
costa oeste da América do Sul (5). Desta forma temos um pedaço da
Austrália na América do Sul. As bandeiras portuguesas mostram que o
cartógrafo pretendeu assinalar a quem as mesmas pertenciam.
O mapa que
representa as regiões australianas que faziam a ligação à Papua -Nova
Guiné, por serem mais fáceis de localizar, foram mantidas na sua posição
original.
O resultado
final é monstruoso, mas revelador do modo como os cartógrafos de Dieppe
se serviam dos mapas portugueses da Austrália: não sabiam a sua posição
e zona onde os haviam de colocar nos planisférios.
Mapa de Nicolas de Desliens,
1566 (em posição invertida). As bandeiras das cinco quinas de Portugal
abrangem os cinco continentes, com destaque para a região do mundo onde
se situa a Austrália.
O mapa de
Nicolas de Desliens (Dieppe, 1566), seguindo o modelo da
escola de Dieppe coloca em evidência o domínio dos mares pelos
portugueses espalhando as suas bandeiras pelos cinco continentes.
O mapa de
Giacomo Gastaldi (Veneza, 1561),numa massa continental à longitude
do cabo da Boa Esperança, tem a legenda: "Terra de vista: fu discoperta
questa terra da Portoghesi per fortuna...". O que segundo Luis Filipe de
Matos, parece indicar o avistamento da Antártida ou das suas
ilhas mais próximas. (A
Summa de Geografía de Martín Fernández de Enciso, em 1519, já apontava navegações
nessa direcção). O mapa mundo de Cornelis de Jode (Antuérpia,
1593) confirma estas expedições escrevendo: "Portugueses, ao percorrerem o
promontório do cabo da Boa Esperança viram em direcção a sul existir
esta terra, mas ainda não a demandaram".
Testemunhos e Cartas de Manuel Godinho de Erédia ou Herédia
Herédia
(1563-1623), no final do século XVI, vivia entusiasmado com a ideia
de o autorizarem a fazer uma expedição à Australia. Recolheu um
importante conjunto de informações sobre este continente, nomeadamente
dos que o visitaram. Refere, por exemplo, que Francisco de Resende de
Malaca, num barco de junco foi à Austrália a partir de Timor. Outras
descrições revelam um impressionante conhecimento dos seus povos.
Uma
polémica legenda num mapa abrangendo parte da Austrália, refere que Herédia foi o
seu descobridor, em 1601, para logo a seguir mencionar a presença dos
holandeses na região (1606). Mais
Os seus
mapas têm sido analisados por geografos australianos, revelando uma
coincidência prefeita com as várias ilhas. O que mostra que não são
fruto da sua imaginação.
Portugueses
e aborigenes
Os
portugueses chegaram à Austrália na primeira metade do século XVI,
tendo estabelecido relações com os aborígenes. Estes terão igualmente
estabelecido relações com possessões portuguesas da região.
Carl
Von Brandenstein, afirma portugueses terão naufragado na austrália
ocidental. perto da ilha de Depuch, entre 1511 e 1520. Encontrou na lingua
dos nativos um número surpreendente palavras "portuguesas". As
investigações entre 1967-1989, revelaram que algumas tribos aborigenes
tinham antepassados portugueses e de escravos trazidos por estes de
África, nos Montes de Kimberley.
Achados
Arqueológicos:
Os
achados arqueológicos até agora descobertos na Austrália e na Nova
Zelândia confirmam aquilo que os mapas já apontavam, para a inequívoca
presença de portugueses no século XVI nestes países.
Fortificação.
-
Em 1967 foi redescoberto por
Kenneth McIntyre,
uma primitiva fortificação (? ), em
Bittaganbee Bay, perto de Eden, na costa sul de Nova Gales do Sul, um
pouco ao norte do cabo Howe, que teria
sido feita no século XVI, pelos portugueses.
-
Perto de Bittaganbee
Bay, foi igualmente descoberta cerâmica
datável do século XVI.
O jovem australiano com o
canhão português que encontrou na areia da praia, em Janeiro de 2010.
Canhões
-
Em 1916 foram descobertos dois canhões, numa pequena ilha situada no
interior da baia de Napier Broome, no extremo norte de Kimberley.
Os canhões ostentam as armas de Portugal, anteriores a D. Sebastião.
-
Em 1884, numa ilha um pouco a oeste da anterior, um pescador de
pérolas, encontrou um canhão de bronze, com cerca de 1 metro, tendo
dentro uma bala. Estava decorado um brasão descrito como coroa,
tipicamente portuguesa.
-
Em Janeiro de 2010, uma rapaz descobriu numa praia (Dundde beach),
perto de Darwin, um canhão em bronze português, datado de fins do
século XV ou princípios do século XVI. O achado só foi tornado
público em Janeiro de 2012.
Cerâmica
-
Em 1963 foi descoberto um pote de barro, em Olaf Mannes, por um pescador
comercial australiano, na costa do mar da Tasmânia. Uma análise mostrou
que se tratava de um jarro de vinho, que o cientista David Prince calcula
de 1500, com uma margem de erro de 20 anos.
-
Nos últimos anos foi descoberto um pote semelhante, ao largo de Gabo
Island, que ainda se encontra em estudo.
Navios.
-
Em 1836 foram descobertos destroços de navio, a célebre "Mahogany Ship (nau de mogno ou de madeira de caju),
encalhado nas dunas de arreia perto de Warrnambool, no estado de Vitória,
a oeste de Melbourne, por dois caçadores de focas. Existem 27 relatos diferentes entre 1836 e
1880 deste navio. Trata-se provavelmente do brigantim de Mendonça.
-
Em Abril de 2004 foi descoberto um navio português, afundado em 1817
(15),
ao largo da da costa norte da Austrália Ocidental. Este navio assegurava
a ligação entre Lisboa e Macau, demonstrando aquilo que já se sabia: as
costas da austrália eram habitualmente percorridas por navios portugueses.
Pesos
de Chumbo
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Um peso em chumbo para redes de pesca, datável de 1410 a 1630, foi
descoberto em Fraser Island, costa oriental da Austrália.
Chaves
-Em
1847 foi encontrado um molho de chaves antigas numa praia em Geelong,
perto de Merbourne, pelo superintendente do distrito de Port Philip,
Charles Joseph de la Trobe.
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