As Provas do Colombo Português
34. Impacto da Viagem de
Vasco da Gama
Pouco depois da assinatura do
Tratado de Tordesilhas (Junho de 1494), D. João II, envia para a India uma
esquadra que termina tragicamente, em Setembro de 1495, ao largo de Sofala (14)
. Os espanhóis passam a andar inquietos.
A
partida de Vasco da Gama para India, em Junho de 1497, provocou em Espanha uma verdadeiro
sobressalto. Na concepção dos reis espanhóis, D. Manuel I, pretendia
apossar-se dos seus domínios na Ásia. Nesse sentido, exigem que Colombo prepare um
documento para o contestarem.
A
situação é agora de enorme tensão entre os dois reinos ibéricos. A guerra
está de novo no horizonte. D.Manuel I, toma a dianteira e casa-se com a filha
dos reis espanhóis, pouco depois a 29/4/1498 é jurado, em Toledo, herdeiro do trono de
Castela e Leão, oferecendo como
compensação a ambicionada "Terra Firme" .
O
regresso de Vasco da Gama, a 10/7/1499, como era de esperar, provoca um enorme
impacto em toda a Europa. Veneza sente-se ameaçada. A França afirma-se
excluída da partilha do mundo. A Inglaterra, aliada de Portugal, tinha que ser
contentada. Os espanhóis estão incrédulos com tudo o que estava a acontecer,
e acabam por prender Colombo (1500).
A expansão e descobertas dos
portugueses pela Ásia é deveras surpreendente, gerando um crescente interesse
por parte de todas as potências europeias (7).
a)
As Alianças de Portugal
O
recurso de Colombo a um banco de genovês
, em 1501, surge numa altura que também Portugal
procurava internacionalmente estabelecer ou reforçar alianças para proteger os
seus interesses ultramarinos. O problema é similar, embora em escalas muito
diversas.
A
descoberta do caminho marítimo para a India (1499), e depois a comunicação oficial
da descoberta do Brasil (1501), provoca não apenas a ira dos espanhóis, mas
também a cobiça internacional.
Assiste-se
então ao crescimento exponencial da pirataria em toda o atlântico, pondo em
risco as rotas de navegação.
Alguns
países, como a França, começaram também a ameaçar as terras descobertas
pelos portugueses, disputando a sua posse.
Á
semelhança de Colombo, Portugal vê-se obrigado a negociar novas alianças
internacionais, de modo a manter a posse dos seus territórios num ambiente de
enorme concorrência internacional.
1.
Santa Sé (Vaticano)
A
Santa Sé desempenhou até ao século XVI, um papel central nos reinos
católicos, como era o caso de Portugal. O problema é que a Igreja Católica
não era neutral, estava frequentemente refém dos interesses de alguns estados
italianos, como veio a estar do estado espanhol. Para Portugal, em todo o caso era fundamental garantir o seu apoio
para prosseguir nas suas acções internacionais.
Neste sentido, os reis portugueses
faziam questão de que o papado confirmasse através de documentos os seus
direitos e a legitimidade das suas acções externas. A
expansão marítima enquadrava-se neste domínio.
-
O papa Nicolau V, pela Breve Apostólica - Dom Diversus (12/6/1452), concede ao
rei de Portugal o direito de conquistar, atacar e subjugar todos os territórios
em poder dos muçulmanos, pagãos e outros inimigos de Cristo, bem como a
possibilidade de reduzir à escravatura os habitantes desses reinos.
-
A bula - Romanus Pontifex (18/1/1455)-, reconhece a Portugal o direito
exclusivo de explorar e comerciar na costa ocidental africana para além do
cabo Não e Bojador. O papa incentiva os portugueses a chegarem à India, onde
se pensava que existiam cristãos.
-
O papa Callisto III com a bula - Inter Coetera (1456) - concede à Ordem de
Cristo o padroado de todas as terras adquiridas e que se viessem a adquirir
desde o cabo do Bojador e Não, por toda a Guiné e para além da costa
meridional até à India.
-
A intervenção fraudulenta do papa durante as negociações entre Portugal e a
Espanha do Tratado de Tordesilhas (1493-1494), levaram ao seu afastamento por exigência de Portugal.
Em
1499 D. Manuel I, logo após a chegada de Vasco da Gama informa a Santa Sé e o influente cardeal D. Jorge da Costa.
Ao
papa mostra as novas possibilidades abertas para a expansão do Cristianismo,
mente sobre a existência de cristão na India, e pede-lhe em troca a
legitimação dos direitos sobre esta parte do mundo. Ao longo do século XVI
através de sumptuosas embaixadas procura vai assegurar a confirmação dos seus
direitos internacionais sobre os territórios descobertos ou conquistados.
Ao
seu representantes na Santa Sé, o rei mostra-se muito prudente. Dá conta do
enorme poder que os muçulmanos e tinham no Oriente, assim como a existência de
reinos poderosos, o que tornaria impossível a sua
conquista. Pede então ao cardeal português que procure que o papa se congratule com o feito dos portugueses e
ratifique o Tratado de Tordesilhas. Um objectivo que Portugal só irá
concretizar em 1506, no ano da morte de Colombo (2 ).
2.
Espanha
A
notícia da chegada à India tem um enorme impacto em Espanha. Os reis
espanhóis têm a clara percepção do logro em que haviam caído.
Os grandes de Espanha, como os Duques de Medina
Sidónia sempre se sentiram prejudicados com os sucessivos acordos alcançados com
Portugal. Até 1455 reivindicaram não apenas as Canárias, mas
também o acesso à Costa da Guiné, o que Portugal sempre o negou.
Henrique
IV de Castela deixou de reivindicar este acesso, a troco do apoio de D. Afonso V
à sua luta contra os nobres castelhanos. O papa, neste ano, acabou por
consagrou este domínio de Portugal. Isabel de Castela quando toma o poder em 1474, coloca
tudo em causa e volta a reclamar de novo o acesso à Guiné. Portugal reagiu de
forma enérgica e entra em guerra contra Castela, a qual só terminou em 1479.
A
Corte portuguesa, para conter os castelhanos jogo num estratégia de Tratados de
partilha no mundo e de matrimónios.
-
O
Tratado Alcaçovas de paz (1479) estabelece a primeira partilha
do mundo entre portugueses e castelhanos. Portugal renunciou às Canárias em
troca vê reconhecido o exclusivo do comércio e exploração das costas
africanas até à India.
Para
assegurar o compromisso entre as duas coroas, neste Tratado, fica estabelecido
que o principe português - D. Afonso -, se casaria com a filha mais velha de
Isabel de Castela e Fernando de Aragão, o que veio a acontecer em 1490.
Durante
este longo período, não houve guerras nem disputas significativas no mar. O
próprio projecto de Colombo é suspenso. Dias depois do falecimento do principe,
em Julho de 1491, Colombo é autorizado a realizar a sua 1ª. Viagem. As
disputas o mar voltam a ocorrer.
-
O Tratado de Tordesilhas, em 1494, foi uma peça
habilidosamente colocada neste panorama, ao dividir o próprio mundo. Os reis
espanhóis impediram a sua ractificação pelo papa, de forma a diminuírem o seu
alcance.
D.Manuel
I, volta a amarrar os espanhóis aos seus compromissos através de novos
casamentos: A 30 de Novembro e 1496, é estabelecido em Burgos um contrato de
casamento entre D.Manuel I e a Infanta castelhana D. Isabel. Seguro deste novo
compromisso, manda avançar com o projecto da India. Três meses depois de
Vasco da Gama ter partido, recebe em Portugal a sua esposa espanhola (Outubro de
1497). A saberem da notícia desta expedição, os espanhóis tentam reagir, mas
os compromissos assumidos impõem-lhes alguma moderação.
A
29/4/1498 é jurado, em Toledo, herdeiro do trono de Castela e Leão, oferecendo como
compensação a Espanha a ambicionada "Terra Firme", numa nova
viagem de Colombo, realizada provavelmente com Duarte Pacheco Pereira. A esposa
de D.Manuel I, acaba por falecer, mas deixa um filho - D. Miguel Principe da paz
-, herdeiro do trono de Espanha.
A
tensão entre os dois explode a, 10 de Julho de 1499, quando chega a
Lisboa o primeiro navio da expedição de Vasco da Gama. Os espanhóis percebem
claramente que foram enganados pelos portugueses e Colombo era um mentiroso.
Mandam investigar nas Indias as suas actividades, preparando-se para o
incriminar. A 20 de Julho de 1500, morre o Principe D.Miguel da Paz. Colombo e
os seus irmãos são presos e enviados para Espanha.
D.
Manuel I, em 1500, percebe a frágil situação em que se encontra. Em Outubro,
casa-se com a infanta mais nova dos reis de Espanha, do qual nascerá o futuro
rei de Portugal (D. João III).
Enquanto estes acontecimentos ocorrem vertiginosamente, insiste para os reis espanhóis para que cumpram o
Tratado de Tordesilhas, trabalha para que o mesmo seja ratificado pelo papa, o que veio a
conseguir em 1506, justamente no ano em que Colombo morreu.
D.
Manuel I afim de assegurar a paz com a Espanha, e continuar a subtil traição
nos mares e nos novos domínios, continua a política de casamentos entre
membros das duas cortes, o que a longo trouxe funestas consequências para
Independência de Portugal.
Apesar
da partilha formal do mundo ter sido acordada, em 1494, os portugueses
continuaram a explorar os domínios espanhóis no continente americano. A partir
de 1500 de forma sistemática vão alargando os limites da costa do Brasil desde o
Rio Amazonas até ao rio da Prata, e mais tarde foram penetrando pelo interior
até ao Peru, ultrapassando em muito o meridiano acordado no Tratado.
Esta
expansão terrestre foi acompanha desde
1492 pela fixação de milhares de portugueses nas Indias espanholas,
contrariando todas as proibições legais e perseguições que lhes moviam.
D.
Manuel I afim
de controlar o descontentamento dos grandes de
Espanha intervém nos seus conflitos internos como mediador, mas também
financia algumas casas de nobres. Através de uma arriscada política de casamentos,
procura controlar algumas delas. O
Duque de Bragança - D.Jaime - é obrigado a casar-se com a irmã do Duque de Medina Sidónia. Ele
próprio casa com duas filhas e uma neta de Isabel e Fernando de Espanha.
Propõe
igualmente à corte
espanhola a hipótese de investir nos negócios das especiarias orientais sob
controlo de Portugal.
Sempre
que a Espanha se mostra mais agressiva, Portugal apoia discretamente incursões
bélicas dos franceses e ingleses contra os seus domínio ou até contra o seu
próprio território.
Em
todo o caso, o número de portugueses que se colocam ao serviço de Espanha
nunca parou de aumentar. A sua experiência planetária, tornava-os
particularmente valiosos. Mais
2.1. Espionagem
Se Portugal tinha uma importante
rede de espiões em Espanha, o contrário é também verdade. Muitos portugueses que
estavam exilados em Espanha, prestavam serviços de informações sobre as
descobertas e política de expansão portuguesa. O Memorial Português de
1494 é disso um bom exemplo. Mais
As bibliotecas e arquivos espanhóis
possuem uma enorme quantidade de mapas e documentos sobre as expedições
portuguesas, que foram simplesmente roubados.
3.
França
A França até cerca de 1534 , não
revelou grande interesse nas descobertas marítimas. A sua preocupação no mar
estava centr, da no corso e na pirataria. É neste contexto que, em
1460, o infante D. Fernando aponta claramente que a França poderia tornar-se num temível
concorrente de Portugal.
3.1.
Espanha, o inimigo comum
Embora
os ataques de corsários e piratas franceses nunca tenha terminado, a partir de
1466 ocorreu uma mudança nas relações entre Portugal e a França:
Depois do afastamento de D. Pedro de Coimbra do trono da Catalunha e Valência
(1466),Portugal passou a apoiar as pretensões de Renato de Anjou ao trono da
Aragão.
A
união entre Castela e Aragão (1474), forçou Portugal e a França a
entenderem-se. D. Afonso V passou a apoiar as incursões dos franceses em
Itália, contra os espanhóis. Em 1476-77, deslocou-se mesmo à França,
para negociar uma aliança militar e uma partilha de áreas de influência A
França viu nesta aliança uma forma de afastar Portugal da
Inglaterra.
Os
corsários portugueses, como vimos, andam com franceses a atacarem navios
castelhanos e a saquearem aragoneses, e a devastaram as costas da
Catalunha e Andaluzia, como foi o caso documentado de Colombo (Outono de
1472 e 1473).
D.
João II, a 7/1/1485, prosseguiu a política do seu pai e acabou por estabelecer um Tratado de Amizade com Carlos
VIII, rei da França.
O surgimento da Espanha (1492) foi visto como uma
ameaça para ambos os países. A França intensificou as suas intervenções em
Itália. Portugal, manifestou-se ao lado da França. Neste ano, D João II,
enviou Pedro da Silva a Roma, por ocasião da morte do Inocêncio VII para
apresentar cumprimentos a Alexandre VI. Ao saber que Carlos VIII marchava sobre
Itália, mandou que o seu embaixador fosse visitar o rei francês. Não se ficou
por aqui, mandou armar uma
esquadra, sob o comando do Almirante Alvaro da Cunha, fazendo crer que iria
apoiar a França contra a Espanha, na disputa da Italia (1).
Recorde-se
que nesta altura, Bartolomeu Colon, desloca-se da Inglaterra para
França, onde é recebido e apoiado pela corte.
Os
corsários portugueses e franceses andam juntos no saque dos espanhóis e
italianos. Lisboa,
torna-se numa base de apoio dos corsários franceses que aqui vêm vender o
produto do seu saque.
A
situação altera-se depois do Tratado de Tordesilhas (1494), quando portugueses
e espanhóis, após dividirem o mundo ente si, começam a defender-se mutuamente
dos corsários franceses, ingleses, etc.
3.2.
Brasil
A
rivalidade entre Portugal e a França só se começou a colocar
verdadeiramente depois da descoberta do Brasil (1500). Assistiu-se então a um aumento
brutal dos corsários franceses, que passaram a atacar de forma sistemática os
navios portugueses, sem que tenha havido uma
declaração formal de guerra.
Ao
longo de século XVI a França disputou a Portugal o controlo da costa sul e
norte do continente americano.
A
primeira expedição dos franceses ao
Brasil, foi chefiada por Binot Paulmier de Gonneville, em 1503, sendo
conduzidos por dois pilotos portugueses - Sebastião de Moura e Diogo
Coutinho.
No
ano seguinte, travaram-se os primeiros combates na Bacia de Guanabara.
A Coroa portuguesa que havia instalado pequenas
colónias desde o Amazonas até S. Vicente, com a ajuda dos indios locais,
conseguiu facilmente derrotá-los.
No
Canadá, outra zona de conflito, os franceses foram mais felizes, sobretudo
depois da perda da independência de Portugal (1580-1640). Aqui conseguiram
instalar uma colónia. A questão era mais simples do que no Brasil, porque o objectivo dos portugueses
na
região não era a ocupação territorial, mas sim a pesca do
bacalhau.
Os
franceses atacaram ainda os portugueses nas costas de África, Madeira e
Açores. Estes ataques eram realizados por piratas, os quais foram
particularmente devastadores na primeira metade do século XVI.
Apesar
destas disputas os dois países colaboravam entre si, nomeadamente contra a
ameaça que potencialmente representava a Espanha.
3.3. Espiões e Divulgadores
As bibliotecas e arquivos franceses
possuem inúmeros documentos sobre a expansão marítima dos portugueses, como
crónicas, mapas e roteiros, quase todos roubados em Portugal.
Mais
Para além deste saque, muito
característico da atuação da França no continente Europeu, a verdade é que desde
o século XV, vários franceses procuraram também divulgar informações sobre a
expansão marítima portuguesa:
- Eustache de la Fosse
3.4.
Portugueses ao Serviço da França
Não
é pois de estranhar que importantes navegadores, pilotos, cosmógrafos e
cartógrafos portugueses tenham servido a França neste projecto expansionista.
Cartógrafos.
Pelo menos, cerca de 20 notáveis cartógrafos portugueses trabalharam em França
durante o século XVI.
A
colecção dos chamados mapas da "escola de Dieppe" (1536-1566)
, a maioria dos quais estão hoje no British Museum foram desenhados com base em cartas portuguesas. O que é facilmente provado não apenas
pelos topónimos nelas indicadas serem portugueses, mas também pelo facto dos
franceses não terem ainda nesta altura feito expedições marítimas às
regiões cartografadas. Algumas destas cartas mostram claramente que os
portugueses já haviam descoberto a Austrália na primeira metade do século XVI.
Entre estes cartógrafos destacam-se:
Bartolomeu
Velho cartografou para a França a América do Sul e o Canadá (c.1550);
João
Afonso, conhecido em França por Juan Alphonso Saintongeais ou Jean
Fonteneau (1484-1544), publica a sua monumental obra - Cosmographie (c.1543);
André Homem (10).
Exilou-se em França (1559), onde se tornou cartógrafo
e cosmógrafo de Carlos IX . Foi o autor de Universa ac Navigabilis Terrarum Orbis Descriptio.
Trabalharam também como cartógrafos, em França, os seus António e Tomé Homem.
João Pacheco,
cartógrafo em Dieppe.
João Lagarto, piloto (e
possivelmente cartógrafo), "ofereceu" ao monarca francês dois mapas e um
astrolábio.
A toponímia de origem portuguesa
está presente na cartografia francesa, como na holandesa e Inglesa até ao século
XVIII, quando por razões políticas começa a ser abandonada.
Pilotos.
A partir de 1524, quando
a França se começa a envolver nas explorações maritimos, Portugal levava mais de
um século de intensa actividade neste domínio. Entre os muitos pilotos
portugueses que andaram ao serviço de França, destacam-se:
Sebastião Moura e Diogo Couto
(16), João Alvarez Fagundes, João Afonso "Francês" (18) , Pedro
Serpa (20); Pêro Fernandes
(17), Pero Anes,
João Pacheco, "Rosado" (19), etc.
Foram
os pilotos portugueses que conduziram as expedições francesas à América do
Norte, ao Brasil e à India (5). As conhecidas expedições de
Giovanni da Verrazano ou da
Jacques Cartier contaram com pilotos portugueses.
O Canadá,
Portugal, Jacques Cartier... e a França.
Datam de 1452, as
primeiras expedições portugueses à
região do actual Canada. No princípio do século XVI, todos os
mapas que registam domino português da região: "Terra Nova", "Terra do
Labrador", "Terra de Corte Real", etc..., assinalando este facto com a
bandeira das quinas. Os inúmeros topónimos não deixam dúvidas desta
presença e conhecimento português.
Em 1534, Francisco
I, encarrega Jacques Cartier (1491-1557) de uma expedição aos domínios
de Portugal na América do Norte, onde fundou a primeira colónia
francesa neste continente. A escolha deste navegador não podia ser a
mais indicada. A sua formação marítima foi feita, desde os 17 anos, num
navio cujo comandante era português. Com portugueses foi ao Brasil e
andou pela Terra Nova. Durante anos foi interprete de português...
Está inclusive associado
à célebre história do casamento de Caramuru (Diogo Alvares Correia) com
Paraguaçu, a filha do chefe indio Tupinambá de Itaparica, que se
baptizou em Saint Malo, tendo como madrinha a esposa de Jacques Cartier
(21)
A tradicional visão
nacionalista francesa tem procurado de forma sistemática ocultar esta
longa presença história de Portugal nas costas do Canadá e dos EUA,
muito anterior à expedição de 1534. |
Nesta
época foram para França inúmeros Diários de Bordo e mapas portugueses,
instrumentos preciosos que permitiram aos pilotos, piratas e corsários franceses
navegarem pelo mundo. A França a partir do século XVI passou a estar
interessada em obter o máximo de informação possível sobre rotas e mapas
portugueses, tendo para isso vários espiões em Lisboa. Uma situação que durou
vários séculos (9).
Mais
Corsários.
Desde o século XV que se
registam piratas e corsários portugueses em navios franceses. O seu número
aumentou de forma exponencial no século XVI. Estêvão Dias
(capitão e piloto, conhecido por "Brigas", em 1526 partiu de Honfleur,
na Normandia, tentando atingir as Molucas pelo Estreito de Magalhães, só o
conseguiu fazer pelo Cabo da Boa Esperança); Antão Luis,
Gaspar Caldeira (6), Contreiras, Fernão de Oliveira foram alguns dos inúmeros portugueses
que andaram em navios de piratas e corsários franceses.
Muitos
destes corsários portugueses não hesitam em atacar terras de Portugal.
Participam, por exemplo, no célebre ataque, em 1566, do corsário francês
Bertrand de Montluc que atinge o porto do Funchal com uma armada 11 galeões e
1300 homens, no qual foram mortos mais de 300 madeirenses.
4.
Inglaterra
Os portugueses no século XV levaram
os ingleses a interessarem-se pela exploração da América do Norte, e sem grande
êxito por África. À semelhança dos franceses a sua preocupação era com o corso e
a pirataria, um negócio mais rentável no imediato.
A
Inglaterra era desde os século XIV um tradicional aliado de Portugal. Era de
vital importância assegurar que nesta costa do atlântico terem um aliado para
os seus navios pudessem acederem livremente ao mediterrâneo. Uma ideia também
partilhada pela França.
Os
ingleses no século XV manifestaram algum interesse
pela explorações marítimas. Bristol foi o centro que revelou maior interesse
nesta fase. Mercadores deste porto, em Novembro de 1480 foram expulsos da Galiza
quando andavam a arranjar pilotos para os levarem à Guiné, devido à acção
de D. João II.
Com Henrique VII (r.
1485-1509), a situação parece ter mudado. Em 1488 um português - Lopo de
Albuquerque tentou sem êxito organizar uma viagem inglesa á Guiné, mas acabou
preso.
Bartolomeu Colon, na mesma altura também não consegue convencer os ingleses a
navegarem para a India, seguindo o projecto do seu irmão.
A
situação mudou um pouco na sequência da chegada de Colombo às Indias (1493), decidindo este rei avançar um
projecto de exploração do atlântico norte, contando com a colaboração de portugueses
e italianos. Os resultados foram contudo modestos.
O
veneziano Giovanni Caboto (John Cabot), em 1490, chega a Valência (Espanha), onde
apresenta um ambicioso projecto de construção de um porto, que acaba por ser
abandonado. Muda-se então para Sevilha (1493/ princípios de 1494), onde se propõe
construir uma ponte de barcas, que nunca realizará (13).
Veio então para
Lisboa (1494-1496), onde obtém a informação que João Fernandes, o
Lavrador e Pêro
de Barcelos, entre 1491 e 1494 exploraram a costa leste do Canadá, uma
região que ficou conhecida por "Terra de Lavrador". Colombo no Diário de Bordo,
a 7/10/1492, assinala que marinheiros dos Açores viram a Ocidente ilhas de
grandes dimensões. Um facto confirmado por Alonso de Santa Maria, companheiro de
Sebastián de Cabot entre 1526-1530. Em Lisboa John Caboto concebe a ideia de chegar à India navegando
para Ocidente, à semelhança de Colombo.
Não tendo arranjado financiamento
em Lisboa, nem interesse no projecto por
parte dos reis (D. João II e D. Manuel I), mudou-se para Bristol (Inglaterra),
onde existia desde o século XIII uma importante comunidade de marinheiros
portugueses.
No seguinte seguinte (1497), guiado
por um grupo de portugueses terá atingido pela
primeira e única vez o
continente americano (Canadá) (20/5/1497-6/8/1497). Munido de uma carta patente, a 3/2/1498,
depois de ter vindo a Lisboa (Março de 1498) recrutar mais marinheiros e pilotos, fez-se de novo ao mar
para atingir as Indias (América), tendo morrido nesta expedição. Mais
4.1.
John Day
Entre Dezembro de 1497 e
Janeiro de 1498, um misterioso
mercador inglês, com negócios em Portugal (Lisboa e Madeira) e na
Andaluzia, entra em contacto com Colombo ("Grande Senhor
Almirante"). Comunica-lhe que lhe envia o Livro de Marco Polo,
e dá-lhe conhecimento de uma nova expedição a um continente ou ilhas a
Ocidente. Lamenta-se de não ter um mapa para lhe fornecer (4) .
Os detalhes da terra
encontrada, assim como da sua localização são muito vagos. Percebe-se
que fica a Ocidente de Portugal e dos Açores (Ilha das Setes Cidades).
A expedição partiu da Inglaterra e Maio e levou 35 dias, apanhando
vento leste-nordeste. A terra que encontraram era habitada, e na sua
costa encontraram bacalhau. As referências a Portugal e aos Açores,
levam-nos a concluir que John Day estava a usar dados de anteriores
expedições portuguesas para encorajar ou apoiar a 3ª. Viagem de
Colombo junto da Corte Espanhola, na qual, como se sabe, atingiu pela
primeira vez o continente americano seguindo a rota que D. João II lhe
havia indicado. Mais
|
O
fracasso de Caboto não desanimou Henrique VII. Em 1501, concede uma carta de doação a três mercadores
de Bristol e três portugueses, oriundos dos Açores para descobrirem terras a
Ocidente. As terras que encontraram eram há muito conhecidas dos portugueses,
onde iam pescar bacalhau e não ofereciam condições para a fixação de
populações, nem sequer para o comércio. Em 1506 os ingleses fundam uma
companhia para explorar a Terra Nova, numa altura que os portugueses já faziam
viagens regulares para estes territórios (Canadá).
Não
parece existir qualquer conflito de interesses entre portugueses e ingleses em
relação à costa norte da América, pois para os primeiros o que estava em
causa era apenas o acesso aos bancos de bacalhau. Uma pescaria que tinham
acordos históricos com os ingleses desde há vários séculos.
Em
1508, o filho de Caboto tenta uma nova expedição para encontrar uma passagem
para a Ásia, mas a viagem foi infrutífera, pois nem sequer os ingleses a
registam, apenas os italianos afirmam que o mesmo a terá
feito...
a
Henrique VIII (r.1509-1547) não manifestou
grande interesse pelas explorações marítimas, centrando-se a sua acção na Europa
continental.
4.2.
Portugueses ao Serviço da Inglaterra
Referências
mundiais. Os
portugueses desempenharam um papel muito activo na arrancada inglesa
para as explorações marítimas. No
século XVI um grande número deles aparecem já como piratas ou corsários em navios ingleses, ou ao
serviço da marinha inglesa. O seu prestígio é enorme, como se constata na
obra de Thomas Moro, A Utopia, cuja personagem principal é um navegador
português.
Cartógrafos.
Entre os muitos cartógrafos
portugueses que trabalharam em Inglaterra, destaca-se Diogo Homem (1547),
membro de uma das mais importantes famílias de cartógrafos de Portugal.
Pilotos e Explorados.
Desde fins do século XV, como vimos, foragidos, pilotos e exploradores
portugueses apoiam a
expansão marítima da Inglaterra. Assim continua a ser durante séculos. O piloto Simão Fernandes,
por exemplo, em 1576 era o piloto-mor e mestre do galeão da Coroa inglesa
Tiger. Em 1580 fez
uma viagem de reconhecimento à Nova Inglaterra na América do Norte, enviado
pelo navegador Sir Humphrey Gilbert. Cinco anos depois, encontrava-se a navegar
nas Caraíbas, mestre a bordo do Lion, navio-almirante da expedição de
Grenville à efémera colónia inglesa na costa norte-americana (ilha de Roanoke,
na actual Carolina do Norte).
Piratas e Corsários.
Foram mesmo decisivos na condução
dos piratas e corsários ingleses ao coração das possessões espanholas.
Um
dos casos mais célebres, mas não único, foi o do piloto Nuno
da Silva,
capturado em Cabo Verde por Francis Drake. Foi um dos dois pilotos
portugueses que o conduziu na travessia do Estreito de Magalhães e depois às
costas do Perú para saquear os espanhóis, permitindo-lhe depois circundar o
mundo (1578). No regresso terá parado em Lisboa, onde aliás voltaria
anos depois ao serviço do Prior do Crato. O embaixador espanhol em Londres
escreveu a Filipe II: "el Draques afirma que si no fuera por dos
pilotos portugueses que tomó en un navío que robó y hechó a fondo en la
costa del Brasil a la yda no pudiera haver echo el viage. Ha dado a la Reyna un
diario de todo lo que le ha sucedido en los tres años y una gran carta" (Carta
de Bernardino de Mendoza a Filipe II, 16/10/1580).
Depois
de 1580, muitos destes piratas juntam-se aos piratas ingleses, franceses e
holandeses, num ataque comum contra os espanhóis. Uma combinação que se
revelou mortífera para o Império Espanhol.
Em 1591 um piloto português
integrava uma pequena frota de corsários ingleses nas Caraíbas, tendo
procurado depois iludir uma galé espanhola ao largo de Cuba sobre a a
nacionalidade do navio em que seguia. No final do ano, outro piloto português
embarcado no porto de Santos conduziu a expedição de Thomas Cavendish, na
tentativa de atravessar o Estreito de Magalhães.
Em 1593, os espanhóis
afirmam que um portugues serviu de guia ao corsário John Burgh nas Caraíbas
que terminou no saque da ilha Margarita. Neste ano, o piloto português Diogo
Peres conduz o James Langton em mais um saque aos espanhóis nas Caraíbas.
No ano anterior deu falsas informações ao Governador espanhol de Santo Domingo
sobre as movimentações de Francis Drake e do conde de Cumberland de modo a
facilitar-lhes a pilhagem.
No século XVII, pelo apoio
militar que os ingleses prestavam a Portugal na guerra contra Espanha receberam
em troca possessões portuguesas em África e na India, para além de informações
essenciais para a sua expansão no mundo.
5.
Alemanha
A
Alemanha, como a Inglaterra e a França tinha um evidente interesse na posição
de Portugal como um reino independente, porque dessa maneira lhe garantia o
acesso marítimo pelo Atlântico ao mediterrâneo. As
explorações marítimas trouxeram um novo elemento de interesse: as mercadorias
vindas de África, Indias espanholas e Oriente.
No
século XV as relações entre Portugal e a Alemanha foram reforçadas
através de casamentos reais. Dona Leonor, filha do rei D. Duarte, casou-se, em
1451, com imperador Frederico III. Desde casamento nasceram 5
filhos, que vieram a formar toda a linhagem da Casa d`Austria.
O Imperador Maximiliano I,
filho de D. Leonor de Portugal, que recebeu uma formação portuguesa, estava
intimamente ligado à estratégia de expansão marítima de Portugal.
Mais
D. João II, como
vimos, procurou entre 1490 e 1493 envolver
os grandes banqueiros e mercadores da Alemanha na organização de expedições
marítimas para ocidente, mas sem grande êxito.
Em troca destes apoios, os mercadores alemães eram favorecidos em Lisboa, e a
importante Feitoria
de Bruges acabou por ser deslocada para Antuérpia (1499), uma região era fiel
ao
imperador alemão. Em 1511 os portugueses passam a ter privilégios especiais
também nesta cidade.
O "impressor" alemão - Valentim
Fernandes - escudeiro da rainha Dona Leonor e notário de D. Manuel I,
desempenhou um importante papel como interprete entre a corte portuguesa e os
mercadores alemães de Augsburgo e Nuremberga, junto dos quais ajudou a divulgar
as grandes descobertas de Portugal.
D.
Manuel I foi dos que primeiros monarcas europeus que informou da chegada de Vasco da Gama à India,
foi o seu primo Maximiliano I.
Não
é de estranhar que os banqueiros alemães que financiavam Maximiliano I fossem dos que mais proveito tirassem
desta rota com o oriente. Em 1503 estabelecem-se em Lisboa, as principais casas
de banqueiros e marcadores da Alemanha: Welser, Fugger e Hoschstetter de
Augsburgo e os Imhof e Hirschvogel de Nuremberga.
Entre os representantes portugueses
destas casas alemãs, destaca-se Fernão de Noronha.
Em 1503, D.Manuel I, concedeu
privilégios especiais aos mercadores alemães podendo comerciar "directamente
para a india em navios próprios" , sob a protecção da frota portuguesa.
Em 1505, na frota do vice-rei
da India - D. Francisco de Almeida -, seguiam três navios fretados por alemães.
A bordo estavam, entre outros, Ulrich Imhoff, Balthasar Springer e Hans Mayer,
que irão ter um papel de relevo na divulgação o Oriente pela Europa.
-
Maximiliano I, manteve uma colaboração estratégica
com Portugal. Quando no
inicio do século XVI, Veneza pressionou os muçulmanos para
atacarem os portugueses no Oriente, Maximiliano I participa na Liga de Cambrai que
invade Veneza (1508).
Os banqueiros -mercadores alemães,
como os Fugger, revelavam-se de enorme importância para o comércio
português no Oriente. Forneciam cobre e prata que Portugal carecia
para poder comprar produtos no Oriente.
A
tentativa dos banqueiros-mercadores alemães se fixaram na América do Sul resultou
num completo fracasso. Tratou-se de uma operação que contou com a colaboração de
portugueses e feita a partir de Lisboa (11).
5.1. Divulgação
A participação dos alemães nas
expedições portuguesas, acabou por lhes despertar a curiosidade para o mundo que
os portugueses estavam a descobrir. Através de uma rede de alemães estabelecidos
em Portugal, ou de informações obtidas a partir de Itália, tornaram-se num dos
grandes centros de divulgação dos descobrimentos portugueses.
Nesta vasta acção
de estudo e divulgação dos descobrimentos portugueses destacam-se: Sebastian
Brant, Erhardus Ratdolt, Jobst
Ruchamer, Martin Behaim, Hartman Schedel, Balthasar Springer, Hans Mayr,
Sebastian Munster, Valentim
Fernandes, Konrad Peutinger, Johann Huttich, Simon Grynaeus (1493 1541),
Willibald Pirckheimer, Baltasar Springer, Johannes Cocholaus, Joachim Valdianus, Chritoph Scheurl,
Andreas Josua Ultzheimer, Samuel Brau, Michael Hemmerson, etc.
(15).
Obras de maior folgo de cronistas
portugueses foram também publicadas na Alemanha, como Damião de Góis (Augsburgo,
1541) ou Fernão Lopes Castanheda (Frankfurt, 1567).
5.2. Cartografia Luso-Alemã
Nos séculos XV e XVI desenvolve-se
uma verdadeira escola de cartógrafos alemães que sobre trabalham mapas e
informações recebidas de Portugal. Entre eles são de destacar:
- Henricus Martellus. O seu
célebre planisfério de 1489 é baseado em informações portuguesas. Assinala pela
primeira vez a viagem de Bartolomeu Dias.
- Martin Behaim. Viveu,
trabalhou e faleceu em Portugal (1482 a 1507). Entre 1490 a 1493 viajou até à Alemanha
para produzir o seu conhecido globo terrestre, regressado depois a Portugal.
- Joahnes Ruysc. Viveu e
trabalhou em Portugal.
- Martin Waldseemuller.
Publica, em 1507, o célebre "cosmographia Introductio", baseado em mapas e
cartas particulares, na maior parte portuguesas. Em 1516, volta a publicar um
mapa-mundi, cujo título é bem significativo sobre a fonte das suas informações
geográficas: "Carta Marina Navigatoria Portugallen".
Nas bibliotecas e arquivos da
Alemanha encontram-se importantes documentos, como mapas, roteiros e outros
documentos sobre a expansão marítima dos portugueses.
Mais
6.
Alianças em Itália
A
Itália era nos séculos XV e XVI um mosaico de pequenos Estados, que as várias
potencias europeias procuravam se apropriar. A sua particular importância estava na Santa
Sé (sede da Igreja católica),
no seu eficiente sistema financeiro e a especialização que haviam adquirido no comércio de especiarias.
Os descobrimentos portugueses
concorriam contra os interesses das principais republicas italianas, como Veneza
ou Génova, na medida que lhes iria retirar uma das suas principais fontes de
rendimento: o comércio de especiarias com o Oriente.
6.1.
Veneza
Era
o único estado que tinha
alguma capacidade para agir no mar na cena internacional. A chegada de Vasco da Gama à
India foi aqui sentida como uma séria ameaça. O preço das especiarias em
Veneza caiu para metade.
Os
venezianos, mas também os genoveses, trataram de apelar ao Sultão (soldão) do Cairo, para
atacar os navios portugueses que
se dirigiam para a India, fornecendo-lhes armamento,
apesar do papa condenar esta venda de armas a "infiéis".
Veneza,
em 1504, fazendo eco das ameaças do Sultão (3), afirma que este está disposto a
destruir o túmulo de Jesus Cristo se Portugal não desistisse das especiarias
da India...
Os
venezianos esperavam que os portugueses fossem facilmente aniquilados. A
destruição de duas naus portuguesas na India, em 1508, deixou os venezianos
eufóricos. Foi neste
sentido que apoiaram, a 3/2/1509, a frota conjunta do Sultanato Burji do Egipto,
Império Otomano, Calecute e do Sultão de Gujarat contra
os portugueses, na célebre Batalha de Diu, os quais infligiram um enorme
derrota aos muçulmanos.
Pouco
mais restava aos venezianos do que continuarem a apelar aos muçulmanos para
combaterem os portugueses na India, fornecendo-lhes armas e informações, e foi
isso que fizeram.
Desde
1500 que os venezianos enviavam regularmente para Portugal espiões, com a
missão de recolherem informações sobre as expedições marítimas, mas
também roubarem ou a comprarem a peso de ouro cartas de marear e mapas dos
descobrimentos.
Procurando superar
a decadência em que havia caído a sua cartografia, passaram a baseá-la em cópias de mapas
portugueses, cujos originais faziam desaparecer. Não tardaram a contratar cosmógrafos
lusos, como Diogo Homem.
6.2.Génova
Os genoveses estavam em completa decadência no século XV.O
avanço do Império Otomano, tomava-lhes a suas antigas colónias no Oriente. Na segunda
metade do século XV, o próprio território de Génova era disputado por espanhóis, franceses e outros
italianos (florentinos, milaneses, etc).
O
seu principal trunfo estava na experiência que haviam adquirido no comércio de especiarias e no
sistema bancário, um dado que Portugal procurava tirar partido.
Na mesma altura que Colombo alegadamente está a
fazer o seu célebre contrato com o Banco de S. Jorge para proteger o seu filho
Diego Colon Moniz Perestrelo, o rei português abre oficialmente uma feitoria
nesta cidade. A coincidência de datas diz tudo sobre as cumplicidades não
reveladas.
Os
genoveses perante o avanço do portugueses, tentaram apoderar-se das riquezas
obtidas, o lugar dos judeus no financiamento das expedições e no comércio das
especiarias. Algo que D. João II e D. Manuel I, evitaram entregar-lhes, apesar
das pressões da Santa Sé (Vaticano).
A
Casa Centurione procurou contrariar a rota marítima para a India aberta
pelos portugueses. Paolo Centurione, empenhou-se a tentar abrir uma rota
terrestre entre a Europa Central e a India, passando pela Rússia. Primeiro
vendeu a ideia ao Grã-Duque de Moscovo Basílio III e depois a Henrique VIII de
Inglaterra (1525), mas sem êxito.
A
alternativa que restava ao genoveses, foi envolverem-se na Inquisição em
Espanha e Portugal, onde tentaram espoliar os cristão-novos. Em termos
propagandísticos, reclamaram internacionalmente algumas descobertas dos seus
cidadãos ao serviço de reis estrangeiros.
6.3.
Florença Estava
muito limitada no acesso ao mar, possuindo apenas dois portos: Pisa (desde 1406) e
Livorno (séc.XV). Este facto não
impediu os florentinos radicados em Portugal, como Bartolomeu Marchione,
de participarem activamente na expansão portuguesa, envolvendo-se inclusive numa
estratégia para afastar os espanhóis da costa africana. No século XVI, os
florentinos chegaram a tentar transformar Pisa, num centro de distribuição de
especiarias na Europa Central.
6.4. Participação em expedições
portuguesas
Todos os navegadores participaram
nas grandes expedições do século XV, e que a Itália reclama a sua nacionalidade,
andaram ao serviço dos reis de Portugal ou viveram em Portugal, como é o caso de
Cadamosto (mercador), Antonio Noli, Colombo, Américo Vespúcio ou Giovanni
Caboto. Um facto que diz tudo sobre onde aprenderam e formaram os seus projectos
de navegação, se é que os tinham. Mais
6.4. Espionagem
Havia
em Portugal nos séculos XV e XVI um grande número de espiões, muitos dos quais
eram italianos. As explorações marítimas começaram a tornar-se para cidades italianas,
como Veneza e Génova, numa séria ameaça ao seu poder e riqueza.
Os
italianos, em especial os venezianos e os genoveses, contavam com a poderosa ajuda da Santa Sé (Vaticano) não apenas para
obterem informações, mas também para defenderem os seus interesses.
Os
genoveses, por exemplo, no século XVI infiltraram-se na Inquisição em
Portugal perseguindo a elites dos mercadores, banqueiros e artesãos, muitos
deles judeus, ditando a
médio e longo prazo a ruína do
país.
Os
italianos ao longo do século XV e XVI tornam-se verdadeiros mestres na arte de
roubarem ou fazerem desaparecer documentos de Portugal e de Espanha.
Chronicas.
O rei
D. Afonso V mandou vir de Itália, o frade Justo, "Bispo de Septa"
(Ceuta),
para que o mesmo traduzisse para latim as "Chronicas dos Reis" de
Portugal. As crónicas foram-lhe confiadas, mas o dito frade que passou a
residir em Almada, não tardou a morrer tendo as crónicas desaparecido ( 12 ). A
ladroagem praticada por estes padres italianos era
impressionante.
Crónica
da Guiné de 1492, de Rui de Pina. O original desapareceu. A tradução
italiana, o único documento que existe, data do final do século XV, e
encontra-se na Biblioteca Ricardina de Florença (Códice 1910). Mais
Mapas.
Embora a
cartografia em Portugal se tenha iniciado de forma sistemática a partir dos anos 20 do
século XV, os exemplos mais antigos da cartografia portuguesa que se conhecem
são todos posteriores a 1471. A razão é simples: as cartas anteriores foram
todas roubadas, na sua maioria por espiões italianos. Estas cartas uma vez
roubadas eram depois copiadas por italianos que se reclamavam da sua autoria, é
por este motivo que as mais interessantes descrevem descobertas portuguesas em
África e no Atlântico.
As
cartas portuguesas mais antigas estão todas no estrangeiro. A primeira que se
conhece, desenha o litoral africano da Nigéria e encontra-se na Biblioteca
Estense de Modena (Itália), a outra foi feita por Pedro Reinel e traça o
litoral africano até ao Zaire (1485) está na Universidade de Yale (EUA). Os
exemplos são aos milhares de cartas e roteiros de viagem.
O
caso mais célebre destes roubos é o chamado
Mapa-Mundi de Cantino. O mapa
desenhado por cartógrafos portugueses, entre 1500 e 1502, foi obtido de forma criminosa por Alberto Cantino, um
agente do duque de Ferrara, na Corte Portuguesa.
Cartas de Marear.
Um
dos roubos mais bem sucedidos dos italianos foi o das cartas de marear dos
capitães da armada de
Pedro Alvares de Cabral que em 1500 "achou" o Brasil. Todas as cartas
desapareceram incluindo as do capitão-mor. Uma delas, a do chamado "Piloto
Anónimo" (o nome foi omitido) é publicada em 1507 em Veneza, na
colecção "Paesi Novamente Ritrovatti" editada pelo aldrabão
Francanzano de Montalbolddo, o mesmo que afirma que Colombo era
italiano.
Esmeraldo de Situ Orbis. Obra
mestra de Duarte Pacheco Pereira, escrita por volta de 1506, onde narra
entre outras coisas as suas explorações na América do Sul em 1498. O
manuscrito original foi vendido em 1573 a Filipe II de Espanha, por um espião
italiano (Giovanni Gesio ) que o havia roubado. O manuscrito acabou por
desaparecer e o que existe são cópias estropiadas, sem os seus preciosos mapas
e as descrições mais interessantes.
Peregrinação. Ainda em
final do século XVI, Fernão Mendes Pinto, dava conta que de Itália
viera um padre para sacar informações sobre a sua Peregrinação no
Oriente. O manuscrito da obra foi consultado por vários falsários italianos,
mas só um se referiu ao facto de o ter copiado.
Após
estes roubos os italianos dedicavam-se depois a forjar novos documentos,
compondo histórias de acordo com os seus interesses. O padrão destas
falsificações é sempre o mesmo.
Os
originais dos principais documentos sobre Colombo desapareceram sem deixar
rasto, o que existem são cópias muito posteriores repletas de elementos que
revelam terem sido falsificados. Basta uma simples investigação para
descobrimos a mão de falsários italianos.
6. 5. Falsários e Divulgadores
Os italianos não se limitaram a
roubarem mapas e importantes documentos sobre as expedições portuguesas,
publicavam-nos em Itália, frequentemente omitindo o nome dos seus autores. Foi
através desta difusão internacional de falsidades que conseguiram transformar
aldrabões, como Américo Vespúcio, no descobridor da América...
Entre os falsários e divulgadores
italianos destacam-se os seguintes:
- Paolo dal Pozzo Toscanelli
- Antoniotto Usodinare (códice
Itinerarium Antonii Ususmaris Civis Januensis, 1455, na Bibioteca da Univ.
de Génova)
- Avise Cadamosto, cujas "relações"
foram publicadas, em 1507, por Montalboddo
- Domenico Malipero, publicou
Annali Veneti (1457 a 1499).
- Pietro Vaglienti. Entre 1498 e
1515 reuniu uma importante colecção de documentos portugueses sobre os
descobrimentos. Seguindo uma prática muito italiana, procurou difundir a ideia
que o inicio dos descobrimentos portugueses se deviam às indicações de Paolo dal
Pozzo Toscanelli...
- Girolamo Sernigi
- Tommaso Detti
- Giovanni Matteo Crético
- Girolamo Priuli
- Marino Sanuto
- Pietro Martyr de Anghiera
- Jacome Filipo Foresti
- Marco Antonio Coccio Sabelico
- Aeneas Silvio Piccolomini
- Piero Soderini
- Vicenzo Quirini di Girolamo
- Angelo Trevisan
- Francanzano de Montalboddo
-
Américo Vespucio. Cartas e Mundus Novus
- Giovanni da Empoli
- Giovanni Battista Ramusio
etc.
7.
Países Baixos (Holanda)
Os holandeses só se envolveram nas
explorações marítimas no final dos século XVI, e só o fizeram quando Portugal
estava sob o domínio de Espanha (1580-1640), e depois da chegada de milhares portugueses, entre os quais se contavam banqueiros, mercadores e navegadores
refugiaram neste país para fugirem às perseguições da Inquisição.
Estes portugueses, entre 1580
e 1640, aliaram-se aos holandeses para combaterem os domínios espanhóis,
levando-os ao que restava do Império português. Foi neste período que
importantes segredos do Estado português foram vendidos a holandeses, franceses,
ingleses ou roubados pelos espanhóis.
Cartógrafos
Até final do século XVI, com
raríssimas excepções, os cartógrafos portugueses são os únicos a representarem
os espaços descobertos pelos europeus, em África, no Oriente e na América (22).
Os marinheiro holandeses até 1580,
restringem a sua actividade às costas europeias, e só a partir daí se aventuram
pelo mundo, seguindo as rotas portuguesas, reveladas em toda a sua dimensão, em
atlas universais, como o de Lázaro Luis (1563), Diogo Homem (1565, 1568),
Sebastião Lopes (1565), ou no extraordinário Atlas Universal de Fernão Vaz
Dourado (1571) (23).
Desde 1592 que os espiões de várias
companhias holandesas actuavam em Lisboa, e através de subornos procuram obter
cópias de mapas portugueses (8). Ao contrário do que acontecia em Portugal, onde
a publicação dos mapas e roteiros nauticos continuava ser controlada, os
holandeses investiram na sua publicação e difusão.
O cartógrafo português Bartolomeu
Lasso, vendeu 25 cartas nauticas aos holandeses, as quais foram editadas por
Cornelis Claesz a
partir de 1592. Aquisição foi feita por sugestão de Petrus Plancius (1552-1622), o iniciador da
cartografia holandesa e um dos fundadores da companhia das Indias da Holanda.
Petrus foi iniciado na cartografia pelos portugueses na Flandres (Bélgica),
antes de se refugiar na Holanda.
Mapas de Bartolomeu Lasso foram parar também às mãos de Jan Huygen Van
Linschoten, que viveu 13 anos em Lisboa, e participou na viagem de Frei
Vicente da Fonseca, em 1583, a Goa. Depois de regressar à Holanda incluiu as
informações que obteve em Portugal e no Oriente, no "Itinerario, Voyage ofte Schipwaert naer Oost
Portugaels Indien (Amesterdão, 1596). Traduziu também roteiros
portugueses para o seu "Reys-gheschrift van de Navigatien der Portugaloy sers in
Orienten (Amesterdão, 1595).
Cornelius de Houtman (1565-1599),
o holandes que dirigiu a primeira expedição ao Oriente (estreito de Sunda), não
se limitou a servir-se das informações de Linschoten, veio também a Lisboa, em
1592, numa acção de espionagem para obter novas informações de nauticas e
comerciais para a companhia Van Verre (1494). Acabou morto, na segunda viagem,
em Ache.
h
Lucas Janszoon Waghenaer
(1533-1606) foi outro dos
cartógrafos holandeses que se serviram de mapas portugueses, obtendo um enorme
sucesso no seu tempo com a sua difusão.
Henricus Hundius (1597-1644),
na sua "Africae Nova Tabula" (1631), regista mais de 100 em português, revelando
a origem das suas informações cartográficas.
Willem Janszoom Blaeu e o seu
filho Joan Blaeu, no seu "Atlas Major" (1662), continua a difundir a
toponímica portuguesa em África e Ásia, em regiões já dominadas pelos
holandeses, franceses e ingleses. A matriz portuguesa mantém-se nos mapas e nas
informações geográficas.
Uma rede de espiões franceses e holandeses estada em Lisboa, comprava a
peso de ouro os mapas da "Casa da India".
Não é pois de estranhar, que os mapas que os holandeses traziam consigo, quando chegaram
à Australia (1606), Tasmania e Nova Zelandia tivessem topónimos portugueses.
Alguns destes nomes acidentes geográficos da Austrália, de origem portuguesa,
acabaram por ficar registados nos mapas holandeses.
Divulgadores
Jan Huyghen van Linschoten, Pieter
Maraees, etc.
Pilotos.
Mercadores.
A poderosa rede comercial de Portugal, como sabido, devido às perseguições da
Inquisição em Portugal foi-se transferindo para a Holanda e Inglaterra, entre
outros lugares. Mais
Corsários
Durante a ocupação de
Portugal pelos espanhóis (1580-1640) estes piratas e corsários portugueses
atacam indistintamente possessões espanholas e portuguesas, de forma a
enfraquecerem a Espanha. Entre as terras ou possessões portuguesas, algumas
foram completamente pilhadas: Bahia (Brasil)-1587; Santos (Brasil) -1591; Recife
(Brasil)-1595; Açores-1589; Faro-1596; Sagres-1597; Ormuz-1622; etc.
Na Holanda onde existia uma
enorme colónia de portugueses, muitos deles dedicaram-se à pirataria e corso
contra os espanhóis. Entre eles, destacam-se Simão
de Cordes e o seu irmão Baltazar
de Cordes, dois portugueses ou seus
descendentes que foram os primeiros corsários holandeses (1598-1600).
Ficaram célebres pelas pilhagens e massacres que fizeram numa colónia
espanhola (Chile).
8. Outras Paragens Europeias
Suécia
Dinamarca
Divulgadores:
- Valarte ou Abelhart (sueco)
- Johannes Magnus (sueco),
O
mundo no século XVI tornara-se global e incerto. A dispersão planetária dos
portugueses, acabou por se tornar num problema fatal para a sobrevivência do
seu Império marítimo.
Carlos
Fontes |