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Leonor de Portugal, mãe de
Maximiliano I
Maximiliano I era filho do
imperador Federico III de Habsburgo e da Imperatriz Dona Leonor de
Portugal (1436-1467), irmã de Afonso V. Temos aqui uma ligação
directa à Casa Real de Portugal, que será prosseguida pelo seu sucessor o Imperador
Carlos V que se casou com Dona Isabel de Portugal (1503-1539), filha
de Manuel I, tendo desta união nascido sete filhos, um dos quais foi
Filipe II de Espanha (1527-1598).
D. Manuel I, por sua
vez, casou-se com a irmã de Carlos V - Dona Leonor de Austria ou de Habsburgo
(rainha de Portugal e de França).
A) Expedição Alemã ao Cataio (China)
D. João II, como vimos, desde
1490 procurou por todos os meios envolver a Alemanha numa expedição à Ásia,
navegando para ocidente. A mesma viagem que Colombo acabou por fazer ao serviço de
Espanha.
Maximiliano I tentou, sem êxito, que o seus banqueiros-mercadores
financiassem a viagem ao cataio (China). Estes, provavelmente mais bem informados
do que se julgava, esperaram que os portugueses
contornassem África e atingissem a India, para se envolverem nos negócios asiáticos...
D)
Maximiliano I, Mestre da Ordem do Tosão do Ouro
Maximiliano
I, segurando uma romã. No canto superior esquerdo contornado o escudo, pode
ver-se o colar da Ordem do Tosão de Ouro. Pintura de Albrechet Durer, 1519
A romã era o emblema do Imperador
Maximiliano I (1459-1519), cavaleiro da Ordem do Tosão do Ouro. Usou-a
para simbolizar a união na multiplicidade do Império Romano-Germânico sob a
sua autoridade.
Casamento de D.
Manuel I (com o colar de cavaleiro da Ordem do Tosão de Ouro), com Dona
Leonor de Austria. Pintura de Garcia Fernandes. 1531. Museu São Roque (Lisboa)
Os caminhos de Portugal estão sempre ligados
aos imperadores que usavam a romã como símbolo.
Meras coincidências ?
O facto não tem
nada de estranho, se tivermos em conta que a Ordem do Tosão de Ouro, de
que era mestre Maximiliano I, foi fundada a 20 de Janeiro de 1429,
por Filipe III, Duque da Borgonha, para celebrar, nesse mesmo dia, o seu
casamento com a princesa portuguesa Isabel de Portugal, Duquesa da Borgonha,
filha do rei de Portugal D. João I. Os reis portugueses passaram então a
pertencer a esta Ordem cavaleiresca, como foi o caso de D. Manuel I. O próprio
Imperador Maximiliano I, acima representado, ofereceu a D. Manuel I um
riquissimo colar com os simbolos desta Ordem (1 ).
Problema
iconográfico:
Maximiliano I segura apenas uma romã (granadas) e não três. A solução
para o problema é simples: as três romãs estão ligadas à Ordem de Cristo,
de qeu D. Manuel I era grão-mestre..
Os reis de Portugal
pertenciam à Ordem do Tesão de Ouro, desde a sua fundação.
Para além da sua vertente política, nomeadamente no apoio à luta contra os Turcos, a Ordem nos séculos XV e XVI foi identificada com os segredos dos alquimistas.
1. Christian
Rosenkreuz (1378-1484)
No mesmo ano que foi
assassinado, na cidade de Setúbal, D. Diogo, mestre da Ordem de Cristo, Colombo
"fugiu" secretamente
para Castela. Coincidência, ou talvez não, a Alemanha, morreu também neste ano, Christian
Rosenkreuz (1378-1484), enigmático cavaleiro a quem se atribui a
criação de uma "Fraternidade" mistica - a Ordem Rosacruz - ligada aos alquimistas
e astrólogos. Christian
Rosenkreutz, nasceu em 1378 na Alemanha, visitou Damasco, a Terra
Santa, Egipto e Marrocos, onde estudou com vários mestres das artes ocultas. É
inevitável que nesta última viagem, contacta-se com os portugueses que dominavam desde 1415
as principais cidades da costa de Marrocos como Ceuta, Tanger, Arzila, Alcácer
Seguer, Safim, etc.
2. Misterioso Cavaleiro Alemão
A sucessão de estranhas
coincidências ocorridas em 1484 envolvem outro cavaleiro alemão. Os
acontecimentos que rodearam a morte de D. Diogo, Mestre da Ordem de Cristo, foram
testemunhados por Nicolaus Von Popplau -
natural da Silésia (região que está hoje dividida entre a Alemanha, Polónia
e a República Checa).
Trata-se de
uma enigmática personagem que andava por toda a Europa num carro
atrelado a um cavalo de combate, sobre o qual colocou uma enorme lança. Em 1484
estava na cidade de Setúbal, por razões que se ignoram. Pretendia encontrar-se
com a Rainha Dona Leonor de
Lencastre, tendo D. Diogo, se oferecido para o levar junto da sua irmã, mas este recusou para não levantar
falsas ideias em D. João II.
Regressou a Lisboa, onde teve
conhecimento do "assassinato" que ocorreram no dia anterior. Não teve
dúvidas em afirmar que eram fantasiosas as descrições que então foram feitas dos
trágicos acontecimentos ( 3 ).
O que andaria a fazer em
Setúbal em conversões com D. Diogo ? Qual o seu
interesse em falar com a Rainha Dona Leonor ?
c
) As "Prendas" de Maximiliano I
O
imperador Maximiano I, primo da rainha Dona Leonor de Lencastre de Portugal fez
a esta rainha de Portugal duas ofertas carregadas de enorme simbolismo.
1.
Pintura de Sião, com o Templo de Salomão
A
pintura, oferecida por Maximiliano I que tem como cenário a cidade de Jerusalém,
estando focalizada no monte de Sião, onde estava o Templo de
Salomão. As várias cenas simultâneas referem os vários passos da vida de
Cristo. Em Portugal foi acrescentada à pintura a figura da rainha Dona Leonor e
de uma enigmática acompanhante. A rainha fez questão de se incluir na
cena vivida em Jerusalém.
Como
é sabido, o grande projecto de Cristovão Colombo, como ele inúmeras vezes
proclamou era resgatar Jesusalém e Sião. Esta tem sido uma das questões mais
discutidas sobre Colombo, mas como é evidente não era apenas dele, mas esteve
sempre presente nos chamados descobrimentos portugueses. A Rainha Dona Leonor,
D. Manuel e toda a Ordem de Cristo tinham também como missão este resgate.
Nesta
pintura surge em várias um cavaleiro que transporta sempre a mesma bandeira
com cinco estrelas sob um fundo azul. Estes são os elementos que
constituem o brasão dos Monizes, a família à qual pertencia a esposa de
Colombo. Trata-se de mais uma coincidência idêntica à muitas que temos
apontado ?
Recorde-se
que no século XVI, a Ordem de Cristo continuava a ser correntemente denominada
por Ordem do Templo. Mas
que Jerusalém falava Colombo ? Uma Jerusalém terrena ou Celeste ?
Jerusalém,
tendo no centro o Templo de Salomão. Pintura no Convento da Madre de Deus em
Lisboa. Escola de Hans Memling.
1501
d.C.- 1510 d.C.
2.
Relíquias de Santa Auta
Maximiliano
I ofereceu também a Dona Leonor, as relíquias de Santa Auta, a qual com Santa
Ursula era das mais famosas do "Martírio das Onze Mil Virgens".
Segundo a lenda aquando da invasão dos Hunos, num período incerto, onze mil
virgens foram mortas por se recusarem a perder a sua virgindade.
Estas
virgens simbolizavam a Fidelidade à Fé, mesmo que seja à custa da
própria vida. Os verdadeiros crentes deviam manter-se virgens, isto é, sem
mácula por piores que fossem as suas provações.
A
vinda destas relíquias de Colónia (Alemanha) para Portugal, no final do
século XV, tiveram um enorme
impacto na sociedade do tempo.
Curiosamente
o culto destas virgens era muito popular entre os navegadores.
Cinco
exemplos:
-
A familia de Vasco da Gama possuía relíquias de Santa Ursula.
-
Na sede da Ordem de Santiago, em Alcácer do Sal, a que pertenciam a
elite dos navegadores no tempo de D. João II, uma das suas mais belas capelas
é dedicada às Onze Mil Virgens. A Capela das Onze Mil Virgens foi
erguida e integrada no interior da igreja do Convento Franciscano de Santo António,
de Alcácer do Sal. O Convento foi fundado em 1524, reinado de D. João III, por
D. Violante Henriques, viúva de D. Fernando de Mascarenhas, Capitão dos
Ginetes de El-Rei D. João II e Alcaide-Mor de Alcácer, pais de Dom Pedro de
Mascarenhas que, mais tarde, fundou e ergueu a Capela das Onze Mil Virgens.
-
Cristovão Colombo, em 1493, descobriu umas ilhas a que deu o nome de "Las Vírgenes"
(virgens) em honra destas martires. Recorde-se que este navegador tinha uma ligação
muito a Ordem de Santiago, assim como com a Rainha Dona Leonor.
-
No dia 21 de Outubro de 1520, dia do aniversário de Santa Ursula, o português João
Alvarez Fagundes (c.1460 - 1525), navegador e armador de navios de Viana do
Castelo ( cidade do norte de Portugal), andando a explorar os bancos de
bacalhau nas costas do Canadá (Nova Escócia, Terra Nova, Labrador)
assinala a descoberta oficial de um arquipélago a que deu o nome de Onze Mil
Virgens (Ilhas do Arcepelleguo das
Onze Mil Virgens), mais tarde denominado pelos franceses de arquipélago
de - l’archipel de Saint-Pierre-et-Miquelon.
Retábulo
de Santa Auta. Martírio das Onze Mil Virgens. Museu Nacional de Arte
Antiga. Lisboa. Nestas
pinturas quinhentistas que assinalam a vinda das relíquias de Santa Auta para
Portugal, não apenas Dona Leonor tem um lugar de destaque, mas também os
navios portugueses utilizados nas descobertas (caravelas e naus).
-
Um dos grandes cultos religiosos que os portugueses introduziram no Brasil foi o
das Onze Mil Virgens. Não se limitaram ao culto, "levaram"
também três cabeças das virgens. A última a chegar a São Salvador foi
em 1583, provocando verdadeira euforia na população (1).
A
mensagem era clara para os navegantes: deviam manter-se fiéis à sua missão
terrena, tal como as Onze mil Virgens, ainda que isso lhes custasse a vida.
D ) Antuérpia e a Utopia de Thomas More
1. Feitoria portuguesa de
Antuerpia
Durante a guerra contra Carlos
VIII, rei da França, em Maio de 1486, Maximiliano I foi traido pelos governadores
da cidade de Bruges, a sua guarda foi assassinada e ele acabou metido numa
prisão. A Corte Portuguesa mal soube do sucedido ordenou luto nacional. D.
João II declarou-se que Portugal entraria em guerra contra quem fosse
necessário até à libertação de Maximiliano, mostrando-se desde logo
disposto a pagar uma elevadíssimo resgate pelo mesmo (6).
A feitoria portuguesa em Bruges
entrou desde logo em acção, pressionado os governadores. D. João II mandou
constituir uma poderosa armada para ser enviada para Bruges. Um mês depois
destes acontecimentos Maximiliano era libertado, sendo o acontecimento
efusivamente festejado em Portugal. A retaliação portuguesa pelo sucedido
prosseguiu.
Em 1499 a importante colónia de mercadores portugueses deixou
Bruges e transferiu-se para Antuérpia, onde em 1511 se tornou uma nação com
privilégios especiais, dando origem à época de Ouro desta cidade.
Este apoio imediato concedido
pelos reis de Portugal, estava na origem da profunda ligação de Maximiliano I com os reis de Portugal e em particular com a Rainha Dona Leonor de
Lencastre.
2. Navegador Português
Numa das obras mais
célebres da literatura universal, escrita em 1516, Thomas More apresentam-nos o
relato que um culto navegador português terá feito no porto da Flandres. O
português falou-lhe da existência de uma grande ilha ou continente - Utopia
- onde existia uma sociedade perfeita. Nessa
altura, nas Indias descobertas por Colombo, o seu filho Diogo (nascido em
Lisboa), que lhe sucedeu como Vice-Rei estava empenhado em criar as condições
a sua separação da Espanha, fundado desta forma um novo país. Seria um caso
único nas Américas ? Ou os portugueses estariam nesta altura a fundar a norte
uma sociedade templária ?
Gravura
da 1ª. edição da Utopia de Thomas More.
E) Crónica do Imperador Maximiliano
Na primeira metade do século XVI, a
figura do Imperador Maximiliano I continuava a ser muito popular em Portugal.
Não
admira que se tenha tornado a
personagem principal de um enigmático romance de cavalaria - Crónica do
Imperador Maximiliano.
A obra, escrita em meados do século
XVI, por um autor ainda não identificado, circulou numa versão manuscrita que só
recentemente foi editada. Um dos seus temas centrais é a conversão ao
cristianismo de vários povos.
admira
F) Carlos V e Isabel de Portugal
G ) Maximiliano II e Maria de Habsburgo,
filha de Carlos V e de Isabel de Portugal
A ligação o império austriaco-alemão
à expansão portuguesa continuou, sendo a mais conhecida a sua dimensão de
coleccionismo de peças e animais exóticos. Neste domínio teve um papel
importante a esposa de D. João II - D. Catarina de Austria - que
enviava com regularidade para a corte austriaca artigos de luxo e animais
exóticos provenientes de África e da India, como um célebre elefante, destinados
ao seu irmão o imperador Fernando I, e depois ao seu sobrinho
Maximiliano II, e finalmente ao seu sobrinho-neto Rodolfo II (7).
O gosto pelo coleccionismo destes
artigos que se espalhou por toda a Europa no século XVI, teve aqui a sua origem.
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