Carlos Fontes

 

 

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Cristovão Colombo, português ?

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A ) Retrato de Colombo

 

 

 O retrato que para muitos é o mais fiel de Cristovão Colombo, está no painel da - Virgem dos Navegantes - pintado cerca de 25 anos depois do seu falecimento pelo pintor Alejo Fernandéz alemán ( c. 1470 - 1545).

 

Pouco se sabe sobre a origem deste pintor, assim como do seu irmão Jorge Fernandez, escultor, a não ser que eram de origem alemã. A primeira obra que deles se conhece foi o retábulo maior do Convento de Valeparaiso, em Córdoba, fundado pelo português Frei Vasco Martinez de Sousa. Em 1508 mudam-se para Sevilha para executarem várias obras na catedral. Pouco depois trabalham na capela funerária de Sancho de Matienzo, em Villasana de Mena (Burgos), dedicada a Santa Ana. Curiosamente, esta capela fazia parte de um mosteiro de uma ordem criada por uma portuguesa - Isabel Beatriz da Silva .

 

Metienzo foi o tesoureiro da Casa da Contratação de Sevilha, entre 1503 e 1521.

 

É provável que os dois irmãos "alemães" tenham conhecido Colombo, em Córdoba. Uma coisa é certa, o modelo do retrato de Colombo que surge na Virgem dos Navegantes aparece já na sua obra - Adoração dos Magos (c. 1508) -onde o navegante surge entre os reis magos.

 

Adoração dos Magos (c. 1508), de Alejo Fernandéz. Catedral de Sevilha.

 

 

O Mistério das Três Romãs

 

Na "Virgem dos Navegantes", Alejo Fernández, desenha no vestuário que "Colombo", um padrão de três romãs ("granadas" em espanhol), tendo num canto uma "coroa".

 

É sobre estes elementos que tem incidido a maior parte das investigações.

 

Na tradição cristã as romãs estão ligadas à ideia de fertilidade, disseminação, fecundidade e ressurreição, assim como aos atributos de castidade da virgem Maria. 

 

 

 

Pormenor do painel A Virgem dos Navegantes (1531-36), de Alejo Fernandez

 

O historiador Manuel Rosa tem dado uma enorme importância às três romãs, pois o cuidado colocado pelo artista no seu desenho revela que a escolha não foi ocasional. Haveria um significado oculto nestas romãs, assim como na coroa se pode ver num canto, o que revela uma clara identificação da personagem com a casa real.

 

 
 

1. Rainha Dona Leonor

A rainha que Colombo faz questão de visitar, em Março de 1493, tem na igreja do Pópulo, nas Caldas da Rainha, o símbolo das três romãs amplamente espalhado. As pontas do célebre camaroeiro são aqui decoradas com romãs.

2. Alvaro de Bragança

A pintura acima reproduzia foi concebida para figura na Casa da Contratação de Sevilha, cujo fundador e primeiro presidente foi Alvaro de Bragança em 1503. 

As três romãs que figuram também no seu brasão, à entrada do paço de Água de Peixes, junto a Vila Ruiva, Alentejo, que adquirido em 1501.

A coroa  real faz aqui todo o sentido, no vestuário desta misteriosa personagem, pois liga-o à família real de Portugal. Neste sentido, ao contrário do que se afirma a figura não é Colombo, mas Alvaro de Bragança.

 

3.  Habsburgos / Ordem do Tosão de Ouro

 

 Maximiliano I, segurando uma romã. No canto superior esquerdo contornado o escudo, pode ver-se o colar da Ordem do Tosão de Ouro. Pintura de Albrechet Durer, 1519

 

A romã era o emblema do Imperador Maximiliano I (1459-1519), cavaleiro da Ordem do Tosão do Ouro. Usou-a para simbolizar a união na multiplicidade do Império Romano-Germânico sob a sua autoridade.

Maximiliano I era filho do imperador Federico III de Habsburgo e da Imperatriz Dona Leonor de Portugal (1436-1467), irmã de Afonso V. Temos aqui uma ligação directa à Casa Real de Portugal, que será prosseguida pelo seu sucessor o Imperador Carlos V que se casou com Dona Isabel de Portugal (1503-1539), filha de Manuel I, tendo desta união nascido sete filhos, um dos quais foi Filipe II de Espanha (1527-1598). 

D. Manuel I, por sua vez, casou-se com a irmã de Carlos V - Dona Leonor de Austria ou de Habsburgo (rainha de Portugal e da França).

Casamento de D. Manuel I (com o colar de cavaleiro da Ordem do Tosão de Ouro), com Dona Leonor de Austria. Pintura de Garcia Fernandes. 1531. Museu São Roque (Lisboa)

Os caminhos de Portugal estão sempre ligados aos imperadores que usavam a romã como símbolo. Meras coincidências ?

O facto não tem nada de estranho, se tivermos em conta que a Ordem do Tosão de Ouro, a que pertencia Maximiliano I, foi fundada a 20 de Janeiro de 1429 por Filipe III, Duque da Borgonha, para celebrar, nesse mesmo dia, o seu casamento com a princesa portuguesa Isabel de Portugal, Duquesa da Borgonha, filha do rei de Portugal D. João I. Os reis portugueses passaram então a pertencer a esta Ordem cavaleiresca, como foi o caso de D. Manuel I. O próprio Imperador Maximiliano I, acima representado, ofereceu a D. Manuel I um riquissimo colar com os simbolos desta Ordem (1 ). 

Problema iconográfico: Maximiliano I segura apenas uma romã (granadas) e não três. A solução para o problema é simples: as três romãs estão ligadas à Ordem de Cristo, de qeu D. Manuel I era grão-mestre.. 

 

 

4. D. Manuel I / Ordem de Cristo

Cruz da Ordem de Cristo, coroa real, escudo de Portugal e três romãs. Pormenor do Portal da Igreja de Nossa Senhora da Graça, Matriz de Ega (Soure, Coimbra). Início do século XVI. Obra atribuida a João de Castilho. Nesta povoação existe o Paço dos Comendadores da Ordem de Cristo (em ruinas). Ega e a região de Soure foi das primeiras terras em Portugal a pertencer à Ordem dos Templários, tendo passado no século XIII para a Ordem de Cristo.

 

Três romãs sobre a Esfera Armilar, no Portal Sul do Convento de Cristo de Tomar, sede da Ordem de Cristo. 1515. 

O rei D. Manuel I era o grão-mestre da Ordem de Cristo, a Ordem Militar que em Portugal sucedeu à antiga Ordem dos Templários, um caso único em toda a Europa. Nos edificios com forte carga simbólica durante o seu reinado, sobretudo nos domínios da Ordem de Cristo, é facíl de verificar que aparecem frequentemente sempre três romãs associadas ao escudo de Portugal ou à esfera armilar (símbolo de D. Manuel I). Há um evidente simbolismo nestas associações. 

 

   

5. Leitura Judaica. O nome deste fruto, em castelhano deriva de um povoação (Garnata) que os  árabes encontraram, em 711, quando invadiram a Península Ibérica, e que era constituída essencialmente por judeus. Deram-lhe o nome de Garnat Al-Yahud (اليهود) (Granada dos Judeus). O nome de Granada acabou por ser aplicado ao reino muçulmano que aqui se formou (1013-1492). 

 

Ao pintar um padrão com três româs no vestuário de Colombo, pretendeu o pintor afirmar que o mesmo tinha raizes judaicas ? Colombo deu o nome de Granada a uma das primeiras ilhas que descobriu.

 

 

B ) Chave do Mistério das Três Romãs

 

1. Convento da Ordem de Cristo, em Tomar

 

O rei D. Manuel I era o grão-mestre da Ordem de Cristo, a Ordem que em Portugal sucedeu à antiga Ordem dos Templários, o único caso em toda a Europa. 

 

Nos edifícios com forte carga simbólica durante o seu reinado, sobretudo nos domínios da Ordem de Cristo, é facíl de verificar que aparecem frequentemente sempre três romãs associadas ao escudo de Portugal ou à esfera armilar (símbolo de D. Manuel I). Há um evidente simbolismo nestas associações. 

 

Um dos casos mais interessantes são as Três romãs sobre a Esfera Armilar, que estão mesmo no cimo do portal sul do Convento de Cristo de Tomar, sede da Ordem de Cristo, datado de 1515. 

Esta imagem tem sido objecto de várias interpretações. Paulo Pereira, especialista em iconografia manuelina afirma tratar-se de uma figuração do Paraíso: 

- Dois "putti" (crianças) simbolizam eros (eterna juventude) ou representam o signo do zodiaco de D. Manuel I - gémeos (Deus Mercúrio, simbolo do comércio, mas também o mensageiro Alado, o filho mais inteligente de Zeus). Exprimem também a dualidade e duplicidade, que D. Manuel I e Colombo foram exemplos consumados.

- Os dois "Putti" seguram o emblema heráldico de D. Manuel I - a esfera armilar (Cosmos). 

- No topo estão três romãs, fruto do paradísiaco, mas cujos troncos ligam-nas ao cosmos (esfera armilar) e à simbólica da eterna juventude e fecundidade. Será que simbolizam também os três Impérios ? 

A mensagem veiculada, de acordo com a simbólica manuelina é que estamos perante uma figuração da "Idade de Ouro" a "Idade Aurea" ( 1).

No Convento de Cristo, em Tomar, as três romãs voltam a encimar a uma esfera armilar no refeitório, que se encontram nos púlpitos. Os "putti" pisam duas caveiras (simbolos da morte) e seguram uma esfera armilar e uma cornucópia, simbolo da ambudância.

Romãs.Igreja Matriz da Golegã.

 

As romãs aparecem em grande destaque na Igreja matriz da Golegã, construída dentro dos domínios da Ordem dos Templários/Ordem de Cristo. Na matriz de Olivença, reconquistada aos mouros em 1228 pelos templários, surgem também quatro romãs.

2. D. Manuel I / Colombo / Ordem de Cristo

Colombo parecia ter relações muito próximas com a Ordem de Santiago, embora as tenha também com a Ordem de Cristo, muito mais hermética. Um dos aspectos que o aproximam desta Ordem é o seu apego ao culto do Espírito Santo, mas também a Jerusalém.

Houve alguma relação entre D. Manuel I e Colombo ? Um encontro confirmado pelo próprio Colombo que ocorreu em Março de 1493, quando este se encontrou com a rainha Dona Leonor, numa localidade que pertencia à Ordem de Cristo.

Ordem dos Templários: Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão (nome completo) (1118-1314).

Ordem de Cristo: Ordem dos Cavaleiros de Nosso Senhor Jeus Cristo (nome completo). Foi criada pelo rei D. Dinis, para substituir a Ordem do Templo, dela herdando os seus bens, organização, simbolos, etc. A sua primeira sede foi em Castro Marin, na fronteira com Castela perto de Huelva, Palos e Moguer. Em 1357, a cabeça da Ordem passou para Tomar. Foi extinta em 1834. Entre os seus grãos-mestres, destacam-se as figuras do Infante D. Henrique e o Rei D. Manuel I.   

 

 

 

C ) Significado (Espanhol) do Túmulo de Colombo em Sevilha. 

 

 

Túmulo de Colombo em Sevilha (Tumba de Cristobal Colon en Sevilla).

A figura alegórica ao Reino de Leão crava uma lança numa romã. 

 

O monumento funerário onde estão guardados os restos mortais de Colombo foi realizado pelo escultor Arturo Melida y Alinari (3), em 1891, e destinava-se inicialmente à Catedral de Havana (Habana), mas uma vez que Cuba se tornou independente em 1898, acabou por ser colocado na Catedral de Sevilha (1902). As quatro figuras heráldicas que transportam o fetro de Colombo representam os quatro reinos que constituíram a Espanha em 1492: Castila, Leão, Aragão e Navarra.

 

No tempo, os espanhóis já estavam a fabricar documentos para provarem a sua identidade espanhola, procurando afastar a hipótese que a cada passo lhes parecia mais credível: a portuguesa.

 

Qual o significado que o escultor procurou transmitir, com uma lança a cortar a romã ?  ( 4 ).

 

Carlos Fontes

 

 

Continuação:  Nova Jerusalém /Nova Lusitânia

 

 

 

 

Notas:

( 1) Pereira, Paulo - A Obra Silvestre e a Esfera do Rei. Iconologia da Arquitectura Manuelina na Grande Estremadura. Coimbra.1990, pág.142. Este autor tem publicado diversas obras dissecando a iconografia manuelina.

(2 ) A Torre de Belém foi mandada construir por D. Manuel I, num local já escolhido por D. João II. A sua função inicial era substituir a "Nau de São Cristovão", que neste mesmo local protegia a entrada da cidade pelo mar. O início das obras deu-se em 1513/14. Um dos mestres de obras que dirigiu a construção foi Francisco Arruda, que trabalhou no Convento da Ordem de Cristo em Tomar e na construção de fortalezas no Norte de África. Três famílias estiveram particularmente ligadas aos governadores desta torre: os noronhas, os menezes e os ataídes, as quais também estiveram estreitamente ligadas a Cristovão Colombo. Um dos simbolos mais repetidos nesta torre é o da Ordem de Cristo.

( 3 ) Arturo Melida y Alinari (1849-1902) foi igualmente o escultor a estátua de Colombo em Madrid (Plaza de Colón,1885).

( 3 ) Hernando Colón, filho de Colombo, afirmou na biografia do seu pai que - Cristovão Colombo - significa "membro dos que vão por Cristo". A que irmandade se estava a referir ? Alguns historiadores como Manuel da Silva Rosa tem explorado esta hipótese, mostrando inclusive que no próprio Mosteiro de Las Cuevas, em Sevilha, existem sinais de natureza esotérica. 

 

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