Córdoba
Depois de ter ido para
Huelva, em 1485, foi para Cordoba? A questão não é consensual.
Hernando Colon e Las Casas referem a
sua presença em Córdoba junto da corte dos reis católicos.
A explicação mais obvia é
outra: Em 1484, os reis católicos enviaram dois embaixadores a Portugal,
para apurarem a situação resultando da conspiração do Duque de
Beja-Viseu e terminou numa nova vaga de matanças e perseguições. Um dos
embaixadores era Gaspar Fabra, cavaleiro aragonês, o outro Iñigo Manrique de
Lara, bispo de Córdoba (1485-1496) e ouvidor da
Audiência Real de Valladolid. Se Colombo evocasse a sua qualidade de
perseguido do rei português, certamente obteria apoio por parte do bispo
de Córdoba. Mais
D. João II,
em Julho de 1485, enviou a Córdoba um embaixador - Fernando da
Silva Meneses - a solicitar aos reis católicos para que deixassem de dar
apoio aos exilados portugueses que haviam ido para Castela, pedido que foi
recusado. O facto parece revelar não apenas a presença da corte na cidade,
mas sobretudo a preocupação de D. João II com um novo exilado português...Mais
O
que terá levado a fixar-se durante algum tempo em Córdoba ? - A passagem
da Embaixada portuguesa que se dirigia a Roma, em Julho/Agosto de 1485, poderá
ser uma explicação, mas não é a única.
A verdade é que D. Alvaro de Bragança, os Duque de Medina Sidónia e de
Medinaceli, em Maio de 1486, criaram as
condições para que Colombo se encontrasse pela primeira vez com os reis
católicos.
Fernando saiu da cidade a 15/5/1486, mas Isabel demorou-se ainda
algum tempo. Não sabemos o que combinaram. A única decisão que
conhecemos é que o assunto foi transferido para uma comissão sediada em Salamanca.
Isabel, nesta mesma cidade
mandou, em Maio de 1487, que Colombo passasse a ser
pago pela corte.
Não está apurado quando Colombo
decidiu ir viver Cordoba, apenas sabemos que aí arranjou uma amante da qual
teve um em 1488 um filho ilegitimo ( Hernando
Colón ).
Igreja
de São Pedro (Iglesia de San Pedro)
São
Sisenando, o padroeiro da cidade de Beja, sede do Ducado de Beja-Viseu, nasceu
nesta cidade, numa casa junto à Igreja de S. Salvador. Foi depois estudar para
Córdova, nas célebres escolas da Basílica de San Acisclo. No ano de 851 foi
martirizado pelos mouros. A suas relíquias encontram-se, em Córdova, na arca
dos mártires na Igreja de São Pedro.
A
razão principal da ida de Colombo para Córdova, parece-me ser a relação especial que muitos cordoveses tinham
com Portugal, a Dinastia de Aviz, e em particular com D.Afonso V:
a)
Henriques de Villafranca de Córdoba
Beatriz Fernandez
de Angulo, senhora de Villafranca (Córdoba), amantizou-se com Enrique II de
Castela. O filho de ambos - Fernando Henriquez (c.1365-1438)- veio
para Portugal , tornando-se o primeiro senhor de Alcaçovas.
Esta povoação
alentejana, junto aos domínios dos Duques de Beja-Viseu, está ligada a muitos
acontecimentos relacionados com Colombo. O neto do primeiro senhor de Alcaçovas
- Henrique Henriques, 3º. senhor desta povoação - casou-se com a Dona
Filipa de Noronha, filha do 2º. Donatário do Funchal, a cuja família
pertencia a esposa de Colombo.
b)
Família Sousa de Portugal.
A
3 de Janeiro de 1482, esta família cordobesa de origem portuguesa, fez questão
de na capela funerária que possuíam na Mesquita-Catedral de Córdoba (4),
escreverem numa coluna que os seus antepassados estavam ligados à família real
de Portugal (D.Afonso III), mas também à de Castela (Enrique II).
D.
Pedro Afonso de Sousa foi o primeiro Sousa a ir para Castela, terá
acompanhado D. Afonso IV, na batalha do Salada (1340). Não se terá todavia
fixado. O primeiro que o fez foi o seu filho Vasco Alfonso de Portugal,
na companhia do seu tio Juan Alfonso de Albuquerque (5). Terá acompanhado a
rainha Dona María de Portugal, esposa de Alfonso XI de Castilla. Casou-se
em Castela com uma Carrilho, e tornou-se num dos grandes proprietários de
Córdoba, ascendendo a Alcaide y Justicia Mayor de Córdoba, Señor de
Castil-Anzur (Puente-Genil) (1366), etc.
A
sua filha Joana Afonso de Sousa amantizou-se com Henrique II. Destes
amores nasceu um filho, Henrique de seu nome. Foi esta Sousa que se tornou no
primeiro Duque de Sidónia, senhor de Cabra.
A
Vasco Afonso de Sousa sucedeu-lhe outro filho - Diego de Sousa (?-1413),a
que lhe sucedeu, por sua vez, Juan Alfonso de Sousa, que fundou o
Mayorazgo de Rabanales, foi Alcaide do Castelo de Bujalance e do Alcazar de Córdoba,
assim como Justicia Mayor e Veinticuatro de Córdoba (morreu em 1479).
O
Duque de Medina Sidónia, primeiro Conde de Cabra era um Sousa, assim como foram os
senhores de Alcalá e Morón,etc (18). Os
Sousa, que reclamavam ainda em 1482 a sua origem portuguesa, eram a principal
família de Córdoba.
No
século XVII, Vasco Alfonso de Sousa, fez questão de mandar imprimir em
Córdoba, um "Panegyrico Historial Genealógico de la familia de
Sousa", onde são apresentados os três ramos da sua família: os Zarcos,
os Bragança e os Coutinho. Como é sabido, a esposa de Cristovão Colombo
pertencia também aos zarco (6).
d)
Fray Vasco Martinez de Sousa
O
principal convento de Córdoba foi fundado por um português. Vasco de Sousa,
frade Jerónimo, natural de Portugal, depois de uma viagem a Itália, fixou-se
em Toledo, regressou a Portugal onde fundou o Convento da Penha Longa (Sintra).
Foi depois para Castela, fixando-se em Córdova, onde fundou, em 1405, o
Mosteiro dos Jerónimos, em Valparaíso. O bispo D. Fernando Gonzalez Deza, de
origem portuguesa, deu-lhe todo o apoio (7).
Não
existem provas que Colombo tenha alguma vez visitado Gaudalupe, mosteiro de
frades Jerónimos, mas seguramente
visitou este mosteiro, onde existiria uma imagem desta virgem.
Convento
de S. Jerónimo, Córdova. Fundado por Vasco de Sousa
e)
Convento Franciscano de Arrizafa (Arriçafa, Azurrafa)
Devido
á ação e exemplo de Vasco de
Sousa, constituem-se na primeira metade do século XV vários conventos de
feição ermita, como o de Arrizafa.
O
frade português Juan Peres de Marchena, em 1485, estava neste Convento (8).
Pouco depois foi para o Convento de la Rabida, onde entre o Outono de 1491 e a
primavera de 1492 se encontrou de novo ( ? ) com Colombo.
A
presença de portugueses neste convento, no século XV, não está estudada. No
século XVI foram já registados pelo menos dois.
f)
D. Afonso V
-
Afonso de Córdova, em meados de 1462, por encomenda de
D. Pedro, condestável de Portugal e mestre da Ordem de Avis, produziu um escrito onde advogava a aproximação de Portugal
de Castela e Castela, intitulado: Comemoración breve de los muy
insignes y virtuosos varones qu fueron desde el magnifico rey don juan I
hasta el muy esclarecido rey don alfonso quinto. Um texto de
propaganda da linhagem portuguesa de Avis. D. Pedro, como veremos, veio
a assumir pouco depois o trono de Aragão, opondo-se a João
II de Aragão.Mais
-
O Livro Vermelho de D. Afonso V (1471), entre as várias cidades do mundo
que são referidas, destaca-se Córdova. (Saul António Gomes, ob.cit.,p.150). quando, em 1475,
se casa com Dona Joana, a Excelente Senhora, proclama-se também rei de
Córdova. (idem,p.352).
- Isabel de Portugal -
Joana, a Beltraneja . Foi nesta cidade que Dona Joana
de Portugal se casou com Enrique IV de Castela (1455). A sua filha -
Dona Joana, a Beltraneja - foi impedida de ascender ao trono de Castela por
Isabel, a Católica, lançando Castela numa guerra civil.
Os nobres de Cordoba,
ligados aos marqueses de Villena, salientaram-se na defesa da causa da sobrinha
de D. Afonso V e depois sua esposa.
g ) Nobres de Córdoba
- Condes de Portocarrero (Portocarreiro em português). Familia portuguesa
do norte de Portugal, fugiu para Castela depois da batalha de Aljubarrota. Deram
origem aos Condes de Medellin ou Medelin. Foram
um dos principais apoios da causa de Dona Joana e de D. Afonso V à sucessão ao
trono de Castela. Estavam ligados a nobreza portuguesa e às Casa de Medina
Sidónia e de Medinaceli.
- Casa
de Aguilar, senhores de Cordoba.
Alfonso de Aguilar (ou Alonso de Aguillar), alcaide mayor de Córdoba, casado com uma filha dos Marqueses de
Villena,
com parentes em Portugal, colocou-se no inicio da guerra da sucessão
(1475-1479) ao lado de Dona Joana e de S. Afonso V.
Os Aguilar (Aguiar), eram nobre
de origem portuguesa que tiveram um papel destacado na batalha do Salado (1240),
assim como na conquista da Andaluzia. Fernando III, de Castela, deu a um dos
seus membros, o português - Gonzalo Yánés de Dovinal - o senhorio de Aguilar
de la Fronteira. Estes Aguiar ligaram-se
em Castela a outra família de origem portuguesa os Portocarreiro (Portocarrero
em castelhano).
- Condes de Cabra. Embora
tomassem o partido de Isabel, a Católica, contra D. Afonso V, estavam também
aparentados com a nobreza portuguesa. O primeiro era filho de uma portuguesa e o
filho do 2º. Conde, casou-se com uma portuguesa - Margarida de Lemos, filha dos senhores de Trofa,
dama da rainha Isabel (portuguesa), esposa de D. Henrique IV de Castela.
Por razões que ainda
desconhecemos, Colombo recebeu o seu primeiro sepultamento na capela dos Condes
de Cabra, em 1506, no convento de S. Francisco em Valladolid.
h ) Perseguições de Judeus e
Cristãos-Novos
Estando Colombo ligado aos judeus
e aos cristãos-novos de Porugal, aparentemente Cordoba era o pior dos sitios
que poderia escolher em Castela.
A sua população
salientou-se no século XV pela sua feroz perseguição e matança. Ainda estava
na memória colectiva a
matança de 1473, onde os conversos foram barbaramente assassinados. A
explicação para este facto está na posição que alguns nobres tiveram
perante estas chacinas:
- Luis Portocarrero salientou-se
pela defesa que fez dos conversos.
- Alfonso de Aguilar, em
1473, pegou em armas e procurou protegê-los ( 1 ).
Estes nobres estavam ligados a
Portugal, onde tinham parentes, nomeadamente na família da esposa de Colombo -
Dona Filipa de Perestrelo (conversa, Cristã-Nova).
Em resumo: Havia em Castela,
para Colombo, lugar
mais seguro e repleto de ligações a Portugal ? !
Tribunal do Santo Ofício
de Córdoba
Os
portugueses foram das principais vítimas do Tribunal do Santo Ofício de
Córdoba. Uma perseguição que lhes foi movida até ao fim da Inquisição em
Espanha. Mais
Carlos
Fontes
|