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Colombo, cavaleiro
da Ordem de Avis ?
Há
um acontecimento de enorme simbolismo que Colombo faz questão de registar no
seu Diário de Bordo: as bandeiras que foram mostradas quando aportou à América.
Uma era o estandarte real dos reis católicos, as outras tinham uma cruz
verde que era a sua divisa pessoal.
A Cruz Verde era o símbolo da
Ordem de Avis de Portugal. O facto nada tem de ocasional, muito pelo contrário.
Muitos são as ligações de Colombo a esta Ordem Militar, mas que nunca foi
estudada.
a)
Desembarque
No
dia do desembarque a 12 de Outubro de 1492, está escrito no Diário de
Bordo Colombo:
"y
el Almirante salió a tierra en la barca armada, y Martín Alonso Pinzón y
Vicente Anes su hermano, que era capitán de la Niña. Saco el Almirante la
bandera real y los capitanes con dos banderas de la cruz verde, que llevava el
Almirante en todos los navios por seña, con una F y una Y; encima de cada letra
su corona, una de un cabo de la cruz y outra de outro.".
As
letras, assim como o leão e a torre (símbolos de Castela) são uma das
imposições que os reis católicos passaram a fazer às bandeiras e brasões
dos nobres em Espanha. Estavam na bandeira de Colombo, não por sua vontade, mas
porque a tal era obrigado (5).
A
existência desta bandeira confirma a intenção de Colombo afirmar na
sua condição de estrangeiro, representante de outra nação.
Cruz
Verde de Cristovão Colombo (Cristobal Colon)
A
explicação das letras não tem gerado grande polémica, mas a Cruz Verde é um
verdadeiro enigma para os historiadores espanhóis, italianos e
norte-americanos. A verdade é que Las Casas e Hernando Colon repetem esta
descrição e assinalam sem qualquer margem de dúvida que a divisa de Colombo
era uma bandeira com uma cruz verde.
Conhecia Colombo o simbolismo desta
Cruz Verde? Sim, sem qualquer dúvida!.
Não apenas pelos combates que
realizou na Catalunha contra Fernando de Aragão, mas também pela sua longa
vivência em Portugal e ligações familiares.
Existiam
na época duas ordens militares fundadas em Portugal que tinham como símbolo uma cruz verde:
a Ordem de
Alcântara (Castelhana) e a Ordem de Avis (Portuguesa). A primeira só assumiu
este símbolo no século XV, a segunda sempre o teve. Para além do mais, a cruz
verde era o simbolo da dinastia reinante em Portugal, figurando na bandeira do
reino.
b)
Ordem de Aviz
A
Cruz Verde, no século XV, tinha um enorme significado
em Portugal. Era um dos símbolos, desde 1484, da nova dinastia real, a dinastia
de Aviz.
Colombo,
ao contrário dos historiadores actuais sabia perfeitamente a origem e
significado desta Cruz Verde.
Era
o símbolo da Ordem Militar de Avis, sendo a cor verde estabelecida em
1352, pelo papa Inocêncio 6º.
a pedido de D. Afonso IV (1 ).
D. João I
(1385-1432) separou-a formalmente da Ordem de Calatrava, à qual andava
ligada e que tinha uma uma cruz
vermelha. Este rei iniciou, como é sabido, uma dinastia conhecida como
"Dinastia de Avis" ligada desde o inicio à expansão e
descobrimentos.
O governo da Ordem, desde o primeiro
quartel do século XV passou para os principes da família real. O principe D.
João e futuro rei, assumiu o governo da Ordem de Avis desde 10 de Setembro
de 1468, por falecimento do condestável D. Pedro (filho do infante D. Pedro e
neto de D. João I) que até 1466 detinha o cargo. Quando faleceu D. Afonso V, em
1481, a Duquesa Dona Beatriz solicitou de imediato o governo da Ordem para o seu
filho D. Manuel (futuro rei) (15). D. João II não lho deu, continuando a
acumular o governo de duas ordens militares, a de Santiago e a de Avis, até
1491.
Cruz Verde.
A bandeira
portuguesa desde nos reinados de D. João I, D. Duarte (1433-1438) e D. Afonso V (1438-1481) e D. João II que tinham um escudo sobreposto a uma Cruz Verde.
O último rei, em 1485, após uma longa discussão decide retirar da bandeira de Portugal
a cruz verde (16).
Colombo
faz questão de ligar a tomada de posse das Indias (América) à Dinastia de Avis, afirmando deste modo a sua posse sobre o Novo Mundo. Um facto que até agora nunca
tinha sido assinalado e que demonstra, entre muitas outras coisas, a sua
portugalidade.
Bandeira
de Portugal. 1385-1484
Cruz
da Ordem Militar de Avis. Portugal
Bandeira
da República e da Cidade de Génova
A
forma da Cruz Verde tem variado conforme os vários artistas que a desenham. A
forma mais correcta é a que corresponde à forma da cruz da Ordem de Avis e de
Calatrava, e que aparece também no escudo do cavaleiro da ordem de Santiago que está a orar a Nossa Senhora da
Cinta, em Alcácer do Sal.
A
Bandeira de Colombo na História
Criptograma ?
. Colombo significa "pombo" (ave). O
Espírito Santo, constantemente por si evocado, é representado por uma pomba
(ave). Hernando Colón, na biografia do seu pai insiste em associá-lo à
simbologia das aves. Acontece que o nome da Ordem de Avis, deriva justamente de
Aves. Estaremos perante um criptograma com o qual pretendeu afirmar a sua
ligação à Ordem ou à própria dinastia de Avis? (2).
2.
Domínios da Ordem em Portugal
Vilas da Ordem de Avis: Aviz (1214),
Seda, Veiros, Figueira, Cano, Fronteira, Pavia, Mora, Cabeço de Vide, Sousel,
Casa Branca, S. Bento do Ameixial, Alter Pedroso (1249), Alandroal, Juromenha
(1176, 1242), Coruche (1176), Benavente, Alcanede, Albufeira, etc
2.1. Avis
A
célebre carta enviada por D. João II, para Colombo datada de 22 de Março de
1488, no qual o trata por "especial amigo" tem a indicação que foi
escrita em Avis. Pode tratar-se de uma simples coincidência, mas a
verdade é que o rei de Portugal fez questão de a enviar a partir da sede desta
Ordem militar cuja cruz tinha a mesma cor da de Colombo.
Segredos de uma
carta
A carta de D. João II
dirigida a Cristovão Colombo contém duas preciosas indicações: a data e
o local onde foi escrita.
Foi escrita em 1488 na
sede da ordem militar de Avis.
Há um facto que tem
passado despercebido aos historiadores que se tem debruçado sobe a
mesma: Neste ano, em Avis celebrou-se por ordem de D. João II, um dos
seus mais importantes capítulos desta ordem, durante o qual foram
tomadas medidas que reformaram o seu regimento interno. Por ordem de D.
João II, a mesma reforma foi aplicada à Ordem Militar de Santiago de
Espada.
Se Colombo fazia parte
desta ordem militar fazia todo o sentido que D. João II, mestre da
Ordem, o convocasse para o efeito. Na carta que lhe dirige, D. João II
autoriza a sua vinda a Portugal, garantindo-lhe total proteção,
tratando-o por "especial amigo".
"A
Christovam Collon noso espicial amigo em Sevilha.
Christoval Colon nos Dom Joham per graça de Deos Rey de Portugal e dos
Algarves daaquem e daallem mar em Africa Senhor de Guinee vos envyamos
muyto saudar; Vymos a carta que nos scrivestes e a booa vontade e
afeiçom que por ella mostraaes teerdes a nosso serviço vos agardeçemos
muito
E
quanto a vossa vynda ca certo assy pollo que apontaaes como por outros
respeitos pera que vossa industria. e bõo engenho nos sera necessareo
nos a desejamos e prazer-nos-ha muyto de virdes porque em o que a vos
toca se dará tal forma de que vos devaaes seer contente .
E
porque por ventura teerees alguum reçeo de nossas justiças por razam
dalguumas cousas a que sejaaes obligado, nos per esta nossa carta vos
seguramos polla vynda stada e tornada que nom sejaaes preso reteudo
acusado çitado nem demandado por nehuuma cousa ora seja civil ora crime
de qualquer qualidade .
E per
ella meesma mandamos a todas nossas justiças que ho cumpram asy .
E
portanto vos rogamos e encomendamos que vossa vynda. seja loguo e pera
ysso nom tenhãaes pejo alguum .
e
agardecer-vo-lo-emos e teeremos muyto em serviço scripta em Avis a xx
dias de Março de 1488 "
|
2.2.
Pavia
A
poucos quilómetros de Avis, sede da Ordem de Avis, fica a antiquíssima
povoação de Pavia, que estava integrada nos domínios desta Ordem Militar.
Hernando Colon afirmou que o seu pai iniciou os seus estudos em Pavia. Las Casas
foi mais longe e disse que o seu latim que era muito apreciado na História
Portuguesa de João de Barros..
Os
historiadores nunca associaram esta povoação alentejana a Colombo, por isso
pensaram tratar-se de uma cidade italiana com o mesmo nome. Acontece que em
Pavia (Itália), nomeadamente na sua universidade, nunca
foi encontrado o mais pequeno registo da presença de alguém com um nome
semelhante a Colombo nos séculos XV e XVI.
É
conhecida a devoção de Colombo por São Salvador. Acontece que na vila
alentejana, num lugar ligado aos cavaleiros da Ordem de Avis, existe desde o
século XIV uma famosa capela dedicada a São Salvador do Mundo.
Esta
povoação, como veremos, pertenceu a um dos conspiradores de 1484 -
Fernão
da Silveira -, que viveu com a familia em Sevilha e depois se refugiou
em França. Garcia de Resende, como veremos, afirma que foi morto pelo Conde de
Pallars.
2.3. Benavente
No
regresso das Indias (América), Colombo dirigiu-se primeiro para os Açores e
depois para Lisboa. Após desembarcar fez uma longa viagem ao longo do Rio Tejo
para uma região que confinava com os domínios da Ordem Militar de Avis.
3. Infante D. Fernando, O Infante Santo
D.
Fernando (1402-1443),era da especial devoção de Colombo. Acontece que este "infante
santo" foi mestre da Ordem de Aviz. A bandeira pessoal deste Infante tem
a Cruz Verde. O seu culto religioso foi aprovado em 1470.
Bandeira
pessoal do Infante D. Fernando, com a sua divisa «Le bien me plaît».
4. Tendências da Ordem de Avis
Entre
os nobres ligados à Ordem de Aviz, no século XV, desenha-se uma tendência política que
protagoniza uma forte intervenção nos acontecimentos internos dos reinos de Castela e
Aragão.
As conspirações de 1483 e 1484 contra D. João II, acabará por
reforçar esta tendência política quando fugiram para Castela um grupo numeroso de nobres, entre os quais se
contava Colombo.
Em
Castela estes nobres portugueses colocam-se aos serviço dos reis católicos,
mostrando-se dispostos a lutarem para acabar com o Tratado de Alcaçovas-Toledo
(1479/80) que impedia os castelhanos de terem acesso aos domínios africanos
controlados pelos portugueses.
5. D. Pedro, Condestável de Portugal, Mestre da Ordem de Avis
e Rei de
Aragão
O
iniciador da corrente intervencionista da Ordem de Avis foi o seu mestre - D.
Pedro (1429-1466),
5º.
Condestável de Portugal (1443-1449), alcaide-mor da Guarda, Rei de
Aragão (1464-1466), com o nome de com o nome de Pedro V (Pedro
IV da Catalunha, Pedro
III de Valência). Foi o grande construtor da sede
dos edifícios da Ordem de Aviz, na vila alentejana com o mesmo
nome.
Era filho do Infante D.
Pedro, Duque de Coimbra (4 ) e regente de Portugal (1439-1449), morto
na Batalha de Alfarrobeira (1449), e de
Isabel de Urgel e Aragão, filha
de Jaime
II de Urgel.
Com
apenas 16 anos de idade já conduzia milhares de portugueses nos campos de
batalha, nomeadamente em Castela e Aragão.
Entre as intervenções em Castela,
destacam-se as seguintes: Em Março-Abril de 1444, as forças miliares da Ordem de
Avis são postas ao serviço do mestre de Alcantara, quando o infante de Aragão D.
Henrique ameaçou Sevilla. No ano seguinte, D. Pedro, participa na batalha de
Olmedo (sul
de Valladolid
) para apoiar o monarca
castelhano.
Pouco antes da Batalha de
Alfarrobeira (1449), desloca-se para Valência de Alcantara (Castela), esperando
aí encontrar apoio da milícia da Ordem de Alcantara para invadir Portugal. Na
sequência desta batalha, em que o seu pai é morto, refugia-se em Castela e
Aragão, fazendo-se acompanhar de muitos outros
portugueses, como Diogo de Azambuja.
É
neste período de exílio castelhano que estabeleceu contactos muito estreitos com
cavaleiros da Ordem de Calatrava, como Pedro
Diaz de Toledo.
Datam também deste período importantes
suas obras em
castelhano: Coplas del Menosprecio e Contempto de las Cosas Fermosas del
Mundo, La Sátyra de Felice e Infelice Vida; La Tragedia de la Insigne
Reina Doña Isabel, etc. Estas obras revelam o crescente domínio e
utilização do castelhano por uma elite intelectual portuguesa. Colombo, neste
aspecto fazia parte da regra, não constituía nenhuma excepção.
D.
Afonso V, a partir de 1450, inicia o perdão de todos os que haviam tomado o
partido do Infante D. Pedro. É neste contexto que lhe é devolvido o governo do mestrado de
Aviz (1453), assim como numerosos privilégios.
A Ordem de Avis
tornou-se, nas palavras de Baquero Moreno, na principal
"sensibilidade" ou grupo de pressão pró-castelhana na sociedade
portuguesa de quatrocentos.
D.
Pedro permaneceu em Castela, onde participou nas negociações do casamento da
infanta portuguesa Dona Joana com Henrique IV de Castela (Maio de 1455), e toma
parte na tentativa de conquista de Granada (1455). Era então uma personagem
muito influente na corte castelhana, não apenas em termos políticos, mas também
culturais (10). Para al´m do português, expressava-se com grande domínio em
castelhano e catalão.
Regressou
a Portugal em 1456, tendo participado em várias conquistas no Norte de África:
Alcácer Ceguer (1458), Tanger (1460).
Apesar de ausente de Castela e
Aragão, D. Pedro continuou nestes reinos como um grande mecenas. Em 1462, Afonso de Córdova,
por encomenda do mestre de avis, publica um escrito onde advogava a aproximação de Portugal
de Castela e Castela, intitulado: Comemoración breve de los muy
insignes y virtuosos varones qu fueron desde el magnifico rey don juan I
hasta el muy esclarecido rey don alfonso quinto. Um texto de
propaganda da linhagem portuguesa de Avis difundido em Castela.
Após a morte de Henrique IV de Castela, D. Pedro emerge como um dos sucessores
ao trono de Aragão.
As instituições catalãs, em 1462, recusam o mais forte dos candidatos ao trono
-Juan II de Aragão e desencadeia-se uma guerra civil (1462-1472).
Em 1463,
o Conselho dos Cem, oferece a coroa a D. Pedro, que aceita.
No ano seguinte,
volta à Catalunha, onde desembarcou a 21/1/1464 em Barcelona, para
assumir-se como Rei de Aragão e Conde de Barcelona.
Levou consigo um numeroso grupo de portugueses
(navegadores, corsários, cavaleiros, etc), entre os quais se destacavam os que
pertenciam à A Ordem de Avis.
D.
Afonso V não tarda em afastá-lo do governo da Ordem, mas D. Pedro protestou
nomeadamente porque pretendia continuar a usar os recursos económicos desta
Ordem Militar nas suas acções na Catalunha.
Morre a 29/6/ 1466 na localidade de Granollers, no palácio de João de Montbuy, estando sepultado na Catedral de
Santa Maria del Mar em Barcelona.
O
controlo da Ordem de Aviz, acabou por ser integrado na Corte. D. João II deu o
mestrado da Ordem ao seu filho bastardo - D. Jorge de Lencastre (3) -, mas as
relações desta com Castela não terão desaparecido.
5.1.Corte
de D. Pedro de Portugal na Catalunha
D. Pedro, como dissemos, levou para
a Catalunha, em 1464, mais de meio milhar de navegadores, corsários e
experientes militares, muitos dos quais estavam ligados à Ordem de Avis (9).
Entre os nobres que o acompanharam
destacam-se, por exemplo:
- Fernão Teles de Meneses
(Fernão Silva). Cavaleiro da Casa do Duque de Beja-Viseu. Entrou em Tortosa,
a 11/7/1464, à frente de 500 cavaleiros. Foi capitão-geral da região pirenaica e
da região de Ampurdão. Dona Isabel, Duquesa de Borgonha, enviou também em apoio
de D. Pedro, parte da armada que para ajudar a levantar o cerco a Ceuta (11)
- João da Silva, capitão e
vila e do Condado de Castellon de Ampurias. Embaixador de D.Pedro em Inglaterra.
Irmão de Fernão Silva, ambos eram filhos do vedor da fazenda Aires Gomes da
Silva.
- João de Abranches, filho de
Alvaro Vasques de Almada. Capitão e governador das vilas de San Boy e de San
Vicente de Horts. Casou-se, em Outubro de 1464, com Leonor, irmão do Conde de
Pallars (Conde Palhais).
- Pedro de Eça, alcaide-mor
de Moura. D. Pedro confiou-lhe a defesa de Lérida e depois de Barcelona.
- Gil de Ataíde, filho de Alvaro de
Ataíde. Capitão-geral de Manresa, Sampedor e Gallent.
- Pero Vaz de Sequeira, cuja família
estava ligada à Ordem de Avis. Era o governador da Casa do Condestável.
- Alvaro Campos, alcaide do
Alandroal.
- Diogo Raposo, capitão-geral de
Llobregat
Entre os muitos corsários
portugueses, contaram-se homens como:
- Soeiro
da Costa, alcaide de Lagos, A longa experiência deste corsário, que
participou na conquista de Ceuta (1415) e Arguim (1443), era uma dos seus
elementos fundamentais para dominar a região.
- Pedro
de Ataíde, cavaleiro da
Ordem de Aviz. Um dos mais famosos corsários portugueses
- Rodrigo
Sampaio, cavaleiro da Ordem de Aviz .
- Diogo de Azambuja,
cavaleiro da Ordem de Aviz. Colombo,
como veremos, teve contactos muito próximos com Diogo de Azambuja. Este
ilustre navegador de Montemor-o-Velho, esteve muito unido ao Infante D. Pedro,
tendo-se batido pela sua causa na batalha de Alfarrobeira (1448). Exilou-se depois em
Castela, com D. Pedro, mestre de Avis. O rei D.
Afonso V, pediu-lhes para regressarem a Portugal, tendo ambos participado na
batalha de Alcácer Ceguer (Marrocos). O rei nomeia-o para o Conselho do
Rei, deu-lhes as Comendas de Cabeço de Vide e Alter Pedroso, e fez dele
cavaleiro da Ordem de Avis. Em
1481 o rei D. João II confia-lhe o comando geral da expedição enviada para o
golfo da Mina e com a incumbência de aí construir uma fortificação onde se
transaccionasse o ouro, a malagueta e mesmo escravos. Colombo, afirma que
esteve no castelo da mina nesta altura.
Ainda
no reinado de D. João II foi nomeado para vedor-mor dos armazéns do Reino, e
no reinado de D. Manuel I construiu no Norte de África as fortalezas de Mogador
e Safim, tendo sido exercido as funções de governador . Recorde-se a
especial preocupação de Colombo, em 1500, que fossem vendidas, pelos
espanhóis, armas aos mouros que cercavam Safim.
Mais
5.2. Apoiantes de D.Pedro de Portugal na
Catalunha
A recepção de D. Pedro na Catalunha
esteve longe de ser pacífica. A região vivia desde 1462 num clima de guerra
civil, onde se digladiavam várias facções. Esta foi uma das razões porque só a
média nobreza portuguesa o acompanhou.
Francesc Colom.
Foi um dos grandes defensores
da causa de D. Pedro de Portugal. Franciscano, diácono de Vallés, Barcelona ,
foi o presidente da Generalitat da Catalunha entre 1464 e 1467. Um feroz
opositor a Juan II de Aragão, pai de Fernando de Aragão.
Quando D. Pedro faleceu em
Granollers, fez questão de acompanhar os seus restos mortais até à catedral de
Santa Maria del Mar, onde se encontra sepultado. Alguns historiadores catalães
têm procurado sustentar que um irmão de Francesc Colom seria Cristovão Colombo.
A sua ligação a Portugal dataria do reinado de D. Pedro.
Conde de Pallars Sobira (Conde de Palhais)
- Hugo Rogers III
(1436-1503). Após a morte do Principe de Viana, veio a apoiar a causa de D.
Pedro de Portugal. Casou a sua irmã, como vimos, com um dos capitães do
Condestável.
Depois da morte do Condestável de
Portugal, passou a lutar pela anexão da Catalunha por Luis XI, apoiando
Renato d`Anjou contra D. Juan II de Aragão e o seu filho Fernando.
Sem grandes apoios acabou por se refugiar em França.
Garcia de Resende, afirma que, no
dia 8 de Setembro de 1489, o conde de Pallars (Palhais) a mando de D. João II, matou nas ruas de Avignon, Fernão da Silveira,
um dos conspiradores contra o rei em 1484. Devido a este assassinato, Hugo Roger
teria sido preso, mas graças à intervenção de D. João II acabou por ser
libertado. Atendendo ao poder deste conde é pouco natural que tenha sido o
próprio a matar Fernão Silveira. A história demonstra todavia que as suas
ligações à corte portuguesa continuavam a ser muito intimas.
Sem nunca abandonar a luta
Hugo Rogers
acabou por ser preso, a mando de Fernando de Aragão, tendo falecido na prisão de
Játiva (1503).
Foi desta forma que acabou o mais antigo condado da Catalunha - Pallars Sobira.
5.3. Continuação da Guerra
Os vencidos na guerra contra Juan II
e Fernando de Aragão, não se deram por vencidos e ao longo dos anos vão procurar
mostrar a sua superioridade e vencê-la até no plano simbólico.
Apoio a Renato de Anjou
Depois da morte de D. Pedro de
Portugal, em 1466, muitos portugueses regressaram a Portugal, outros permaneceram na Catalunha passando a
apoiar a causa de Renato de Anjou ao trono de Aragão, contra Juan II.
Entre os
que fizeram parte deste combate, conta-se justamente Cristovão Colombo,
como ele próprio o diz orgulhosamente.
Mais
Humilhação de Alonso de Aragón
D.Juan II e o seu filho Fernando de
Aragão, acabaram por ganhar a guerra. Antes de Hugo Rogers III ser preso, ainda
houve tempo para um acontecimento insólito envolvendo D. Diogo de Bragança, Duque de Beja-Viseu,
mestre da Ordem de Cristo (Portugal).
Alonso de Aragón (1417-1485),
1º. Duque de Villahermosa, filho bastardo de D. Juan II de Aragão, por isso meio-irmão de
Fernando, o católico ( 13 ), com 60 anos, resolveu casar-se com uma jovem de
origem portuguesa - Dona Leonor de Sotomayor y Portugal
(12). Mais
Alonso de Aragón
era uma das figuras mais poderosas de Espanha. Fora nomeado,
em 1443, mestre da Ordem de Calatrava,
mas depois desapossado por ter lutado contra os castelhanos (1445). Em 1468 foi nomeado
conde de Ribagorza e depois Duque.
Pouco antes do seu casamento com
Leonor, em 1477, eis que o jovem mestre da Ordem de Cristo parte para Valência, e num
rápido encontro amoroso engravida Leonor.
Desta relação adulterina de
Diogo e de Leonor nasceu D. Afonso, que acabou por ser trazido para Portugal,
onde foi entregue aos
cuidados de Antão Faria. D. Manuel I reconheceu-o como sobrinho (1495),
nomeou-o condestável do reino (1500), tendo-o casado com Dona Joana de Noronha,
irmã do 2º. marquês de Vila Real. Morreu em 1504, na mais completa obscuridade.
O Duque apesar de traído por Leonor,
acabou por se casar. Fernando de Aragão, dito o Católico, como
recompensa por ter aceite a traição da jovem esposa, deu-lhe o vice-reinado de Aragão
(1481).(14)
No século XVI, este casamento foi objecto de uma
teatralização, sendo justificado como uma estratégia para atrair à causa dos
reis católicos os nobres castelhanos que haviam tomado o partido de D. Afonso
V.
Qual o sentido da
"missão" em Valência do Mestre da Ordem de Cristo? Procurar impedir o
casamento? "Vingar", sob a forma de um
adultério, a morte de D. Pedro ? Humilhar o antigo mestre da
Calatrava ? Mostrar que mesmo em Valência, que se manteve sempre fiel a Juan II
de Aragão durante a guerra com D. Pedro, os portugueses eram capazes de fazer das suas?
Não deixa de ser significativo
que o tio
de Leonor de Sotomayor y Portugal - Diogo de Azambuja, cavaleiro da
Ordem de Aviz - tenha sido uma das duas pessoas que assistiu em
Setúbal ao assassinato de Diogo de Bragança. Recorde-se
que foi na sequência desta conspiração, em 1484, que Colombo fugiu para Castela, na
versão do seu filho Hernando Colón.
Capitulações de Santa Fé
A humilhação feita por Diego de
Bragança, ao meio irmão de Fernando, o católico, não ficou por aqui.
Também Colombo procurou humilhar os
grandes de Espanha, reclamando para si os mesmos títulos e privilégios, que
acabaram consagrados nas célebres Capitulações de Santa Fé (17/4/1492). Um
suposto "tecelão genovês" exigiu todos o privilégios a que tinham direito os
principes de Castela e Aragão !.
Se os reis católicos lutavam por
centralizar o poder, acabando com os privilégios dos grandes senhores feudais,
Colombo exige para si próprio esses mesmos privilégios feudais. Desta forma
opunha-se à política dominante.
O título de Almirante que Colombo
reclama para si, tem segundo ele, como referência os mesmos privilégios de "Don
Alonso Enríquez, Almirante de Castilla", filho bastardo de Enrique de Castela.
Alonso foi o bisavô de Fernando, o católico. O ataque à figura do rei de Aragão não podia ser mais
directo.
O título de "Visorrey" ou "Virrey" (Vice-Rei),
existia em Aragão, permitindo ao seu detentor exercer o poder como um verdadeiro
rei. Pois, foi este mesmo título que Colombo exigiu também para si - Vice-rei
das Indias !.
O título de "Governador general", existia também
em Aragão, sendo reservado para o primogénito do Rei. Colombo também o exigiu
para si.
A própria negociação das
Capitulações, que ocorre a partir do verão de 1491, pouco depois do falecimento
do principe português - D. Afonso -, é feita pelo frade português -
João Peres de
Marchena - como um ultimatum. Ou os reis espanhóis aceitam
exigências de Colombo, ou este vai apresentar a sua ideia ao rei de França.
Como é sabido, Fernando de Aragão
sentiu estas exigências de Colombo como uma afronta, procurou controlá-las
através dos seus burocratas na corte, acabando por ficar com a documentação oficial das
Capitulações (14).
O acto supremo da afronta aos reis
espanhóis, ocorreu a 12 de Outubro de 1492. Quando chegou às Indias, mandou
exibir a sua bandeira pessoal - a Cruz Verde -, o símbolo da Ordem
Militar de Avis de D. Pedro, Condestável de Portugal e rei de Aragão. Também
Colombo, a seu modo, vingou a morte de D. Pedro em 1466.
A sua guerra contra os reis aragoneses e
castelhanos, assume desta forma, uma dimensão de grande simbolismo.
c)
Ordem de Alcântara
A
Ordem de Alcántara até 1297, quando foi celebrado o Tratado de Alcanices,
contou nos
seus domínios povoações portuguesas como Sabugal, Alfaiates
ou Segura. A fronteira até esta altura era muito difusa,
nomeadamente em termos de costumes e língua.
As
povoações atrás referidas estão directamente ligadas aos
Albuquerques
de Angeja, envolvidos nas conspirações de 1484. Um facto que aponta o profundo significado que
Colombo pretendeu atribuir a esta Cruz Verde. Na verdade, a
Cruz Verde, no século XV, podia ser também associada
à Ordem Militar
de Alcántara.
No
Século XII, D. Afonso Henriques e os reis de Leão e Castela procuravam dominar
a região junto ao Rio Côa, conhecida por Ribacoa ou Riba-Côa.
Neste sentido,
cavaleiros vindos de Salamanca fundaram em meados do século XII, na
proximidades do Rio Coa, em S. Julião do Pereiro, no concelho de Pinhel
(Portugal), uma
comunidade de monges- cavaleiros, que depois do século XIII deu origem à Ordem de
Alcântara. Adoptaram a regra de Cister, e estavam ligados ao Convento
de Santa Maria de Aguiar, em Figueira de Castelo Rodrigo (Portugal).
O objectivo
desta Ordem era, em princípio, o combate contra os muçulmanos, mas na prática acabou por
funcionar como um meio dos leoneses e depois dos castelhanos tentarem impedir a expansão do reino de
Portugal para o interior da Península Ibérica . O seu espaço de actuação
da Ordem esteve praticamente centrado na raia entre Portugal e
Espanha (6).
A
sede, acabou por se fixar em Alcântara (1214), mesmo junto à fronteira de
Portugal, o que era visto como uma constante ameaçada.
Os
cavaleiros portugueses desde o inicio infiltraram-se nesta Ordem provocando
frequentes divisões internas e traições. Alguns exemplos:
-
Entre 1312 e 1318 - Rui
Vaz de Castelo Branco -, grão mestre português, alcaide da Covilhã e do
Monsanto, tomou abertamente o partido por Portugal, o que levou os cavaleiros
castelhanos a cercá-lo, apoiados pelo grão-mestre da Ordem de Calatrava.
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Em 1338 o grão mestre - Gonzalo Martinz de Oviedo - ,
ofereceu a D. Afonso IV, rei de Portugal importantes povoações castelhanas
- Alcantara, Santibánez, Alto e a Torre de Piedrasbuenas - pretendendo
fixar aí a fronteira portuguesa (7). Os alcaides destas povoações, terão
acatado as ordens do mestre traidor.
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Durante
a revolução de 1383/85, entre os fidalgos portugueses que tomaram o
partido dos castelhanos, conta-se Martim Anes de Barbuda (Martín Yañez
de la Barbuda), cavaleiro da Ordem de Avis, comendador de Pedroso. Fugiu para
Castela, sendo em 1384 nomeado Grão-Mestre da Ordem de Alcantara e "merino mayor
entre Tajo y Guadiana".
Numa acção suicida contra a vontade do rei de
Castela, em Abril de 1394, resolveu atacar o Reino de Granada,
morrendo junto às portas de Baeza com centenas de outros cavaleiros
castelhanos. Este acto de completa loucura, favorecia os interesses de Portugal que se encontrava em
guerra com Castela. Encontra-se sepultado na igreja maior de Alcântara.
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No
século XV, ocorrem novas manifestações nesta Ordem a favor de Portugal. Após
a morte de Enrique IV (1474), Alonso de Monroy (1436-1511), prior
do Convento de de San Benito de Alcantara, que conseguira fazer-se eleger
mestre (1472), toma o partido de D. Afonso V contra os reis católicos. Acaba
por ser preso, mas consegue fugir.
O
seu principal inimigo - Juan de Zúñiga - apossa-se do mestrado, em 1480, e inicia
uma luta feroz contra a facção pró-portuguesa. Em 1492 irá destacar-se
no saque dos judeus da extremadura espanhola, em particular da
família do judeu português Isaac
Abranavel residente em Palência.
A
Ordem, em 1492, foi integrada na corte espanhola, estando na altura
completamente decadente, tantas haviam sido as suas divisões internas devido
aos conflitos com Portugal.
Cruz
da Ordem de Alcantara
A
Ordem só passou a usar a cruz
verde, em 1410 (autorizada pelo Papa Bonifácio XIII), numa altura que realizava
uma enorme aproximação à Dinastia de Avis.
Pedro Diaz de Toledo
No
dia 20 de Janeiro de 1486, Pedro
Diaz de Toledo, a mando da rainha Isabel, a católica, e na presença do Doutor
de Talavera não apenas dá a Colombo trinta doblas (moedas de ouro), como
lhe atribuiu a nacionalidade portuguesa. Trata-se do único documento oficial
das cortes de Castela, de Aragão ou espanhola em que tal acontece.
Meses
depois, Pedro Diaz é nomeado bispo de Málaga. No repovoamento desta cidade,
estão envolvidos um grande número de portugueses, mas o facto mais
interessante é o brasão deste novo bispo: no canto superior esquerdo aparece a
Cruz da Ordem de Calatrava. Recorde-se que a Ordem de Avis, esteve unida
à Ordem de Calatrava até ao reinado de D. João I.
Temos
ainda uma coisa mais esclarecedora: Pedro Diaz, privou com o Condestável D. Pedro de
Portugal. Foi o autor do primeiro tratado
castelhano de crítica literária, intitulado a "Carta proemio al
Condestable Pedro de Portugal". Recorde-se, uma vez mais, que D.
Pedro de Portugal era mestre da Ordem de Aviz.
Recordemos
que Rodrigo Telléz Girón
(1456 -1482 ), mestre de Calatrava, assim como Juan Telléz de Girón (Conde
de Ureña) apoiaram a causa de Dona Joana (Beltraneja) e de D. Afonso V
contra Isabel, a Católica. Por este facto Rodrigo acabou por ser afastado do cargo de
mestre de Calatrava.
Todas
estas personagens, incluindo Colombo, sabiam perfeitamente distinguir o
simbolismo da Cruz Verde (Ordem de Avis) da Cruz Vermelha (Ordem de Calatrava).
As bandeiras que Colombo levou consigo são claras quanto à mensagem que
pretendem transmitir.
Carlos
Fontes Cavaleiro
da Ordem de Santiago ?
Cavaleiro
da Ordem de Cristo ?
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