João
Peres de Marchena ( ou António de Marchena)
Frade
português (faleceu antes de 1513), cujo nome está associado ao Mosteiro de la Rabida
da Ordem de S. Francisco, perto
de Palos (Huelva).Em Portugal existe um convento da mesma
Ordem, e com conhecido pelo mesmo nome na serra da Arrábida (Setúbal).
Não está estudada a relação entre
estes dois conventos franciscanos.
Manzano
y Manzano sustentou que, em 1485, este frade português estaria no Convento de
Arriçafa (Azurrafa), em Córdoba (5). Em data indeterminada foi para o Convento
de la Rabida, onde entre o Outono de 1491 e a primavera de 1492 se encontrou de
novo ( ? ) com Colombo.
A
presença de portugueses neste convento, no século XV, não está estudada. No
século XVI foram já registados pelo menos dois.
João
Peres era cosmógrafo e fora um antigo confessor de Isabel, a
Católica (3), tendo sobre a mesma uma certa autoridade, nomeadamente para a
convencer a apoiar o projecto de Colombo. Entre 1485 e 1491 é apontado
como o guardião deste pequeno convento ou hospício. Em 1499 foi elevado a "Vicario
y Custodio de Sevilla, de la Observáncia de San
Francisco".
a
) Português
Em
1530, o cronista da Ordem
de Nuestra Señora de la Mercês - Alonso
Remón -, referindo-se a este frade, não tem dúvidas em o identificar
como "português de nascimento, conhecedor de cosmógrafia" ( 1
). Estamos perante uma testemunha credível que conheceu tanto Colombo, como
Frei Juan Peréz.
Alonso
Remón afirma que Colombo conheceu este frade em Portugal, o que justifica o
facto de dele se dirigir ao seu encontro na Andaluzia (4).
Outra
testemunha, o médico de Palos - García Hernández -, no processo do "Pleyto
con la Corona" (1515), afirma que Colombo vindo da "Corte da corte de Sua
Alteza", dirigiu-se ao Convento de la Rábida, falou com o frade João
Peres numa lingua e disposição estranha aos da terra. A lingua que
usaram era naturalmente o português, o testemunho reporta-se a 1485 ou
1491.
b
) Espião
"Este
Fraile fué la persona sola de aquesta vida, à quien Colón más comunicó de
sus secretos". Oviedo, Hist. General y Natural das Indias, Tomo I, Cap.V.
O
que faria este frade cosmógrafo, desde pelo menos 1484, num humilde convento franciscano junto a um
porto marítimo (Palos), na fronteira com Portugal e onde este tinha tinham
evidentes interesses estratégicos? A resposta é simples: espiar os movimentos
dos navios castelhanos.
Uma
das provas desta situação é dada pelo médico García Hernández, no já
citado processo quando afirma que este frade "convenceu Colón a fazer
saber que o Rei D. Juan II de Portugal não concordava com o que ele tinha a
dizer". Colombo teria sido instruído sobre como se devia apresentar, o que
dizer na Corte de forma a tornar o seu projecto convincente.
O
projecto de Colombo era também o de Frei Juan Perez, na carta que estes lhe
escreveu em 1491 afirma claramente que havia convencido Isabel, a católica, o
apoiar o "nuestro" projecto (5). Não se assume como um simples
negociador, mas co-autor da ideia.
Após
o regresso de Colombo a Castela na sua 1ª. viagem, a 15
de Agosto de 1493, uma das primeiras coisas que fez foi reunir-se
com este frade durante 15 dias no Mosteiro de la
Rábida para prepararem os planos que este deviria apresentar aos reis de Espanha.
c)
Perito em Cosmografia
Colombo
afirma explicitamente que durante sete anos (1485-1492) João Peres de Marchena
foi o único que o compreendeu verdadeiramente, deixando-nos um testemunho
eloquente:
"Já
sabem Vossas Altezas, afirma aos Reis Católicos, que andei sete anos na sua
corte, importunando-os por isto; nunca em todo esse tempo se achou piloto nem
marinheiro, nem filósofo, nem de outra ciência, que todos não dissessem que a
minha empresa era falsa; que nunca achei ajuda de ninguém, salvo de Fr.
António de Marchena, depois daquela de Deus eterno" (2).
d
) Negociador
Era
enorme a autoridade deste frade português na Corte de Castela, e por diversas
vezes foi decisivo na tarefa de convencer a rainha a embarcar no logro de
Colombo. Há pelo menos dois momentos em que a sua influência foram
decisivos na negociação do projecto:
Em
1491, quando o projecto parecia perdido, Colombo reuniu-se com João Peres de
Marchena no Convento. O frade resolveu usar toda a sua influência junto de
Isabel, a Católica e enviou-lhe uma carta. Passaram 14 dias e a rainha manda
chamar o frade que "partiu secretamente", segundo García Hernández.
"Depois de ouvir o frade, a Rainha (...) enviou vinte mil maravedís, os
quais Diego Prieto (alcaide da Vila de Palos), para que os desse a Cristovão
Colón (...) para que se vestisse honestamente e aparecesse diante de Sua
alteza, para consultar tudo o acima dito" (idem).
Foi
ele, como representante de Colombo que negociou as Capitulações (Abril
de 1492), com Juan de Coloma, representante dos reis
católicos.
No
regresso a Palos, depois das capitulações, ajudou igualmente a desfazer a
resistência que Colombo encontrou para arranjar duas caravelas e tripulantes,
convencendo Martin Alonso Pinzón.
e )
Educador
A
história contada por Hernando Colon é de todo inverosímil, quando afirma que
o seu pai depois de sair a Portugal, dirigiu-se ao Convento de la Rábida para
confiar o seu filho primogénito Diego Colon à guarda de Fray Juan Peres de
Marchena, durante seis anos.
É
preciso dizer que no século XV, La Rábida era mais um hospício do que um
Convento, e não teria grandes condições para albergar durante tanto tempo uma
criança e ainda por cima cuidar da sua educação. Em todo o caso, esta
situação parece pressupor relações anteriores entre Colombo e o frade.
O
que é mais natural é que Colombo tivesse entregue o seu filho à sua
cunhada - Dona Violante Perestrelo -, que vivia perto do Convento e combinasse
com o frade, a forma como este lhe daria a instrução básica. Foi
provavelmente isto que aconteceu.
Colombo
não se terá demorado em 1485 muito tempo em Huelva, pois partiu pouco depois
para Sevilha onde estava a maioria dos portugueses. Voltou ao convento no Outono
de 1491,
para combinar a estratégia a seguir com Frei João Pares de Marchena.
O
seu filho Diego foi enviado para Córdoba, poucos meses antes de embarcar para as
Indias, e entregue à sua amante - Beatriz Enriquez -, da qual teve um filho ilegitimo Hernando
Colón.
f
) João Peres de Marchena ou António de Marchena
Estamos
perante uma ou duas pessoas ? Referências imprecisas feitas em momentos de
João Peres deram origem a uma confusão sobre a mesma pessoa. Juan Perez era o
nome verdadeiro deste frade, mas quando entrou na Ordem adoptou o nome de
António, como o santo António de Lisboa (Fernão de Bulhões). O assunto foi
esclarecido no século XVI, por Lopez de Gomara (Hist.General de la Indias,
parte I ).
A verdade é que o historiadores espanhóis sabendo que Juan Peres
era português, procuram desde finais do século XIX criar um personagem
fictícia chamada "António de Marchena", também "astrólogo".
Carlos
Fontes
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