Condes
de Caminha
(Conspiração contra D. João II ?)
O que levou Teresa de Távora, Condessa de Caminha, a refugiar-se em Espanha ? Provavelmente para
conseguir protecção para os seus filhos, depois da morte de Pedro Alvares de Sottomayor,
mais conhecido por Pedro Madruga (1486). Recaia sobre as sua família
suspeitas de estar ligada aos conspiradores.
O seu filho Alvaro de Sottomayor foi detido em Lisboa, em 1486, sob a suspeita de estar a conspirar
contra o rei. O denunciante, um castelhano, acabou por ser morto em Santarém. Muitos
dos conspiradores contra D. João II eram seus parentes como Alvaro de
Bragança. No seu exilio em Sevilha, a Condessa
frequentava o Convento de Santa Paula e a casa da sua parente a Marquesa de
Montemor-o-Novo sua parente (16).
Os Sottomayor, como veremos,
aparecem ligados das formas mais diversas a Colombo e à sua familia.
a)
Família Sottomayor Luso-Galega
Estamos
perante uma familia lusa-galega, que na 2ª.
metade do século XV se destacou pelo seu envolvimento na defesa dos interesses portugueses em
Castela, tendo-se ligado aos Tavoras (Douro e Trás-os-Montes). Na
Galiza muito se tem escrito sobre a ligação dos Sotomayor e Colombo. O que era
afinal este ramo dos Sotomayor ?
A sua principal figura é Pedro Alvares de Sottomayor (1420-1486), mais conhecido por
Pedro Madruga
,
que veio a ser o 1º. Conde de Caminha, título que lhe foi atribuído em 1475 por D.
Afonso V, rei de Portugal.
Era filho ilegitimo de Fernán Eannes (o Yáñez) da
Casa de Sotomaior (Galiza), tendo-se apossado
da casa paterna, não tardou a assumir-se como um grande senhor feudal. Durante largos anos
dominou toda a região sul da Galiza, contando com o apoio de milhares de
portugueses.
As suas incursões na Galiza partiam quase sempre do Minho (Portugal), como
aconteceu na primavera de 1469, quando à frente de cem lanceiros e dois mil
peões aí entrou para combater a revolta dos "Irmandiños". Durante a guerra entre Castela e Portugal (1475-1479), tomou o partido do rei
português, tendo participado na batalha de Toro (1476).
Pedro Madruga revelou-se um astuto
guerreiro. Era cavaleiro das Esporas Douradas, mas também da Ordem de
Cristo e de Santiago.
D. João II, depois de 1481, continuou a
apoiá-lo nas lutas que trava na Galiza, embora de forma mais discreta.
Apesar apoio dos reis portugueses,
os sucessivos conflitos em que se envolveu, colocaram em causa a sobrevivência
da própria familia em Castela.
Em 1483 toma a decisão fatal de nomear o seu filho
primogénito -
Alvaro de Sottomayor - como sucessor, o qual não tarda em tomar posse do castelo de Sottomayor na
Galiza.
Pedro Madruga sentindo-se traído pelo
próprio filho, resolve
procurar apoios em Castela para aí recuperar os seus domínios, acabando por ser morto em Alba de Tormes (Salamanca),
a 11 de Abril de 1486.
Inúmeras problemas se irão levantar com a sua sucessão,
os quais só terminarão, em 1795, quando os bens
da familia Sotomayor forem transferidos para o Marquês de Mós.
1. Senhores de Mogadouro e de Távora
Pedro Madruga teve várias
mulheres (1), sendo a mais conhecida e de mais elevado estatuto - Teresa de Távora
(? -1509) - 1ª Condessa de Caminha, filha de
Alvaro Pires de Tavora (-1474), 2º. Senhor de Mogadouro e da Casa dos
Távoras, Alcaide-mor de Miranda
(3), e de Leonor da Cunha (10), filha de Alvaro da Cunha, senhor de
Pombeiro.
Não era a primeira vez que
Alvaro Pires de Tavora acolhia na sua casa um nobre castelhano. Por ordem de D.
Afonso V, em 1449/50, recebeu na sua casa Afonso Pimentel, Duque de Benavente,
quando este se refugiou em Portugal (11).
Nesta vila existiu até ao século
XVII uma das mais importantes e prósperas comunidades de judeus de Portugal,
quando foi vítima de uma brutal perseguição inquisitorial (12).
2. Exilio em Sevilha
Em data incerta, a
Condessa de Caminha foi para Castela, fixando-se em Sevilha, numa casa do seu
irmão - Martim de Távora, mestre de sala de Isabel, a Católica.
Este português, casado com Leonor
Correia, vivia já em Sevilha antes de 1483 (14). Foi ele que a
1/7/1478, entregou no cabido de Sevilha, a carta que anunciava o nascimento do
principe Juan. O cardeal Mendonza, em 1493, fez-lhe mercê da casas em
Sevilha, na colación de Santa Maria.
Teresa Távora passou a integrar o
vasto grupo dos nobres exilados portugueses, que vivia em Sevilha e era financiado pelos reis
católicos.
Teresa
de Távora era prima da esposa de Colombo - Filipa
Moniz Perestrelo. O
seu parente - Martinho de Noronha - foi quem recebeu Colombo em Lisboa a 4 de Março de 1493.
A 17/8/1496 passou uma
procuração para vender a tença que recebia em Portugal, provavelmente que lhe
fora atribuída por D. Manuel I, quando este procurou recompensar os nobres que
se haviam exilado em Castela devido à perseguição de D. João II. Em
1498 ter-se-á deslocado a Inglaterra.
Pertenceu à casa da rainha de
Espanha, pelo menos de 1501 a 1503.
3. Filhos de Teresa de Távora
Entre os filhos de Teresa de Távora
e Pedro Madruga, todos nascidos em Portugal, destacam-se três deles:
-
Alvaro de Sottomayor. Como vimos, tomou o Castelo de Sottomayor,
afastando desse modo o pai dos domínios na Galiza. Casou-se, em 1491, com Inês Enríquez de Monroy
que acabou assassinada em 1518 (San Martín, Galiza).
Numa das suas frequentes visitas a Portugal, em 1486, foi acusado por um seu criado
(padre Juan Galde) de estar a conspirar
contra D. João II. Foi ilibado da acusação, sendo o delator morto em Santarém. Morreu numa rixa, em que se
envolveu na cidade de Valladolid, em Novembro de 1495.
-
Cristovão de
Sotomayor (Sotomaior ou
Soutomaior).
Foi protegido por Isabel, a Católica. Estudou direito na Universidade de
Salamanca. Foi secretário de Filipe, o Formoso. É possível que se tenha
deslocado a Inglaterra.
No início do século XVI, revela em Castela um comportamento de grande cumplicidade
com a família de Colombo. Alguns factos significativos:
Acompanhou D. Diego Colón às Indias, em 1509, integrado no grupo de amigos e
familiares que fez questão de levar. Durante a viagem vendeu um manuscrito
a Hernando Colón.
Devido à sua condição de antigo secretário real e
letrado terá sido enviado para as Indias, por Fernando, o católico para
governador de a ilha de San Juan (Porto Rico), mas acabou como alcaide-mor de
Juan Ponce de León, de inferior condição social. Este facto acabou por levar ao afastamento de Ponce de León
(1460-1521), o explorador de Porto Rico e das
costas da Flórida..
Cristovão de Sotomayor morreu durante o levantamento indio
de 1511, em Porto Rico.
Sobre as causas da sua morte, escreve
István Szászdi León-Boja:
"
No dejo de creer que don Cristóbal de Sotomayor murió por ser el hombre de
confianza de don Diego Colón que implantó la forma de gobierno señorial de éste
en la isla, junto con los continos del Virrey. El nuevo repartimiento de indios
colombinos y su “nuevo estilo” fueron los detonantes del levantamiento indígena
de 1511. Y el matar a Sotomayor desde la óptica de los habitantes de la isla,
tanto indios como cristianos, era parecido a matar al propio Virrey, pues era su
deudo. Hay que recordar que existía una natural empatía entre los Colón y el
hijo del Conde de Camiña: I. Los tres eran nobles, II. Eran de linajes
estrechamente emparentados con la nobleza portuguesa y per tenecientes a ella,
eran primos lejanos por la madre portuguesa de don Diego. III. Sus familias
estaban resentidas desde la generación anterior contra D. Fernando el Católico.
Para la familia portuguesa de Diego Colón, consúltese el artículo de Ádám
SZÁSZDI NAGY, “Dos viñetas colombinas: Filipa y Vale do Paraiso”, Iacobvs.
Revista de Estudios Jacobeos y Medievales, 27-28. Sahagún, 2010, pp. 129-175."
(16).
Foi
o fundador em 1510 da Vila de Tavora (actual Guánica), em Porto Rico, nome que lhe
atribuiu em honra da sua mãe Dona Teresa de Tavora, Condessa
de Caminha (Camiña, em castelhano). As pragas de mosquitos obrigaram os
seus habitantes a mudaram-e para outro local junto à foz do Rio Añasco ou
Aguada. A nova povoação recebeu o nome de Vila de Sotomayor.
-
Alonso de Sottomayor
que se
distinguiu ao serviço da Espanha na guerra da Itália. Morreu em 1502, num
combate contra Pierre du Terrail,senhor de Bayard ou Bayardo. Nestes mesmos
combates, morreu também, a 27/12/1502, o chefe das tropas espanholas da
Calábria, o português - João Pinheiro (Juan Piñeiro), em Semira,
derrotado pelo francês - D`Augbiny ( 13 ). O "grande" estratega desta guerra era
o "El Gran Capitán"...
Hernando Colón, entre 1517 e 1523,
enviou para Freixo de Espada à Cinta e Chaves, um agente para recolher informações. Os
Távoras eram desde o século XIV senhores de Mogadouro, dominando uma vasta
região no Douro e Tras-os-Montes (Távora-Tabuaço, Mogadouro, Mirandela, S.
João da Pesqueira, etc).
4. Outros alegados filhos de Pedro Madruga
- João de Sottomayor.
Filho natural de Pedro Madruga (15), casou-se com a Isabel Gonçalves da
Costa, meia-irmã do célebre cardeal Alpedrinha e irmã de Catarina da Costa,
esposa de Pedro de Albuquerque, almirante -mor, envolvido na conspiração de
1484, morto em Montemor-o-Novo em 1485. Poderá estar aqui a chave do exilio
em Castela de Teresa de Távora, condessa de Caminha.
Mais
-
Álvaro de Caminha.
Na cidade de Faro (Algarve), onde
Colombo faz questão de aportar, a
14 de Março de 1493, no regresso da sua primeira viagem à América,
nasceu uma personagem que desde há dois séculos tem sido (erradamente) associado à família de Pedro
Madruga: Alvaro de Caminha (8)
Cavaleiro da Casa Real, capitão-mor na armada de João de Santarém e Pedro Escobar
que descobriu, por volta de em 1471 (7), a ilha de São Tomé. D. João II nomeou-o capitão-donatário
desta ilha (1493-1499) (9). Iniciou então a colonização com cristãos-novos, escravos negros e
degredados. Fundou a vila da Povoação, mais tarde São Tomé, junto à na Baia
de Ana de Chaves. Introduziu a cultura da cana-de-açúcar que se revelou um
sucesso.
D.João II depositava nele grande
confiança. Em 1488 mandou-o a Londres, numa caravela, raptar
Lopo de Albuquerque, conde de Penamacor e o trazer para Portugal, evitando
que o mesmo revelasse os segredos que a Corte Portuguesa tinha ciosamente
guardados. A missão acabou por fracassar. Quais as suas relações com os
conspiradores de 1484?
Desde o inicio do século
XIX, que Alvaro de Caminha aparece com o apelido de Sottomayor (6), sendo
frequentemente identificado como filho ou parente de Pedro Madruga. Embora seja pouco
provável este parentesco, parece todavia ter existido no Algarve, na
segunda metade do século XV, um ramo da familia Sottomayor.
O historiador - Augusto Krusse
Afflalo, numa conferência na Casa do Algarve em Lisboa, a 17/3/1955, defendeu a
tese que Colón tinha parentes algarvios (5). Infelizmente ainda não conseguimos
apurar quais os seus argumentos. Não nos podemos todavia esquecer das profundas
ligações de Colombo aos Condes de Faro,
cuja sede do Condado era a Vila do Alvor..
5. Bayona (Galiza)
Alguns autores espanhóis pretendem a
mão de Pedro Madruga, antigo senhor de Bayona, a razão porque Martin Pinzon se
dirigiu para este porto no regresso da sua primeira viagem à América. O que nos
parece sem qualquer fundamento. Mais
b
) Leonor de Sotomayor y Portugal e
Diogo de Bragança
É sabida a enorme ligação de Colombo
ao duques de Beja-Viseu, aos
quais mostrou sempre uma enorme fidelidade. Não deixa de ser igualmente
intrigante o facto de uma outra nobre castelhana, mas de ascendência portuguesa
- Sottomayor - se ter ligado a
D. Diogo, Duque de Beja-Viseu e
Mestre da Ordem de Cristo.
Este Duque , em 1477, com
16 para 17 anos foi a Valência encontrar-se com Leonor de Sotomayor y Portugal,
acabando por a engravidar, pouco antes da mesma se casar com Alonso de
Aragón y de Escobar (1417-1485), 1º. Duque de Villahermosa
(Saragoça), filho bastardo de D. João II de Aragão (1397-1497), por isso
meio-irmão de Fernando, o católico.
Desta
relação adulterina entre D. Diogo e D. Leonor nasceu D. Afonso que veio para Portugal,
onde foi entregue aos cuidados de Antão Faria. D. Manuel I reconheceu-o como sobrinho (1495),
e nomeou-o condestável do reino (1500), tendo-o casado com Dona Joana de
Noronha, irmã do 2º. marquês de Vila Real. Morreu em 1504, na mais completa obscuridade.
Continua a ser um mistério as razões
desta "missão" de D. Diogo em Valência. Pretenderia impedir o casamento engravidando a noiva?
.Mais
Apesar desta traição, o
Duque de Villahermosa mesmo assim casou-se com Leonor. Fernando de Aragão, meio irmão de
Alonso de Aragón, recompensou-o por semelhante casamento, ao nomeá-lo, em
1481, vice-rei da Aragão.
O tio de Leonor - Diogo de
Azambuja-, foi uma das duas testemunhas que assistiram em Setúbal à morte do
Duque D.
Diogo às mãos de D. João II (1484). Como já referimos, depois deste assassinato,
Colombo, acabou por "fugir" para Castela, segundo Hernando Colon.
Carlos
Fontes
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