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Os
irmãos
Pinzon e a descoberta da América
Pouco se sabe sobre os pinzons de
Palos. Os membro mais conhecidos desta família, como Martín Alonso Pinzón,
enriqueceram no corso, nomeadamente assaltando navios dos reinos de Aragão e dos muçulmanos.
Não consta que os pizons tenham assaltado navios portugueses.
Deste passado de corsários e piratas,
conhecem-se quatro importantes registos (44) :
Uma carta datada de 27/2/1477 dá
conta que três navios, comandados por Vicente Yañes Pizon, Diego de Mora e Juan
Rodriguez e Sevilla, haviam roubado no porto de Alfachs na Catalunha, um navio
de Galceran Andreu (25).
Os vereadores da cidade de
Barcelona, a 1/3/1477, protestaram junto do rei de Castela contra os danos que um
navio pirata, comandado por Vicente Yañes
Pinzón, havia provocado a dois navios de que era proprietário Mateu Capell,
comerciante de Barcelona. Fernando de Aragão, por carta régia de 14/4/1477,
proibiu os ataques de súbditos de Castela aos súbditos de Aragão (42).
Dois anos depois, Vicente com o seu irmão Martin
Alonso Pinzon, com uma caravela, chamada chamada Condesa atacaram
e roubaram um navio carregado de trigo, propriedade dos moradores de Ibiza,
súbditos aragoneses de Fernando, o católico (26).
No ano de 1484 acabou por ser vítima
dos seus "amigos" piratas. Martim de la Borda, marinheiro de Fuenterrabia,
roubou o carregamento de milho destinado a Génova, o navio pertencia a Vicente Yáñes
Pinzón (43).
Não deixa de ser significativo
registar que a atividade corsária dos Pinzon contra o reino de Aragão, coincidir com o período em que Portugal estava
em guerra com Castela e Aragão (1475-1479). Apenas cessaram os ataques quando
a paz foi acordada (Tratado de Alcaçovas-Toledo, 1479/80).
Este passado de corsários, e
sobretudo, o de ladrões dos súbditos do rei Fernando de Aragão, terá certamente
contribuído para a aproximação de Colombo aos pinzons de Palos. Ambos andaram a
saquear as mesmas vítimas, nos mesmos mares. Estamos, portanto, perante uma familia de antigos corsários e piratas de Palos,
intimamente aparentada com portugueses.
Este terá sido um dos motivo porque
Colombo escolheu de Palos, assim como a aproximação inicial entre os dois experimentados corsários.
Regresso conjunto a Palos
Na
primeira viagem às Indias foram com Colombo três irmãos: Martín Alonzo Pinzón (1441-1493), Francisco Martín Pinzón (1445-1502) e Vicente Yanéz Pinzón
(1462-1514). No regresso, separaram-se a 13 de Fevereiro de 1493, no meio de uma
tempestade.
Martin Pinzón foi parar a Baiona/Bayona
(Galiza),
em fins Fevereiro ou princípios de Março. Para muito este local não foi um mero
acaso, pois tratava-se de domínios dos
Sotomayor, que se haviam
exilado em Portugal.
Aparentemente julgando morto Colombo, escreveu aos
reis espanhóis solicitando-lhes para ser recebido na corte. O seu objectivo
era reclamar para si a descoberta das Indias (América) e os privilégios do
Almirante.
Colombo, como vimos, dirigiu-se para
os Açores (Ilha de Santa Maria) e daqui para Lisboa, para se encontrar com D.
João II e o seu sucessor D. Manuel, mestre da Ordem de Cristo, Duque de Beja.
Mais
Os reis espanhóis, entretanto
recusaram o encontro com Martin Pinzon, alegando que o contrato da viagem havia
sido realizado com Colombo e não com um pirata de Palos.
O certo é que Martin Pinzón partiu
de Bayona para Palos, na mesma altura que Colombo também o fazia. Atravessou
toda a costa de Portugal tendo entrado na barra de Saltes poucas horas depois de Colombo.
Não deixa de ser estranho esta coincidência de chegadas no mesmo dia e
quase à mesma hora, o que faz pensar num possível encontro em Portugal, antes de
ambos terem partido para Palos. É também possível que
a corte espanhola quando lhe deu ordens para ir para Palos já tivesse conhecimento da chegada
de Colombo a Lisboa.
A humilhação e a sífilis que contraiu nas Antilhas
acabaram por levaram à morte
de Martin Pinzon no final do mês de Março de 1493.
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Muitos anos depois, membros da
família pinzon,
vivendo na miséria, aparecem envolvidos numa manobra espanhola, reclamando para si não apenas a descoberta das Indias, da Terra Firme, mas
também do Brasil ...
a
) As "Provas" dos "Pleitos Colombinos"
A família de Colombo, entre 1508 e
1536, esteve em guerra aberta com a Coroa Espanhola,
reclamando os privilégios que haviam sido acordados em 1492, confirmados em
1493 e 1497 (10), mas negados a partir de 1499.
Diego
Colon, em 1508, exige que lhe seja reconhecido o direito a exercer o
cargo de Almirante, Governador e Vice-rei das Indias.
A
Coroa espanhola, apenas lhe reconhece o direito de ser governador da Ilha
Hispaniola, e depois o de governar apenas as ilhas que o seu pai descobriu. Recusa
portanto, qualquer extensão de direitos a todas as Ilhas, assim como à Terra
Firma (Continente americano).
O
processo "termina", em 1536, com a família de Colombo a aceitar
prescindir da grande maioria das suas pretensões, em troca do Ducado de
Verágua e do Ducado da Jamaica é de várias compensações financeiras.
Família
dos Pinzons contra a Família de Colombo
É
neste contexto de guerra aberta que surge, logo no início, a família Pinzón a
colaborar com a coroa espanhola para retirar qualquer legitimidade às
pretensões dos herdeiros de Colombo.
Os
pinzons capitanearam uma série de testemunhas que procuraram desacreditar
Colombo. Afim de evitar novos problemas, a coroa espanhola exigiu que os Pinzons
renunciassem aos seus possíveis direitos, o que estes obedientemente fizeram.
Em 1519, pela paga dos seus serviços à Coroa foi-lhe usarem um brasão.
Diego
Colon, em 1512, pretendeu também exercer a sua autoridade sobre a Terra Firme
(continente americano). Os pinzons, na pessoa de Vicente Yanes Pinzon
afirmaram que tinham sido eles os descobridores da costa da América entre o
Cabo de Santo Agostinho (Pernanbuco/Brasil) e o Panamá. Colombo,
era portanto um falso descobridor. Pedro Alvares Cabral, nesta floresta de
depoimentos falsos, chegara portanto ao Brasil 4 meses depois de um Pinzon...
Neste longo processo judicial, mais tarde, foram muitos os
testemunhos de espanhóis que "provaram" que
não foi Colombo quem as descobriu as Indias, mas sim Martin Alonso Pinzon.
Os
oficiais da justiça espanhola esforçaram-se por tentarem provar estas
descobertas dos Pinzons, através de perguntas tendenciosas, registadas da mesma forma.
O seu objectivo era mostrar que as exigências dos herdeiros de Colombo, não
faziam qualquer sentido.
Os
Pleitos Colombinos são uma verdadeira guerra judicial entre a família de
Colombo e a corte espanhola, que tem como seus aliados os pinzons.
b)
Primeiro descobridor da América
Em
1532, Juan Martin Pinzón , filho de Martín Alonso Pinzon, abriu um
novo processo judicial para reclamar junto da Corte espanhola parte dos privilégios
e rendimentos da família de Colombo, alegando um acordo que o seu pai havia
feito, em 1492, com o Almirante.
O
processo está em grande parte publicado (2), permitindo
perceber a forma como os pinzons estavam empenhados no roubo da familia de Colombo.
Os
argumentos de Juan Martim Pinzon e das suas dezenas de testemunhas são
demolidores:
1.
Conhecimento das Indias
Um
português Pedro Vasques de Fronteira, que na altura morava em Palos, havia andado
a descobrir ao serviço dos reis de
Portugal. Numa dessas vezes, acompanhou um Infante de
Portugal (D. Fernando, Duque de Beja), que se dirigia precisamente para as
ilhas a Ocidente, as Antilhas (Caraíbas). Só não foi às mesmas, porque
quando o Infante de Portugal entrou no mar dos Sargaços se enganou, e em vez de
seguir para a direita, tomou outra direcção.
Três
testemunhos (alcaide de
Palos Alonso Velez Allid, Alonso Gallego e Fernando Valiente, referem que a
expedição às Indias (América) fora feita por um Infante de Portugal (4).
Em
Palos tinha-se a convicção, antes de 1492, que os portugueses sabiam da
existência destas ilhas a Ocidente e da forma de as atingir. João Rodrigues de
Mafra, português e parente dos Pinzons, afirma todavia que sabia que o rei de
Portugal havia enviado uma ou duas expedições para Ocidente, mas nada
descobrira (3). A
maioria dos testemunhos pensava o contrário.
Este
segredo foi contado a Martin Alonso Pinzón, mas também a Colombo. Foi por esta
razão que este ia a Palos várias vezes, para visitar Pedro Vasques de
Fronteira.
2.
Mapa Mundy e Livro de Inocêncio VIII
Martin
Alonso Pinzon, quando se dirigiu a Roma com um carregamento de sardinhas (5),
conseguiu penetrar na Santa Sé, onde onde obteve uma cópia de um mapa mundo
com as ilhas descobertas a Ocidente, e um livro cujo conteúdo não é revelado.
3.
Pobre e sem Crédito
Colombo
era um pobretanas, que alimentava das sobras que os frades do Convento de Rabida
lhe davam para se alimentar. Não tinha também qualquer experiência como
navegador, por isso ninguém lhe dava qualquer crédito em Palos.
4.
Oportunista
Martin
Alonso Pinzon fez um acordo com Colombo, no caso dos reis aceitarem a ideia da
expedição, de repartirem ente si os rendimentos obtidos. Nesse sentido, após
a rainha Isabel de Castela ter aprovado a 1ª. Viagem, adiantou-lhe 500 mil
maravedis para que pudesse pagar a sua parte. Acontece que Colombo, traindo o
acordo que fora feito, começou a negociar os rendimentos a obter só para si.
5.
Medroso e Desorientado
Colombo
durante a 1ª. Viagem, nunca soube onde estava. Poucos dias antes de aportarem à primeira ilha (12/10/1492),
pretendeu voltar para trás. Foi graças à insistência de Martin Alonso Pinzon, que
recordou na altura as palavras de Pedro Vasques de Fronteira, que prosseguiram a
viagem. O primeiro navio a chegar foi a Pinta, comandada por Pinzon. Enquanto Colombo passou grande parte no interior das ilhas, Martin
Alonso Pizon descobria.
6.
Traição
Após
o regresso, Colombo não tardou a trair Martin Alonso Pinzon, ficando com todos
os titulos e rendimentos, e esquecendo-se da família que tornara possível a
expedição.
As
acusações do Pinzons abrangem também a questão da sua nacionalidade:
No
"Pleyto con la Corona"/ Procurdor Fiscal (1512/1515),
onde estiveram todos os que participaram na primeira viagem de Colombo, diversos
relatos confirmam a origem portuguesa de Colombo e o conhecimento que este teria
que haviam terras a Ocidente.
No
"Pleyto de la Prioridad", em 1532, os filhos do Capitão
Pinzón, que serviu às ordens de Colombo, não tem dúvidas em afirmar que era
português e sabia da existência de terras as Ocidente e que as mesmas não
eram a Índia.
Na
segunda metade do século XVI, é a vez da herança de Colombo ser discutida em
tribunal.
Os
pinzons ao contrário do que frequentemente se afirma, não possuíam qualquer
um dos três navios da primeira expedição. A caravela "Pinta", cuja
propriedade é atribuída a Martin Alonso Pinzon, era na realidade de Cristobal
Quinterio (Cfr.Gould, ob.cit.,p.95).
Estamos
perante uma verdadeira embrulhada, sustentada em falsos testemunhos e documentos
falsificados depois de 1508.
c) Primeiros
Descobridores do Brasil
Ainda no final do século XV, a
maioria dos espanhóis continuavam convencidos que Colombo os levara até à India,
ao Japão ou e à China.
As suas fabulosase ricas cidades, narradas por Marco Polo, acabariam mais dia
menos dia por serem encontradas.
No dia 10 de
Dezembro de 1498, como vimos, chegou a Espanha a célebre carta e um mapa de Colombo onde
afirmava ter chegado à Costa das Pérolas. A Corte Espanhola
contratualizou expedições para descobrir e saquear a região onde as mesmas
existiam.
Enquanto os espanhóis organizavam
estas expedições, chegaram a Portugal vindo da India,
duas das embarcações da
armada Vasco da Gama,
chegavam em
Julho e Agosto de 1499,
provocando em Espanha um
verdadeiro sobressalto.
Fins do ano de 1499 partiram, finalmente para a Costa das Pérolas, três expedições.
Mais
Face a estas
movimentações espanholas na América do Sul, Portugal,
em 1500, viu-se forçado a
confirmar a existência de um "Novo Mundo" - o Brasil- , cujo
território estava dentro dos
seus domínios definidos no Tratado de Tordesilhas (1494).
Acontece que os
comandantes destas expedições - Hojeda-Juan de La Cosa, Vicente Yanes Pinzon e
Diego de Lepe -, anos mais tarde vieram a afirmar que alguns meses antes de
Pedro Alvares Cabral haviam descoberto o Brasil.
O primeiro que
reclamou ter descoberto o Brasil, antes de Pedro Alvares Cabral, não foram
todavia estes espanhóis, mas o florentino
Américo Vespúcio em 1499, que também se fez passar
pelo descobridor da América.
Os espanhóis,
percebendo mais tarde o logro do seu Piloto Maior da Casa de la Contratación de
Sevilla, retiram-lhe a pretensão deste descobrimento do Brasil, e atribuíram-na
a Alonso Hojeda- Juan de La Cosa. Vespúcio passou a ser encarado como um simples
comerciante que fora a bordo da expedição. Em 1513, o próprio Alonso Hojeda, nos
Pleitos Colombinos, mostrou-se disposto a aceitar que o mesmo o havia
acompanhado.
O problema é que
cedo se percebeu que Alonso Hojeda- Juan de La Cosa, nunca foram ao Brasil em
1499 ou 1500, como aliás já o haviam declarado na Pesquisa de 1500 em Hispaniola. Perante esta evidência, a descoberta do Brasil
foi
então atribuída a
Vicente Yanes Pinzon, e também a Diego de Lepe. Outra aldrabice espanhola.
Para legitimar estas
sucessivas pretensões, como veremos, os espanhóis não tardaram em falsificarem
documentos e mapas, forjando testemunhos.
Um dos objectivos iniciais
destas pseudo-descobertas espanholas do Brasil, inseria-se no quadro de um
processo judicial que a Corte Espanhola moveu contra a família de Colombo, no
qual procurava retirar qualquer
legitimidade aos seus herdeiros sobre a Terra Firme.
No época, serviu
também para a Espanha reclamar novos domínios na América, neste caso o Brasil,
dos quais havia sido excluída pelo Tratado de Tordesilhas.
A suposta descoberta
do Brasil pelos espanhóis passou a fazer parte da propaganda espanhola até aos
nossos dias.
1. Expedição de
Alonso de Hojeda e Juan de La Cosa
Este expedição está
envolta numa enorme confusão, dado que Américo Vespúcio afirma ter participado
na mesma, mas o seu relato não coincide com o dos outros protagonistas da
expedição. O relato do florentino foi o primeiro a reclamar a descoberta do
Brasil, antes de Cabral.
A expedição partiu a 18 ou 20 de
Maio de 1499, era composta por 2 caravelas (14), com cerca de 57 homens cada, foi financiada pela
Marquesa de Montemayor, portuguesa exilada em Espanha.
O florentino Américo
Vespúcio, numa carta em latim publicada em 1508/9, afirma que participou nesta
expedição, e entre muitas mentiras, diz que a mesma atingiu as costas do
actual Brasil, a 26/1/1500, quatro meses antes de Cabral. Todas as provas
apontam para Vespúcio nem sequer tenha participado nesta expedição, como
Duarte Leite tão bem percebeu (13) e estudos mais recentes confirmam (10).
Vespúcio nunca
refere a presença de Hojeda, o comandante da expedição, dando a entender que navegou sózinho,
o que é um absurdo. Afirma que a expedição era constituída por quatro navios, quando
na realidade, começou por ter apenas um navio, a que se juntou depois mais
outro. Os seus cálculos também não coincidem com os
que Hojeda referiu nas Probanzas del Fiscal (1513).
Vespúcio, em suma,
acaba por ser
a
principal testemunha em que se apoiem muitos historiadores espanhóis e alguns
brasileiros, para afirmarem que o Brasil foi descoberto por Hojeda (15).
Não deixa de ser
significativo, que o próprio Alonso Hojeda e Juan Velazquez, que fizeram uma
listagem de toda a tripulação que os acompanharam nas expedições, NUNCA
referem a presença de Vespúcio (14), nem como um simples criado. Uma
personagem tão importante na expedição, como ele próprio afirma, seria
impossível de ser ignorado. Hojeda
destaca significativamente a presença de dois portugueses (pai e filho).
A verdade é que a
Pesquisa de 1500,
o relato de Alonso de Hojeda,
a analise do planisfério de Juan de La Cosa, e as várias Probanzas (1512) são claras num ponto: A
expedição de Hojeda não foi ao Brasil.
O percurso que seguiu foi
provavelmente o seguinte: Puerto de Santa Maria, Costa da Berberia (Cabo de
Aguer), Lanzarote, Fuerteventura, Grã Canária, Gomera. A partir daqui segui
para o Novo Mundo, tendo aportado à vertente setentrional do Orinoco, umas 125
léguas a sul do Promontório de Paria. Não é todavia evidente que tenha sequer
visto o Orinoco, pois ignora por completo a sua corrente (13). Aceita-se que
tenha percorrido a costa norte da Venezuela
até ao Golfo das Pérolas. Frente à costa da actual Venezuela foi também à
Ilha dos Gigantes ( Aruba ou Curaçau) e à mítica Ilha do Brasil (16).
As Capitulações de
Hojeda, em 1502, estabelecem como as suas reais descobertas, a região desde
Curiona, defronte à Ilha Margarida até Ququibacoa.
Vespúcio depois
desta sua alegada viagem às Indias, afirma que veio para Portugal, onde viveu cinco
anos.
A confusão, ainda
por explicar, foi provocada neste caso por Las Casas, que se limitou a
repetir aquilo que Vespúcio havia dito, sem ter verificado a informação. Descuido ?
2. Expedição
de Vicente Iañez de Pinzon
A
segunda espanhola, a reclamar a descoberta do Brasil,
foi capitaneada por
Vicente Pinzon. Foi autorizada em (6/6/1499) tendo como objectivo explorar a costa das
Perolas, descobertas por Colombo.
Partiu em Dezembro de 1499, sendo constituída
por 4 caravelas.
A expedição
supostamente dirigiu-se para Cabo Verde, e dali para ocidente,
atingido um cabo a que uns deram o nome de "Consolación",
outros "Santa Maria" (Pinzon) e outros ainda "Rosto Formoso".
Vários anos depois, como veremos, os espanhóis passaram a afirmar que este cabo era o
de Santo Agostinho, em Pernambuco, no Brasil.
A expedição
prosseguiu depois para poente, atingindo a região de Pária, sem nunca
os tripulantes dos navios desembarcaram porque, segundo eles, os indios não os deixaram. Quando chegaram a Hispaniola, a 23/6/1500, afirmaram que haviam percorrido 600 léguas, sempre ao
longo de Terra Firme. Em Julho perderam duas caravelas, tendo regressado a Palos
em Setembro de 1500, sem meios para pagarem aos credores.
Só após D. Manuel
I ter comunicado oficialmente, em 1501, aos reis de Espanha que os portugueses
haviam descoberto o Brasil (1500), é que estes se apressaram
a escrever uma carta, datada de Granada, a 5/9/1501, onde vagamente referem
que Pinzón tinha atingido um cabo a que dera o nome de "Santa Maria da Consolación", "Rosto Formoso" e "um grande rio " que chamara de "Santa Maria de
la Mar Dulce". (33).
Sem mais
informações que lhe chegassem de Portugal, os reis católicos nada mais podiam
dizer sobre o que supostamente havia sido descoberto, por isso remeteram-se ao
silencio... É porta esta razão que, em Espanha, durante mais de 10 anos não se
escreveu ou publicou nada sobre a alegada descoberta do Brasil por Vicente Yanes
Pinzon.
Como iremos ver,
o Cabo de "Santa Maria" transforma-se no cabo de S. Agostinho e o Rio de "Santa
Maria" no Rio Maranhão...
Provas?
As
"provas" que tem sido apresentadas, tal como na anterior expedição,
foram apresentadas muitos anos depois dos factos, e em vez de os aclararem
contradizem-nos.
2.1. Mapa de Juan
de la Cosa
O mapa de Juan
de la Cosa é o principal argumento em que se baseiam a maioria dos
historiadores espanhóis, para afirmarem que o Brasil foi descoberto por Pinzon.
O mapa, ao
contrário do que se afirma, não foi realizado em 1500, mas foi sendo elaborado ao longo dos anos, sendo
provavelmente concluído só em 1508 ou 1509. Mais
Estão
assinalados na América, por exemplo, claramente os domínios de Portugal. O Brasil,
com um contorno a azul, aparece
representado como uma pequena ilha separada do continente .Onde se situava o
cabo de Pinzon? Numa ilha ou no continente? Acontece que, Pinzon depois de chegar ao dito cabo, alegadamente em
Pernambuco, andou sempre navegar ao longo da costa. Neste sentido, Juan de La
Cosa, nunca poderia
separar o Brasil do continente.
Juan de La Cosa ou
cartógrafos de Espanha, em 1508/9, sabiam muito bem onde se localizava a linha
de demarcação do Tratado de Tordesilhas, e que o Cabo de Santo Agostinho
pertencia aos
domínios de Portugal.
Na parte
correspondente às actuais Guianas, Venezuela e Colombia até ao Equador que
aparecem vários topónimos, tais como Cabo de Santa Maria, Rio Formoso, Playa
de Arena , Isla de bacia de barriles, o rio de se halló una cruz, bahía
de San Marcos, etc.
No extremo oriental
desta massa de terra, mesmo a sul das Antilhas, está escrito: "Este cabo
se descubriu en el año 1499 por Castilla, siendo descubridor Vicens ians".
Juan de la Cosa, antecipa deste modo a data da suposta descoberta de Pinzon.
Em vez de Janeiro de 1500, escreve que foi em 1499. Acontece que só em Dezembro desse
ano, começou a expedição.
O mapa nada
esclarece ou prova sobre a descoberta do Brasil por Pinzon.
2.2. Outros
Testemunhos
O principal
testemunho sobre a suposta descoberta do Brasil por Vicente Yanes Pizon, acabou
por ficar reduzida a
Pedro
Martir de Anghiera, que afirma ter interrogado Pinzon após o seu
regressou das Indias.
O problema é que Pedro
Martir de Anghiera escreveu três versões diferentes desta descoberta:
A primeira versão
dos factos é publicada, em 1504, por
Trevisan. Consta de uma carta supostamente datada de Dezembro de 1501, e
mais tarde inserida na 9ª. e ultimo livro das Décadas. Na versão publicada, em
1511, a carta de sofre várias modificações. Na versão, publicada em 1516, o
texto é já muito distinto da versão de 1501 (1504) (13).
Rio Maranhão.
Nas Capitulações de 1501, fala-se de um rio com o nome de "S.Maria de Mar
Dulce". Na versão de 1504, fala-se da descoberta de um Rio que desemboca com
grande impeto a 15 léguas do mar, através de ilhas habitadas com gente pacífica.
A região é chamada de "marinatambal", refere-se a existência de muito ouro.
Na versão de 1511 já se diz que o Rio é constituído por vários braços, que vêm
de vários montes. Ao nome anterior, junta-se agora o de "Camomoro" e "Paricora".
Na versão de 1516, o rio já tem o nome de "Maragnonum" (marañon, em espanhol
ou Rio Amazonas, em Português), com 30 léguas, são dadas agora referências geográficas
mais precisas...
Cabo de S.
Agostinho. Na versão de
1504 ignora-se o nome S. Agostinho. A versão de 1511, afirma-se que o cabo foi atingido, a 20 de Janeiro de 1500,
mas foi-lhe dado o nome de "Santa Maria de
la Consolación". Em 1513, o próprio Vicente Yanes Pinzon afirma de forma
vaga que descobrira o cabo de S,. Agostinho que ficava em domínios portugueses.
O relato Pedro
Martir de Anghiera, de 1511, foi depois publicado em 1516, pelo genovês Arnaldi Guilhelmi,
mas os cálculos nas duas obras não coincidem.
Ao certo os
espanhóis nem sequer sabiam onde ficava o cabo e S.Agostinho... Em 1515, por
exemplo, nomearam uma comissão, constituída por Sebastian Caboto, Juan Vespucio,
Nuno Garcia e o português João Rodrigues Serrão e André Morais para tentarem
saber a sua localização, algo que ainda não haviam conseguido (41).
Cálculos,
Equador, Estrela Polar e a Teoria da Tierra Pezonoidal. Os cálculos
publicados em 1511 por Pedro Martir de Anghiera, baseados supostamente em
afirmações de Pinzon são uma total trapalhada, que ninguém com mínimo de conhecimentos nauticos e rigor histórico pode aceitar.
Pinzon, entre as
suas muitas mentiras, afirma que atravessou a linha equinocial e que deixara de
ver a estrela polar, o que é uma manifesta impossibilidade na rota que
alegadamente seguiu, como demonstrou Duarte Leite (13).
Para aumentar ainda
mais a confusão, declara que também encontrou na região do Equador uma enorme
protuberância que o impedia de ver a Estrela Polar. Retomava desta maneira a
teoria da Tierra Pezonoidal de Colombo .
A terra para Pinzon, tal como para Colombo, tinha a forma de uma pera !.
A descrição da
suposta rota entre Cabo Verde e o Brasil, inspira-se directamente na relação da
viagem de Colombo em 1498. Não foi apenas a concepção da terra Pezonoidal que
retomou de Colombo, mas
também as condições atmosféricas que este observou em Cabo Verde. Acontece que no
relato de Pedro Martir de Anghiera as mesmas são transferidas para junto da costa da
América do Sul...
Gigantes. Nas declarações de Pinzon,
publicadas por Anghiera, este afirma que esteve no
Brasil, onde encontrou gigantes. O mapa de Juan de la Cosa,
assinala a Ilha dos Gigantes, mas esta
corresponde à actual Aruba, ao largo da
Venezuela..
Pinzon parece ter afinal estado na ilha do Brasil ou nas Ilhas de Aruba ou
mesmo em Curaçau, não no Brasil (Vera
Cruz) onde os indios não eram gigantes.
Tudo aponta para que
Vicente Pinzon não tenha passado das Guianas, sendo a suposta descoberta do
Brasil, alguns meses antes de Pedro Alvares Cabral, uma completa mentira.
Vespúcio
(florentino) e Pedro Martir de Anghiera (milanês) durante anos, andaram a
publicar escritos que geraram uma verdadeira confusão sobre os descobrimentos,
de modo a favorecerem a Espanha, sendo por isso mesmo, largamente recompensados
pela corte espanhola.
Pleitos
Nos Pleitos
Colombinos, depois de 1512, existem abundantes testemunhos sobre este cabo, de forma a
credibilizar a história. O seu objectivo era atingir Colombo, procurando mostrar que foi um espanhol (Vicente Yanes
Pinzon) que descobriu grande parte da costa da América entre o cabo de Santo Agostinho e o
Panamá.
No meio deste
testemunhos, surge a confusão: Em 1512, por exemplo, Manoel de Valdeovinos, declarou que chegaram a uma terra que denominaram "Rostro Hermoso" (Rosto Formoso),
situada a 300 ou 400 léguas de Cabo Verde, isto é, o cabo ficava em pleno
Atlântico....
Vicente Yanes de
Pizon, em 1513, começa as suas declarações por lançar a confusão afirmando que
quem descobriu o Brasil foi Colombo em 1498. Quanto à suposta descoberta do
Brasil por Diego de Lepe, em 1500, nada sabe (38).
Estamos
perante o mesmo tipo de "provas", como aquelas que foram apresentadas
para sustentarem Martin Alonso Pinzon foi o primeiro descobridor das Indias
(América).
A pseudo-descoberta foi depois
repetida de forma confusa e contraditória por Las Casas (Hist. Indias,
Cap.CLXXII e cap.CLXXII), Antonio Herrera (Hist. General, cap. VI), Oviedo
(Hist. Geral, T.II, 2ª. parte, L. XXIV, cap.II), procurando reclamar para
Espanha descobertas que não havia feito.
3.
Expedição de
Diego de Lepe
Diego de Lepe é uma
verdadeira incógnita. Vespúcio, Pedro Martir de Angléria, Oviedo ou Gómara
ignoram-no, nem sequer o mencionam. O seu nome é no entanto citado por 10
testemunhas nos Pleitos Colombinos de 1512 a 1515
(
Probanzas del Fiscal).
Foi com base numa
leitura apressada destes testemunhos que Bartolomé de las Casas escreveu a
história da sua suposta viagem ao Brasil e a Pária em 1499 -1550. António de
Herrera, copiou Las Casas, fez alguns acrescentos, e a partir daqui surgiu mais
um descobridor do Brasil ao serviço de Espanha. Uma análise cuidadosa destes
testemunhos, permite-nos dizer que a possivel viagem de
Diego de Lepe ao Brasil só ocorreu depois de 1504. Só em 1515 é que se falou da
mesma, e ficou-se a dever e grande parte à imaginação de Bertolome de las Casas.
Mais
Provas ?
As provas desta
descoberta do Brasil são iguais às de Vicente Pinzon, neste caso, baseadas em
testemunhos muito contraditórios expressos nos Pleitos colombinos em 1515 (17),
interpretados de forma fantasiosa por Las Casas.
Descoberta
de uma Cruz na Costa do Brasil ?
Diego de Lepe, primo de
Vicente Pizon, quando andava a percorrer as costas do Brasil, ficou espantado com uma cruz que fora
aí colocada por anteriores visitas de portugueses.
O historiador espanhol que
estudou o assunto - Juan Manzano y Manzano ( 7 ) - , atribui a colocação da cruz a
Duarte Pacheco Pereira que explorou esta região em 1498.
Nestas
expedições espanholas, como em todas as outras que realizaram, descobrem-se sempre pilotos ou
experimentados marinheiros portugueses. Mais
6. A Expedição de Alonso
Velez de Mendonza.
O primeiro dos
"grandes" descobridores espanhóis do Brasil antes de Pedro Alvares Cabral, foi
Alonso Velez de Mendonza.
Em 1515, como
dissemos, os espanhóis ainda não sabiam onde ficava o célebre Cabo de Santo
Agostinho, no Brasil, e que vinham afirmando terem descoberto. Uma das pessoas
que foi ouvida em 1515, sobre a sua localização, foi o piloto - Juan Rodriguez Serrano
-, o qual resolveu afirmar que
Alonso Velez de Mendonza havia descoberto o Brasil em 1499...
Declara este piloto
a 13/11/1515 em tribunal: "Ha 16 años, poco ó menos, que partí desta ciudad (Sevilla)
en dos carabelas, que fué por capitán Alonso Velez de Mendonza." Das canárias
dirigiram-se para Cabo Verde e daqui para o Brasil, tendo dobrado o Cabo de
Santo Agostinho, mas que não sabia onde o mesmo se localizava.(41)
Perante a falta
de precisão sobre o que afirmava, desculpou-se dizendo que era jovem quando fez
a viagem. A aldrabice era completa. Acontece que as capitulações do
comendador Alonso Velez de Mendonza datam respectivamente de 20 Julho
e 18 Agosto de 1500, sendo portanto posteriores à suposta
descoberta do Brasil.
Navarrete, ob.cit.,
Tomo III, Observacion III sobre la Declaración de Aríaz
Paz à la Octava Pregunta del Fiscal, depois de estudar atentamente o assunto,
chegou à conclusão que a expedição nunca se
realizou, tudo o que ele próprio havia escrito sobre a mesma era uma completa
falsidade.
Graças todavia ao
testemunho de Juan
Rodriguez Serrano, ficamos a saber que na altura, estavam presos 11 portugueses
na Hispaniola por andarem a fazer negócios clandestinos nos domínios
espanhóis...
A
historiografia espanhola tem-se esforçado em divulgar mundialmente estas pseudo-descobertas
do Brasil, que só foram proclamadas numa altura que a costa brasileira
já estava explorada e cartografada
pelos portugueses.
Expedição de Vicente Yanes Pinzon e Juan Diaz de Solis (Português)
Na última viagem de Colombo
(1502-1502), afirma que chegara a uma região - Verágua - , onde encontrara
grande quantidade de ouro, mas depois recusou-se a revelar a forma dos os
espanhóis a atingirem. Mandou inclusive retirar aos pilotos e marinheiros todos
o mapas que possuíam. Mais
Apenas, em 1508, a corte espanhola
tem condições para mandar uma expedição explorar as terras que Colombo
descobrira. A expedição tinham dois comandantes, o capitão e piloto português -
Juan Diaz de Sólis e o
espanhol Vicente Yanes Pinzon. Contaram com a participação do piloto Pedro de
Ledesma, que havia participado na viagem de Colombo. Não apenas chegaram a
Verágua, mas terão atingido a região de Yucatán. Hernando Colon,
por seu lado, afirma na Historia del Almirante, no cap.LXXXIX, que se limitaram
a percorrer a costa já explorada por Colombo.
Os testemunhos são,
todavia, contraditórios, não apenas quanto à sua direcção, ponto de chegada, mas
até quanto ao ano em que foi realizada. Herrera, por exemplo, afirma que a
expedição ocorreu em 1506, sendo que em 1508 Sólis fez uma viagem ao Rio da
Prata...
No regresso, Juan Diaz de Solis
passou por La Hispaniola, pouco antes chegar Diogo Colon, para assumir o cargo
de governador da Ilha...
Ao chegar a Espanha, em 1509, Juan
Diaz de Solis foi preso, ao que se sabe, porque Vicente Yanes Pinzon terá
afirmado que o mesmo se mostrara pouco fiel aos reis de Espanha. Em 1511 é solto
e recompensado. Foi promovido na Casa da Contratação a Piloto Maior.
Pinzon sentiu-se cada vez mais doente, falecendo em 1514.
Quem era João Dias de Solis?
João Dias de
Solis (Juan Díaz de
Solís, em castelhano), c.1470-1516). Piloto português muito experiente. Trabalhou até 1505 como
piloto e cartógrafo ao serviço da
Casa da India, em Portugal. Depois de ter assassinado a mulher (1506), fugiu
para Espanha (30).
Devido à sua
enorme experiência marítima, em 1508, é logo convidado para participar
com Vicente Yáñez Pinzón, Américo Vespucio e Juan de La Cosa na Junta de Burgos,
que definiu dois grandes objectivos para a expansão marítima dos
espanhóis: a descoberta de um estreito entre o Atlântico e o Pacífico e
a criação de um Mapa-Padrão para os pilotos.
Uma
das primeiras acções de Solis foi ensinar os espanhóis a navegação
astronómica (1508), utilizando o Regimento do Astrolábio desenvolvido
em Portugal (29).
Iucutão ( Yucatán )
Em 1508 comanda com Vicente
Yanes Pinzon uma expedição, composta por dois navios, à América Central para procurar um estreito de
ligação ao Oceano Pacífico (1509) e encontrarem as terras que Colombo
descobrira em 1502-1503. Solis seguia a bordo do Magdalena, de que
era mestre Gonzalo Ruiz. Segundo as Capitulações, devia ir na frente,
pertencendo-lhe o efectivo comando. Em terra seria Pinzon a mandar. Este
seguia no San Benito, com Pedro de Ledesma. Terão chegado a Verágua
e provavelmente atingido a região de Yucatán.
Quando
Solis chegou a Sevilha, a 29/8/1509, depois de catorze meses de viagem, foi logo preso pelos oficiais da
Casa da Contratação (27/10), devido a intrigas de Pinzon.
O embaixador
português em Espanha - João Mendes de Vasconcelos, ao aperceber-se da
mais valia que o mesmo poeria representar para os espanhóis,
encontrou-se com ele pelo menos duas vezes, tentando-o convencer a
regressar a Portugal. Sólis sustentava que Malaca se encontrava
dentro dos limites de Espanha, definidos no Tratado de Tordesilhas.
Numa carta datada de
30/8/1512, informa o rei D. Manuel I das sua movimentações de João
Solis e dos resultados destes encontros. Não apenas confirma a sua nacionalidade portuguesa, como revela que
o mesmo vivia com o seu irmão João
Henriques, outro experiente navegador.
Piloto Maior da
Casa da Contratação
Reabilitado por
Fernando de Aragão, em
1512,
é abundantemente indemnizado pela sua prisão. Sucedendo a Vespúcio como
Piloto-Maior na Casa da Contratação.
Graças à sua acção
consegue que fossem para
Espanha excelentes pilotos portugueses, tais como Francisco Coto (
Real Cédula, Valladolid, 5/9/1513), João Henriques ( R.C., 24/2/1513)
ou António Mariano (Real Cédula, 14/3/1514) que foi na expedição de
Pedrarias.
Fernando de Aragão,
tinha dado instruções precisas à Casa da Contratação de Sevilha para
recrutarem pilotos portugueses, escreve este rei:
"Ya sabéis cuanta
necessidade hay en esa Casa de pilotos que sean expertos en las cosas de
navegación...", repetindo-lhes as recomendações numa carta escrita em Dezembro
de 1513, concluindo: "por ende, yo vos mando que si algunos pilotos
portugueses vinieren a esa cuidad ( de Sevilha) los recojáis e tratéis muy bien
y les hagáis sus asientos lo mejor que pudiéres", Real Cédula aos les
Oficiales de la Casa de la Contratación, Madrid, 28/12/1513. Publicado por
Serrano y Sanz, Preliminares, p. CCXXXIV.
Portugal não apenas
fornecia a Espanha de capitães, pilotos, marinheiros, cartógrafos e até de
navios, sem os quais a sua expansão maritima dificilmente teria lugar.
Mais
Questão da Ilha
das Especiarias (Molucas)
Fernando de Aragão,
em 1512, encarregado Sólis de preparar uma expedição de determinar a fronteira dos domínios de Portugal e
de Espanha, a atingir a famosa ilhas das Especiarias (Molucas, Indonésia).
Segundo a cartografia de Ptolomeu, e também Sólis, as mesmas pertenceriam à Espanha. Acontece
que esta não tarda a ser informada que os portugueses já haviam chegado às
Molucas em 1509/1510. Em Agosto de 1511, Afonso de Albuquerque conquista Malaca.
Abria-se desta forma um longo conflito diplomático entre os dois reinos. A
expedição de Sólis acaba por ser abandonada.
Vasco Nunéz de
Balboa, em 1513, acompanhado de muitos portugueses como João Português ou
Pedro de Escobar, descobre o mar do sul (Pacífico), abrindo deste modo um hipotético caminho para
a ilha das especiarias (Molucas). Havia, contudo, que atravessar todo o Oceano
Pacífico, o que irá fazer, em 1521, um português - Fernão de Magalhães.
Mais
Rio Solis, Rio da
Prata
Os portugueses
continuavam a explorar os domínios espanhóis, que haviam sido acordados no
Tratado de Tordesilhas. Uma armada portuguesa sob o comando de João de Lisboa, em
1511/1512, explora o Rio da Prata (32). Ao saber do sucedido, a Casa da
Contratação, manda Sólis, enquanto
piloto maior, organizar e comandar uma
expedição ao ao extremo sul do continente americano.
Capitulação foi
feita em Mansilla, a 24/11/1514, impôs a João Sólis a obrigação de percorrer as
costas do Brasil descobertas pelos portugueses, e encontrar uma passagem para o
Mar do Sul (Pacífico) que havia sido descoberto por Balboa.
A expedição
saiu de Sanlucar de Barrameda, a 9/10/1515, era composta por
três navios, contando com outros portugueses (27), como
Henrique Montes, Diogo Garcia (natural de Lisboa, vizinho de Moguer e patrão
de um dos navios) ou Aleixo Garcia (Piloto).
Em Fevereiro de 1516
chegou ao estuário do Rio da Prata, a que Sólis chamou "Mar Doce", depois foi
conhecido por "Rio Sólis", e os portugueses acabaram por lhe dar o nome actual -
Rio da Prata.
Explorou o estuário
do actual Rio da Prata até à Ilha Martín
García. Segundo uma lenda que remonta ao século XVI, Sólis com oito dos seus
homens, nas actuais costas do Uruguai foram emboscados, despedaçados e
devorados por indios canibais à vista dos que haviam ficado na caravela
(28). Também Colombo rotulou os indios das antilhas de canibais para
justificar a ocupação das suas terras e os reduzir a escravatura.
Mais
Dois navios,
capitaneados por Francisco Torres, cunhado de Sólis, conseguiram regressar a
Espanha, tendo chegado a Sevilha, a 14/10/1516.
Os sobreviventes do
navio atacado pelos indios, foram
depois resgatados por uma esquadra portuguesa, comandada por Cristovão
Jacques ( ou Cristóvão Valjaques), que andava a patrulhar toda a costa do
Brasil. Os portugueses acreditavam que existia a sul continente uma passagem
para o Oceano Pacífico. O capitão português resgatou 7 espanhóis, e levou-os até
Santo Domingo (Hispaniola), onde os trocou por prisioneiros portugueses (34).
O piloto português
Aleixo Garcia (Alejo García, em castelhano) não desistiu da exploração do Rio da Prata (36). No
regresso a Espanha, naufragou nas costas do actual estado de Santa Catarina
(Brasil), onde passou a viver com os indios. Foi então
informado que existia um poderoso e rico reino no interior da América do Sul,
governado por um "rei branco". Entre
1522 e 1525, às suas custas, organizou uma expedição, que contava com dezenas de indios guaranis, tendo percorrido o Rio do
Paraguai e atingiu os confins do Perú e as minas de Potosi. Foi o
primeiro europeu a contactar com o Império Inca (37). Estabeleceu a célebre Rota da
Prata, que ligava Buenos Aires a Potosi. Morreu no Paraguai, ao que se supõe
comido por canibais.
Diogo Garcia,
português, morador em Moguer, que havia participado na frustrada expedição de
1515, volta ao Rio da Prata em 1526, como capitão. Desta última viagem
deixou-nos uma "Relación e derrotero" (39). Saiu da Corunha, cabo finisterra, a
15/1/1526, chegando no ano seguinte ao Rio da Prata. Encontrou-se com outros
portugueses e com a expedição de Sebastião Caboto (1527), tendo subido o Paraná
e o Paraguai. Em 1530 regressou a Sevilha, culpando Caboto pelo fracasso da
expedição, a quem acusa de incompetente. Diogo Garcia é outro português que
os espanhóis fazem passar por espanhol.. de Moguer !. (40).
Complexo espanhol
Pedro
Mártir de Anghiera foi o primeiro a atribuir-lhe a nacionalidade
espanhola. Seguiram-se outros como Ruy Díaz de Guzman e António Galvão.
Ainda hoje é repetido o disparate de Oviedo que, no século XVI, afirmava
que Sólis nasceu em Lebrija, junto a Sevilha.
A verdade
é que também já no século XVI, Damião de Góis, na sua Crónica de D. Manuel,
o identifica como português. O que é confirmado por outros testemunhos e
documentos que tem sido publicados (31).
A
documentação que existe em Espanha e Portugal não oferece dúvidas a este
respeito. No século XIX - José Toríbio Medina, publicou uma importante
obra sobre esta questão: - Juan Díaz de Solis: estudio histórico.Santiago
do Chile. 1897, identificando-o de forma inequívoca e documentada como
português.
Apesar de
fantasista Juan Manzano y Manzano, também não se deixou levar pela
ignorância de muitos historiadores espanhóis, e em obras como - Los
Pinzones y el descubrimiento de América (3 volumes), publica vasta
documentação que atesta a sua nacionalidade portuguesa.
A Importância da Propaganda nos
Descobrimentos
Quando Colombo regressa das Indias,
e a partir de Lisboa, comunica para toda a Europa a sua descoberta, a Espanha
acorda propaganda nos descobrimentos. A nacionalidade dos navegadores, o anúncio
antecipado de uma dada descoberta, não apenas trazem prestígio, como constituem
importantes trunfos nas negociações internacionais sobre a posse dos territórios
descobertos.
A Espanha neste sentido, contratou
propagandista como Piero Martir di
Angliera que modifica a nacionalidade de navegadores como Juan Diaz de
Sólis. Antedata mapas como o de
Juan La Cosa, planisfério concluído em 1509, mas com a data de 1500.
Altera as datadas de expedições, como fez Antonio de Herrera y Tordesillas,
por exemplo, na conhecida Historia General de los Hechos de los Castellanos
en las Islas y Tierra Firme del Mar Océano, quando antecipa a expedição de
Vicente Yanes Pizon e do português Juan Dias de Sólis de 1508-9 para 1506 e, a
de Sólis ao Rio da Prata em 1515 para 1508, para afirmar que foram os espanhóis
os primeiros a chegar à Argentina e não os portugueses (1511/12) ... |
Carlos
Fontes |
|
Notas:
(1)
Os
pinzons eram primos dos irmãos Diego de Lepe e João Rodrigo de Mafra, ambos
portugueses. Em
1519, quando é concedido um brasão aos pinzons e seus parentes, o primeiro
nome que consta na cédula é o de João Rodrigo de Mafra:
" Real Provisão do Rei D. Carlos concedendo a Juan
Rodríguez Mafra, piloto, Gómez Muñoz, capellán, Diego Martín Pinzón,
Alvaro Alonso, notários, Juan Pinzón e Alonso González, vizinhos e naturais
da villa de Paus, a graça de poder usar um escudo de armas com três carabelas,
da cada uma das quais saia uma mão, e por orlas, umas áncoras e uns corações,
lhes fazendo dita graça em prêmio aos serviços que na descoberta das Índias
fizeram seus antepassados respectivos: Martín Alonso Pinzón, Vicente Yáñez
Pinzón, Andrés González Pinzón, Diego de Lepe e Miguel Alonso.", in,
Arquivo
Geral de Índias Secção Indiferente General. Signatura:
INDIFERENTE,420,L.8,F.146R-147V:
(2) Colón y Pinzón - Informe Relativo à Los
Pormenores de Descubrimiento del Nuevo Mundo, Cesáreo Fernandéz Duro. Real
Academia de la Historia. Madrid. 1883; Pleitos
colombinos, edição de Antonio Muro Orejón, con la
colaboración de Florentino Pérez-Embid, et al.], 1964 -1989,
Escuela de Estudios Hispanoamericanos, Sevilha. A bibliografia é muito extensa.
(3) Fernandéz Duro, ob.cit., pág.223
(4) O alcaide de Alonso Velez testemunha recorda
que quando Colombo pretendeu regressar, Martin Alonso Pinzon, recordou que fora
naquele local que o Infante de Portugal se perdeu, por não seguir para a
direita, como dizia Pedro Vasques de Fronteira (cfr. Fernandéz Duro, ob.cit.,
pág.260);
Alonso Gallego, afirma que Colombo vinha várias vezes falar com
"Pero Velez de la Fronteira", que havia ido uma vez fazer um descobrimento
de ilhas a Ocidente com um
Infante de Portugal (Duro, ob.cit., pág.253).
O mesmo testemunho é dado por Fernando
Valiente, que confirma que Pero Vasquez de la Fronteira fora uma vez fazer o
mesmo descobrimento das Indias "con o Infante de Portugal", e disso
deu conhecimento a Colombo, Martin Alonso Pizon e aos marinheiros de Palos (Duro,
ob.cit., pág.253-254)
(5) Testemunho de Pedro Alonso Ambrosio (cfr.
Fernandéz Duro, ob.cit., pág.296)
(7) Manzano y Manzano, Juan - "Los
Pinzones y el Descubrimiento de América", 3 vol., Madrid: Ediciones de
Cultura Hispanica, T. p.323.
(8) Probanzas del Fiscal,
in, Navarrete, 1880, Tomo III, p.558,
(10) Serrano, Carlos Seco - El Viaje de Alonso de
Hojeda en 1499: últimas Conclusiones, in, Congresso de Historia dos Descubrimientos (1492-1556): Actas...
Tomo II. Madrid.1992
(13 ) Duarte Leite - Os Falsos Percursores de
Cabral. Lisboa. 2ª. Edição. Uma obra fundamental sobre esta questão.
(14) Rodrigo Pérez, lugar tenente de Colombo, em
1500, na Ilha Hispaniola, fez uma Pesquisa contra Alonso de Hojeda e Juan
Velazquez, tendo descrito não apenas o número de navios da expedição, assim
como a respectiva tripulação, incluindo capitães, pilotos. Este documento foi
publicado em 1892 - Autografos de Colón y Papeles de America -, por ordem da
Duquesa de Berwick y Alba.
(15) Marcondes de Souza,Thomas - Amerigo Vespucio e suas Viagens. São Paulo.
1949. Este historiador não ignora os documentos fundamentais sobre a
expedição de Hojeda, mas insiste em"provar" a autenticidade das
quatro viagens de Vespúcio, contrariando factos e documentos. Neste processo
entrou num completo delírio.
(16) Serrano, ob.cit,, p.35
(17) Navavarrete, ob,cit, Suplemento Primeiro
(25)
Francesc Albardaner i Llorens - Columbus....p.
266 ; Manzano y Manzano, Los Pinzones y el Descubrimiento de America, p.16
(26) Morales, Padrón Francisco. “Las
relaciones entre Colón y Martín Alonso Pinzón.”. Actas del Congreso de
Americanistas de Lisboa, vol. 3 (1961), 433-442. Revista de Indias N.83 (1961); Manzano y Manzano, ob.cit., p.20;
(27) Ventura, Maria da Graça A. Mateus - Portugueses no
descobrimento e conquista da Hispano-América. pp.121- 122
(28) Pena, Manuel Moros - História Natural del Canibalismo, p.200
(29) Trias, Rolando A. Laguaro - Pilotos Portugueses en el Rio de
la Plata durante el Siglo XVI, p.61
(30) Os Comentários de Afonso de Albuquerque (1ª. Parte, Capítulo
VI), informa-nos que a armada de Tristão da Cunha que partia para a India, a
5/4/1506, a nau Cirne de Afonso de Albuquerque, teve que permanecer algum
tempo parada em Belém, à espera de um piloto: "por aver dois dias que João Sólis
que com ele havia de ir por piloto fugira para Castela por ter matado a mulher".
(31) Eugénio do Canto, em 1907, publicou uma importante carta de
D. Manuel I ao rei espanhol (Fernando de Aragão), datada de 1512, onde é
identificado de forma inequívoca como português: Cartas Diversas de El-Rei D.
Manoel de 1510-1519. Lisboa : Imp. Nacional, 1907
A biografia de João Dias de Sólis carece de um enquadramento
histórico que a insira do vasto conjunto de pilotos portugueses que desde o
século XV ao XVIII andaram aos serviços dos reis de Espanha. Para além das obras
anteriormente referidas, consultar:
- Carvalho, Filipe Nunes de, "Solis, João Dias de", in Luís de
Albuquerque (dir.), Dicionário de História dos Descobrimentos Portugueses, vol.
II, Lisboa, Caminho, 1994, pp. 999-1000.
- Chavaverri, Carlos Meléndez, "En torno al descobrimiento de la parte norte de
América Central y de la insularidad de Cuba por Juan Díaz de Solís y Vicente
Yánez Pinzón en los anos de 1508 y 1509", Actas do IV Congresso das Academias da
História Ibero-Americanas, vol. I, Lisboa, Academia Portuguesa da História,
1996, pp. 315-326.
- Gandia, Enrique de - Antecedentes Diplomáticos de las
Expediciones de Juan Díaz de Solís, Sebastián Caboto y Don Pedro de Mendonza...
- Nascimento, Paulo, "Prata, Rio da", in Luís de Albuquerque (dir.), Dicionário
de História dos Descobrimentos Portugueses, vol. II, (s.l.), Caminho, 1994, pp.
915-918.
- Silva, Luciano Pereira da, "João Dias de Solis, piloto português", Obras
completas de Luciano Pereira da Silva, vol. III, Lisboa, Agência Geral das
Colónias, 1946, pp. 275-299
(32) A expedição de João de Lisboa, em 1511, foi financiada por
Nuno Manuel e Cristovão Haro e outros. Uma descrição descrição da mesma foi
publicada em 1514, num panfleto sobre o Brasil - Newen Zeytung auss Presillg
Landt-, por um alemão não identificado ao serviço dos banqueiros Fugger. Entre outras transcrições:
Annaes da Bibliotheca Nacional do Rio de Janeiro, vol. XXXIII (1911), p.
115-143; Rolando A. Laguarda Trias - El Predescubrimiento del Rio de la Plata
por l expedicion portuguesa de 1511-1512, Lisboa. J. Inv. Ultramar, cap. 10.
(33) Manzano y Manzano, Juan - Los Pinzon... , Vol. III, p. 60-63
(34) Montarroio, José Freire de - História da Colonização
Portuguesa do Brasil, vol. 2. Porto. 1923; Guedes, M. Justo - História Naval
Brasileira. Rio de Janeiro. 1975, etc.
(36) Monteiro, Mário - Aleixo Garcia, descobridor português do
Paraguay e da Bolivia, em 1524-1525: glória ignorada em Portugal. 1998; Rosana
Bond - A Saga de Aleixo Garcia: o Descobridor do Império Inca, 1998; Chaves,
Julio César - Descubrimiento y Conquista del Río de la Plata y el Paraguay.
Asunción. 1968; etc.
(37) Noell, Charles E. - Aleixo Garcia and the White King, in,
Hispanic American Historial Review, XXVI (1946, pp.450-466
(38) 33) Manzano y Manzano, Juan - Los Pinzon... , Vol. II, p.578
(39) Toribio Medina - Memoriales de Diego García, capitan y
piloto, pidiendo ayuda de costa para él, su mujer e hijos, in, Colección de
documentos ineditos..., t. III, p.449.
(40) Ventura, Maria da Graça A. Mateus - Portugueses no
Descobrimento e Conquista da Hispano-América. Viagens e Expedições (1492-1557).
Edições Colibri.200, pp.125-127. Amplas referências bibliográficas.
(41) Césareo Fernandez. Duro - La Situacion del Cabo de San Agustin en el
Brasil el ano de 1500, inserto no Tomo 16º., de 1883, no Boletin de la Sociedad
Geografica de Madrid
(42) Nuría Colli Juliá -Hispania X, Revista Española de História,
1950, 596
(43) Manzano y Manzano, Juan - Los Pinzon...
(44) Francesc Albardaner i Llorens- Columbus, Corsair, and the
Pinzón brothers, Pirates, in the Mediterranean before 1492, in, The Northern
Mariner/le marin du nord, XXI No. 3, (July 2011), 263-278.
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