Juan
de la Cosa (1460 ? -28/2/1510)
Piloto de origem castelhana que durante anos esteve ao
serviço de Portugal, tendo ido às suas rotas secretas na Guiné.
1.
Expedições
às Indias com Colombo
Em
meados de 1492, estava com a sua nau - Santa Maria - no porto de Palos,
junto a Huelva. Colombo fretou o seu navio para a 1º. viagem, tendo embarcado
também na qualidade de
mestre.
Na 1ª. Viagem de à América,
combinado com Colombo, afundam na noite de Natal de 1492, a nau Santa Maria. Este
foi o pretexto para deixarem nas Antilhas os espiões dos reis de Espanha. Desta
forma impediam que os mesmos falassem sobre o que haviam de facto descoberto, e
por outro lado, garantiram o seu regresso às Antilhas
Participa
na também, agora como piloto, na segunda viagem (1493), sendo todavia pago como
marinheiro.
2.
Expedição
de Alonso de Ojeda (1499-1500)
Participou,
como piloto,
na viagem às Indias de Alonso de Hojeda, tendo explorado o litoral da Venezuela. Um
dos que reclamou a sua presença nesta expedição foi Américo Vespúcio,
cujo relato sobre a mesma tem provocado enormes confusões.
Não se sabe ao certo quantas
caravelas iniciarem a expedição, uns afirma que foi apenas uma, Vespúcio diz que
foram duas, para a seguir afirmar que foram três... Ojeda, durante a viagem,
ter-se-á apoderado de uma caravela, o que leva alguns historiadores a falarem em
quatro caravelas na expedição.
Destes testemunhos nada se pode concluir com segurança,
trata-se no fundo de uma típica ação de propaganda espanhola, que datou
documentos (cartas e mapas) com datas anteriores aos acontecimentos verificados,
de modo a reclamar para a Espanha as descobertas portuguesas.
Vespucio,
Hojeda e Juan de La Cosa estiveram envolvidos nestas manobras fraudulentas, que
ainda hoje são alimentadas por muitos historiadores.
Mais
2.1. Pesquisa em Hispaniola
(1500)
A versão mais exacta desta viagem
consta de uma pesquisa feita em 1500, quando Hojeda chega à ilha de La
Hispaniola, e aí é sujeito a um inquérito por Rodrigo Perez, lugar-tenente de
Colombo. Ficamos a saber o seguinte:
- A viagem iniciou-se a
18/5/1499, apenas com uma única caravela, na qual seguiam pelo menos dois
portugueses, pai e filho. Na costa da Barberia juntou-se mais uma
caravela;
- A rota seguida foi a
seguinte: Puerto de Santa Maria, costa da Berberia (cabo de Aguer), Lanzarote,
Fuerteventura, Gran Canária e Gomera;
.
- Aportou à foz do Rio
Orinoco (Venezuela), tendo depois percorrido a Terra Firme, ilha Margarita,
Golfo das Pérolas, promontório de Santa Eufémia, incluindo a Ilha dos Gigantes,
Curaçao e Arruba. Dirigindo-se depois para La Hispaniola, onde foram sujeito a
um inquérito (8).
Américo Vespúcio, aponta como resultados concretos desta
expedição a captura, de 232 escravos, tendo
morrido 32 na viagem para Cádiz, onde supostamente terão chegado em Junho de
1500.
Esta
expedição foi
financiada pela Marquesa de Montemayor, portuguesa exilada em Espanha.
Em 1504, como veremos, Juan de la Cosa, participou noutra expedição
também financiada por esta portuguesa.
Com que objectivo ?
- Obter produtos e
escravos nos domínios espanhóis definidos no Tratado de
Tordesilhas, uma acção que os portugueses se tornaram especialistas.
3.
A
Fantasiosa História do Mapa-Mundi (mapa do mundo) (1)
Os
espanhóis á mingua de cartógrafos e navegadores, tem procurado
transformar Juan de La Cosa num notável cartografo, atribuindo-lhe a feitura do
primeiro mapa do mundo em 1500.
Afirmam
que terá realizado esta enorme tarefa sozinho, em apenas 4 meses, pouco depois de
ter regressado das Indias. O mapa só foi descoberto em 1832, e ao longo dos
séculos ninguém soube da sua existência !
Na
verdade, Juan de la Cosa chegou a Espanha em Junho de 1500 e em Outubro de 1500
já integrava a nova expedição de Rodrigo Bastidas.
Em
quatro meses realizou, segundo os alguns historiadores espanhóis, um mapa de enorme complexidade,
que implicava não apenas profundos conhecimentos de cosmografia, cartografia, toponímica,
iluminura, desenho, etc.
Neste
curto período de tempo, articulou toda a informação disponível, incluindo a
obtida pelos espiões espanhóis em Portugal. Registou e certamente terá
confirmado mais de 1.485 topónimos do mundo.
Juan
de la Cosa teria realizado esta enorme tarefa, sem qualquer experiência
anterior neste domínio. Não lhe lhe conhece qualquer outro mapa. Não possuía nenhuma oficina,
nem consta que houvessem cartógrafos no porto onde vivia - Puerto de Santa
Maria.
Como
se tudo isto não bastasse, o mapa foi feito no meio de inúmeros outros trabalhos,
nomeadamente a venda de 222 escravos que, segundo Américo Vespúcio, haviam trazido das Indias.
3.1.Análise
do Mapa
O
mapa assenta numa concepção muito retrógrada do mundo, apenas admitindo a
existência de três continentes : Europa, África e Ásia. As terras
descobertas por Colombo são situadas na Ásia.
Assinala as linhas equatorial e a do trópico de Câncer. A linha
meridiana
passa pelos Açores, dividindo o mundo ao meio conforme o acordado no Tratado de
Tordesilhas (1494).
Este
mapa parece ter resultado da junção de dois mapas diferentes: um português e
outro elaborado possivelmente por Colombo sobre as Antilhas.
Testemunhos dos Pleitos, como
demonstraram Alícia Gould e Rumeu de Armas (libro Copiador), apontam para
o facto do mesmo se ter servido dos mapas de Colombo. Rodrigo de Alvarado,
testemunha que Pedro de Salzedo foi quem lhe deu uma copia dos mapas do
Almirante. No mesmo sentido testemunham Pedro de Arroyal e Rafael Cataño.
A iconografia da
parte que representa a Europa, África e Ásia é tipicamente portuguesa.
Abundam
neste mapa os topónimos portugueses, tais como "Serra", ",
"Monte de Pedra", "C. da Boa
esperança", "R. do Ynfante", etc., comprovando a sua matriz
lusa.
Aparecem
no mapa também topónimos em latim, o que indica que o copista não traduziu
completamente o mapa original.
África e Ásia.
Todos os topónimos da costa ocidental de África são portugueses. Numa
alusão ao rei português que serviu, Juan de la Cosa coloca na parte inferior
de África a seguinte legenda: "Hasta aqui descobrió el excelente rey
D. Juan de Portugal". Ainda em África, mas na Etiópia desenha a
figura mítica de Prestes João manifestando que está a par do imaginário luso
dos descobrimentos.
A representação da costa oriental de
África é puramente fantasiosa. Quando à Asia revela um total desconhecimento,
embora saiba da viagem Vasco Gama (1497-1499). Muito a leste de Calecute,
escreve "Tierra descubierta por el Rey don Manuel Rey de Portugal".
Um
dos mapas
que serviu para representar de forma fantasiosa a Ásia é seguramente muito anterior às descobertas
de
Vasco da Gama.
Antilhas (Caraíbas). A representação das
Antilhas, embora seja mais completa, está todavia feita numa escala
desproporcionada em relação ao conjunto dos continentes. Prolonga-se pelos
dois hemisférios. O mapa regista
topónimos que em 1500 eram desconhecidos dos espanhóis: Em 1500 só haviam percorrido
a costa da Venezuela até ao cabo da vela, mas o mapa assinala já descobertas
posteriores (Goajira, costa da Santa Marta, Urabá, Rio grande de Darien, etc), o
que confirma que o mapa foi sofrendo alterações ao longo dos tempos.
Cuba, Hispaniola e Tridadad.
O
autor demonstrando conhecer alguns segredos de Colombo, representa Cuba como uma ilha. Recorde-se
que este navegador enganara deliberadamente os espanhóis, obrigando
inclusive a tripulação a
jurar que se tratava de uma parte da Ásia, sem que tivessem explorado completamente as
costas da ilha. A insularidade de Cuba só foi admitida depois de 1508, quando o
governador Ovando a fez circundar por Sebastian Ocampo.
Os erros são
colossais, mesmo onde seria menos de esperar: Ao fim de 7 anos, os espanhóis ainda não conseguiam precisar a
localização de ilhas como Cuba ou Hispaniola. Cuba é representada entre 30º e
38º N, quando devia estar a entre 19º 48` 23º. 11`N.; A Hispaniola está
entre 21º e 26º. N, contra os verdadeiros limites de 17º 40`e 20º. N; A ilha da
Trindad que está entre 10º e 30`N sobe para 14º 30`N.
Estes exemplos, mostram
a completa incompetência dos cosmógrafos que participaram na elaboração deste
planisfério.
Brasil.
Durante muito tempo foi afirmado que era o primeiro mapa que representava as
costa do Brasil, sem que se tenha levado em conta que o mapa sofreu vários
acrescentos a longo dos anos. Neste mapa não está representado o nordeste
do continente austral até o Amazonas e daqui até o cabo de Santo Agostinho.
Falta a zona que precede e segue o Amazonas. A representação é fantasiosa,
revelando um completo desconhecimento.
A "Ysla descubierta por
Portugal", supostamente o Brasil "achado" por Pedro Alvares Cabral, é provável
que seja a ilha de Fernando de Noronha" descoberta em 1501-1502.
Na
costa supostamente do Brasil surgem topónimos que datam de 1508, revelando a possível
datação do mapa. Os historiadores espanhóis mais rigorosos, não vindo a
público desmentir as mistificações que tem sido produzidas (1). Nada que
constitua em
Portugal ou no Brasil uma novidade (2 ).
Américas.
O mapa assinala a região dos EUA descoberta por Giovanni Caboto, em 1498, mas
une-a ao Brasil, sem dar indicações de distâncias ou referências precisas. Desde
o golfo do México até cabo Cod não existem legendas, nem estuários. Imagina toda
esta costa como fazendo parte das costas da Ásia que desconhece.
Arcaísmos.
O
mapa apresenta uma visão arcaica do mundo, pois une une a América Central à Asia, situando na
passagem a figura de S. Cristovão, numa personificação do próprio Cristovão
Colombo. As escalas do planisfério são meramente decorativas. Os módulos
das distâncias não são constantes, etc. Na prática nenhum navegador se poderia
orientar por este mapa.
O actual Planisfério de La Cosa é
provavelmente uma
cópia atualizada feita em 1509, com base num mapa rudimentar feito por La Cosa
em 1500. A única zona do mundo que tinha informações mais precisas era
sobre as Antilhas.
Testemunhos
de companheiros de Juan de la Cosa, confirmam que o mapa que terá efectivamente
realizado era muitíssimo
limitado. Nos Pleitos Colombinos dois pilotos
- Pedro Ledesma e Juan de Jerez - que terão visto o mapa, dizem que a costa da
América se estendia apenas "dende los Freiles (ilhotas
a E. da Margarida) hasta la Punta Espada" (6).
3.2.
Finalidade do Mapa
O
mapa atribuído a Juan de la Cosa foi finalizado nunca antes de 1508. É um
típico produto da disputada do mundo entre Portugal e a Espanha, revelando o
quanto este país estava atrasado no domínio da cartografia no início do
século XVI.
para
4.
Expedição
de Rodrigo de Bastidas (1501-1502)
Participou
como piloto,
em 1501 e 1502, na expedição de Rodrigo de Bastidas (4 ), na qual foi também como soldado
o sanguinário Vasco
Nuñes de Balboa (5).
Nesta
expedição andou a explorar o litoral da actual Colombia, a foz do Rio da
Madalena e o golfo de Uralba ou de Darien, tendo chegado às costas do Panamá
(1502). A viagem foi um completo fracasso, tendo sido obrigado a
refugiar-se na Jamaica e depois na Hispaniola, onde as duas caravelas se
afundaram.
Não
tardou a ser acusado de andar a traficar ouro com os indigenas, o mesmo sucedeu
a Rodrigo de Bastidas. Ambos foram presos por Francisco Bobadilla (1502), mas graças
a Nicolás de Ovando, o novo governador, conseguiu regressar a Espanha.
Apesar do desaire, a corte espanhola nomeou-o,
aguazil mor das terras do golfo de Urabá, quando as mesmas tivessem governador.
4.1.
Negociações e Prisão em Lisboa (1503)
Em
Espanha, Juan de la Cosa, revela aos reis católicos que se haviam deparado nas
costas do Panamá com quatro navios de portugueses que andavam a resgatar
escravos e traficar clandestinamente produtos na região.
Este
facto mostra claramente o que o mapa dito de Cantino (1500) já documenta: os
portugueses muitos antes dos espanhóis conheciam toda a América Central até à
Florida.
Assustado
com a revelação, os reis espanhóis enviam Juan de La Cosa, em Agosto de 1503, a Lisboa
numa missão secreta para obter informações, acabando por ser preso nesta cidade.
Libertado
através de pressões diplomáticas, regressa a Espanha (Outubro de 1503), onde
confirma as expedições que os portugueses estavam a fazer aos domínios
espanhóis, mas também que uma nova esquadra estava preparada para
partir. Levou consigo também dois mapas (7).
Revela
ainda que os portugueses já tinham planos hidrográficos das Indias espanholas.
Um facto que provoca a ira dos reis católicos.
5.
Patrulhamento da Terra Firma
Em
1504 é enviado para as costas da Terra Firma (Colombia), para combater as
incursões que os navios portugueses faziam na região.
A marquesa de Montemayor
(portuguesa),
volta a financiar mais esta expedição. Os seus resultados são nulos, regressando
pouco depois a Espanha. A verdadeira missão de Juan de la Cosa terá sido o
tráfico clandestino de escravos.
Três
anos depois recebe uma nova missão: patrulhar o golfo de Cádiz, para apanhar os
navios portugueses vindos das Indias espanholas. Os resultados foram, uma vez
mais, nulos.
6.
Novas Expedições e a Junta dos Navegantes de Burgos
O ano de 1507 é marcado por
informações duvidosas sobre as suas actividades.
Neste ano foi chamado à corte para
discutir a politica ultramarina, na chamada
Junta dos Navegantes de Burgos,
formada em consequência da crescentes presença dos portugueses nos domínios
espanhóis. Entre os que participarem nestas reuniões contam-se Juan Diaz Solis (português),
Vicente Yáñez Pinzón e Américo Vespúcio (florentino), acabado de
regressar de Portugal, onde alegadamente teria vivido cinco anos.
A Junta defende a continuação das
explorações e a ocupação dos territórios descobertos, como forma de
evitarem o seu saque pelos portugueses.
No ano seguinte, a 28/6/1508, sai de
Sanlucar de Barrameda, uma expedição comandada por Juan Diaz de Solís e Vicente
Yanez Pinzon, na qual participaram também Pedro de Ledesma e Andrés de Morales,
tendo atingido o golfo do México. A expedição não prosseguiu, devido às
desavenças entre o português e o espanhol. No regresso a Espanha, em 1509, Solis
acabou por ser processado, o que não o impediu de, em 1512, substituir o
charlatão de Américo Vespúcio como piloto maior da Casa da Contratação de
Sevillha.
Juan de La Cosa, a 15 de Junho de
1507, estando a corte em Valladolid, é autorizado a ir à Hispaniola levar um
carregamento de escravos negros, pois os espanhóis já tinha dizimado grande
parte da população nativa. Teria ido com Rodrigo de Bastidas. Durante a viagem
teriam sido perseguidos por portugueses e um pirata viscainho - Juan de Granada
- , o certo é que não tardou a
voltar a Espanha. É provável que fossem também portugueses os navios que usaram nesta
expedição.
7.
Expedição de 1509 e Morte nas Indias
Em 1508 sabemos que veio a Lisboa, a fim de adquirir duas caravelas tripuladas
por portugueses, que se destinavam à expedição de 1509 à América Central, na
qual veio a falecer, em combate com os indios.
A Junta de Burgos, em 1499, autorizou
uma importante expedição à Terra Firma, comandada por Alonso de Ojeda e Diego de
Nicuesa, onde iriam ocupar os cargos de Nueva Andalucia e Castilla del Oro.
Ojeda partiu a 10 ou 12 de Novembro
de 1509, levando consigo Juan de La Cosa, que, como dissemos, havia adquirido para o feito duas
caravelas em Portugal (3). Iria ocupar cargo de aguazil mor do governo.
Ojeda desembarcou perto de Cartagena (Colombia), onde encontrou uma enorme
resistência dos indios, que mataram centenas de espanhóis. Com a chegada de Nicuesa,
a vingança foi terrivel, sendo brutalmente massacrados inúmeros indios. Foi nesta altura encontrado
morto, preso a uma arvore Juan de La Cosa (29/2/1510).
O sanguinário Ojeda, acabou por ter
que abandonar a cidade que fundara - San Sebastián, junto à actual Cartagena (
Colombia), tendo-se refugiado em Santo Domingo. O vice-rei Diego Colon, ordenou
que o mesmo fosse processado e acusado das enormes atrocidades que cometera
contra os indios, tendo morrido na miséria em 1515 ou 16..
Carlos Fontes
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