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3.
Falsificações Italianas
A história de Colombo italiano assenta
numa verdadeira floresta de equívocos e falsificações produzidas na sua
maioria por italianos.
No
século final do século XV, os italianos, sobretudo genoveses,
apercebem-se que a confusão da identidade de Colombo e dos seus irmãos poderia
constituir uma excelente oportunidade para que se apoderem da sua
herança. Esperavam obter das indias
espanholas rendimentos e prestígio sem grandes trabalhos.
Neste sentido
envolveram-se na falsificação de documentos, nomeadamente sobre alegadas
dividas, dádivas e relações familiares com Génova, Placência, Cuccaro, Savona e
muitos outros lugares.
Grande parte destas
falsificações são alegadas cópias de documentos originais desaparecidos, o que à
partida impossibilitava qualquer comprovação da sua autenticidade. Quase sempre
são referências contraditórias em obras publicadas muito depois de Colombo ter
falecido.
Ao
longo dos anos os italianos e os espanhóis foram destruindo sistematicamente os
originais da correspondência de Colombo e dos seus irmãos, substituindo-os por
cópias adulteradas.
O
primeiro grande problema que falsários italianos enfrentam foi o da relação
de Colombo com as cidades e os Estados Italianos. Como é sabido, não manifestava
qualquer relação ou afeição.
Como é que poderia, por exemplo, ser genovês se os ignorava e
prejudicava? Os seus biógrafos italianos tem-se esforçado por
demonstrar o contrário, mentindo descaradamente.
a)
Falsificação de Documentos
Para justificar
tantas trapalhadas os italianos desde o século XV ao século XX não pararam de
falsificar documentos. Esta proliferação de documentos falsos tornou a
biografia de Colombo um verdadeiro quebra cabeças para os historiadores, pois
confrontam-se perante contradições insolúveis.
Os genoveses foram entre o italianos, aqueles que mais se envolveram em
falsificações, sobretudo depois de 1497, quando viram a extrema vulnerabilidade
de Colombo. Era uma excelente oportunidade para se apoderarem da sua fortuna e
do seu prestígio.
Primeiro inventaram:
- Falsas ligações a supostos familiares na cidade de Génova;
- Falsas dividas que teria contraído para financiar as suas expedições;
- Falsas doações.
Depois, para darem cobertura a estas trafulhices criaram ou falsificaram
documentos nos quais se indicavam dívidas a genoveses e ao Banco de S. Jorge.
Estes documentos são hoje comprovadamente falsos:
- Testamentos:
- Folhas Avulso
- Cartas
- Actas Notoriais em Cartórios de Génova
Contradições das Actas Genovesas e Actas
Savonesas
Estas duas cidades produziram ao
longo de séculos uma inacreditável quantidade de Actas Notoriais datadas do
século XV sobre uma alegada familia de miseráveis tecelões.
Apesar de viverem na mais completa
miséria, por exemplo, não deixam de andar sempre nos notários para registarem as
suas mudanças de casa entre Génova e Savona, mas também para registarem
os alugueres de casa em Génova. Estes miseráveis tecelões tinham os olhos postos no
futuro !
Os notários acabam por os
identificarem indistintamente por genoveses e savoneses, um equivoco cometido
por um escrivão supostamente amigo da família, o notário Antonio Galo.
Os historiadores de acordo com a
biografia que pretendem construir, declaram umas verdadeiras e outras falsas,
sem qualquer critério aparente.
Para além destes factos
incompreensíveis, a verdade é que existem várias contradições entre as actas
notoriais genovesas e as actas notoriais savonesas.
Nas Actas Genovesas Colombo tem
quatro irmãos, dois dos quais - Pellegrino e Biachinetta não constam nas actas
notoriais de Savona, as quais apenas referem dois irmãos.
Apenas de uma Acta de Savona se
conhece o original, as restantes só constam numa publicação feita em 1602, por Giulio Salinerii (13), quando em Espanha se discutia a quem pertencia a fortuna deixada por Colombo...
A sua autenticidade é posta em causa por muitos historiadores.
Os genoveses, em termos de Actas
Notoriais mostram-se sempre mais prolixos na sua produção até aos nossos dias.
Falsificações
no Século XVI:
1.
Testamento de "1498" (Testamento
do "Mayorazgo"
-Morgadio)
Os reis de Espanha,
a 27 de Abril de
1497, autorizaram Colombo a constituir um morgadio, tendo
encarregado o Príncipe D. Juan de assinar a escritura e de fazer cumprir o que nela se dispunha. O
morgadio foi confirmado em 1501, o documento encontra-se no Arquivo de Simancas.
Colombo
fez em 1502 um novo testamento, em 8 folhas (16 páginas de texto), todas numeradas.
Na última folha tinha versos em latim.
Na
longa luta pela posse do Ducado de Verágua, que se seguiu à morte de Luis
Colon (1472), o Testamento de 1502 foi roubado por Gaspar de Zárate, procurador
da Marquesa de Guadaleste, com a conivência de Francisco de Mendonza, marquês
de Guadaleste e almirante de Aragão. Julgados em Tribunal, a 3 de Março de
1588, o Almirante ficou
preso na sua casa e Gaspar de Zárate foi parar aos cárceres reais.
O
Testamento original de 1502 nunca apareceu. O que possibilitou que os
falsários pudessem agora apresentar as suas cópias como verdadeiras.
Colombo
voltou a fazer, em 1506, um novo Testamento que se conserva ainda hoje,
devidamente autenticado. No entanto, os falsários não tardaram a
"acrescentar-lhe", como veremos, uma Adenda.
Em 1586 ( 80 anos após Colombo ter falecido), um italiano chamado Baldasário de
Colombo (Baltasar Colombo), de Cúcaro, aparece em Espanha com uma cópia de uma
suposta cópia do Testamento
de Colombo de 1498, afirmando ser
o seu legitimo herdeiro e reclamando o Ducado de Verágua (10).
A
cópia de Testamento não era o de 1502, que havia sido roubado, mas uma cópia de um outro Testamento anterior, datado 22 de Fevereiro de 1498.
Testamento de 1498
O original
deste alegado Testamento nunca foi
encontrado, nem sequer deixou qualquer rasto num notário. Como é obvio,
esta cópia não está autenticada, nem assinada. Os falsários deixaram-na nos
arquivos de Sevilha, de modo a fazerem crer que aí sempre se havia encontrado.
Nesta
"cópia" estabelecem-se as condições para a transmissão do morgadio, as quais naturalmente se adequavam
ao falsário italiano.
O
documento, a ser verdadeiro, seria particularmente importante, pois é o ÚNICO onde supostamente afirma a sua nacionalidade - “siendo nacido en Génoba” y
que “tenga e sostenga siempre en la ciudad de Génoba una persona de nuestro
linaje [o seu filho Diego], que tenga allí casa y mujer.” Não apenas "afirma" ter nascido em Génova, mas também faz questão de
contemplar esta cidade, esquecendo-se todavia de contemplar a sua família que
ainda aí vivia na cidade.
Esta seria uma prova decisiva
sobre a identidade de Colombo não fosse o documento COMPROVADAMENTE falso. Basta uma simples
análise ao mesmo para se provar as suas inúmeras falsidades .
Outro facto revelador é que nesta
cópia, nunca utiliza o seu nome italiano "Colombo", sim o seu suposto
equivalente espanhol-português- Colón (41).
O
maior dos propagandistas italianos - Paolo Emilio Taviani - foi obrigado a
reconhecer que o documento apresentado por Baltasar Colombo é "suspeito de
interpolações" (12).
Como
e quando surgiu a cópia do testamento de 1498 ?
Após
a morte de Luis de Colon (Fevereiro de 1572), sucessor de Colombo, foi aberto em
Espanha um processo judicial para apurar a quem pertencia a sua herança e
títulos, em particular o Ducado de Verágua.
.
Apareceu então em Espanha, em
1586, um italiano Baltasar Colombo,
cidadão de Génova, que se afirmava descendente do Almirante. Trazia consigo
uma suposta cópia do Testamento do Mayorazgo de Colombo de 1498.
A história
da cópia deste "Testamento", tanto quanto se sabe, envolve
um advogado (Verástegui) do neto de Colombo (Luis Colón), que afirma que este
lhe confiou a cópia em 1566. Embora o seu cliente tenha morrido em 1572, este
advogado só em 1578 teria resolvido divulgar tão importante documento,
entregando-o a Baltasar Colombo.
Em
Tribunal o Testamento foi dado como falso, no entanto desde então é a
principal e única "prova" para sustentar a origem genovesa de
Colombo. Os que se apoiam nestes documento tem recorrido às mais diversas
manobras para provar a sua autenticidade, sem nunca o conseguirem.
Um
dos processos mais usados foi o de juntar documentos verdadeiros com outros
falsos existentes em Espanha:
-
A Transcrição
da Cédula Real de 1497 Autorizando o Morgado (Arquivo de Simancas,
Verdadeiro)
- Testamento de 1498,
apresentado em 1586 por Baltasar Colombo (Arquivo das Indias, falso)
- Codicilho de 1506, escrito por Colombo a 25
de Agosto de 1505 assinado “Christo ferens”
e confirmado a 19 de Maio de 1506. (Verdadeiro)
Mais
2.
Adenda ao Testamento de 1506
Colombo,
pouco antes de morrer fez um testamento, devidamente autenticado. Os falsários
italianos acrescentarem-lhe pouco depois uma folha solta, com uma relação de
dívidas, maioritariamente a genoveses. Não consta que alguma delas tivesse sido
paga, ninguém deu qualquer crédito a esta falsificação. Mais
3. Banco de São Jorge de
Génova
Uma das peças
mais caricatas das falsificações italianas é a alegada correspondência entre
Colombo e o banco genovês. Os originais como sempre desapareceram, as cartas
que existem são "cópias" feitas por outras pessoas de documentos
originais.
.
Qual
é o assunto da correspondência? Um pedido de protecção bancária
internacional para os privilégios do seu filho Diego Colón. Após terem feito
desaparecer os originais, os italianos falsificaram as cartas de
Colombo, em espanhol aportuguesado, de modo darem a entender que o mesmo era
genovês. O objectivo era apropriarem-se de 10% de todos os rendimentos das
Indias espanholas, uma fortuna. Mais
4.
Mistério da Arca
A
cidade de Génova possui um fragmento de uma alegada carta de Colombo ao reis
espanhóis, data de 1497. A carta fala de uma arca, de três chaves, mas
sobretudo de indemnizações e bens de pessoas mortas na Indias. Ao fim de três
anos, no caso não houvesse nenhum familiar a reclamar pelos seus bens os mesmos
seriam distribuídos em favor das suas almas. Advinha-se pelo teor da carta,
não assinada, que estamos perante mais uma falcatrua, destinada a
reclamar indemnizações de estrangeiros mortos nas Indias ! (6)
A
história da arca aparece numa ordem de Colombo, dirigida aos 39 tripulantes da
1ª. expedição que deixou em 1493 nas Indias. A arca, com três chaves, era
aonde deviam depositar o ouro que recolhessem. A carta é comprovadamente
falsa. (7) Mais
5. Historia del Almirante, de Hernando Colon
A mais antiga biografia de Colombo foi escrita pelo seu
filho Hernando Colón. Os manuscritos originais foram também levados para Itália,
a fim de serem traduzidos e aí acabaram por desaparecer.
O tradutor foi um espanhol - Alfonso de Ulloa - enquanto se encontrava preso,
tendo morrido em 1570, sem ter concluído a tradução.
O editor (italiano) fez questão de escrever: "Eu publico isto para glória de
Génova". A sua publicação coincidiu com as manobras da ladroagem italiana em
torno do Testamento de Colombo.
A obra está povoada de erros, adulterações e
falsificações. Análises cuidadosas do texto que foi publicado em Itália, o único
que existe, revelaram que os mesmo é da autoria de cinco pessoas
diferentes, as quais provavelmente em alturas diferentes modificaram,
corrigiram ou introduziram acrescentos ao texto original.
Os erros e incongruências são particularmente notórias até ao Capítulo XV.
O objectivo destas modificações
parece ter sido o de reforçar a ideia que a sua família era italiana.
Não deixa todavia de ser significativo, nunca na mesma se afirme explicitamente que Colombo era de
Génova. Mais
6. Testamento de Berardi
Em 1512 ( 6 anos após Colombo ter falecido ), os netos de um italiano chamado
Juanoto Berardi, afirmam terem o seu testamento no qual este declara que o
navegador terá contraído um avultado empréstimo para financiar a 1ª. Viagem
(1492). O caso foi rapidamente resolvido, pois não passava de mais uma
aldrabice.
7. Prioridade a Génova
A partir da segunda metade do século
XVI, a imprensa torna-se num poderoso meio de propaganda, amplamente usado por
aqueles que até aí estiveram afastados dos descobrimentos marítimos e
geográficos, como os venezianos, alemães, franceses, ingleses e holandeses para
denegrirem aqueles que haviam tomado a dianteira - os portugueses e os
espanhóis. A
popularidade alcançada por certas obras sobre os descobrimentos, em especial as ilustradas, ajudaram a consolidarem muitos erros
históricos.
Uma das obras ilustradas de maior
impacto foi sem dúvida a série de 12 livros sobre "Grandes Viagens",
inicialmente editados por Théodoro de Bry (1590-1598) e depois continuados pelos seus filhos
até 1634.
As gravuras de Théodoro de Bry,
muito fantasiosas, difundiram por toda a Europa a imagem do "Novo Mundo"
(América) e dos seus terríveis e selvagens habitantes (canibais). Com base nos testemunhos de Las Casas (Brevissima),
mas sobretudo nos de Girolamo Benzoni (Novae Novi Orbis Historiae, Veneza, 1565), difundem a ideia que os
conquistadores espanhóis estavam apenas preocupados em com o
saque e o extermínio dos povos americanos, para enriquecerem rapidamente.
O quarto livro, baseado na citada obra do milanês Girolamo Benzoni,
ocupando-se da descoberta das "Indias Ocidentais" por Cristovão Colombo.
n
A gravura que acima publicamos,
retirada do quatro livro, é
acompanhada de um texto copiado de Benzoni, no qual se começa por afirmar que Colombo navegou pelo Oceano com os portugueses, e com eles
aprendeu a conhecer ventos e correntes marítimas. Colombo não é todavia retratado como um
marinheiro, mas sim como um "soldado" ou "conquistador" espanhol (16).
7.1. Girolamo Benzoni
A obra de Girolamo Benzoni (40) não contém qualquer elemento histórico novo, e está repleta de erros. A
Ilha da Madeira, por exemplo, é identificada como uma das sete ilhas dos Açores.
O principal interesse desta obra está no seu carácter propagandístico, a forma
como combate a colonização espanhola e "corrige" os factos que não se encaixavam na origem genovesa de
Colombo.
Em primeiro lugar, denuncia como a
invenção espanhola a história do piloto anónimo, que atribui erradamente a
Gomara (o inventor foi Oviedo). O objectivo dos espanhóis seria o de desacreditar Colombo e a retirar-lhe o
mérito da própria descoberta.
Em segundo, procura explicar a
razão porque Colombo não apresentou primeiro a sua ideia à República de Génova, mas fê-lo
primeiro aos reis de Portugal, e só depois aos de Inglaterra, França e Espanha.
Este facto, a ser verdade, revelaria a pouco importância que Colombo atribuía à sua suposta
pátria genovesa.
Benzoni, afirma falsamente que Pedro Martir
de Anghiere escreveu que Colombo quando tinha 40
(quarenta ) anos propôs á senhoria de Génova a viagem para Ocidente até onde
nascem as especiarias. Os genoveses manifestaram-se pouco interessados na
expedição, razão pelo qual Colombo se dirigiu então ao rei de Portugal (D.
Afonso V). Esta mentira era, na mesma altura, repetida pelo veneziano - Giovan Battista Ramusio (1485 -1557), que afirma que estes
acontecimentos ocorreram por volta de 1470 (cfr. Delle navigatione et viaggi, Tomo
III, fol. 1). Trata-se de uma completa falsidade.
Navarrete
dá conta que ainda no século XVIII, existiam historiadores a dizerem sem qualquer
base documental que Colombo também havia apresentado o seu projecto aos
venezianos ! A floresta de mentiras, como veremos, era enorme para o ligarem
a uma república italiana.
Por último, procura construir um
retrato beatifico de Colombo e do seu irmão Bartolomeu, ambos eram não apenas
bons cristãos, mas estavam preocupados com o bem estar e evangelização dos povos
que habitavam o continente americano. Melhores governantes era impossível
encontrar. Os espanhóis, todos eles, a começar pelos irmãos pinzon, são
corruptos, assassinos, cobardes, ladrões, exterminadores de povos inocentes, etc,
etc. Acima de tudo são uns ingratos, prenderam e humilharem o homem que lhes deu
riquezas sem fim.
Falsificações no Século XVII:
Algumas famílias em Génova, na primeira metade do
século XVII, sentiram que se podiam apropriar da fama de Cristovão Colombo, mas
para isso tinham que fabricar uma outra história veiculada através de imagens. O
período do domínio de Portugal pela Espanha, entre 1580 e 1640, foi
particularmente propício a estas falsificações.
Um dos melhores exemplos é a obra do
pintor genovês Lazzaro Tavarone (Lázaro Tavarón). Trabalhou em Espanha,
no Escorial, pintando as grandes batalhas das tropas espanholas. Apercebeu-se
então que "Portugal deixara de "existir", em consequência da sua integração em
Espanha (1580), o que facilitava a apropriação do seu passado. Os genoveses
podiam finalmente mentir à vontade.
No regresso a Génova, no salão do Palácio dos Spínola, em 1614/5, pintou o "Cerco de Lisboa pelo Duque de
Alba", ocorrido em Agosto de 1580 (Batalha de Alcântara) (39). O
acontecimento trágico que marcou o domínio espanhol de Portugal.
Lazzaro Tavarone, ao serviço da
família Spínola, pinta então em Génova, os seus conhecidos frescos sobre
Colombo no Palazzo Francesco Ferrarri, hoje Palazzo Belimbau. A história de Colombo é literalmente fabricada. Num dos
frescos, por exemplo, D. João II (rei de Portugal) surge ao lado de Dona Leonor
de Lencastre em amena conversa com Colombo, que lhes conta a sua primeira viagem
às Indias (América). A cena é uma pura invenção, dado que Colombo teve dois
encontros separados e locais distintos.
Desenha também a "Apoteose de
Colombo" que, como veremos, será objecto de uma enorme mistificação no
princípio do século XIX.
Ainda em Génova, podemos observar
várias peças do século XVII que ilustram estas falsificações genovesas sobre
Colombo. Numa excelente peça de prata, um
vaso, datado do final século XVII, princípios do XVIII, Colombo surge a lutar
contra Francisco Porras, segurando um escudo com a cruz vermelha da cidade
de Génova (Génova, Galeria Nacional Palazzo Spinola).
Este combate nunca existiu, a cruz
também era outra. Colombo, como veremos, fez questão de levar consigo, não a
bandeira de Génova, mas a da dinastia de Avis de Portugal, uma cruz verde.
No final do século XIX, os artistas italianos, também representam Colombo, não
com a cruz verde que efectivamente levou, mas com a cruz vermelha de Génova. receram depois de Colombo ter falecido, em 1506, e não
resistem actualmente a uma análise crítica.
Falsificações no Século
XVIII:
8. Codicilo Militar
Na segunda metade do século XVIII, os italianos tentam, uma vez mais, apoderar-se do Ducado de Veragua.
Na cidade de Roma, quando estavam a derrubar um troço de uma parede da casa
Corsini, em 1779,
aparece milagrosamente um livro de orações de Colombo. O descobridor deste
notável documento, escrito à mão pelo próprio Colombo, foi do abade Juan Andres
(32), que logo confirmou a sua autenticidade. A Igreja Católica, passou a
envolver-se, como veremos, nestas falsificações.
Numa página em branco do livro, o Almirante das Indias, como tinha falta de
papel, escreveu o seu testamento, segundo o uso militar, o
chamado Codicilo Militar.
O texto supostamente de Colombo diz
o seguinte: "Durante o pontificado, Alexandre VI, consolou-me com este pequeno
livro de orações na minha prisão, atribulações e adversidades. Depois da minha
morte deve o mesmo ser entregue, para memória, à minha muito amada pátria de
Génova, e por os benefícios da mesma recebidos, quero que com as minhas rendas
anuais se construa ali um novo hospital, e para sustento dos pobres da pátria,
faltando a minha linha masculina, declaro e substituo por sucessora do meu
Almirantado das Indias e rendas a mesma Republica de São Jorge. Datado de
Valladolid, 4 de Maio de 1506. "
Apesar de Navarrete ter mostrado a sua falsidade, a maioria dos historiadores,
consideravam-no como verdadeiro. Atualmente é consensual a
sua falsidade.
Falsificações no Século XIX/XX:
O século XIX foi varrido por uma profunda onda nacionalista, na qual muitos
países europeus trataram de inventar heróis, muitas vezes para justificaram
projectos imperialistas.
A França, por exemplo, inventou pseudo-viagens dos marinheiros de Diepe à
Guiné para justificar a rapina que efectuava destes territórios africanos.
Os Italianos, sobretudo depois da unificação da Itália, envolveram-se numa
intensa produção de documentos falsos para transformarem alguns dos seus
alegados compatriotas, como Colombo, em descobridores do mundo. É enorme a
quantidade de trafulhices e falsificações a que se entregam entre fins do
século XIX e a queda de Mussolini.
9. "Códice Diplomático Colombo-Americano"
A primeira grande operação
contemporânea genovesa de difusão de falsificações foi a edição por J. Juan B.
Sportorno, em 1823, do chamado Códice Diplomatico Colombo-Americano. A obra
contém 44 cópias de documentos, cuja autenticidade começou logo a ser posta em
causa.
O códice "original" estaria guardado
na Sala dos Consejo de Senadores, tendo na última página um desenho que foi logo atribuído ao
próprio Colombo.
O francês Mr. Jal fez o decalque do desenho e reproduziu-o
na obra La France Marítima (Paris, 1838), dado que os genoveses lhe
haviam garantido a sua
autenticidade.
Seguindo exemplo do ingénuo francês muitos foram os que a partir daqui
reproduziram o desenho de forma acrítica, dando-o como autêntico, como foi o
caso do antigo responsável pela Comissão das Comemorações dos Descobrimentos
Portugueses - Vasco Graça
Moura (23).
"Apoteose de Colombo". Desenho
atribuído pelos genoveses ao próprio Cristovão Colombo, em que este exaltaria os
seus feitos. Lateralmente o falsificador inventou uma assinatura de Colombo,
fazendo-a acompanhar de uma legenda em que afirma que era assim que ele
assina. O desenho que serviu para esta mistificação, é atribuído a Lazzaro
Tavarone e data da primeira metade do século XVII (Génova, Palazzo Rosso,
gabinete de desenhos e estampas.)
10. Actas da Família de Colombo
Vasculhando nos arquivos notoriais de Génova, descobriram uma família de
tecelões ou taberneiros que viveu nesta cidade no século XV. Foi desta forma
que se deu corpo ao alegado Colombo-tecelão. Para sustentarem esta
tese, tiveram que falsificar novas actas. A confusão é hoje total. Mais
11. Papeis de Assereto
Durante séculos inúmeros italianos, nomeadamente de Génova, haviam procurado
sem êxito documentos que ligassem o dito tecelão Colombo à cidade de Lisboa.
No século XIX inventaram-lhe uma nova profissão mais "digna", a de Colombo- mercador.
Por incrível que possa parecer, estas folhas soltas, rascunhos de uma alegada
Acta notorial só apareceu em 1904 ! O descobridor da mesma foi um coronel
de infantaria italiana - Hugo de Asseretto -, que devido a tão patriótica
"descoberta" não tardou a ser promovido a general.
Ao longo de todo o século XVI, na disputas judiciais pela posse da herança e dos
títulos de Colombo estas folhas soltas de rascunho nunca apareceram. Uma
multidão de caça heranças vasculhou por toda a Itália um documento semelhante,
mas nada encontraram. Este documento apareceu em 1904, saído do nada, num
arquivo que fora visto e revisto durante séculos por investigadores que
procuravam um documento que ligasse um homem chamado Colombo a Lisboa. Mais
12. Cópia da Procuração de Colombo
Em 1928, Angel de Altolaguirre y Duval publica a cópia de uma alegada procuração de Colombo, em que o
marido de portuguesa Violante Moniz Perestrelo e seu cunhado (Francisco Bardi ), surge como
empregado da Casa comercial do banqueiro Medicis de Florença. Colombo teria
"dado" a este banco todos os poderes para o espoliarem. Estamos perante mais uma
típica falsificação italiana..
Estas são algumas das muitas falsificações que sustentam as mistificações
italianas sobre Colombo, e que têm ajudado a credibilizar a tese da sua origem
genovesa.
b ) Mistificações
Desde o século XVI
que os italianos apostam na propaganda para reclamarem a nacionalidade de
Colombo. A partir de finais do século XIX, todos os anos são publicados muitas
obras para alimentarem a mesma ideia, criando uma enorme mistificação que
facilmente engana o leitor, pouco preparado, para distinguir o factos
históricos da invenção de pseudo-factos.
1. Um homem só
As historietas
italianas só conseguem ter alguma credibilidade, porque de uma forma eficaz
passaram a ideia que Colombo actuava sozinho,
desvalorizando ou omitindo a acção do seus irmãos, assim como da sua família portuguesa e as
profundas ligações a Portugal. O seu passado de
corsário, como muitos outros episódios da sua vida são cuidadosamente omitidos.
2. Genealogias
fantasiosas
Hernando
Colón, para ocultar a origem do seu pai, construiu-lhe uma genealogia fantasiosa
na antiga Roma. Mais
Os modernos historiadores italianos, agarram-se a todos os
"colombos" que encontram em Génova, para a partir deles, criaram uma
hipotética
genealogia de Cristovão Colombo.
Nas comemorações do IV Centenário da Descoberta da América foi publicada, em
Roma, a conhecida - Raccolta di
Documenti e Studi pubblicati dalla R. Commissione Colombiana, em 14
volumes (1892-1894).
A selecção dos
documentos dos "Colombos" encontrados em Itália é muito variada, assim como a
sua origem e autenticidade. Uma boa parte dos mesmos são cópias de cópias. A sua
relação com o navegador que viveu em Portugal e Espanha é quase sempre nula ou
inexistente. A própria transcrição dos documentos é muitas vezes pouco rigorosa
e altera-lhes o sentido.
Nas comemorações do V Centenário, em 1992, os italianos publicaram a Nuova raccolta colombiana,
sob a direcção de Aldo Agosto,
dirigente do Archivio di Stato di Genova. Foi tal o número de pessoas que foram
encontradas em Génova, com o nome Colombo, que permitiu criar uma genealogia que
remontava a um Guglielmo Colombo que viveu no século XII.
O trabalho
criativo de Aldo Agosto, dotado de uma prodigiosa imaginação, consistiu em
fazer ligações destes "Colombos" entre si, desde o séculos XII ao século XVI. Basta uma leitura atenta
para descobrir que estes Colombos, frequentemente não têm qualquer ligação entre
si, e muito menos com o navegador que viveu em Portugal e Espanha.
Os italianos não se
limitarem a coleccionar documentos de pessoas com o nome de "Colombo", foram ao
ponto de coleccionar menções de documentos inexistentes. Ao todo a Nuova raccolta colombiana regista 188 "documentos" devidamente numerados, mas
três dezenas deles não existem. Não passam de meras referências a documentos que
supostamente terão existido.
Uma boa parte dos
documentos são cópias de cópias de originais que desapareceram. Outros são
textos supostamente do século XV, que foram publicados em fins do século XVI ou
princípios dos século XVII, mas cujos originais desapareceram...
Para mostrar alguma
seriedade nas suas invenções genealógicas, Aldo Agosto, denuncia inúmeras
falsificações feitas por italianos para se apoderarem da herança de Colombo.
Nesta categoria estão os documentos apresentados Badasarre e Bernardo di Cogoleto , os quais no
seu entender, não passam de reles aldrabões e falsificadores...
3. Histórias misteriosas
Sem
elementos concretos que liguem Colombo a Itália, muitos historiadores fizeram-no
membro de uma sociedade secreta italiana, que o terão encarregado de uma missão
secreta no estrangeiro. Desta forma explica-se a nula ligação de
Colombo a Itália e aos seus Estados. Um exemplo destas patranhices é a obra de Ruggero Marino - Cristovão Colombo, o Último Templário.
4. Intervenção do Vaticano.
A questão da beatificação de Colombo
Para além destes
falsificadores, é hoje evidente também que a Igreja Católica desempenhou um
importante papel na mistificação e falsificação da biografia de Colombo,
sobretudo, ao
longo do século XIX quando o procurou beatificar. Dois papas italianos estivarem
particularmente envolvidos nesta mistificação.
No século
XIX surgiu uma multidão de fervorosos católicos que reclamam a
beatificação de Cristovão Colombo (Cristobal Colón).
O processo
terá começado dentro do próprio Vaticano. Em 1823, o futuro papa Pio
IX (Giovanni Mastai Ferretti, 1792- 1878), viajou até ao Chile, como
Secretário do Nuncio Papal Giovanni Muzi, com o objectivo de estabelecer
as relações diplomáticas entre os dois estados. Terá surgido então a
ideia de arranjarem um santo que pudesse unir simbolicamente a América e
a Europa. O nome de Colombo surgiu neste contexto político-religioso
(31).
O Papa Pío
IX, um fanático anti-semita, encarrega pela breve de 10/12/1851, o Conde Roselly de Lorgues (1805-1898) de escrever uma biografia
adequada de Cristovão Colombo que exaltasse a sua dimensão beatífica. A
Igreja Católica passava a ter uma versão oficial da biografia do
Almirante das Indias.
O conde que
já andava envolvido nesta santa cruzada, ganha um acrescido entusiasmo e produz uma vastíssima obra sobre
o assunto, da qual se destacam entre outras, as seguintes: - La Croix
dans les Deux Mondes (1847), Christophe Colomb / Histoire de sa vie
et de ses voyages (1856) ou a sua obra póstuma - Les
Calomniateurs Modernes du Serviteur de Dieu, Christophe Colomb (Os
caluniadores modernos do servidor de Deus, Cristovão Colombo) (1898).
O papa manda
abrir o processo de beatificação. Enquanto este decorria, os arquivos
oficiais são vasculhados para descobrir e destruir todos os documentos
que pudessem colocar em causa esta imagem beatifica de Colombo.
É nesta
cruzada beatífica que Léon Bloy (1846-1917), publica a sua obra - Le révélateur du globe / Christophe Colomb et sa béatification future (1884) - , uma completa mistificação biográfica. Na mesma linha
santificadora, Paul Claudel (1868-1955) escreve - Livre de
Cristoph Colomb.
Os franceses
aproveitam-se da situação para mostrarem que Colombo foi um santo que
lutou contra os espanhóis, encarnações demoníacas, responsáveis pela morte
de milhões de seres humanos na
América.
Os espanhóis
andavam divididos, sem saber se deviam de obedecer ao papa ou à verdade.
Isabel II, rainha espanhola exilada em França desde 1868, resolve lançar
a confusão e escreve ao papa, pedindo-lhe que beatifique Colombo (carta
de 8/12/1492).(29)
Nos Estados
Unidos, em New Haven (Connecticut) funda-se, em 1882, uma organização
católica denominada os "Cavaleiros de Colombo", apoiada desde 1892, pelo papa Leon XIII (1878-1903). A beatificação de Colombo era vista
pelo Vaticano como uma forma de penetrar nos EUA.
No ano das
comemorações do V Centenário da Descoberta da América (1892), o papa
publica a 16/7/1892, a Encíclica Quato Abeunto Saeculo dirigida
aos arcebispos e bispos de Itália, Espanha e das duas Américas sobre
Cristovão Colombo. O papa (Leão XIII) ordena no dia 12 de Outubro ou
no 1º. domingo seguinte, seja realizada uma missão solene em
evocação de Colombo. A Encíclica mistifica completamente a sua
biografia de modo a torná-lo num santo de altar.
Os italianos
emigrados nos EUA conseguem que o dia 12 de Outubro se torne num
dia de feriado nacional, no que foram depois seguidos pela Espanha e as
suas antigas colónias americanas. Mais
No meio
desta guerra ideológica, não tardou a
surgir em França, a tese que afinal Colombo era um corsário francês (28), multiplicando-se a partir daqui as obras procuram sustentar esta
teoria. Os
franceses acabam por ficar divididos entre o "santo" e o "corsário",
levando a que o Vaticano não tome uma decisão sobre a sua beatificação.
Ao longo do
século XIX, os papas italianos fizeram três tentativas para a
beatificação de Colombo, empenhando-se na mistificação da sua
vida. Não é de espantar que a sua biografia, neste contexto geopolítico,
tenha sido completamente adulterada,
apoiada em documentos forjados e no desaparecimento dos que podiam
comprometer esta cruzada.
C ) Falsos
Descobridores Italianos
Desde
o século XIV que os grandes mercadores e literatos de Florença, Génova e
Veneza recebiam regularmente informações sobre as expedições marítimas
realizadas a partir de Portugal e da Andaluzia. Os seus informadores eram em
geral mercadores que aqui estabelecidos. Com base nestes relatos, nestas
cidades italianas eram criadas novos relatos, muitas vezes
fantasiosos.
As
importantes descobertas portuguesas feitas a partir de 1415, despertaram uma
crescente curiosidade, que não tardaram em transformar-se numa
preocupação para Veneza ou Génova, que passaram a ter espiões em
Portugal.
Ao
longo de todo o século XV e XVI, os espiões italianos obtinham informações
secretas em Portugal, com base nas quais se fizeram vários mapas em Itália,
como o célebre planisfério de Cantino (1500-1502). Não tendo informações
por vezes precisas, estes mapas estão repletos de dados soltos e fantasiados.
Com base nestes mapas, muitos vários falsários italianos descreviam
viagens imaginárias que haviam feito em Portugal. As incoerências nestas
descrições são totais e não resistem a uma análise crítica.
Um
dos casos mais famosos deste tipo de habilidades italianas são as praticadas
por Américo Vespúcio, que à conta das mesmas acabou por dar o nome ao
novo continente.
É
impressionante o número de falsos navegadores italianos que a
propaganda Italiana, em princípios do século XVI, promoveu á
categoria de descobridores.
Enquanto
portugueses e espanhóis organizavam expedições marítimas, os italianos
escreviam livros e difundiam histórias inacreditáveis sobre o seus
imaginários navegadores.
Os
documentos destas descobertas italianas não
resistem a uma análise crítica, tantas são as suas contradições. Alguns
deles aparecem a navegar aos serviços dos reis de Portugal ou da Espanha, mas
depois não se encontram nestes países quaisquer documentos que comprovem a
sua actividade. O objectivo
dos falsários italianos era o de reclamarem a primazia em descobertas que não lhes pertenciam.
O
trabalho de muitos historiadores italianos, ao longo dos séculos, tem sido o de
darem credibilidade a estas falsas descobertas.
1.
Usodimare, Cadamosto e Antonio Noli
Após
a publicação do bula Romanus Pontifax (8/1/1455), que garantia a
Portugal o exclusivo das explorações e comércio a sul do Bojador, o
Infante D. Henrique autorizou durante cinco anos que estrangeiros
participassem nas expedições marítimas em África, nomeadamente na
qualidade de mercadores.
Antoniotto
Usodimare (1432-?). Trata-se de mais um mercador italiano que se instalou em
Portugal, em 1453, vindo de Sevilha. O Infante autorizou-o a integrar uma
expedição à Guiné, comandada por um seu escudeiro. Numa carta que
escreveu ao seus credores em Itália, datada de 12/12/1455, afirma-se como
descobridor do rio da Gâmbia (3), ignorando que o mesmo já havia sido
descoberto pelos portugueses 9 anos antes. Terá transaccionado panos em
troca de escravos, dentes de elefante, papagaios, almiscar, malagueta e
mesmo ouro (4).
Refere
ainda teria voltado à Gâmbia, para negociar a paz entre o rei deste reino
africano e o de Portugal. O que se passa uma invenção para dar crédito
às suas afirmações junto dos seus credores.
Os
portugueses devido à política do sigílio estavam rigorosamente impedidos
de divulgarem as suas descobertas, os estrangeiros quando o faziam acabavam
por serem identificados como sendo os próprios descobridores.
Alvise
Cadamosto (veneziano). Em 1455 solicitou autorização ao Infante para participar numa
expedição à Guiné, na qualidade de mercador. Este mandou armar uma
caravela nova de 45 toneladas, tendo como patrão Vicente Dias,
natural de Lagos. Trata-se de um experiente mercador, armador e capitão de
caravelas, tendo-se destacado na exploração do Senegal, sendo muito citado
na Crónica dos Feitos da Guiné.
Cadamosto, embora tenha sido
apenas um simples mercador num navio português, apresenta-se nas suas
"Relações"como o descobridor de algumas ilhas de
Cabo Verde, e das terras entre a Gambia e o Geba, que foi o primeiro a
descrever.
Estas
"Relações" incluem a descrição de duas viagens que terá feito
à Guiné, assim como uma outra que Pedro de Sintra efectuou a sul da Serra
Leoa. Deu-as a conhecer, ainda em manuscrito, quando regressou a Itália (Fevereiro de
1463). As mesmas obtiveram um enorme êxito quando foram impressas no início do
século XVI. A primeira edição deve-se ao falsário italiano - Fracanzano
Montalboddo -, que a publicou em Paesi Novamente Retrovati, Vicência,
em 1507 (Livro 1. Cadamosto; Livro 2: Pedro de Sintra).
O processo italiano de se apropriarem das
descobertas é sempre o mesmo: a propaganda !
António
Noli. Integrou como mercador uma expedição à Guiné, comandada por Diogo Gomes,
quando avistaram ilhas de Cabo Verde. A Carta de doação destas ilhas ao
infante D. Henrique (19/9/1462), afirma que a sua descoberta teria ocorrido
no tempo do Infante D. Henrique (-1460). A verdade é que em 1460, foi-lhe
dada a capitania da Ribeira Grande, na Ilha de Santiago, ai vivendo com um
irmão e um sobrinho. A sua principal actividade era o tráfico de
escravos. Em 1477, traiu o rei de Portugal, aceitando a submissão ao
rei de Aragão, uma situação que não durou sequer dois anos. Noli acabou
por ser perdoado, morrendo em 1497. A partir daqui mais nenhum estrangeiro teve lugar de
destaque na expedições portuguesas.
2.
Miguel de Cuneo (Michel de Cunio)
Este
italiano de Saona, embarcou com Colombo na segunda viagem às Indias, a 15/09/1494,
quando estavam a explorar por mar a Ilha Española, terá chamado à
atenção que a terra que avistavam era uma ilha independente. Colombo, em
sua honra, deu-lhe o nome de Saona.
Colombo
não tardou em mandá-lo de volta a Espanha (1495), nunca mais tendo voltado
às Indias. Acontece que uma vez chegado à Europa, o Italiano tratou logo de se
afirmar como o descobridor da Ilha, assim como o seu proprietário, num
suposto acto oficial espanhol, cuja único testemunho do mesmo ter existido é
ele próprio. Nem Las Casas, nem Hernando Colon referem semelhante facto. Um
delírio.
Carta
de Miguel de Cúneo, da alegada descoberta e posse, foi dirigida a Jerónimo
Annari, a cópia está datada de 15/10/1495 em Savona, e encontra-se na
biblioteca da "Universitá degli Studi" de Bolonha (19). Afirma o aldrabão:
"De
ahí volvimos a la isla Española, que juzgamos estaba a unas cuarenta
leguas; dimos la vuelta a casi toda la isla Jamahich y no encontramos nada
mejor que en las otras. Navegando así, pues, hacia la Española, fui el
primero en descubrir tierra. Por lo que el señor Almirante mandó tomar
tierra en ese lugar en un cabo donde había un puerto muy bueno y por mí le
puso al cabo el nombre de San Miguel Savonés y así lo anotó en su libro.
Navegando, siempre costeando, encontramos playas y buenos puertos, bajamos
muchas veces a tierra y solamente encontrábamos gente sin fin como de
costumbre. Así, siguiendo la costa hacia nuestra población encontramos una
isla bellísima, que comenzaba en un cabo, no demasiado alargada, y que
también fui el primero en descubrir. Tiene una vuelta de una veinticinco
leguas y también por amor a mí el señor Almirante le llamó "La
Bella Savonesa" y me la regaló. De acuerdo con las formas y modos
convenientes tomé posesión de ella, tal como el señor Almirante hacía
con las otras en nombre de su Majestad El Rey, o sea yo, en virtud del
instrumento notarial, sobre dicha isla arranqué hierbas, corté árboles,
planté la cruz y también la horca, y en nombre de Dios la bauticé con el
nombre de la Bella Savonesa. Y realmente se la puede llamar bella, porque
allí hay más de treinta y siete caseríos con treinta mil almas, por lo
menos. Todo esto lo anotó también el señor Almirante en su libro."
(20).
Estamos
perante mais um exemplo, do método de actuação característico dos
italianos em relação ao descobrimentos. Através da propaganda
internacional procuram apossar-se das descobertas feitas por outros, neste
caso, reclamando até a sua posse. Uma estratégia já denunciada, no
século XVI, por João de Barros.
A importância
desta carta, não se encontra nas suas múltiplas falsidades (21), nem na sua
falsificação (22), mas na
"objectividade" como descreve o comportamento dos espanhóis durante a
segunda viagem de Colombo:
Com notável
indiferença, descreve cenas de violação de mulheres indias, saques,
mutilações, matança e escravatura das populações locais (tainos e caribes). A única
justificação para semelhante barbárie estava nos próprios indios, descritos
como animais, que se deliciam a comer carne humana, cobras e lagartos.
A população
das caraíbas quando se deixa subjugar e matar são denominados de "indios",
quando resistem ou fogem aos invasores são rotulados de "canibais" (23).
A única coisa
que verdadeiramente interessava aos espanhóis, descritos como um povo de
eternos traidores, era encontrar ouro, tudo o mais seria secundário.
As indias são
retratadas como o anti-paraíso, dominado por psicopatas, violadores e
ladrões que se divertem a exterminar "canibais", enquanto andam à
procura de ouro.
No fecho da
carta, numa latim estropiado, faz um rasgado elogio às qualidades do homem
que governava as Indias - Cristovão Colombo -, dizendo que em Génova nunca
nascera tão ilustre Almirante. Ironia?
3. Giovanni Caboto
(John Cabot)
O veneziano Giovanni
Caboto (John Cabot), apresentou-se em Valência (Espanha), em 1490, como
engenheiro de portos, mas acaba por nada fazer. Mudou-se então para Sevilha
(1493/ princípios de 1494), onde se propõe construir uma ponte de barcas,
que nunca realizará (13).
Perante estes sucessivos
fracassos, resolve vir para Lisboa. Vive aqui durante dois anos
(1494-1496), onde tem conhecimento que João Fernandes, o
Lavrador e Pêro
de Barcelos, entre 1491 e 1494,
andaram a explorar a costa leste do Canadá, uma região que ficou
conhecida por "Terra de Lavrador" (15).
John Caboto concebe, em Lisboa, a ideia de chegar
à India navegando para Ocidente, um ideia semelhança à de Colombo.
Não tendo arranjado
financiamento em Lisboa, nem interesse no projecto por parte dos reis (D.
João II e D. Manuel I), mudou-se para Bristol (Inglaterra), onde existia
desde o século XIII uma importante comunidade de marinheiros portugueses.
No seguinte seguinte (1497),
guiado por um grupo de portugueses terá atingido pela primeira e única vez o
continente americano (Canadá) (20/5/1497-6/8/1497). Munido de uma carta
patente, a 3/2/1498, depois de ter vindo a Lisboa (Março
de 1498) recrutar mais marinheiros e pilotos, fez-se de novo ao mar para
atingir as Indias (América), tendo morrido nesta expedição. Mais
O seu filho - Sebastian Cabot -
seguindo as pegadas do pai, na sua desastrada expedição ao rio da Prata, em
1527, levou consigo pelo menos 8 portugueses, como Jorge Gomes (Piloto), Rodrigues Alvarez (Piloto) e Francisco César, mais
tarde conquistador da Antioquia e tenente general de Pedro Heredia.
O rio da Prata foi descoberto por André Afonso Gonçalvesou Gonçalo
Coelho (1501 e 1503), sendo depois explorado por outros portugueses tais
como: João de Lisboa (1511/2), João Dias de Solis (1515), Aleixo Garcia (1515), Fernão de Magalhães, Francisco Pacheco e Gonçalo da Costa (1525-1526), e só depois aparece o Sebastian Cabot
acompanhado de portugueses.
4.
Américo Vespúcio (Amerigo
Vespucci, florentino)
Foi um dos maiores mentirosos da história da navegação.
Na sua auto-biografia fabricada pelo próprio e os seus comparsas, afirma que
veio para Sevilha (Espanha), em 1492, na qualidade de agente de uma casa
comercial de Florença.
A
primeira referência documental data de 21 de Outubro de 1495, onde aparece ligado ao tráfico de escravos,
uma atividade muito lucrativa na época. Estava então ao serviço
de Juanoto Berardi, um intermediário em Sevilha de Marchioni,
um florentino naturalizado português, residente em Lisboa.
A última referência
sobre Vespúcio ligada a Berardi, data de 1 de Fevereiro de 1496, e diz respeito a uma
expedição fracassada às Indias, comandada pelo português Pedro Souza (Sosa),
ao serviço da Casa Berardi, entretanto extinta.
Alguns
historiadores tem afirmado que Vespúcio, depois da morte de Berardi
(Dezembro de 1495) passou a estar directamente ao serviço de Colombo. Não há
todavia nenhum
documento fidedigno que o comprove.
Em 1497, segundo
o próprio, terá
realizado a sua primeira viagem às Indias espanholas. Voltou a fazer uma
nova viagem em 1499 ao serviço de Fernando, o rei de Castela (sic). Estas
viagens são desde o século XVI negadas por cronistas e historiadores
espanhóis, como Gomara, Las Casas, Herrera, Frei Pedro Simón, Solorzano
Pereira, Navarrette, entre outros. O seu objectivo teria sido o de
apropriar-se dos louros das descobertas de Colombo, mas também de Pedro
Alvares Cabral e outros portugueses.
Em 1501 encontrava-se em Lisboa. Quando Cabral regressou da India, em Julho de
1501, escreveu uma carta em florentino a Lorenzo de Pierfrancesco de Medici, dando conta
das informações que obteve de Gaspar da Gama, que viajara na nau capitana.
Nesta carta, afirma que a pedido de D.Manuel I, fez uma viagem de exploração
das costas do Brasil até aos confins da América do Sul (1501-1502). O original
da carta desapareceu. Uma suposta cópia da mesma foi publicada por Pietro
Vaglienti. Alguns autores consideram-na todavia apócrifa. (8).
Afirma que D.
Manuel I, o voltou a enviar para a América do Sul numa nova expedição ao
serviço de Portugal (1503-1504), desta vez com intuitos comerciais e
militares. O original da carta também desapareceu.
Depois que regressou a
Espanha, em Janeiro de 1505, nunca mais navegou. Em Fevereiro deste ano,
encontrou-se com a Corte Castelhana em Toro. A 13 de Março, foi encarregue
de com Vicente Yanes Pizon de organizar a Malaca através do Ocidente. A 24
de Abril recebeu a naturalização castelhana. Em 1508 foi nomeado
piloto-maior da Casa da Contratação de Sevilha, cidade onde morreu a
22/2/1512.
Falsário ?
Tudo o que
sabemos das suas supostas viagens ao serviço de Espanha e de Portugal são
narradas por ele próprio. Não existe nenhuma carta original.
Vespúcio
nunca indica o nome de navios ou capitães com quem andou, os cargos que
desempenhou, as terras que visitou, etc.. As datas são raras, as latitudes
são erradas, os rumos ambíguos. Não fornece elementos que nos permitam
identificar as respectivas expedições.
Nos arquivos
de Portugal e de Espanha não existe qualquer documento que conste o seu
nome, nem como simples marinheiro nas inúmeras expedições que foram
organizadas.
Os cronistas
espanhóis, como vimos, acusam-no de ser um falsário. O italiano Pedro Martir de Anghiera
(Segunda Década), apenas refere muito vagamente que o mesmo participou em
viagens ao serviço do rei de Portugal. Gomara se recusa a ideia que o mesmo
tenha andado em navios espanhóis, afirma que navegou em portugueses. A
verdade é que os cronistas portugueses do século XVI ignoram-no.
As descrições
das suas alegadas viagens são vagas e contraditórias. As indicações de
ventos, correntes e até de estrelas estão em geral erradas para as regiões
do mundo que indica. Os seus propagandeados cálculos astronómicos são
próprios de um cosmógrafo ou piloto ignorante, como demonstrou Gago Coutinho
(33).
Desde o
século XVIII, uma legião de historiadores italianos tem-se
esforçado por lhe darem alguma credibilidade como navegador, cosmógrafo e
piloto, transformando-o no comandante das respectivas expedições ...
4.2.
Vespúcio e Colombo
Depois
de 1500 Vespúcio apercebe-se da enorme
fragilidade de Colombo em Espanha. Aproveita o facto do mesmo estar a
realizar a sua terceira e última viagem (1502-1504), para iniciar uma série de correspondência com Florença, rapidamente
divulgada por toda a Europa, onde se afirma que foi ele e não Colombo o
primeiro descobridor do "Novo Mundo", uma infinitíssima parte da
Ásia.
Ao
contrário do que se afirma, nunca concebeu que o "Novo Mundo"
(América do Sul), correspondesse a um novo continente. Estava convencido
que se tratava de uma enorme terra ainda desconhecida da Ásia.
Para
dar credibilidade aos seus relatos, à semelhança de Colombo, afirma que também ele
fez quatro viagens à Ásia, tendo vivido muitos episódios similares.
Na sua
mistificação, serve-se inclusive de dados do próprio Colombo, a que teve
acesso quando este ao seu serviço:
Na carta a
Lorenzo de Pier Francesco de Medici, supostamente datada de 18/7/1500,
escreve que conseguiu medir longitude, com base no Almanaque de Regiomontano, comparando com as Tablas Alfonsies, tendo obtido o resultado de cinco horas e meia,
isto é, 82 graus de Cádiz. Trata-se dos mesmos cálculos (errados) que
Colombo disse ter obtido por diversas vezes em 1494, 1497 e 1498 (14).
Apresenta como
uma sua grande descoberta, o facto da Zona Tórrida (Equador) ser habitada, algo
que os portugueses já tinham descoberto há dezenas de anos.
Em
1505 regressou a Espanha, tendo-se encontrado com Colombo. Sabemos por este
último, que combinaram enganar os espanhóis sobre a India (Ásia). Mais
4.3.
As Quatro Viagens
à Asia
A
divulgação destas viagens não foi feita na mesma altura.
- A compilação
intitulada - Mundus Novus -, inclui uma carta de Vespucio a
Pier Francesco dei Medici, na qual "descreve" a sua terceira viagem, a
primeira ao serviço de D. Manuel I. A primeira edição efectivamente conhecida data
de 1504, saindo no mesmo ano a segunda edição já com este título
(Veneza, J.B.Sessa) e está escrita em
latim.
O texto não terá sido escrito por Vespúcio.
Tem-se sustentado que Mundus Novus terá sido
baseado numa sua carta endereçada de Lisboa, em 1502, a Lourenço de Médice, e que foi publicada apenas em 1789. Esta tese não é consensual, porque o confronto entre os dois
textos ( o manuscrito e o texto impresso), revela enormes disparidades. No
manuscrito Vespúcio é comedido nas suas afirmações remetendo-se a um
papel secundário, no Mundus Novus é apresentado como o principal
protagonista, o herói. Não existem originais.
O texto de Mundus Novus teve um enorme impacto no tempo (9), transformando
Vespúcio no descobridor do Novo Mundo. Foram publicadas 50
edições até 1550.
- O folheto
intitulado “Lettera di Amerigo
Vespucci delle isole nuovamente trovate in quattro suoi viaggi”, em italiano, consta de uma carta, enviada também de Lisboa, a 4/9/1504, não
tem destinatário, mas supõem-se que tenha sido endereçado a Piero
Soderini. É vulgarmente conhecida por "Lettera", sendo
considerada apócrifa (cfr. Alberto Magnaghi, etc). Foi editada em Florença (1506 ?). Relata as suas quatro alegadas viagens maritimas que Vespúcio se vangloria de ter efectuado.
Não existem originais.
O folheto só
alcançou grande êxito quando voltou a ser reeditado, em latim, com o
título de "Quattuor Americi Vesputti Navigationes", na obra Cosmographie
Introductio (1507) de Waldseemuller, com as consequências que se conhecem. Existem
inúmeras disparidades entre o dois textos.
Graças ao
empenho dos divulgadores italianos, entre 1745 e 1827 foram
descobertas e publicadas mais três cópias manuscritas de cartas de Vespucio:
a carta de Sevilha (18/7/1500), Cabo Verde (4/6/1501) e de Lisboa (1). Em
1937 foi descoberta e publicada uma nova carta, cuja autenticidade também é
posta em causa.
Não existe qualquer consenso sobre a autenticidade sobre as
viagens que realizou, nem sobre a autenticidade dos folhetos e das cartas
manuscritas. Giovanni Battista Ramusio, por exemplo, em 1550, excluiu
as duas primeiras viagens ao serviço de Espanha por as considerar falsas.
Uns sustentam que primeira e a segunda correspondem apenas a uma única
viagem. O mesmo se afirma sobre a terceira e a quarta. Em geral apenas a segunda e a terceira
viagem são admitidas como credíveis (4).
a) Primeira viagem
Aparece
descrita apenas numa carta de Lisboa - a "Lettera" de 4/9/1504.
A viagem teria partido de Cádiz, a 10 de Maio de 1497, ao serviço de
"Fernando, rei de castela" (sic). Esta referência leva
Navarrete, a afirmar que a carta é posterior a 1504, isto é, depois de ter
falecido Isabel, rainha de Castela.
A expedição
contava com
quatro navios. O comandante que nunca é nomeado, embora os espanhóis que dão
alguma credibilidade à expedição apontem Alonso
de Hojeda...
De Cádiz
seguiram para as Canárias, atravessaram os Atlântico dirigindo-se
para uma região que tem sido
identificada como as Honduras. Alguns historiadores tão imaginativos como
Vespúcio, afirmam este esteve também no Golfo do México, Florida, Costa da Carolina, Virgínia, etc.
Vespúcio afirma ter estado muito próximo do Cabo de Cattigaro" de Ptolomeu, um mítico centro comercial do extremo da
Ásia. A fonte da sua localização não terá sido todavia Ptolomeu, mas o
mapa de Enrico Martello, onde o mesmo se supõe poder ser atingido por
mar.
"Consumimos
en la expedicion 18 meses, hallnado muchos continentes é innumerables islas,
casi todas habitadas, de las cuales no hicieron mencion ninguma nuestros
mayores, de manera que yo creo que los antiguos no tuvieron noticia ninguna
de ellas".
A
viagem teria terminado em Cádiz a 15 de Outubro de 1498. O
resultado concreto desta mesma terá sido a captura de 222
escravos, na Ilha de san Juan (Porto Rico) que foram depois vendidos em
Cádiz.
Vespúcio,
afirma-se deste modo como o primeiro descobridor da Terra Firme, situada
algures na Ásia.
A
descrição é feita de forma muito vaga. Apesar disso as contradições
são enormes. O número
de escravos, por exemplo, superava de longe a própria capacidade de
transporte das caravelas.
Nos arquivos
históricos espanhóis não consta que a viagem alguma vez se tenha sido
realizado, nem um tão grande número de escravos tenha desembarcado neste
ano em Cádiz.
É provável
que o relato de Vespúcio tenha sido baseado numa expedição clandestina
portuguesa à Honduras, em 1503, e que levou Juan de La Cosa a vir a Lisboa
para recolher informações, acabando preso. Mais.
b
) Segunda viagem
Aparece
descrita na carta de Sevilha, datada de 18/7/1500, e na carta de Lisboa -a "Lettera"
de 4/9/1504. A descrição das duas cartas não é coincidente. Este facto
leva-nos a concluir que quando obteve mais informações sobre a viagem de
Pedro Alvares Cabral e outras expedições portuguesas ao Brasil, resolve
fazer um novo relato da sua alegada viagem de 1499...
No final da
carta de Sevilha (1500), refere a viagem de Vasco da Gama (1497-1499) e a de
Pedro Alvares Cabral (1500-1501), composta por 12 navios (13, na realidade)
e que partiu a 9 de Março de 1500 de Lisboa.
O objectivo
desta viagem, como o próprio afirma, era a Trapobana na Ásia. Embora não nomeie o comandante da expedição, composta por três navios, tem sido identificado pelos espanhóis, como Alonso de Hojeda.
O início desta suposta segunda viagem foi a 16 de Maio de 1499,
no original está 1489. depois das Canárias foi Ilha
do Fogo (Cabo Verde), tendo atingido o Brasil quatro meses antes de Pedro Alvares
Cabral. Andou em seguida por um Rio de água doce, uma zona de papagaios, o
"paraíso terreal" de Colombo, etc.
A distância que
calcula existir entre Cabo Verde e a Ásia, cerca de 700 léguas, era
considerada já no tempo um completo disparate, mas Vespúcio continua a
repeti-la.
Os historiadores espanhóis mais
imaginativos afirmam que andou pelas Guianas, litoral da Venezuela, Honduras,
Trinidad, Curaçao e depois a Hispaniola. Fez este percurso sem parar.
Vespucio refere as luta entre Hojeda e Francisco Roldán,
mas as datas apontadas não coincidem com os fatos históricos.
Sabemos que Hojeda, em 1499-1500, na expedição que realizou às Indias não
foi ao Brasil, o que não impede que com base nesta historieta de Vespúcio se
continue a afirmar o contrário. Mais
O No regresso foi aos Açores, onde se reabasteceu, dirigiu-se
depois para a Ilha da Madeira e daqui para Cádiz. A viagem terminou a 18 de Setembro de 1500.
Trouxe escravos, pérolas, ouro e muitas pedras preciosas (esmeraldas,
ametistas, etc).
Nesta
viagem, como dissemos, afirma-se como descobridor do Brasil, quatro meses antes de Pedro
Alvares Cabral ter oficializado "achamento". Alonso de Hojeda, na lista que
da tripulação que integrava a expedição, nunca mencionou o seu
nome. Mais
Os termos
Vespúcio utiliza para descrever o que viu, são
demasiado vagos, não permitindo identificar as terras que
supostamente avistou. A única indicação mais precisa é de um largo rio
que tem sido identificado como um dos braços do Amazonas nas Guianas.
Estas
duas viagens foram alegadamente realizadas entre 1497 e 1500, mas Vespúcio
só as descreveu em Lisboa em 1504. A primeira
publicação das mesmas só foi feita na Itália e na Alemanha, em 1507/1508,
em italiano e latim. Nunca foram publicadas ou divulgadas em Portugal ou Espanha onde,
no tempo, seria facilmente
desmentido.
d
) Terceira viagem
Esta foi a sua mais importante das suas alegadas viagens, a primeira a ser divulgada e a
que lhe granjeou fama internacional. Foi feita ao serviço de D.Manuel I.
É também a
expedição mais "documentada" por Vespúcio, sendo referida nas seguintes cartas,
cuja autenticidade é frequentemente posta em causa:
- Carta de Cabo
Verde, de 4/6/1501, onde refere o que um português - Gaspar - muito bem
informado lhe disse sobre o que viu nas duas viagens que já fizera ao
Indico.
- Carta, sem
data, escrita em Lisboa sobre a terceira viagem.
- Fragmento de
uma carta relativa à 3ª. Viagem, sem data, nem destinatário. Roberto Rodolfi
que a descobriu, publicou-a em 1937.
- Carta escrita
em Lisboa, dirigida a Lorenzo do Pier Francesco. Impressa no princípio de
1504. A tradução latina, como dissemos, tem o nome de "Mundus Novus".
- Carta
de Lisboa, de 4/9/1504, a "Lettera".
Não restam
dúvidas que, em 1501, D. Manuel I, enviou uma expedição para as costas do
Brasil. Partiu de Lisboa no inicio em Maio de 1501, e era composta de 3 navios. Fez
o seu reconhecimento ao longo de 760 léguas, e atingindo 53º. de latitude
austral.
Um dos
problemas mais debatidos pelos historiadores é a questão do seu comandante: Gonçalo Coelho ou André Afonso Gonçalves (35).
A história desta
expedição, por Américo Vespúcio, embora baseada em factos reais é todavia um
completo delírio, tantos são os disparates que nos conta.
Após
a ter alegadamente efectuado as duas primeiras viagens ao serviço dos reis
de Espanha, afirma que D.Manuel I, o mandou chamar de Sevilha, em 1501, para
fazer parte de uma expedição portuguesa, destinada a explorar e cartografar as terras
avistadas por Pedro Alvares Cabral. É dificil admitir que este rei não tenha
conseguido arranjar em Portugal um piloto experiente, e tenha ido buscar um
mercador a Sevilha para fazer esta viagem como piloto e cosmógrafo.O delírio
é completo.
Vespucio, que nunca nomeia o comandante português, afirma que a
expedição tocou no porto africano de Beseguiche (Dakar), cruzou o
Atlântico na latitude de 5º sul. Diz que a travessia demorou 67 dias,
dos quais 44 foram debaixo de chuva, trovões e raios que não permitiam ver o
sol. Calcula a distância em 700 léguas, mas devido ás condições atmosféricas
fizeram 1800...
, percorreu toda a costa do Brasil e da
Argentina até atingir 52º de latitude sul, numa zona de frio intenso.
Terá chegado, segundo muitos, ao Cabo
Horn, tendo revelado uma enorme extensão de terra, um verdadeiro
continente.
Apesar deste facto, Vespúcio
continua a afirmar que este novo mundo fazia parte da Ásia, algo que era
negado em Portugal desde finais do século XV.
A sua descrição releva
inúmeros erros. Uma das raras excepções é a referência ao Cabo de S. Agostinho,
que terá sido dobrado na altura. Calcula a sua localização a 8º.S. Duarte Pacheco Pereira situa-o a 8º. 15`, em 1505,
um valor muito próximo do real. Recorde-se que,
em 1515, os espanhóis ainda não sabiam localizar este cabo. Mais
No regresso a expedição, segundo Vespúcio, tocou na Serra Leoa (10/3/1502) e depois nos Açores,
chegando a
Lisboa, a 8/9/1502.
Sugere que a dado momento passou
a dirigir a expedição como capitão de um navio. No entanto, acaba por dizer
que durante 27 dias abandonou o navio para ir viver com os indios... (34).Um
facto incongruente com o estatuto de capitão.
A descrição dos supostos indios
do Brasil é deveras pitoresca: A vida comunitária dos indios, a sua
longevidade (viviam até aos 150 anos), canibalismo, o carácter libidinoso
das mulheres e os grandes pénis dos homens, observou a "produção" de mulatos
(pardos), fruto do cruzamento entre brancos e indios, as redes onde dormiam,
as grandes cabanas familiares, etc.
Para
dar credibilidade à sua participação na expedição, afirma
que se cruzou com uma armada portuguesa que vinha da India, em Junho
de 1501, no arquipélago de Cabo
Verde, mas não nomeia o comandante (Pedro Alvares Cabral). O
encontro das expedições terá existido (35), mas não há mínima referência a
Vespúcio no mesmo.
O
relato desta alegada participação numa expedição portuguesa, foi
provavelmente baseado
em informações obtidas em Lisboa, onde certamente terá vivido, mas também na
leitura de mapas portugueses. A favor
da sua efectiva participação como "comerciante", aponta-se a carta de Pier Rondinelli, datada de 3/10/1502,
onde este afirma que Vespucio havia colhido pouco proveito dos seus trabalhos além-mar.
e
) Quarta viagem
Como a
primeira viagem (1497), aparece descrita apenas numa carta de Lisboa - a "Lettera"
de 4/9/1504.
A expedição
também se efectuou (35), mas sob o comando de Gonçalo Coelho. A identidade
deste
capitão da armada está confirmada no mapa de Maggiolo (datado de Fano, 8
de Junho de 1504), onde surge na representação do território do Brasil a
legenda Terra de Gonsalvo Coigo vocatur Santa Croxe.
A crónica
de D. Manuel I
de Damião de Góis, também nos dá a notícia de uma segunda armada que foi
enviada para fazer o reconhecimento do Brasil e que foi capitaneada por
Gonçalo Coelho. Partiu a 10 de Junho de 1503 e regressou em 1504,
era composta por seis navios, quatro dos quais não regressariam.
Vespúcio afirma que a expedição saiu de Lisboa a 10 de Maio de 1503, e
tinha como objectivo, chegar a Melaccha (Malaca), uma rota aparentemente
disparatada, tendo em conta as viagens até à India já realizadas pelos
portugueses.
A expedição foi á Serra Leoa, cruzou o Atlântico,
tendo chegado a uma ilha que tem sido identificada com a S. Lourenço (São João
e depois Fernão de Noronha). Outros afirmam que se trata de mítica ilha de
S. Mateus, que era representada junto ao Brasil. Sobre a Abadia (no texto) de Todos os
Santos não dá qualquer referência que nos possibilite localizá-la. Terá percorrido as costas do Brasil
até ao rio das caravelas e baixos dos Abrolhos.
As populações
que encontrou, eram de uma enorme ferocidade. Mataram e comeram vários
portugueses, perante a passividade do comandante da expedição.
Vespúcio assume-se,
neste relato, como um verdadeiro herói, substituindo Gonçalo Coelho, quando este claudicou
na sequência do naufrágio da capitânia da frota em Fernando de Noronha !
Afirma-se que esta expedição descobriu muitas terras, entre elas a ilha de
Ascensão, depois rebaptizada de Trindade.
No cabo do Frio, refere a
construção de uma fortaleza portuguesa, onde ficaram 24 homens. A
notícia desta fortaleza no Brasil irá inspirar Thomas Moro (Utopia, 1516).
Afirma que a expedição regressou a Lisboa onde chegou a 18/7/1504.
4.4.
Espionagem, Colombo e regresso a Espanha
Percorrendo
toda a documentação sobre as inúmeras expedições nauticas dos
portugueses, não se encontra a mínima referência a Vespúcio
nesta ou outra expedição ao serviço dos reis de Portugal. Uma constatação
que já havia feito no século XIX os Visconde de Santarém. Apesar disto não
deixa de ser significativo que as suas fantasias continuem ainda hoje a ser repetidas
de forma acrítica por muitos historiadores portugueses.
As suas
alegadas descrições de terras
e lugares que visitou, escritas em Lisboa (1503/1504), podiam facilmente ser construídas com base em mapas e relatos de
cartógrafos e navegadores portugueses da época.
O certo é que a
divulgação internacional destas duas alegadas viagens ao serviço de
Portugal, causou um enorme impacto na Europa Central. Vespúcio designa a
região do Brasil como um "Novo Mundo".
Não é improvável que Américo Vespúcio
não tenha participado nas viagens ao serviço de D. Manuel I,
mas como simples comerciante.
O que fazia em
Portugal? Á semelhança de muitos outros estrangeiros dedicava-se a recolher
informações sobre as expedições portuguesas ao serviço dos seus protectores
em Itália ou Espanha. Tudo leva a crer que tenha vindo para Portugal com
esta missão.
De acordo com as suas próprias
palavras, na última viagem, chegou a Lisboa a 18/6/1504. Três meses depois enviou para Florença
a sua última carta, a 4/9/1504, com novas informações sobre a expedição
portuguesa.
Vespúcio,
como dissemos, regressou a Espanha em Janeiro de 1505.
Em Fevereiro
de 1505 encontrou-se com Colombo, que havia chegava à Península Ibérica, a 7/11/1504, vindo da sua última
viagem às Indias. Colombo escreve, ainda em Fevereiro, uma escreve ao seu filho Diego Colon,
afirmando que se havia encontrado com Vespúcio, tendo ambos acordado na
forma de enganar os reis espanhóis,
pelo que podia confiar nele. Mais
Vespúcio foi
para Toro ao encontro de Fernando de Aragão. Na sequência deste encontro, a
13/3/1505, é mandatado para organizar uma expedição com Vicente Yanes Pinzon,
para descobrir Malaca através do Ocidente !
Pouco depois,
a 9/4/1505, recebe 12.000 maravedís de ajuda de custo (Archivo
de Simancas. Libros generales de Cédulas. nº.10, fl.69). No mês seguinte, a 24/5/1505,
é-lhe dada a carta de naturalização castelhana e leonesa (Archivo de Simancas).
A viagem a
Malaca acabou por não se realizar, mas
Vespúcio acabou por ser nomeado em 1508 piloto-maior da Casa da Contratação
de Sevilha.
É hoje
evidente que a informação
que Vespúcio obteve nas viagens em navios portugueses, entre 1501 e 1505, ter-lhe-ão garantido
em Espanha uma ascensão rápida ao topo da hierarquia dos pilotos
espanhóis.
4.5. Lisboa,
Marchione, Berardi e Simão Verde
Vespúcio quando
foi para Sevilha, em 1492, entrou ao serviço de um florentino - Juanoto Berardi. Um mercador
que, em 1486, se mudou de Lisboa para Sevilha. Nesta cidade era agente de
outro florentino naturalizado português - Marchioni.
Nas suas cartas
faz referência ainda a outro florentino que se mudou também de Lisboa para
Sevilha, embora se mantivesse sempre ligado a Portugal - Simão Verde.
Não é difícil de
aceitar que estes florentinos, sobretudo Marchioni, lhe tenham
facilitado a sua participação, como agente comercial, nas expedições de D.
Manuel I.
Marchioni estava
envolvido nos negócios das explorações marítimas portuguesas, mas mantinha
relações comerciais regulares com Itália. Importava para Portugal, por
exemplo, armas de Florença.
Informava também
D. Manuel I das movimentações dos espiões italianos em Portugal, em especial
dos venezianos. Foi graças à sua acção que foi descoberto o espião veneziano
Leonardo da Chá Masser, em Lisboa, no começo do século XVI. O rei foi também
por ele informado do apoio que Veneza estava a dar aos muçulmanos para
combaterem os portugueses no Indico. Mais.
A informação que
Vespúcio obteve em Portugal, como vimos, revelou-se desde logo muito valiosa
em Espanha, mas não só.
4.6.Divulgação
Os
relatos fantasiosos de Vespúcio foram enviados também para o cartógrafo alemão
Martin Waldseemuller, que ingenuamente as divulgou na sua célebre obra Cosmographie Introductio (1507). Continente
Nesta obra deu o nome "América" ao novo continente, em homenagem
a Vespúcio, que é apresentado como o primeiro descobridor
de um novo continente. Um erro que mais tarde procurou emendar.
Um dos
dados mais interessantes deste mapa mundo é o facto dos únicos elementos
novos em termos geográficos serem todos referentes às explorações
portuguesas da América do Sul. O mapa atribui a Portugal praticamente o
domínio de toda a costa, o que é assinalado com a bandeiras das quinas.
Não
é pois de descurar a hipótese que esta informação lhe tenha sido
facultada, tendo em vista divulgar esta posse. Recorde-se que de acordo com
as clausulas do Tratado de Tordesilhas, a exploração desta linha definida
por este tratado deveria ser feita conjuntamente com a Espanha, o que
Portugal sempre se recusou a fazer.
Para
emendar os erros que havia feito, Martin Waldseemuller,
em 1516, produz um novo mapa - Carta
Marina Navigatoria Portugallen Navigationes Atque Tocius Cogniti Orsis Terre
Marisque. [Strasbourg?]. ( Facsimile. Jay I. Kislak Collection, Rare
Book and Special Collections Division, Library of Congress ). (11)
Carta
Marinha de 1516
Numa
legenda em latim, afirma claramente que Cristoforus
Columbus e Americus Vespúcios eram afinal dois
capitães portugueses. Continua a colocar bandeiras portuguesas por todo o
mundo, nomeadamente na Gronelândia.
4.6.
Vespúcio na Casa da Contratação de Sevilha
Os
elogios que lhe fez Martin Waldseemuller terão impressionado o rei de
Espanha. Em 1507 concede-lhe uma carta de naturalização, e no ano seguinte
nomeia-o Primeiro Piloto Maior da Casa da Contratação de Sevilha. Cedo os
espanhóis perceberam que Vespúcio não percebia nada de cosmografia,
cartografia ou pilotagem, enquanto isto não acontece promovem-no a examinador de
pilotos.
Uma
das suas actividades na Casa da Contratação foi dedicar-se a vender
clandestinamente os mapas oficiais. Quando foi descoberto, em 1510, o rei
Fernando, proibiu o "acto de tanta irresponsabilidade" (5).
Vespucio morreu poucos meses depois.
As
suas alegadas descobertas divulgadas em toda a Europa por propagandistas
italianos, trouxeram-lhe uma enorme fama, ocultando desta forma os verdadeiros
descobridores.
O
facto mais irónico é que Vespúcio sempre afirmou que as terras que haviam
sido descobertas, como o "Novo Mundo", faziam parte da Ásia.
5. Giovanni
da Verrazzano (c. 1485 – c. 1528).
Quando há mais de 70 anos anos que os pilotos e
cartógrafos portugueses percorriam e cartografavam de forma sistematicamente a costa
atlântica dos EUA e do Canadá, os franceses com o apoio dos
italianos,descobriram nesta "fabulosa" viagem, uma forma de reclamarem
o domínio de parte desta região do mundo.
Francisco I ao perceber-se do
enorme atraso da França na exploração marítima e terrestre do mundo,
contratou não apenas pilotos e
cartógrafos portugueses, mas também um florentino - Giovanni
da Verrazzano - para
encontrar uma passagem a ocidente que lhe permitisse chegar à Ásia.
Verrazzano, 1523, comanda
uma expedição de 4 navios, financiada por mercadores de Lyon e Rouen. Sem
sequer terem atingido a América, a frota acaba num desastre em pleno
Atlântico, apenas se salvam dois navios que conseguem regressar à Bretanha,
de onde haviam saído.
No ano seguinte, Verrazano
comanda uma nova expedição, com apenas um navio (La Dauphine). Parte da Ilha da Madeira, a 17 de Janeiro de 1524, levando consigo vários
portugueses. No regresso, a 8 de Julho de 1524, escreve
duas cartas relatando o que havia encontrado. Uma era dirigida aos comerciantes
florentinos de Lyon (Leonardo Tedaldi, Tomaso Sartini,
etc), outra a Francisco I, rei de França. As cartas estão escritas de um
modo impróprio de uma navegador, tornando impossível saber com precisão a
rota seguida, distâncias percorridas e as costas, rios e ilhas efectivamente
avistadas. No século XIX já se colocava em causa a sua autenticidade.
Fruto da imaginação de alguns
historiadores, com base nestas ambíguas cartas, afirma-se que o mesmo "descobriu" a
costa norte-americana entre a Carolina do Sul (South
Carolina), Newfoundland, Nova Iorque (New York) e Narragansett Bay, regiões
visitadas por portugueses à dezenas de anos.
É difícil de saber se Verrazano
se equivocou ou não na descrição. Admitindo que as visitou, a verdade é que
não percebeu, por exemplo, as entradas para Chesapeake Bay e a boca do Rio
Delware. Na Baia de Nova Iorque julgou estar perante um lago, quando se
tratava afinal do Rio Hudson. Inventou um suposto Mar Verrazano, etc.
Diogo de Gouveia (principal do Colégio de Santa Barbara, em Paris), a 8/5/1525,
estando em Rouen, escreve uma carta a D. João III, para o informar que havia chegado
de descobrir um
talentoso navegador que unia a teoria
à prática, e que o havia convencido a ir para Portugal. Este
navegador tem sido identificado com Verrazano, e terá vindo a Portugal em
1525/6 (37).
Os resultados da expedição de 1524, aos actuais EUA, segundo vários historiadores estão espelhados
para além das cartas, em dois mapas:
- O Mapa do Visconde de Maiollo, em 1527, onde a sul da terra de Corte Real e do Labrador
(portuguesas) surge "Francesca", o nome que Verrazzano teria dado
à região descoberta em homenagem a Francisco I. O mapa é demasiado
esquemático e rudimentar para o tempo, regista um apreciável número de
topónimos portugueses..
- O Planisfério de Girolamo
Da Verrazzano, irmão de Giovanni, data de 1529, assinala com a bandeira das quinas as terras descobertas por Portugal (Terra Nova, dos
Bacalhaus, do Labrador). Foi já assinalado que seguiu como modelo o planisfério de um
português - Diogo Ribeiro - que trabalhava ao serviço de Espanha.
Para além disto, o mapa está repleto de erros e é tecnicamente muito
rudimentar.
Para a confusão ser maior,
Ramusio, em 1556, resolveu pegar nas cartas de Verrazano e introduzir-lhes
alterações, corrigir à sua maneiras os erros, etc.
Passagem do
Noroeste
Desde
finais do século XV que os portugueses, como vimos, andavam à
procura de uma passagem nas costas atlânticas do actual Canadá que
lhes permitisse chegar à Ásia. Coube a um português - Fernão de
Magalhães - encontrar a passagem entre o Atlântico e o Pacífico,
em 1520, mas no extremo sul do continente americano. Esta rota
revelou-se inicialmente demasiado perigosa. Mais
A
procura de uma passagem a noroeste prosseguiu ao longo dos anos. Um dos que a tentou encontrar, em 1524, foi Estevão Gomes (Esteban Gomez,
em castelhano). Este piloto e cartógrafo português participou na
expedição de Magalhães, mas perante as dificuldades que encontrou
para dobrar o estreito (de Magalhães), desertou a 1/11/1520, vindo a
ser preso em Sevilha a 6/5/1521. Carlos V, rei de Espanha, deu-lhe
uma nova oportunidade para descobrir um estreito, mas agora
noroeste. A expedição, por si comandada, entre Setembro de 1524 e
25/2/1525, explorou e cartografou toda a costa desde o Estreito
de Cabot, passando por Maine, Massachusetts, Connecticut, Nova
Iorque, Manhattan (Rio Hudson), Nova Jersey, Delaware, terminando na
Florida. Os resultados desta viagem vieram a ser registados, em
1529, no conhecido planisfério do português - Diogo Ribeiro.
Três
espanhóis vieram muitos anos depois, a produzir textos apócrifos
(falsos), onde afirmavam ter realizado a suposta travessia pelo
noroeste, entre o Atlântico e o Pacífico. O primeiro foi o
fantasista Lorenzo Ferrer de Maldonado, que no inicio do século
XVII, afirmou que em 1588, com o apoio de um piloto e cartógrafo
português - João Martins havia realizado a travessia partindo de
Lisboa.
O último
foi um suposto "almirante Bartolomé da Fonte", que aparece
mencionado num texto inglês de 1708, onde se diz que o mesmo
partindo do Peru, navegando ao longo da costa americana no sentido
do norte encontrou
uma passagem para o Atlântico. A verdade é que sobre este
"Almirante", nem sobre o outro suposto descobridor - "Juan de Fuca"-,
existe a mais simples referência documental.
Passagem do
Nordeste
Os portugueses estiveram
ligados a outra passagem, a do Nordeste, que liga o oceano Atlântico
ao oceano Pacífico ao longo da costa norte da Sibéria. O primeiro a fazê-lo foi o navegador português David
Melgueiro,
ao serviço da Holanda, no sentido oriente-ocidente, entre 1660 e
1662, unindo Kagoshima (Japão) ao Porto (Portugal) (38). |
Verrazano esteve envolvido
noutra expedição ao "Oriente", composta por três navios. Começou em Abril de 1526,
tendo-se dirigido para "estreito de
Magalhães, a fim de atingir as Molucas. Não tendo conseguido atravessar o estreito, dirigiram-se para o Cabo da Boa Esperança.
Neste ponto, um dos navios conduzindo pelo português Estevão Dias,
o "Brigas" dirigiu-se para o Oriente, tendo atingido a Ilha de Sumatra. No
regresso, ao que se apurou atravessou o Oceano Pacífico, tenho vindo a
naufragar em Moçambique
António da Silveira Meneses,
governador de Sofala, a 18/7/1528, diz
que recolheu 12 naufragos de um navio da expedição francesa de Giovanni Verrazano.
Traziam
consigo uma carta nautica portuguesa "muito bem arrumada" e um regimento redigido também em português (12).
Há outra informação de Diogo
de Gouveia em Paris, datada de 18/9/1527, que informa o rei português que Verrazano,
andava no Brasil com o irmão, a carregar pau Brasil. Numa versão muito difundida desta
história, diz que o mesmo estando, em 1527, a navegar em Cabo Verde,
foi apanhando no meio de uma tempestade que o atirou para o Brasil.
Diz-se que, no ano seguinte,
numa nova expedição para carregar Pau Brasil acabou comido por canibais nas
Caraíbas!
A propaganda feita pelos italianos,
mas também, neste caso por franceses, teve o condão de permitir ocultar os verdadeiros descobridores dos
EUA e do Canadá.
6. Outros
Angelo
Trevisan. Este veneziano, ligado a Pedro Martir d’Anghiera, fez parte de
uma campanha que a Espanha sustentava na época que, procurava mostrar a
primazia dos espanhóis na descoberta do Brasil (17). Trevisan recuou, neste
caso, a data da descoberta da América do Sul.
Depois de 1501
fabricou uma historieta segundo a qual Colombo teria descoberto, em 1494, a
América do Sul, em duas expedições. A data primeira expedição, que durou 45
dias, não é referida, mas alguns sapientes historiadores fixam em princípios
de 1494. A segunda que teria ocorrido entre Novembro de 1494 e Fevereiro de
1495.
Rumeu de Armas
(Libro Copiador de Cristóbal Colón..) mostrou impossibilidade,
confusão e falsificação destas expedições. O que não impediu que Juan
Manzano, cavalgando sobre esta comprovada mentira italiana, escrevesse
largas páginas a tentar credibilizá-las (11). A razão porque Colombo as
teria mantido em segredo, durante anos, foi para se apoderar sozinho das
pérolas que havia encontrado...
|
Carlos
Fontes
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