2.
Tecelão de Lã
Toda a
argumentação italiana sobre a origem do navegador Cristoval Colon,
consiste na sua identificação com um Colombo italiano que tenha vivido no século XV.
Muitos têm sido os "Colombos" que
têm servido, em particular os que viveram em Génova, Cuccaro, Placência,
Cogoletto, Modena e muitos outras lugares em Itália.
A partir daqui começam a criar uma
genealogia que o Colombo encontrado com os três irmãos que viviam em Espanha.
Na falta de
documentos, inventam-nos. Tudo o que não se encaixava numa dada linhagem é
deturpado, alterado ou ignorado.
a) Tecelão de Génova
A historieta do humilde tecelão de
Génova foi a que tem tido mais sucesso, embora tenha mudado muito ao longo dos
tempos.
Este tecelão genovês de
nome Cristoforo Columbo (Christopher Columbus em latim) foi transformado
no mais famoso dos "almirantes das Indias".
1. Local de Nascimento
A maioria dos que escreveram sobre a
sua origem, afirmam que
nasceu em Génova, mas outros, percebendo a contradição em que estavam
metidos, contentam-se em dizer que foi numa qualquer povoação da actual Itália.
Alguns exemplos:
1.1.Saona (Savona)
Gonzalo F. de Oviedo, entre as suas
inúmeras invenções, disse que Colombo era natural de Saona ou Cogoleto.
Diego Mendez de
Segura, em 1535,
alimentou a confusão, dizendo que era também de Saona.
1.2. Cogoleto (cogoreto) (Cugureo)
O Atlas Novus Mercator (Amesterdão,
1638), identifica Cogoleto como o pátria de Colombo. Poucos anos depois, o
padre Antonio Colombo (1650), diz-se seu parente e identifica a casa onde
supostamente teria nascido.
Girolamo Benzoni (1556), afirma que
era natural de "Cucureo" e os seus "antepassados foram naturais de Placencia da
Lombardia, da sua nobre estripe dos "Pilistregli", e sendo jovem se entregou à
arte de marinheiro."
Os Colombos que Hernando Colon,
encontrou em Cugureo, negaram que tivessem qualquer relação com Cristovão
Colombo.
1.3. Província de Milão
Andrés de Bernaldez, na História de
los Reys Católicos (20), começa por o identificar como Genovês (cap.CXVIII),
para terminar a dizer que era "natural da Província de Milan (Milão)" (cap.CXXXI).
Ao certo ninguém sabia nada, todos se limitavam a dizer o que ouviam dizer.
1.4. Piacenza (Placência)
Hernando Colon, como veremos,
deu-nos conta que muitos eram os que afirmavam que Colombo havia nascido em
Piacenza. Uma ideia muito repetida.
1.5. Nervi
Gomara, apontou a aldeia de Nervi (1533).
1.6. Terrarossa de Moconesi (Val de
Fontanabuona).
Basta estudar um pouco a biografia
de Colombo, para se perceber que ele não tinha qualquer ligação afectiva ou
outra com Génova, nem outra região de Itália.
Las Casas, perante o problema, não
se baseou nos documentos que consultou de Colombo, limitou-se a citar um
cronista português (João de Barros) que nunca o conheceu, para dizer que o mesmo
era genovês... Este por sua vez, afirma que se limitava a repetir o que outros
diziam !
2.
Data do Nascimento
Com
base em dois documentos falsos que apareceram em Itália, a Acta Notorial de
Génova de 30/10/1470 e o Papel de Ugo Assereto,
foi fixada a data do seu nascimento em 1451.
Analisando
os documentos do Colombo Navegador, bem assim como a biografia do seu filho
Hernando Colón a data só pode ser anterior. Mais
3. Formação.
Permanece também um enigma, como é que um simples tecelão ( ou taberneiro ) se tornou num marinheiro, com uma
sólida cultura latina, matemática, judaica, geográfica, cartográfica e náutica.
Os historiadores italianos só podiam dizer que estes conhecimentos foram adquiridos em Portugal e não em Itália.
Em Génova não foi encontrado
qualquer registo de um aluno chamado Colombo. Na biografia do seu filho Hernando
Colón refere-se que Colombo
estudou latim em Pavia. Em Portugal ou em Itália ? Existe uma cidade italiana chamada Pavia,
mas também uma vila portuguesa com este nome.
Apesar
destes estudos superiores em Itália, a verdade é que Colombo não sabia uma
única palavra de italiano. A sua correspondência com os italianos era feita em
latim e em português espanholado, mas NUNCA foi feita em italiano.
Hernando
Colón refere-se que este ensino de latim era muito apreciado em Portugal, ignorando-se por completo se o
mesmo seria apreciado em Itália. Em Portugal, ninguém no século XV,
precisaria de ir para Itália aprender latim. Foi
por esta razão que na Universidade de Pavia, em Itália, NUNCA foi
encontrado qualquer aluno chamado Colombo, Colon, Colón, Colom, etc.
A
biografia italiana torna-se ainda mais hilariante quando sabemos que ainda em Agosto
de 1472, Cristoforo Colombo era tecelão em Savona/Génova e no ano seguinte ainda se
encontrava nesta cidade.
Como é que este tecelão-taberneiro
arranjou tempo para estudar e adquirir uma vasta cultura e experiência
nautica ? Las Casas, na Histórias das Indias, considera esta hipótese
impossível, acusando os italianos de estarem a aldrabar.
Uma
coisa é certa. Em 1474, Colombo estava em Lisboa, fazia parte de um circulo
muito restrito de pessoas que se dedicavam às questões cosmográficas e
nauticas e tinha acesso aos segredos do Estado. Correspondia-se em latim com o florentino Toscanelli, revelando
conhecimentos e contactos que levariam muitos anos a adquirir.
Nas
suas Cartas, Diário de Bordo e outros escritos nunca mencionou algo que tivesse
aprendido em Itália ou com um italiano, embora repita até à exaustão que tudo o
que sabia fora aprendido com portugueses e ao serviço dos reis de Portugal.
Embora
Colombo seja alegadamente originário de uma familia de tecelões e tenha
aprendido esta arte durante longos anos, nunca manifestou qualquer conhecimento
da mesma. Pelo contrário, manifesta um profundo desprezo pelos ofícios
mecânicos, uma atitude típica de um nobre.
Colombo e os Alfaiates (Sastres)
Os
seus biógrafos italianos tem procurado exaustivamente uma única referência
que pudesse indiciar a sua suposta formação como tecelão, ou uma qualquer
ligação a ofícios da sua familia, como a alfaitaria. A verdade é que, não a
encontram, mas também Colombo não a admite.
Em
Julho de 1503, escrevendo aos reis de Espanha, condena que se possa dar a
oportunidade a alfaiates e outros de homens de ofícios mecânicos de ascenderem
ao estatuto de navegadores. Tal facto, afirma, colocaria em causa a honra de
pessoas como ele.
Cada
grupo social devia manter-se na sua posição, e não procurar ascender à
posição de outros:
"Agora
fasta los sastros suplican por descubrir. Es de creer que van a sastear y se les
otorga, que cobran com mucho perjuicio de mi honra y tanto daño del negoçio.
Bueno es de dar a Dios lo suyo e a César lo que le pertence. Esta es justa
sentençia y justo" (2).
4. Família Genovesa.
A
alegada família genovesa de Colombo é no mínimo estranha, a começar pela sua
documentação histórica. Existem
registos abundantes da sua existência entre 1429 e 1494, mas não
existe qualquer documento sobre anos anteriores ou posteriores. A sua
numerosa familia desapareceu sem deixar rasto.
Para cúmulo
estes documentos - Actas
Notoriais - foram publicadas pela primeira vez em Génova no ano de 1892 !
Fotografias dos
"originais" só recentemente foram mostrados aos
historiadores, que confirmarem toda extensão da monumental fraude italiana.
Muitos dos supostos documentos originais não passam de textos impressos no final
do século XVI e no século XVII.
O
mais espantoso nesta historieta italiana é que analisando a versão
tipográfica das alegadas Actas manuscritas, as contradições são mais do que
muitas sobre esta estranha família.
Alguns
membros da familia de Christofforus
Columbus (Colombo), segundo as Actas Genovesas:
Avôs:
-
Jacobo de Fonanarrubea /Giacomo Fontanarossa (pai de Suzana, avó
de Colombo), natural de Bisagno.
-
Giovani Columbus.(pai de Dominicus de Columbus). Oriundo da aldeia de Moconesi,
no vale de Fontanabuono. Estabeleceu-se em Quinto, a curta distância de
Génova. Teve quatro filhos.
Pai: Dominicus de Columbus. Tecelão de panos de
lã, pelo menos desde 1429 até 1499, data do seu falecimento na
mais completa miséria.
Mãe: Suzana Fontanarossa. Mulher do Tecelão.
Em 1489 já teria falecido.
Irmãos:
- Bartoholomeus
Columbus (irmão). Tecelão. Nasceu em 1462, chegou a Lisboa com cerca de 14 anos.
-
Jacobus Columbo (irmão de Colombo). Tecelão. Nasceu em 1468. Em 1472
serve de testemunha em Genova. Em 1487 ainda está nesta cidade, onde exerce a
profissão de tecelão. Foi também para Espanha, onde passou a chamar-se "Diego Colon".
-
Blanchinetta (irmã de Colombo). Irmão dos tecelões. Nasceu em 1464
e nunca terá
abandonado a Itália.
- Giovanni ou Cristoforo Pellegrino.
Tecelão.
Tios:
-
Goagninus de Fonanarrubea (irmão de Suzana, tio de Colombo)
-
Antonius Columbus (irmão de Dominicus). Teve 4 filhos.
-
Battistina Columbus (irmão de
Dominicus)
-
Giovanni Pellegrino (irmão de
Dominicus). Morreu muito novo.
Primos:
-
Benedictus, Thomazius, Matheus, Amigetus e Giovanni (filhos de Antonius Columbus)
etc.
A
família era enorme na 2ª. metade do século XV, mas nogo o princípio do século XVI
desapareceu completamente. Terão sido todos assassinados ? Abandonaram a
Itália ? Os historiadores italianos não conseguem responder a este mistério.
5. Filho Ingrato
O
alegado pai de Colombo-navegador, sempre viveu na mais completa miséria. Em
1464, por exemplo, Domenico Colombo, não conseguia pagar 15 liras (330
maravedies) (4). Em 1470, por não conseguir honrar os seus compromissos foi
preso e libertado a 22 de Setembro (5).
"Cristoforo
Colombo", sendo igualmente um miserável, como o seu pai, colocou-se em
1470 na sua posição de devedor (6). Nesta altura, um Colombo navegador
e corsário já andava ao serviço do rei de Portugal !
O
absurdo é ainda maior, quando se constata que "Cristoforo Colombo", a
20 de Março de 1472, era ainda um humilde tecelão em Savona (7), numa altura
que o corsário "Colombo" estava em grande actividade no Mediterrâneo
e ao serviço de Portugal.
A
verdade é que a situação de miséria do seu alegado pai - Dominico Colombo -
não acabava, continuando incapaz de pagar as suas dividas em 1472, 1473 e ainda
em 1474 (8), e assim terá continuado.
As
situações anómalas continuaram. Em 1480, por exemplo, Dominico Colombo faz
uma procuração ao seu filho Bartolomeu (supostamente Bartolomeu Colombo) (9),
sem indicar a finalidade. Acontece que pelo menos desde 1476, Bartolomeu
Colombo residia em Lisboa, exercendo um hipotético ofício de
"cartografo". Não se percebe, como nota Manuel Rosa, porque não a
fez aos seus dois filhos que continuavam em Itália.
Dominico
Colombo era não só um miserável tecelão, como também um incompetente no seu
ofício. Em 1484 entregou o seu filho "Giacomo" (em Espanha, conhecido
por Diego Colon), de 16 anos de idade, ao tecelão Luchino Cadamartori,
para que este lhe ensinasse o ofício que ele exercia desde 1429... (10).
Giacomo,
ainda em 1491, exercia em Savona o seu ofício de tecelão. Dois anos depois era
governador nas Indias espanholas...
Não
deixa de ser ainda mais estranho que o seu alegado pai - Dominicus, o tecelão
genovês - tenha morrido na miséria, em 1499, apesar dos seus três filhos desfrutarem de uma enorme
prosperidade económica em Portugal e Espanha.
Por incrível que possa parecer,
nenhum deles se importou com a sorte da sua desgraçada família italiana, nem
reclamaram a parte da herança que lhes cabia, nem passaram uma procuração à sua
desgraçada irmã.
Os
próprios credores italianos também não se lembraram de os contactarem para saldarem as dívidas do seu
desgraçado pai.
Em
1500 ocorre mais um processo judicial. O italianos têm exibido um alegado
documento cartorial, lavrado em Savona, a 8 de Abril de 1500, envolvendo Sebastião
Cuneo, que pede que sejam chamados a tribunal os três irmãos (Cristovão,
Bartolomeu e Diego) para pagarem o preço de duas terras em Légine. Não apenas
estes ignoram todo o processo que decorre em Génova, mas também nada pagam,
nem são notificados. O suposto documento é uma cópia de 1602 (12)
Em
1501, ocorre mais uma alegado processo judicial, envolvendo a venda de bens da suposta
familia de Colombo. Ele e os seus irmãos são citados em Tribunal, a 21/1/501, mas a
verdade é que ignoram por completo o caso. O suposto documento é uma
cópia também datada de 1602 (12). Estamos perante mais uma típica falsificação
italiana.
A
acreditar em toda esta história, a familia de Colombo em Génova vivia na mais
completa miséria, sem que este ou os seus irmãos tivessem o mínimo de
compaixão pela mesma. O
facto é tanto mais estranho quando todos eles eram pessoas muito religiosas, um
deles (Diego) até se tornou frade franciscano...
Santo Domingo
Afim
de mostrarem que os três irmãos manifestavam alguma afectividade à sua
alegada família italiana, os falsários italianos lembraram-se de afirmar que
Bartolomé Colón havia feito uma homenagem ao seu pai Dominicus,
atribuindo-lhe o nome da cidade - Santo Domingo -, a primeira que
foi criada no Novo Mundo: "in
commemoration di suo padre, che si chianava Domenico".
A
historieta surge na edição de 1571 da História del Almirante, de
Hernando Colon. O original, como vimos, desapareceu e a 1ª. edição
desta obra foi
publicada em Itália completamente mutilada.
Frei
Bartolomé de las Casas (ob., cit, Tomo I, Liv. I, cap. CXIII), que conheceu
Bartolomé Colon e analisou a sua documentação afirma, pelo contrário, que
este deu o nome de Santo Domingo "porque el día que llegó alli fué
Domingo, y por ventura día de Santo Domingo.".
O
italiano Pietro Martire di Anghiera, nas citadas Décadas do Novo Mundo,
corrobora as informação de Las Casas.
6.
Irmãos Ingratos
Os
irmãos Colombo, não apenas se revelam de uma enorme ingratidão para com o seu
alegado pai genovês, mas também manifestaram uma profunda indiferença para
com a sua irmã Bianchinetta que só veio a falecer em 1516.
Colombo,
por exemplo, no suposto "Testamento de 1498" (falso), não a
contempla na sua herança, assim como o seu alegado pai ainda vivo.
O
Testamento de Diego Colon, filho de Colombo-Navegador, datado de 1509, contempla
muitos portugueses, como a Condessa de Penamacor ("condesa
de Benanico mi tia"), Violante Moniz ("mi
tia Brigulaga" ), Ana Moniz ("doña
Ana mi sobrina, mujer del jurado Barahona") (11). Uma vez mais ignora a
sua alegada tia genovesa - Bianchinetta.
O
testamento de Diego Colon (o Giacomo italiano, irmão de Cristoforo Colombo
tecelão), datado de 24 de Fevereiro de 1515, revela que possuía uma sólida
fortuna. Contempla vários portugueses como o padre Gregório, capelão da
Marquesa de Montemor-o-Novo, Briolanja (ou Violante) Moniz cunhada de Colombo, e
até um italiano - Juan António Colon.
A sua alegada irmã Bianchinetta
é mais uma vez esquecida !
Não
deixa de ser também estranho que Hernando Colón, tenha estado pela 1ª. vez em Génova
em 1515 e não tenha encontrado nenhum familiar do seu pai. O mesmo virá a
acontecer em viagens posteriores.
A
conclusão é obvia: a família dos tecelões italianos, nada tem haver com a do
navegador e descobridor das Indias.
7. Recusa do suposto nome de Família
Os
historiadores italianos, um pouco mais sérios, como Maurizio
Tagliattini, constataram que Colombo e seu filho Diego Colon, quando pressentiram
que os italianos andavam a ligá-los à Itália, cortaram com o seu suposto apelido
de familia de de forma radical.
Na correspondência com o Banco genovês, entre 1502 e 1504, usou apenas o seu primeiro nome, tal como o seu filho Diego omitindo o último. Não se
identificavam com o nome "Colon", "Colom"
ou "Colombo" e portanto não o usavam.
Colombo,
como vimos, nunca assinou um único documento com o seu suposto apelido de familia (Colón,
Colom, Colombo, etc), usou apenas uma assinatura cifrada. Pretendeu claramente afirmar que Colon ou Colombo era o nome pelo qual todos os conheciam,
não o seu nome verdadeiro.
Fernando
Colón, da biografia do seu pai, no capitulo II intitulado "Quem eram os
pais do Almirante", nada revela sobre a sua identidade. Limita-se a falar
de uns supostos antepassados romanos...O leitor fica sem saber quem eram.
No
capítulo LXXIII, ao descrever ao entrada de Colombo em Santo Domingo, afirma que
o pai de Bartolomeu Colon era Domenico, como se fossem filhos de dois pais
diferentes. O seu objectivo foi deliberadamente o de ocultar a sua
identidade.
Se aceitarmos como autêntico a cópia
do Morgadio de 1498,
o absurdo ainda é maior. Colombo afirma que pertence à linhagem de "los Colón" ,
uma família inexistente em toda a Itália.
Manda que seu irmão "tenga y
sostenga en la ciudad de Génova una persona de nuestro linage que tenga allí
casa y mujer ... y haga pie y raíz en la dicha Ciudad como natural della".
Uma disposição também absurda se tivermos em conta que neste ano viviam em
Génova o seu pai, irmã, cunhado e outros familiares. Colombo nem sequer os
menciona no morgadio, simplesmente não existem.
Estes
factos levam Maurizio Tagliattini a sustentar que
era um traumatizado, devido a ter sido abandonado pelo seu pai quando nasceu, e
a lhe terem dado um apelido do seu padrasto com o qual não se identificava. O
seu nome verdadeiro seria "Christophoro Pellegrino". Outra
fantasia italiana, face às contradições que envolvem a história de
"Colombo tecelão ou taberneiro".
8. Os Alegados Primos de Colombo
Juan
Antonio, irmão de Andrea Colombo (13). Tratam-se de dois antigos criados de Colombo e do seu
filho Diego Colón.
Na terceira viagem,
Colombo nomeia como capitão de um dos navios um "genovês", denominado Juan
Antonio. Quando a 21/6/1498 Colombo decide quem o acompanharia na
exploração da "Terra Firme", não tem dúvidas em se separar do mesmo enviando-o directamente para La Hispaniola.
Dois meses depois,
este italiano, aparece envolvido na rebelião de Francisco Roldán (1498-1499)
contra Colombo, onde tem uma
posição muito ambígua. Foi enviado de novo para Espanha, onde já se encontrava
em Sevilha a 10/12/1498 (14).
Nada se sabe do que lhe aconteceu depois
do seu regresso forçado à Espanha (1498). É provável que como criado de Colombo,
tenha ficado a tratar de assuntos da sua família. Foi usado, tal como Alonso
Sanches de Carabajal, na cobrança dos rendimentos nas Indias e em várias
trafulhices.
Muito se tem escrito sobre o seu alegado parentesco com o próprio
Colombo, mas todas as provas foram dadas como inconclusivas ou falsas. Las Casas (1),
limita-se a afirmar que era seu criado. A biografia de Hernando Colon,
manipulada pelos italianos, é neste ponto muito suspeita, afirma que Juan
Antonio "deudo (parente) del Almirante" (História, cap. LXI).
O rei de Espanha,
Fernando, numa carta datada de 13/12/1508, autoriza que Diego Colon, leve para
as Indias Juan Antonio e Andrea Colombo, tendo em atenção que haviam sido
durante muitos anos criados de Colombo e nesta condição continuavam ao serviço
da família.
Diego Colon, em
1509, encarrega-o de trasladar os restos mortais do seu pai de Valladolid para o
Mosteiro de las Cuevas em Sevilha. Terá embarcado as Indias com o segundo
vice-rei.
Andrea
Colombo, irmão de Juan
Antonio, ambos criados de Colombo.
Andrea
participou, como escudeiro, na 4ª. e última viagem de Colombo, desempenhando
funções de tesoureiro e contabilista. Estava junto ao leito da morte do
Almirante em 1506, sendo da mesma testemunha. Terá embarcado com Diego Colon
para as Indias em 1509.
Morava em Cuba, quando apoiou Diego Colón,
em 1515, num processo que a Corte espanhola lhe moveu devido a
irregularidades nos impostos (15).
Depois disto nada mais sabemos da sua vida durante
vários anos.
Reaparece em 1532, quando terá partido de Lisboa para a India, numa
armada ao serviço do rei de Portugal !.
A
verdade é que o seu nome não consta da lista dos capitães das 5 naus que
nesse ano saíram para a India: Estevão da Gama, Paulo da Gama, Vicente Gil,
António Carvalho e Pedro Vaz.
Falsidades
Juan
Antonio e Andrea Colombo serviram de pretexto
para os falsários italianos estabeleceram um laço de parentesco com Colombo.
As trafulhices italianas são mais do que muitas:
a) Antiga Versão.
Numa Acta Notorial Genovesa,
com a data de 11/10/1496, três irmãos - Giovanni
(Giannetto) Colombo de Quinto, Matteo Colombo e Amigheto Colombo, filhos do
falecido Antonio Colombo, irmão mais novo de Dominico Colombo, suposto pai do
almirante Colombo.
Estes três irmãos, segundo as actas
genovesas, resolveram cotizar-se para o primeiro poder ir a
Espanha reclamar ao Almirante uma alegada dívida, não quantificada.
Antonio
Colombo, como já vimos, era o suposto tio do Almirante das Indias, e neste
sentido estes três irmãos os seus primos.
A
alegada Acta Notorial , à semelhança de outros documentos
falsos, também não possui elementos precisos: Não fixa, por exemplo,
qualquer quantia que cada um desembolsou, nem sequer menciona o montante da
alegada dívida de Cristovão Colombo.
Os
falsários italianos afirmam que este Giovanni Colombo, alfaiate de profissão, fazia-se passar
em Espanha por Juan António Colombo, comandante de navios nas Indias e cobrador dos rendimentos de Colombo.
Matteo ou
Amigheto fazia-se, por sua vez, passar por Andre Colombo, escudeiro e misterioso
comandante de navios da rota portuguesa das Indias...
A
maioria dos historiadores, ignora estas trapalhadas, identificando
acriticamente Juan António com Giovanni Colombo, o que é um autentico disparate
(16).
b) Nova Versão.
O padre italiano - A. Agosto (
9) -, ocupou-se durante anos a fabricar uma nova genealogia genovesa de Colombo.
Segundo a mesma, vejamos a nova versão destes antigos irmãos, que o deixaram de
ser:
- Gioanetto , filho de Antonino Colombo, em Espanha passa a chamar-se Juan Antonio Colombo.
Estava de novo em Génova, em Fevereiro de 1500, segundo uma Ata Notorial.
- Andrea Colombo, em Espanha,
Andrea Colombo, é agora filho de Gioanetto de Mocónesi, o que está em
contradição com a documentação existente em Espanha.
Bartolomeo Fieschi,
criado de Colombo é outro dos seus alegado parentes.
Participou na
4ª. Viagem, como capitão de uma caravela La Vizcaina, de 50 toneladas com 25 tripulantes.
Fieschi como
comandante revelou-se um completo desastre. A caravela
acabou por ser abandonada em Portobelo (Panamá), tendo sido encontrada em 1998
junto à baia de Nombre de Dios (18). Colombo acabou retido na Jamaica .
Com Diego Mendez de Segura (Português),
cada qual na sua canoa, partiram a 17/7/1503 à procura
de socorro na Hispaniola. Chegados a Hispaniola este alegado familiar de Colombo desapareceu, deixando Diego Mendes de
Segura sozinho a resolver a situação. Apenas a 29 de Junho de 1504 os
consegue resgatar da Jamaica, em dois barcos comandos por Diego Salceda que os levou à Hispaniola, onde
chegaram a 13 de Agosto.
O
documento que tem servido para afirmar o alegado grau de parentesco é uma carta
de Colombo, copiada por Las Casas. Nesta carta escrita na Jamaica, em Março de
1504, quando
Ovando, governador de Hipaniola, acabava de ser nomeado Grão-Mestre da
Ordem de Calatrava, Colombo (ou Las Casas?) "afirma" que Flisco (e não Fieschi),
" que sale de los principales de su terra, y por tener tanto deudo conmigo".
-
A palavra "deuda" significa parente em castelhano e pode ter sido um acrescento de Las Casas.
-
Colombo pode ter querido dizer que ele era um dos grandes da sua terra, não da de ambos.
-
A família Fieschi, como é sabido, tinha ligações com os centurione, o que
pressupõe que Colombo estivesse igualmente ligado por laços
familiares aos grandes mercadores de Génova. A verdade é que nunca foram
encontrados documentos que apontassem para este alegado parentesco.
Bartolomeo Fieschi, aparece como
testemunha e identificado como criado no Testamento de Colombo de 1506 (Valladolid,
19/5/1506). Terá regressado pouco depois a Génova (17).
Não deixa de ser curioso constatar
que os alegados parentes italianos de Colombo nunca tenham passado da condição
de seus criados. Nem sequer lhes permitiu que vivessem com ele, como aconteceu
com todos os familiares da sua esposa.
9. Antropofagia Familiar
A suposta família do Colombo tecelão que vivia em Génova desapareceu
sem deixar rasto. O único registo que temos dos membros desta família de
tecelões consta em documentos que apareceram, em 1892, e que são hoje
considerados falsos. Na sua totalidade reportam-se a um período muito
concreto - 1429-1494 (32 Actas Notoriais).
Não
existe qualquer documento oficial sobre esta família, nem antes nem depois destas
datas. Um estranho fenómeno italiano.
Conforme
se pode deduzir das Actas Notoriais genovesas era enorme o número de membros
desta família de tecelões Apesar
disto, a verdade é que ninguém em Itália, ao longo de todo o século XVI
conseguiu provar que era parente de Colombo.
Na
segunda metade do século XVI, quando se colocou a questão da herança de
Colombo, dado que os seus descendentes haviam morrido sem filhos, apareceram
por toda a Itália pseudo-descendentes, menos em Génova.
Os
pseudo-descendentes italianos acabaram por ser desmascarados, tendo sido
demonstrado em tribunal que os "documentos" que exibiam eram falsos.
Perante
os rumores que os italianos haviam posto a circular, um dos filhos de Colombo -
Hernando Colón -, foi a Génova à procura das alegadas origens da sua família,
mas não encontrou nenhum familiar. Todos haviam-se evaporado, sem deixar
rastos, nem nos arquivos oficiais que foram vasculhados durante séculos.
Os
documentos sobre a família de Colombo só apareceram milagrosamente, em 1892,
quando se comemorava o 4º centenário do nascimento da "Descoberta da América"
!
Análises Forenses e
Testes de ADN
Os Testes de ADN e Forenses,
feitos em 2002 e 2003, pela Universidade de Granada, mostraram a
impossibilidade do navegador com o nome de Cristoval Colombo ser italiano ou
espanhol.
Primeiras
conclusões:
- Diego Colon, irmão
mais novo de Colombo, não podia ser o tecelão de Génova. Os dados forenses
apontam para alguém que teria cerca de 60 anos, quando faleceu em 1515.
Neste sentido teria nascido por volta de 1455, e não em 1468 segundo a
biografia italiana. Atendendo a que Colombo era cerca de 16 anos mais velho do
que o seu irmão mais novo, só poderia teria nascido por volta de 1439/40..
- Os testes feitos a mais de 447
supostos descendentes de Colombo na Catalunha, Valência, Baleares, sul da França,
Lombardia, Piemonte e Ligúria deram TODOS NEGATIVOS !
Estes resultados corroboram análises
forenses feitos nos anos cinquenta, o que mostra a dimensão das falsidades que
envolvem a biografia italiana de Colombo.
10. Nobreza.
Apesar de não se conhecer nada semelhante em Portugal no século
XV, os biógrafos
italianos continuam a afirmar que, embora Colombo fosse um humilde plebeu,
se casou com uma rica nobre portuguesa, era amigo intimo do Rei e da Rainha de
Portugal.
A
alta posição da sua mulher (Filipa Moniz), ligada à família real e à
poderosa Ordem de Santiago de
Espada de Portugal, onde estava a elite dos navegadores do tempo, transforma num
absurdo semelhante casamento. Jamais poderia ter ocorrido, nomeadamente numa Ordem
Militar onde o rei era o Grão-Mestre e na qual uma comendadeira, como Filipa
Moniz, para se casar
carecia da sua autorização. E a família da noiva será que o permitiria?
Para
tornar coerente a história, os defensores da tese genovista, inventarem que Colombo teria uma sólida situação
financeira em Lisboa e a família da sua mulher atravessava graves dificuldades
económicas. Um disparate total, sem qualquer fundamento histórico.
Las
Casas e Hernando Colón recusam em absoluto o facto de Colombo ser originário
de uma família de artesãos.
Genealogias Fantasiosas
Os modernos historiadores italianos,
seguiram três vias para sustentarem as suas teses:
Procuram ligar os
"colombos" de Génova a outros colombos pela Itália de modo a estabelecerem
uma
nova genealogia de no Cristovão Colombo mais conveniente para dar resposta às
sucessivas contradições com que se deparam.
Uns procuram mostrar a longa
linhagem dos tecelões de Génova. Em 1311 já vivia nesta cidade um tecedor
chamado Colombo.
Outros procuram construir uma
linhagem antiga, mas muito diversificada nos seus ramos. Um dos últimos
projectos constam na Nuova raccolta colombiana (1992), onde Aldo Agosto,
Dirigente do Archivio di Stato di Genova, recua os antepassados de Colombo a
Guglielmo Colombo que viveu em Génova no século XII. Basta uma leitura atenta
para descobrir que este Colombo nada tem haver com aquele que viveu em Portugal.
Colombo, nestas "novas versões" genovesas tem antepassados nobres, mas
o ramo da sua familia são
miseráveis tecelões...
Brasão
Colombo quando chegou a Castela
em 1484/85 possuía um brasão, os falsários genoveses começaram por afirmar que era um brasão
genovês. Na impossibilidade de o provarem passaram a dizer que se tratava de um
falso brasão, cuja utilização fraudulenta por Colombo fora sancionado pelos reis católicos.
b) Colombo Perestrelo
Hernando Colón na primeira metade do século
XVI, sugeriu a ideia que Colombo era originário de Piacenza (Placência).
Os
condes que aqui existiam, diziam-se descendentes da gens romana dos Colonna,
referida por Cornélio Tácito, Livro XII. Uma referência mítica que servia para
alicerçar qualquer genealogia.
Esta ideia parece estar de acordo
com a confusão que Colombo terá alimentado de confundir a sua origem com os
antepassados da sua esposa - Filipa Moniz Perestrelo.
Vários foram os que afirmaram que em
Placencia existiu um Dominico Colombo que tinha dois filhos, um Cristóforo e
outro Bartolomeu que tinham ido para Genova em 1471, e daí teriam partido para
ilhas muito distantes.
O problema é que não conseguem
arranjar documentos que comprovem estas fantasias, para além de que se revelaram
incongruentes com os dados conhecidos.
Face a estes problemas, falsários
italianos, têm apontado outras localidade próximas de Piacenza, como Bettola.
O problema, como sempre, é que as
supostas "provas" revelam-se contraditórias com os factos históricos essenciais
da vida de Colombo em Portugal e Espanha.
C ) Colombo nobre arruinado
Em Cuccaro Monferrato, no
Piemonte, está para muitos falsários italianos a resposta à origem nobre de
Colombo. Foi aqui encontrada uma família Colombo cujas origens remontam ao século XIII.
Em 1410 faleceu o seu avô paterno -
Lancia de Colombo, senhor de Cuccaro -, tendo os seus filhos sido entregues a
Teodoro II Paleologo, filho do senhor de Monferrato. Entre eles está o pai de
Colombo - Dominico Colombo, que ao ver-se na miséria tornou-se tecelão.
Colombo, segundo esta historieta
nasceu aqui em 1437. Um dos que o afirma é Antonio Herrera y Tordesillas,
cronista de Filipe II, na sua História de Portugal y conquista de las islas
Azores (Madrid, 1591),
quando a propósito de Porto Santo escreve:
"Como le pasó a Cristóbal Colombo o
Colón, como nosotros le llamos, que fue originario del castillo de Cuccaro, en
el Estado de Monferrato en Lombardia y no de Génova, como es opinión común..".
O problema é que os factos sobre a
vida deste nobre arruinado, não se encaixam com o que sabemos sobre a vida dos
três irmãos. A principal prova "está" em duas cores que estão no
brasão de Colombo antes de 1492: o ouro e o azul.
Em 1583, como veremos, Baldassarre
Colombo, senhor de Cuccaro, apresentou-se em Espanha como suposto descendente de
Colombo, reclamando a sua fortuna. Partia do princípio que todos os "Colombos"
eram descendentes dos Colombos de Cuccaro, razão pela qual não conseguia dizer
qual o seu grau de parentesco com o Colombo de Génova.
A Baldassarre se deve a falsificação
de vários documentos, que produziu de forma a apropriar-se da fortuna deixada
pelos Duques de Verágua. O tribunal da época não teve dúvidas provar a sua
falsidade.
F ) Razões da Ocultação da Identidade
Colombo não tinha qualquer motivo
para ocultar a sua origem caso fosse italiano ou espanhol, mas tudo seria
diferente se fosse português.
Desde 1494 que os espanhóis o acusavam de os ter enganado, conduzindo-os para
uma falsa India. Ao longo do século XVI, por este motivo, a sua família teve que se sujeitar a
vários processos em Tribunal.
A comprovar-se esta grave acusação os nobres portugueses que o apoiaram em
Castela/Espanha seriam inevitavelmente nela envolvidos.
As acusações começaram a subir de tom a partir de 1497, quando se soube da
partida de Vasco da Gama para a India. A sua visita a Lisboa, em Março de
1493, passou a ser apontada como a prova de uma conluio com D.
João II, para afastar a Espanha da verdadeira India.
A confusão que os italianos começaram a estabelecer sobre a sua identidade interessava
naturalmente a Colombo, pois desta forma protegia os interesses do seu filho primogénito - D.
Diego, nascido em Lisboa.
Na primeira metade do século XVI,
são-lhe apontadas três nacionalidades: Portuguesa, Judaica e Genovesa.
As duas primeiras eram as únicas a que ele NUNCA poderia afirmar. Porquê ?
- Não podia dizer-se judeu, porque seria de imediato espoliado e morto em
Espanha.
- Não podia dizer que era português, porque seria admitir que era um
espião ao serviço dos reis de Portugal.
Restava-lhe alimentar a farsa dos
genoveses,
confundir tudo e todos.
A melhor prova que esta era a melhor estratégia, ocorreu em 1413, quando Diego Mendez de Segura,
secretário de Colombo e do seu filho Diego, foi acusado de ser português. Os
seus bens foram confiscados em 1417, e só a muito custo os conseguiu anos depois
reaver. Ainda em 1532 o seu caso estava a ser discutido em tribunal. Mais
Diego de Segura, apesar de tudo continuou a ocultar a identidade de Colombo, quando afirmou que o mesmo «hera natural de la Saona» (corrupção de Savona), afastando possíveis ligações a Portugal.
Não é de excluir a hipótese de ter sido Colombo e os seus cúmplices,
nomeadamente os membros da Casa dos Duques de Bragança e dos Duques
de Viseu-Beja, exilados em Espanha, a difundirem esta ideia da sua origem
italiana, essa era a melhor maneira de proteger os seus interesses. Alvaro de Bragança, por
exemplo, tinha como mordomo-mor um genovês. Mais.
Carlos
Fontes.
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