Carlos Fontes

Cristovão Colombo, Português ?

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Colombo: Italiano ?

6. Lugares de um Tecelão em Itália

Colombo não tinha qualquer relação afectiva ou outra com a "Itália" (inexistente), nem com qualquer uma das suas repúblicas ou regiões. Este facto torna-se mais evidente quando analisamos as únicas cidades ou regiões "italianas" que faz referência nos abundantes textos que nos deixou.

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Génova

Em todos os textos possuímos de Colombo, apenas uma única vez se refere a Génova. A nome que utiliza é a designação portuguesa do século XV: "Génoa". 

Trata-se de um fragmento de uma carta escrita aos reis espanhóis, pouco antes de 18/10/1498. Nela dá conta dos dois principais produtos que podiam ser exportados a partir da Ilha da Trinidade ("Sancta Trinidad"): escravos e pau brasil.

Quanto aos escravos inúmera os principais mercados: Castela, Portugal, Aragão, Itália e Sícilia, as ilhas de Portugal e de Aragão e as Canárias. Em relação ao pau brasil menciona os mercados de maior consumo: França, Flandres, Inglaterra, Castela, Aragão, "Génoa" e "Venecia". (cfr.textos, p.408).

Génova reduz-se a um mero mercado para a exportação de pau brasil e eventual tráfico de escravos.

Os dois outros documentos nos quais alegadamente refere Génova são, como vimos, comprovadamente falsos: 

- O conhecido "Mayorazgo (1498). Os falsários ao darem-se conta que Colombo não sabia escrever correctamente o nome da sua suposta cidade natal, escreveram-na num mesmo documento de duas formas: " Génoba" e "Génoa".

- Uma folha solta que foi anexada ao Testamento de 1506. O nome da cidade aparece escrita de forma diferente, em vez de "Génoa" surge como "Génova".  Os falsários resolveram corrigir Colombo (Textos, p.536).

1. Casa de Colombo em Génova

Seria um absurdo a cidade que se reclamava ser o berço de Colombo não ter uma casa que lhe pudesse ser atribuída. Os falsários trataram de arranjar quatro casas para a alegada família de Colombo junto às quatros entradas da cidade.

Num bairro histórico de Génova, junto à Porta Soprana, foi escolhida uma antiga que se mostrava adequada à encenação pretendida. Para turistas ouvirem afirma-se que um "Cristoforo Colombo" (Cristovão Colombo) filho de "Domenico Colombo" e "Susanna Fontanarossa" habitou esta casa em tenra idade entre 1455 e 1470.

Com base em documentos, ao que tudo indica falsificados, que um  Doménico Colombo e Susanna Fontanarrosa, tecedores de lã, alugaram uma casa em Vico Dritto di Ponticello, na cidade de Génova. O contrato de aluguer, datado de 18 de Janeiro de 1455, teria sido firmado entre os supostos pais de Colombo e Don Giacomo Fiesci, filho do falecido Don Etore,  irmão e procurador do Reverendo bispo Fiesci, comendador do convento de San Esteban da ordem de São Bento.

Não existem provas que qualquer membro da família do tecelão Domenico Colombo e Susanna Fontanarrosa tenha vivido nesta casa, nem que os mesmos tenham sido os pais de navegador que viveu em Portugal e andou ao serviço de Castela/Espanha.

Tudo não passa de uma acção de propaganda italiana para consumo de turistas.

2. Portugueses em Génova

Se as provas da ligação de Colombo a Génova são falsas ou duvidosas, está bem documentada a presença de marinheiros e mercadores portugueses desde o século XIV. Em finais do século XV foi aqui criada uma Feitoria portuguesa.

3. Arquivos de Génova

Os seus arquivos são depositários de uma grande quantidade de documentos falsos, que desde o século XVI os genoveses têm produzido para se apropriarem da fortuna, títulos e identidade de Colombo. Alguns são exibidos publicamente para distracção de turistas ignorantes.

Conclusão:

"Se Génova foi a terra onde nasceu, não deixou nenhum sinal na sua alma" (1): Em parte alguma refere o local onde nasceu, a sua infância. Nunca fez qualquer comparação com as estações, o clima, a vegetação da região onde supostamente nasceu. Nunca mencionou a família em que cresceu (pai, mãe, irmãos), nem o que aprendeu em Génova ou em qualquer outra região de Itália.

Ao longo da vida não manifesta a mais pequena recordação nostálgica do seu passado genovês. A sua única preocupação, no final da vida é que o seu filho Diogo Colon, natural de Lisboa, não se esquecesse das suas origens portuguesas...

Desconhece em absoluto qualquer dialecto italiano, incluindo o genovês. A terminologia nautica que utiliza é portuguesa, nem uma palavra é genovesa.

Mostra-se incapaz de identificar um governante, um artista ou escritor "italiano". Na suposta correspondência que manteve com o Banco de S. Jorge de Génova chega ao ponto de omitir o apelido "Colon", para não ser confundido com nenhuma família genovesa. Nas Antilhas mandava arrancar a língua a quem o identificasse como genovês...

Nos seus escritos não existe a mais pequena referência às actividades profissionais que supostamente exerceu em Génova até vir para Portugal: tecelão, taberneiro e alfaiate.

A forma que os genoveses a arranjaram por ultrapassar este "obstáculo" foi inventarem ou falsificarem documentos, como o "Codicilo Militar".

  Sicília

A Sicília foi a região da actual e Itália mais citada por Colombo. No total foram quatro vezes, nunca conseguindo atinar na forma como devia escrever este nome:

- Diário de Bordo: No dia  28/10/1498, compara as montanhas de Cuba com as da Sicilia ("Çecília"). 

- Memorial de A. Torres (1494): Refere a excelência dos terrenos das Indias para a produção de trigo, que considera serem superiores aos da Andaluzia e da Sicília ("Sicilia") (Textos,258).

- Fragmento datado de 1498/1500: Entre as regiões de grande consumo de escravos refere a Sicília ("cecilia").

- Carta a Juana de la Torre, ama do Principe Juan (1500): Ao referir-se à forma como foi tratado (preso) nas Indias, diz que os espanhóis o trataram como se ele fosse um simples Governador da Secilia ("Çeçilia") ou de cidade ou vila totalmente controlada. Colombo reclama ser julgado como um capitão que partiu de Espanha para conquistar as Indias, povoadas de "gente belicosa", com costumes e crenças muito diferentes dos cristãos (Textos,p.436).   

As duas primeiras referências estão ligadas a Portugal::

Desde o início do século XV que havia uma feitoria portuguesa na Sícilia, responsável pela aquisição de trigo, nomeadamente para abastecer as fortalezas do Norte de África. Ao longo de todo o século, navios portugueses atravessavam todo o Mediterrâneo no transporte de trigo, incluindo em fretes para a cidade de Génova. Não é de excluir a hipótese do próprio Colombo ter participado neste transporte, mas também no tráfico de escravos para a Sicília.

As relações entre Portugal e a Sicilia não se circunscreviam ao trigo, mas envolveram a própria cana-do-açucar. Duarte Pacheco Pereira, afirma que o Infante D.Henrique ( -1460), mandou vir da "Cicilia" "canas de açuquar" para a IIha da Madeira.

Colombo distingue claramente a Sicilia da Itália, colocando-a numa posição submissa em relação ao reino de Aragão.

   

Nápoles 

Ao descrever as viagens que se podiam fazer a partir do porto de Cádiz, em 1502, menciona as que tinham como destino Nápoles no verão e no inverno. No mesmo texto menciona também as que se faziam entre Cádiz e Lisboa (Textos, p.474). Napoles reduz-se a uma única menção.

  Veneza e Pisa

Veneza é referia duas vezes: Em 1498 como um dos potenciais mercados para a exportação de pau brasil (Textos, p. 408).

A outra menção é feita, em 1503, o nome da cidade é claramente aportuguesado -"Beneçia". Neste caso, trata-se de dar um exemplo de duas cidades ricas, uma no litoral e outra mais no interior. Colombo aponta outro exemplo espanhol mais modesto (Textos, p. 488). 

Estas são as únicas referências em toda a sua vida que fez a Itália, repúblicas, cidades, vilas ou aldeias italianas. 

 

Carlos Fontes.

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  Notas:

(1) Sale, Kirkpatrick - A Conquista do Paraíso- Cristovão Colombo e o seu Legado. Jorge Zahar Editores., p.53

 

Continuação:

7. Cronologia Italiana

As Provas do Colombo Português

As Provas de Colombo Espanhol.

 
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