Carlos Fontes

 

 

  

Cristovão Colombo, português ?

 

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Diego Mendez de Segura

 

 

Secretário vitalício de Colombo e de seu filho Diego Colon. Era supostamente filho de um nobre castelhano - Garcia Mendez de Zamora - criado de Henrique IV de Castela que combatera contra os reis espanhóis (Fernando e Isabel), em defesa dos interesses do rei de Portugal (D. Afonso V), e acabou por se exilar em Portugal, entregando o seu filho Diego Mendez com apenas 4 ou cinco anos à sobrinha de Colombo, Catarina de Noronha e ao seu esposo Lopo de Alburquerque, Conde de Penamacor.  

 

Esta história só foi contada em Tribunal, depois de Diego Mendéz de Segura vários anos depois de visto os seus bens e cargos confiscados (1517), por António Serrano e Róldan o terem acusado de ser português. A única forma de não ser espoliado e perseguido, no fim da vida, era dizer que os que o seus pais eram castelhanos...  

 

 

Traição e Vingança

 

Envolvido pelo seu pai adoptivo na conspiração de 1484, acompanhou-o na sua fuga para o estrangeiro, tendo ido a Itália, Flandres e Inglaterra, onde o mesmo acabou preso. Andou envolvido na organização de viagens de pirataria contra os interesses de Portugal. 

 

Fez pelo menos 3 viagens a Espanha para solicitar aos reis católicos e ao cardeal Pedro de Mondonza que fizessem pressão para a libertação de Lopo de Albuquerque, o que foi conseguido apenas em 1493 (1).

 

 

Espanha: 1493-1502   

 

Lopo de Albuquerque exilou-se em Espanha, em Março (?') de 1493, tendo sido nomeado corregedor de Ubeda-Baeza entre 1494 e 1496. Não sabemos se Diego Mendez o acompanhou ou não nestas funções ou se ficou em Sevilha, junto da sua família adoptiva (?). Fazia-se passar por português, natural de Segura, Alentejo ( 3 ). 

 

Em fins de 1493, quando Bartolomeu Colón de França se mudou para Espanha dirigiu-se ao encontro de Diego Mendéz, o que reforça  ideia de contactos muito anteriores. É provável que nesta altura passasse a ser secretário da família de Colombo, embora muito discreto para não ser acusado de traição. 

 

 

Indias: 1502-1504

 

O seu nome aparece pela primeira vez no grupo dos que acompanharam Colombo na  4ª. viagem às Indias, assumindo logo importantes funções na esquadra, nomeadamente o de escrivão. 

 

Foi nesta fatídica viagem que salvou o próprio Colombo, quando os dois navios em que seguiam ficaram encalhado na Baia de Santa Ana na Ilha da Jamaica (2/6/1503). Em Julho decidiu enviá-lo a La Hispaniola para arranjar socorro e depois entregar aos reis católicos uma carta. Após 4 dia numa canoa, conseguiu atingir Navasa, mas o governador Ovando não lhe permitiu que fosse a Santo Domingo arranjar socorros. Apenas o conseguiu fazer em Maio de 1504, e tendo depois seguido para Espanha para entregar a carta de Colombo. 

 

Um dos relatos de viagem mais fantasiosos de Colombo sobre as "Indias" é justamente o da 4ª. viagem, o que releva claramente a capacidade de Diego Mendéz de Segura em mentir, no que se mostrou um excelente mestre. Foi ele que teve a missão de a escrever e a entregar aos "reis católicos" a carta desta viagem, datada de 7/7/1503, na Jamaica  (7).

 

O facto de ter levado consigo 4 italianos,  justifica a forma quase imediata como o relato da viagem foi logo difundido.

 

Nesta altura, a documentação existente mostra-nos Diego Mendez em activos negócios com a marquesa de montemor-o-novo, através do seu capelão Frei Gregório.

 

 

Cavaleiro das Esporas Douradas 

 

Á semelhança de Colombo, também conseguiu ser armado "cavaleiro das esporas douradas" (1507 ?) pelo próprio rei Fernando de Aragão  e ter um brasão (1511).

 

 

Indias: 1509-1516

 

D. Diego de Colón levou-o consigo quando foi para as Indias, dando-lhe uma importante "encomienda", o mesmo é dizer: terras e 80 indios, como escravos. 

 

 

Espoliado por ter sido acusado de ser Português

 

A nomeação de Diego Colón suscita uma contra-ofensiva de largos sectores da nobreza espanhola. Em 1510 é aprovada uma lei que proíbe que os estrangeiros em Hispaniola possam desempenhar cargos e possuir terras nas Indias, o que o vice-almirante se recusa a cumprir. Os portugueses eram os principais visados, como veremos. Diego Colón é chamado a Espanha, e em 1513 novas proibições são  publicadas com o mesmo objectivo. Era preciso banir os portugueses das indias espanholas. 

  

 

Em 1514 a situação de Diego Mendéz é publicamente questionada, é acusado de ser português, correndo o risco de ser espoliado. Após a morte de Fernando, o católico (1516), a situação agrava-se.

 

Diego Colón  percebendo a delicada situação em que se encontravam, envia-o a Espanha (1517), e depois a Bruxelas para solicitar o apoio do novo rei - Carlos V. 

 

Entretanto, nas Indias acontece o esperado: os espanhóis António Serrano e Róldan acusam-no Diego Mendéz de ser português e os seus bens e cargos são confiscados. Seguiu-se um longo processo judicial, até 1532, com várias mudanças na posição dos juízes sobre esta questão.

 

Em 1530, depois de 17 anos de perseguições por ser acusado de ser português, resolve inventar a sua própria biografia, afirmando que os seus pais eram espanhóis e o haviam entregue em 1476 a Lopo de Albuquerque.  

 

Ser acusado de ser português era para o grupo que rodeia Colombo sinónimo de ser espoliado dos seus bens. Pesa sobre eles a acusação de terem enganado os reis católicos.

 

Diego Colón, depois de re-ocupar o seu cargo, nomeia-o em 1522 responsável pela Justiça de La Hispaniola. Diego Mendèz aproveita o cargo para se vingar, e acaba por fazer uma fortuna a roubar os espanhóis casados ( 4 ).  

 

As relações com Portugal nunca cessaram. Ainda a 16/10/1523, perante o Escrivão Público de Sevilha, nomeia como seu procurador substituto o frade carmelita - Cristovão Moniz -, residente em Lisboa, cumprindo ordens dadas por D. Diogo de Colon, vice-rei. A sua fidelidade é irrepreensível.

 

Numa idade muito avançada para a época, em 1517 casou-se com Francisca de Ribeira, da qual teve dois filhos. Os livros que deixou em testamento (1536) revelam que seguia as ideias de Erasmo (5). 

 

 

Último Serviço à Família de Colombo

 

Pouco antes de falecer, Diego Mendez de Segura ainda prestou um importante serviço à família de Colombo, quando o neto deste - Diego Colón de Toledo- pretendeu ser armado cavaleiro da Ordem de Santiago de Espanha.

 

Nas declarações que prestou em Madrid, em 1535, combinado com o licenciado Diego Barreda, afirmou que "don Christóbal Colón" era "ginovés", natural da vila de Saona (7).

 

Desta forma simples afastou de Colombo e da sua família qualquer suspeita de traição aos reis espanhóis, remetendo para Saona origem.

 

A vice-rainha Maria de Toledo, esposa do 2º. Almirante D. Diego Colón, não deixou de recompensar os seus descendentes por mais este serviço.

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Carlos Fontes

 

  Notas:

(1 ) Declaração autógrafa de Dezembro de 1530 (A.G.I., Justicia 2, ff 253-54. 

( 3 ) Segura (Portugal) fica situada junto à fronteira com Espanha, pertenceu à Ordem dos Templários tendo passado em 1311 para a Ordem de Cristo. 

( 4 ) Vignand, Louis André - Diego Mèndez, secretario de Cristobál Colón y alguacil mayor de Santo Domingo. Bosquejo biográfico., in, Boletín del Archivo General de la Nación, Ano LXIX. Vol. XXXII, nº 119.

(5) Almoina, Jose - La biblioteca erasmista de Diego Méndez, , in, Publicaciones de la Universidad de Santo Domingo, vol. XXXV. Ediciones del Centenario de la República. Ciudad Trujillo, Editora Montalvo, 1945. 149 pags.

(6) Fernandez de Navarrete, publicou, em 1825, a sua relação da quarta viagem de Colombo, in, Colección de los Viajes y Descubrimientos que Izicieron or Mar los Espanoles desde fines del Siglo XV, Madrid, 1825. Vol. I, pp.240-248. 

(7)  Gualdalupe Chocano serve-se desta declaração Diego Mendez, para afirmar que Colombo era de Saona. O contexto em que a mesma é produzida, mas sobretudo quem a produz devia levá-la a colocar em causa a autenticidade.

 

 

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