Diego
Mendez de Segura
Secretário
vitalício de Colombo e de seu filho Diego Colon. Era supostamente
filho de um nobre castelhano - Garcia Mendez de Zamora - criado de Henrique IV
de Castela que combatera contra os reis espanhóis (Fernando e Isabel), em
defesa dos interesses do rei de Portugal (D. Afonso V), e acabou por se exilar
em Portugal, entregando o seu filho Diego Mendez com apenas 4 ou cinco anos
à sobrinha de Colombo, Catarina de Noronha e ao seu esposo Lopo de Alburquerque, Conde de Penamacor.
Esta
história só foi contada em Tribunal, depois de Diego Mendéz de Segura vários
anos depois de visto os seus bens e cargos confiscados (1517), por António Serrano e Róldan
o terem acusado de ser português. A única forma de não ser espoliado e
perseguido, no fim da vida, era dizer que os que o seus pais eram
castelhanos...
Traição
e Vingança
Envolvido
pelo seu pai adoptivo na conspiração de 1484, acompanhou-o na sua fuga para o
estrangeiro, tendo ido a Itália, Flandres e Inglaterra, onde o mesmo acabou
preso. Andou envolvido na organização de viagens de pirataria contra os
interesses de Portugal.
Fez
pelo menos 3 viagens a Espanha para solicitar aos reis católicos e ao cardeal
Pedro de Mondonza que fizessem
pressão para a libertação de Lopo de Albuquerque, o que foi conseguido apenas
em 1493 (1).
Espanha:
1493-1502
Lopo de Albuquerque exilou-se em Espanha, em Março (?') de 1493, tendo sido
nomeado corregedor de Ubeda-Baeza entre 1494 e 1496. Não sabemos se Diego
Mendez o acompanhou ou não nestas funções ou se ficou em Sevilha, junto da
sua família adoptiva (?). Fazia-se passar por
português, natural de Segura, Alentejo ( 3 ).
Em
fins de 1493, quando Bartolomeu Colón de França se mudou
para Espanha dirigiu-se ao encontro de Diego Mendéz, o que reforça ideia
de contactos muito anteriores. É provável que nesta altura passasse a ser secretário
da família de Colombo, embora muito discreto para não ser acusado
de traição.
Indias:
1502-1504
O
seu nome aparece pela primeira vez no grupo dos que acompanharam Colombo
na 4ª. viagem às Indias, assumindo logo importantes funções na
esquadra, nomeadamente o de escrivão.
Foi
nesta fatídica viagem que salvou o próprio Colombo, quando os dois navios em
que seguiam ficaram encalhado na Baia de Santa Ana na
Ilha da Jamaica (2/6/1503). Em Julho decidiu enviá-lo a La Hispaniola para
arranjar socorro e depois entregar aos reis católicos uma carta. Após 4 dia
numa canoa, conseguiu atingir Navasa, mas o governador Ovando não lhe permitiu
que fosse a Santo Domingo arranjar socorros. Apenas o conseguiu fazer em Maio de
1504, e tendo depois seguido para Espanha para entregar a carta de Colombo.
Um
dos relatos de viagem mais fantasiosos de Colombo sobre as "Indias" é justamente o da 4ª.
viagem, o que releva claramente a capacidade de Diego Mendéz de Segura em
mentir, no que se mostrou um excelente mestre. Foi ele que teve a missão
de a escrever e a entregar aos "reis católicos" a carta desta viagem,
datada de 7/7/1503, na Jamaica (7).
O facto de ter levado consigo 4
italianos, justifica a forma quase imediata como o
relato da viagem foi logo difundido.
Nesta
altura, a documentação existente mostra-nos Diego Mendez em activos negócios com a
marquesa
de montemor-o-novo, através do seu capelão Frei Gregório.
Cavaleiro
das Esporas Douradas
Á
semelhança de Colombo, também conseguiu ser armado "cavaleiro das esporas
douradas" (1507 ?) pelo próprio rei Fernando de Aragão e ter um brasão (1511).
Indias:
1509-1516
D.
Diego de Colón levou-o consigo quando foi para as Indias, dando-lhe uma
importante "encomienda", o mesmo é dizer: terras e 80 indios, como
escravos.
Espoliado
por ter sido acusado de ser Português
A
nomeação de Diego Colón suscita uma contra-ofensiva de largos sectores da
nobreza espanhola. Em 1510 é aprovada uma lei que proíbe que os estrangeiros
em Hispaniola possam desempenhar cargos e possuir terras nas Indias, o que o
vice-almirante se recusa a cumprir.
Os portugueses eram os principais visados,
como veremos. Diego Colón é chamado a Espanha, e em 1513 novas proibições
são publicadas com o mesmo objectivo. Era preciso banir os portugueses
das indias espanholas.
Em 1514 a situação de Diego Mendéz é publicamente
questionada, é acusado de ser português, correndo o risco de ser espoliado. Após
a morte de Fernando, o católico (1516), a situação agrava-se.
Diego Colón
percebendo a delicada situação em que se encontravam, envia-o a Espanha (1517),
e depois a Bruxelas para solicitar o
apoio do novo rei - Carlos V.
Entretanto,
nas Indias acontece o esperado: os espanhóis António
Serrano e Róldan acusam-no Diego Mendéz de ser português e os seus bens e
cargos são confiscados. Seguiu-se um longo processo judicial, até 1532, com
várias mudanças na posição dos juízes sobre esta questão.
Em
1530, depois de 17 anos de perseguições por ser acusado de ser português,
resolve inventar a sua própria biografia, afirmando que
os seus pais eram espanhóis e o haviam entregue em 1476 a Lopo de
Albuquerque.
Ser acusado
de ser português era para o grupo que rodeia
Colombo sinónimo de ser espoliado dos seus bens. Pesa sobre eles a acusação
de terem enganado os reis católicos.
Diego
Colón, depois de re-ocupar o seu cargo, nomeia-o em 1522 responsável pela Justiça de La
Hispaniola. Diego Mendèz aproveita o cargo para se vingar, e acaba por fazer
uma fortuna a roubar os espanhóis casados ( 4 ).
As
relações com Portugal nunca cessaram. Ainda a 16/10/1523, perante o Escrivão
Público de Sevilha, nomeia como seu procurador substituto o frade carmelita -
Cristovão Moniz -, residente em Lisboa, cumprindo ordens dadas por D. Diogo de
Colon, vice-rei. A sua fidelidade é irrepreensível.
Numa
idade muito avançada para a época, em 1517 casou-se com Francisca de Ribeira,
da qual teve dois filhos. Os livros que deixou em
testamento (1536) revelam que seguia as ideias de Erasmo (5).
Último Serviço à Família de Colombo
Pouco antes de falecer, Diego Mendez
de Segura ainda prestou um importante serviço à família de Colombo, quando o
neto deste - Diego Colón de Toledo- pretendeu ser armado cavaleiro da
Ordem de Santiago de
Espanha.
Nas declarações que prestou em
Madrid, em 1535, combinado com o licenciado Diego Barreda, afirmou que "don
Christóbal Colón" era "ginovés", natural da vila de Saona (7).
Desta forma simples afastou de
Colombo e da sua família qualquer suspeita de traição aos reis espanhóis,
remetendo para Saona origem.
A vice-rainha Maria de Toledo,
esposa do 2º. Almirante D. Diego Colón, não deixou de recompensar os seus
descendentes por mais este serviço.
5
Carlos
Fontes
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