As Provas do Colombo Português
40.
Descendentes de Colombo
Em
Itália nunca foram encontrados descendentes de Colombo o navegador, mas apenas burlões,
os quais logo no século XVI foram desmascarados em tribunal. Os
falsários italianos não se deram por vencidos e continuaram a sua obra de
mistificação. Uma tradição que chegou até aos nossos dias.
a)
Herança
de Colombo
Colombo
entre 1497 e 1506 procurou por todos os meios que o seu filho Diego Colón
(português) herdasse os seus títulos e privilégios.
Em 1501 alimentou a
esperança de obter esta garantia, a troco de avultados rendimentos que se
mostrou disposto a pagar a um banco genovês. O fracasso destas negociações,
como reconheceu em 1504, deixaram-no furioso e ainda mais preocupado com o futuro
do seu filho.
Após
a sua morte, em 1506, Diego Colón só a muito custo conseguiu ser nomeado
vice-rei das Indias (1509), sendo obrigado a casar com uma
parente do rei espanhol.
Os
problemas não cessaram, pois para manter os privilégios do seu pai teve que mover vários processos contra a Corte
Espanhola. Uma parte substancial da sua fortuna foi consumida nestes judiciais.
Quando
Diego
Colón faleceu, em 1526, o problema voltou a colocar-se. A coroa espanhola recusou
atribuir a herança ao seu filho - Luis de Colón y Toledo
(1522-1572), neto de Cristovão Colombo.
A
argumentação era quase sempre as mesma:
1)
Colombo enganara intencionalmente a Espanha,
conduzindo-a para um falsa India ( o que Vasco da Gama comprovou ser
verdadeiro);
2)
Colombo era português,
um espião ao serviço dos do seu país. Por este motivo não merecia nem
privilégios, nem títulos, mas apenas a forca como todos
os que com ele colaboraram.
Dona
Maria de Alba y Toledo, mulher de Diego Colon, que havia herdado o titulo de
vice-rainha procurou por todas as formas passá-lo ao seu filho, menor de idade.
A sua
estratégia começou por tentar armá-lo Cavaleiro da Ordem de
Santiago, o que significava o reconhecimento
oficial da sua nobreza e a limpeza de
sangue judaico.
A
Corte Espanhola exigiu-lhe que provasse que
Colombo era nobre e não plebeu.
Esta era uma das condições exigidas para pertencer à Ordem de Santiago
de Espada quer em Espanha, quer em Portugal. Não foi dificil apresentar provas
como Colombo era um nobre.
O
problema estava em identificar a origem da nobreza de Colombo, dado que não
podia afirmar a sua nacionalidade portuguesa. A questão a origem italiana
de Colombo voltava a colocar-se, como uma saída
possível.
O
problema da nacionalidade portuguesa assumiu particular gravidade em relação a
Diego Mendez de
Segura, secretário de Colombo e do seu filho Diego. Em 1517, viu os seus
bens confiscados sob a acusação de ser português. Um problema que só ficou
resolvido em 1532, quando este resolveu inventar uma história, segundo a qual
os seus pais seriam castelhanos, mas em 1476 abandonaram-no em Portugal...
A
vice-rainha sabia de tudo isto, e através testemunhos forjados conseguiu convencer o Tribunal que Colombo era de origem
nobre e não plebeia. Na verdade era
pacifico demonstrar que Dominicus
Colombo, o tecelão de Génova, não podia ser o pai de Colombo (Cristoval Colon).
O
problema é que não conseguiu provar em Tribunal
que Colombo não era português. Havia
provas mais do que evidentes que desmentiam a possibilidade do mesmo ser
italiano. O seu próprio filho ilegitimo - Hernando Colón - foi a Itália
várias vezes à procurar de possíveis familiares e em nenhum lado os encontrou.
O processo acabou por se arrastar em tribunal.
A
única saída que a família Colombo encontrou foi negociar com a
Corte, abdicando dos Privilégios de Vice-Rei e governador nas Indias (Sentença
de 28 de Janeiro de 1536, do Conselho das Indias).
Em compensação D. Luis de
Colon continuou a usar o título, agora honorífico de Almirante das
Indias, recebendo o título de Duque de Verágua (1537), com um
senhorio territorial de 25 léguas quadradas. Foi agraciado com marquesado
da Jamaica (1537) e respectivo senhorio da ilha (1). Entre as
muitas compensações que a família recebe, o filho menor de Maria de Alba y
Toledo é armado cavaleiro da Ordem de Santiago de
Espada (1537). Luis Colon, em
1557, recebe ainda o título de Duque de la Vega, na Ilha de Santo
Domingo, com carácter honorifico.
c
) Luis de Colon y Toledo, bigamo
Acontece
que este neto de Colombo, era uma pessoa pouco recomendável, mulherengo e
sempre endividado. Acabou por ser acusado de bigamia (2), acabou preso, em Agosto
de 1563,
sendo desterrado para Orán (Argélia) onde viria a falecer.
Banido
de Espanha e endividado, Luis de Colon y Toledo, não tardou a cair nas mãos de
burlões. Em 1471, vende aos italianos o manuscrito do seu tio com a
história de Colombo, seu avô. O pretexto foi a tradução da obra, ainda
inédita, para italiano, e a sua posterior edição. Os italianos, como é
sabido, trataram de fazer desaparecer o manuscrito, para puderem fazer as
alterações ao texto da "História del Almirante" que mais lhes
convinha. A
morte de Luis de Colon, em 1572, produz um vazio na sua sucessão. A
sucessão foi assegurada, quando Filipa Colon (c.1550-25/11/1577) se casou com Diego Colon
(?-28/1/1578), mas
ambos faleceram 6 anos depois sem sucessão. d)
"Pleitos" do Ducado de Verágua (1578-1608) Após
a morte de D. Dieogo começou
um verdadeiro assalto à herança de Colombo, onde valeu tudo, incluindo forjar
documentos ou fazer desaparecer autênticos, como o seu Testamentos de 1502 e
retiradas páginas noutros.
Nesta
corrida, surgem:
-
Francisca Colón de Toledo, filha de Cristóbal Colón de Toledo, cujo processo
foi prosseguido pela sua filha Guiomar Colón de Toledo e a sua neta Ana
Francisca.
-
Juana Colón de la Cueva, e seu filho Carlos Colón de la Cueva y Bocanegra,
marquês de Villamejor.
-
Luisa de Carvaja, como mãe de Cristóbal Colón, falecido.
-
María Colón, monja professa no Mosteiro de San Quirce.
-
Luis de Ávila Colón, filho de Luis de Ávila e de María Colón de Toledo. Em
virtude de ter falecido deixou como pretendente o seu filho Diego Colón de
Larreategui.
-
María Ruiz Colón de Cardona, casada em primeiras nupcias com Juan de
Cardona, e depois com Francisco de Mendoza, ambos marqueses de
Guadalest e almirantes de Aragão.
-
De Itália surgiram também dois aldrabões, que a seu tempo, trataremos.
A
luta pela posse do Ducado de Verágua e o Marquesado da Jamaica foi entre 1477 e
1608 particularmente feroz. O caso mais ilustrativo foi protagonizado pelos
Marqueses de Guadalest e Almirantes de Aragão, que chefiavam uma quadrilha de
ladrões em Aragão (3).
Em
1577, o almirante Juan de Cardona, mandou raptar duas monjas de um Convento de
Valência. O seu objectivo era eliminar candidatas concorrentes. Foi mandado
executar, o que não se concretizou, por haver. Em 1483, em pleno centro de
Valência é morto, num combate com outro bando de criminosos.
O
novo almirante Francisco de Mendonza (1545-1590) era tão
criminoso como o anterior. Envolve-se também em falcatruas para se apoderar da
documentação de Colombo, de forma a poder falsificá-la. O Testamento
de 1502 foi roubado por Gaspar de Zárate mando do almirante e da sua mulher.
Descobertos
foram julgados em Tribunal, a 3 de Março de 1588, o Almirante ficou preso na
sua casa e Gaspar de Zárate foi parar aos cárceres reais. O Testamento
de 1502 acabou por desaparecer.
Face
a tantas vigarices, o Tribunal tem dificuldades crescentes em apurar quem são o
legítimos herdeiros de Colombo.
d
) Burlões
Italianos
Esta
confusão apresenta-se como uma excelente oportunidade para os burlões italianos entrarem
na corrida para apanharem a herança de Colombo. Em
Itália, como era de esperar, aparecem uma "multidão" de burlões, exibindo documentos
falsos explorando as suas alegadas alegadas origens milanesas, genovesas, etc.
Como
é sabido, Colombo quando foi para Castela, para ocultar
a sua identidade portuguesa, serviu-se das "raízes" italianas da
sua esposa - Filipa Moniz Perestrelo - cujo avô paterno (Filipe Perestrelo), em
1380, mudou-se de Piacenza (Itália) para Lisboa.
Colombo
limitou-se a seguir uma prática corrente na nobreza na época, adoptando como
suas as raízes familiares da sua esposa, cujo estatuto era seguramente mais
elevado. Filipa tinha muitos seus seus parentes exilados em Castela,
especialmente em Sevilha.
Acontece
que Piacenza, pertencia no século XV, ao Ducado de Milão, confiando a Norte e
Oeste com esta Província da Lombardia e a sul com a da Lingúria.
Não
é de estranhar, com veremos, que muitos "testemunhos" do século XVI
afirmem que Colombo era de Piacenza, da familia dos Perestrelo, de Milão,
Lombardia ou mesmo da Liguria. Não era ele que tinha esta origem, mas o avô
paterno de Filipa Moniz Perestrelo.
1. Baldassare Colombo (Baltasar Colombo)
O mais conhecido
dos burlões italianos foi Baltasar Colombo, senhor de
Cuccaro, em Monferrato, província de Alessandria, região de Piemonte,
mas residente em Génova.
Apareceu
em Espanha, em 1583, reclamando a fortuna e os títulos de Cristovão Colombo.
Dizia-se seu parente, embora não soubesse dizer em que grau. Trazia consigo uma alegada cópia de "Testamento de Colombo" de 1498, no qual
Colombo supostamente afirmaria que era de Génova, e mandava que se mantivesse
sempre uma casa e uma linhagem na cidade. Estes e outros pormenores do Testamento
ajustavam-se perfeitamente às suas pretensões.
As contradições e mentiras eram
tantas que o documento foi considerado falso. O burlão não conseguiu sequer
provar se era parente próximo ou afastado de Colombo, e acabou lançar
ainda mais confusão em todo o processo.
1.1. Genovês sinónimo de Italiano,
estrangeiro, judeu ou mercador
Baltasar Colombo sustentou que os espanhóis cometiam um grave erro histórico,
pois chamavam genoveses a todos os estrangeiros, ainda que fossem de outras
nações.
Afirmar-se que Colombo era genovês
significava apenas que era estrangeiro em Espanha, mas nada se dizia quanto à
sua nacionalidade. Podia ser de qualquer estado de Itália, como de qualquer
outra região da Europa. Podia ser judeu ou um simples mercador. Um facto
constatado por muitos outros na época. Mais
1.2. Colombo não era genovês
No final do século XVI e princípios
do seculo XVII, Baltasar Colombo e a corte
espanhola reuniram um impressionante conjunto de testemunhos que confirmavam
que Colombo não era de Génova.
Baltasar Colombo afirmou que o apelido de Colombo era inexistente
em Génova antes de aí ter chegado - Dominico Colombo, o
alegado pai de Cristovão Colombo. O seu procurador Gabriel de Sandoval
foi muito claro na exposição que fez no Consejo das Indias, ao apresentar provas
que demonstravam que na cidade de Génova jamais nascera alguém que se chamasse
Colombo ou Colón.
Provou que os Anais da cidade de Génova não registavam o
nome e os feitos realizados de Cristovão Colombo, pela simples razão que o mesmo não
era oriundo da mesma.
Apresentou uma importante testemunha
- Cipión Cánova -, que declarou o seguinte: "Que
ha sido más de catorce años continuos abogado público en la dicha ciudad de
Génova y en todo el dicho tiempo no ha visto, ni
leído, ni oído decir que la familia, apellido y casa de los Colombo
sea ni haya sido natural y propio de la dicha ciudad".
Um manifesto publico, promovido pelo
Duque de Mantua, a pedido do rei espanhol Filipe II, procurou descobrir
em Génova uma familia ou pessoas com o apelido Colombo, mas ninguém apareceu.
Na mesma altura, 11 testemunhas
italianas que viviam na corte espanhola negaram que tivessem existido em Génova
alguém com o apelido Colombo ou Colon. A maioria eram procedentes de Monferrato,
entre as quais se contavam o doutor Annibal, embaixador de Mantua, Juan Bela,
embaixador de Saboya e o Bartolomé Peggio, embaixador de Veneza. Eram da mesma
opinião outros naturais ou vizinhos de Génova, como o principe de Palermo
Nicolao Grimaldi de 83 anos (5).
O próprio Senado genovés, numa carta ao
embaixador de Madrid, Juan Bautista Doria,
reconheceu que Cristovão Colombo como “no nativo de Génova” (não natural
de Génova) (4 )
A
neta de Colombo, Dona Francisca de Colon, perante este burlão, afirmou
que "Colon e Colombo não eram da mesma família, pois se o fosse o seu pai
- Diego Colon -, não deixaria de o dizer. O Colombo-navegador não tinha
qualquer relação com os supostos Colombos de Génova, e provavelmente nada com Itália.
Face a estas e muitas outras provas,
o Testamento do "Mayorazgo de 1497", onde supostamente Colombo afirma que nasceu
em Génova só podia ser uma falsificação. É também evidente porque Colombo ou os
seus irmãos NUNCA se referiram à sua suposta família genovesa.
Em relação à naturalidade de Cristovão Colombo, a única posição consensual era
que não havia nascido em
Génova.
O
que é que este burlão pretendeu provar: A família de Colombo era originária
da Lombardia. Mais
2. Bernardo Colombo
Em
1588 surge um novo burlão italiano - Bernardo Colombo, natural de Cogoleto,
perto de Génova. O documentos que apresentou para se candidatar à herança de
Colombo foram considerados também falsos pelo Tribunal. A vigarice continuava.
Apesar
de todos os esforços, os italianos nunca conseguiram descobrir um único descendente da
família de Colombo-Navegador, em Itália.
d
) Legítimos
Herdeiros
As
trafulhices dos alegados descendentes italianos de Colombo foram todas
facilmente desmascaradas em Tribunal, e nenhum crédito lhes foi
atribuído.
A
única pessoa que acabou por ser declarado herdeiro de Cristoval Colón foi um português - Alvaro de Portugal, filho de uma neta de Colombo (Dona Isabel Colon). As
suas únicas ligações familiares que possuía eram com Portugal, as restantes
eram puras invenções.
Continuação
Carlos
Fontes
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