d ) Governadores, Navegadores,
Cosmógrafos, Cartógrafos e Conquistadores Portugueses ao Serviço de Espanha Cristoval Colon
não foi o único navegador português ao serviço dos reis de Espanha, mas
milhares foram os que o fizeram ao longo dos anos. Os seus nomes só agora
começa a ser conhecido de forma sistemática. A título de exemplo tenha-se
em conta os seguintes:
1. Governadores
- Diogo Colón
Moniz Perestrelo, natural de Lisboa, foi o segundo vice-rei das Indias
espanholas.
- Luís de
Carabajal de la Cueva, natural de Mogadouro (Trás-os-Montes), foi o
fundador do Reino de Nuevo Léon (México).
- João
Fernandes de Leão e Pacheco, natural de Portimão, alcaide de carabelleda, rigidor do cabildo
de Caracas. etc. (Venezuela).
- Gaspar de
Rodas. Filho de Florêncio de Rodas, alcaide-mor de Loulé e de Guiomar
Coelho, natural de Lamego. Andou na conquista do Perú (1540) e Reino de
Quito. Ao serviço de Belalcázar , assumiu o governo de Popayán. Em 1569
subjugou a ferro e fogo a Antioquia (Colombia). Criou várias cidades:
San-Juan de Rodas (1571), Zaragoza de las Palmas (1581), etc.
2. Navegadores
Dezenas de
navegadores (capitães e pilotos), conduziram ou tiveram um papel fundamental
nas expedições espanholas no mundo. Alguns exemplos:
a) Antilhas
(Caraíbas)
-
As quatro viagens de Colombo contaram sempre com a presença de
portugueses. A primeira contou com pelo menos seis, dois dos quais
desembarcaram em Lisboa (Março de 1493). A última, contava com o célebre
Diego Mendes de Segura.
Os portugueses
não apenas integraram as expedições de Colombo, mas também realizaram
antes e depois expedições próprias às Indias ditas espanholas. Mais
b) Oceano
Pacífico
A exploração do
pacífico pelos espanhóis ficou-se a dever ao descontentamento de muitos
portugueses em relação à política monopolista da coroa portuguesa, que se
acentuou depois de 1506. A coroa
reservava para si o comércio da Rota do Cabo, e em particular certas
especiarias como a pimenta, cravo, maça, noz-moscada, etc.
A alternativa que
se lhes oferecia era procurarem uma rota marítima alternativa a poente, o que
implicava entrarem nos domínios de Espanha. Esta foi a razão pela qual se
transferiram de Lisboa para Sevilha, navegadores portugueses como Magalhães, mas também pilotos, mestres,
armadores, comerciantes
que se envolveram em expedições às Molucas navegando a partir da costa
ocidental da América..
- Fernão de
Magalhães. Na primeira viagem à volta do mundo (1519-22),
projectada e comandada por este navegador português participaram pelo menos
trinta portugueses, cinco dos quais eram experimentados pilotos. O Mar
Pacífico (Oceano Pacífico), nome dado por Magalhães, era percorrido
pelos portugueses desde 1511.
Esta expedição
só foi possível, devido ao financiamento de Cristovão Haro, um mercador-banqueiro
português que também se incompatibilizou com D.Manuel I e que, por essa razão, se
transferiu de Lisboa para
Sevilha (1516): Este mercador, de originário
de Burgos (Flandres), financiou igualmente a expedição de Loayaza
(1525).
- Francisco
Serrão (?-Tidore,1522). Após participar na conquista de Malaca (1511),
é enviado para as Molucas, à procura da "Ilha das Especiarias",
acabando por se fixar em Ternate (Indonésia), onde se tornou conselheiro do
sultão local. Familiar de Magalhães, enviou-lhe para Espanha informações sobre a Ilha
das Especiarias, e a rota para a atingir através das ilhas da Indonésia. Uma
informação que ajudou a Magalhães convencer Carlos V a financiar a sua
expedição às Molucas. Terá sido morto pelos seus companheiros portugueses,
quando souberam do sucedido.
- Duarte
Barbosa. Comendador da Ordem de Santiago de Portugal, foi para a India na Armada de
João da Nova (1501), na nau de Alvaro
de Bragança. Depois de 1506 muda-se para Sevilha. Em 1515 é nomeado
alcaide dos Reais Alcazares de Sevilha, estando ao serviço também de D.
Fradique, filho dos Condes de Faro.
É na sua casa que fica a residir Fernão de Magalhães, que se casa com sua
filha. Embarca na viagem de circum-navegação deste navegador. Depois morte
de Magalhães, assume com outro português (João Serrão) o comando da
expedição. Morre a 1/5/1521.
- Jorge Reinel,
cartógrafo, em 1519, realiza um importante Planisfério, onde para além de
uma representação do Oceano Pacífico, localiza com precisão as Molucas.
Este Planisfério, que se encontra na Wehrkreisbucherci (Munique), serviu a Magalhães para apresentar
o seu projecto a
Carlos V.
- Rui Faleiro
e o seu irmão Francisco foram dois dos geniais cosmógrafos
portugueses que se mudaram também para Espanha, tendo calculado e
planeado toda a viagem de Fernão de Magalhães.
-
Simão de Alcaçovas Sottomayor (fidalgo). Um traidor português que ao serviço de D. Manuel
I explorou as Ilhas Molucas. Em
1521 ofereceu os seus
serviços a Carlos V, para atravessar o Oceano Pacífico, levando os
espanhóis às Molucas, cuja domínio considerava pertencer à Espanha. Carlos V procurou que fosse comandante das
Armada que iria verificar os limites de Tordesilhas. Devido à influência
de D. João III é afastado do comando da expedição. Em 1534/5, explora o Estreito de
Magalhães, cujo domínio lhe havia sido dado pela corte espanhola.
- A célebre
expedição de Fray Juan García de Loayza (1525), às Molucas, na qual perderá a vida o
Juan Sebastián de Elcano, só foi possível porque foi financiada por
portugueses (Cristovão Haro). Os sobreviventes desta expedição
regressaram à Europa em navios portugueses (1536).
- A expedição do
espanhol Alvaro Saavedra Ceron (1527/8) que se dirigiu do México às Molucas, para reclamar a sua
posse, como era de esperar, contou com pelo menos um piloto
português. Após a sua morte,
os espanhóis revelam-se incapazes de efectuarem a rota de regresso pelo
Pacífico. Este feito os espanhóis só o conseguiram, em 1564, com a
expedição de Frei Andrés de Urdaneta.
A descoberta da
Nova Guiné tem sido atribuída a este espanhol, conduzido por um piloto
português. A verdade é que a descoberta ocorreu, em 1526, quando D.
Jorge de Meneses, se dirigia para as Molucas, a fim de tomar posse como
capitão da fortaleza. Uma tempestade obrigou-o a invernar na Ilha de Versiga
(actual Weijeo), vizinha da Península Noroeste da Nova Guiné. O feito foi
relatado por Barros, Castanheda e Gaspar Correia.
-
Pedro Afonso de Aguiar. O comandante da armada espanhola às
ilhas Molucas, em 1530.
- João Pacheco,
piloto e cartógrafo português. Em 26/2/1526, foi encarregado por Carlos V de
fazer a exploração do Pacífico. Em 1535, assina uma capitulação com a corte
espanhola para explorar o mar do sul (Oceano Pacífico), a qual o armou cavaleiro da Ordem de
Alcantara, Trabalhou também para Francisco I, rei de França.
- Luís Vaz de
Torres (c.1565-1613), descobriu o estreito entre a Nova Guiné e a
Austrália. Em sua homenagem foi denominado "Estreito de Torres". Em 1606, às
ordens de Pedro Fernandes Queirós, fez a primeira travessia directa entre o Perú e as Filipinas.
- Pedro
Fernandes Queirós (Évora, 1589- 1614). Chegou ao Perú em 1589. Em 1595,
ainda piloto, explora o sudoeste do Pacífico, levando o que restava da expedição
de Alvaro Mendonza até às Filipinas. Em 1506, como comandante descobre o
arquipelago de Tuamotu, ilhas de Manihiky, Tokelau, Novas Hébridas e as Ilhas Marquesas.
Foi ele que deu o nome à Austrália já conhecida dos
portugueses.
- João
Fernandes, Almirante (1532), na frota de Pedro de Alvarado que chegou ao
México com Cortez. Foi um dos conquistadores da Guatemala. Ainda em
1532, partiu desta cidade numa expedição para a conquista do Peru, sob o
comando de Sebastián de Belalcázar. Este piloto participou também na
conquista de Tumbes e de Cajamarca, com Pizarro. Noutra expedição com Pedro
Alvarado (1534) foi à costa do Equador, tendo subido até Quito.
-
João Fernandes. Leva os espanhóis à Nova Zelândia.
- Gaspar Rico.
Em 1543 descobre as ilhas do arquipélago vulcânico de Schouten, a norte da
micronésia.
bb) Resgates
de espanhóis no pacífico
Apesar de todas
as expedições espanholas no pacífico contarem sempre com portugueses a
bordo, na sua maioria terminaram em completos desastres, devido à
incompetência dos seus comandantes. Os sobreviventes eram resgatados por
navios portugueses que patrulhavam todo o oceano pacífico e que dessa forma
os encontram, e os acabam por trazer para Lisboa. Alguns exemplos:
- Expedição de
Fernão de Magalhães, os sobreviventes do navio "Trindad" sob o comando de
Gonzalo Goméz de Espinosa, acompanhado pelo piloto Mafra e o mestre Ance,
foram resgatados e presos. Em Lisboa estes três sobreviventes (provavelmente
todos portugueses) ficaram retidos na cadeia do Limoeiro, tendo o último
falecido. Foram de libertados em 1527, tendo Espinosa sido pouco depois
assassinado em Sevilha (a mando de D. João III ?).
- Expedição de
Frei García Jofré de Loayza (1526), os sobreviventes foram trazidos numa
armada portuguesa, que aportou a Lisboa (1536).
- Expedição de
Alvaro Saavedra (1527), os sobreviventes são trazidos por portugueses para
Lisboa (1536).
- Expedição de
Hernando Grijalva , os sobreviventes são trazidos por portugueses para
Lisboa (1539).
- Expedição de
Ruy Lopez de Villalobos (1542-1543), um piloto português (Mafra) ainda
consegue levar um navio às filipinas. Os sobreviventes são resgatados por
portugueses, que os trazem para Lisboa (1548).
c)
Costa Leste dos EUA
Os
portugueses conheciam e exploravam a costa dos actuais EUA desde o século XV.
Depois da assinatura do Tratado de Tordesilhas (1494), centram-se apenas na
região norte, onde pescavam bacalhau e chegaram a reclamar a sua posse. Na exploração
desta costa ao
serviço de Espanha, destacaram-se os seguintes navegadores portugueses:
- Estevão
Gomes. Piloto e cartógrafo. Em 1518 aparece nos registo da casa da
contratação de Sevilha. Participou como piloto na viagem de
Circun-navegação de Fernão de Magalhães (1519-1522). Foi nomeado por Carlos V, para
encontrar uma passagem marítima para a Índia no Atlântico Norte. Em 1524
partindo da Terra Nova (Canadá) explora e cartografa a costa Leste dos actuais
EUA até à Florida. Em 1535
participou na expedição de Pedro de Mendonza no rio da Prata.
d) Costa Oeste
do EUA
- Martim
da Costa, piloto
português. Em 1533, comanda uma expedição a partir que da costa oeste do
México se dirigiu para o norte, atingindo a terra (Califórnia) que mais tarde
seria explorada por Cabrilho.
- João
Rodrigues de Cabrilho (Juan Rodriguez Cabrillo). Em 1518 estava em Cuba.
Dois anos depois comanda uma expedição de Pánfilo de Narváez ao México,
acompanhado de 15 pelo menos portugueses. Participou na conquista da
Tenochtitlan (capital Azteca).
Explorou entre
27/6/1542 e 3/1/1543
a costa Oeste dos
actuais EUA, entre os muitos topónimos portugueses que deu, registe-se o de Baia
de S. Miguel (depois rebaptizada de S. Diego) e Califórnia (nome
de uma praia em Sesimbra, uma ribeira em Palmela, etc) e a Baia de Santa
Barbara, onde faleceu. Esta expedição contou com outros pilotos
portugueses.
- Sebastião
Rodrigues Sermenho. Piloto-mor nos Mares da China e das Índias Ocidentais e
Orientais. A 21/3/1594 partiu de Acapulco com a incumbência de
descobrir um posto adequado para o abastecimento dos navios provenientes de
Manila, nas Filipinas. A 4/11/1595 descobriu um cabo na actual costa
da Califórnia, que baptizou de Cabo de Mendocino (4/11/1595). Seguiu para Sul, tendo ancorado na baía
a que deu o nome de S. Francisco. Foi o primeiro navegador, depois de Cabrilho,
a efectuar o primeiro roteiro preciso da costa Ocidental dos E.U.A. No seu
testamento, feito na cidade do México (1602), deixou metade dos seus bens à
Santa Casa da Misericórdia de Sesimbra. Levou consigo vários
portugueses, como o capitão Francisco de Chaves.
- A terceira
expedição de Sebastían Vizcaino (1602), contava também como vários
portugueses. Um dos que faleceu nesta expedição foi o alferes João
Azevedo Teixeira.
e) América do
Sul e Central
As três grandes
viagens de exploração que tiveram início, em 1499, capitaneadas
respectivamente por Niño-
Cristobal Guerra, Alonso
Hojeda e Vicente Yanes Pizon,
contaram sempre com portugueses. Participaram igualmente no seu
financiamento.
Foram os portugueses
iniciaram a exploração da actual região da Argentina, em 1501, tendo
atingido e ultrapassado o Rio da Prata. As duas primeiras expedições foram
comandadas por Gonçalo Coelho. Conhecemos o nome de dois pilotos que
exploram depois a região do Rio da Prata: Estevão Frois (Froes) e João
de Lisboa (1511-1512).
- João
Biscainho, piloto português. Em 1509 integra uma expedição à Nova
Andaluzia, onde participam Francisco Pizarro e Nunez Balboa.
A região da
Argentina passou a fazer parte da carreira do Brasil. Não admira que fossem
portugueses cerca de 80% dos pilotos que navegaram no Rio da Prata durante o
século XVI (25).
- João Dias de
Solis (Juan Díaz de
Solís , c.1470-1516). Piloto português muito experiente. Trabalhou até 1505 como cartógrafo ao serviço da
Casa da India, em Portugal. Depois de ter assassinado a mulher (1506), fugiu
para Espanha, tendo participado
com Vicente Yáñez Pinzón e Américo Vespucio na Junta de Burgos (1508). Uma
das primeiras acções de Solis foi ensinar os espanhóis a navegação
astronómica (1508), utilizando o Regimento do Astrolábio (29) desenvolvido
em Portugal.
No
ano seguinte, comanda com Vicente
Yanes Pinzon uma expedição à América Central para procurar um estreito de
ligação ao Oceano Pacífico (1509). No regresso, os espanhóis prendem-no,
devido a intrigas de Pinzon.O embaixador
português, em 1510, revela que vivia com o seu irmão João
Henriques, outro experiente navegador.
Reabilitado, em 1512, sucede a Vespúcio como
Piloto-Maior na Casa da Contratação, conseguindo que fossem para
Espanha excelentes pilotos portugueses, tais como Francisco Coto (
Real Cédula, Valladolid, 5/9/1513), João Henriques ( R.C., 24/2/1513)
ou António Mariano (Real Cédula, 14/3/1514) que foi na expedição de
Pedrarias.
É encarregado
preparar uma expedição de determinar a fronteira dos domínios de Portugal e
de Espanha, nomeadamente para saber a quem pertencia a Ilhas das Especiarias
(Molucas).
Em 1515 comanda a expedição espanhola
ao extremo sul do continente, numa reacção à expedição anterior que os
portugueses haviam feito sob o comando de João de Lisboa (1511/2).
Explorou o estuário até à Ilha Martín
García
e o Rio Solís, onde morreu. Os sobreviventes desta expedição foram
depois resgatados por uma expedição portuguesa que andava a explorar o
mesmo rio... Mais
- Simão de Alcaçova (Simon de
Alcazaba) y Sotomayor. Carlos V autorizou-o a
explorar a Patagónia (Argentina) (1534/5). Nesta expedição levava consigo
vários portugueses, como Nuno Alvares. Chegado á patagónia fez-se jurar
governador e capitão general, tendo acabado assassinado.
- Aleixo Garcia,
descobridor do Paraguai. Entre 1521 e 1525 percorreu o Rio do Paraguai chegando
até aos limites do Tawantinsuyu, passando pela região de Cochabamba na
actual Bolívia, atravessando a parte norte do Chaco. Encontra-se enterrado na
cidade de São Pedro de Ycuamanyju (Paraguai).
- Diogo
Garcia, participou na expedição de 1515, e comandou outra ao Rio da
Prata em 1526-1530. Entre os muitos pilotos portugueses que exploraram este
rio e deixaram os seus nomes ligados à toponímia local, destacam-se, entre
outros Martin Garcia e Rodrigo Alvares.
Não está feita
uma investigação completa destes navegadores (capitães e pilotos), que ao serviço da Espanha,
exploraram tudo o que a mesma veio a reclamar como sendo dos seus
domínios. Muitos deles são identificados erradamente como espanhóis,
como é o caso de João Sólis, Aleixo Garcia ou Diogo Garcia.
3. Exploradores
Terrestres
Portugal desde o
século XV produziu uma enorme quantidade de exploradores terrestres, cuja
história está ainda por fazer, nomeadamente na sua actividade no Império
Espanhol. Eles surgem nos locais mais inesperados.
- Fernando
Gonçalves de Saa (Hernán Gonzalez de Sáa), por exemplo, em 1606, com um
espanhol explorou a selva de Esmeralda, no Equador, onde descobriu uma saída
para o mar.
Uma das mais
extraordinárias viagens de exploração terrestre realizada por
- Pedro
Teixeira (Texeira Molato-, capitão,natural de Castanheda
(Coimbra). Explora todo o Rio Amazonas, numa viagem de 10.000 km entre Belém
e Quito (Equador), entre 1637-1639. Os territórios que percorreu declara-os
pertencentes a Portugal, conseguindo desta forma uma notável expansão do
território do Brasil. Fundou a cidade de Franciscana no Peru (1539).
4.
Casa da Contratação
A célebre Casa
de Contratación de Sevilla,
é uma iniciativa de um português - D. Alvaro de Bragança -, que
foi justamente o seu primeiro responsável em 1503-1504 (3 ). Tratava-se de uma
imitação da Casa da Guiné e da India de Lisboa.
Alguns dos seus pilotos maiores eram italianos,
mas a maioria eram portugueses ou seus descendentes. O primeiro piloto maior foi Américo Vespucio
(1508), cargo que ocupou depois de ter vivido 5 anos em Lisboa, sucedeu-lhe no posto o já citado português - Juan Díaz de Solís.
5. Cosmógrafos
e Cartógrafos
Para além destes e
muitos outros navegadores, Portugal forneceu também à Espanha um grande
número de cosmógrafos, cartógrafos
para as suas explorações marítimas. Alguns exemplos:
- João Peres de
Marchena. Cosmógrafo e frade no Convento de La Rábida. Foi quem apoiou
Colombo desde finais de 1484 e acabou por convencer a Corte Espanhola a
autorizar a 1ª. Viagem.
Na Casa
de Contratación de Sevilha, os principais cosmógrafos eram
quase todos
portugueses, inaugurando uma tradição na cartografia espanhola que se manteve até finais do século
XVII. Entre os mais famosos destaca-se:
- Diogo Ribeiro
(Diego Ribero) . Esteve ao serviço de Espanha nas negociações com
Portugal sobre as Molucas. Em 1525 fez a primeira carta da
circum-navegação do mundo, incluindo o contorno do extremo sul do continente
americano e o estreito de Magalhães (cujos navios tinham regressado em 1521).
Este mapa tornou-se no mapa padrão da Casa de Contratación de
Sevilha.
Diogo Ribeiro era cosmógrafo, cartógrafo e fabricante de engenhos náuticos,
para além de um profundo conhecedor da construção naval fora contratado em
1523 para a Casa de Contratación. Foi o criador da cartografia
moderna espanhola.
- Alonso de
Chaves, cosmógrafo e piloto maior (1528) e depois Jerónimo (Gerónimo)
de Chaves (c.1523-1573) já nascido em Sevilha.
- Vasco de Pina,
notável cosmógrafo, profundo conhecedor de Copérnico cujos cálculos
corrige na sua obra "Tratado
del seguimiento y declinaciones solísticas y polares" (1582),
tendo como referência a Ilha de Santo Domingo.
- Francisco
Domingues, Cartógrafo. Em 1570 ocupava o cargo de cosmógrafo de Filipe
II. Seis anos depois foi encarregado de cartografar o Iucatão, na América
Central.
- João
Baptista Lavanha (Juan Bautista Lavaña, em espanhol)
(1555-1624), o cosmógrafo maior.
Mandou estudar para Lisboa vários dos seus discípulos para aprenderem cosmografia e
cartografia.
- Bartolomeu
Lasso. Notável cartógrafo, para além de servir os espanhóis, esteve na
base da cartografia dos holandeses.
A família Teixeira
dominou a cartografia deste país no século XVII. No ano 2000,
numa biblioteca da Austria, descobriu-se a maior obra de cartografia
realizada em Espanha - "El Atlas del Rey Planeta". Foi
realizada pelo célebre cartógrafo e cosmógrafo português
Pedro Teixeira Albernas ou Albornoz (1595-1662), no reinando de Filipe IV,
durante 11 anos. Texeira Albernas traçou os mapas de Aragão - Catalunha
(1650), Valência (1661) e realizou o mapa mais importante de Madrid do século
XVII, gravado por Salomon Savery de Amesterdão e publicado em Antuérpia (1656).
Espanha
tinha em Portugal muitos espiões, entre eles figura o cosmógrafo
Luis Jorge de Barbuda,
natural de Lisboa. Foi o primeiro a europeu a desenhar o mapa da China (1558).
Em 1575 foi preso por andar a copiar cartas de navegação para vender aos
espanhóis.
Quatro anos depois, um espião italiano ( Guiovani Battista Gésio) , consegue
fazê-lo sair de Portugal. Em 1596 aparece já ao serviço da casa da
contratação de Sevilha na correcção de cartas e instrumentos de
navegação.
Pediu depois para regressar a Lisboa.
6.
Livros Nauticos
Nas
artes do mar, dado o enorme atraso que os espanhóis possuíam face aos
portugueses, não admira que até ao grandes obras da antiguidade, como o Livro
de Marco Polo, tenham sido primeiro traduzidas para português e depois
para Castelhano, muitas vezes com o apoio de portugueses.
Colombo preferia
as edições portuguesas às espanholas. A obra de Marco Polo, editada em
Lisboa, no ano de 1502, por Valentim Fernandes, incluia a história de uma
mítica viagem para Ocidente. Colombo que a leu, faz questão de a incluir, no
ano seguinte, na relação da quarta viagem (Textos, p.497).
7.
Contrabandistas, Negreiros e Piratas
Desde
que Colombo chegou a Portugal vindo das Indias, em 1493, que existem relatos
de navegadores portugueses que andavam no contrabando de escravos e outros
produtos, como ouro, prata, pérolas e açúcar. Uma parte dos produtos das expedições espanholas vinha
directamente para Portugal. Mais
Colombo, mas
também os seus alegados banqueiros todos andam no contrabando. Jorge de Sosa
(ou Souza), capitão. comanda uma expedição financiada por Juanoto
Berardi cujo destino eram as Indias. A frota era composta por 4 navios, sendo
o piloto maior Pedro Alonso Niño, provavelmente também português. A
frota naufragou a 3/2/1496 junto ao porto de Sanlucar de Barrameda. Ao
que tudo indica, o seu objectivo era furar o controlo da corte espanhola.
Protestos.
A rapina dos
contrabandistas portugueses na costa norte da América do Sul, incrementada em
1499, prosseguiu ao longo dos anos. Em 1500-1502, Rodrigo de Bastidas
comandou uma expedição às Indias, tendo atingido as costas Colombia e do
Panamá. Na região encontrou barcos portugueses que andavam a resgatar
escravos Indios e vários produtos (17 ).
Em 1503, Juan de La Cosa, alega que veio a Lisboa para protestar contra estas
acções lusas e acaba por ser preso.
Nesta época
afirmava-se que em 1505, os portugueses havia realizado uma expedição para
fazerem o reconhecimento do litoral de "Coquibacoa", no oeste da
Costa da Venezuela (24).
Fernando de
Aragão, queixa-se que em 1510, nas terras de Vrabá, Verágua e de Pária
andavam caravelas portuguesas. Neste ano é preso, em Sevilha, o português
Afonso Alvares (Alonso Alvares), por andar a recrutar pilotos
portugueses que andavam ao serviço dos espanhóis, para virem servir o rei de
Portugal no saque de Verágua. O primeiro a ser contactado foi o piloto João Rodrigues de Mafra,
que adoptou o nome de contacto "Juan Barbero". Este por sua vez devia contactar
outro português - Juan Diaz Solís... (41). Mafra, irmão do célebre
Diego de Lepe, acabou também preso, a 13/12/1510, às ordens de Fernando de
Aragão, e só dois anos depois foi reabilitado.
No
verão de 1513, o rei Fernando de Espanha continuava a protestar pelo facto de
Portugal não estar a cumprir o estipulado no Tratado de Tordesilhas. Navios
portugueses estavam a explorar " a terra que até aqui se chamou Terra
Firme e que agora mandamos chamar Castela do Ouro". Fernando solicitava a
D. Manuel I que fizesse justiça (16) . A presença dos portugueses na região
em vez de diminuir aumentou.
Estamos
perante uma rede clandestina que operava entre as Indias espanholas e Portugal
e que envolve ao mais alto nível portugueses.
Tráfico
de Negros.
Os espanhóis à medida que exterminavam os povos indigenas nas Antilhas
(Caraíbas), foram ficando na dependência dos negreiros portugueses para o
fornecimento de mão-de-obra escrava, pois os mesmos detinham o monopólio dos escravos negros.
Os
comerciantes podiam ser genoveses ou alemães, mas como se tornou depressa
evidente, os fornecedores, a maioria dos navios, mestres, pilotos e marinheiros que andavam
neste sórdido tráfico eram portugueses. Foi por esta razão que os negreiros
portugueses, onde predominavam o judeus, não tardaram dominar de forma monopolista este negócio, montando
uma poderosa rede em todo o Império Espanhol. Mais
Uma
parte de tráfico era legal, mas a maior parte era clandestina. O número de
escravos transportados vivos, por exemplo, era muito superior aos declarados
ao fisco. Os navios
destes negreiros portugueses, percorriam
todos os domínios espanhóis. Ninguém os conhecia melhor que eles.
O próprio rei de Portugal, sem
ter dado conhecimento aos monarcas espanhóis, em 1535, tinha um agente para
o tráfico de escravos em La Hispaniola (Haiti/Rep.Dominicana) (37).
Não
é pois de estranhar que, em 1518, nos primeiros contratos que a Corte
Espanhola realizou para o fornecimento de escravos negros, surja logo um
português, o filho
de Alvaro de Bragança - Jorge de Portugal, casado com a neta de Colombo (30).
Pirataria
portuguesa.
Aos
contrabandistas temos que juntar, os piratas portugueses que atacaram, desde o
início as indias espanholas, rapidamente dominando os seus mares. Na
segunda metade do século XVI tornam-se cada vez mais frequentes os relatos de
piratas portugueses actuando por contra própria ou ao serviço de outros
piratas e corsários. A sua longa experiência dos mares permite-lhes levá-los
ao coração do Império Espanhol, não apnas no Atlântico, mas também no
Pacífico. Nada lhes escapa. Uma pequena ilha
como a de Cozumel, na costa do México, em 1579, era
"visitada" pelo navio de um obscuro pirata português (João Gonçalves). Mais
No
Ducado da Jamaica, atribuído aos descendentes de Cristovão Colombo,
os portugueses eram em tal número que as ilhas passaram a ser conhecidas por
"Portugals". Os corsários portugueses estabeleceram nelas uma base
para atacarem os barcos espanhóis que vinham das Indias, e depois de 1580,
colaboraram activamente na sua entrega ao ingleses.
8.
Conquistadores
Ao
longo do século XVI milhares de portugueses, incluindo muitos fidalgos
participaram na conquista do continente americano. A sua história só agora
começou a ser escrita. Alguns exemplos:
a)
América Central.
Região limitada ao norte pela Península
de Iucatã, no México e ao sul pela Colombia, limitada a Oeste com o Oceano
Pacífico e a Leste pelo mar das Caraíbas (Oceano Atlântico).
Os portugueses
estão presentes nesta região desde o inicio da conquista espanhola. Entre as
muitas expedições que participaram destacamos duas:
A sua presença
far-se-á sentir sobretudo depois de 1509, aquando da expedição à Nova
Andaluzia que incluía Francisco Pizarro e Balboa, onde já foi
identificado o português João Biscainho.
-
João Português e Pedro Escobar foram dois dos portugueses que, em 1513,
integraram a expedição de Vasco Nunez de Balboa que atingiu o Oceano Pacífico.
Outro numeroso grupo instalou-se entre 1514 e 1517 no Panamá (4).
A expedição Pedrárias Dávila (1514,Terra Firme) regista também a
presença vários de portugueses, nomeadamente do citado piloto - António Mariano. Os exemplos multiplicam-se nesta região, como
em todas as
outras.
-
Um português "viejo" (velho), em Fevereiro de 1517, foi feito prisioneiro
pelos maias no primeiro confronto deste povo com os espanhóis, durante a expedição
de Fernando Cordoba, na região de Catoche, Campeche e Potonchán (5),
(México ). Foi
este facto que o fez sair do anonimato.
b
) Costa
Norte da América do Sul.
Colombo em 1498
quando aportou a esta região (Península Pária e Rio Orinaco), levava consigo pelo menos
dois portugueses: João Castanho e Diogo de Évora, ambos balesteiros.
No
século XVI muitos são os portugueses que se instalam no litoral norte da
América do Sul, por Santa Marta, Novo Reino de Granada, etc. Fundaram muitas cidades e
participaram expedições espanholas de conquista da
região. A partir do Brasil exploram também os territórios da actual
Venezuela, Colombia e as Guianas.
- A Expedição
de Rodrigo Galvan de Bastidas (1524), contou logo com portugueses. Nas que
se seguiram, a sua presença foi sempre uma constante, sendo de destacar as de
García Lerna (1528), Federman (1530), Pedro de Heredia (1533), Jerónimo de
Ortal (1533), Jorge Espira (1534), Jorge de Robledo (1535), Antonio de Sedeño
(1536), G. Jimenez de Quesada (1536), Jerónimo de Lébron (1541).
É praticamente
infindável as referências a portugueses que participaram na conquista e
povoamento desta região do império espanhol.
c
) México
A
presença de portugueses nesta região data pelo menos de 1518, quando a
expedição de Juan de Grijalva a Tabasco. Entre os portugueses estava o
célebre piloto João Rodrigues Cabrilho.
-
Na expedição de Fernando Cortéz, em 1519, de San Juan de Ullúan à cidade
de Tnotchitlán, integrava pelo menos 23 portugueses. Entre as mulheres
portugueses que participaram também na expedição estava Filipa Araújo,
mulher do capitão Cristobal de Olia, mestre de campo de Cortéz. Entre os
portugueses que se destacaram conta-se Sebastião Rodrigues, um dos
conquistadores da cidade do México, e Lourenço Soares, fidalgo, a quem foi
dado o povo de talhoocopán.
Ainda
a mando de Cortéz, entre 1521 e 1534, são muitos os portugueses que estão
identificados nas várias expedições.
-
Na expedição Panfilo de Marvaéz, em 1520, ao México, foram pelo pelos 15
portugueses. Entre eles contava-se Afonso Gonçalves de Portugal ( fidalgo e
soldado) e João Rodrigues Cabrilho (capitão).
-
Nas expedições à Nova Espanha a mando de Cortéz, entre 1521 e 1535, foram
já identificados dezenas de portugueses.
d)
Flórida
Os portugueses
chegaram à Florida entre 1493 e 1498, aparecendo a mesma representada no Mapa
de Cantino (1500), com topónimos portugueses.
Não
é de estranhar que na primeira expedição que penetrou no interior da América do Norte,
a partir da Florida - a expedição de Fernando de Souto, de 1537
a 1543, contasse com pelo menos
23 portugueses, 8 dos quais eram fidalgos.
Um deles,
o "fidalgo de Elvas" elaborou em
português uma preciosa relação da expedição, a primeira a ser publicada.
Entre os portugueses destacou-se o capitão André Gonçalves, descobridor
da província de Apalache, tendo morrido em Aminoya, nas margens do Mississipi
(1550).
e
) Interior dos EUA
A
região que constitui actualmente os EUA foi explorada no seu interior por
muitos portugueses, cujo identificação só muito recentemente se começou a
fazer (15). Dois exemplos:
-
André do Campo (Andres del Campo). Integrou com vários outros portugueses a expedição
de Francisco Vasquez de Coronado, em Fevereiro de 1540, que a partir de
Compostela penetrou pelo interior dos EUA . Após o fim da mesma
prosseguiu durante 9 anos a exploração deste região do mundo (Quivira,
Kansas).
-
André Gonçalves, em 1542, com um grupo de portugueses percorreu a
região ocidental dos EUA.
f
)
Peru e Chile
A ideia da
conquista do Perú pelos espanhóis foi obra de portugueses. Como é sabido, Pedro
de Alvarado y Contreras, em 1532, escreveu a Carlos V, informando-o que
dois pilotos portugueses já lhe haviam proposto, antes de 1530,
conduzi-lo ao Perú e participarem na sua conquista. Afirmam também que a
partir do Perú, podiam ajudar os espanhóis a conquistar as Molucas, na posse
do Rei de Portugal desde 1511.
- A expedição de
Sebastián de Belalcázar (1532), contava entre outros com a
participação de piloto português chamado João Fernandes. Assiste à
conquista de Tumbes e de Cajamarca, em companhia de Pizarro. Em 1534
integra como piloto a expedição de Alvarado. Dois anos depois
desembarca na costa do Equador, dirigindo-se até Quito, onde parece que terá
morrido. Alvarado teve também como piloto maior outro português: Genes de
Mafra.
-
As sanguinárias expedições ao Peru e Chile de Francisco Pizarro
e seus irmãos, mas também as de Diego Almagro (1534), Pedro de valdivia (1541), Garcia H.
Mondonza (1557), contaram com centenas de portugueses, os quais estiveram
directamente envolvidos nos vários conflitos que aí se deram entre os
conquistadores espanhóis.
Entre
os companheiros de Pizarro contarem-se entre outros portugueses Frei Pedro
Português, Lope Martim Pereira, Ximón
Portugues, um dos fundadores de Cuzco.
Entre
os nobres portugueses, envolvidos nas matanças que ocorreram no Perú e no
Chile, destacam-se
os seguintes:
1. O capitão Nuño de
Castro (português), apesar da sua importante acção na conquista do Peru,
quando pretendeu deixar aos seus descendentes os bens que havia adquirido,
não pode fazer por não estar em situação legal nas Indias espanholas
(40).
2.
O comendador Mascarenhas, cavaleiro da Ordem de Cristo. Foi com
Juan de Joffre ao Chile (1549), entre outras missões foi encarregado de
prender o capitão Francisco Ulloa. Acompanhou Pedro de Valdivia na sua
expedição ao sul, tendo morrido numa escaramuça contra os indios no rio
Vergara (1560). Era membro de uma das mais importantes familias de
Portugal nos séculos XVI e XVII. Entre os seus ilustres descendentes é
apontado o próprio Simón Bolivar.
Nesta
altura, um seu familiar - Gaspar de Figueiredo Mascarenhas - foi nomeado
regente de Portugal pela rainha Dona Catarina (1559), e anos depois Filipe II
de Espanha nomeia-o alcaide de Faro (1580).
3.
Francisco Barreto, filho do alcaide-mor de Faro - Rui Barreto,
cognominado o "Bigodes" - andou também na conquista do Peru e
por lá terá morrido.
-
A expedição de Francisco de Orellane, em 1541, a partir de Quito em
que desceu o Maranhão até ao "mar do Norte", contou com pelo menos
dois portugueses: António Fernandes e Fernando Gonçalves. A viagem já
havia sido realizada em 1538 por Diogo Gomes, navegador português,
acompanhado por uma mercador espanhol (5 ).
Em
1544, Orellana volta ao Amazonas, com 4 navios e 400 homens, mas desta vez a
corte espanhola não o autorizou a levar pilotos portugueses. Não parou
de insistir para que o autorizassem a fazer, indicado inclusive sugestões de
nomes ("Renteria" e "Francisco Sanches"). Nas suas
palavras eram os únicos experientes e conhecedores daqueles rios e mares
(34). Como a corte não consentiu que os levasse, Orellana acabou por morrer
no Amazonas e com ele grande parte da tripulação.
A
partir do século XVI os portugueses realizam expedições sistemáticas no
Rio Amazonas e seus afluentes, implantando povoações e fortes no seu
interior. Não é por acaso que, em 1744, um sacerdote jesuita, Manuel Ramón,
quando explorava a partir da Venezuela o canal Cassiquiare, que interliga o
rio Amazonas ao rio Orinoco, depara-se com um grupo de portugueses que há
muito navegavam através destes rios.
g
) Argentina, Paraguai e Uruguai
Gonçalo
Coelho, em 1501 e 1503, como dissemos, foi enviado para a América do Sul para explorar
região, tendo chegado até ao extremo sul do continente. Em 1511/12, uma nova
expedição percorre toda a costa da argentina, explorando o rio da Prata.
Outros portugueses ao serviço dos reis de Espanha, como João Dias de Solis
(1515, 1526) , Martin Garcia, Aleixo Garcia, Gonçalo da Costa ou Fernão de Magalhães
continuam e aprofundam estas explorações. Mais dois exemplos:
A
própria expedição do genovês Sebastian Cabot (1526-1530), ao Rio
da Prata, contou pelos menos 8 portugueses, entre os quais se destacam: Jorge
Gomes (piloto), Rodrigo Alvarez (piloto), ou Francisco César, mais tarde
conquistador da Antioquia (Colombia), tenente general de Pedro Heredia.
A
grande expedição de Pedro de mendonza , o primeiro
governado do Rio da Prata, em 1535, contou com pelo menos 38
portugueses, entre os quais 4 eram pilotos (Estevão Gomes, João de Leão,
Jacome de Paiva e João Parias).
A
listagem é infindável
e abrange todas as expedições espanholas neste continente,
o que mostram o envolvimento dos portugueses na construção do Império
espanhol, e nas suas atrozes matanças de indios.
h)
Outras regiões do Mundo
-
João Rodrigues Coutinho. Descobridor das célebres minas de prata das
Serras de Cambambe
(1602), em Kwanza Norte (Angola).
9.
Renegados
No
século XVI e XVII, os espanhóis contrataram traidores portugueses para comandarem esquadras contra outros portugueses
(patriotas). Entre estes renegados, na expressão corrente do tempo, destacam-se
os seguintes: -
Ambrósio d`Aguiar. Este navegador português comandou a armada de
Felipe II de Espanha que tomou a fortaleza da Ilha de S. Miguel (Açores).
Muitos
destes renegados procuram vender aos reis de Portugal, informações obtidas
nas suas expedições ao serviço de Espanha,.
10. Navios
A construção
naval espanhola era muito pouco desenvolvida em comparação com a portuguesa,
não admira que muitas das caravelas e naus que foram usadas nas expedições
espanholas tenham sido adquiridas em Portugal, ou construídas por portugueses. Fernando de
Aragão foi um dos primeiros reis a solicitá-las
aos monarcas de Portugal.
11.
Financiadores
Desde o inicio das
viagens espanholas à América, em 1492, que os portugueses aparecem a
financiá-las. Os dois casos tem sido os mais estudados são os das famílias
nobres exiladas e os das famílias nobres de origem portuguesa. Alguns
exemplos:
- A expedição de
Cristobal Guerra (1499-1500) foi financiada por D. Alvaro de Bragança. O rol
de pagamentos deste nobre português é muito extenso.
- A Expedição de
Juan de la Cosa, em 1504, foi financiada pela marquesa de Montemor-o-Novo,
tendo como testa de ferro Juan de Barahona, cunhado de Colombo (19).
- As famílias de
nobres portugueses radicadas em Espanha são das primeiras a financiar as
expedições espanholas, mas procuram fazê-lo utilizando os seus serviçais.
Os Portocarreiro (Pedro Portocarrero) servem-se dos seus camareiros Alonso
Alvarez de Toledo e Francisco Escobar, com testas de ferro, para servirem como
armadores das frotas de Pinzon (1499-1500) e Rodrigo de Bastidas (1500-1502).
Os Condes de Cifuentes servem-se do seu criado Juan Velázquez também para
financiarem Bastidas (20). Os exemplos são muitos.
12. Difusão do
Cristianismo e Judaísmo
No século XVI,
ser português nas Indias espanholas era sinónimo de ser judeu. A
generalização era muito abusiva, mas não deixa de traduzir uma realidade:
as primeiras sinagogas nas Américas, incluindo a dos EUA foram fundadas por
portugueses.
Menos estudada é
todavia a difusão do cristianismo por portugueses em domínios espanhóis. Os
exemplos são muitos e alguns verdadeiramente espantosos, como o do Frade
Nicolau de Melo (1550-1616), natural de Belmonte. Após ingressar na Ordem dos
Agostinhos foi evangelizar para o México, daqui foi para as Filipinas (1476),
onde se destacou. Percorreu depois outras regiões do Oriente (Malaca, India),
dirigindo-se a seguir para a Pérsia, terminando na cidade de Astracão na
Rússia, onde foi preso e após anos de cativeiro queimado vivo.
13. Comércio
Internacional
Os portugueses conheciam melhor as
indias espanholas que os próprios espanhóis. Os seus navios
percorriam-nas constantemente, nomeadamente a partir do inicio do século XVI,
para venderem escravos que as colónias espanholas careciam (consultar).
As redes
comerciais dominadas pelos portugueses abrangiam todo o Império espanhol, em
particular as que estavam ligadas às minas de minas de prata e ouro no Peru
e no México. Esta foi a razão da longa luta que tiveram para controlarem o
tráfego no Rio da Prata.
Os
portugueses careciam de metais, em especial o ouro e a prata, para puderem
comprar produtos na India e na China.
Começaram por adquirir cobre e
prata aos alemães, provenientes de Schwarz (Tirol), Ioachimsthal (Boémia) e
de Schneeberg (saxónia). A partir de meados do século XVI, os centros
abastecedores da Europa foram substituídos pela prata do México (Zacatecas,
Guanajuato, etc) e do Peru (Potosí). Os portugueses conseguiram ainda obter
muita prata no Japão.
Escravos africanos
eram trocados por prata. Para
assegurarem a quantidade suficiente para as suas transacções comerciais no
Oriente, montaram uma eficiente rede de
contrabando e de corrupção das autoridades espanholas que lhes
permitia desviarem importantes quantidades da
prata que era extraída nas minas.
No Oceano pacífico também criarem um circuito comercial entre Macau,
Filipinas e o Peru, que sugava a prata de Potosi (Peru).Foi graças a este
sistema que
contribuíram para tornarem a moeda espanhola, o "real de a ocho" (em
prata), na moeda usada nas transacções comerciais internacionais. Muitas
toneladas da prata espanhola foram parar desta maneira à India e China
através dos portugueses (36).
Esta rede
de comércio internacional foi seriamente abalado com as perseguições da
Inquisição espanhola, o abandono do Império Português (1580-1640) e a guerra
que se seguiu à restauração de independência de Portugal (1640).
14. Protecção
Contra Corsários e Piratas
O transporte de
pessoas e mercadorias entre a Espanha e as Indias, desde 1494 só foi
possível devido ao apoio portugueses, que possuíam excelentes bases no
Algarve e no Atlântico. Os portugueses não se limitaram a ceder experientes
marinheiros, mas também navios, armamento e comandantes.
Quando aumentou de
forma exponencial os ataques corsários, a Casa da Contratação de
Sevilha, passou a contar desde 1537 nos Açores, com uma escolta para
protecção dos navios espanhóis. No Algarve, a protecção dos navios
espanhóis entre Rio Guadiana e o cabo de S. Vicente, foi entre 1566 e
1595 confiada a um português - Duarte Fernandes -, sediado em Lagos. Trata-se de uma questão que tem sido pouco estudada.
15. Comunidades e
Povoadores
Não era apenas na
Andaluzia que existiam importantes comunidades de portugueses, mas também nas
Indias (América) espanhola, os quais fundaram igualmente muitas cidades nestes
territórios. Alguns exemplos:
Hispaniola
(Haiti/República Dominicana). Apesar de todas as proibições da Corte
Espanhola, os portugueses estavam presentes em todas as povoações da ilha.
As autoridades locais não apenas se recusaram a expulsá-los, como
recomendaram que viessem em mais.
Numa carta ao
cardeal Cisneros, em 1517, reclamam a necessidade de mais portugueses,
porque "se ha visto que los são grandes pobladores y granjeros". No ano
seguinte, Fray Bernardino de Manzenedo volta a insistir junto da Corte
Espanhola da necessidade de mais portugueses. A Junta de Procuradores da
ilha, no mesmo ano, insiste no mesmo sentido, e recomenda que venham já
casados com as respectivas mulheres. Embora os portugueses solteiros fossem
expressamente proibidos o seu número foi sempre muito elevado. Na Audiência
de Santo Domingo ao rei de Espanha, em 1535, constatava-se que havia na ilha
200 portugueses solteiros que exerciam as mais variadas funções e estavam
espalhados por toda a ilha (38).
Jamaica.
Em Novembro de 1509, Diego Colon, autoriza Juan
de Esquivel a conquistar e povoar a ilha, promovendo o seu povoamento por
portugueses. Pedro de Mazuelo, em 1535, obtém uma licença para levar 30
portugueses casados, acompanhados das respectivas mulheres. A maioria dos cerca de 1.500
habitantes da Jamaica eram portugueses, provenientes sobretudo dos Açores e
da Madeira, tendo-se dedicado no inicio à criação de gado (31). Em 1537, Carlos V,
nomeou Luis Colon , I Marques da Jamaica.
A Ilha passou a ser considerada
uma propriedade particular da familia Colombo, sendo povoada maioritariamente
por portugueses dos Açores e da Madeira. A partir de 1576, foi autorizada a criação de uma colónia
de judeus, vindos de Portugal. Depois de 1580, os portugueses usaram-na como
um ponto de ataque ao Império espanhol, facilitando a penetração e os
ataques dos ingleses, holandeses e franceses nas Antilhas e no continente
americano. No século XVII, estas ilhas do caribe eram conhecidas por "Portugals"
(32)
Em Cuba, a comunidade de
portugueses na primeira metade do século XVI devia de ter sido certamente
enorme, pois daqui saíram largas centenas ou milhares para a conquista do
continente, integrando as expedições de Balboa, Cortez, Pizarro, Soto e
outros.
Em Porto Rico, entre
os povoadores portugueses destaca-se Cristovão Sotomayor. Foi aguacil de
Juan Ponce de León (1460-1521), o explorador de Porto Rico e das costas da Flórida.
Foi o fundador em 1510 da Vila de
Tavora (actual Guánica), em Porto Rico, nome que lhe atribuiu em honra da sua mãe
Dona Teresa de Tavora, Condessa de Caminha em Portugal (Camiña, em castelhano). Morreu
em 1511 num confronto com
indios.
Guatemala.
Desde o início do século XVI que se assinala nesta região a presença de
muitos portugueses, nomeadamente de comerciantes (quase sempre judeus),
navegadores, conquistadores e até piratas. A conquista da região está
ligada, como vimos, a um português - João Rodrigues Cabrilho. Este
capitão muito experimentado nas coisas do mar, após ter estado em acções
em Cuba (1510/11), México e com Pedro Alvarado na conquista Honduras,
Guatemala e San Salvador (1523-1535). Acabou por fixar residência na cidade
de Santiago dos Cavaleiros de Guatemala (1524), onde recebeu inumeros privilégios
de Alvarado.
Pedro de Alvarado, na cidade de
Gautemala, em 1532, escreveu a Carlos V, uma carta afirmando que havia dois
anos que fora contactado por dois pilotos portugueses, os quais lhe propuseram
ir conquistar o «Império Pirú». Neste ano, partia da Guatemala, a expedição
para a conquista do Peru, sob o comando de Sebastián de Belalcázar, com um
piloto português chamado João Fernandes. Este piloto participou
na conquista de Tumbes e de Cajamarca, com Pizarro. Noutra expedição com
Pedro Alvarado (1534) foi à costa do Equador, tendo subido até Quito.
México.
A presença de portugueses no século XVI não se reduz à participação nas expedições de
conquista e o ao tráfico de escravos, afirmando-se também como
povoadores.
A
figura cimeira do povoamento do México foi o transmontano foi Luis de
Carvalhal (Luís de Carabajal y la Cueva, c.1539-1596), explorador e
defensor do nordeste do México, fundador e governador do "Reino de Nuevo
León". No povoamento que empreendeu levou consigo mais de uma centena de
famílias portuguesas, que se espalharam pelo México. Outro
português foi o açoriano Alberto do Campo (Alberto del Campo y Diaz de
Vieira,
1547-1611), fundador de cidades como Saltillo e Monterrey (1577). O povoamento
português do México prosseguiu ao longo dos séculos. Em 1674, António
Amaral e os seus irmãos, todos naturais de Mangualde, povoaram Jalisco (Mascota
e Portovallarta)
Colombia.
A Expedição de Rodrigo de Bastides que, em 1525, fundou a cidade de
Santa Marta, para além de outros portugueses, contava com dois destacados
oficiais superiores: Antonio Díaz Cardoso (capitão, natural de Santa
Comba Dão) e Alonso Martín, acompanhado
do seu filho Juan de San-Martin. Esta cidade foi de inicio muito frequentada
por piratas portugueses, que dominavam a região desde o inicio do século XVI.
Na Venezuela os
portugueses desde cedo se assumiram como povoadores da região. Sebastião de
Belo Cabreira, em 1528, é um dos primeiro a solicitar ao autorização para o
fazer, envolvendo um vasto grupo de portugueses.
O seu
número e cargos que ocuparam foi de tal modo elevado, nomeadamente em Coro e Santiago de León de
Caracas, que a corte espanhola temendo qualquer movimento separatista, a
21/4/1578, manda que todos eles fossem expulsos. Alguns terão saído, mas a
maioria encontrou forma de continuar na Venezuela, como Juan Fernandez de León
Pacheco (1543-?) (7), natural
de Portimão, fundador de cidades como
Espírito Santo (1578) e Guanare (1591, capital do estado Portuguesa).
Em 1607, num censo
à província da Venezuela, foram identificados 125 estrangeiros, dos quais 115
eram portugueses. Um número que nos dá uma pálida imagem da sua implantação
neste território espanhol (6)
Cuzco,
Convento de S. Francisco, fundado em 1534 por Frei Pedro Portugues, também
chamado Fray Pedro de los Algarbes. O arquitecto da Igreja de S. Francisco em
Lima foi um português - Constantino de Vasconcelos.
Equador. Francisco de
Mesa, em a 12/9/1545, por exemplo, obtém uma capitulação para com 30
portugueses, oriundos das Canárias, povoar Montechristi. Muitos outros aqui
se fixaram.
.
No Peru e Chile os
portugueses no século XVI foram sobretudo conquistadores, mas no final do
século o seu número era já muito expressivo, ocupando posições
destacadas nesta região (10). Dominavam o comércio, a navegação e a
exploração mineira.
Ximón
Portugues, um dos fundadores de Cuzco.
O poder dos
portugueses suscitou, como vimos, a cobiça dos espanhóis que utilizando a
Inquisição apropriarem-se de forma sistemática dos seus bens. O resultado
foi a decadência do Perú.
Na Argentina,
em posições estratégicas como Buenos Aires, no
"Rio de la Plata", a comunidade portuguesa, os grandes
povoadores da região, superava
nos séculos XVI e XVII a espanhola, um facto que nunca deixou de preocupar os
governadores espanhóis (9). O seu objectivo era controlar a foz dos rios ao
longo da costa da América do Sul até ao rio da Prata, mas também através do
contrabando controlar o escoamento das riquezas que os espanhóis traziam das
minas de prata do Peru (12). Esta foi a região onde a restauração da
independência de Portugal, em 1640, menos se fez sentir porque os argentinos
encontraram formas de contornar as proibições impostas pela corte
espanhola.
Na
foz do rio da Prata, no final do século XVII, em Sacramento , acabaram por criar uma
colónia, génese de um novo país, o Uruguai.
Face a este
panorama, sinteticamente referido, a primeira conclusão que podemos retirar
é que o Império Espanhol não foi apenas descoberto por portugueses, mas foi
também por eles conquistado, organizado, povoado, explorado e protegido. A
esmagadora maioria dos quais foram acusados de traidores, sendo
até hoje completamente ignorados na História de Portugal.
Colombo percebeu melhor do que ninguém o
que lhe iria acontecer, por isso procurou esconder a sua identidade, obrigando
os seus irmãos a fazer o mesmo.
Nota Final: Territórios
Espanhóis em África
Com excepção de Melila, os
territórios que a Espanha veio a ter em África, como Ceuta, a Guiné
Equatorial ou a costa do Saara Ocidental, foram durante séculos possessões
portuguesas.
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