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As Provas do
Colombo Português
26. Significado
de um Reencontro. Rainha Dona
Leonor e Cristovão Colombo
a) Encontro no Convento de Santo António
da Castanheira
Colombo, no regresso da sua
primeira viagem à América, dirigiu-se para a Ilha de Santa Maria, nos Açores.
Daqui partiu para Lisboa. Foi depois ao encontro de D. João II, em Vale do Paraíso.
No dia 11
de Março de 1493, a pedido da Rainha Dona Leonor de Lencastre, teve
um segundo encontro agora com a rainha no Convento de Santo António da Castanheira,
situado no alto da serra, junto a Vila Franca de Xira. Fez-se acompanhar
por indios que trouxe da América e de um piloto.
O encontro contou
também com a presença de:
- D. Manuel, Duque de Beja, Mestre da
Ordem de Cristo e futuro rei. Era irmão da rainha D. Leonor e de D. Diogo,
assassinado por D. João II em 1484.
- Pedro de Menezes (1425 -
1499), Marquês , 7º. Conde de Ourém, 1º. Marques de Vila Real, Senhor de Aveiras, etc. Era
casado com
Beatriz
de Bragança, irmã
do Duque de Bragança executado em 1483.
- Martinho
de Noronha,
parente de Colombo, e
um homem da total confiança de D. João II até à hora da morte.
Era
vedor da Fazenda e membro do Conselho régio.
Foi ele que levou Colombo a Vale do Paraíso e o trouxe de regresso a Lisboa.
No percurso entre Vale do Paraíso e o Convento, juntou-se ao grupo uma pequena
multidão que quis honrar o navegador e obter dados das terras descobertas.
Mais
Colombo descreve
este encontro no seu Diário de Bordo, na seguinte forma:
"Lunes, 11 de
Março.
"Oy se
despidió del Rey, e le dixo algunas cosas que dixese de su parte a los Reyes,
mostrándole siempre mucho amor. Partióse después de comer, y enbió con él a
Don Martín de Noroña, y todos aquellos cavalleros le vinieron a acompañar y
hazer honra buen rato. Después vino a un monasterio de Sant Antonio, qu`es
sobre un lugar que se llama Villafranca, donde estava la Reina, y fuele a hazer
reverencia y besarle las manos, porque le avía enbiado a dezir que no se fuese
hasta que le viese, con la cual estava el Duque y el Marqués, donde resçibió
el Almirante mucha honra. Partióse d`ella el Almirante de noche y fue a dormir
a Allandra".
Hernando Colón, que
consultou original do Diário de Bordo, confirma a insistência da rainha
neste encontro, e a sua enorme alegria: "Al presentarse conte ella se alegró
mucho, rindiéndole los honores y cortesías próprias de un grand señor" (12).
Bartolomé de Las
Casas, é mais contido na descrição, referindo apenas que Colombo "besóle la
manos", foi recebido com "grande humanidad, haciéndolo mucha honra y favor". Deu
também "alguna relacion de su viaje y de las tierras y gentes de dejaba
descubiertas" (13).
Ambos não referem a
presença de D. Manuel e o do Marquês de Vila Real.
Colombo, depois da
visitar à rainha, desceu já de noite a serra em direcção a Vila Franca de Xira
(14), dirigindo-se depois para Alhandra onde dormiu.
No dia seguinte,
pouco antes de partir de caravela para Lisboa, chegou um "gentilhombre",
mandado por D. João II,
para lhe dizer se queria ir por terra para Castela. O rei dava-lhe animais para
se fazer
transportar, alojamento em todas as terras que passasse, assim como seriam pagas
as despesas que fizesse. Como prova desta disponibilidade real, mandou
entregar uma importante quantia em dinheiro ao piloto que o acompanhava. Uma
atitude que contrasta com a descrita pelos cronistas
portugueses, quando referem o encontro de D. João II com Colombo.
Mais
b) Simbolismo do
Convento
Os dois encontros
que Colombo realizou, em locais distintos com o rei e a rainha, na mesma região,
não foram produto de um mero acaso. Ambos quiseram receber Colombo em separado,
com os respectivos séquitos. Os locais escolhidos
estavam carregados de enorme significado para ambos.
É hoje consensual que Dona
Leonor, como a sua mãe , a Infanta Dona Beatriz estiveram envolvidas na
conspiração de D. Diogo, Duque de Viseu contra D. João II, em 1484
(17). D. Diogo, irmão de Dona Leonor, acaba assassinado pelo próprio D. João II.
Na conspiração anterior, em 1483, foi executado o cunhado da rainha e dois dos
seus sobrinhos foram mandados para Castela.
O Convento de Santo
António da Castanheira, como veremos, foi assumido a partir de 1493 como um
símbolo dos conspiradores de 1484.
A rainha tinha uma
especial predileção pelos conventos franciscanos desta região. Quando morreu o
seu filho - o principe D. Afonso- , em 1491, foi no Convento de Nossa Senhora das Virtudes
que se refugiou, percorrendo
depois as principais casas franciscanas, nomeadamente o Convento de Santo António
(18).
O convento estava
ligado à família dos ataídes, onde tinha o seu
panteão. Acontece que os ataídes,
estiveram envolvidos
na conspiração de 1484 contra D.
João II:
Alvaro de Ataíde (5º senhor da Castanheira), conseguiu fugir para
Castela, onde vivia exilado, mas o seu filho - Pedro de Ataíde, foi degolado em
Setúbal. Filipa de Ataíde, a enigmática" Almiranteza" vivia igualmente exilada em
Castela.
Mais Diogo de Ataíde, conseguiu
também fugir, viveu e morreu exilado em Sevilha.
Mais
Os filhos de
Isabel Ataíde - Fernando de Meneses, o Narizes e Garcia de
Meneses, bispo de Évora -, foram assassinados na sequência da conspiração de 1484.
Mais
O Convento da
Castanheira, no
final do século XV, evocava conspirações contra o rei, mortes e exilados em
Castela. Uma imagem e ligação que irá perdurar ao longo dos tempos (11).
Não deixa de ser
significativo que, João da Castanheira, o capitão que recebeu Colombo na Ilha de Santa Maria
entre 18 e 28 de Fevereiro de 1493, fosse escudeiro-fidalgo de D.Manuel I, Duque
de Beja. Mais.
O encontro com
Colombo durou largas horas e envolveu um grupo de personagens que tinham familiares
e amigos exilados em Castela, e que alimentavam uma crescente hostilidade em
relação a D. João II.
|
|
Pedra de
armas dos Ataídes, na magnifica capela renascentista do convento |
Teto da
capela dos Ataídes, tendo nas chaves da abóbada os signos dos zodíaco. |
Convento da
Castanheira
O Convento de Santo
António da Castanheira foi
fundado, entre 1395 e 1405 (8), por Pedro de Alemancos (19), no termo a Vila
de Povos, junto a uma ermida dedicada a Santo António. A casa foi inicialmente
habitada por Frei Alemancos vigário) e outros frades que vieram de Alenquer.
Obteve licença pontifícia do papa Martinho V.
D. João I manifestou
desde o inicio uma profunda ligação ao convento, ao ponto de nele dormir (21). Recebeu doações de D. Afonso V,
Dona Leonor, D. Manuel (15) e D. João III (16), mas foram os Ataídes,
em particular António de Ataíde, 1º. Conde da Castanheira, assim como o seu
filho Jorge de Ataíde, os seus grandes benfeitores do mosteiro.
No final do século
XV era já um
importante centro de formação espiritual franciscana, dotado de uma excelente
biblioteca (9). O que resta do conjunto do edifício, apesar de
abandonado, vandalizado e delapidado no seu recheio, continua a ser imponente pelas suas dimensões. |
c) Razões do
Encontro A estadia de Dona
Leonor neste convento, em Março de 1493, levanta vários problemas:
A rainha
deslocou-se propositadamente? A Rainha desde 1491 que estava bastante doente,
residindo desde Maio de 1492 no seu Paço de S. Elói, em Lisboa, e não
consta que tivesse feito outras deslocações. Face ao agravamento da doença,
mudou-se para Setúbal, onde em Maio de 1494 quase faleceu.
Aparentemente tudo
leva crer que, em Março de 1493, se deslocou propositadamente ao convento
de Santo António da Castanheira para se encontrar com Colombo. O encontro, como dissemos, foi ocultado
em Portugal,
e nenhum dos seus biografos da rainha o regista (20).
a)
Promessa. Não é de excluir
a hipótese de ter feito uma promessa, à semelhança que já fizera D. João
II, neste ano de 1493, quando ao sentir-se mal da saúde em Torres Vedras fez a promessa de percorrer a pé o
trajecto até ao Convento da Castanheira.
b)
Franciscanismo. Poderá
também ter-se deslocado neste ano, para poder ver a importante campanha de obras
que patrocinou, nomeadamente a construção de celas e capelas. Esta visita ao
convento que teria coincidido com a de Colombo a Vale do Paraíso, e ao saber da
mesma não quis deixar de falar com ele.
A ligação da rainha
ao movimento reformador dos franciscanos, contribuiu certamente para dar à
escolha do local um profundo significado espiritual.
Noutros
lugares já assinalamos a total sintonia das ideias místicas de Colombo com as
da rainha Dona Leonor, nomeadamente em relação ao franciscanismo,
ideias de Joaquim de Fiore, conquista de Jerusalém,
culto do Espírito
Santo, São João Baptista, etc. Um destes enigmas, como vimos, está justamente ligado ao
Convento de Santo António da Castanheira onde ocorreu o encontro.
d)
Heranças Políticas. O Infante D. Fernando, como
veremos, não concordava com a estratégia de D. Afonso V, depois prosseguida
por D. João II, de centrar a expansão em África e no Atlântico, com o
domínio exclusivo das rotas marítimas.
O Infante preferia o domínio do Mediterrâneo, a conquista de Jerusalém e a partilha das
descobertas com outros reinos ibéricos. O infante morreu, em 1470, mas a
sua estratégia não morreu. A sua esposa, D. Beatriz, assumiu um
papel activo nesta estratégia de aproximação e partilha das descobertas com
os castelhanos e aragoneses. O ódio contra D. João II, depois do mesmo
ter assassinado o seu filho, aproximou-a ainda mais dos interesses castelhanos.
A Rainha Dona Leonor de
Lencastre, não foi alheia a esta estratégia defendida pelos seus pais. É
neste quadro que deve ser interpretado o seu convite para um encontro com Cristovão
Colombo, tendo ao seu lado, D. Manuel seu irmão e sucessor jurado de D. João
II. Um encontro, recorde-se, que os cronistas portugueses foram obrigados depois
a ocultar, de modo a evitarem serem acusados de traidores.
A verdade é que a rainha quis, de forma
inequívoca, dar o seu apoio a viagem de Colombo, no ambito de uma partilha de
informações entre Portugal e os outros reinos ibéricos.
e)
Sucessão. A presença de D.
Manuel junto à rainha Dona Leonor, revela o profundo conflito que então se vivia
na corte: após a morte do principe D. Afonso, a 13/7/1491, D. João II procurou por
todos os meios legitimar e fazer seu herdeiro Jorge de Lencastre (25), fruto dos seus
amores com Ana de Mendonça (26). O problema continuava bem vivo, em 1493,
pois D. João II não parecia desistir desta ideia (27)
Este problema levantava enormes
tensões entre a Ordem de Santiago e a de Cristo, dado que D. João II
atribuiu os mestrados da Ordem de Santiago e de Avis a D. Jorge, pretendendo
fazer o mesmo com a Ordem de Cristo.
D. Manuel, com o apoio da sua mãe
- Dona Beatriz de Lencastre - procurou por todos os meios afirmar o poder da
Ordem de Cristo, contra a de Santiago, uma política que prosseguirá com maior
tenacidade depois de ser rei (28).
A verdade é que o encontro continua a
ser um verdadeiro mistério. Quais as relações anteriores da rainha com
Colombo ? O que os ligava? Porque o mandou chamar? O que quis afirmar? O que
falaram? A
historiografia tradicional afirma que o encontro entre Colombo e D. João II foi
pouco amistoso. Ao promover este encontro terá a rainha Dona Leonor pretendido
manifestar publicamente a sua discórdia com D.João II? Estaria
a Rainha a dar um sinal claro que estava com todos aqueles que se exilaram em
Castela, em consequência das conspirações de 1483 e 1484? Tudo aponta para
que tenha sido este o motivo principal, mas não o único. A
confirmar-se esta hipótese, é lógico pensar-se que Colombo estaria de algum
modo ligado ao grupo
dos conspiradores contra D. João II, e em especial os da Casa do Duques de Beja
e de Viseu, a que pertencia a sua esposa Filipa Moniz Perestrelo.
d) Contactos
Anteriores Antes
deste encontro a Rainha Dona Leonor e Cristovão Colombo estiveram envolvidos,
em 1485, numa enigmática situação. Neste ano, navios venezianos foram
atacados ao longo da costa portuguesa por dois corsários: a)
Um corsário chamado "Cristofaro Colombo" atacou dois navios venezianos, sob o pretexto de Veneza
ter sido excomungada pelo papa. Cristovão Colombo assumia-se aqui como um
defensor da ortodoxia católica, numa atitude típica de um cristão-novo. b)
A 21 de Agosto, dois corsários, um grego chamado George Palaeologus Dissipatos
ou Byssypatt e um vice-almirante francês (Jean de Casenove), assaltaram 4 navios venezianos ao largo do Cabo de S.
Vicente. Os venezianos
espoliados foram prontamente acolhidos pela Rainha Dona Leonor que nessa altura
se achava em Sintra, com o seu filho D. Afonso (5). A rainha mostrou-se muito
solicita a resolver a situação de extrema pobreza. D. João II, mal
regressou de Alcobaça, onde se encontrava, foi também bastante pródigo nesta
ajuda, como fez questão de reconhecer a Senhoria de Veneza. O
problema histórico consiste em saber qual foi o grupo de venezianos que foram
ajudadas pela rainha. Um
manuscrito existente no Arquivo do Estado de Veneza (3), aponta claramente para
que tenha sido as vítimas de Cristovão Colombo. Jeronymo Donato foi o embaixador
que foi enviado a Portugal para
agradecer o apoio prestado. Rui
de Pina, cronista português, constrói outra versão dos acontecimentos (4), e
atribui a ajuda ao segundo grupo de vítimas venezianas. Os
corsários envolvidos no assalto de 21 de Agosto, vieram para Lisboa, onde
tentaram vender em Setembro o produto do saque dos venezianos, mas D. João II
não autorizou. Mais Ao
que tudo indica estamos perante mais uma mistificação de Rui de Pina, neste
caso para ocultar a presença de Cristovão Colombo em Portugal antes se 1493.
Os historiadores portugueses limitam-se a repetir Rui de Pina sem verem outras
fontes (6).
Colombo, depois de sair de Lisboa,
fez ainda questão de fazer escala na vila de Faro (Algarve), no dia
14 de Março,
onde só saiu ao pôr do sol. O que o terá justificado esta escala?
A
explicação mais obvia é o facto da Vila de Faro desde 1490
pertencer à Rainha Dona Leonor de Lencastre (37). Colombo terá querido
despedir-se, pela última vez, dos domínios da rainha e da Casa dos Duques de
Beja-Viseu, da qual foi certamente um servidor.
e) Ocultação Se
Cristóvão Colombo deu muita importância ao encontro com a Rainha Dona Leonor,
D. Manuel e o Marquês de Vila Real, os cronistas portugueses
omitiram-no. Rui
de Pina e Garcia Resende, tinham plena consciência que se o referissem, o mesmo
poderia ser interpretado como uma traição ou cumplicidade com Colombo.
Se
dúvidas existissem, basta recordar que o Marquês de Vila Real - Pedro de
Meneses - era casado com Beatriz de Bragança, irmã do Duque de Bragança
decapitado em 1483, e os bragança viviam exilados em Castela.
Ao longo dos sete
anos que vivia em Castela (1485-14923) Colombo reuniu-se
com os familiares dos alta nobreza portuguesa exilada em Sevilha, que o apoiou
desde a primeira hora. As cumplicidades eram por demais evidentes e só elas
podiam justificar semelhante encontro.
f) Cardeal
de Alpedrinha Colombo
não era caso único nestas ligações, aparentemente, incomodas para D. João
II. A rainha mantinha uma relação estreita com Jorge da Costa, o
célebre cardeal de Alpedrinha , que se havia auto-exilado em Roma devido a
conflitos com D. João II.
Foi o Cardeal que orientou, por exemplo, a elaboração do compromisso do Hospital
Termal das
Caldas da Rainha, e intercedia com frequência junto dos papas para aprovação em tudo o que
a rainha solicitava à Santa Sé (1). Dona
Leonor, em sua homenagem, introduziu em Portugal o culto de Nossa Senhora do
Pópulo, edificando para o mesmo uma igreja-capela anexa ao referido hospital
termal. O cardeal, vivendo em Roma, escolheu para sua sepultura a Igreja de
Nossa Senhora do Pópulo. Recorde-se
que a irmã do Cardeal, era esposa de Pedro de Albuquerque, almirante-mor de
Portugal, envolvido na conspiração de 1484, e se que refugiou em Sevilha com
a marquesa de Montemor. Mais
Não deixa se ser curioso assinalar
que Colombo, tenha escolhido Alhandra para dormir de 11 para 12 de Março, que
pertencia aos arcebispos de Lisboa, como
Pedro de Noronha ou
Jorge da Costa...
5. Túmulos
O Convento de Santo António da
Castanheira, possui uma notável quantidade de túmulos, a maioria dos quais se
encontra profanados, como o de Tomé de Sousa (1503-1579), primeiro
governador-geral do Brasil, ou até o de Joaquim Pedro de Quintela, o célebre
Conde de Farrobo.
A Igreja do convento funcionou, como
dissemos, de panteão dos Ataídes (10), envolvidos nas conspirações de
1483-84 contra D. João II. A magnifica capela funerária dos Ataídes é um
dos melhores exemplares do primeiro renascimento em Portugal (7). Neste convento
encontram-se sepultados, entre outros, Alvaro de Ataíde e a sua esposa
Violante de Távora, o filho de ambos, o poderoso António
de Ataíde (1500-1563), 1º. Conde da Castanheira, valido de D. João III. O
influente Jorge de Ataíde, bispo de Viseu, capelão-mor e Inquisidor-mor ou Jerónimo de Ataíde, o
6º. Conde da Castanheira (11).
Um dos túmulos mais intrigantes é todavia o de Lopo de Albuquerque, Conde de Penamacor, parente de
Colombo, que também fugiu
para Castela em 1484.
A data que consta na sua pedra tumular é
falsa.
Está nela escrito que o conde faleceu a 8 de Maio de 1493, isto é, menos de três
meses depois do encontro entre a Rainha e Colombo, mas na realidade ele
continuava vivo em Castela, onde só terá falecido em
1496.
O que terá motivado
a decisão de ocultar a ida de Lopo de Albuquerque de Inglaterra para Espanha, dando-o como
morto ?
É importante
recordar que o seu filho adoptivo - Diogo Mendes de Segura - foi o secretário de
Colombo, e será também secretário do seu filho Diogo (Diego Colon).
g) Encontro em Aldeia Gavinha
D. João II ficou inquieto com o
aconteceu em Santo António da Castanheira. Tratou-se de uma verdadeira reunião
de conspiradores, patrocinada por D. Leonor. No dia 16 ou 17 de Março abandona Vale de Paraíso e dirige-se para
Torres Vedras. A rainha, com D. Manuel e o marques de Vila Real vão ao seu
encontro.
No dia 19 estava em
Atalaia junto a Merceana (Alenquer), e nos quatro dias seguintes (20 a 23) está
em Aldeia Gavinha (23), uma localidade que na altura era afectada por uma peste que
matou grande parte do seus habitantes .
É neste quadro
inesperado que D. João II resolve discutir com Dona Leonor, D. Manuel (24) e
provavelmente também o marquês de Vila Real, a questão
aberta pela "traição" de Colombo. "E porem perseguido elRey em sua
memoria deste cuidado ( a visita de Colombo) e teendo sobr`isso primeiro
conselho junto com a Aldea Gavinha", Rui de Pina, Chronica, cap. LXVI.
Apenas no dia 23 parte finalmente
para Torres Vedras, depois de ter acordado as medidas que tomaria sobre o
assunto: " E cuidando el Rey bem o negócio, e peso deste caso, se foy a
Torres Vedras", Garcia Resende, Crónica e Miscelânia, cap.CLXV.
Em Torres Vedras, no dia 8 de Abril,
manda aprontar uma grande armada para enviar às Indias descobertas por Colombo,
fazendo dela capitão-mor Francisco de Almeida (Garcia Resende, ob.cit., cap.
CLXV).
Os reis católicos
que já haviam sido informados das intenções de D. João II, enviam a Portugal um
mensageiro - Juan de Ferreira - que chega a Torres Vedras pouco depois do
Domingo de Páscoa (7 de Abril).(Rui de Pina, Chronica, cap. LXVI). A ideia da
armada foi abandonada, mas foi enviada para Castela uma embaixada constituída
por Pedro Dias e Rui de Pina (Resende, ob.cit., Cap.CLXV).
O encontro em Santo António da
Castanheira terá reacendido a conspiração contra o rei, ao que parece. Em Agosto de 1493, D. João II, esteve à beira da morte
(Resende, ob.cit., cap. CLXXI),
suspeitando-se de um possível envenenamento (22). O rei fez então uma surpreendente
promessa: no caso de se salvar iria a pé até ao local do "crime" - o Convento de
Santo António da Castanheira.
No dia 23 de
Setembro, quando já se sentiu com forças partiu a pé de Torres Vedras para o
mosteiro da Castanheira, onde chegou dois dias depois.
h) Leonor de Lencastre e os
descobrimentos
Uma das ações mais destacadas da
rainha Dona Leonor foi o apoio à edição. Neste ano de 1493, passou a ter ao seu
serviço como escudeiro, o conhecido impressor Valentim Fernandes. Este
alemão, que até aí residia em Sevilha, foi responsável pela edição de
importantes obras, mas também pela divulgação na Alemanha dos descobrimentos
portugueses. Os seus manuscritos encontram-se conservados
na Staatsbibliothek
München.
Em 1502, por exemplo, editou em
português o Livro de Marco Polo.
Dona
Leonor está ligada igualmente a dois "rebeldes" com percursos similares: -
Cristovão Colombo que depois
de andar 14 anos a tentar convencer D. João II a apoiar o seu projecto,
fixou-se em Sevilha. Após 7 anos de negociações conseguiu vender o seu
projecto a Castela. -
Fernão de Magalhães, saiu ainda jovem da Casa da Rainha Dona Leonor, andou
pela Ásia ao serviço de Portugal, tendo-se fixando depois em Sevilha. Após
longas negociações conseguiu também vender o seu projecto a Carlos V,
imperador de Espanha. Ambos
contaram em Sevilha, e na corte espanhola, com o apoio da comunidade
portuguesa. Mais
i) Paços de Santo Elói
As relações entre D. João II e
Dona Leonor foram-se agravando ao longo dos anos. Ele continuou a residir no Paço
das Alcáçovas, ela mudou-se definitivamente para o Paços de Santo Elói, que
ficava situado entre a actual Rua de Bartolomeu Gusmão e o Largo dos Lóios.
No século XV ficava de fronte das antigas Portas da Alfofa e do Convento dos Lóios,
junto à Rua de Jerusalém (1), na extinta freguesia de S. Bartolomeu.
Dona Leonor fez profundas obras
nestes paços, dando-lhe uma imponência que antes não possuíam. Aqui se
reunia a sua Corte. Gil Vicente, que esteve ao serviço da rainha até 1521,
morava junto aos paços. Aqui representou por exemplo, o "Auto da
Fama" (1515).
Foi também nestes paços que se
casou, em 1500, o filho bastardo de D. João II - D. Jorge, mestre da Ordem
de Santiago -, com Dona Beatriz de Vilhena, filha de D.
Alvaro de Bragança, que estivera envolvido na conspiração contra D.
João II em 1483. Dona Beatriz, após a fuga do seu pai para Castela foi criada
com Dona Leonor.
Os imponentes Paços de D. Alvaro de Bragança, situavam-se a
uma curta distancia dos Paços de Santo Elói, na actual freguesia de S. Cristovão e S. Lourenço.
D. Jorge, depois da rainha ter
falecido (1525) passou a residir nos seus paços até 1544-45 (2), os quais
vieram a ser adquiridos pelos seu filho D. Luis.
Foi também a poucos metros deste
local que se casou, Cristovão Colombo com Filipa Moniz Perestrelo, na Igreja de
Santiago. Junto ao Paços de Santo Elói ficavam também casas da "Condessa
de Penamacor", cujo marido esteve envolvido na conspiração contra D. João
II em 1483.
Carlos Fontes
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