Carlos Fontes

 

 

PORTUGAL 

Cristovão Colombo, português ?

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Colombo: Espanhol ?

 

 

 

 

 

Ataídes e Castelo Branco

(Conspiração contra D. João II - 1484 )

Cristovão Colombo, por razões que ainda desconhecemos, esteve ligado a dois ramos da família dos ataídes.

Um traço comum entre todos foi o facto de terem estado envolvidos na defesa das fronteiras de Portugal, expansão marítima, acções militares no Norte de África, nas Canárias, mas também no corso.

Alguns deles, como Cristovão Colombo, estiveram ou foram envolvidos também nas conspirações contra contra D. João II, tendo-se refugiado ou exilado em Castela.

Colombo protagonizou um dos aspectos mais significativos desta relação. Após regressar da sua 1ª. viagem às Indias (Março de 1493), Colombo dirigiu-se ao Convento de Santo António da Castanheira, em Vila Franca de Xira - , onde está o panteão da família dos Ataídes - , e onde se encontra, entre outros, sepultado Lopo de Albuquerque, Conde de Penamacor, cujo filho adoptivo - Diogo de Segura -, foi o secretário vitalício do próprio Colombo. Mais

 

1. Pedro de Ataíde

Este célebre corsário português, participou em Agosto de 1476 com Cristovão Colombo, na libertação da cidade de Ceuta. Morreu pouco depois num ataque que realizou com Colombo a 4 navios genoveses e 1 flamengo (19). Mais

Era filho de Gonçalo de Ataíde e de Isabel de Brito. A participação do seu pai na batalha de Alfarrobeira (1449), ao lado do Infante D. Pedro contra D. Afonso V, levou ao confisco dos seus bens, nomeadamente de Aveiras de Baixo, junto a Vale do Paraíso, onde Cristovão Colombo se encontrou com D. João II (Março de 1493).

Depois do falecimento de Gonçalo de Ataíde, a sua esposa casou-se com Diogo Fogaça, cavaleiro da Casa de D. Afonso V, o que lhe permitiu recuperar Aveiras de Baixo (17).  

Pedro de Ataíde, em 1468, renunciou à sua herança a favor da sua irmã - Catarina de Ataide, primeira esposa do Visconde de Vila Nova de Cerveira (18).

 

3. Alvaro de Ataíde 

 

Alvaro de Atayde e o seu filho Pedro de Ataide - estiveram envolvidos na conspiração de 1484 contra D. João II. Talvez por isto, no reinado de D. Manuel, mas sobretudo de D. João III, os ataídes foram largamente beneficiados, tendo atingido um enorme poder na Corte (4 ) . 

 

Alvaro de Ataíde (c.1435 - 1505), 5º.Senhor da Castanheira, Povos e Cheleiros, era um dos filhos do célebre Alvaro Gonçalves de Ataíde (c.1390 -1452), 1º. Conde de Atouguia, alcaide de Coimbra, Atouguia, Vinhais e Monforte de Rio. O 1º. Conde de Atouguia, durante a regência do Infanta D. Pedro (20), foi um das personagens mais importantes de Portugal, mas na batalha de Alfarrobeira (1449) tomou o partido do rei, sendo por isso largamente recompensado.  Era cavaleiro da Ordem de Santiago. Foi governador da Casa do Infante D. Pedro, Duque de Coimbra e regente de Portugal ( 1437-1448), participou na conquista de Ceuta (1415), e numa tentativa de conquista das Canárias (1445). Foi aio de D. Afonso V, tendo-se  casado com Guiomar de Castro, da qual teve oito filhos (22), quase todos com uma posição destacada na sociedade portuguesa da época.

 

Alvaro de Ataíde, durante a guerra com Castela (1475-1479), desempenhou uma importante missão diplomática: D. Afonso V, estando em Palencia, a 3 de Junho de 1475, envia a França Alvaro de Ataíde e João de Elvas, para negociar com Luis XI uma aliança político-militar entre Castela e a França (D. Afonso V, reclamava-se ei de Castela). O tratado foi assinando, em Paris, a 23/9/1475. Alvaro de Ataíde  regressou a Portugal, e dirigiu-se ao encontro do rei que se encontrava em Toro. Os fracos resultados obtidos na invasão de Castela, em Março de 1476, acabaram por deitar por terra o acordado no Tratado. D. Afonso V, como sabemos, não desistiu, e tomou a decisão de dirigir-se pessoalmente a França para tentar conseguir o apoio de Luis XI para a sua causa.

 

Casou-se em 1463, 1ªs núpcias, com Leonor de Noronha ( ? - 1496), filha de Pedro Vaz de Mello, 1º. Conde de Atalaia, do Conselho de D. Afonso V, regedor da Casa Cível de Lisboa, senhor da Castanheira, Povos e Cheleiros, e de Maria Noronha (27). Leonor de Noronha era mãe de Pedro de Athayde, envolvido também na conspiração contra o rei, foi preso e degolado em Setúbal (28).

 

Depois de 1496, casou em 2ªs núpcias com Violante de Távora (?- 1555), viúva de Rui de Sousa Cide. Era filha de Pedro de Souza Seabra Pinheiros, Conde do Prado, e de Maria Pinheira. Foi a mãe de António de Ataíde, 1° conde de Castanheira. Era irmã de Lopo de Sousa, fidalgo, senhor de Prado, tutor de Jaime de Bragança, irmã ainda de Gonçalo de Sousa, Grande Capitão da armada na Guiné, casado com Leonor Ribeiro Vasconcelos; e de João de Sousa, último prior ou abade de Rates, o qual, de uma certa Mécia Rodrigues de Faria, de Barcelos, teve como bastardo - Tomé de Sousa (ca. 1503-1579), governador-geral do Brasil, portanto também primo-irmão de António de Ataíde, 1° conde de Castanheira.

 

 

 

3.1 Conspiração e Fuga para Castela

 

No dia do atentado contra o rei, permaneceu em Santarém, onde tinha a missão de raptar Dona Joana, a Beltraneja, do mosteiro de Santa Clara, logo que tivesse a informação da morte de D. João II. Ao saber que o atentado falhara fugiu para Castela (1484), tendo os reis católicos lhe permitido que entrasse em Castela armado (24). Levou consigo pelo menos um filho chamado Afonso, ainda muito criança.

 

Leonor de Noronha, não acompanhou o seu marido, ficou em Portugal. D. João II, por alvará expedido a 29/11/1485, permitiu-lhe que ficasse com o recheio e os escravos que Alvaro de Ataíde tinha nas suas casas na porta do Alfofa, em Lisboa (25).

 

 

Alvaro de Ataide era tio de dois outros conspiradores: Gotierre Coutinho e de Francisco de Almeida.

 

Em Castela, o seu filho Afonso foi criado em Osuna (Andaluzia) (26) , em casa de Juan Téllez-Girón, (1456-1528), 2º. Conde de Urueña, o qual entre 1508 e 1512 viveu desterrado em Portugal, devido a desavenças com Fernando de Aragão. Os Téllez-Girón de Espanha era uma família nobre de origem portuguesa, que ainda no reinando de D. Manuel I, continuou a ser financiada por Portugal. Mais

 

3.2 Corte Castelhana, Sevilha e Tenças 

 

Alvaro de Ataíde era membro na corte castelhana de um verdadeiro partido português, como afirma István Szászdi León-Borja (23), ao ponto de assustar, como veremos, Fernando de Aragão.

 

Desde pelo menos 1490 recebia uma importante tença dos reis católicos:

 

- 1490: 150.000 (5)

- 1492: 150.000 maravedíes;(1)

- 1493:150.000; (1)

- 1494: idem (1 ). Uma outra listagem refere mais 40.000 "a acrescentar ao já apontado"(5 ).

 

Em Sevilha conheceu certamente Colombo, companheiro de Pedro de Ataíde, corsário.

 

3.2.1. Organizador da conspiração de 1484 ?

 

Dom Alvaro de Ataíde, cuja família tinha profundas ligações à Ordem de Cristo, governada por D. Diogo Duque de Beja e de Viseu, parece ter sido mais do que um conspirador. Em 1485 aparece associado à tentativa de transferir para Portugal armas, ao que se presume para os revoltosos. D. João II, neste ano, pede aos reis católicos a sua expulsão de Castela, o que lhe é negado.

 

3.2.2. Negócios nas Indias Espanholas

 

Alvaro de Ataide revela-se também profundamente envolvido nos negócios das Indias espanholas, enviando para as mesmas criados portugueses.

 

Na 2ª. Viagem de Colombo (1493-1496), mandou o seu criado português - Fernão Gonçalves, que se apresentou como vizinho de Zafra. 

 

Nesta expedição foram pelo menos mais dois portugueses: Pedro de Sales, natural de Lisboa, grumete na caravela San Juan; João Português, de Lisboa, marinheiro. Foi um dos povoadores de Santo Domingo e em 1513 acompanhou Núnêz Balboa na expedição em que descobriram o Oceano Pacífico.  

 

Alvaro de Ataíde, tinha em 1503, em Santo Domingo, um feitor que andava a fazer negócios e a recolher informações. Fernando de Aragão,  preocupado com o facto alude ao mesmo numa carta-instrução, datada de 20 e 29 de Março, dirigida a Nicolás de Ovando, governador das Indias (8).

 

 

3.4. Homónimo, Regresso e ocultação

 

Por ironias do destino, D. João II, faleceu a  25 de Outubro de 1495, nas casas de um homónimo e familiar de Alvaro de Ataíde, o alcaide da Alvor (3). Os Ataídes eram os grandes senhores de Alvor. 

 

D. Manuel I semanas depois da morte de D. João II, e as cortes de montemor, mandou chamar Alvaro de Ataíde. Com grande escândalo entre a nobreza, em Maio de 1497, confirmou a sua casa, passando o mesmo a fazer parte do seu conselho. Favoreceu os seus descendentes, no que foi continuado por D. João III.   

 

Vasco da Gama (cavaleiro da Ordem de Santiago), depois de regressar da India, casou-se em 1500 com a filha do alcaide do Alvor- Catarina de Ataíde. Entre os sete filhos que tiveram, um chamava-se também Alvaro de Ataíde.

 

Deste modo, Vasco da Gama, fica aparentado com ilustres personagens do reino: Diogo Lopo da Silveira, barão do Alvito, o Conde Abrantes, o bispo de Coimbra, o grande comendador da Ordem de Santiago, Francisco de Almeida, pouco depois vice-rei da India, para além dos irmão da Catarina futuros capitães da Asia (Alvaro, Tristão, Lopo Mendes de Vasconcelos) A maioria pertencem à Ordem de Santiago.  

 

Nuno Fernandes de Ataíde, senhor de Penacova, conquistador e capitão da Safim (1510-1516) (30), sucedeu a Alvaro de Ataíde, na alcaidaria de Alvor.

 

Entre os sobrinhos de Alvaro de Ataíde, 5º. Senhor da Castanheira, destacam-se no Brasil:

 

- Martin Afonso de Sousa, governador da Nova Lusitania, 1º. Donatário da capitania de S. Vicente (Brasil)

- Tomé de Sousa, 1º governador do Brasil. Está sepultado ao lado de D. Lopo de Albuquerque (parente dos Ataídes).

- Pero Lopes de Sousa, 1º.Donatário da Capitania de Santo Amaro (Brasil).

 

A ilustre família dos ataídes destacou-se também na conquista do Norte de África e no Oriente.

 

 

3.5. Panteão dos Ataídes em Santo António da Castanheira.

 

Do segundo casamento, nasceu António de Ataíde (1500 ou 1502-1563), grande amigo de D. João III que lhe atribuiu um enorme poder durante o seu reinado.  Embaixador em Paris, Conselheiro de Estado (1532), vedor da Casa Real. Foi igualmente o grande impulsionador da colonização do Brasil (1534). 

 

Foi o 1º. Conde da Castanheira, senhor do morgado da Foz, alcaide-mor de Colares, comendador de Longroiva (Ordem de Cristo). Está sepultado no panteão familiar dos ataídes no Convento de Santo António da Castanheira, situado no alto da serra, junto a Vila Franca de Xira. Aqui se encontra também sepultado Lopo de Albuquerque, conde de Penamacor, outro dos exilados. 

 

Cristovão Colombo, no dia 11 de Março de 1493, teve neste convento um encontro com a rainha Dona Leonor de Lencastre. Mais

 

Imagens dos túmulos profanados de Lopo de Albuquerque (Conde de Penamacor) e de Tomé de Sousa, 1º. governador geral do Brasil, no que resta da capela mor do Convento de Santo António da Castanheira (Vila Franca de Xira).

 

Os ladrões têm destruído as muitas sepulturas existentes no convento, incluindo a do Conde Farrobo, à procura de objectos preciosos. Nada escapou: O chão e as paredes da Igreja foram escavadas, na mais completa das impunidades.

 

 

Onde está sepultado Dom Alvaro de Ataíde e as suas duas esposas (Leonor de Noronha e Violante de Távora) ?

 

Os historiadores portugueses indicam dois locais diferentes: Um claustro do Convento de Tomar, sede da Ordem de Cristo, de que era mestre D. Diogo de Lencastre, Duque de Beja-Viseu (29); O convento de Santo António da Castanheira, cujos túmulos tem sido alvo de criminosas profanações (31).

 

 

A traição de Dom Alvaro de Ataíde a D. João II, rei de Portugal foi objecto de uma comédia de Tirso de Molina: La Galega Mari- Hernandez (1611)

 

 

 

A misteriosa "Filipa de Atayde, almirantesa"

 

- esposa de Nuno Vaz de Castelo Branco ?

 

 

Na listagem dos pagamentos regulares efectuados pelos reis espanhóis consta o de uma "almirantesa de Portugal", identificada como "Filipa Atayde".

 

O primeiro pagamento que temos notícia refere-se ao ano de 1481, quando recebeu 60.000 maravedis (5) . Aparentemente não esteve envolvida nas conspirações de 1483 e de 1484.

 

No entanto, a 2 de Julho de 1485, Isabel, a Católica, fez-lhe uma carta de seguro, tratando-a por "Almirantesa de Portugal", dizendo que a mesma "va desta mi corte a la villa de Llerena para fazer algunas cosas cumplideras a mi serviçio" (16).  O que andaria a fazer junto à fronteira de Portugal ao serviço dos reis de Espanha?

 

Consta também nas listas de 1493 e de 1494 (1). 

 

Filipa de Ataíde era filha do senhor de Penacova, casada com Nuno Vaz de Castelo Branco, almirante e monteiro-mor.

 

Nuno era filho primogénito de - Lopo Vaz de Castelo Branco, o "Torrão",  alcaide-mor de Moura e monteiro-mor de D. João I e de D. Duarte, e de Catarina Pessanha, descendente do almirante genovês Manuel Pessanha.

 

D. Afonso V, empossou-o no cargo de Almirante mor, com toda a solenidade na Sé de Évora, em Abril de 1467 (12)

 

A nomeação de Nuno Vaz de Castelo Branco para almirante, em 1467, não foi pacífica, pois D. Afonso V seguiu na sucessão do cargo a linha materna e não a varonil dos pessanhas (10). Manuel Rodrigo e Rui Abreu, descendentes de Antão filho do primeiro Lançarote Pessanha, reclamaram o cargo, opondo-se à nomeação de Nuno Vaz de Castelo Branco (14).

 

D. Afonso V, por carta de 25/9/1475, prometeu ao almirante Nuno que, quando este falecesse, os seus ofícios e privilégios seriam herdados pelo seu filho Lopo Vaz de Castelo Branco (13).

 

Acontece que durante a guerra com Castela (1475-1479) - Lopo Vaz de Castelo Branco - prontificou-se a entregar o castelo de Moura aos castelhanos (1478). D. João II mandou-o matar. A familia e o cargo de almirante ficaram em causa. Seria este o motivo que terá levado à fuga de Filipa de Ataíde para Castela ?

 

Nuno Vaz de Castelo Branco, faleceu em 1481, tendo Filipa de Ataíde se refugiado em Castela, onde se juntou ao vasto grupo de conspiradores portugueses aí residentes.

 

No meio deste arrastado contencioso, em 1483, D. João II nomeia Pedro de Albuquerque almirante-mor, fazendo referência na carta ao processo que estava em curso. Pouco depois, como vimos, Pedro de Albuquerque é degolado, vagando o cargo de almirante (1484).

 

O processo tem um desfecho, justamente em 1484, sendo contrário às pretensões dos descendentes de Nuno Vaz de Castelo Branco, que se viram desta forma afastados do cargo de almirante mor.

 

D. João II, em 1484, faz um acordo com os descendentes da linha varonil dos pessanha, de modo a que estes deixassem de reclamar o cargo de almirante, dando-lhes em compensação a Vila de Aboim e rendas em Elvas.  No ano seguinte, Lopo Vaz de Azevedo, sobrinho de Filipa de Ataíde, assume o cargo de Almirante-mor. Era também alcaide-mor de Alenquer e governador de Tanger.

 

Os filhos de Nuno Vaz de Castelo Branco, os grandes prejudicados com as decisões de D. João II, acabaram-se por virar contra o rei, que os impossibilitou de poderem ser almirantes de Portugal (15). No entanto um deles - Pedro Vaz de Castelo Branco, era conhecido como almirante. D. João II, a 31/05/1482, concedeu-lhe uma importante tença de 20.000 reis. Pouco depois torna-se num terrível pirata. Entre 1491 e 1493 andou a atacar navios espanhóis, e que transportavam judeus para África, perto do porto de Cádiz. Mais

 

Como aconteceu nas Canárias (La Gomera) , Colombo, ao visitar Sacavém (Pirescoxe), mostrou que preferia os locais frequentados ou ligados a piratas-corsários portugueses

 

Seria Pedro, o misterioso "Almirante português" a quem, em 1492, foi pago em Castela, por ordem de Isabel, a Católica, uma importante tença ? Mais

 

 

 

Relações com Colombo?

 

As coincidências entre Nuno Vaz de Castelo Branco e Colombo, levaram já um historiador a afirmar que se tratava da mesma pessoa (9).

 

 

 

Ruínas do palácio acastelado de Pirescoxe (século XV). Em 1939 ainda subsistiam grande parte da sua estrutura (7), entretanto delapidadas.   

O edifício foi abandonado no século XIX, e só muito recentemente foi alvo de uma tentativa de preservação das suas ruínas. 

 

 

 

Castelo de Pirescoxe

 

O palácio fortificado de Pirescoxe ou Periscoxe (antigo Pero Escouche), na localidade de Santa Iria de Azóia, perto de Sacavém, foi edificado no inicio do século XV por Diogo Afonso Alvernás, sobre-juiz del`rei e sua esposa Joana Juzarte.

 

Após a morte de Diogo Alvernás, Joana Juzarte casou-se com Nuno Vaz de Castelo Branco, que aqui instituiu a cabeça de um morgadio a 31/10/1442. Foi um dos heróis de Ceuta, tendo sido aí armado cavaleiro pelo Infante D. Duarte, nomeado depois vedor da sua fazenda. Pertencia ao Conselho deste rei.

 

Tendo Nuno falecido, em 1447, sem descendência, deixou o morgadio a Lopo Vaz de Castelo Branco e seus sucessores, com a obrigação dos mesmos usarem o nome de "Castelo Branco".

 

A família dos Castelo Branco ligou-se, no século XV, ao Convento de Chelas (convento de São Félix e Santo Adrião de Chelas) em Lisboa, onde durante mais de um século, senhoras desta familia ocuparam o lugar de priorezas (11).

 

 

Colombo, no regresso da América, fez questão de passar aqui a noite de 8 para 9 de Março de 1493, e não como se afirma na casa de Diogo Dias de Novais, almoxarife de Sacavém. 

 

A "almirantesa" Filipa de Ataíde, Nuno e Pedro Vaz de Castelo Branco não seriam certamente personagens desconhecidas de Colombo. Faziam parte do enorme grupo de descontentes com D. João II.

 

 

Odemira

 

No regresso da sua segunda viagem à América, em 1496, Colombo dirigiu-se de forma intencional para Odemira, cujo castelo e vila pertenciam até ao século XV aos almirantes pessanha (21) . Mais

 

 

 

4. Outros Ataídes em Castela

 

Muito pouco sabemos dos ataídes em Castela durante a fase em que Colombo aí viveu (1485-1506), mas uma coisa é certa, as suas relações com membros desta família foram enormes.

 

4.1. Diogo de Ataíde

 

Diogo de Ataíde ( ? -1490) desde 1483 residia em Sevilha. Participou na guerra de Granada. Durante o cerco de Málaga teve um papel heróico na sua conquista. Foi corregedor de Ciudad Real (1487-88) e Écija (1490). Casou-se com Isabel de Ayala, ama da Infanta Maria, depois rainha de Portugal (32) . Em 1487 recebeu parte dos bens que lhe tinham sido confiscados em Portugal. Está sepultado na capela do Crucifixo do Convento de Santo Domingo de Porta Coeli, em Sevilha.

 

 

Continuação

Carlos Fontes

 

  Notas:

(1 ) La receptoría y pagaduría general de la Hacienda regia castellana entre 1491 y 1494 (De Rabí Meír Melamed a Fernán Núñez Coronel), Miguel-Ángel LADERO QUESADA, Universidad Complutense. Madrid, in En la España Medieval, 2002. 

(2 ) A lista dos portugueses pagos pela rainha de Castela é surpreendente e ainda não foi devidamente investigada. 

(3 ) D. Afonso V concede a Álvaro de Ataíde muitas mercês em Alvor: o exclusivo do dízimo do pescado; o dizimo das portagens do mar e terra, dos foros das azenhas, do serviço novo e velho dos judeus, dos moinhos, casas, vilas e vinhas; D. João II deu-lhe total liberdade para construir dentro do castelo; D. Manuel I concedeu a alcaidaria-mor da futura fortaleza a este homónimo de Alvaro de Ataíde no ano de 1496. A Igreja matriz do Alvor data do século XVI e foi construída pelos ataídes.

( 4) Álvaro de Ataíde, filho do conde de Atouguia, casou-se em 2ªs núpcias com D. Violante de Távora, filha do Senhor de Prado, desta relação nasceu D. António de Ataíde, 1º conde de Castanheira (1500 ou 1502-1563), era o senhor das Vila de Póvos (V. Franca de Xira) e Cheleiros (Mafra).

António de Ataíde teve um enorme ascendente sobre D. João III e D. Jaime, Duque de Bragança. Esta relação não agradou à rainha D. Catarina (espanhola).

(5 ) Quesada, Miguel Angelo Ladero - La Hacienda Real de Castilla en el Siglo XV. Universidad de la Laguna. 1973. 

(6) Vasco Coutinho era filho do marechal Fernando Coutinho, alcaide-mor de Pinhel e de Dona Joana de Castro (filha de D. Álvaro Gonçalves de Ataíde, 1º conde de Atouguia).

(7 ) Lino, José - Diário de Notícias, 11/8/1939

(8) Autografos de Cristobal Colón y Papeles de América. Duquesa de Berwick y de Alba. Madrid. 1892

(9) Gomes, Armando Sousa - A Nacionalidade de Cristobal Colom. Coimbra. 1957

(10) Nuno Vaz de Castelo Branco, marca o fim da família pessanha na sucessão dos almirantes mor de Portugal. Cfr. Fernandes, Fátima Regina- Los Genoveses en la armada portuguesa: Los Pessanha... 2001.

(11) Teresa M. Schedel de Castello Branco

(12) Duarte Nunes Leão - Chronicas, parte II; Chronica e Vida d`ell rey dom Affonso o V, p.130

(13) Chancelaria de D. Afonso V, Liv.30º, fl.8

(14) Pessanha, José Benedicto d`Almeida - Notícia Historica dos Almirantes Pessanhas e sua descendência. Dada no ano de 1900. Lisboa. 1900. Uma obra fundamental.

(15) Conhecemos três filhos varões de Nuno Vaz Castelo Branco e Filipa de Ataíde:

- Lopo Vaz de Castelo Branco, que se casou com Isabel de Melo

 - Pedro Vaz de Castelo Branco, almirante, corsário-pirata. Os genealogistas afirmam que era casado com Mécia Camões.

Um seu primo, com o mesmo nome, era filho de Gonçalo Vaz Castelo-Branco, 1º Senhor de Vila Nova de Portimão e de Brites Valente. Foi um dos fidalgos da Casa do Principe D. João. Era irmão de Martinho Castelo Branco, 1º conde de Vila Nova de Portimão, e de João C. Branco, bispo de Lamego e embaixador em Roma. Casou-se, em 1460, com Isabel de Mendonça, filha de Nuno Furtado de Mendonça (1420), Aposentador-Mór de D. Afonso V (11),  cuja família estava intimamente a D. João II, à Ordem de Santiago e Convento de Santos de Lisboa. Recorde-se que Ana Mendonça, foi a mãe de D.Jorge de Lencastre, grão-mestre da Ordem de Santiago, e comendadeira-mor do Mosteiro de Santos, onde Colombo e casou. (Cfr."Os Furtado de Mendonça portugueses. Ensaio sobre a sua verdadeira origem» (Porto 2004) de Manuel Abranches de Soveral e Manuel Lamas de Mendonça)

- João de Castelo Branco, senhor de Antas e alcaide-mor de Castelo Branco. Foi casado com Isabel de Sousa, filha de Isabel de Sousa e Afonso Vaz de Brito, alcaide-mor de Sousa e caçador de D. Manuel I. Em 1508 assassinou a esposa (adultério). Em 1513 participa na conquista de Azamor. Em 1516 ou 17 vai para Espanha onde acaba por morrer.

(16) António de la Torre e Luis Suarez Fernandez - Documentos referentes a las relaciones con Portugal durante el reinado de los Reyes Católicos, vol. II, p. 302

(17) Moreno, Humberto Baquero - A Batalha de Alfarrobeira..., Vol. II, p.1008/9

(18) Carta Régia de 18/4/1468, citada po Anselmo Braamcamp Freire - Brasões da Sala de Sintra. 2º. Edição. Vol. III. Coimbra. p.87

(19) "Pedro dAtayde ho armador que morreo no mar, sem geração, pelejando com huma carraca", Livro de Linhagens de Século XVI. Academia Portuguesa da História. Lisboa. 1956

(20) Moreno, Humberto Baquero - A Batalha de Alfarrobeira..., Vol. II, pp.720-725

(21) Os almirantes pessanha embora já não tivessem relações com Génova, não seriam despropositado aceitarem o nome de "genoveses", tendo em conta o seu longínquo antepassado.

 

Colombo fez questão de afirmar que não era o único almirante da sua família, exigindo nas Capitulações de Santa Fé (1492), o reconhecimento do mesmo estatuto e os privilégios do Almirante de Castela, dos vice-reis de Aragão, etc. Se Nuno Vaz de Castelo Branco tivesse que negociar com os reis de Espanha esses seriam certamente os privilégios que exigiria. 

 

(22) Filhos do 1º Conde de Atouguia:

 

- Martinho de Ataíde, 2º. Conde de Atouguia. 

- Alvaro de Ataíde, 5º. senhor da Castanheira

- João de Ataide, prior do Crato. Tomou, como o seu irmão Vasco, o partido do Infante D. Pedro em Alfarrobeira (1449).

- Vasco de Ataide, prior do Crato

- Joana de Castro, casada com Fernando Coutinho, 4º. Marechal de Portugal

- Filipa de Castro, casada com João de Noronha, alcaide-mor de Óbidos

- Mécia de Castro, casada com Fernão de Sousa, 1º. senhor de Gouveia

- Leonor de Menezes, casada com Gonçalo de Albuquerque, 3º. senhor de Vila Verde de Francos

 

(23) León-Borja, István Szászdi  - Gobierno temporal y espiritual de las Yndias, la carta/instrucción de 20 y 29 de marzo de 1503 y su borrador, in, Derecho y administración pública en las Indias hispánicas : actas del XII congreso internacional de historia del derecho indiano (Toledo, 19 a 21 de octubre de 1998 / coord. por Feliciano Barrios Pintado, Vol. 2, 2002, ISBN 84-8427-180-3 , págs. 1659-1694

 

(24) Gil, Juan - El Exilio Portugués en Sevilla... pp.54-56

 

(25) Freire, Anselmo Braamcamp - Critica e História. Estudos. FCG. Vol. I, 1996, pp.366-367. Publica a relação do recheio apurado e dos escravos. No local onde se situavam as casas foi construído o seminário de S. Patrício, em Lisboa.

 

(26) Juan Gil, ob. cit., revela que o seu filho Afonso teve como ama de leite - Maria Gonzalez de Sarria, viuva de Juan de Marchena, a qual a 27/9/1516, deu poderes ao seu filho, com o mesmo nome do pai, para exigir a Violante de Távora, dinheiro pelos três anos que andou a amamentar o filho de Alvaro de Ataíde.

 

(27) Maria de Noronha, era filha natural de Henriques de Noronha, irmão do 2º. Conde Vila Real e do 1º. de Odemira. Tendo sobrevido ao seu marido - Pedro Vaz de Melo -, por contrato de 10/2/1481 passou as suas terras e senhorio para o seu genro Alvaro de Ataíde (cfr.  Freire, Anselmo Braamcamp - Brasões da Sala de Sintra. Vol. III, pp.289-290)

 

(28) Pedro de Ataide deixou um filho - Fernando de Ataíde, a quem D. Manuel I, por carta de 27/8/1496 reabilitou. A 30/4/1509 deu-lhe a jurisdição da Castanheira e Povos, assim como o senhorio desta vilas. Fernando de Ataíde, casou-se com Leonor de Noronha, filha do segundos barões do Alvito. Fundaram em 1520 o convento franciscano (clarissas) de Nª.Srª. da Subserra da Castanheira.

 

(29) Freire, Anselmo Braamcamp - Brasões da Sala de Sintra. Vol. I. IN-CM. 1973. p.419.

 

(30) Pires de Lima, Durval Rui - História da Dominação Portuguesa de Çafim (1506-1542). 1930

 

(31) DEOS, Frei Martinho do Amor de, Escola de Penitência, Caminho de Perfeiçäo, Estrada Segura Para a Vida Eterna, Crónica da Santa Província de Santo António da Regular, e Estreita Observância da Ordem do Seráfico Patriarca S. Francisco, no Instituto Capucho Neste Reino de Portugal, Tomo I, Lisboa Ocidental, 1740;  Liv. I, Cap. XVIII. A descrição dos epitáfios de Alvaro de Ataíde e esposas está nas páginas 148-9.

 

(32) Os feitos e serviços de Diogo de Ataíde (Diego Ataide) , português, aparecem mencionados em crónicas e muitos documentos na corte castelhana:

- Alcantara, Miguel LaFuente- Historia de Granada, Comprendiendo la de sus cuatro Provincias Almeria, Jaen .....; 

-  Garcia de la Leña, Cecilio- Conversaciones historicas malagueñas...Parte II.Malaga Moderna...

- Guillén Robles - Historia de Málaga y su Provincia. Málaga. 1977

etc.

 

 

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  Carlos Fontes
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