Os
filhos de Duarte de Meneses e de
Isabel de Castro
(Conspiração contra D. João II - 1484 )
Garcia de Meneses, Bispo de Évora e o seu irmão Fernando de Meneses,
cavaleiro da Ordem de Santiago estivera na linha da frente conspiração contra D.
João II.
Eram filhos de Duarte de Meneses (1414-(Lisboa,
1414 - Marrocos, 1464) (2 ), alferes-mor, conselheiro real, alcaide-mor de Beja, 2º. conde de Viana do Minho ,
1º. Capitão de de Alcácer Ceguer (1458-1464) e de Isabel de Castro, filha de
Fernando de castro, governador da Casa do Infante D. Henrique.
Duarte de Meneses era
filho bastardo de Pedro de Meneses, primeiro capitão de Ceuta
(1415-1437) e 1º. Conde de Vila Real.
Eram irmãos de:
- Henrique de
Meneses, 3º conde de Viana do Minho, 1º conde de Valença, 1º conde de Loulé,
alferes-mor de D. Afonso V, 2º capitão de Alcácer Seguer, 1º capitão de Arzila
(1471-1480), onde faleceu em combate contra os mouros.
Era casado com Guiomar, filha dos Duques de Bragança.
- João
de Meneses, mordomo-mor de D. Manuel e D. João II. Conde de Tarouca. Foi capitão de Arzila e de
Tânger;
- Leonor ou Isabel de Meneses, freira em Jesus de Aveiro,
- Meios-irmãos de Maria de Meneses, mulher de D. João de Castro, 2º conde
do Monsanto, e por bastardia de Pedro de Meneses.
Os meneses desde a conquista de
Ceuta, em 1415, que se haviam celebrizado nas suas acções militares no norte de
África, tendo adquirido não apenas fama, mas também uma enorme fortuna (8).
O cronista Gomes Eanes de Zurara na
Crónica da Tomada de Ceuta, coloca em relevo a figura de Pedro de
Meneses, primeiro capitão de Ceuta, pai de Duarte de Meneses e avô de Garcia
de Meneses. Dedica-lhe a Crónica de D. Pedro de Meneses (redigida entre
1458-1463) e ao seu filho bastardo a Crónica de D. Duarte de Meneses
(escrita entre 1464-1468).
O próprio Garcia de Meneses, no
discurso que fez ao papa Sisto IV (31/8/1481), não deixa de referir esta heróica
dos membros da sua familia: O seu avô, Pedro de Meneses, o seu pai, Duarte de
Meneses, capitão de Alcácer Ceguer, que morreu em 1464 para cobrir a retirada de D. Afonso V, e o seu irmão
Henrique de Meneses, capitão de Arzila, que morreu em combate contra os mouros
em 1480.
do Parísio Sículo
1.
Garcia de Menezes, Bispo de Évora e da Guarda
Figura singular no tempo, aliou uma
esmerada formação humanista, a uma longa formação militar em terra e
no mar.
Terá sido na cidade de Santarém, domínio dos meneses, que D. Diogo,
planeou com Garcia de Meneses, e outros conspiradores, como Fernão da Silveira,
a morte de D. João II. O seu irmão, durante o julgamento "confessou" que Garcia
de Meneses terá sido o principal mentor da conspiração, influenciando o próprio
Duque D. Diogo a assassinar o rei.
O Bispo de Évora foi traído pela sua amante, a quem confidenciou os planos da
conjura. O irmão desta - Diogo Tinoco - ao saber do que se estava a preparar informou D. João II. O bispo
acabou preso, em 1484, sendo levado para Palmela onde morreu numa
cisterna.
m
Os pais do cronista
Garcia de Resende - Francisco de Resende e Beatriz Bota, eram criados do Bispo
de Évora, o que poderá explicar certas omissões que fez em tudo o que
disse-se respeito às conspirações de 1483 e 1484.
Garcia
Meneses, bispo de Évora entre 147 e 1484, conhecia bem D. João II. Acompanhou
o monarca, em 1472, na visita ao Convento de
Jesus de Aveiro, para o ajudar a demover a Princesa Joana de tomar o hábito
dominicano, mas sem êxito.
Humanista
Possuía uma excelente formação
humanista, estudou em
Itália, na Universidade de
Perugia, pelo ano de 1468. Os seus dotes
oratórios surpreenderam o papa, como veremos, em 1481 (13). No seu
célebre discurso, defende a guerra contra o Império Otomano, faz a apologia das conquistas portuguesas em África
(14) e das qualidades
guerreiras do povo português na luta contra o Islão. O discurso insere-se
na política africana e continental de D. Afonso V, mas afasta-se
claramente da orientação estratégica atlantista e asiática que D. João II deu
corpo (12).
Destacou-se também pela sua enorme
tolerância, a protecção que deu aos conversos fugidos da Inquisição em Castela.
Bispo-Militar
Como
bispo-militar mostrou-se um verdadeiro homem de armas, sempre pronto a partir para
a guerra:
Em
1475-1476, acompanhou D. Afonso V, na invasão de Castela, tendo
tomado parte da batalha de Toro. A sua acção mais memorável aconteceu, em 1476,
quando Alonso de Cardenas, então comendador-mor de Leão penetra em Portugal
(Alentejo), e o bispo de Évora e Diogo de Castro, comandando um pequeno
exército, fazem uma manobra de envolvimento, infligindo-lhe uma pesada derrota.
-
Em Fevereiro de 1479, o exército português
comandado pelo bispo de Évora, marcha em auxilio de Mérida e de D. Beatriz
Pacheco, irmã do marquês de Villena, condessa de Medellín. O seu irmão Fernando
de Meneses, comanda uma parte das tropas, e num primeiro confronto derrota os
castelhanos. O bispo de Évora acaba por ser
desbaratado por Alonso de Cardenas, então mestre da Ordem de Santiago, na batalha de Albuera, tendo conseguido
refugiar-se em Medelim, onde só saiu depois de terem sido acordadas as pazes,
negociadas por Dona Beatriz, Duquesa de Beja e de Viseu, com a sua sobrinha
Isabel, rainha de castela (11).
- Em
Agosto de 1481, comandou uma frota de vinte e três navios e de dois mil
homens, correspondendo a um pedido de auxílio do papa Sisto IV ameaça
pelos turcos. A armada chegou ao porto de Ostia, entrou pelo Tibre, e atracou em Roma, onde o Pontífice
recebeu e abençoou a tripulação. Pelo meio praticou alguns actos de pirataria.
O bispo de Évora
fez então um célebre discurso, em latim, onde atacou a inércia dos príncipes católicos e a
vida escandalosa de muitos prelados. Impressionado pela sua atitude, o papa
nomeou-o assistente ao sólio pontifício e administrador perpétuo da diocese
da Guarda. Não deixa de ser ilustrativo do estilo deste bispo-militar-humanista
que, para realizar esta viagem com enorme aparato, tenha contraído um enorme
empréstimo, dando como penhor as rendas da Sé de Évora durante dois anos (9).
O seu discurso em latim, a 31/8/1481, perante o papa, em Roma, causou tal sucesso que Cosimo Rosselli (1439-1507), que estava pintar um fresco para a capela de Sistina fez
questão de o retratar, a ouvir Tiago de Almeida,
cavaleiro de Rodes, notabilizado pela sua vitória contra
dois corsários (1 ).
Roma – Capela Sistina, «Sermão da Montanha», pintura
de Cosimo Rosselli (fins do sé. XV).Pormenor com o retrato do Bispo de Évora -
D. Garcia de Meneses (1)
Foi
obra sua a construção da Igreja de S. Brás, em Évora, cujas obras se
iniciarem em 1483.
Falso Perdão
No século XVI Gomes Eanes de Freytas,
escrivão da câmara real (nomeado em 1527), forjou uma carta, onde D. João II
suplica ao papa para o perdoar pela morte do bispo de Évora. Tratava-se
obviamente de um documento falso (10).
1.2.
Fernando de Meneses, o Narizes
Pertencia à Casa do Duque de
Beja-Viseu. Cavaleiro da Ordem de Santiago. Fronteiro de Arzila.
Foi mandado degolar, em Setúbal, em 1484. No julgamento acusou o irmão de ter
sido o principal instigador da conspiração para matar D. João II.
Era casado com Isabel de Castro,
filha de D. Diogo de Castro e de Beatriz Pereira. Foi pai de dois capitães de Tanger: Duarte de Meneses, o de
Évora (c.1470-1532), um notável militar, alcaide-mor do Sabugal e Alfaiates, e
capitão de Tanger (1522-1532), e João de Meneses, o Craveiro.
1.3. João de Meneses, Conde de Tarouca
Dos filhos de
Duarte de Menezes e de Isabel de Castro, a grande excepção pela sua fidelidade a
D. João II foi João de Meneses
(c.1460-1522), embora fosse muito próximo de D. Manuel.
Mordomo-mor da Casa de D. João II. Foi capitão de
Arzila (1482-85) e de Tanger (1486-1489 e
1501-1508), general de uma armada contra o Turco (1501). Prior do Crato (1508, após enviuvar), comendador de Sesimbra da Ordem de Santiago,
mordomo-mor de D. Manuel I, que lhe deu também o título de Conde de Tarouca
(1499). Mordomo-mor de D. João III, alferes-mor (1521).
2.
Cristovão Colombo e o marquês de Vila Real,
encontram-se Março de 1493
Na linha legitima de Pedro de
Meneses, 1º. capitão de Ceuta, surge outra personagem que se irá também cruzar
com Cristovão Colombo: o 1º. Marques de Vila Real,
Pedro de Noronha e Menezes .
Filho de
Fernando de Noronha e de Brites de Meneses,
2ª. condessa de Vila Real
Pedro de Noronha e
Meneses (1420- 1499) foi uma das figuras mais
importantes do seu tempo. Era o 7º. Conde de Ourém(1489-1499) , 3º. Conde de Vila
Real (1445-1490), e depois 1º. Marques de Vila Real (1/3/1489-1499), Senhor de
Aveiras, Almeida, campo de Ulmar (Monte Real), S. Pedro de Muel, etc.
Alcaide-mor de Leiria.
Foi também senhor das Canárias.
Era casado com Beatriz de Bragança,
irmã do Duque de Bragança decapitado em 1483.
Governador de Ceuta. Participou na Batalha de Toro.
Fez parte dos juízes que condenaram à morte do Duque de Bragança, em 1483.
Estava
presente com D. Manuel (futuro rei), quando Colombo visitou a
Rainha Dona Leonor, no Convento de Santo António da Castanheira, em V. Franca de Xira (Março
de 1493). Mais
D. Manuel I protegeu de forma
especial o seu filho - Fernando de Meneses -, concedendo-lhe o título e 1º.
Conde de Alcoutim (1496-1499), 2º. Marquês de Vila Real (1499-1524) e 2º. Conde
de Valença (1499-1524). Fê-lo também capitão de Ceuta (1491-1509). O panteão familiar
dos meneses está em Santarém, nos Conventos
de São Francisco e da Graça.
3. Arzila, João de Meneses e Cristovão
Colombo
Cristovão Colombo,
quando e Maio de 1502, partiu para a sua última viagem às Indias, resolve mudar
de planos e dirigir-se para Arzila afim de socorrer os portugueses que na altura se encontravam
cercados pelos
mouros, fazendo questão de ser o primeiro a fazê-lo.
A capitania de Arzila
desde 1490, tinha sido dada por D. João II a título hereditário a
Vasco Meneses Coutinho,
que exerceu o cargo até 1514, embora não de forma ininterrupta.
Quando Colombo foi a
Arzila, o capitão era na altura João de Meneses (1460-1514) (5), um
experiente militar nas guerras de África, cunhado de Vasco Meneses Coutinho. Era filho de
João de Menezes,
4º senhor de Cantanhede e de Leonor da Silva, e irmão de Pedro de
Meneses, 1º. Conde de Cantanhede.
Casou-se com a Isabel de Mendanha (7), filha de Pedro de Mendanha
(Mendaña),
o valoroso alcaide de Castronuño (Castela), que durante a guerra de 1475-1479 se refugiu em Portugal.
Cavaleiro da Ordem de Santiago. Alcaide-mor do Cartaxo, comendador de Aljezur
(da Ordem de Santiago) e de Mogadouro. D. Manuel I fê-lo camareiro-mor do
principe D. João, depois D. João III.
Foi capitão de Arzila (1496,
1502-1505), Azamor (1508). Tinha uma larga experiência na
guerra no Norte de África. Em 1505 saqueou o porto de Larache. Em 1508, tentou sem êxito, conquistar
Azamor. A conquista só se concretizou, em 1513, numa expedição comandada pelo Duque de Bragança
- D. Jaime, mas na qual João de Meneses foi como vice-comandante. Em 1514 obtém
a sua mais memorável vitória militar na célebre batalha dos Alcaides. As
forças do rei de Fez eram em número muito superiores (4).
João de Meneses foi
o guarda-mor do
príncipe Afonso, filho de D. João II. Foi também a única testemunha do
acidente que o vitimou o príncipe
em Alfange de Santarém, no dia 13 de Julho de 1491.
Com medo do que lhe poderia acontecer, fugiu para Castela, e só regressando a
Portugal a pedido do próprio rei (6).
Este infeliz acidente
possibilitou a ascensão ao trono de D. Manuel I, que acabou por compensar mais
tarde João de Menezes...
A ação de Colombo tratou-se de um sinal da sua posição durante as
conspirações de 1483-1484 ? Recorde-se
que nesta operação, Colombo colocou em risco a 4ª. e última
expedição que fez às Indias. Mais |