Odemira / Vila
Nova de Milfontes
Odemira foi
reconquistada aos mouros por D. Afonso Henriques (1166). Em Odemira,
assumiu uma enorme importância na defesa do litoral alentejano, e na
fronteira do "Reino do Algarve". Ciente deste facto, D. Afonso III (1256),
deu-lhe o primeiro foral e concedeu o foro de cavaleiro ao seu alcaide (4).
O seu
primeiro foral foi-lhe dado por . Constituiu um verdadeiro enclave
real, dentro dos vastos territórios da . Foi uma das
terras que, durante a crise de 1383/1385, tomou partido por D. João I,
mestre da Ordem de Aviz.
Ao longo da
costa alntejana, depois do rio Sado, destacava-se pela sua importância
o rio Mira, na navegável até Odemira (2), o permitiu
que se constitui-se como um importante meio de transporte e via de comunicação para o interior
do Alentejo. O porto de Odemira, por volta de 1319 já é destacado pela
sua importância, fazendo transportes outros reinos, como a França. Ao
longo das suas margens foram surgindo muitas actividades, com a moagem através de moinhos de maré,
pescarias, transportes de mercadorias, etc.
3.1.
Ordem de Santiago de Espada
A Ordem de
Santiago, como dissemos, dominava toda a costa a sul do Tejo, possuindo
entre muitas outras terras Palmela, Setúbal, Alcácer do Sal, Santiago do
Cacém, Sines e Odemira.
D. João II
foi grão mestre de Santiago, e à qual pertencia grande parte da família
de Colombo. Mais
Foi D. Afonso II
que doou Odemira à Ordem de Santiago de Espada. Esta em 1245 deu o seu
castelo ao bispo do Porto - Pedro Salvadores. O almirante Manuel
Pessanha, a 24/9/1319, recebe a vila e o castelo de Odemira, bem como o
Reguengo de Algés, entregue a título de feudo hereditário. Entre 1329
e 1352, Odemira, volta pela última vez, à posse dos santiaguistas.
Ao longo dos
séculos os domínios da Ordem na região foram sendo desagradados para
darem origem a outras concelhos:
Santiago
do Cacém, deu origem ao concelho de Sines. Este concelho, por
sua vez, foi desmembrando no concelho de Milfontes (1486) (8).
Este último deu origem ao de Colos ou Collos (1499) (7) e
depois ao concelho do Cercal.
3.2.
Porto de Corsários
Vagando o
cargo de almirante-mor do reino, por morte de Nuno Fernandes Cogominho, D. Dinis,
resolveu modernizar a marinha de guerra. É nesse sentido que contrata,
em 1317, o genovês Manuel Pessanha (Emanuele
Pessagno), como almirante. Dou-o lhe, em 1319, a vila e os Castelo de
Odemira.
Uma das
principais funções e de rendimento do Almirante era justamente a
pirataria e o coros. Odemira torna-se numa das principais
bases de corsários de Portugal. Pessanha era justamente especialista
na guerra com galés que assaltavam os navios que passavam ao longo da costa.
O contrato então firmado exigia que o mesmo tivesse constantemente ao
seu serviço 20 genoveses experientes na guerra com galés. Perto de
Milfontes (Odemira) existe uma povoação cujo nome - "galeado"- evoca
estas actividades de
saque e de guerra.
Odemira,
como vimos, entre 1329 e 1352 voltou à Ordem de Santiago. A 8/6/1357
Lançarote Pessanha, filho de Manuel Pessanha e de Leonor Afonso
recebeu Odemira. Face às complicações amorosas em que se envolveu, em
1361, viu-se obrigado a refugiar-se em Castela. D. Fernando,
em 1371, confiou-lhe de novo Odemira, em virtude da sua acção no bloqueio de Sevilha. No
entanto, durante a crise de 1383-85, foi assassinado no Castelo
de Beja, em virtude de ter tomado o partido de Castela.
O
seu filho - Manuel Pessanha - , ainda fez uma intervenção militar de
algum relevo contra os castelhanos
em 1384 (6). Foi o último acto de uma familia de almirantes e
senhores de Odemira de origem genovesa.(9)
Apesar desta
base de corsários em Odemira, a povoação situada junto à foz do rio Mira
- Milfontes - foi várias vezes atacada por piratas. Na segunda metade do século XV
sofreu um devastador
saque por piratas argelinos. D. João II
refunda-a em 1486, e em 1495, foi elevada à categoria de vila.
D. Manuel I volta a
impulsionar o seu repovoamento, dando-lhe novo foral, já com o nome de Vila
Nova de Milfontes (1512), dando aos colonos importantes privilégios. Os piratas
continuaram a assolar esta povoação. Em 1590, por exemplo, foi atacada por
corsários que a destruíram. Anos depois foi construído o Forte de São
Clemente (1599 e 1602).
3.3. Nobreza
Várias familias nobres, para
além da família Pessanha tinham ligações muito fortes a Odemira e à sua
região. Poderá estar, numa delas, a chave para descobrir a razão
porque Colombo, em 1496, no regresso da América escolheu
intencionalmente aportar a esta povoação.
-
Gama
Estevão da Gama, pai do célebre
Vasco da Gama (5), cavaleiro da Ordem de Santiago, homem de
confiança de D. Fernando (10), Duque de Beja-Viseu, de D. Afonso V e de D.
João II, foi capitão e alcaide-mor de Sines (1478), senhor de Colos (Odemira), comendador santiaguista do
Cercal (1478).
Pertencia à casa dos duques de Beja-Viseu e à ordem de Santiago de
Espada, embora a sua familia estivesse tradicionalmente ligada à
Ordem de Avis.
Alguns historiadores têm colocado a hipótese de
Estevão da Gama ter estado envolvido na conspiração de 1484, a mesma em
que Colombo, aparentemente, participou. A verdade é que depois desta
data, deixa de constar na documentação. D.João II, para assegurar o
controlo da região, em Maio de 1485 visita Odemira, e inicia pouco
depois a desagregação do concelho de Sines.
Colombo ao dirigir-se para Odemira, em
1496, estaria a ir ao encontro dos seus cúmplices?
- Braganças
e Monizes
Odemira foi doada a Sancho de
Noronha, comendador-mor da Ordem de Santiago de Espada.
O
casamento da sua filha e herdeira do título, traduziu-se na
transferência de Odemira para os braganças, na pessoa de Afonso de Bragança, 1º. Conde de
Faro e 2º. Conde de Odemira.
Este conde esteve envolvido, em 1483, na conspiração contra D.
João II. Fugiu para Espanha onde manteve, como o seu filho e sucessor
Sancho de Noronha ( 3º. Conde de Odemira), uma ligação intima com Cristovão Colombo.
Sancho de
Noronha era casado Francisca Pereira da Silva, filha de Diogo
Gil Moniz, vedor da Fazenda do Infante D. Fernando, Duque de Viseu e
de Beja, e de Leonor da Silva, filha de Rui Gomes da Silva e de Branca
Almeida, tutores de Filipa
Moniz Perestrelo.
Recorde-se
que, em 1502, Colombo dirigiu-se a Arzila para socorrer os portugueses
que se encontravam cercados pelo rei de Fez, entre eles estava Pedro
Moniz da Silva, primo de Filipa.
Mais
Alvaro de Bragança e
Odemira. O historiador A. Alberto Gonçalves, em "Portugal e a sua
História", editada no Porto, em 1939, afirma que Alvaro de Bragança foi
alcaide-mor de Odemira e que fundou, no lugar do "Espinhaço da
Cabra", um convento franciscano, autorizado por uma bula do papa Júlio
II. Desconhecemos as fontes documentais destas afirmações.
O Convento
de Santo António (franciscano), protegido pelos Condes de Odemira, foi
fundado em Odemira, apenas em 1513, nove anos depois de Alvaro de
Bragança ter falecido.
3. 4.
Comunidade Judaica
Em Odemira,
tal como em Sines, Santiago do Cacém, Colos ou Cercal
existia, no século XV, uma importante comunidade de judeus.
A Condessa
de Odemira - Maria Henriques de Noronha - tinha, em 1495, como feitor um judeu:
Jacob Rubio ou Ruivo.
No ano em
que Colombo visita a vila, vindo da América, D. Manuel I decreta a
"expulsão" dos judeus de Portugal.
Entre os muitos judeus que se recusaram a
converterem-se ao cristianismo, conta-se Damião de Odemira. Fugiu
para Itália, onde publicou um dos primeiros tratados do mundo de xadrez,
um jogo que D. João II era um verdadeiro mestre.
3.6. Estadia de Colombo em
Odemira
Colombo,
no regresso da sua
segunda viagem às "Indias" (América), depois de se ter dirigido para
os Açores, veio directamente para a costa do Alentejo com duas
caravelas (India e Niña), tendo aqui chegado a 8 de Junho de 1496.
Hernando
Colón (Hist. Colón, cap.LXIV), revela que embora os pilotos estivessem
completamente perdidos, Colombo sabia muito bem onde estava e para onde
se dirigia, e fez mesmo questão de o anunciar na noite anterior.
Preparou o navio para a chegada a terra "moderó la furia de las velas."
Entrou no Rio Mira (1),
passou por Milfontes,
povoação criada por D. João II, no ano anterior (Outubro de
1495), quando aqui passou a caminho de Monchique (Algarve).
Colombo
subiu o rio Mira na direcção de Odemira, cujo condado foi reconstruído por D.
Manuel I justamente na Páscoa deste ano (1496).
Terá passado
dois ou três dias entre Milfontes e Odemira, pois só no dia 11 de Junho de
1496 chegou a Cadiz.
A grande incógnita está em saber o que
andou aqui a fazer, com quem se encontrou, que informações transmitiu
aos portugueses, etc.
Milfontes. Povoação, junto à
foz do Rio Mira, pertenceu aos domínios da Ordem de
Santiago de Espada ( a Ordem a que pertencia a família de Colombo).
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