Carlos Fontes

 

 

   

Cristovão Colombo era (mesmo) Português ?

 

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17. Lugares em Espanha

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Porto de Santa Maria (Puerto de Santa María- Cádiz ).

A poderosa Casa de Medinaceli estava ligada à nobreza portuguesa. Nas guerras de sucessão no século XV, tomou o partido de Portugal. Participou com a Casa de Medina Sidónia em movimentos de rebelião contra Castela/Espanha. Não admira que pois um Duque de Medinaceli tenha sido um dos primeiros apoiantes de Colombo. A matriz destes apoios é sempre a mesma.

a ) Casa de Medinaceli

O Duque de Medina Sidónia, ao que tudo leva a concluir, envolveu o seu primo Luis de la Cerda y Mendonza (1438-1501), . Duque de Medinaceli, na protecção de Colombo (14). Este embora tenha remetido o apoio à viagem para a Corte, alojou-o na sua casa durante dois anos (1485-1486). Mais

Luis de la Cerda era o Iº. Duque de Medinaceli (1479) e  Iº. Conde del Puerto de Santa María, membro de uma familia ligada por laços familiares aos Duques de Medina Sidónia, mas também a Portugal (11). 

A sua filha e herdeira - Leonor de la Cerda - casou-se em 8/4/1493, com Rodrigo Mendonza, Marquês de Cenete, filho da nobre portuguesa - Mencia de Lemos e do cardeal Pedro de Mendonza. Mais

Condes de Faro e Odemira

As ligações dos Duques de Medinaceli a Portugal reforçaram-se a partir do momento que Colombo foi para Espanha. Os Duques de Medinaceli, por vontade expressa de Isabel, a Católica, uniram-se aos condes de Faro e Odemira (15).

O II Duque - Juan de La Cerda (1485-1544) -, casou-se em primeiras núpcias com Mencía Manuel de Portugal (1487-1504), filha de Afonso de Bragança, Iº. Conde de Faro (Portugal). Foi a fundadora do mosteiro de Nossa Senhora de Santa Maria Victória (1504), no Puerto de Santa Maria  (13).  

Juan de la Cerda votou a casar-se, em segundas núpcias, com uma fidalga de origem portuguesa - Maria da Silva y Toledo, .filha de Juan da Silva, III Conde de Cifuentes, o grande amigo de Alvaro de Bragança e do Conde Faro.

O III Duque - Gaston de la Cerda y Portugal (1504-1552-, filho de Mencia Manuel e Juan de La Cerda, era débil mental e coxo,  e por vontade do seu pai vestiu o hábito de S. Jerónimo, e depois ingressou na Ordem militar de Malta, afim de permitir a sucessão no seu irmão por consanguinidade (12). No entanto, o seu tio - Fradique de Portugal, arcebispo de Saragoça, conseguiu que o mesmo se pudesse casar e sucedesse no título de Duque.

O IV Duque - Juan de la Cerda ( ? -1575), casou-se, em 1541, com Joana de Noronha Manuel de Portugal, dama da Imperatriz Isabel de Portugal. Era filha de Sancho de Noronha, II Conde de Faro e Odemira.

O V Duque - Juan de la Cerda (1544-1594), filho dos anteriores, veio a ser embaixador extraordinário em Portugal, tendo manifestado a D. Sebastião, em 1578, a sua discordância pela sua intervenção pessoal em Marrocos.

Os Condes de Faro, através da sua ligação aos noronhas, eram parentes de Filipa Moniz Perestrelo esposa de Cristóvão Colombo.

É por esta razão que este quando regressou da sua 1ª. Viagem à América, em 1493, fez questão de ficar um dia em Faro. No regresso da 2ª. viagem, em 1496, dirigiu-se directamente para Odemira (Alentejo, Portugal), ambos domínios dos Condes de Faro e de Odemira. No mínimo tratou-se de visitas a familiares.

 

b ) Porto de Santa Maria (Puerto de Santa María)

Este porto situado no interior da Baia de Cádiz, pertencia era desde 1368 à casa dos condes de Medinaceli, sendo em 1479 elevado a Ducado. Era onde residia o Duque de Medinaceli quando, em 1484, Colombo o visitou e terá sido aqui que se alojou.

1 ) Á semelhança do que acontecia com toda a Andaluzia, ao logo da baixa Idade Média, foi sempre muito intenso o comércio marítimo de Portugal com esta região (5).

2 ) Nos séculos XV e XVI possuía uma numerosa comunidade portuguesa, constituída por pescadores do Algarve, mercadores, militares e muitos outros portugueses (2). Está assinalada a presença de muitos judeus portugueses neste porto, que desempenhava um importante papel no abastecimento das praças portuguesas do norte de África, mas também na recolha de informações sobre as atividades espanholas nas Indias Ocidentais (América).

Não admira por isso, que o principal monumento do porto - o Monasterio de Nuestra Señora de la Victoria -, fundado por uma portuguesa (Mencia Manuel Bragança e Noronha), tenha não apenas uma forte influência portuguesa (Mosteiro da Batalha) (3), mas tenha sido obra de canteiros portugueses.

3 ) Neste porto se apetrechou a caravela Santa Maria, de Juan de La Cosa, o piloto que participou na 1ª. Expedição às Indias (1492). Era de origem espanhola, mas durante anos esteve ao serviço de Portugal, tendo ido às suas rotas secretas na Guiné. Era um homem de confiança de D. João II. Em meados de 1492, estava com a sua nau - Santa Maria - no porto de Palos de La Fronteira. Colombo fretou o seu navio para a 1º. viagem. A coincidência era total. Na 1ª. Viagem de à América, combinado com Colombo, afundam na noite de Natal de 1492, a nau Santa Maria. Este foi o pretexto para deixarem nas Antilhas os espiões dos reis de Espanha. Desta forma impediam que os mesmos falassem sobre o que haviam de facto descoberto, e por outro lado garantiam que a  voltariam às Antilhas para os salvar. No regresso, em Lisboa, Juan de la Cosa é pago por D. João II pelos serviços efectuados.(1)

4 ) Juan de la Cosa realizou entre 1500 e 1502, um mapa onde aparece pela "primeira" cartografadas as "Indias" descobertas por Colombo . A informação que o fornece aos espanhóis, oito anos depois da sua descoberta. Colombo terá autorizado a idvulgação do mapa, o que explica porque a informação que nele está continue a ser muito reduzida e cheia de erros de modo a manter os espanhóis na ignorância.

No mesmo ano que Juan de La Cosa faz o seu mapa, os portugueses já tinham uma mapa da região onde cartografavam as costas do Brasil, as Antilhas ( Indias Ocidentais) e até a Florida (EUA), o célebre Mapa de Cantino (espião italiano que o copiou em Lisboa). Os portugueses sabiam muito mais do novo continente dos que os espanhóis. 

Consulte na Internet os dois mapas e veja a enorme diferença de informações e detalhes, isto apesar do espião italiano não ser cartógrafo nem ter andado 8 ou 9 anos anos a reunir dados.  

 

C ) Marqueses / Duques de Cádiz

Os Ponce de León eram os grandes senhores de Cádiz. Durante a guerra de sucessão, quando D.Afonso V reclamou o trono de Castela (1474-1479),  Rodrigo Ponce de León, II Marquês e I Duque de Cadiz, I marquês de Zahara, III Conde de Arcos, VII Senhor de Marchena e senhor de Rota, apoiou ativamente a causa de Portugal. A ligação com os portugueses era muito anterior. Em 1471, por exemplo, recorreu aos serviços de um corsário português - João da Silva - para combater o Duque de Medina Sidónia.

Os navios de Cádiz não participaram na guerra entre Castela e Portugal (1474-1479) (6), o que revela bem a neutralidade que a população da cidade procuram manter durante o conflito.

Rodrigo Ponce de León, era casado em segundas núpcias com Beatriz Pacheco y Portocarreiro, filha de Juan Pacheco (marquês de Villena) e de Maria Portocarreiro, ambos nobres de origem portuguesa. Mais

D ) Cádiz

Os portugueses frequentavam com regularidade o porto de Cadiz, onde se veio a estabelecer uma importante comunidade.

Durante as lutas entre internas em Castela, em 1369,  uma esquadra portuguesa arrasou a ilha de Cadiz, que havia declarado o apoio a Henrique. Na guerra entre Castela e Portugal, uma outra esquadra portuguesa, em 1397, assaltou e incendiou o porto de Cadiz. A 16 de Maio deste ano, uma esquadra de Tavira (Algarve) atacou Sanlucar de Barrameda e Cadiz tendo aprisionado grande número de navios. O historiador Sancho de Sopranis refere um outro ataque português a Cadiz, no principio do século XV, mas sem grande fundamentação histórica (8).

Depois da conquista de Ceuta (1415), Cadiz eram um dos principais centros de abastecimento das praças portuguesas do Norte de África. Duas famílias radicadas na cidade estiveram particularmente envolvida neste apoio a Portugal:

Os Estopinán. Bartolomé de Estopinán y Vargas ( ? -1470), foi um valoroso capitão em África ao serviço de D. Afonso V, rei de Portugal. Era comendador e cavaleiro da Ordem de Cristo. O seu filho - Bartolomeu Estopinán (? -1478), andou também ao serviço deste rei em África, onde morreu como capitão em Mazagão. O neto de Bartolomé de Estopinán y Vargas foi o conhecido Pedro de Estopinán Virvés, o conquistador de Melilla. Outros membros desta família serviram e morreram ao serviço Portugal (6).

Os Chirino-Valera. O célebre Mosén Diego de Valera (1412?-1498), por exemplo, escreveu para D. Afonso V, um Tratado de Armas (Heraldica). O seu filho Carlos Valera (Charles de Varela), foi mandatado para comandar em 1476 uma desastrada armada contra os domínios de Portugal na Guiné, mas acaba por atacar e roubar navios castelhanos ...

A comunidade portuguesa era muito numerosa, andando envolvida com os corsários e piratas da cidade.O conhecido corsário português - Pedro Vaz de Castelbranco -, atuava neste porto, onde acabou por ser preso (7).

 

Entre os muitos negócios que os portugueses tinham no porto, destacava-se o do tráfico de escravos, que sofre um enorme incremento a partir de 1503 (10).

 

E ) Jerez de La Fronteira.

 

Os portugueses tinham nesta cidade, desde a sua conquista aos mouros uma importante comunidade: O Bairro do Algarve, situado dentro dos seus muros, junto da Judiaria (9).

 

 

F ) Tribunal do Santo Ofício de Cádiz

 

Os portugueses foram das principais vítimas do Tribunal do Santo Ofício de Cádiz. Uma perseguição que lhes foi movida até ao fim da Inquisição em Espanha. Mais

Carlos Fontes

 

  Notas:

( 1 ) Juan de La Cosa voltou às Indias em 1510, onde veio a falecer. 

(2) Consultar:

- Sancho Mayi, Hipolito - Historia del Puerto de Santa Maria desde su incorporacion a los domínios cristianos en 1259 hasta el año mil ochscientos. Ensayo de una Sínteses. Cádiz. Escelier. 1943. pp. 174-175

- Sancho Hipolito e Barris, Rafael - El Puerto de Santa María en el Descubrimento de America. El Puerto de Santa Maria. Academia de Belas Artes Santa Cecilia. 1992. pp. 38, nota 64

- Iglesias Rodrigues, Juan -José - El Puerto de Santa María. Caiz. Diputacion Provincial. 1985, pp.44-45, 53-54

- Sancho de Sopranis, Hipólito - La Colonia Portuguesa en el Puerto de Santa Maria, siglo XVI. Notas y Documentos Inéditos, in, Sociedad de Estudios Historicos Jerazanos, 1ª. Série, nº. 6, Larache. 1948

(3) Garcia Pazos, Mercedes - Estilo y Significado del Monastero de la Victoria, in, Revista de Historia de el Puerto, nº.43 (2009, 2º. Semestre), pp.11-67

(5) Moreno, Humberto Baquero - Relações Marítimas e Comerciais entre Portugal e a Baixa Andaluzia nos Séculos XIV e XV, in, Universidade do Porto

(6) Saus, Rafael Sánches - Cádiz en la Época Medieval, in, História de Cadiz: De la Antiguidad à  siglo XX..., Silex..2005, p.252

(7) Herrero, José Sanchez - Corsarios y Piratas entre los comerciantes gaditanos ....

(8) Os portugueses estiveram ligados as outros grandes assalto de Cádiz. Em 1596, uma esquadra inglesa e holandesa, onde seguiam dois filhos de D. Henrique, Prior do Crato: Cristovão de Portugal (1573-1638), seu sucessor e Manuel de Portugal (1568-1638). Esta esquadra destruiu Cádiz e a frota espanhola que estava no porto, tendo no regresso atacado a cidade de Faro (Algarve).

Durante o domínio de Portugal pelos espanhóis (1580-1640), milhares de portugueses juntaram-se aos ingleses e holandeses para atacarem a Espanha e os seus domínios, mas também as terras portuguesas que os mesmos controlavam.

Cristovão de Portugal casou-se com Emília Nassau, filha de Guilherme I, Orange-Nassau.

(9) Jimenez, Gonzalez e Gomes, Gonzales - El Libro del Repartimiento de Jerez de la Frontera. Cádiz. Diputacion Provincial. 1980. p.XXVII

(10) Alonso Franco Silva publicou importantes estudos dos o trafico de escravos e os negreiros nesta região da Andaluzia.

(11) Entre os seus antepassados mais ilustres contam-se:

- Juan Alfonso de la Cerda, que se casou em Santarém, no ano de 1318, com María de Portugal, filha do Rei D. Dinis de Portugal.

- Luis de la Cerda (1290 -1351) que se casou com Leonor de Guzmán, senhora de Huelva e do Porto de Santa Maria, cuja neto Martim Gonçalves de Lacerda, nascido em 1350, casou-se com Violante Álvares Pereira, filha de Álvaro Gonçalves Pereira, Prior do Crato (Portugal)

Luís de la Cerda esteve envolvido na disputa das Canárias entre Portugal e Castela. Em 1344 o papa Clemente VI, concedeu-lhe, assim como aos seus herdeiros e sucessores, um feudo perpétuo sobre as Ilhas Afortunadas ou Canárias para nelas promover a difusão da fé católica. O Rei D.Afonso IV de Portugal recusou esta doação, mantendo-se o conflito em aberto até finais do século XV.

(12) Medina, Raul Romero - Señores y Mecenas. Los Condes de el Puerto de Santa Maria y el Arte (siglos XV-XVIII)...

(13) Mencia Manuel de Portugal (Mencia Manuel de Bragança Noronha), encontra-se sepultada no mfosteiro de San Blas de Villaviciosa (Gaudalajara) cfr. Sanchez Gonzalez, A. - La Fundacion del Monasterio de santa Maria de la Victoria: un proyecto frustado de panteón familiar permanente de la casa ducal de medinaceli, in, Revista de Historia de el Puerto, 34, 2005, pp.53-77.  

(14) Um facto importante sobre esta familia ducal: quase eram cavaleiros da Ordem de Santiago de Espada. A ordem militar a que Colombo estava ligado em Portugal.

(15) Isabel, a Católica, procurou casar o 1º. Duque de Medinaceli (então viúvo), com a filha do Conde de Faro (Cfr. Zurita, J. - Anales de Aragon, Libro IV, cap.54), recusou a oferta alegando ser muito velho. Em Agosto de 1501, toma a iniciativa casar o seu filho e sucessor (Juan de la Cerda) com a filha do Conde de Faro, a jovem que lhe havia sido indicada pela rainha castelhana. ( cfr. Antonio Sanchez Gonzalez - Medinaceli y Colón. La Otra Alternativa del Descubrimiento... p. 264) 

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