Almirante
Mor de Portugal: Pedro de Albuquerque
O
inventário dos pagamentos feitos a exilados
portugueses pelos reis espanhóis, pode ser uma importante pista para
descobrir a verdadeira identidade de Colombo.
Não nos podemos esquecer que o mesmo fugiu de Portugal, em 1484, após
mais uma conspiração para assassinar D. João II. Alguns dos nobres que
receberam dinheiro destes reis são um autêntico mistério
para os quais não se encontra nenhuma explicação.
Um
dos nomes mais misteriosos é o de um "Almirante português" que, em 1492, recebeu a
quantia de 60.000 maravedís (1).
O facto reveste-se da maior importância, num ano que a Espanha iniciava
a sua expansão marítima.
Quem
seria este almirante ? Cristovão Colombo? As hipóteses sobre a
sua identidade reduzem-se a duas: Pedro de Albuquerque ou Cristovão Colombo.
No caso de ser Colombo,
este pagamento prova de forma inequívoca a sua origem portuguesa.
Recorde-se que em 1486 foi identificado como português num documento similar da corte
espanhola.
Os
resultados a que temos chegado são simplesmente surpreendentes, e apontam de
forma precisa para esta possibilidade, permitindo inclusive solucionar inúmeros
mistérios. As
investigações prosseguem.
1. Pedro de Albuquerque
Pedro
de Albuquerque, almirante-mor de Portugal fez parte da conspiração contra
D. João II liderada por D. Diogo, Duque de Viseu e de Beja. Tinha como missão,
reter o rei em Setúbal, para o matarem e sublevar a fortaleza da Ordem de
Santiago. O seu irmão, Lopo de
Albuquerque, Conde de Penamacor esteve igualmente envolvido na conspiração.
A família de Pedro de Albuquerque já foi aqui analisada no essencial, tendo sido destacadas duas personagens: o seu irmão Lopo de
Albuquerque e o seu sobrinho Mendes de Segura. Quem era este almirante de Portugal ?
Sabemos
muito pouco desta personagem. Em 1460, como veremos, foi preso em Aragão
por andava, como capitão duma nau, com o seu irmão Henrique, capitão dum
barinel, a roubar fustas, pessoas e bens dos aragoneses (17).
Em 1462, no "Livro das moradias da
casa do senhor Rey D. Afonso V", aparece mencionado como "cavaleiro fidalgo".
Capitão e Governador de Ceuta. Durante
dois anos (1462 e 1463) foi nomeado capitão e governador de
Ceuta, praça estratégica no Estreito de Gibraltar, mas também uma
importante base dos piratas e corsários portugueses.
Durante o curto período em que foi
capitão de Ceuta, registaram-se dois importantes acontecimentos:
- O Duque de Medina Sidónia
quando cercou Gibraltar, viu-se em dificuldades pela falta de mantimentos, tendo
pedido auxilio aos portugueses. Pedro de Alburquerque não só o prestou, como fez
questão de ser o primeiro a fazê-lo, só dando noticia do pedido auxilio mais
tarde a Duarte de Meneses, capitão de Alcácer Ceguer (20).
- Estabeleceu, a 10 de Abril de
1463, o primeiro tratado comercial entre portugueses e africanos (19).
Sabemos
que, em 1462, D. Afonso V realizou uma expedição de
socorro a esta praça, e no ano seguinte tentou conquistar Tânger por terra e
mar. Trata-se de um dos períodos decisivos na expansão portuguesa: Inicia-se
povoamento de Cabo Verde (1462); a
Casa da Guiné é
transferida de
Lagos para Lisboa (1463), impondo-se um processo de centralização das
expedições marítimas; Henrique IV de Castela doou as Canárias aos Condes de
Atouguia (1463), navega-se já a sul do Cabo Mensurado (actual Libéria),
etc.
D.
Afonso V, em carta datada de a 14/11/1466, aparece de novo mencionado
como "fidalgo da nossa casa", e pelos "muitos e estremados serviços" que lhe
prestara deu-lhe os julgados de Avelãs e Sangalhos.
Em
1468 casa-se com Catarina Costa irmã do célebre cardeal de Alpedrinha.
Uma mulher que enfrentou, em 1484, D. João II e levou consigo para Sevilha, a
marquesa de montemor-o-novo, sobrinha de Colombo.
Entre
1469 e 1474 realizou uma ou mais importantes missões ao serviço do rei,
pelo qual recebeu uma importante quantia de dinheiro.
Em
1471, em Outubro, o rei dá-lhe a alcaidaria do Sabugal, por morte
do Conde de Marialva.
Em
1475 recebe ordens de D. Afonso V para travar uma possível invasão dos
castelhanos. Era nesta altura capitão do Sabugal e Alfaiates. É neste
ano que o rei lhe faz várias mercês dando-lhe, por exemplo, duas moradas na
Rua da Ferraria em Lisboa. A carta do rei, datada de 16/10/1475, refere os
muitos serviços que este lhe prestou em Castela, como em Portugal, África e em
outras partes (15).
D. João II, a 3/10/1483,
trata-o como "fidalgo da nossa casa" e do "nosso conselho", revelando a alta
posição que continua a ocupar na corte. Nomeia-o almirante
-mor de Portugal (16), cargo que aparentemente o terá obrigado a entregar os
castelos do Sabugal e Alfaiates. Para o compensar de algum prejuízo deu-lhe
também as lezírias da Azambuja, rendas em Sintra e Alhandra.
Poucos
meses depois de ser nomeado almirante-mor aparece envolvido na conspiração de Agosto de 1484.
Foi acusado, julgado e aparentemente executado em Montemor-o-Novo.
A
sua história é todavia mais misteriosa do que se pensa, e são múltiplas as ligações
a Cristovão Colombo. A vida de um e outro andam estreitamente unidas.
1.1.
De Corsário a
Almirante-Mor
A
nomeação de Pedro de Albuquerque para almirante -mor tinha que traduzir o
reconhecimento real da sua sólida formação
náutica e capacidades de comando. Estamos perante o cargo mais elevado da
marinha portuguesa, num altura que era a mais poderosa do mundo.
O
mistério deste almirante português, revela-se de imediato quando estudamos os
corsários portugueses dos reinados de D. Afonso V e D. João II. Em 1460,
o rei de Aragão - Juan II - comunica a prisão de dois corsários portugueses
que andavam a saquear navios no Mediterrâneo: Pedro de Albuquerque e o seu
irmão Henrique ( 8 ). Desde o inicio do século XV que corsários
portugueses percorriam o Mediterrâneo, nomeadamente os mares da Sicilia (9)
No Rol de
despesas da Fazenda Real no período que medeia entre 1470 e 1474,
aparecem a listagem daqueles que foram pagos por expedições no mar (4 ). Três
nomes destacam-se desde logo:
-
"Pero d`Albuquerque" que recebeu 2.500 dobras.
-
"Pedro João Cullão", que recebeu por 4 vezes, 22.000 dobras.
-
"Pero d`Ataíde" por uma expedição ao cabo de Gué, 800
dobras.
A
listagem infelizmente não nos permite estabelecer as datas em que foram
realizadas as acções destes corsários.
Apenas
sabemos que Pedro de Albuquerque em
1471 recebeu várias mercês de D.
Afonso V, como recompensa pelos seus serviços. Que serviços? a participação
na conquista de Arzila (1471)?
O
que sabemos é que em Janeiro de 1473, um navio português - Santa Maria da Luz
- que transportava mercadorias de Lisboa para os Países Baixos foi
aprisionado no porto cantábrico de Laredo, quando se abrigava de uma
tempestade. A autorização para o aprisionamento fora dada pelo rei de Castela.
Este outorgara a Juan de Arósteguy uma carta no valor de 8 mil dobras para
reparação dos danos sofridos por ocasião do apresamento de uma caravela pelo
cavaleiro português Pedro de Albuquerque (14), que vendeu o produto do
saque aos mouros de Málaga. O seu navio de guerra chamava-se "Portra".
Podemos concluir que entre 1460
e 1473 este corsário continuava muito activo ao serviço do rei de Portugal.
Pedro
João Cullão tem sido apontado como o próprio Colombo (5 ), o qual desde 1469
andava no corso ao serviço de D. Afonso V. Repare-se no pormenor de
que antes de 1474 ser identificado por Pedro João. Estamos em crer que trata do
próprio Pedro de Albuquerque arranjou este nome, em finais dos anos 60, para não ser
identificado.
Pedro
de Ataíde, "o Inferno", um dos mais famosos corsários português, um verdadeiro terror dos mares.
Morreu em 1476, na célebre batalha ao largo do Cabo de S. Vicente, na qual
Cristovão Colombo participou como corsário.
Mais
Tendo
em conta a sua experiência no mediterrâneo é provável que, em 1480,
tenha feito parte da armada que partiu de Lisboa em socorro do rei D. Fernando
III de Nápoles que estava a ser atacado pelos turcos. Esta esquadra foi
comandada pelo seu parente, o célebre Afonso de Albuquerque.
2.
Conspiração e Morte
Fez
parte com o seu irmão - Lopo de Albuquerque - da conspiração contra D. João
II, em 1484, e segundo todos os cronistas
do tempo, incluindo Garcia de Resende, Rui de Pina (Crónica de D. João II) e
outros foi preso e decapitado.
Um
dos relatos da morte deste almirante:
"Pedro
de Albuquerque foi preso em Lisboa, e levado à Casa da Suplicação aonde faz a
El-Rei uma fala eloquente, e respeitosa, em que implorava a sua clemência, e lhe
representava os seus serviços nos encontros mais rigorosos da guerra; mas todas
as diligencias foram inúteis, e lhe cortarão a cabeça. A sua mulher D.
Catarina da Costa, irmã do Cardeal desse apelido, fez el -rei mercê dos bens,
que lhe confiscarão, em atenção a lhe dar (?) a Praça do Sabugal, que fora
do seu marido". (2) .
Alguns
pormenores são relevantes nesta história. Pedro terá fugido de Setúbal,
refugiado-se em
Lisboa onde acabou por ser preso. O D. João II interrogou-o pessoalmente, e após ter sido
condenado foi levado para Montemor-o-Novo para ser degolado. O marquês
desta vila, fugiu para Castela, sendo considerado o principal instigador da conspiração para matar o
rei em Setúbal.
2.1.
Falsas Mortes
Nem
sempre as coisas são o que parecem ser nesta conspiração. Sobre o seu irmão,
por exemplo, Rui de Pina
e Garcia de Resende afirmaram que havia morrido em 1493, mas em 1496 ainda
continuavam vivo. os
seus familiares também a encenarem a sua morte em 1493 no Convento de Santo António da
Castanheira. Uma operação que envolveu directamente D.
João II.( Consultar ).
É
por tudo isto que nos interrogamos se Pedro terá sido efectivamente morto, ou
se tudo não passou de mais uma farsa como aconteceu com o seu irmão ? Estamos
perante o "almirante português " que em 1492 foi pago pelos reis
espanhóis, e que aparece incluido no rol dos nobres exilados ?
3.
Catarina da Costa
Uma
boa parte do poder de Pedro de Albuquerque decorria da sua esposa - Catarina
da Costa - com quem se casou em 1468, e da qual não teve descendência.
Catarina era meia-irmã do Jorge da Costa (1406-1509),
o poderoso
arcebispo de Lisboa, mais conhecido por cardeal Alpedrinha (21). Este cardeal
não se cansou de dar à sua meia-irmã inúmeros "presentes": Em 1468
deu-lhe logo um prédio em Lisboa e uma boa renda para começo de vida. Deu-lhe
também a herdade das Pancas, que comprou a
compra a D.Fernando de Vasconcellos, que a tivera de seu sogro D. Pedro de
Menezes (22)
Após
a conspiração de Agosto de 1484 Catarina refugiou-se no Castelo do Sabugal,
deslocando-se depois a Castelo Branco para conferenciar com D.João II. A troco
da sua rendição o rei prometeu-lhe que não confiscaria os seus bens.
O
rei pede-lhe "siso e descrição grande", em troca dá-lhe uma tença
100.000 reis cada ano, para "soportamento da sua honra".
Compromete-se também a seguir as instruções de Jorge da Costa. Afirma que
sentiria um enorme prazer se a mesma quisesse ser "donzela" da sua
esposa, a rainha dona Leonor, podendo andar na sua casa com total liberdade e
quando quisesse.
O
que se seguiu continua a ser um mistério. Terá entrado para o Convento de
Santa em Lisboa, sem votos, do qual o seu irmão Jorge foi um dos principais
benfeitores.
3.1.
Fuga para Castela com a Marquesa de Montemor
A
verdade é que, no ano seguinte D. João II numa carta do rei a Jorge da Costa,
dá-se conta que Catarina não apenas fugiu para Castela, mas mandou matar
Fernão de Lias, levando consigo sequestrado Alvaro Osório ( Aluaro Osorez), abade seu criado, e a
Marquesa de Montemor-o-Novo, Isabel de Noronha (10).
O rei
dá conta que esta fuga fora coordenada com os reis de espanhóis, pois os
fugitivos foram acompanhados por uma escolta castelhana ("lanças
castelhanas"). O rei solicita ao cardeal a sua intervenção e pede-lhe que
continue a confiar nele. Estava tudo planeado.
Em Castela podemos todavia saber do seu rasto. Pelo menos em 1488 e 1490 recebeu
uma significativa mercê dos reis espanhóis (13 ).
Votamos a ter noticias de Catarina
da Costa, em Agosto de 1492, quando antes de ingressar no Convento de Santa
Clara em Lisboa,
fez a doação a
seu irmão o arcebispo de Braga D. Jorge da Costa da sua quinta junto a Alcochete
(herdade das Pancas) e das suas casas junto a S. Jorge (22)
Depois
da sua subida ao trono de D. Manuel I (1495), muitos destes nobres regressaram a
Portugal. Outros permaneceram em Espanha, mas continuaram a gerir o seu património que lhes começou a ser devolvido. Parece ter sido este o
caso de Catarina da Costa, a esposa do "almirante português".
Retrato
de D. Jorge da Costa, no painel do Arcebispo de Nuno Gonçalves
3.1
Jorge da Costa, Cardeal de Alpedrinha
Jorge da Costa
entre 1480 e 1509, a partir de Roma dominou de forma ABSOLUTA a igreja em
Portugal. Nada do que aqui se passava lhe era estranho. Foi o principal mentor
da divisão do mundo entre Portugal e Espanha, tal como aparece consagrado no
Tratado de Tordesilhas.
Embora
não tenha participado nas conspirações de 1483
e 1484, viu os seus familiares directos nela
envolvidos, e foi da mesma informado pessoalmente pelo rei.
Jorge
da Costa possuía
um magnifico sistema de comunicações entre Lisboa e
Roma. Encontra-se sepultado na Igreja de Santa Maria do
Populo, em Roma.
Pedro
era cunhado de um dos homens são influentes da Europa, que estava por dentro
das questões políticas e estratégicas dos descobrimentos e das relações
ente Portugal, Espanha e a Santa Sé.
a)
Casamentos reais. Esteve envolvido em todos os casamento estratégicos no reinado de D. Afonso
V: contrato de casamento deste rei com Isabel, a Católica; casamento não
realizado de D. João (futuro rei D. João II), com Joana, dita "Beltraneja"
e de D. Afonso V com mesma.
b)
Lóios. Foi cónego dos
Loios, ao qual estava ligado Alvaro de Bragança, no
Convento dos quais se encontra sepultado em Évora.
c)
Agostinhos. Dirigiu os agostinhos em
Portugal (Grijó, S. Jorge, Roriz, Caramos, Junqueira, Landim, Oliveira, Macelos,
Longovales), num convento dos quais estava
o panteão dos albuquerques (Convento da Graça em Lisboa).
d)
Poder na Igreja. Possuía um enorme poder na Santa
Sé, chegando a ser eleito papa, mas não aceitou. O
seu poder estendia-se a dioceses, ordens religiosas e igrejas de Portugal, Espanha e Itália. Era arcebispado de Lisboa
(1464-1501) e Braga (1501-1505). Sixto IV, nomeou-o cardeal em 1476. Em Itália
dirigiu as dioceses de Albano, Frascati e
Porto-Santa Rufina (3 ), recebia as rendas de Tranteverim (Roma) e de uma
abadia de Veneza, legado de Veneza e Ferrrara. Possuía também em Itália
a Vila de Arpanica. Em Espanha o
seu poder estendia-se a Navarra e Burgos (Deão). Em Portugal o seu poder era
enorme
Graças
à sua intervenção junto da santa Sé foi criada a Misericórdia de Lisboa,
com o apoio da Rainha Dona Leonor. Tendo sido eleito papa recusou a favor do seu
amigo Julio II, o qual, em 1506, devido à sua intervenção, aprovou
finalmente o Tratado de Tordesilhas. Neste ano, recorde-se, Colombo morreu em
Valhadolid. Portugal reforçava deste modo a sua posição na partilha do
mundo.
e)
Descobrimentos. Esteve envolvido nas negociais internacionais sobre os
descobrimentos. Terá
sido da sua autoria a ideia de dividir o mundo entre Portugal e Espanha. D.
João II e D.Manuel I teve nele o seu principal aliado agente na Santa Sé para a defesa dos
interesses de Portugal. A ratificação do
Tratado de Tordesilhas (1506) deve-se em grande parte à sua acção.
Jorge
da Costa era portanto uma figura incontornável, não apenas em Portugal, mas
também no Vaticano.
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