Início
. Anterior .
Próximo
As Provas do
Colombo Português
27.
Partilha do Mundo
Um
dos factos mais interessantes da História de Portugal no século XV foi o
facto das suas elites terem concebido um projecto de expansão ultramarina, como
uma forma do país ultrapassar os condicionalismo geopolíticos em se encontrava
o reino na Península Ibérica.
a
) Mapa Mundo
A
conquista de Ceuta (1415), no Norte de África marca o início desta expansão.
Os olhos dos portugueses sobre o mundo ultrapassava agora os limites das suas
fronteiras terrestres. A questão não tarda a assumir uma dimensão
estratégica da maior relevância.
O
Infante D. Pedro em 1418 parte de Lisboa para uma longa viagem que o
levará a lugares como a Hungria, Egipto e Jerusalém, que lhe permite obter
importantes informações sobre o mundo da altura e as rotas marítimas e
comerciais. A partir do seu regresso, em 1428, os portugueses começam a estar
cada vez mais interessados em construir um mapa do mundo.
O
Infante D. Henrique cria uma verdadeira escola de cosmógrafos em Portugal,
chamando para o efeito os melhores especialistas do seu tempo, os maiorquinos. Em 1457,
duas missões são enviadas para Itália com um mesmo objectivo: obterem dos
seus cartógrafos (Fra Mauro e Toscanelli), mapas do mundo.
Globo
terrestre feito por Martin Behaim,
cosmógrafo de D. João II
Após
a morte do Infante, o futuro rei D. João II revela uma clara obsessão por esta visão
global. Várias testemunhos da época assinalam que no palácio da Alcaçovas em
Lisboa, existia um enorme mapa do mundo. O rei fazia-se representar acompanhado
de astrónomos. Um dos seus cosmógrafos - Martin Behaim
(1459-1507) - foi quem concebeu o primeiro globo do mundo (1492) da Idade
Moderna. Mais
D.
João II, em 1484, quando investe D. Manuel no Ducado de Beja, dá-lhe
como símbolo a esfera armilar. Um símbolo cósmico com o qual acabou por se
identificar.
Estamos
perante uma dinastia de reis que assumem uma clara visão global do mundo e agem
em conformidade. O seu elevado conhecimento neste domínio dava-lhes um enorme
poder de manobra, nomeadamente com os reis espanhóis.
b
) Tratados
A
situação Portugal no inicio do reinado de D. João II, em 1481, revela enormes fragilidades.
Estava em guerra no Norte de África pela conquista do Reino de Fez, lutava no Mediterrâneo contra o Império Otomano (Turcos),
procurava no Atlântico garantir por todos os meios a exclusividade do acesso à Costa Ocidental de
África, expulsando da mesma castelhanos e aragoneses (espanhóis), mas também
os franceses, ingleses,
italianos e outros intrusos. Como se tudo isto não bastasse, os piratas e corsários faziam igualmente continuas
incursões ao longo da costa portuguesa, atacando navios e povoações.
O maior perigo
para Portugal vinha contudo de Castela e Aragão que se haviam unido, formando
num novo reino - Espanha - com uma dimensão que representava uma séria ameaça
para o país, pondo em risco o
prosseguimento das expedições marítimas.
D.
João II vê-se
obrigado a pensar numa estratégia de partilha do mar e das suas descobertas com os seus
principais inimigos, de modo a salvaguardar a rota africana que lhe daria
acesso à India, assim como o Brasil. É neste plano que irá intervir Colombo,
ao conduzir os espanhóis para uma falsa India, amarrando-os a Portugal através
de um Tratado de partilha do Mundo.
1.Tratados de
Alcaçovas/Toledo
A
primeira partilha do mundo acordada entre Portugal e os reinos de Castela e
Aragão ocorreu, em 1479-1480, com os Tratados de Alcaçovas/Toledo.
Após uma longa guerra estes Tratados restabeleceram a paz, mas implicaram da parte de Portugal
a cedência da disputas da posse das Canárias, assim como a
desistência da pretensão de D. Afonso V ao trono Castela-Leão.
Nestes Tratados foi
acordado que Portugal teria o exclusivo das explorações a sul das Canárias,
assim como todas as terras em frente da Guiné, a actual América do Sul.
Determinava também, a proibição do acesso dos castelhanos às ricas pescarias
entre o Cabo do Bojador e o Rio do Ouro, assim como o fim da possibilidade de
puderem resgatar escravos na Guiné e obterem ouro na Mina. Uma condição difícil de ser mantida por muito tempo,
nomeadamente por parte dos andaluzes de Huelva, Palos e Mouguer (7).
Os
espanhóis, apesar destes Tratados continuaram a tentar apoderar-se das costas da
Guiné, pois estava em jogo
enormes riquezas.
A
Castela e Aragão para além de apoiarem a revolta dos muçulmanos contra os
portugueses no Norte de África, incentivavam conspirações em Portugal contra
o rei de modo a colocarem no trono um monarca lhes fosse favorável. Em 1483
e 1484, como vimos, Portugal é abalado por uma conspiração apoiada
por Castela e Aragão.
Era também previsível que após a conquista
do Reino de Granada, o que veio a acontecer em 1492, os espanhóis iriam
aumentar a sua pressão no Norte de África, exigindo por uma nova partilha do mundo
com os portugueses.
A
viagem de Colombo foi neste aspecto "providencial", pois serviu de
pretexto para um novo Tratado onde a Espanha passou a estar pela primeira vez
efectivamente interessada em manter por muito tempo.
2.
Tratado de Tordesilhas
O
Tratado de Tordesilhas, a que Colombo esteve directamente envolvido nas negociações, pelo lado
espanhol, constitui uma peça fundamental destinada a afastar os espanhóis das
costas africanas, salvaguardando o Brasil nas Américas.
Foi
ele quem sugeriu à Corte de espanhola, em 1493, uma linha de 100 léguas a Oeste de Ilhas dos
Açores, de modo a garantir aos portugueses o Brasil.
Durante
as negociações, recusou-se a fornecer aos reis espanhóis informações precisas sobre as "Indias"
descobertas em 1492. Esta manobra, acordada com D. João II, permitiu
ao portugueses aumentar a
linha de demarcação, em beneficio de Portugal, de 100 para 370
léguas.O
Tratado de
Tordesilhas foi assinado a 7 de Junho de 1494,
contemplando todas as exigências portuguesas.
Colombo ao longo de 1494 continuou a dar escassas e
erradas informações ao reis espanhóis, levando os mesmos a exigirem o seu
regresso a Espanha. Como era de espera,
ignorou a ordem real, enviando o seu irmão Diego Colón
que nada sabia de cartografia ou cosmografia (Consultar
).
Tratado
de Tordesilhas.Biblioteca Nacional de Lisboa
O
Tratado de Tordesilhas pressupõe que os portugueses conheciam a América antes 1492, o que
está hoje demonstrado por várias fontes:
-
As declarações de Colombo;
-
Os testemunhos de navegadores do tempo, incluindo os de D. João II;
- A
cartografia da época, nomeadamente a feita em Italia, com base em informações
recolhidas em Portugal por espiões;
- Os vestígios encontrados na própria América.
D. João II,
o rei português que tinha sido o grande estratega destes Tratados, tinha
constantemente a cabeça a prémio. Após anos de sucessivas tentativas, os seus
inimigos conseguem-no envenenar em 1495. A conspiração surgiu, uma vez mais,
no interior da Corte Portuguesa, um facto que depois se tentará ocultar. Mais tarde o Cronista que tentou relatar estes factos (Damião de
Góis) é preso e assassinado.
c
) Cumplicidades
Está
provado a forma habilidosa como Colombo favoreceu Portugal durante as
negociações do Tratado de Tordesilhas: 1. a marcação da linha de divisão do
mundo proposta pelos espanhóis, foi indicada por si; 2. Depois, não lhes deu
informações que careciam para negociar com os portugueses, mas não é tudo.
Um simples estudo
dos procuradores e embaixadores portugueses que negociaram os dois tratados
anteriores, revelam uma notável cumplicidade não apenas com Colombo, mas com Alvaro de Bragança,
presidente do Conselho Real de Castela. Dir-se-ia que quando
estava em jogo os interesses de Portugal, ultrapassavam facilmente as
desavenças com o seu rei (D. João II).
Colombo
actuando
como um agente infiltrado de Portugal, mesmo depois da assinatura do Tratado de Tordesilhas
(1494), fez sempre questão de defender
as possessões portuguesas no Norte de África, nomeadamente Arzila e Safim (consultar
). Trata-se de uma acção que revela um profundo patriotismo, e que só
por si devia merecer respeito dos portugueses por este navegador.
Pensando
nas implicações do Tratado de Tordesilhas, reuniu igualmente informação sobre os seus
prováveis reflexos a Oriente que deixou ao seu filho Diego Colon Moniz Perestrello,
o qual mais tarde, como veremos, passou ao rei D. João III durante o contencioso com
Carlos V.
Embaixadores,
Procuradores e Testemunhas Portuguesas
D ) A Cláusula dos Três
Anos
O Tratado de
Alcaçovas-Toledo (1479-1480), tinha afastado os castelhanos das pescarias
africanas do cabo do Bojador ao Rio do Ouro, libertando deste modo a rota do
caminho marítimo para a India. O problema é que os andaluzes, nunca aceitarem
esta proibição.
Os reis católicos,
acabaram por autorizar que os pescadores andaluzes, a partir de 1490,
frequentassem esta região (8). D. João II protesta e reclama a sua exclusividade
para os portugueses. A disputa entre os dois reinos prosseguiu.
Durante as
negociações do Tratado de Tordesilhas, D. João II, conseguiu que fosse
estabelecido, de forma definitiva, a proibição do acesso dos espanhóis à região
das pescarias africanas do cabo do Bojador ao Rio do Ouro. O Tratado, como é
óbvio, desagradou, aos andaluzes que à revelia da corte espanhola, continuaram a
atacar navios portugueses ( 9 ). Colombo refere este conflito, e oferece inclusive
aos espanhóis uma alternativa: umas ricas "pescarias" que havia descoberto nas
Indias...(10)
D. João II e D.
Manuel I estavam convencidos da importância do de Tordesilhas para puderem
prosseguir com segurança a rota da India, só que uma das suas cláusulas
estabelecia um período de três anos (1494-1497), em que o mesmo podia ser
denunciado por qualquer uma das partes. Passado este período o Tratado seria
aceite definitivamente.
Neste contexto
geopolítico todas as cautelas eram poucas. Na verdade, se Portugal prosseguisse
com as suas expedições para Ocidente ou avançasse na rota do caminho
marítimo para a India, estaria a dar argumentos mais do que suficientes para a
Espanha denunciar o Tratado. É por esta razão que não se mostrou
interessado em reclamar o Brasil, nem sequer em fixar a linha do meridiano de
Tordesilhas. O importante era assegurar a exclusividade da rota a India.
As expedições
marítimas na direcção da India passaram a ser rodeadas do maior secretismo,
sendo entre 1488 e 1497, oficialmente dadas como suspensas
para lá do Cabo da Boa Esperança. Havia que esperar a melhor altura para
concluir o projecto.
Colombo entre 1492 e
1497 andou a entreter os espanhóis nas Antilhas (Caraíbas), nunca avançando
na direcção do continente que D. João II lhe falara.
A partir de 1497,
quando o Tratado de Tordesilhas foi dado como definitivamente aceite por ambas
as partes (6), a situação mudou radicalmente.
D.Manuel I toma
então duas decisões fundamentais em termos marítimos:
- Vasco da Gama,
em 1497, recebe
ordens para rumar na direcção da verdadeira India. Os conhecimentos
acumulados durante anos (ventos, correntes, etc) permitem-lhe desde logo
percorrer uma nova rota até ao Cabo da Boa Esperança.
- Duarte Pacheco
Pereira, em 1498, recebe ordem para avançar para Ocidente e aí explorar toda
a linha do Tratado de Tordesilhas, entre 70º N a 28º e 30º S, (re)
descobrindo desta forma o Brasil antes de Pedro Alvares Cabral.
D. Manuel I, para
reforçar os compromissos geopolíticos na Península Ibérica, em Setembro de 1497, casa-se em Valência
de Alcântara com uma princesa espanhola.
As negociações do casamento de D.
Manuel I, assim como as que envolvem os privilégios de Colombo (1497) são feitos pela mesma
pessoa: Alvaro de Bragança!
íE) Toledo 1498: A Nova Partilha do Mundo
O
maior segredo sobre a divisão do mundo chama-se "Toledo 1498".
Quatro
anos depois do Tratado de Tordesilhas foi em Toledo que se encontraram: D. Manuel I (rei de
Portugal) e Isabel e Fernando (reis de Castela e Aragão), Cristovão Colombo
(achador das Indias, a 12 de Outubro de 1492), Alvaro de Bragança
(Presidente do Conselho Real de Castela, alcaide de Sevilha, etc, etc),
Rui
de Sousa (embaixador de D. João II que assinou o Tratado de Tordesilhas em
1494),
mas também outros embaixadores e procuradores que participaram neste Tratado:
João de Sousa (seu filho),
Rodrigo de Sande, João Lopes de Sequeira. A grande ausência
(?) era Duarte Pacheco Pereira que havia regressado, neste mesmo ano, de
uma viagem à América do Sul.
Para
além destes da enorme comitiva real, destacavam-se Jorge de Lencastre (filho bastardo de D. João II, mestre da
Ordem de Santiago de Espada e da Ordem de
Avis), Francisco de
Almeida (futuro 1º. vice-rei da India), Nuno Fernandes de Ataíde (capitão
de Safim), Tristão da Cunha (conquistador de Sacototorá), Diogo da Silva Meneses, conde de Portalegre, marechal de
Portugal, Dinis (irmão do Duque de Bragança), etc.,etc.
As
Cortes de Portugal e Espanha, assim como as suas principais famílias
encontram-se numa cidade dominada pelos Silvas, de origem portuguesa e onde
está sepultado um rei português. As
reuniões começaram logo a 24
de Abril, quando a Corte Portuguesa chegou à cidade, tendo-se depois
prolongado já com outros assuntos até 8 de Setembro, quando deixou Saragoça.
A questão
fundamental que está em jogo é a contrapartida oferecida por D. Manuel I para
ser jurado herdeiro do trono de Espanha. É aqui que Alvaro de Bragança tem uma palavra decisiva, a oferta da tão ansiada
"Terra Firma" ( o continente americano).
Havia
um ano que Vasco da Gama partira para a India , enquanto isso Colombo continuava
a entreter os espanhóis nas Antilhas. Isabel e Fernando queriam mais, até
porque estavam a consagrar D. Manuel I herdeiro da coroa de Espanha em Toledo.
Uma
vez jurado D. Manuel I herdeiro do trono de Espanha, Colombo recebeu
então autorização e talvez mapas para finalmente chegar ao continente
americano. A 30 de Maio de 1498 em San Lucar de Barrameda inicia a sua terceira viagem às Indias,
depois de visitar a Ilha da Madeira (19 a 21 de Junho), dirige-se para La
Gomera (Canárias) e para Cabo Verde, onde chega a 27 Junho, apanhando as correntes
marinhas há muito conhecidas dos portugueses. A partir de Cabo Verde, domínio
de Portugal, parte à
procura da "Terra Firme" (continente) que D. João II lhe falara
existir a sudoeste.
O
percurso desta viagem por domínios portugueses, em condições normais,
representava uma clara e ostensiva violação do Tratado de Tordesilhas, segundo
o qual um navio espanhol só o poderia ter feito em situação de força
maior, nomeadamente uma tempestade.
Nada disto aconteceu, a viagem foi mesmo intencional.
Na
Ilha da Boavista abasteceu-se de cabras e de de tudo aquilo que Rodrigo
Afonso, escrivão da fazenda do rei de Portugal, lhe ofereceu. O ambiente que aqui se viveu foi idêntico ao que encontrara
antes na Ilha da Madeira.
Colombo tinha previsto
demorar-se mais tempo em Santiago, para comprar vacas para levar para La
Hispaniola, mas devido às enfermidades que o calor estava a provocar na
tripulação, foi obrigado a partir mais cedo. Para que não se enganasse no percurso para a
"Terra Firme", levava consigo pelo menos dois portugueses.
Aparentemente dir-se-ía que Portugal estava
a patrocinar uma expedição de Colombo aos seus domínios. Na verdade,
tratava-se apenas de levar a
Espanha aos seus domínios no continente americano. Depois de Cabo Verde,
dirigiu-se para Sul e no paralelo da Serra Leoa, rumou para poente, tendo ido
parar à Ilha da Trinidad, junto à Venezuela, num território que pertencia aos
reis espanhóis de acordo com o Tratado de Tordesilhas.
Na Relação da Terceira
Viagem, como dissemos, Colombo faz questão de assinalar que D. João II sabia
que existia ali um continente e indicou-lhe inclusive a rota que devia seguir
para o encontrar. Tratou-se de uma forma de ocultar os acordos de Toledo.
É
evidente que esta expedição
só podia ter acontecido porque D.Manuel I a autorizou (4), e resulta de um acordo entre
o rei de Portugal e os reis espanhóis, num gesto de agradecimento por o haverem
feito jurado herdeiro do trono de Espanha.
Estas
negociações em Toledo provocam uma vítima: D. Rui de Sousa que aí
faleceu.
Não resistiu ao choque de ver Portugal a perder dessa maneira um do seus
maiores segredos. O seu corpo foi trasladado para Portugal, estando sepultado em
Évora ao lado de D. Alvaro de Bragança.
F)
Repercussões da Chegada à India
A
chegada ao Tejo, a 10/7/1499, da primeira nau da armada de Vasco da Gama, teve
uma enorme repercussão nas relações entre Portugal e Espanha, afectando a
frágil posição de Colombo.
D. Manuel I escreve aos reis espanhóis dois dias
depois, dando-lhes conta do que se havia visto na India: grandes e ricas
cidades, minas de ouro, especiarias, pedras preciosas e até mesmo população
cristã (2).
A
primeira vitima da viagem de Vasco da Gama foi desde Colombo que perdeu a exclusividade da condução dos
negócios das Indias.
A Corte espanhola autoriza que outros façam viagens fora
do seu controlo, de forma a tentar recuperar o tempo perdido, começando por
explorar a região das pérolas que Colombo encontrara em 1498, e depois
encontrarem a Ocidente um estreito para atingirem a India onde os portugueses
haviam chegado. Neste sentido a corte espanhola firma Capitulações com vários
navegadores e negociantes:
Alonso de Hojeda (1499-1500), que leva
consigo Juan de La Cosa; Peralonso Niño e Cristobál Guerra (1499-1500); Vicente Yanez Pinzón
(1499-1500); Diego de Lepe (1499-1500); Rodrigo de Bastides (1500-1502),
que leva consigo Juan de La Cosa; Alonso Veléz de Mendonza (1500-1501); Alonso
de Hojeda (1501); Vicente Yanes de Pinzon (1501; Luis de Arriaga (1501); Diego
de Lepe (1501); Juan de Escalante (1501); Alonso Veléz de Mendonza (1502);
Cristobal Guerra (1503); Juan de La Cosa (1504); Alonso de Hojeda (1504);
Vicente Yanes Pizon (1505). Algumas destas capitulações não se chegaram a
traduzirem em viagens (11).
D. Manuel I tem plena consciência da situação que está criada. Para proteger os interesses do seu filho ao trono de Espanha -
D. Miguel de Paz -
, procura envolver os próprios reis espanhóis na nova expedição às Indias,
propondo-lhes que investissem até 1500 marcas de prata destinados à
aquisição de produtos orientais (3).
Permite-lhes
também que várias expedições espanholas se sirvam das ilhas de Cabo Verde como
ponto de escala e abastecimento para viajarem para o outro lado Atlântico, como
aconteceu com nas viagens de Alonso de Hojeda - Juan de La Cosa, Vicente Yanez
Pinzón e Diego de Lepe, o que já antes havia acontecido na terceira viagem de
Colombo.
As supostas terras que os espanhóis
vieram a afirmar terem "descoberto" eram há muito do conhecimento do
portugueses. A mais importante destas terras - o Brasil -, estava dentro dos seus
domínios definidos pelos Tratado de Tordesilhas (1494), como confirmou, em 1498,
Duarte Pacheco Pereira.
D. Manuel I permitiu-lhes também
regressarem das Indias pelos Açores, e muitos foram os
que antes de chegarem Espanha aportavam em Portugal onde contrabandeavam as suas
mercadorias.
O certo é que a que face às movimentações espanholas, Pedro Alvares Cabral, que
comandava a segunda armada para a India, que saiu de Lisboa a
9 de Maio de 1500, recebeu ordens para oficializar a descoberta do Brasil,
levando consigo um navio mais pequeno para o efeito.
G
) A Questão do Brasil
A
armada de Cabral depois de aportar a cabo Verde (22/3/1500), dirige-se para o
Brasil, oficializando a sua descoberta a 22 de Abril de 1500. Uma caravela
comandada por Gaspar Lemos, depois de ter feito um largo reconhecimento da costa
brasileira é enviada para Portugal, onde chega em Julho de 1500. A morte de D.
Miguel da Paz, a 17/7/1500, leva D. Manuel I adiar a comunicação do achamento
aos reis espanhóis, o que só o faz mais de um ano depois, a 28/8/1501, depois
de muito insistência do embaixador espanhol. No entanto, antes do o fazer
enviou secretamente outra expedição ao Brasil, a 10/5/1501, comandada por
Gonçalo Coelho.
Esta
expedição à América do Sul abre uma nova fonte de conflitos entre a Portugal
e a Espanha, agora sobre os limites do Tratado de Tordesilhas no Brasil.
Os cosmógrafos e cartógrafos portugueses empurram o mais possível a linha do
Tratado para ocidente, de modo a ficarem com toda a costa da América do Sul.
Na América
do Norte, em particular na Terra Nova e Terra do Labrador (Canadá) a questão
também se colocou, embora sem a importância que tinha na América do Sul.
D.
Manuel I procura manter algum controlo da situação, proibindo com a pena de
morte todos aqueles que vendessem a estrangeiros cartas de marear e mapas. Um
objectivo impossível de concretizar. Graças a uma poderosa acção
diplomática consegue que a
24 de Janeiro de 1506, o papa Julio
II, através da bula Ea Quae confirme o Tratado de Tordesilhas (12).
A
posição de Colombo nesta altura é já irrelevante, tão desacreditado estava.
Expansão do Brasil
Após
a ratificação do Tratado pelos dois reinos, Portugal continuou a manobrar para
consolidar as suas posições.
Os
cartógrafos portugueses até ao século XVIII continuaram a falsificar a linha meridiana do Brasil,
mas também das Molucas, de modo a incluir o máximo de territórios
possíveis. Muitos destes mapas falsificados em Portugal eram vendidos a
estrangeiros, que acabavam por difundir internacionalmente estes erros
(14).
No caso da América
do Sul, deslocaram o Brasil para leste e torceram na mesma direcção a
sua parte meridional de forma a caber dentro limites portugueses do Tratado.
Esta deformação pode ser facilmente observada nos mapas de Cantino (1500-2),
V. Maiollo (1504), Kunstmann II (c.1506), Caverio (1505), Waldsemuller (1507)
entre outros (14).
Comparação
de vários mapas da costa do Brasil, onde é evidente a continuidade dos
topónimos e das falsificações(6).
Lopo Homem (1519)
desviou o delta do amazonas em 12 graus. Vaz Dourado
e Diogo Homem (1558), continuam a deslocar a Linha de Tordesilhas para Leste de
modo a abranger o vale da Prata, o estreito de Magalhães e
parte do Chile (3 ). O mesmo faz Luis de Teixeira (1574) e outros cartógrafos
de modo a defender os interesses de Portugal.
Durante
a ocupação espanhola de Portugal (1580-1640), os portugueses aproveitaram para
expandir o Brasil para lá do limites estabelecidos pelo Tratado de Tordesilhas,
operação que prosseguiu depois da restauração da Independência. Antes da
independência do Brasil, em 1822, esta colónia portuguesa ocupava mais de 50%
da América do Sul. Uma expansão terrestre extraordinária se tivermos em
conta as dimensões do Brasil, o 5º. maior país do mundo, com uma superfície
superior à Europa.
Mapa
de Luis Teixeira (1574) onde se pode verificar a deslocação da linha do
Tratado de Tordesilhas para Oeste de modo abranger o Rio da Prata.
h
) A Questão da India Com
a chegada de Vasco da Gama da India, em 1499, os espanhóis perceberam logro em
que haviam caído, e pretenderam alegar que o Tratado apenas se aplicava à
divisão do Atlântico e não à partilha do mundo, uma situação que exigiu da
parte de D. Manuel I habilidosas manobras político-matrimoniais, mas também
com a intervenção papal. Em 1506 enviou a Roma uma forte embaixada que
negociou a ratificação papal do Tratado de 1494.
Os
únicos territórios que Portugal perdeu com o Tratado foi parte das Ilhas Molucas,
mas em contrapartida alargou o seu domínio sobre o Brasil.
O
primeiro a levantar o problema das Molucas foi curiosamente um português
descontente com D. Manuel I - João Dias de Solis (13).
O
Tratado de Tordesilhas vigorou por mais de dois séculos, somente foi modificado,
em 1750, pelo Tratado de Madrid.
Um
dos aspectos interessantes do Tratado foi ter igualmente realizado uma partilha
de África. Portugal renunciou à conquista da sua costa mediterrânica,
abandonando as suas pretensões sobre Melila e Caçaça, em contrapartida a
Espanha renunciava às suas pretensões sobre a costa marroquina atlântica até
Meça que pertenceria a Portugal. A costa africana fronteira às Canárias
continuou a ser objecto de disputas entre os dois países. Em 1500, como
veremos, o próprio Colombo persegue e mata nas Indias os espanhóis estivessem
envolvidos nesta luta contra Portugal vendendo, por exemplo, armas aos
muçulmanos para atacarem os portugueses de Safim.
i
) Ilhas Molucas
O
Tratado de Tordesilhas tinha um problema insolúvel para os portugueses: se
garantia a posse do Brasil e entretinha os espanhóis nas "Indias"
(América), entregava-lhes as ilhas molucas onde se
produziam o cravo (especiaria).
A
posse das Molucas pelos espanhóis só se colocou quando a
Espanha passou a ser dominada a partir de 1517, por Carlos V
da Casa de Habsburgo (Austriaca).
Este rei alemão de ascendência portuguesa, não sabia falar espanhol.
O
problema piorou ainda mais quando, em 1525, Carlos V se casou
com
Dona Isabel de Portugal
(1503-1539), filha do rei D.
Manuel I, de quem teve 7 filhos. O acesso aos segredos do Estado português
tornam-se mais acessíveis aos espanhóis.
Carlos
V tratou logo de impor
o seu domínio sobre todos os territórios que lhe cabiam pelo
Tratado de Tordesilhas.
Não
tendo em Espanha navegadores para realizarem uma expedição às Ilhas
Molucas de forma a verificar os limites do Tratado de Tordesilhas, tratou de
os contratar em Portugal. O portugueses há muito que estavam instalados nestas
ilhas, conheciam-nas melhor que ninguém. A questão era sensível para
Portugal e o rei português - D. João III - tratou logo de manobrar os
acontecimentos fazendo intervir os seus espiões em Espanha.
Alguns
dos navegadores portugueses que participaram nestas viagens ao serviço de Carlos
V de Espanha:
-
Fernão de Magalhães. Na primeira viagem de à volta do mundo, encontra
uma passagem a ocidente para chegar ao Indico, atingindo os limites asiáticos do Tratado
de Tordesilhas.
-
Simão de Alcaçova. Um traidor português que ao serviço de D.
Manuel I andou pelas Ilhas Molucas. Carlos V procurou que fosse comandante das
Armada que iria verificar os limites de Tordesilhas. D. João III afasta-o, em
1529, do comando da expedição espanhola às Molucas.
-
Estevão Gomes. Era um traidor com um percurso de navegador semelhante a
D. Simão de Alcáçova.
-
Pedro Afonso de Aguiar. O comandante da armada espanhola às ilhas
Molucas, em 1530. A sua escolha deveu-se à intervenção de D. João III, rei
de Portugal. Este navegador era parente de Colombo.
A
estratégia de D. João III foi neste caso a de garantir que a expedição
às ilhas Molucas fosse feita por um filho ou parente de Colombo, afastando
todos os outros navegadores que não lhe ofereciam confiança. (Carta do
Embaixador Português Alvaro Mendes de Vasconcelos, expedida de Oviedo,
6/03/1529).
- Intervenção
de Diego Colón Moniz Perestrelo, filho de Colombo
Na
fase mais complexa das negociações, em 1524, quando os espanhóis
andavam a reunir informações sobre as ilhas Molucas revela-se mais uma vez a
teia portuguesa de espiões em Espanha. Foi a vez de intervir o próprio filho
de Colombo que lhe havia sucedido como Almirante e Vice-Rei das Indias
Espanholas.
A
sua missão consistiu em reter toda a informação que possuía de seu pai
sobre os limites dos Tratado de Tordesilhas, passando-a para o rei de Portugal
D. João III através da Condessa de Lemos
( 1 ). Só após este a consultar e
fazer dela o que bem entendeu é que a mesma foi entregue aos espanhóis. A rede
de espionagem continuava operacional .
Carlos Fontes
|