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As Provas do
Colombo Português
Tratado de
Tordesilhas - Embaixadores,
Procuradores e Testemunhas Portuguesas
Quem eram os
representantes de Portugal? Que relação tinham com os nobres, incluindo
Colombo que haviam fugido para Castela ? É fácil responder à primeira
pergunta, mas a segunda revela-se um mar de surpresas ao mostrar as enormes
cumplicidades que uniam Colombo a Portugal.
a ) Negociações
Anteriores do Tratado
Depois
da estadia de Colombo em Lisboa, onde conferenciou durante dois dias com D.
João II, foram desencadeadas pressões diplomáticas ao mais alto nível
destinadas a reclamar para Portugal as Indias que haviam sido achadas.
Fernando e Isabel,
reis de Castela e Aragão enviaram a Portugal Lope de Herrera, para resolver os problemas resultantes das
"descobertas" de Colombo, que sugeriu aos mesmos a realização de um
novo Tratado, para a divisão do Mundo, cuja linha passaria a 100 léguas dos
Açores. A incompetência deste embaixador era tal que nada se
resolveu.
1. D. João II,
continuou a pressionar e a 6
de Abril de 1493, enviou um embaixador -
Rui de
Sande - à corte espanhola.
Rui de Sande, Ruy
de Sande ou
Rodrigo de Sande, era moço de escrevaninha de D. João II atingido depois
uma elevada posição na corte, tendo desempenhado funções de embaixador no
casamento da Infanta dona Isabel (1). No reinado de D.
Manuel I foi enviado como embaixador aos reis católicos para tratar do casamento do principe D. Afonso
com a princesa Isabel. Era alcaide-mor de Punhete (Constância), na Ordem de
Cristo, tinha uma comenda em Castela devido a ter participado na conquista de
Granada (1492), etc.
Como militar
participou na armada de socorro à Ilha Graciosa (Larache, Marrocos).
Tomou parte em várias acções militares no Norte de África, onde participou
na conquista de Targa. Distinguiu-se também na conquista do reino de Granada, a
que assistiu Colombo. Para além de militar era um notável poeta e cortesão.
Ruy Sande casou-se na vila de
Punhete, com D. Guiomar Pereira Freire (1480- ?), filha de Nuno
Fernandes Freire de Andrade (1440-?), de Beja, e de
sua mulher D.Isabel de Almeida (filha natural de D.Alvaro de Almeida,
Comendador de Entradas), da qual teve vários filhos.
O que lhe sucedeu foi João
de Sande, Alcaide-mór e Comendador de Punhete. Serviu
numa Comenda no Norte de Africa entre 1524 e 1529, tendo casado com Inês
Madalena de Lafetat, filha de João Francisco de Lafetat, mercador
italiano e de Maria Gonçalves, cristã-nova (judia).
Este facto é da maior
relevância, porque Lafetat não é mais do que um dos supostos banqueiros que
em Sevilha financiavam Colombo, mas que residia em Portugal ! (
consultar ).
D. João II, escolheu para seu
primeiro embaixador alguém com propriedades em Castela, que se havia
distinguido na conquista de Granada, mas pelos vistos também teria ligações
ao mundo
subterrâneo dos financiamentos de Colombo. Para além de bom poeta e militar,
Rui de Sande, nunca se destacou em assuntos náuticos ou cosmográficos. O que
Rui de Sande foi fazer a Espanha parece ter sido de uma natureza muito
diferente do que negociar um novo Tratado. Integrou a comitiva que D.
Manuel I levou a Toledo, em 1498, onde se encontrava também Colombo.
Entretanto o papa Alexandre VI
(1492-1503), um dos mais corruptos e imorais papas italianos, actuando como mediador
entre os dois países, emite duas bulas onde procura pôr fim aos acordos
anteriores de Alcáçovas-Toledo (1479/80). Na prática significava abrir o mar não
apenas à Espanha, mas também a outros países, diminuindo o poder de
Portugal. A situação permaneceu tensa, dada a recusa de D. João II em
aceitar estes pressupostos.
2. Nos
bastidores prosseguiram as negociações e D. João II enviou a 15 de
Agosto uma nova embaixada
à Espanha, que se encontrou em Barcelona com os reis católicos. A sua missão destinava-se a garantir
os principio da partilha do mundo entre dois países, mas também uma linha de partilha
do Mundo que garantisse a Portugal a posse do Brasil, cuja existência já
conhecia. A linha divisória devia de passar a uma
distância mínimo de 100 léguas a oeste dos Açores ou de Cabo Verde. Colombo,
desde o inicio que vinha fazendo idêntica proposta aos reis católicos. A embaixada era constituída
por: - Pêro Dia,
doutor. - Rui de Pina,
Juiz. Não de tratam
de
navegadores, cosmógrafos ou pessoas especialmente entendidas em questões do mar, mas
sim de juristas para discutir as condições do tratado e estabelecer
os seus princípios gerais. Rui de
Pina irá depois produzir a sua versão oficial dos acontecimentos.
Quando estavam em
Barcelona, tomam conhecimento de uma nova bula - Dudum Liquidem ( 25 de
Setembro) -,
na qual o papa, reconhecia a posse das terras e ilhas achadas ou a
descobrir dentro de um meridiano de 100 léguas a oeste dos Açores ou Cabo
Verde. Na prática, rompia com o princípio da partilha do mundo entre os
dois países da Península Ibérica, subalternizando mais uma vez a posição de
Portugal. Os representantes de
D. João II recusaram-se a prosseguir as negociações, regressando a Portugal.
A partir deste momento, D. João II, passa recusa a mediação do papa, sendo as
negociações feitas directamente entre as duas cortes. No
dia
25 de Setembro de 1493,
Colombo partiu para a sua 2º. viagem às Indias.
Colombo terá ficado
surpreendido com esta decisão do papa, pois continuou a insistir ao longo dos
anos numa linha de
100 léguas que satisfazia as exigências iniciais de Portugal, mostrando assim qual era a sua posição.
A sua contribuição mais importante foi
contudo de outra natureza: - não deu informações concretas aos reis espanhóis.
Estes sem informações
precisas, e não tendo sequer cosmógrafos competentes, acabaram por enviar uma embaixada
a Portugal propondo a realização de uma conferência na vila de Tordesilhas,
onde aceitarem tudo o que os portugueses lhes propuseram.
b ) Assinatura do
Tratado de Tordesilhas
No dia 7 de
Junho de 1494, os procuradores de D. João II, rei de Portugal, e de Fernando e
Isabel, reis de Aragão e Castela, assinaram na vila de Tordesilhas dois
tratados, que dividiam o mundo entre si.
1. Rui
de Sousa ,
embaixador plenipotenciário português o senhor de Sagres e Beringel. Casou-se
com 1º. núpcias com Isabel, e em 2ªs com Branca de Villena, filha de Martin
Afonso de Melo. Estava portanto ligado à família dos Melos, tornando-se desta
forma parente de D. Alvaro de Bragança.
Foi senhor da Guiné
(1486), onde Colombo esteve várias vezes. Encontrou-se com este navegador, em
Toledo em Abril de 1498, tendo justamente falecido nesta altura. O seu corpo foi
traslado para Portugal, estando sepultado no Panteão dos Melos (Évora), ao
lado de D. Alvaro de Bragança.
2. João
de Sousa ( -1513), licenciado, almotacém-mor
das coisas civis de D. João II. Era filho de Rui de Sousa e de Isabel de
Siquera, parente João Soares de Siquera. Casou-se com Margarida Fogaça,
donzela de Dona Joana, a célebre Beltraneja. Foi guarda-mor de D. Manuel I
(1510).
Foi também capitão
da Ilha da Graciosa, em Larache (Marrocos). Colombo
deu o nome de Graciosa a uma das ilhas que descobriu, mas também se podia estar
a lembrar-se da Ilha da Graciosa, nos Açores.
Estamos portanto
perante uma nobre da máxima confiança régia, e conhecedor das disputas de D.
Afonso V ao trono de Castela.
João de Sousa
integrou também a comitiva que D.
Manuel I levou a Toledo, em 1498, onde se encontrava também Colombo (5).
3. Aires
de Almada, vedor dos feitos civis na corte e do
desembargo real. Foi enviado por D. João II à Inglaterra, quando Lopo de Albuquerque se encontrava preso na Torre de Londres, afim de
convencer o rei para o trazer para Portugal.
4. Estêvão
Vaz, secretario da embaixada portuguesa.
5. João
Soares de Sequeira, testemunha. Pertencia a uma
família procedente dos Silvas, tendo entre os seus antepassados entre outros, D.
Fernando Rodrigues de Sequeira (1338
- 1433), nascido em Castelo Branco, sucedeu a D. João I como mestre da
Ordem de Aviz (1386). Ficou como defensor do Reino quando D. João I foi
conquistar de Ceuta (1415). Mandou edificar a igreja de N. Senhora do Sobral
(actual Ig. das Neves) em
Borba (1401).Está sepultado na igreja conventual de Aviz. Como já mostramos
Colombo faria parte da Ordem de Aviz ou de Santiago, embora a sua bandeira
pessoal tivesse uma Cruz Verde igual à Ordem de Aviz.(2)
João de Sequeira integrou a
comitiva que D. Manuel I levou a Toledo, em 1498, onde se encontrava também
Colombo.
6. Rui
Leme, testemunha. Colombo refere
explicitamente o testemunho de um seu parente - António Leme -, morador
da Ilha da Madeira, natural de Lisboa, o qual teria chegado às Antilhas. A sua
missão terá sido justamente lembrar aos reis católicos que os portugueses já
antes haviam estado nas Antilhas, como Colombo afirmava?
7. Duarte
Pacheco Pereira (1460
? -1533), testemunha. Assinou o tratado na "qualidade de contínuo da casa
do senhor rei de Portugal". Navegador e genial cosmógrafo, cavaleiro
da Casa de D. João II e membro da sua guarda.
Ao longo da década
de 80 do século XV, realizou nas costas africanas levantamentos hidrográficos
necessários à correcção e aperfeiçoamento das cartas nauticas, mas também
levantamentos das alturas do sol para obter os seus graus em cada lugar. Uma
tarefa que andou também envolvido, em 1485, o mestre José Vizinho, como relata
Colombo.
Quando Bartolomeu
Dias regressava do Cabo da Boa Esperança (3), em 1488, encontrou-o doente na
Ilha do Principe, tendo-o trazido para Lisboa, onde se terá encontrado com
Colombo.
Os seus vastos
conhecimentos cosmográficos terão sido decisivos nas negociações sobre a linha de demarcação do Tratado de Tordesilhas,
pois a mesma passou de 100 para
370 léguas, abrangendo deste modo uma vasta área do Brasil.
Em
1498 foi enviado por D.Manuel I numa expedição que partiu de Cabo Verde foi às costas atlânticas da
América do Sul, sendo considerado o primeiro português a chegar ao Brasil e a
descrever os povos o habitavam. No final deste ano, Colombo fará uma viagem
idêntica, tendo atingido a região das pérolas...
Um dos objectivos
possíveis desta expedição de Duarte Pacheco Pereira, prende-se com o facto de D.
Manuel I, pretender averiguar as terras que pertenciam a Portugal de acordo com
o Tratado de Tordesilhas.
Devido esta
expedição acabou por ser um dos grandes ausente na comitiva de embaixadores,
procuradores e testemunhas do Tratado de Tordesilhas que integravam, em 1498, a
comitiva que D. Manuel I levou a Toledo.
Depois de 1498,
integrou a expedição de Pedro Alvares Cabral ao Brasil (1500). Em 1503 voltou à
India, no comando de uma nau, sendo um dos heróis da defesa de Cochim.
Em Junho de 1505
regressa a Lisboa, dedicando-se pouco depois a escrever - Esmeraldo de situ orbis - Tratado dos novos
lugares da Terra, por Manuel (D. Manuel I) e Duarte (Duarte Pacheco Pereira).
Trata-se de um verdadeiro atlas de marinharia e cosmografia.
A obra foi escrita no mesmo ano em que Colombo
faleceu em Valhadolid (1506), apesar da sua enorme inovação e rigor, reflecte
alguma dificuldade em aceitar a nova concepção da terra que já se aceitava em
Portugal.
Como muitas outras obras portuguesas foi roubada, perdendo-se o seu rasto, tendo sido
encontrada por um espião italiano, em 1573, que a vendeu a Filipe II
(4). As duas cópias que hoje existem datam do século XVIII, estão muito
incompletas tendo desaparecido os seus mapas.
Após o seu regresso
ao reino é-lhe confiada a defesa do Estreito de Gibraltar - Ceuta. Entre 1509 e
1511, persegue o célebre corsário francês Mondragon, tendo-lhe afundado um navio
e capturado os restantes.
Duarte Pacheco
Pereira, desposou Dona Antónia de Albuquerque, filha de Isabel de Albuquerque e Jorge Garcez, secretário
do rei D. Manuel I. Deste matrimónio teve 5 filhos, dois
dos quais casarem-se com membros da família Silva.
D.Manuel I nomeou-o
capitão de S. Jorge da Mina. Caiu em desgraça com o novo rei - D. João III - que
o manda prender (1522), e é na condição de prisioneiro que regressa a Lisboa.
É impressionante a
similitude deste navegador com Cristovão Colombo, uma relação nunca
estudada.
8.
Garcia de Albuquerque e Pero
Moniz
Faziam parte desta
embaixada dois jovens "improváveis": Garcia de Albuquerque, filho do Conde de
Penamacor, e Pero Moniz, cujas referências familiares ainda não foram
identificadas. Mais
Negociadores
Espanhóis
Nas negociações
finais em Tordesilhas, estiveram presentes e assinaram pela parte de Castela
e Aragão o mordomo-mor D. Henrique Henriquez, D. Gutierre de Cárdenas,
comendador-mor, e o Dr. Rodrigo Maldonado; secretariados por Fernando Álvarez
de Toledo, levavam como testemunhas Pero de Leon, Fernando de Torres e Fernando
Gamarra.
Carlos Fontes
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