|
3. Língua materna
Não
deixa de ser estranho que Colombo não soubesse falar ou escrever em italiano,
ou qualquer um dos seus dialectos, como o toscano.
Apesar
dos historiadores italianos dizerem que veio para Portugal com 24/25 anos, e
de aqui conviver com italianos e manter uma activa correspondência com Itália, a
verdade é que se terá esquecido de imediato do italiano.
As
cartas que escreveu com o seu próprio punho, e não as que ditou, estão
escritas em latim, português espanholado e espanhol aportuguesado. Chegou a
recorrer a tradutores para se fazer compreender pelos italianos.
Alguns
exemplos:
-
A célebre carta de Toscanelli (florentino) para Colombo está escrita em latim
(1474).
-
As cartas de Colombo a Nicolo Oderigo, embaixador de Génova em Espanha estão
escritas em castelhano (1/3/1502,etc). Colombo chega a solicitar a este
embaixador traduza a sua carta para outro italiano (Giovanni Luigi),
demonstrando desconhecer completamente o italiano.
-
Todas as cartas de Colombo para o seu amigo padre Gorricio (italiano) estão
escritas em castelhano.
-
A célebre carta que escreveu ao Banco de S.Jorge, em Génova, está escrita em
espanhol.
a
) Os irmãos sabiam italiano ?
Este
estranho fenómeno ocorreu também com os seus irmão - Bartolomé e Giacomo (Diego) - também eles não sabiam italiano, nem conheciam qualquer palavra
desta língua ou dos seus dialectos.
O
mais estranho é que inclusive se correspondiam entre si, num castelhano
aportuguesado.
A
explicação dos historiadores é a seguinte: Bartolomeu Colon veio viver para
Lisboa com 13/14 anos, e esqueceu completamente o italiano.
O
problema pretende-se com Diego Colon que saiu de Itália em 1491, e por um
estranho fenómeno, dois anos depois já não sabia uma única palavra de
italiano...
b)
Colombo contactava com italianos ?
Este
profundo desconhecimento que Colombo e os seus irmãos revelam do italiano, é
tanto mais intrigante quando a maioria dos historiadores afirma que vivia
rodeado de italianos.
O
mínimo que podemos admitir é que falassem, senão sempre, pelo menos algumas
vezes em italiano. Neste contexto, é impensável que três pessoas esquecessem
tão rápida e profundamente a sua suposta língua materna.
c
) Conhecia o português ?
Não
se conhece nenhum texto em português de Colombo. É no entanto preciso dizer
que os seus documentos originais foram destruídos, o que actualmente possuímos
são cópias em espanhol dos seus escritos.
Apesar
deste facto, analisando os seus textos em castelhanos percebe-se facilmente que a estrutura é portuguesa e encontram-se centenas de palavras portuguesas. Usa com frequência palavras portuguesas ou procura
castelhanizá-las, uma prática que fez até ao fim a vida. É por isso evidente
que sabia falar e escrever em português, uma conclusão hoje largamente
consensual.
D.
João II quando, em 1488, se correspondeu com Colombo fê-lo em português, não
em castelhano ou italiano. As cartas que escreveu a D.João II, e que este
refere, desapareceram.
d
) Sabia latim ?
Colombo
por mais que se esforçasse nunca conseguiu escrever correctamente o espanhol,
revelando inclusive saber escrever melhor em latim. É curioso constatar que
mesmo neste caso, no meio de um texto em latim surgem palavras em portuguesas.
Se
forem autênticas as cartas em latim que Toscanelli lhe escreveu, temos que
admitir que já dominava esta língua antes de 1482, ano em que faleceu este
cosmógrafo florentino.
e
) Explicações Absurdas
Os
historiadores italianos e espanhóis perante este estranho caso, tem explicações
completamente absurdas, tais como:
Colombo
só sabia falar genovês, dilecto falado e não escrita, mas nunca aprendeu a
falar italiano. Era completamente analfabeto quando chegou a Portugal com 26
anos de idade. Neste sentido, foi aqui que aprendeu a escrever e a ler
Que
linguas aprendeu a falar e escrever em Portugal? . Os disparates são mais do
que muitos, vejamos as três teses mais conhecidas:
- Ramón Menéndez Pidal: Colombo durante os 9 anos que aqui viveu,
dedicou-se a aprender a falar e a escrever castelhano e latim . Quando foi para
Castela, falava um castelhano aportuguesado que até ao fim da sua vida manteve.
A forma como escrevia revela que segui a ortografia portuguesa e as suas
estruturas gramaticais, usava inúmeras palavras portuguesas, etc. (4).O português
constituía a sua estrutura linguística básica. Este autor descarta a
possibilidade de Colombo ser castelhano, galego ou mesmo aragonês, pois ele
falava como um português do seu tempo. Apesar disto, afirma que embora soubesse
falar português, nunca aprendeu a escrever nesta lingua.
A
famosa prova que apresenta para fazer semelhante afirmação, isto é, a maneira
como utiliza "o infinito flexionado, igual ao futuro do conjuntivo, em
concordância com o sujeito da frase", não faz qualquer sentido pois o próprio
D. João II escreve a Colombo fazendo a mesma concordância. Será que D. João
II também não sabia falar, nem escrever português ? Pidal, para defender a
tese genovista, envolve-se em autenticas trapalhadas.
- Antonio Rumeu de Armas: Reafirma a ideia que Colombo não sabia italiano,
e que também nunca lhe interessou aprender esta língua. Quando chegou a
Portugal, era completamente analfabeto, tendo aqui aprendido a falar e a
escrever português, castelhano e latim, e rapidamente se esqueceu da sua
suposta língua materna (5). O português passou a ser a sua língua materna.
Afim de manter a tese de Colombo Genovês, este autor não teve outro remédio
do que afirmar que a sua chegada a Portugal foi muito antes de 1476,
provavelmente quando ainda era criança...
Na
mesma linha destes autores, muitos outros confirmam o analfabetismo de Colombo,
acrescentando um ou outro pormenor.
- Mario Donato( 6) na linha de Joaquin Arce (7) e sobretudo de Virgil Milani (8): Nada afirmam sobre o analfabetismo de Colombo. A tese
destes autores é a seguinte: O dilecto genovês do século XV era mais parecido
com o português do que com o italiano, por isso (?) terá decido aprender
português, em vez de italiano.
Esta
seria a razão porque Colombo e os seus dois irmãos se esqueceram rapidamente o
que sabiam do italiano, do dilecto genovês e tudo o mais que tivesse a ver com
a Itália, aprendendo instantaneamente o português. Recorde-se que Colombo
tinha 25 anos quando chegou a Portugal, segundo a biografia oficial italiana.
A
conclusão desta tese é a seguinte: Colombo falava e escrevia um castelhano
aportuguesado, e ao fazê-lo estava também a falar genovês ( !!!), porque este
era parecido com o português. Não deixa de ser estranho que estes autores
NUNCA tenham apresentado nenhuma prova desta espantosa semelhança entre o
português e o dialecto genovês no século XV.
f)
Língua Padrão
3.
Estudos mais rigorosos e sérios, como o de Juan Gil (11), não tem dúvidas
e afirmar que a língua padrão de Colombo era o português não o italiano.
Nos
21 anos que passou em Espanha embora se tenha esforçado por falar e escrever
correctamente o espanhol, nunca o conseguiu completamente. A esmagadora maioria
dos erros que dava em castelhano deviam-se à persistência da língua
portuguesa na sua mente. Procura frequentemente
castelhanizar palavras portuguesas.
As
raríssimas palavras italianas que usou, na maioria eram também usadas em
Portugal na época. Quando procurou negociar com o Banco de S. Jorge de Génova,
m 1502, terá tentado fazer uma cópia de um curto texto em italiano, mas o
resultado foi desastroso. Escreveu inclusive palavras em português.
g
) Linguagem
Juan
Gil demonstrou que a cosmovisão de Colombo era portuguesa, chegando inclusive a
afirmar que os problemas que colocou só podiam ser colocados por português.
1.
Erros mais frequentes
Colombo
ao falar uma língua que não é a sua dá frequentes erros em português, ou
emprega mesmo
palavras
e expressões portuguesas:
1.1. Quando tentou escrever em italiano
Os
italianos têm procurado exaustivamente nos textos de Colombo provas de que
sabia italiano, mas descobriram dois curtos textos, sobre os quais não há
provas inequívocas que tenham sido por ele escritos.
-
No livro "Historia Naturale di Plinio", escrito em italiano, surgem um
conjunto de anotações nas margens, que têm sido atribuídas a Colombo. Numa
dessas anotações, alguém terá tentado escrever em italiano, mas o maximo que
conseguiu foi escrever um curto texto desconexo, repleto de palavras castelhanas
e portuguesas.
Algumas
como "parda" são claramente portuguesas.
-
No "Livro das Profecias" (1502), escrito em castelhano, na margem de
uma página, diz-se que Colombo terá tentado traduzir para italiano uma glosa
de Nicolás de Lira. Não só
revela desconhecer o italiano, como algumas das palavras que seriam supostamente
nesta lingua estão escritas em português, por exemplo: "simigliança"
tem um "ç" português. A palavra italiana seria "simiglianza".
Recorde-se que Colombo para a elaboração deste livro contou com a colaboração
de um padre italiano, mas mesmo assim não teria sido capaz de escrever nesta
lingua.
1.2. Quando
escreve em Castelhano
Durante
21 anos em Espanha, nunca conseguiu aprender a escrever correctamente em
castelhano, escrevendo quase sempre as palavras na sua forma portuguesa (1):
a) A
terminação de palavras: -m : um (por un), tam (por tan), fablem (por fablen ‘hablen’... Menéndez Pidal escreve ao respeito: "vm por ‘un’ es la peculiaridad que primero salta a la vista en cualquier autógrafo
de Colón" (Mz. Pidal, pág. 37).
b) Usa
incorrectamente os ditongos decrescentes: oi, ou, sey (por sé),
tesoyrero (por tesorero).
c) Usa
incorrectamente os ditongos crescentes: ue. Em alguns casos, Colombo, não
acerta a usar o ditongo, empregando no seu lugar uma forma não ditongada: atamentos (por atamientos), quer (por quiere), quero (por quiero), qualquera (por qualquiera); sinte (por siente), consinte (por consiente), corda (por cuerda), força (por fuerça)...; noutros casos
introduz o ditongo indevidamente, quando na realidade não existe: depiende (por depende). Desconhece o ditongo "ie", devido à sua
inexistência em português.
d) Vacila entre
escrever "-oa" e "-ua".Umas vezes escreve "canoas"
outras "canúas", "légoas" e "leguas".
d) Introduz
irregularidades no vocalismo átono: correu (por correo), deseu (por deseo), pudía (por podia)...
e) Confunde
géneros gramaticais, seguindo género em português: el nariz (por la
nariz), un señal (por una señal)...
f) Formas
incorrectas do el com o valor do cast. ‘lo’ (neutro); eses,
deses (por esos, desos); le com o valor do cast. ‘les’...
g) Apócope
verbal: diz, faz, quer...
h)
Modifica o prefixo castelhano - "-miente", escrevia frequentemente na
forma portuguesa "-mento".
i)
Vacila na aplicação do "a-" em castelhano, aplicando-o na sua forma
portuguesa (cerca e acerca, tras e atrás, tentar e atentar, dentro e adentro,
etc).
j)
Utiliza com frequência a cedilha para escrever o grupo çe, çi,
mesmo quando se expressa em latim. A estrutura do português é omnipresente na
sua linguagem.
l)
Anasala palavras e nomes castelhanos, escrevendo-as como soam a um ouvido
habituado a sons portugueses.
m)
Onomatopéias: Empregou palavras onomatopeias portuguesas para interpretar sons
estranhos:
A
estrutura da lingua de Colombo era portuguesa. Juan
Gil afirma que falava e escrevia um português castelhanizado ou um espanhol
aportuguesado (11).
3.
Léxico
Colombo preservou ao longos dos 21
anos em Espanha um vasto número de palavras inequivocamente portuguesas.
Rodrigo de Sá Nogueira,
analisou os textos de Colombo, assim como o estudo de Pidal e as observações de
Navarrete sobre a linguagem de Colombo , registou cerca de 150 palavras de
origem portuguesa, apresentando para cada a respectiva justificação etimológica
e fonética (2). Muitas destas palavras foram deformadas por Las Casas e outros
correctores espanhóis dos textos de Colombo:
abondancia, acordar, afloxerá, ali,
al longo de, apontan, aquelles, atamentos, aviamento, barlavento, boeluo, boy,
calmeria, campina, canoas, cargazón, cayan, ceotis, cerrazón, choza,
coenta, coerpo, contecillas, consinten, corda, coste, corredio, correu,
crimes, cualquera, curral, custa, dipiende, derrar, descobrio, deseu,
desimparar, despois, depuso, deter,devino, dilito, dise, diseron,
diseren, diso, diz, docados, embedioso, emposible, errar, eses, esfoerço,
esperas, espereria, espeto, estes, falar, fablerá, fallerá, fallería, fallo,
fame, faz, fenida, fenytos, fexoes, fisga, fugir, haz, impresa,
incobriera, incomperable, increspan, ingendró, ingente, ingorda, intenda, isléo,
lobado, mames, manegueta, martirezaron, misiricordia, multetude, multidumbre,
multipliquerá, nacimento, nariz, niames, ningum, obe, ocorre, pagamento, parda, pardela (ave), parerá, parerán, perigos, pertence, pijotas, piticiun,
poerto, prieto, prol, prunta, pudido, pudere, puriente, qualquera, quera, quere,
quer, querean, quero, quisere, quiseren, quiseron, redonda, relieva, requerem,
rol, rompir, saliron, salvamento, sede, seguyese, sementera, senal, setcentas,
setuado, sey, sinte, simten, soerte, soma, sospende, sospenso, sotavento, syntia,
tablazón, Tejo, tener, tengo de ir, tesoyrero, tien, trauto, trestura, truse,
trusieron, um, ven, ventezuelo, vinte, virazón, virdes, viveo, vnce, ynteramente.
A relação de Rodrigo de Sá Nogueira
está longe de ser exaustiva. Investigadores como Juan Gil tem acrescentado
muitas outras palavras, que apesar de terem sido deformadas, ainda assim é
possível identificar a sua origem portuguesa.
O
próprio vocabulário específico que usa é também ele inequivocamente português.
4.
Pessoas, Vestuário, Hábitos
5.
Vocabulário náutico
Ao
contrário do que muitos esperariam Colombo nunca emprega termos oriundos do
Mediterrâneo, mas sim do atlântico usados pelos nautas portugueses.
A questão todavia não é específica
de Colombo, pois, como demonstrou Leo Magnino, na língua italiana mais de 100
vocábulos na náuticos são de origem portuguesa (10).
6.
Uma descrição portuguesa das Índias espanholas
Os
termos que utiliza nas suas primeiras impressões das Indias, são idênticos
aos que os portugueses utilizavam para descrever as costas da Guiné. Por
exemplo chama às canoas "almadias" e às lanças "azagayas",
termos portugueses da Africa Ocidental. Mais
<
7.
Clima
8.
Fenómenos naturais
9.
Plantas, animais, alimentos
Utiliza o nome nãme, niame ou inãme,
que aprendeu na Guiné, para identificar um tuberculo nas Indias parecido com a
batata (Diário de Bordo, 14/11/1492; 16/12/1492; etc). Os espanhóis chamam-lhe "ajes"
(cfr. carta de Diego Alvarez Chanca)
10.
Armas de Guerra
h)
Textos sem Portuguesismo
Os
únicos escritos de Colombo onde não se encontram palavras portuguesas ou
espanholadas, é justamente os considerados falsos. Os falsários italianos e
espanhóis esqueceram-se de um pormenor importante: até ao final da vida
Colombo deu sempre erros ... com português.
i)
Linguagem Italiana ?
Inúmeros
investigadores têm procurado sem cessar encontrar palavras italianas no vocabulário
usado por Colombo. Aparentemente a tarefa seria simples, uma vez que o portugues
e o italiano são linguas latinas, com a mesma origem latina.
A
verdade é que o mesmo não aprendeu nada de italiano. Uma conclusão chocante
para todos os que dedicam ao estudo da sua lingua.
As raríssimas palavras italianas utilizadas por Colombo (Cfr. Juan Gil,
ob.cit) são quase todas portuguesas:
-
"Porque", uma palavra portuguesa, com o mesmo sentido que Colombo a
usa. Afirma-se que deriva da palavra italiana: "purchè".
-
"Próprio", no sentido de "cabalmente", uma palavra sem dúvida
portuguesa. Afirma-se que é italiana.
-"Aquí",
como o mesmo sentido da palavra portuguesa "aqui". Afirma-se que é a
palavra italiana "chi" (p.59).
-
"Tanto", com o mesmo significado em português. Pretende ver aqui um
italianismo ( !!!).(p.59)
-
"Cierto", em português "certo" em italiano
"certo".
-
"Dar reguardo" (prestar atenção), expressão usada em Portugal
tempo, mas com equivalentes próximos em italiano e francês.
Apenas
nos textos em latim os investigadores, pelas razões mais obvias, descobriram
palavras que se aproximam mais do italiano. É evidente que qualquer português
na época ao escrever em latim teria mesmo resultado.
Nomes
de Terras !
Nos nomes que deu a ilhas
e locais continuou a usar palavras portuguesas, mas nunca italianas. Um
facto que só por si dá que pensar sobre a sua verdadeira origem Mais. |
Carlos
Fontes |