A
missão de Colombo insere-se dentro de uma estratégia de partilha do mundo,
entre Portugal e a Espanha. Ao que tudo indica, a partir de 1488 actuou como um espião ao serviço de Portugal.
Os
dois países disputaram entre o século XIV e o século XVI a posse das Canárias e o Norte de África.
As
Canárias ocupavam uma importante posição estratégica para as navegações ao longo da Costa
Ocidental de África, nomeadamente para o comércio de ouro, marfim e
escravos. As guerras e manobras diplomáticas pela sua posse eram
permanentes entre Portugal e Castela.
O
mesmo acontecia com as costas do Norte de África, zona que Portugal procurou
expandir-se depois de 1415. Castela reagia a estas ofensivas e procurava
apossar-se também de África, aliando-se frequentemente aos próprios
muçulmanos contra Portugal. Em 1449, D. João II de Castela fez mercê de toda
a costa entre o Cabo de Aguer e o Cabo do Bojador os Duques de Medina-Sidónia.
Portugal reagiu investindo no controlo da região. Henrique IV de Castela voltou
a fazer mercê destas costa aos senhores das Canárias, Diogo de Garcia de
Herrera e Gonzalo de Saavedra. A guerra acabou por acontecer entre 1474 e
1479, durante a qual Castela ajuda os muçulmanos a cercarem Ceuta (1476) e
constroem um forte em Santa Cruz no sul de Marrocos. Os portugueses não tardam
a contra-atacar reforçando a sua presença na região.
a)
Tratado de Alcaçovas
O
conflito entre os dois países tiveram uma pausa, quando os dois países assinaram o Tratado das Alcaçovas (1479),cujas negociações estiveram a cargo de
duas mulheres: Dona Beatriz, Duquesa de Viseu e Beja, e da sua sobrinha, Isabel,
rainha de Castela.
Portugal abandonou a pretensão à posse
das Canárias, em troca os espanhóis comprometeram-se a respeitar a soberania
portuguesa sobre os mares e terras a sul das Canárias
até aos confins da África, assim como o direito de conquista de todo o Reino
de Fez (Norte de África). Este tratado dava a Portugal o monopólio português de comércio e
explorações a sul das Canárias, dando-lhe igualmente o direito de matar todos
aqueles que não o respeitassem. Dezenas de barcos espanhóis que o
tentaram fazer foram apreendidos, incendiados e as suas tripulações mortas.
O
Tratado de Alcaçovas, em 1479, apenas garantia a Portugal a posse da costa
Ocidental de África a sul das Canárias, mas também as cidades que havia
já conquistado a norte (Ceuta, Arzila, etc).
b
) Tratado de Toledo (1480 )
D.
João II consegue, em 1480, aprovar um novo tratado idêntico ao anterior, mas com uma
enorme alteração: Portugal ficava também com as terras a descobrir em
frente da Guiné, isto é, o actual Brasil ( os portugueses já conheciam a sua
existência) e alargava a posse das terras a descobrir até à India.
As
condições destes Tratados dificilmente poderiam ser aceites por muito tempo,
dado que impedia os espanhóis de terem acesso às pescarias entre o Cabo do
Bojador e o Rio do Ouro, assim como outras fabulosas riquezas
africanas (ouro, escravos, marfim, etc) Os reis espanhóis ao aperceberem-se do
facto, recorreram ao papa, de forma a limitar estas concessões.
O papa Sisto IV
outorgou, a 21 de Junho de 1481, a bula Aeternis Regis, na qual se afirmava que
a proibição de navegar a sul do Bojador não se aplicava aos castelhanos. Os
conflitos prosseguiram, tentando os castelhanos conquistar posições na costa
ocidental de África, em particular na zona fronteira às Canárias, aliando-se
aos muçulmanos ( 2 ).
O
problema agravou-se quando os espanhóis perceberam que o Tratado os impedia
também de chegarem à India contornando a África, um projecto em que os
portugueses estavam envolvidos. A Espanha sente que está a ser ultrapassada e
excluída em todas as frentes.
O
Tratado de Toledo (1480), garantia a Portugal todas as costas de África até à
India, assim como as ilhas e terras firmes diante da Guiné, o Brasil.
Portugal
deixa estrategicamente as Antilhas para a Espanha, a "India" que
depois Colombo lhes irá procurar vender.
c) Reunião em Carnide. Diogo Ortiz de Vilhegas, Calçadilha
É neste contexto que D. João II se reune com Colombo, em Junho de 1483 na Igreja de Carnide. A sua proposta de chegar à India navegando para ocidente é analisada pelo mestre José Vizinho, mestre Rodrigo e Diogo Ortiz de Vilhegas, Calçadilha (1443-1519). Segundo a tradição foi Calçadilha quem mais se opôs à proposta de Colombo. Era amigo intimo de D. João II. Foi professor de Astrologia na Universidade de Salamanca, docência que abandonou por defender os direitos de Afonso V ao trono de Castela. Chegou a Portugal em 1476 e aqui foi protegido por vários reis portugueses, sendo nomeado para vários cargos, como prior do
Mosteiro de S. Vicente de Fora (1491), bispo de Tanger (1491-1500), Ceuta (1500-1504) e Viseu (1505-1519). Defendia que Portugal devia contornar África para atingir a India. D. João II nunca se manifestou desiludido com esta opção, tendo-o recompensado generosamente.
d) Missão de Colomboe
a Longa Hesitação da Rainha Isabel de Castela
Colombo
(Cristoval Colon), surge em Castela, em fins 1484, na sequência de de
uma conspiração contra D. João II, protagonizada pelo Duque de Viseu e Beja
e mestre da Ordem de Cristo. O seu objectivo foi desde logo oferecer-se para resolver
o problema com que os castelhanos se debatiam, amarrados que estavam com os Tratados internacionais
com Portugal.
Sem
pôr em causa os Tratados de Alcaçovas-Toledo, oferece-lhes uma solução milagrosa:
- chegarem à India navegando para Ocidente na faixa entre os 28º e os 30º,
partindo das Canárias ( 29º).
Seguindo esta rota, de acordo com a
carta de Toscanelli e o globo de Martin Behaim iriam primeiro encontrar
ilhas no Mar dos Sargaços, depois o Japão (cipango) e logo a seguir a China (Cataio).
A sul deste paralelo das Canárias ficava a India propriamente dita.
Pero Vasques de Fronteira,
segundo o testemunho de Alonso Velez no Pleitos, afirmou: que "se
siguiesen la via derecha, porque hera imposible no dar con la tierra y de
necesidad lo avian de hacer" (16). Colombo só tinha que seguir esta rota e era
seguro que havia de dar com as ilhas do mar dos Sargaços.
A
verdade é que Isabel,
rainha de Castela, filha de uma portuguesa, não aceita a proposta durante sete
anos.
Muito se tem escrito sobre uma decisão tão lenta, até porque Isabel
passou a dar a Colombo uma significativa tença para não fazer nada, nem
descobrir coisa nenhuma.
A
relutância em aceitar esta proposta de Colombo prendia-se com um facto da maior
importância para Castela, Aragão e a própria Península Ibérica.
O
Tratado de Alcaçovas (1479), estabelecia que o entendimento entre os
dois reinos ibéricos seria alicerçado no casamento do principe D. Afonso,
herdeiro do trono de Portugal, com a filha mais velha dos reis católicos.
Se aceitassem
a proposta de Colombo, os reis espanhóis estariam a trair o acordo matrimonial entre as duas
cortes.
Colombo, como temos defendido,
pertencia à casa dos Duques de Beja-Viseu , e estava a usar informações obtidas
pelos navegadores desta casa ducal. Para todos os efeitos
tratava-se de mais um nobre traidor do rei de Portugal, como muitos outros que na altura se haviam refugiado em
Castela, com os quais vivia rodeado em Sevilha.
As
duas cortes estavam empenhadas em manter relações amigáveis. O projecto de
Colombo, apoiado pelos exilados portugueses, continuou a ser encarado com
enormes reservas.
O principe português acabou por casar-se, em 1490, com a
Infanta castelhana. Pouco depois deste casamento morria a princesa Joana, irmã de D. João II.
Um facto da maior importância, dado que catapultava - D. Manuel, Duque de Beja
e senhor de Viseu, mestre da Ordem de Cristo - para a segunda posição na
sucessão ao trono de Portugal.
Hernando de Talavera,
Colombo e a Morte do Príncipe
Em todo o processo negocial entre
Castela e Portugal existe uma figura fundamental, frequentemente esquecida: O embaixador Hernando de Talavera. Mais
Competiu-lhe, em 1474, vigiar os
votos da princesa Joana, dita em Espanha, a Beltraneja. É-lhe atribuída uma
carta, datada de 1475, em que defende a legitimidade ao trono de Isabel, a
católica. A carta circulou entre a nobreza portuguesa, seno a sua autoria também
atribuída ao confessor de D. Afonso V (Cfr.Pulgar).
Está presente na negociações que conduziram à
paz de 1479, pondo fim a uma guerra de quatro anos. Passou a controlar tudo o
que o fazia princesa Joana, em Portugal.
Em 1483, é o representante por Castela,
nas negociações sobre
o fim das Terciarias.
Em 1490 trouxe a para Portugal a princesa espanhola (primogénita), para se casar com
o principe D.
Afonso, herdeiro do trono de Portugal, de acordo com as clausulas do Tratado de Alcáçovas-Toledo (1479-1480).
Era, portanto, a pessoa que melhor
podia avaliar os assuntos que pudessem implicar as relações com Portugal, e
conhecia seguramente o percurso e relações de Colombo em Portugal.
Quando Colombo aparece em Castela,
em 1485, para propor uma viagem para Ocidente, a sua principal preocupação foi
garantir que esta viagem NUNCA pudesse colocar em risco a paz com Portugal, e
nomeadamente o
casamento da princesa espanhola com o herdeiro do trono português. Face aos
compromissos que estavam em jogo, a proposta não podia ser aceite.
Nesse sentido, mandou que a Colombo
fosse pago uma tença, mas opôs-se à autorização da viagem ao longo de seis
anos (1485-1491). (21)
A
situação alterou-se subitamente em Julho de 1491. O príncipe português - D. Afonso
- morre num acidente equestre, tendo a princesa castelhana regressado de imediato
ao seu país.
Em virtude deste acidente mortal - D. Manuel I, irmão do
Duque D. Diogo (chefe da conspiração que levara à fuga de Colombo para
Castela), tornou-se no herdeiro "natural" do trono de Portugal, mas D. João II
não o aceita.
Hernando de Talavera, face a este
contexto geo-político, percebe pode
aprovar o projecto de Colombo, sem que ponha em risco as pazes entre os dois reinos. Apesar de tudo, ainda manifesta alguns alguns receios.
Disputa da Sucessão e a decisão
sobre Colombo
A questão da sucessão do trono em
Portugal, a partir de Julho de 1491, aprofunda-se a divisão da
sociedade portuguesa e tem imediatas implicações internacionais. O imperador
Maximiliano fez questão de anunciar os seus direitos ao trono de Portugal (26).
1. D. João II, entre 1491 e
1495, procura
desesperadamente legitimar o seu filho bastardo - D. Jorge de Lencastre - de
modo a que o mesmo o suceda no trono. Dá-lhe todos os domínios que haviam
pertencido ao principe falecido, e nomeia-o mestre da Ordem de Santiago e de Aviz
(12
de Abril de 1492) de forma a dar-lhe suficiente poder para o poder legitimar
(25).
Em testamento pede que D. Manuel I lhe dê
a Ilha da Madeira, o mestrado da Ordem de Cristo e o faça duque de
Coimbra (24).
Envia embaixadas ao papa solicitando
a sua legitimação (29). Negoceia o apoio do rei de França a esta causa (27). Procura
negociar com os próprios reis de Espanha este apoio, nomeadamente através de
contrapartidas no Tratado de Tordesilhas (30).
2. A rainha Dona Leonor, apoiada pela
sua mãe, a influente Duquesa Dona Beatriz,
defende a sem hesitações a sucessão seja feita através do seu irmão - D.
Manuel, Duque de Beja, mestre da Ordem de Cristo. Resende (Cap.CXXXIIII) e Góis (I,II) afirmam que foi a principal opositora à
legitimação.
A rainha contava com poderosos
apoios: o cardeal Alpedrinha em Roma; os exilados portugueses em Espanha,
chefiados por D. Alvaro de Bragança.
Este nobre, apoiado pelo Duque de Medina-Sidónia e de Alba estariam dispostos a
invadir Portugal, caso D. João II nomeasse D. Jorge seu sucessor.
A rainha Dona Leonor contava, como é
obvio, com o apoio dos reis de Espanha.
3. Isabel, a católica, filha
de uma portuguesa, sobrinha e amiga de Dona Beatriz, passou a mostrar-se
particularmente hostil a D.João II. Tinha em Roma o apoio de D. Jorge da Costa,
mas também do papa valenciano Alexandre VI.
Repudiou desde logo as intenções de
legitimação de D.Jorge de Lencastre, defendendo sem hesitações o partido de D.
Manuel, com o qual irá casar a sua filha viúva do principe D. Afonso...
Várias praças fortes espanholas
junto à fronteira são preparadas para intervir a favor de D. Manuel .
Num ato de
hostilidade, ainda no mês de Julho de 1491, manda avançar com o
projecto, encarregando Hernando de Talavera e Diego de Deza de negociarem apenas
as exigências impostas por Colombo, que viram a ser consagradas nas Capitulações
de Santa Fé (Abril de 1492).
A autorização da viagem de Colombo
enquadrava no espírito de partilha das descobertas marítimas defendido pela casa
dos Duques de Beja, mas também nas viagens que esta casa promovia para ocidente.
D. Manuel, o
herdeiro do trono de Portugal, era sabido que também não se oporia, nem veria nesta
viagem
qualquer gesto de traição de um antigo membro da sua casa, muito pelo
contrário.
Esta
casa ducal que dominava as ilhas Atlânticas (Açores, Madeira e Cabo Verde),
assim como as costas da Guiné, estava, igualmente interessada em afastar a
Espanha e outros reinos europeus destas costas africanas.
A atitude de hostilidade dos reis
espanhóis para com D. João II foi ao ponto de em Abril de 1492, nas Capitulações
de Santa Fé, se proclamarem "senhores dos Oceanos" e nomearem Colombo "Almirante
do Mar Oceano", ignorando completamente os domínios de Portugal acordados no
Tratado de Alcáçovas-Toledo. Em princípios de 1492 mandam organizar a conhecida
armada de Vizcaia.
A tensão persistiu entre os dois
reinos (28), e só terminou quando D. Manuel I foi aclamado rei (27 de Outubro de 1495).
A verdade é que Colombo
nas duas primeiras
viagens que fez às Antilhas fez questão de afirmar que navegou sempre dentro dos limites dos Tratados de Alcaçovas-Toledo,
mas é provavel que estivesse a mentir. A verdade é que
sabemos que é a sua ideia de levar os espanhóis para as "Indias" (Ocidente) agradava a D. João II, na medida que afastava os
espanhóis da costa ocidental de África e da rota que os portugueses estavam a
seguir para chegar às especiarias das India.
e ) Que Rota Seguiu?
Não é hoje evidente a rota que
seguiu na 1ª. Viagem para as Indias, quando saiu de Palos a 3 de Agosto de 1492. Os
investigadores sempre tiveram dúvidas sobre a rota indicado no seu Diário de
Bordo, onde afirma que a partir da Ilha de Ferro (Canárias)
navegou sempre para Oeste até Guanahaní.
Uma análise cuidadosa do Diário de
Bordo, leva-nos a concluir que a partir das Canárias
rumou na direcção de Cabo Verde, tendo atingido esta latitude, deu uma volta a
Sul e rumou para Noroeste, indo parar às Bahamas, aproveitando as correntes e
os ventos já conhecidos dos pilotos portugueses. Esta rota, como vimos,
aparece já descrita num Roteiro português anterior a 1485, como tão bem sabia D.
João II. Mais
ef Regresso das Indias
No regresso da primeira viagem às Indias, Colombo
dirigiu-se para os Açores e daqui directamente para Lisboa, onde tem dois
encontros com as duas facções que se opunham na sociedade portuguesa.
O primeiro encontro foi com o rei D. João II em Vale do Paraíso, e o segundo encontro, em Santo
António da Castanheira, com a rainha Dona Leonor, Dona Beatriz e...
D.Manuel.
Durante os 10 dias que passou na
região de Lisboa, não só prestou vassalagem ao rei, mas sobretudo à rainha e aos
seu irmão - D.Manuel.
É
a partir de Lisboa que informa toda a Europa da sua descoberta, e só depois se
dirigirá para Espanha para informar os seus reis, os quais foram os últimos
a saber.
Nas
longas conversações que manteve durante dois dias com D. João II, em Vale do
Paraíso, confirmou-se que a Hispaniola, estava
situada a 19,30º, isto é, dentro dos domínios de Portugal. Um facto que
permitiria ao
rei português forçar os espanhóis a negociarem uma nova partilha do mundo.
D. João II evocando o Tratado de Alcáçovas-Toledo,
começou por reclamar, a soberania sobre os novos territórios descobertos.
Ameaçou mesmo com uma nova guerra. Numa manobra de diversão começou a negociar uma aliança de protecção mútua com o seu primo, o imperador
do sacro Império Germânico Maximiliano.
1. A Prisão de dois
Marinheiros
em Lisboa e a expedição portuguesa às Indias.
Apesar de D. João II apoiar a viagem
de Colombo, nem por isso a deixou de a vigiar desde que a mesma saiu de Palos
em 1492.
Testemunhos
da época e vários historiadores espanhóis referem o facto de que quando Colombo chegou a
Lisboa, a 4 de Março de 1493, pelo menos dois marinheiros portugueses estavam a
bordo da sua caravela ( 12 ). O rei D. João II
mandou-os prender, sabendo obviamente da sua presença. Colombo
não refere o caso no seu Diário, assim como Las Casas ou Hernando Colón.
Esta
prisão está documentada em Espanha: O "memorial de la Mejorada",
documento atribuído ao próprio Cristovão Colombo, datado de Julho de
1497, refere as prisões e a expedição portuguesa (15). Na Colección Muñoz, da Academia de História (de Espanha) existe a cópia
de um documento datado de 1523 que consta no Real Patronato de Simancas, Arca 2,
com esta informação. O
cronista espanhol Jerónimo Zurita y Castro, confirma que estas prisões aconteceram,
pois o rei de Portugal sabia que vinham portugueses a bordo.
Porque
Colombo nunca referiu publicamente este caso ? Estaria a esconder a presença de dois outros
espiões que o ajudaram nesta missão ? O dinheiro que D. João II deu na altura
a um marinheiro, na presença de Colombo, teria sido para pagar a sua acção de
espionagem ?
2.
Armada Portuguesa
Há
um ponto que várias fontes de informação espanholas estão de acordo num
ponto: Após estas prisões, D. João II, em 1493, formou uma armada ou enviou navios
para as Indias espanholas.. Os dois marinheiros serviram de guias ou pilotos (13).
Sobre
esta expedição portuguesa, existem múltiplos testemunhos
documentais em Espanha:
-
A primeira referência data de 2/5/1493, e é uma carta dos reis católicos para
o Duque de Medinacelli, agradecendo-lhe a informação que lhes dera da
formação de uma armada portuguesa pronta para para a India(18). A armada seria
comandada por Francisco de Almeida,
cavaleiro da Ordem de Santiago e futuro vice-rei da India.
-
A segunda é do próprio Colombo. Numa carta dos reis católicos, data de 1 de
Junho de 1493, escrevem: "Vimos
vossa carta, e quanto ao que nos escrevestes que soubestes dos navios que elRey
de Portugal enviou" (17).
-
Os reis católicos voltam a escrever-lhe a 12/6/1493, dando-lhe conta que D.
João II lhe garantira que não enviara nenhuma armada. Pedem-lhe que se
apresse na saída para as Indias. Numa nova carta, datada de 27/7/1493,
referem a questão da armada portuguesa, e pedem-lhe que se apresse.
(9)
3.
Caravela da Ilha da Madeira
Colombo,
em Agosto de 1493, informa os reis espanhóis que havia saído da Ilha da
Madeira uma caravela com destino às Indias, e para os contentar, afirma que mandará navios
na sua perseguição quando voltar às Indias:
"y
cuanto á lo que desis vos escribieron que el Rei de Portugal envió una
carabela desde la isla de la Madera, y que la quereis á enviar á buscar con
parte de las carabelas que vos lleváredes , muy bien nos paresce que así lo
fagais" (20).
Numa
carta datada de 5/9/1493, os reis católicos informam-no que os embaixadores
portugueses lhes haviam dito que caravela que saiu da Ilha da Madeira não
pertencia a D. João II, e este havia mandado na sua perseguição três
caravelas (19). Os reis espanhóis confessam não acreditarem nas palavras do
rei português. Ordenam que nas Indias "se les tomem los navios y personas
que allá fueren". Uma vez mais pedem-lhe que se apresse a regressar às
Indias, coisa que parece não estar preocupado em fazer.
4.
Regresso da Expedição portuguesa das Indias
Os
cronistas portugueses, como era de esperar omitem por completo o caso (prisões,
expedição, etc). A política do segredo assim o exigia. Apenas,
no século XVIII, António Caetano Sousa, nas Provas Genealógicas da Casa de
Bragança, levanta o véu afirmando que a seguir à vinda de Colombo,
D. João II recebeu novas e mais precisas informações sobre as Indias,
elementos indispensáveis para as negociações do Tratado de Tordesilhas.
A
que expedição se estava a referir?
Sabemos que ainda em Agosto de 1493, os reis espanhóis informam Colombo que os embaixadores
portugueses que haviam chegado para negociações, nada sabiam das Indias
espanholas. Tratava-se de uma manobra para ganhar tempo. Acabaram por suspender as
negociações, sob o pretexto de necessitarem de receberem instruções de D.
João II.
Colombo
só partiu para as Indias a 25/9/1493, numa altura que estariam de
regresso as caravelas que D. João II para aí havia enviado.
Entre
os novos negociadores que Portugal enviou para Espanha, e que acabaram por
assinar o Tratado de Tordesilhas, estava um dos mais notáveis navegadores e
cosmógrafos portugueses - Duarte
Pacheco Pereira.
Na
posse dos novos dados, obtidos certamente nas Indias espanholas, os portugueses, acabaram exigir
e impor um novo meridiano, muito mais a Ocidente do que o anterior.
A
Espanha vê-se compelida a negociar com Portugal um novo Tratado de partilha do
mundo.
f
)gSugestão e manobras de Colombo
Por sugestão de Colombo, os Reis Católicos
solicitam ao Papa Alexandre VI (o espanhol Rodrigo de Bórgia ), o
domínio dos novos territórios descobertos.
A
bula Inter Caetera I, datada de 3 de Maio de 1493, confirmava as
espanholas aos domínio das terras descobertas ou a descobrir a Ocidente, mas
ressalvava os direitos adquiridos nesta matéria por qualquer príncipe cristão.
O que chocava com o disposto no Trata do Toledo (1480).
A
bula Inter Caetera II, escrita em Junho, mas antedatada de 4 de
Maio, declarava que aos Reis Católicos estava apenas reservada a jurisdição
das terras a Ocidente de uma linha meridiana traçada de pólo a pólo, situada
a 100 léguas dos arquipélagos de Açores e de Cabo Verde, que tenham sido
descobertas até 25 de Dezembro de 1492.
A
bula feita por sugestão de Colombo, assegurava para Portugal a posse de parte do
Brasil e das costas do Canadá, impedindo que no hemisfério sul a Espanha pudesse atingir
por mar a verdadeira India. A
partilha do mundo passava a ser feita através de um meridiano, e não de um
paralelo.
Portugal,
acabou por recusar a intervenção papal, obrigando os espanhóis a aceitarem
negociar directamente as respectivas áreas de
influência no Mundo ( 1 ), caso contrário partiria para a guerra.
Colombo
coloca os reis espanhóis numa situação de grande fragilidade nas
negociações, ao não lhes dar informações precisas sobre as terras que
descobrira (graus, posições, latitudes, longitudes, mapas, etc), obrigando-os
a negociar às cegas com os portugueses
O Diário de Bordo que envia,
tardiamente, aos reis espanhóis, como escreve Emiliano Jos (22), não passa de um
extrato de um outro mais detalhado. O que os reis recebem continha apenas
escassas indicações sobre a rota seguida, a situação das ilhas encontradas. A
informação era tão diminuta que os monarcas, quando lhe devolvem o Diário
de Bordo, confessam numa carta que lhe escrevem, que para o entender necessitavam de saber o
grau da rota que seguiu e a efectiva posição das Indias.
Apesar das várias insistências que
estes reis lhes faziam (23), partirá para a sua 2ª. viagem às Indias, a 25 de
Setembro de 1493, sem lhes deixar nenhuma informação concreta.
A
única informação não literária sobre as Indias que lhes forneceu, terá
sido apenas enviada em Abril de 1494, através de António
de Torres. Na carta datada de 30/1/1494, afirma que a sua 2ª.viagem estava
a ser um sucesso, transmitindo dados grosseiramente manipulados e com vários
erros:
-
As Canárias, em particular a ilha de Gomeira, são situadas a 26º., quando na
realidade estão a 28º. A Ilha de Hispaniola foi situada a 26º, quando na
realidade está a 19,3º. A manipulação destes dados tem um único
objectivo: situar as ilhas Indias dentro dos limites do antigo Tratado de
Alcaçovas-Toledo, evitando possíveis problemas de legitimidade. Uma questão
que D. João II colocou no inicio, mas uma vez os espanhóis sentados à mesa
das negociações deixou logo cair.
-
O valor do grau é calculado em 56,6 milhas italianas, isto é, 14 1/6 léguas. Um dado que provoca a ilusão aos
negociadores espanhóis que a Espanha ficaria não apenas com as Indias, mas
também com toda a Ásia, incluindo a parte oriental de África até Cabo da Boa
Esperança. Este era o ponto decisivo das negociações, o grande logro !
-
Colombo garante-lhes que as ilhas que encontrara pertenciam ao "princípio
do Oriente", o que era atestado por uma enorme abundância de especiarias e
ouro nos rios. Os reis espanhóis ficaram convencidos que as ilhas que este
descobrira eram parte da Ásia, e que não haviam terras entre as 100 e as
370 léguas.
O
Tratado de Tordesilhas foi assinado, a 7 de Junho de 1494. Os espanhóis
continuavam a não ter informações seguras e alguns começaram a contestar os
seus cálculos. Aflitos os reis católicos fizeram-lhe um ultimato:
Colombo tinham que regressar a Espanha para os
ajudar nas negociações com os portugueses.
Como era de esperar
ignorou a ordem real.
Nestas negociações, limitou-se a seguir as instruções
dadas em Março de 1493 por D. João II.
Jerónimo Zurita y
Castro deixa entender que durante as negociações, D. João II procurou fazer
certas concessões em troca da Espanha aceitar a legitimação do seu filho D.
Jorge de Lencastre.
g) Tratado de Tordesilhas
Durante
as negociações Portugal consegue aumentar os seus domínios. Em vez de 100 a partir dos Açores, foram aprovadas 370 léguas a oeste de Cabo Verde, mais
120 léguas do que as estabelecidas
pelo Papa em 1493. Este facto revela que as explorações entretanto realizadas,
mostravam a necessidade de aumentar a linha de divisão de modo a abranger uma maior
porção do Brasil e do Canadá.
A
proposta de Colombo, em 1493, garantia a Portugal a posse do Brasil.
O
Tratado de Tordesilhas aprovado, em 1494, garantia uma maior fatia deste
território.
O
Tratado de Tordesilhas dava a Ocidente as Indias aos espanhóis, mas outro lado do
Cabo da Boa Esperança, excluía-os de facto do Japão, China
e da India, para além de outras terras importantes. Uma questão que a
Espanha só se apercebeu em 1499, quando Vasco da Gama regressar da verdadeira
India.
Por outro lado, o Tratado proibia o
acesso dos espanhóis às pescarias entre o Bojador e o Rio do Outro, isto é, na
prática proibia-os de frequentarem a rota que estava a ser trilhada do caminho
maritimo para a (verdadeira) India. Estabelecia também que, passados três anos,
se nenhuma das partes o denuncia-se, o mesmo passaria a ser definitivo.
Portugal,
com base do Tratado de Tordesilhas podia navegar, a partir de 1497, sem problemas de concorrência para a verdadeira
India, enquanto isso os espanhóis, mas também os ingleses e franceses andavam pelas "Indias".
h ) Descalabro
Em
Abril de 1495, Portugal e a Espanha assinam um convénio para a delimitação do
Tratado de Tordesilhas, ficando acordado que seriam constituídas expedições
conjuntas. Esta era uma das razões porque os espanhóis apelavam para o
regresso de Colombo, ou em alternativa do seu irmão Bartolomé Colón. O que é
que ele faz ?
Envia
para Espanha o seu irmão Diego Colón que nada
sabia de nautica, cartografia ou cosmografia. Os reis espanhóis ao
aperceberem-se da situação, escrevem ao Bispo de Badajoz - Juan Rodríguez de Fonseca
- que então dirigia a política espanhola das Indias, para que não o
envolvessem em nada, e o deixassem ir para onde pretende-se (cartas datadas de 5/5/1495 e
1/6/1495).
O
mapa e as informações que António de Torres então trouxe de Colombo, estavam
erradas e apenas serviam para lançar mais confusão. Nesta carta, datada
de 14/10/1495, refere que havia encontrado uma excelente alternativa às
pescarias entre o Cabo do Bojador e o Rio do Ouro. A pesca junto à Ilha de
Babeque poderia ser feita o ano inteiro, em vez de se limitar a dois meses no
ano como acontecia na Guiné. Neste sentido, não havia razões objectivas para os
espanhóis reclamarem o acesso às costas africanas que pertenciam a Portugal ...
As
expedições conjuntas nunca se constituíram, porque os espanhóis não tinham
ninguém que fosse capaz de dar conta do recado. O seu cosmógrafo oficial -
Mosen Jaime Ferrer, da Universidade de Salamanca, continuava a acreditar em
todas as patranhas de Colombo. Este só regressará em 1496 e o seu Bartolomeu preso em 1500 !
Carlos
Fontes.
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