Carlos Fontes

Cristovão Colombo, português ?

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  As Provas do Colombo Português   

22. Negociante Oportuno de Miragens

 
 

A missão de Colombo insere-se dentro de uma estratégia de partilha do mundo, entre Portugal e a Espanha. Ao que tudo indica, a partir de 1488 actuou como um espião ao serviço de Portugal.

Os dois países disputaram entre o século XIV e o século XVI a posse das Canárias e o Norte de África

As Canárias ocupavam uma importante posição estratégica para as navegações ao longo da Costa Ocidental de África, nomeadamente para o comércio de ouro, marfim e escravos. As guerras e manobras diplomáticas pela sua posse eram permanentes entre Portugal e Castela. 

O mesmo acontecia com as costas do Norte de África, zona que Portugal procurou expandir-se depois de 1415. Castela reagia a estas ofensivas e procurava apossar-se também de África, aliando-se frequentemente aos próprios muçulmanos contra Portugal. Em 1449, D. João II de Castela fez mercê de toda a costa entre o Cabo de Aguer e o Cabo do Bojador os Duques de Medina-Sidónia. Portugal reagiu investindo no controlo da região. Henrique IV de Castela voltou a fazer mercê destas costa aos senhores das Canárias, Diogo de Garcia de Herrera e Gonzalo de Saavedra.  A guerra acabou por acontecer entre 1474 e 1479, durante a qual Castela ajuda os muçulmanos a cercarem Ceuta (1476) e constroem um forte em Santa Cruz no sul de Marrocos. Os portugueses não tardam a contra-atacar reforçando a sua presença na região.

a) Tratado de Alcaçovas

O conflito entre os dois países tiveram uma pausa, quando os dois países assinaram o Tratado das Alcaçovas (1479),cujas negociações estiveram a cargo de duas mulheres: Dona Beatriz, Duquesa de Viseu e Beja, e da sua sobrinha, Isabel, rainha de Castela.

Portugal abandonou a pretensão à posse das Canárias, em troca os  espanhóis comprometeram-se a respeitar a soberania portuguesa sobre os mares e terras a sul das Canárias até aos confins da África, assim como o direito de conquista de todo o Reino de Fez (Norte de África).  Este tratado dava a Portugal o monopólio português de comércio e explorações a sul das Canárias, dando-lhe igualmente o direito de matar todos aqueles que não o respeitassem. Dezenas de barcos espanhóis que o tentaram fazer foram apreendidos, incendiados e as suas tripulações mortas.

O Tratado de Alcaçovas, em 1479, apenas garantia a Portugal a posse da costa Ocidental de África a sul das Canárias, mas também as cidades que havia já conquistado a norte (Ceuta, Arzila, etc).

b ) Tratado de Toledo (1480 )

D. João II consegue, em 1480, aprovar um novo tratado idêntico ao anterior, mas com uma enorme alteração:  Portugal ficava também com as terras a descobrir em frente da Guiné, isto é, o actual Brasil ( os portugueses já conheciam a sua existência) e alargava a posse das terras a descobrir até à India.  

As condições destes Tratados dificilmente poderiam ser aceites por muito tempo, dado que  impedia os espanhóis de terem acesso às pescarias entre o Cabo do Bojador e o Rio do Ouro, assim como outras fabulosas riquezas africanas (ouro, escravos, marfim, etc) Os reis espanhóis ao aperceberem-se do facto, recorreram ao papa, de forma a limitar estas concessões. 

O papa Sisto IV outorgou, a 21 de Junho de 1481, a bula Aeternis Regis, na qual se afirmava que a proibição de navegar a sul do Bojador não se aplicava aos castelhanos. Os conflitos prosseguiram, tentando os castelhanos conquistar posições na costa ocidental de África, em particular na zona fronteira às Canárias, aliando-se aos muçulmanos ( 2 ).

O problema agravou-se quando os espanhóis perceberam que o Tratado os impedia também de chegarem à India contornando a África, um projecto em que os portugueses estavam envolvidos. A Espanha sente que está a ser ultrapassada e excluída em todas as frentes.

O Tratado de Toledo (1480), garantia a Portugal todas as costas de África até à India, assim como as ilhas e terras firmes diante da Guiné, o Brasil.

 Portugal deixa estrategicamente as Antilhas para a Espanha, a "India" que depois Colombo lhes irá procurar vender. 

c) Reunião em Carnide. Diogo Ortiz de Vilhegas, Calçadilha

É neste contexto que D. João II se reune com Colombo, em Junho de 1483 na Igreja de Carnide. A sua proposta de chegar à India navegando para ocidente é analisada pelo mestre José Vizinho, mestre Rodrigo e Diogo Ortiz de Vilhegas, Calçadilha (1443-1519). Segundo a tradição foi Calçadilha quem mais se opôs à proposta de Colombo. Era amigo intimo de D. João II. Foi professor de Astrologia na Universidade de Salamanca, docência que abandonou por defender os direitos de Afonso V ao trono de Castela. Chegou a Portugal em 1476 e aqui foi protegido por vários reis portugueses, sendo nomeado para vários cargos, como prior do Mosteiro de S. Vicente de Fora (1491), bispo de Tanger (1491-1500), Ceuta (1500-1504) e Viseu (1505-1519). Defendia que Portugal devia contornar África para atingir a India. D. João II nunca se manifestou desiludido com esta opção, tendo-o recompensado generosamente.

d) Missão de Colomboe a Longa Hesitação da Rainha Isabel de Castela 

Colombo (Cristoval Colon), surge em Castela, em fins 1484, na sequência de de uma conspiração contra D. João II, protagonizada pelo Duque de Viseu e Beja e mestre da Ordem de Cristo. O seu objectivo foi desde logo oferecer-se para resolver o problema com que os castelhanos se debatiam, amarrados que estavam com os Tratados internacionais com Portugal. 

Sem pôr em causa os Tratados de Alcaçovas-Toledo, oferece-lhes uma solução milagrosa: - chegarem à India navegando para Ocidente na faixa entre os 28º e os 30º, partindo das Canárias ( 29º).

Seguindo esta rota, de acordo com a carta de Toscanelli e o globo de Martin Behaim  iriam primeiro encontrar ilhas no Mar dos Sargaços, depois o Japão (cipango) e logo a seguir a China (Cataio). A sul deste paralelo das Canárias ficava a India propriamente dita.

Pero Vasques de Fronteira, segundo o testemunho de Alonso Velez no Pleitos, afirmou: que "se siguiesen la via derecha, porque hera imposible no dar con la tierra y de necesidad lo avian de hacer" (16). Colombo só tinha que seguir esta rota e era seguro que havia de dar com as ilhas do mar dos Sargaços.

A verdade é que Isabel, rainha de Castela, filha de uma portuguesa, não aceita a proposta durante sete anos.

Muito se tem escrito sobre uma decisão tão lenta, até porque Isabel passou a dar a Colombo uma significativa tença para não fazer nada, nem descobrir coisa nenhuma. 

A relutância em aceitar esta proposta de Colombo prendia-se com um facto da maior importância para Castela, Aragão e a própria Península Ibérica. 

O Tratado de Alcaçovas (1479), estabelecia que o entendimento entre os dois reinos ibéricos seria alicerçado no casamento do principe D. Afonso, herdeiro do trono de Portugal, com a filha mais velha dos reis católicos.  

Se aceitassem a proposta de Colombo, os reis espanhóis estariam a trair o acordo matrimonial entre as duas cortes.

Colombo, como temos defendido, pertencia à casa dos Duques de Beja-Viseu , e estava a usar informações obtidas pelos navegadores desta casa ducal. Para todos os efeitos tratava-se de mais um nobre traidor do rei de Portugal, como muitos outros que na altura se haviam refugiado em Castela, com os quais vivia rodeado em Sevilha.

As duas cortes estavam empenhadas em manter relações amigáveis. O projecto de Colombo, apoiado pelos exilados portugueses, continuou a ser encarado com enormes reservas.

O principe português acabou por casar-se, em 1490, com a Infanta castelhana. Pouco depois deste casamento morria a princesa Joana, irmã de D. João II. Um facto da maior importância, dado que catapultava - D. Manuel, Duque de Beja e senhor de Viseu, mestre da Ordem de Cristo - para a segunda posição na sucessão ao trono de Portugal. 

Hernando de Talavera, Colombo e a Morte do Príncipe

Em todo o processo negocial entre Castela e Portugal existe uma figura fundamental, frequentemente esquecida: O embaixador Hernando de Talavera. Mais

Competiu-lhe, em 1474, vigiar os votos da princesa Joana, dita em Espanha, a Beltraneja. É-lhe atribuída uma carta, datada de 1475, em que defende a legitimidade ao trono de Isabel, a católica. A carta circulou entre a nobreza portuguesa, seno a sua autoria também atribuída ao confessor de D. Afonso V (Cfr.Pulgar).

Está presente na negociações que conduziram à paz de 1479, pondo fim a uma guerra de quatro anos. Passou a controlar tudo o que o fazia princesa Joana, em Portugal.

Em 1483, é o representante por Castela, nas negociações sobre o fim das Terciarias. Em 1490 trouxe a para Portugal a princesa espanhola (primogénita), para se casar com o principe D. Afonso, herdeiro do trono de Portugal, de acordo com as clausulas do Tratado de Alcáçovas-Toledo (1479-1480).

Era, portanto, a pessoa que melhor podia avaliar os assuntos que pudessem implicar as relações com Portugal, e conhecia seguramente o percurso e relações de Colombo em Portugal.

Quando Colombo aparece em Castela, em 1485, para propor uma viagem para Ocidente, a sua principal preocupação foi garantir que esta viagem NUNCA pudesse colocar em risco a paz com Portugal, e nomeadamente o casamento da princesa espanhola com o herdeiro do trono português. Face aos compromissos que estavam em jogo, a proposta não podia ser aceite.

Nesse sentido, mandou que a Colombo fosse pago uma tença,  mas opôs-se à autorização da viagem ao longo de seis anos (1485-1491). (21)

A situação alterou-se subitamente em Julho de 1491. O príncipe português - D. Afonso - morre num acidente equestre, tendo a princesa castelhana regressado de imediato ao seu país.

Em virtude deste acidente mortal -  D. Manuel I, irmão do Duque D. Diogo (chefe da conspiração que levara à fuga de Colombo para Castela), tornou-se no herdeiro "natural" do trono de Portugal, mas D. João II não o aceita.

Hernando de Talavera, face a este contexto geo-político, percebe pode aprovar o projecto de Colombo, sem que ponha em risco as pazes entre os dois reinos. Apesar de tudo, ainda manifesta alguns alguns receios.

Disputa da Sucessão e a decisão sobre Colombo

A questão da sucessão do trono em Portugal, a partir de Julho de 1491,  aprofunda-se a divisão da sociedade portuguesa e tem imediatas implicações internacionais. O imperador Maximiliano fez questão de anunciar os seus direitos ao trono de Portugal (26).

1. D. João II, entre 1491 e 1495, procura desesperadamente legitimar o seu filho bastardo - D. Jorge de Lencastre - de modo a que o mesmo o suceda no trono. Dá-lhe todos os domínios que haviam pertencido ao principe falecido, e nomeia-o mestre da Ordem de Santiago e de Aviz (12 de Abril de 1492) de forma a dar-lhe suficiente poder para o poder legitimar (25).

Em testamento pede que D. Manuel I lhe dê a Ilha da Madeira, o mestrado da Ordem de Cristo e o faça duque de Coimbra (24).

Envia embaixadas ao papa solicitando a sua legitimação (29). Negoceia o apoio do rei de França a esta causa (27). Procura negociar com os próprios reis de Espanha este apoio, nomeadamente através de contrapartidas no Tratado de Tordesilhas (30).

2. A rainha Dona Leonor, apoiada pela sua mãe, a influente Duquesa Dona Beatriz, defende a sem hesitações a sucessão seja feita através do seu irmão - D. Manuel, Duque de Beja, mestre da Ordem de Cristo. Resende (Cap.CXXXIIII) e Góis (I,II) afirmam que foi a principal opositora à legitimação.

A rainha contava com poderosos apoios: o cardeal Alpedrinha em Roma; os exilados portugueses em Espanha, chefiados por D. Alvaro de Bragança.  Este nobre, apoiado pelo Duque de Medina-Sidónia e de Alba estariam dispostos a invadir Portugal, caso D. João II nomeasse D. Jorge seu sucessor.

A rainha Dona Leonor contava, como é obvio, com o apoio dos reis de Espanha.

3. Isabel, a católica, filha de uma portuguesa, sobrinha e amiga de Dona Beatriz, passou a mostrar-se particularmente hostil a D.João II. Tinha em Roma o apoio de D. Jorge da Costa, mas também do papa valenciano Alexandre VI.

Repudiou desde logo as intenções de legitimação de D.Jorge de Lencastre, defendendo sem hesitações o partido de D. Manuel, com o qual irá casar a sua filha viúva do principe D. Afonso...

Várias praças fortes espanholas junto à fronteira são preparadas para intervir a favor de D. Manuel .

Num ato de hostilidade, ainda no mês de Julho de 1491, manda avançar com o projecto, encarregando Hernando de Talavera e Diego de Deza de negociarem apenas as exigências impostas por Colombo, que viram a ser consagradas nas Capitulações de Santa Fé (Abril de 1492).

A autorização da viagem de Colombo enquadrava no espírito de partilha das descobertas marítimas defendido pela casa dos Duques de Beja, mas também nas viagens que esta casa promovia para ocidente.

D. Manuel, o herdeiro do trono de Portugal, era sabido que também não se oporia, nem veria nesta viagem qualquer gesto de traição de um antigo membro da sua casa, muito pelo contrário. 

Esta casa ducal que dominava as ilhas Atlânticas (Açores, Madeira e Cabo Verde), assim como as costas da Guiné, estava, igualmente interessada em afastar a Espanha e outros reinos europeus destas costas africanas.

A atitude de hostilidade dos reis espanhóis para com D. João II foi ao ponto de em Abril de 1492, nas Capitulações de Santa Fé, se proclamarem "senhores dos Oceanos" e nomearem Colombo "Almirante do Mar Oceano", ignorando completamente os domínios de Portugal acordados no Tratado de Alcáçovas-Toledo. Em princípios de 1492 mandam organizar a conhecida armada de Vizcaia.

A tensão persistiu entre os dois reinos (28), e só terminou quando D. Manuel I foi aclamado rei (27 de Outubro de 1495).

A verdade é que Colombo nas duas primeiras viagens que fez às Antilhas fez questão de afirmar que navegou sempre dentro dos limites dos Tratados de  Alcaçovas-Toledo, mas é provavel que estivesse a mentir. A verdade é que sabemos que é a sua ideia de levar os espanhóis para as "Indias" (Ocidente) agradava a D. João II, na medida que afastava os espanhóis da costa ocidental de África e da rota que os portugueses estavam a seguir para chegar às especiarias das India.

e ) Que Rota Seguiu?

Não é hoje evidente a rota que seguiu na 1ª. Viagem para as Indias, quando saiu de Palos a 3 de Agosto de 1492. Os investigadores sempre tiveram dúvidas sobre a rota indicado no seu Diário de Bordo, onde afirma que a partir da Ilha de Ferro (Canárias) navegou sempre para Oeste até Guanahaní

Uma análise cuidadosa do Diário de Bordo, leva-nos a concluir que a partir das Canárias rumou na direcção de Cabo Verde, tendo atingido esta latitude, deu uma volta a Sul e rumou para Noroeste, indo parar às Bahamas, aproveitando as correntes e os ventos já conhecidos dos pilotos portugueses.  Esta rota, como vimos, aparece já descrita num Roteiro português anterior a 1485, como tão bem sabia D. João II.  Mais

ef Regresso das Indias

No regresso da primeira viagem às Indias, Colombo dirigiu-se para os Açores e daqui directamente para Lisboa, onde tem dois encontros com as duas facções que se opunham na sociedade portuguesa.

O primeiro encontro  foi com o rei D. João II em Vale do Paraíso, e o segundo encontro, em Santo António da Castanheira, com a rainha Dona Leonor, Dona Beatriz e... D.Manuel.

Durante os 10 dias que passou na região de Lisboa, não só prestou vassalagem ao rei, mas sobretudo à rainha e aos seu irmão - D.Manuel.

É a partir de Lisboa que informa toda a Europa da sua descoberta, e só depois se dirigirá para Espanha para informar os seus reis, os quais foram os últimos a saber. 

Nas longas conversações que manteve durante dois dias com D. João II, em Vale do Paraíso, confirmou-se que a Hispaniola, estava situada a 19,30º, isto é, dentro dos domínios de Portugal. Um facto que permitiria ao rei português forçar os espanhóis a negociarem uma nova partilha do mundo.

D. João II evocando o Tratado de Alcáçovas-Toledo, começou por reclamar, a soberania sobre os novos territórios descobertos. Ameaçou mesmo com uma nova guerra. Numa manobra de diversão começou a negociar uma aliança de protecção mútua com o seu primo, o imperador do sacro Império Germânico Maximiliano.

1. A Prisão de dois Marinheiros em Lisboa e a expedição portuguesa às Indias. 

Apesar de D. João II apoiar a viagem de Colombo, nem por isso a deixou de a vigiar desde que a mesma saiu de Palos em 1492.

Testemunhos da época e vários historiadores espanhóis referem o facto de que quando Colombo chegou a Lisboa, a 4 de Março de 1493, pelo menos dois marinheiros portugueses estavam a bordo da sua caravela ( 12 ). O rei D. João II mandou-os prender, sabendo obviamente da sua presença. Colombo não refere o caso no seu Diário, assim como Las Casas ou Hernando Colón. 

Esta prisão está documentada em Espanha:  O "memorial de la Mejorada", documento atribuído ao próprio Cristovão  Colombo, datado de Julho de 1497, refere as prisões e a expedição portuguesa (15). Na Colección Muñoz, da Academia de História (de Espanha) existe a cópia de um documento datado de 1523 que consta no Real Patronato de Simancas, Arca 2, com esta informação. O cronista espanhol Jerónimo Zurita y Castro, confirma que estas prisões aconteceram, pois o rei de Portugal sabia que vinham portugueses a bordo.

Porque Colombo nunca referiu publicamente este caso ? Estaria a esconder a presença de dois outros espiões que o ajudaram nesta missão ? O dinheiro que D. João II deu na altura a um marinheiro, na presença de Colombo, teria sido para pagar a sua acção de espionagem ?

2. Armada Portuguesa

Há um ponto que várias fontes de informação espanholas estão de acordo num ponto: Após estas prisões, D. João II, em 1493, formou uma armada ou enviou navios para as Indias espanholas.. Os dois marinheiros serviram de guias ou pilotos (13)

Sobre esta expedição portuguesa, existem múltiplos testemunhos documentais em Espanha:

- A primeira referência data de 2/5/1493, e é uma carta dos reis católicos para o Duque de Medinacelli, agradecendo-lhe a informação que lhes dera da formação de uma armada portuguesa pronta para para a India(18). A armada seria comandada por Francisco de Almeida, cavaleiro da Ordem de Santiago e futuro vice-rei da India.

- A segunda é do próprio Colombo. Numa carta dos reis católicos, data de 1 de Junho de 1493, escrevem: "Vimos vossa carta, e quanto ao que nos escrevestes que soubestes dos navios que elRey de Portugal enviou" (17). 

- Os reis católicos voltam a escrever-lhe a 12/6/1493, dando-lhe conta que D. João II lhe garantira que não enviara nenhuma armada. Pedem-lhe que se apresse na saída para as Indias. Numa nova carta, datada de 27/7/1493, referem a questão da armada portuguesa, e pedem-lhe que se apresse.  (9) 

3. Caravela da Ilha da Madeira

Colombo, em Agosto de 1493, informa os reis espanhóis que havia saído da Ilha da Madeira uma caravela com destino às Indias, e para os contentar, afirma que mandará  navios na sua perseguição quando voltar às Indias: 

"y cuanto á lo que desis vos escribieron que el Rei de Portugal envió una carabela desde la isla de la Madera, y que la quereis á enviar á buscar con parte de las carabelas que vos lleváredes , muy bien nos paresce que así lo fagais" (20). 

Numa carta datada de 5/9/1493, os reis católicos informam-no que os embaixadores portugueses lhes haviam dito que caravela que saiu da Ilha da Madeira não pertencia a D. João II, e este havia mandado na sua perseguição três caravelas (19). Os reis espanhóis confessam não acreditarem nas palavras do rei português. Ordenam que nas Indias "se les tomem los navios y personas que allá fueren". Uma vez mais pedem-lhe que se apresse a regressar às Indias, coisa que parece não estar preocupado em fazer

4. Regresso da Expedição portuguesa das Indias

Os cronistas portugueses, como era de esperar omitem por completo o caso (prisões, expedição, etc). A política do segredo assim o exigia. Apenas, no século XVIII, António Caetano Sousa, nas Provas Genealógicas da Casa de Bragança, levanta o véu afirmando que a seguir à vinda de Colombo, D. João II recebeu novas e mais precisas informações sobre as Indias, elementos indispensáveis para as negociações do Tratado de Tordesilhas.

A que expedição se estava a referir?

Sabemos que ainda em Agosto de 1493, os reis espanhóis informam Colombo que os embaixadores portugueses que haviam chegado para negociações, nada sabiam das Indias espanholas. Tratava-se de uma manobra para ganhar tempo. Acabaram por suspender as negociações, sob o pretexto de necessitarem de receberem instruções de D. João II. 

Colombo só partiu para as Indias a 25/9/1493, numa altura que estariam de regresso as caravelas que D. João II para aí havia enviado.

Entre os novos negociadores que Portugal enviou para Espanha, e que acabaram por assinar o Tratado de Tordesilhas, estava um dos mais notáveis navegadores e cosmógrafos portugueses - Duarte Pacheco Pereira

Na posse dos novos dados, obtidos certamente nas Indias espanholas, os portugueses, acabaram exigir e impor um novo meridiano, muito mais a Ocidente do que o anterior.  

A Espanha vê-se compelida a negociar com Portugal um novo Tratado de partilha do mundo. 

f )gSugestão e manobras de Colombo 

Por sugestão de Colombo, os Reis Católicos solicitam ao Papa Alexandre VI  (o espanhol Rodrigo de Bórgia ),  o domínio dos novos territórios descobertos. 

A bula Inter Caetera I, datada de 3 de Maio de 1493, confirmava as espanholas aos domínio das terras descobertas ou a descobrir a Ocidente, mas ressalvava os direitos adquiridos nesta matéria por qualquer príncipe cristão. O que chocava com o disposto no Trata do Toledo (1480).

A bula Inter Caetera II, escrita em Junho, mas antedatada de 4 de Maio, declarava que aos Reis Católicos estava apenas reservada a jurisdição das terras a Ocidente de uma linha meridiana traçada de pólo a pólo, situada a 100 léguas dos arquipélagos de Açores e de Cabo Verde, que tenham sido descobertas até 25 de Dezembro de 1492.

A bula feita por sugestão de Colombo, assegurava para Portugal a posse de parte do Brasil e das costas do Canadá, impedindo que no hemisfério sul a Espanha pudesse atingir por mar a verdadeira India. A partilha do mundo passava a ser feita através de um meridiano, e não de um paralelo.

Portugal, acabou por recusar a intervenção papal, obrigando os espanhóis a aceitarem negociar directamente as respectivas áreas de influência no Mundo ( 1 ), caso contrário partiria para a guerra. 

Colombo coloca os reis espanhóis numa situação de grande fragilidade nas negociações, ao não lhes dar informações precisas sobre as terras que descobrira (graus, posições, latitudes, longitudes, mapas, etc), obrigando-os a negociar às cegas com os portugueses

O Diário de Bordo que envia, tardiamente, aos reis espanhóis, como escreve Emiliano Jos (22), não passa de um extrato de um outro mais detalhado. O que os reis recebem continha apenas escassas indicações sobre a rota seguida, a situação das ilhas encontradas. A informação era tão diminuta que os monarcas,  quando lhe devolvem o Diário de Bordo, confessam numa carta que lhe escrevem, que para o entender necessitavam de saber o grau da rota que seguiu e a efectiva posição das Indias.

Apesar das várias insistências que estes reis lhes faziam (23), partirá para a sua 2ª. viagem às Indias, a 25 de Setembro de 1493,  sem lhes deixar nenhuma informação concreta.  

A única informação não literária sobre as Indias que lhes forneceu, terá sido apenas enviada em Abril de 1494, através de  António de Torres. Na carta datada de 30/1/1494, afirma que a sua 2ª.viagem estava a ser um sucesso, transmitindo dados grosseiramente manipulados e com vários erros:

- As Canárias, em particular a ilha de Gomeira, são situadas a 26º., quando na realidade estão a 28º. A Ilha de Hispaniola foi situada a 26º, quando na realidade está a 19,3º. A manipulação destes dados tem um único objectivo:  situar as ilhas Indias dentro dos limites do antigo Tratado de Alcaçovas-Toledo, evitando possíveis problemas de legitimidade. Uma questão que D. João II colocou no inicio, mas uma vez os espanhóis sentados à mesa das negociações deixou logo cair.

- O valor do grau é calculado em 56,6 milhas italianas, isto é, 14 1/6 léguas. Um dado que provoca a ilusão aos negociadores espanhóis que a Espanha ficaria não apenas com as Indias, mas também com toda a Ásia, incluindo a parte oriental de África até Cabo da Boa Esperança. Este era o ponto decisivo das negociações, o grande logro !

- Colombo garante-lhes que as ilhas que encontrara pertenciam ao "princípio do Oriente", o que era atestado por uma enorme abundância de especiarias e ouro nos rios. Os reis espanhóis ficaram convencidos que as ilhas que este descobrira eram parte da Ásia, e que não haviam terras entre as 100  e as 370 léguas.

O Tratado de Tordesilhas foi assinado, a 7 de Junho de 1494. Os espanhóis continuavam a não ter informações seguras e alguns começaram a contestar os seus cálculos. Aflitos os reis católicos fizeram-lhe um ultimato: Colombo tinham que regressar a Espanha para os ajudar nas negociações com os portugueses.

Como era de esperar ignorou a ordem real. 

Nestas negociações, limitou-se a seguir as instruções dadas em Março de 1493 por D. João II.  

Jerónimo Zurita y Castro deixa entender que durante as negociações, D. João II procurou fazer certas concessões em troca da Espanha aceitar a legitimação do seu filho D. Jorge de Lencastre.

g) Tratado de Tordesilhas

Durante as negociações Portugal consegue aumentar os seus domínios. Em vez de 100 a partir dos Açores, foram aprovadas 370 léguas a oeste de Cabo Verde, mais 120 léguas do que as estabelecidas pelo Papa em 1493. Este facto revela que as explorações entretanto realizadas, mostravam a necessidade de aumentar a linha de divisão de modo a abranger uma maior porção do Brasil e do Canadá. 

A proposta de Colombo, em 1493, garantia a Portugal a posse do Brasil.

O Tratado de Tordesilhas aprovado, em 1494, garantia uma maior fatia deste território.

O Tratado de Tordesilhas dava a Ocidente as Indias aos espanhóis, mas outro lado do Cabo da Boa Esperança, excluía-os de facto do Japão, China e da India, para além de outras terras importantes. Uma questão que a Espanha só se apercebeu em 1499, quando Vasco da Gama regressar da verdadeira India.  

Por outro lado, o Tratado proibia o acesso dos espanhóis às pescarias entre o Bojador e o Rio do Outro, isto é, na prática proibia-os de frequentarem a rota que estava a ser trilhada do caminho maritimo para a (verdadeira) India. Estabelecia também que, passados três anos, se nenhuma das partes o denuncia-se, o mesmo passaria a ser definitivo.

Portugal, com base do Tratado de Tordesilhas podia navegar, a partir de 1497, sem problemas de concorrência para a verdadeira India, enquanto isso os espanhóis, mas também os ingleses e franceses andavam pelas "Indias".

h ) Descalabro 

Em Abril de 1495, Portugal e a Espanha assinam um convénio para a delimitação do Tratado de Tordesilhas, ficando acordado que seriam constituídas expedições conjuntas. Esta era uma das razões porque os espanhóis apelavam para o regresso de Colombo, ou em alternativa do seu irmão Bartolomé Colón. O que é que ele faz ? 

Envia para Espanha o seu irmão Diego Colón que nada sabia de nautica, cartografia ou cosmografia. Os reis espanhóis ao aperceberem-se da situação, escrevem ao Bispo de Badajoz - Juan Rodríguez de Fonseca  - que então dirigia a política espanhola das Indias, para que não o envolvessem em nada, e o deixassem ir para onde pretende-se (cartas datadas de 5/5/1495 e 1/6/1495). 

O mapa e as informações que António de Torres então trouxe de Colombo, estavam erradas e apenas serviam para lançar mais confusão. Nesta carta, datada de 14/10/1495, refere que havia encontrado uma excelente alternativa às pescarias entre o Cabo do Bojador e o Rio do Ouro. A pesca junto à Ilha de Babeque poderia ser feita o ano inteiro, em vez de se limitar a dois meses no ano como acontecia na Guiné. Neste sentido, não havia razões objectivas para os espanhóis reclamarem o acesso às costas africanas que pertenciam a Portugal ...

As expedições conjuntas nunca se constituíram, porque os espanhóis não tinham ninguém que fosse capaz de dar conta do recado. O seu cosmógrafo oficial - Mosen Jaime Ferrer, da Universidade de Salamanca, continuava a acreditar em todas as patranhas de Colombo. Este só regressará em 1496 e o seu Bartolomeu preso em 1500 !

Carlos Fontes.

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  Notas:

1 ) O texto integral do Tratado de Tordesilhas foi publicado por João Martins da Silva Marques, in Descobrimentos Portugueses, Vol.III, pp. 446-453; e Luís Adão da Fonseca, O Tratado de Tordesilhas ea Diplomacia Luso-Castelhana no Século XV. edições Inapa.Lisboa. 1991.

( 2 ) João Cosme, A Guarnição de Safim em 1511. Calesdoscópio. 2004. Contém uma excelente sintese sobre esta questão.

(3 ) Jaime Cortesão, Política do Sigilio ...., p.45-46.

(4 ) Navarrete, 1859, Tomo II, p.192-195

.( 9 ) Esta expedição portuguesa aparece referida em muitos outros documentos espanhóis, como um documento anónimo  de 1494: Información y Relación del Derecho que tenían los RRCC a las Indias Islas del Mar Océano",

( 12 ) Alicia B. Gould y Quinci - Nueva Lista Documentada de los Tripulantes de Colón en 1492. 

( 13 ) cfr.Zurita,t.5, lib.I,cap.29.Zurita relaciona o caso com os acontecimentos que antecederam o Tratado de Tordesilhas (1494).

(15) Este memorial foi publicado por A. Romeu de Armas - "Um escrito desconhecido de Cristóbal Colón: El Memorial de la Mejorada. Madrid. 1972. Trata-se de uma documento para os reis católicos fundamentarem o seu protesto face às violações do Tratado de Tordesilhas que D. Manuel I estaria a fazer, na óptica dos espanhóis. Não está assinado.  

(16) Ramos, Demetrio - O Alcance das Viagens de Colombo para o Domínio do Atlântico. Inst.de Investig. Científica Tropical. Lisboa. 1988. p. 521 (5).

 17)Cartas dos reis católicos a Cristovão Colombo. Martín Fernández Navarrete, Colección..., Tomo II, 1859, p.83/84.

18) carta do reis católicos, 2/5/1493. Navarrete, Tomo II, 1859, p.28/29.

(19) carta dos r.c., 5/9/193, Navarrete, Tomo II, p.123-124

(20) carta dos reis católicos, 18/8/1493, Navarrete, tomo II, 1859, p.109

.21) Hernando de Talavera chegou a argumentar que se fosse descobertas as terras qe Colombo afirmava existirem a Ocidente, isso poderia levar ao despovoamento de Espanha, colocando em perigo a sua segurança. Face a semelhante ameaça, sugere que o mesmo teria ligações aos cristãos-novos (conversos). consultar: Sarah Leibovici - Christophe Colomb Juif, Paris. 1986

22) Jos, Emiliano - El plan y la génesis del descubrimiento colombino. Casa-Museu Colón. Cuadernos colombinos. Valladolid. 1979

(23) A 5 de Setembro de 1493, pedem-lhe que antes de partir lhes envie a "Carta (de marear)

(24) D. Manuel I que virá a ser coroado rei de Portugal nunca deu a D. Jorge de Lencastre o mestrado da Ordem de Cristo, e só lhe deu o Ducado de Coimbra em 1509.

(25) Mendonça, Manuela - D. João II, 2ª. Edição. Lisboa. Estampa

(26) O imperador Maximiliano, neto materno do rei D. Duarte, ao saber da morte do principe D. Afonso, enviou uma embaixada a D. João II em que se assumiu como um pretendente ao trono de Portugal. Mandou embaixadores aos reis espanhóis para que reconhecessem a legitimidade a trono, caso D.Manuel não viesse a ter filhos varões. Cfr. Zurita, 1989, III, XX

(27) D. João II para combater a aliança da Casa de Beja- Reis Católicos, aliou-se ao monarca francês - Carlos VIII -, apoiando-o na invasão de Itália, quando este reclamou o Reino de Nápoles. Carlos VIII defendia o partido de D. Jorge, sonhando com a possibilidade de vir a tornar-se regente de Portugal. cfr. Jean Aubin - Le Latin et L` Astrolabe. 2 vols. Paris. CCP. 1996-2000

(28) Os reis espanhóis, em Maio de 1494, enviam uma embaixada a D. João II pedindo-lhe que não nomeasse D. Jorge de Lencastre seu herdeiro. A embaixada foi recebida em Setúbal a 13 e 21 de Maio (Zurita, 1989, I, XXIX). Zurita revela também que os reis de Espanha pediram a Maximiliano para não se candidatar contra D. Manuel. C

(29) D. João II procurou por todos os meios apoio para legitimar o seu filho bastardo. Enviou a Roma, em 1493, o bispo de Ceuta - D. Fernando de Almeida, não apenas para saudar o novo papa (Alexandre VI), mas sobretudo para ver se conseguia a legitimação de D. Jorge Cf. Ramalho, Américo da Costa - Para a Hist. do Humanismo em Portugal, vol. II. Lisboa, FCG.

(30) D. João II durante as negociações do Tratado de Tordesilhas com Espanha, insistia para que fosse aceite a legitimação do seu filho Jorge, tendo proposto que o mesmo se casasse com uma infanta castelhana. cfr. B.A., cod. Ms.51-V-69, fl. 202 

 

Continuação:

23. A Bandeira de Colombo  24.  Nomes de Terras

25. Regresso da primeira viagem 26. Significado de um reencontro

27. Partilha do Mundo

28.Defensor de Portugueses  29. Patriotismo

30. Mentiroso e Desleal  31. Regresso da segunda viagem 32. Manobrador 

33. Assassino de Espanhóis

34. Impacto da Viagem de Vasco da Gama 35. Perseguido 36. Ocultação

37.  Armadilha Genovesa  38 Mercadores-Negreiros Italianos  39.  Genoveses a Bordo 

40. Descendentes de Colombo 41. Descendentes (cont. ) 42. Descendentes (concl.)

43. Historiadores Portugueses. 44. Lugares do Navegador em Portugal

45. Cronologia da Vida de Colombo

 

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As Provas do Colombo Português

As Provas de Colombo Italiano

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  Carlos Fontes
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