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As Provas do
Colombo Português
Os
Niño
Não
é fácil estabelecer qual a relação que existiu, se é que existiu, entre um
grupo de marinheiros que acompanharam Colombo desde a 1º. viagem às Indias e
que tinham o apelido Niño. Diga-se á que o mesmo era de origem portuguesa. Uma
análise destas personagens, como Pedro Alonso Niño
(Peroalonso,
Pero Alonso Niño), piloto ou Juan Niño, mestre e dono da caravela Niña,
aponta inequivocamente para ligações a Portugal.
a
) Pedro Alonso Niño
(Peroalonso,
Pero Alonso Niño), piloto
Pero
Alonso Niño ( c.
1468-1502), conhecido pela alcunha de
"Negro", era
filho de Alfon Pérez Niño. Foi casado Leonor de Boria ou Borja (moradora em Moguer),
teve duas outras esposas - Leonor Cantera ( ou Quintera) e Juana Muñiz (ou
Moniz). Trata-se de uma das mais enigmáticas figuras, cujas informações são
dispersas e frequentemente contraditórias.
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Diz-se que andou pelas costas de África, a fazer o quê e ao serviço de quêm
? Ninguém o sabe.
.
Participou na 1ª. viagem às
Indias (1492/93), no regresso terá sido recompensado por D. João II pela ajuda
que prestou a Colombo.
.
Foi depois na 2º. viagem de Colombo, tendo regressado mais cedo com António
de Torres, aportando a Cádiz a 7 de Março de 1494.
.
Em Fevereiro de 1496, faz parte de uma fracassada
expedição às Indias, comandada pelo português Jorge
de Souza (ou Sosa), a mando de Juanoto Berardi, um intermediário de
Marchioni de Lisboa. O principal negócio era o tráfico de escravos.
.
A 16/17 de Abril de 1496 partiu de novo para as Indias, a mando de Juan Rodríguez
de Fonseca (1451- 1524) - numa frota com duas caravelas e uma nau, no regresso veio
carregado de escravos (300 ), tendo a mesma se dirigido directamente para Portugal
(aportou à Madeira e Açores) e depois a
Setúbal (perto de Lisboa), onde em Outubro estava a vender escravos. Só
depois destas operações comerciais se dirigiu para Espanha. A primeira
preocupação de Peroalonso foi ir para junto dos seus cúmplices (portugueses ?
) sediados em Moguer e exigir um prémio pela carga que transportara. Tinha em
seu poder importantes cartas enviadas das Indias, nomeadamente pelo irmão de
Colombo - Bartolomeu Colon - dirigidas aos reis de Espanha. O facto pouco lhe
importou, pois só em Dezembro de 1496 se dignou entregá-las (13). Colombo
terá ficado contente com a atitude, pois nomeia-o pouco depois piloto maior da
sua 3ª. Viagem às Indias, mas Peroalonso acaba por recusar.
A
10 de Dezembro de 1498, chegaram a Espanha a célebre carta e um mapa de Colombo
onde afirmava ter chegado à Costa das Pérolas, actual Panamá
(Costa de las Perlas,
Paria, Ilha de Margarita e
Cumaná ). A Corte Espanhola, através de Fonseca,
rapidamente contratualizou expedições para descobrir e saquear estas pérolas.
Na
primavera de
1499, com 15 dias de intervalo, saíram duas expedições: Uma de Hojeda- Juan de la
Cosa e outra de Pedro Alonso Niño - Cristóbal Guerra,
cuja origem se
ignora. Esta última era composta de uma caravela com 33 homens, a uma região
das Indias onde Colombo assinalara no ano anterior existirem pérolas. Como
obtiveram esta informação preciosa, assim como as suas coordenadas precisas? Não
sabemos.
A
primeira a regressar foi a de Niño-Guerra, na
primavera de 1500, tendo a caravela arribado a Bayona na Galiza. Pedro
Alonso Niño denunciado foi
preso e acusado de não pagar aos reis a parte que lhes correspondia, e de ter desviado
parte das pérolas para Portugal, só saindo da
prisão em 1501.
Os irmãos Luis e Cristobal Guerra escaparam, tinham outras influências.
Cristobal Guerra organiza uma segunda
expedição (11), e novamente parte das pérolas encontradas vieram para Portugal,
como testemunha Cantino, o embaixador-espião do Duque de Ferrara em Portugal (12).
.
Em Fevereiro de 1502 volta de novo às Indias, na frota de Ovando, nomeado
governador substituto de Babadilla. Morreu no regresso, deixando uma viúva, um
filho e uma filha. Morreu
em 1502, na sequência do furacão que destruiu a frota de Francisco Bobadilha.
Pero
Niño estava intimamente ligado à família de Colombo, ao que suspeitamos no
saque e venda de pérolas. A cunhada de Colombo - Dona Briolanja Moniz Perestrelo - tinha centenas de pérolas grandes e pequenas. No seu
Testamento, datado de 21 de Outubro de 1516, não se esquece de mandar pagar as
dividas aos herdeiros
de Pero Niño no valor de "4 ducados de oro por "cierto lienzo" (13),
o que demonstra a cumplicidade entre estas duas famílias portuguesas nestes
negócios clandestinos.
Na
Guatemala, um Juan Niño, declara no seu testamento datado de 1542 que era filho
de Pero Alonso Niño e de Juana Muñiz (Moniz), o que a ser verdade demonstra
as suas ligações familiares a Colombo (1).
A pirataria
dos irmãos Luis e Cristobal Guerra não terminou na expedição
de 1499/1500. Terão financiado outra expedição em 1501 (entre Março e
Novembro), com novas acções de saque nas zonas de Cumaná e Ilha M
Luis e Cristobal
Guerra actuavam nitidamente à revelia da Corte Espanhola, sabendo exactamente o
que procuravam nas suas pilhagens de pérolas nas Indias. Seriam também
seus cumplices ?
Colombo, recorde-se
que praticava acções deste tipo. A 22 de Junho de 1497, por exemplo, os reis
católicos viram-se obrigados a ordenar que os seus oficiais de justiça se
apoderassem de barcos armados e preparados clandestinamente a mando de Colombo
para uma viagem às Indias, e que já se haviam feito ao mar "para ciertas
partes y viajes" (Cf. Salvador de Madariaga, ob.cit.pág.409).
Colombo estava nas Indias, mas na Andaluzia uma rede dos seus cúmplices actuava
de forma coordenada.
No ano seguinte, por
volta do dia 15 de Agosto, descobriu uma região rica em pérolas, mas só deu
dela conhecimento aos espanhóis no final do ano, depois de muita pressão.
b
) Juan Niño, mestre e dono da caravela Niña
Juan
Niño era irmão de Pero Alonso Niño, casado com marina Gonzáles, irmã de
Leonor Velez. Terá tido quatro filhos: Andrés, Alonso, Francisco e Leonor
Niño.
Participou
na 1ª. viagem às Indias, na caravela Niña ( ou Santa Clara) que era
dono, e cujo piloto era Sancho Ruiz de Gama (português).
Foi
também na 2ª. viagem (1493), mas regressou com Torres. Colombo comprou-lhe
então a caravela em nome dos reis católicos, pois em Janeiro de 1494 aparece
como mestre e piloto da mesma Alonso Medel.
Não
foi às Indias na 3ª e 4ª. viagem de Colombo, mas esteve envolvido com o seu
irmão Pero Alonso Niño e Cristobal Guerra no saque da costa das Pérolas e no
contrabando das mesmas para Portugal. Morreu entre 1518 e 1522.
No
século XVI, Alonso Banegas, clérigo residente na cidade de Santiago
(Guatemala), afirmava que era neto de Juan Niño.
c
)
Outros irmãos e parentes
Nas
várias expedições de Colombo participaram vários marinheiros, pilotos e
mestres, com o apelido Niño. Vários testemunhos, muito contraditórios,
afirmam que se tratam de irmãos ou parentes de Pero Alonso Niño ou Juan Niño.
d
) Os Niño e Portugal
1.
Almirantes. O
apelido de Niño está associado a uma almirante do Reino de Castela - Juan
Niño - que se notabilizou por em 1405 ter armado em Santander uma frota de naus
e galeras contra a pirataria e a Inglaterra. Sucedeu-lhe no cargo o seu filho - Pero
Niño (¿Valladolid?, 1378 – Cigales, Valladolid, 1453), que em
1409, se perderá de amores por Dona Beatriz (ou Brites) de Portugal
(Coimbra,1372-Madrigal,1410), filha do Infante D. João de de Portugal e
Castro(1349-1387) e de Constanza de Castilla, a filha bastarda de Enrique II,
da qual teve vários filhos.
Em
1431 constituiu-se o Condado de Buelna, a favor de Pero Niño, e os Niño
passaram a ostentar o apelido "Niño de Portugal", procurando também
estreitar as suas ligações familiares com Portugal.
2.
Condes
de Miranda. D.Fernando de Castela,
concedeu à sua prima Dona Beatriz de Portugal o senhorio de Valverde (Madrigal de la Vera, Cáceres). Esta
por sua vez deu-o à sua filha Dona Leonor Niño de Portugal em 1415, quando esta se
casou com Don Diego López de Zúñiga (1350 - 1417), Iº.Conde de
Plasencia, Co-Governador de Castila e León, durante a menoridade de D. Enrique
III e Juan II. Ambos foram os primeiros Condes de Nieva, e estão enterrados em
Valverde de la Vera, na Iglesia de Santa María de Fuentes Claras.
A partir
daqui sucederam-se as ligações dos Zúñiga com a nobreza portuguesa,
nomeadamente a radicada em Castela como a familia Pimentel (Condes de
Benavente).
O
conde de Pedro de Estúniga (Zúñiga) y Niño de Portugal, durante a Guerra da
Sucessão em Castela é outro dos que activamente se colocam ao lado de Portugal
contra os reis católicos ( 2).
Os
Conde de Miranda uniram-se aos Condes de Cifuentes (Silvas), também de origem portuguesa (consultar
) dominavam o porto de Palos. Os Reis Católicos apercebendo-se da situação,
em Maio de 1492, conseguem afastar os Cifuentes do seu senhorio, mas não os
Duques de Medina-Sidónia.
Podemos
constatar que o ramo português dos "Niño", uniu-se no final do
século XV aos Silva de
Toledo (Condes Cifuentes), reforçando as suas ligações a Portugal.
No
final do século XVI, alguns autores sustentam que o falso D. Sebastião, Rei de
Portugal ( - 1578) que tanto incomodou Filipe II de Espanha e que foi executado
em Madrigal (1595) era Gabriel Niño de Zúniga, casado com a portuguesa
Dona Ana de Villena. Tratava-se
de um verdadeiro gesto patriótico contra a perda de independência de Portugal
(1580).
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