Sevilha
Reconquista
A
ligação dos portugueses a Sevilha são muito anteriores a Colombo. A
reconquista desta cidade aos "mouros", em 1248, ficou a dever-se
a uma aliança entre os reis de Portugal, Castela e Leão e o de Aragão. O
Infante D. Pedro de Portugal, que estava exilado em Castela, participou
ativamente nesta conquista, com muitos outros nobres vindos de Portugal como
Egas Martins de Ataíde, Rui Garcia de Paiva, Soeiro Peres de Barbosa, Pero
Velho, João de Faria, Nuno Martins de Camões ou Martim Gil de Sousa.
A Ordem
Militar de Santiago de Espada que teve também nesta conquista um papel
decisivo, e era na altura comandada por um mestre português - D. Paio Peres de
Correia (em espanhol maestre Pelayo Correa).
Desde
o século XIII que havia nesta cidade uma "Rua dos Portugueses", e
possuíam uma magnifica capela sob a invocação de S. Francisco (4).
Importantes cargos da administração da cidade foram confiados a portugueses,
como o de assistente (corregedor).
Século
XV
A
presença dos portugueses é muito forte, nomeadamente em termos económicos:
-
A Feitoria da Andaluzia portuguesa, abastecia as praças fortes portuguesas do norte de
Africa.
-
O comércio marítimo, nomeadamente com o Algarve, foi sempre muito intenso,
mesmo em épocas de conflito entre os dois reinos peninsulares (1475-1479). Os
portugueses abastecem de quase tudo Sevilha, desde o peixe até às caravelas.
-
O tráfico negreiro está desde 1479 nas mãos dos portugueses, os quais
abastecem toda a Andaluzia, Canárias e depois de 1513 as Indias espanholas
(9).
.
Durante
cerca de um século, os nobres portugueses ou de origem portuguesa dominam o
governo da cidade de Sevilha. Isabel, a Católica, filha de uma rainha
portuguesa, terá chegado a um compromisso que servia ambos os países. O
controlo das funções judiciais, governativas e policiais da principal cidade do sul de Castela/ Espanha por portugueses
e seus descendentes permitiu-lhes
dominar toda a trama.
A
chegada de três personagens assinalam esta afirmação portuguesa:
a
) Diego de Merlo (ou Melo) (1478-1482), filho do português
Juan de Merlo, el Bravo, guarda mor de Enrique IV, casado com Dona Joana
de Portugal, a mãe da Excelente Senhora (Beltraneja). Era alcaide de Acalá la
Real, casado com Dona Constanza Carrilho de Toledo. Foi nomeado assistente
real e provavelmente também alcaide dos Alcazares e Atanazares de Sevilha. No
seu testamento contemplou com bens muito significativos o Mosteiro de Santa Maria de
Las Cuevas, o mesmo que D. Afonso V e Colombo tinham particular devoção.
b
) Juan da Silva (1469-1512),III Conde de
Cifuentes, provinha de um familia nobre portuguesa exilada também em
Castela.
Foi
1º. Alférez Mayor de Castilla, Capitão
General da conquista de Granada, Embaixador da boda de Doña Germana de Foix.
Foi
também assistente (asistente) de Sevilha (1482-1506).O seu
irmão Pedro Silva mestre sala dos
reis católicos, foi nomeado alcaide dos Alcazares e Atanazares de
Sevilha. Em grande parte deste cargos ficaram a dever-se à sua participação na Guerra de Granada.
Juan
da Silva, grande amigo de Alvaro de Bragança, foi também senhor de Montemayor e o seu sucessor, em 1538, foi nomeado marquês de Montemayor.
Os seus mais
directos descendentes procuraram manter sempre as suas ligações a Portugal. Durante as
guerras de Portugal e Espanha (1640-1668), os condes de Cifuentes chegaram a ser
acusados
pelos espanhóis de traição. A fidelidade a Portugal persistia.
c
) Alvaro de Portugal e
Isabel Enriquez Noronha
(Marquesa de Montemor-o-Novo) e muitos outros nobres portugueses, chegaram a
Sevilha na sequência das conspirações contra D. João II de 1483 e 1484. Como membros da Casa de
Bragança tinham um tratamento privilegiado.
Alvaro
de Bragança, como vimos, atinge um poder sem paralelo, não apenas na Corte de
Castela, mas também na própria cidade de Sevilha. Desde 1495 que tinha a seu
cargo ambas as alcaidarias de Sevilha, foi o fundador da célebre Casa de Contratación (1503) e seu
primeiro responsável, etc.
Outra
personagem cuja linhagem era portuguesa foi o bispo Juan de Fonseca.
A
vasta comunidade portuguesa possuía no principio do século XVI, vários pontos
de encontro religiosos:
-
Convento de Santa Paula (fundado pela marquesa de Montemaior)
-
Convento de
Santa Maria de Jesus (fundado por Alvaro de Bragança).
-
Igreja de S. Francisco, onde possuíam uma capela. Em 1594 a comunidade
portuguesa resolveu construir uma magnifica capela e fundar uma confraria
dedicada a Santo António dos Portugueses. O altar-mor foi custeado pelos Duques
de Verágua. A capela recebia as rendas de todos os barcos portugueses que
aportavam a Sevilha (8). O convento, situado na actual Plaza Nueva de Sevilla,
foi destruído em 1846.
-
Cartuja de Nuestra Señora de las
Cuevas, cujo altar-mor
fora mandado fazer D. Afonso V, rei de Portugal.
-
Na calle Francos residiam a marquesa de Montemaior, Cristovão e a sua cunhada
(7), entre outros portugueses. Não muito longe ficava o palácio de Alvaro de
Bragança, junto à calle Rodrigo Caro.
Século
XVI / XVII
O
poder da nobreza portuguesa continuou a consolidar-se, nomeadamente através
novas emigrações, naturalizações e casamentos.
A
Alvaro de Bragança, sucede, em 1503, o seu filho
Jorge
Alberto de Lencastre e Melo, em ambas as alcadarias de Sevilha. Foi o 1º. Conde de
Gelves. Casou-se, como vimos, com a neta de Colombo. O poder desta família em Sevilha só
declina no final do século XVI.
Outras cidades da Andaluzia eram igualmente controladas por
nobres portugueses ou de origem portuguesa.
Nos séculos XV e XVI existia em
Sevilha uma enorme comunidade de portugueses ligados ao comércio e navegação
com as praças portuguesas do Norte de África, o comércio de escravos, as
especiarias do Oriente, mas também as Indias Espanholas,
entre os quais se incluíam experimentados navegadores, cartógrafos,
cosmógrafos e mercadores.
A
presença de portugueses em Sevilha continuou sempre muito numerosa, tendo
aumentado bastante a partir de 1580. Era de longe a maior comunidade de
estrangeiros, o que passou a ser visto como uma ameaça pelas autoridades
locais. Relatos do tempo, afirmavam que os portugueses representavam um terço
da população da cidade. Num recenseamento feito em 1642, identificou um total
de 3.808 famílias portuguesas, um grande número das quais eram de comerciantes
(5).
A
época de ouro de Sevilha terminou em 1640, quando Portugal após 60 anos de
ocupação espanhola restaurou a independência, provocando um corte comercial
com Sevilha levando à fuga de milhares de portugueses.
a ) Casa de Cristovão Colombo (Cristobal
Colón) em Sevilha.
Colombo
vivia em Espanha na casa da sua cunhada
Violante Moniz Perestrelo.
Uma das primeiras exigências que Colombo faz aos reis de Espanha, em Barcelona,
após o seu regresso da 1ª. viagem, foi a de que arranjassem em Sevilha uma casa
para a sua cunhada, o que foi de imediato providenciado (30/5/1493). A casa
escolhida pertencera ao judeu Bartolomé de Sevilha. Era
aqui que viviam também os filhos de Colombo quando estavam em Sevilha.
Em
1498, Cristovão Colombo e a sua cunhada
Violante, que viviam desde 1493 na Collación de Santa María la Blanca,
mudaram-se para uma casa junto ao
palácio da marquesa de
montemor-o-novo, na Calle dos Francos. Quando a rainha Isabel
de Espanha faleceu, fixaram também aqui residência Diego e Hernando Colón.
O
ambiente nesta casa era português, com ligações profundas à numerosa comunidade
portuguesa da cidade e a Portugal.
Perante
este facto, os historiadores espanhóis, tem procurado afirmar que
Colombo não tinha uma casa em Espanha, e que quando chegava a Sevilha se
enfiava no convento da Cartuja (10). Um completo disparate.
b)
Tribunal do Santo Ofício de Sevilha
Os
portugueses foram das principais vítimas do Tribunal do Santo Ofício de Sevilha. Uma
perseguição que lhes foi movida até ao fim da Inquisição em Espanha. Mais
.
c
) Mosteiro de Santa María de las Cuevas (Cartuja de Nuestra Señora de las Cuevas) - Sevilha.
Foi
neste convento (cartuxo ) franciscano, situado sobre o porto fluvial que viveu Colombo, onde era frade o seu amigo Gaspar
Gorricio.
Toda
a família de Colombo de origem portuguesa - o filho Diogo Colon, seis cunhados
que viviam Sevilha (Violante Moniz Perestrelo e os seus quatro irmãos, o
marido, etc) tinha uma forte ligação a este convento.
A
ligação de Portugal a este convento não era menor. O seu altar-mor foi
oferecido por D. Afonso V, rei de Portugal(1 ). Uma inscrição
no retábulo dizia o seguinte:
"Este
retabolo mandou poer aqui en esta de casa santa maria de as cobas, o mui alto, e
muito poderoso, e ilustrissimo el rey don alfonso, rey de Portugal, e do
algarve, e senhor de septa, e de alcazar en Africa, en honra, e lovor da bendita
virgen, a remembranza da paixaon do seu precioso filho". (2)
Alcácer
Seguer foi conquista em 1458, pelo que o altar mor só poder ser posterior a
esta data. O
filho que D. Afonso V se refere é o Infante João, Príncipe de Portugal
(29 de Janeiro de 1451 - 1451), filho de Isabel de Avis (1447-1455),
que aparentemente morreu poucos meses depois do seu nascimento.
É curioso
registar que 1451 é precisamente o ano que se afirma que Colombo teria nascido.
A
sua data provável situa-se entre 1462 e 1464, quando D. Afonso V manteve
relações muitos estreitas com Enrique IV de Castela. Em 1462 Enrique IV
(1425-1474) passou por Sevilha quando se dirigia para Gibraltar para se
encontrar D. Afonso V, que então vinha de Ceuta (Septa). Neste encontro que
julgo terá ocorrido em Sevilha, precisamente nesta Cartuxa, ficou acordado o
matrimónio da princesa Joana de 2 anos de idade (1462-1530), com o principe D.
João de Portugal (1455-1495), futuro rei, para além do casamento de D.
Afonso V (então viúvo) com a infanta dona Isabel (1451-1504), futura rainha de
Espanha.
Esta
união dinástica acabou por provocar uma guerra civil, levando a que dois anos
depois Enrique IV desfizesse o casamento, e dando-a desta vez ao seu irmão
Afonso (1453-1468) que foi proclamando seu herdeiro (Avila, 1465).Este casamento
também não se efectivou, casando Isabel com Fernando de Aragão.
Sabemos
também que quando Colombo chegou a Sevilha, nesta Cartuxa encontrava-se um
frade que era familiar da sua esposa D. Filipa Moniz Perestrelo. Neste contexto
que melhor local poderia encontrar em Sevilha para rezar?
.
Convento de Santo António da Castanheira
(Vila Franca de Xira, Portugal), o portal ostenta um brasão das cinco chagas,
datado do inicio do século XVI. No Convento
de las Cuevas (Sevilha, Espanha) encontramos idêntico brasão. Trata-se apenas
de um símbolo dos franciscanos ?
Manuel
Rosa mostrou que no Convento de Sevilha tinha no tecto, em lugar de destaque, um
brasão com as cinco chagas de Cristo. Acontece que no portal manuelino da
igreja do Convento da Castanheira, está mesmo à entrada um brasão igual, com
as mesmas mesmas cinco chagas. Foi aqui que Colombo se encontrou com a rainha
Dona Leonor e o futuro rei de Portugal - D. Manuel I, a 11 de Março de 1493.
Coincidências ? Mistérios ?
O rei D. Manuel de Portugal, por
meio de uma cédula expedida de Lisboa, a 1 de Junho de 1504, fez à cartuxa de
Sevilha, uma importante mercê: 25 quintais de atum todos os anos, que deveriam
ser fornecidos pelas almadrabas do Algarve.
Colombo
morreu em Valladolid (1506), mas só foi sepultado neste mosteiro, em 1509, por
ordem de seu filho Diego Colon (português).
Em
1544 é transladado com os restos mortais de Diego para a
Catedral de Santo Domingo. Estes actos foram realizados pela viúva de Diego e vice-rainha das
Indias, Maria de Toledo, com a autorização de
Carlos V.
Na
Livraria do convento, um pintor português - Pereira - foi quem pintou as quatro
telas representando os quatro doutores da Igreja.
Em
finais do século XVIII quase todos os vestígios ligados a Portugal e a Colombo
foram cuidadosamente eliminados da Cartuxa, numa impressionante campanha de
ocultação.
Com
as invasões francesas, em 1810, as suas tropas instalaram-se no convento,
roubando o seu vasto património. Os frades franciscanos refugiaram-se em Portugal,
só voltando em 1812.
Em
1835 com a extinção das Ordens Religiosas o convento foi extinto e vendido. Um
dos seus primeiros proprietários foi um inglês de Liverpool que aí instalou
uma fábrica de porcelana e loiça. Em 1887 a viúva deste inglês levantou no
seus jardins um monumento a Cristovão Colombo.
.
d
) Catedral de Sevilha.
Túmulo
de Colombo. O monumento
funerário onde estão guardados os restos mortais de Colombo foi realizado pelo
escultor Arturo Melida y Alinari (1), em 1891, e destinava-se
inicialmente à Catedral de Havana (Habana), mas uma vez que Cuba se tornou
independente em 1898, acabou por ser colocado na Catedral de Sevilha (1902). As
quatro figuras heráldicas que transportam o fetro de Colombo representam os
quatro reinos que constituiram a Espanha em 1492: Castila, Leão, Aragão e
Navarra. Qual a sua relação com Portugal ?
Túmulo
de Hernando Colón. Filho
ilegitimo de Colombo. Está sepultado na catedral. Observe a legenda do seu
brasão: "Colon a Leão e Castela Novo Mundo deu". Exclui o reino de
Aragão, mas também indica que se tratou de uma oferta, não de uma descoberta.
e
) Convento de Santa Paula. Este
convento foi fundado em 1475, por Dona Ana de Santillán y Guzmán para os
religiosos da Ordem dos Frades Jerónimos. A construção da Igreja entre 1483 e
1489 foi patrocinada por uma portuguesa - Dona Isabel Enriquez Noronha -
Marquesa de Montemor-o-Novo , em Espanha conhecida por "marquesa de
Montemayor" ou "marquesa de Portugal". Em 1493 adquiriu os
direitos de transformar a Capela Maior num panteão familiar. Dona
Isabel e o seu marido - D. João de Bragança -, assim como outros membros da
sua família refugiaram-se em Castela no ano de 1483. Foi uma das protectoras
do clã familiar de Colombo, em particular da sua tia Dona Violante. Dona
Isabel está sepultada no lado esquerdo da Igreja e o seu marido (conhecido por
"D. Juan
Condestable de Portugal y marqués de Montemayor") no lado direito. Uma
inscrição colocada na Igreja, no final do século XVI, assinalava este
facto: "El
muy y magnifíco señor don juan condestable de Portugal, y marques de
montemayor, bizneto del rey dom juan de Portugal, murió yendo á la guerra de
Granada á postrero de Abril de M.CCCC.LXXXIV. El qual yle muy ilustre magnifica
señora sua muger la marquesa doña Isabel Henriquez, bisneta de rey don
Henrique de castilla, y del rey dom fernando de Portugal, que edificó esta
igresia, estan en esta sepultura." . . Túmulo
do cavaleiro português - León Enriquez, com o brasão dos Noronhas - no convento de Santa Paula,
Sevilha. Dona
Isabel fez sepultar também neste convento o seu irmão - o cavaleiro "León"
Enriquez -, no túmulo do qual está a seguinte inscrição: "
AQUI. ESTA. LOS HUESOS. DEL. GENEROSO. CAUALLERO. DO. LEO. ENRIQUEZ.
TRASLADADOS. POR. LA. MUY. MAGNIFICA Y GENEROSA. SEÑORA. DOÑA. YSABEL.
ENRIQUEZ. MARQUESA DE MONTEMAYOR. SV. HERMANA. EDIFICADORA. DESTA IGLESIA
DESCENDIENTE. DE. LAS RREALES CASAS. DE CASTILLA Y PORTUGAL. MURIO EN SEUICIO DE
SU. REY." -
A que rei se refere? D. João II ? D. Manuel ? Como o serviu em Espanha ? Um
cronista sevilhano do século XVIII, informa-nos que se trata de D. Juan
Henriquez, que morreu a 29 de Maio de 1526, e dá também uma informação
preciosa: "Los Duques de Veráguas y los Caballeros portugales de esta
ciudad, como descendentes de Dom Alvares de Portugal, hermano do condestable, se
tiene por patronos de esta capela" (3). Mais A
nobreza portuguesa, ainda no século XVIII, continuava unida em torno da
memória de D. Alvaro de Bragança e de Colombo.
f
) Convento de Santa Maria de Jesus A
fundação deste convento é atribuída a Alvaro de
Bragança, em 1502, tendo
os seus descendentes - Os Condes de Gelves - prosseguido a obra. Era o terceiro
mosteiro franciscano da cidade.
g
) Alcazar de Sevilha / Casa da Contratação Alvaro de Bragança, como dissemos, foi o alcaide de Sevilha, mas também o
fundador da Casa da Contratação. A maioria dos altos funcionários, incluindo
o tenente, destas instituições eram portugueses ou descendentes de
portugueses. Não admira que possamos encontrar também aqui ligações a
Colombo. Há
uma pintura que não pode deixar de ver e analisar: a "virgem dos
navegantes", ou melhor dizendo "Nossa Senhora da Misericórdia".
No canto inferior esquerdo está representado Colombo. A pintura pode fornecer
mais algumas pistas para saber a sua missão em Castela/Espanha. Mais Carlos
Fontes .
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