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O papa Bento XVI e os portugueses dizem que sim.

PORTUGAL  

Iberismo e Iberistas 

 

Portugal é um dos estados mais antigos da Europa, cujas as fronteiras se mantém inalteráveis desde o século XIII. Um caso único no mundo. A verdade é que contando com cerca de nove séculos de independência, conheceu sempre um punhado indivíduos que, aproveitando-se das situações de crise do país, se manifestam logo dispostos a venderem os seus concidadãos ou a proporem o fim do seu país. 

Estamos perante um fenómeno que não sendo exclusivo de Portugal, pela repercussão que aqui sempre encontrou não possui paralelo em mais nenhum outra parte do mundo. O aspecto mais curioso desta situação, está todavia na singular complacência com que os portugueses, encaram os discursos daqueles que os transformam em meras mercadorias, negando-lhes desta forma a dignidade como seres humanos e destituindo-os de qualquer identidade cultural.  

Atendendo ao facto de Portugal confinar por um lado com o mar e por outro com a Espanha, este país é apresentado como o potencial interessado no negócio tanto pelos  iberistas, como pelos negreiros portugueses. A transacção com a França, Inglaterra ou Itália é desde logo descartada devido à sua distância, embora as afinidades culturais com estes países seja tanto ou mais significativa.

Negreiros.

Os negreiros foram no séculos XVI e XVII os principais defensores da União Ibérica, pois viram nisso uma excelente oportunidade de expansão do seu negócio, acabando por moldarem o discurso iberista.

Portugal foi entre os século XV e XIX um dos principais Estados negreiros da Europa. Esta prática como é sabido deixou profundas marcas na cultura do próprio país. A escravatura corrompeu o escravo, mas também o senhor, embora tenha sido este o principal beneficiário do comércio. 

Na segunda metade do século XVI, poderosos negreiros portugueses como Manuel Caldeira ou Pedro Gomes Reinel, não se limitarem a fornecer aos espanhóis milhares de escravos que as suas colónias careciam, começaram também a conspirar contra a independência de Portugal, apoiando a sua integração em Espanha. O seu objectivo eram obterem o exclusivo no fornecimento de escravos para as colónias espanholas, o que conseguiram em 1595. O resultado foi o domínio espanhol de Portugal entre 1580 e 1640.

Á semelhança dos antigos negreiros, os novos negreiros portugueses, que agora dão pelo nome de empresários, sob diversas formas tem proposto aos seus concidadãos vendê-los, começando por vender o país onde nasceram. 

A sua argumentação é quase sempre a mesma: Portugal não tem futuro, os portugueses também não. A salvação está na sua venda. Eles assumem a missão de os "resgatar" de um futuro que se apresenta como trágico. 

Não raro alguns destes negreiros recorrem à argumentação desenvolvida pelos iberistas, para logo de seguida se oferecerem para negociarem a venda do país nas melhores condições. O seu preço é proporcional à imagem de decadência, miséria ou podridão que conseguirem veicular na opinião pública. Quanto pior for, maior credibilidade possuem as suas propostas. É apenas no enfase desta dimensão estritamente mercantil que os negreiros se distinguem dos iberistas. Mais

Familiares do Santo Ofício

A União Ibérica, entre 1580 e 1640, constituiu uma excelente oportunidade para o saque de muitos milhares de portugueses pela Inquisição Espanhola, que contou com a activa colaboração de muitos traidores, em geral recrutados na Alta Nobreza, como o Duque de Abrantes. 

Em troca de denunciarem os seus concidadãos aos inquisidores espanhóis, tinham direito a participarem no saque dos seus bens. Este é o desejo secreto de todo o iberista: Enriquecer sem trabalhar. Mais  

Iberistas

O iberismo, na sua forma actual, é um fenómeno típico do século XIX,  que emergiu em Portugal e em Espanha, como resposta à teoria das grandes nações então em voga na Europa. Segundo o seus defensores as pequenas estariam condenadas a serem absorvidas pelas grandes, tal como teria acontecido entre os animais onde os mais fortes extinguiram os mais fracos (teoria darwinista). A unificação da Itália (anos 50) e depois da Alemanha (1871) reforçavam esta concepção política de matriz racista e totalitária.  

Na década de 50 e sobretudo entre 1868 e 1874, pulularam em Portugal e Espanha iberista para todos os gostos. Os que propunha uma união ibérica sob um mesmo regime monárquico (D.Pedro V, Seribaldo de Mas, Latino Coelho), os que defendiam uma federação de Estados (Xisto Camara, Henriques Nogueira, etc) os que preconizavam a simples fusão (Ruan Valera, Oliveira Martins) ou aqueles que se contentavam com uma mera integração económica (Barbosa Leão). 

Desde o século XIX até ao presente, tem-se constatado sempre uma correlação (correspondência) directa entre as crises económicas e políticas em Portugal e as esporádicas manifestações iberistas. Foi assim entre 1868-1874, em 1983 e em 2004-2006. O iberismo emerge na sociedade portuguesa como uma manifestação patológica de indivíduos que num dado momento sofreram uma forte influência espanhola ou se assumiram como agentes de interesses espanhóis. Sempre que a situação é melhor no outro lado da fronteira, a integração de Portugal em Espanha surge aos olhos dos iberistas como a solução para resolver a crise, sem trabalho.    

Analisando o carácter psico-social dos iberistas constata-se que estamos perante indivíduos com um profundo problema de identidade pessoal, que frequentemente se exterioriza na questão da sua identidade nacional que a todo o custo pretendem anular. A diversidade de culturas é para o iberista algo insuportável. A individuação um mal que urge corrigir na cultura e na sociedade. 

Os historiadores iberistas portugueses, por exemplo, omitem factos ou personagens, riscam do mapa localidades, atribuem feitos de portugueses a estrangeiros de forma a diminuírem a importância histórica do próprio pais. Mais 

A sua estratégia auto-aniquilação começa quase sempre pela negação da diversidade das culturas. É por isso que o iberista prefere enaltecer a supremacia de certas culturas e recusar o diálogo entre os povos. É por esta razão também que a maioria dos iberistas acabaram a defender posições racistas e totalitárias, contando-se entre os primeiros proto-fascistas europeus, como foi o caso de Oliveira Martins ou António Sardinha, mas também mais antigos estalinistas como José Saramago. A matriz totalitária fascista, nazi ou estalinista está sempre presente.

Comunistas e Monárquicos Iberistas

Com o fim da ditadura e do Império Colonial (1974/1975) gerou-se na sociedade portuguesa alguma inquietação sobre o futuro do país, dado que durante séculos se havia difundido a ideia que não poderia sobreviver sem o Império. É neste contexto de alguma indefinição que vão emergir dois pequenos grupos de iberistas oriundos de duas áreas políticas aparentemente muito distintas: monárquicos e comunistas. Mais

Imprensa Promotora de Iberistas 

Nas duas últimas décadas alguns orgãos de comunicação social, usando da liberdade de expressão própria de um regime democrático, tem procurado de forma sistemática abrir fracturas na sociedade portuguesa, aproveitando momentos particularmente difíceis do país. As personagens envolvidas nestas campanhas são quase sempre as mesmas e aparecem frequentemente ligadas a interesses obscuros, em geral grupos económicos espanhóis.

Estes orgãos tem procurado estimular divisões internas, tendo em vista a longo prazo conduzir ao fim da soberania e identidade cultural de Portugal, contribuindo de imediato para o seu descrédito internacional. O único beneficiário destas campanhas publicitárias é a Espanha. Trata-se de um negócio ou simples ignorância dos jornalistas?. Mais

Propaganda Anti-separatista

A propaganda iberista espanhola, em regra é feita em simultâneo nos dois países, no que constitui uma clara ingerência no estado português. Um dos seus objectivos é descredibilizar a sociedade portuguesa, minando a sua coesão social. Embora este objectivo seja real, não é todavia o único. O principal objectivo, segundo muitos analistas, é descredibilizar os próprios movimentos separatistas espanhóis, em particular os bascos, catalães e até de uma minoria de galegos

A mensagem que procura veicular é a seguinte: Qual o sentido destes movimentos lutarem pela independência, quando os próprios portugueses, independentes desde 1128, pretendem ser integrados em Espanha ? Alguns alienados portugueses, tem-se prestado a servirem os objectivos da propaganda espanhola, declarando-se simpatizantes das teses iberistas. As suas palavras são de imediato divulgadas em Espanha, como provas da insensatez dos movimentos separatistas.

A verdade é que tantos os bascos, como os catalães não se deixam iludir pela propaganda iberista do estado espanhol e prosseguem a sua luta. Mais

Iberismo e Dependência Económica

Os iberistas, infiltrados no Estado português, tem procurado estrangular a economia portuguesa, confinando-a a uma dimensão regional. O seu objectivo é aumentar a dependência de Portugal face a Espanha, de forma a criar as condições para uma futura integração. A sua tese económica é simples: o mercado natural de Portugal é a Espanha.

Na verdade, ao longo de toda a história é fácil de constar que o mercado natural de Portugal foi sempre o mundo.  Portugal foi justamente o primeiro Estado global do mundo, mantendo desde o século XVI relações comerciais regulares diversificadas em todos os continentes.

A estratégica dos iberistas consiste precisamente em diminuir a diversificação das relações económicas do país e a diversidade da origem dos investimentos estrangeiros, privilegiando apenas a Espanha como parceiro económico de Portugal. Em virtude da influência nefasta dos iberista, Portugal tem vindo, nas duas últimas décadas, a perder quotas de exportação no seus mercados tradicionais (Inglaterra, Alemanha, EUA, etc). 

O que é mais grave é que esta regionalização da economia portuguesa, tem sido acompanhada pela destruição sistemática das suas estruturas de transporte globais, nomeadamente em termos marítimos. 

A perspectiva económica dos iberistas é limitada nos seus horizontes, apenas tem a propor que a economia portuguesa assuma uma dimensão provinciana e localista. Os horizontes económicos dos iberistas não ultrapassam a Península Ibérica. Não é por acaso que Oliveira Martins, um esbirro iberista no final do século XIX, tenha sido o grande obreiro de medidas anti-liberais e proteccionistas (pautas alfandegárias) que acabaram por estimular uma mentalidade empresarial fechada e avessa ao risco e inovação. Os iberistas têm medo da globalização, por isso sonham com uma integração que os protegeria da concorrência internacional, garantindo-lhes umas migalhas. A Espanha faria por eles aquilo que eles próprios não tem energia para fazer. Mais  

Mentalidade Iberista

Em Portugal, os iberistas em geral manifestam-se quase sempre incomodados quando são identificados como portugueses, não apenas porque se sentem diminuídos por pertencerem a um pequeno país, no extremo da Europa e virado para o imenso Atlântico, mas sobretudo por deplorarem serem confundidos com um povo de gente que consideram inferior. A única forma para evitarem esta situação, não é contribuírem para a alterar as condições de vida da população, participarem activamente no seu desenvolvimento sócio-cultural, mas defenderem o fim do próprio país. 

O iberista não propõe que os portugueses se envolvam na melhoria das suas condições de vida do seu país. Propõe-lhes uma solução mais fácil, venderem-se quando as condições de vida em Espanha são melhores que em Portugal porque dessa forma pensam lucrar alguma coisa com a transacção. O iberista trata a população portuguesa como um conjunto de prostitutas e prostitutos.

O Iberista propõe aos portugueses que desistam de desenvolverem o seu próprio país, abdiquem da sua identidade, história e projectos colectivos. Desta forma os iberistas estimulam a criação de sentimentos de inferioridade, resignação e fatalismo. Estimulam igualmente manifestações doentias de inveja perante o Outro, sobretudo entre aqueles que não tem energia para fazerem nada pelo seu próprio país. É por isso, que no século XIX, o iberismo teve larga difusão entre o movimento cultural dos "vencidos da vida" onde eram frequentes as tendências suicidas e derrotistas.

O iberista não defende uma perspectiva internacionalista, como o fazem, por exemplo, os anarquistas, quando atacam o nacionalismo e o xenofobia propondo o fim de todas as fronteiras, uma pátria comum para toda a humanidade. O iberista também não defende a união dos portugueses com outros povos no seio da União Europeia. O seu ideal político na visão iberista de José Saramago (romance "Jangada de Pedra", 1986), passa por isolar Portugal do resto da Europa, transformando-o numa ilha perdida no meio do Oceano para ser mais facilmente engolido pela Espanha. 

O iberista pretende que os portugueses se desfaçam da sua pátria e acabem com o seu país, para reforçarem a nação espanhola. O seu projecto político assenta na auto-castração do povo português.

O iberista não advoga a extinção do país através de um qualquer processo de universalização da sua identidade cultural, afirmando, por exemplo, a universalidade da condição de ser dos portugueses. O iberista não tem forças para tal. O que ele pretende é mesmo a sua auto-aniquilação, propondo aos seus concidadãos um suicídio colectivo - a integração de Portugal, por exemplo, em Espanha. Trata-se de um expediente pouco cansativo. Desta forma procura realizar aquilo que ele próprio não tem forças para o fazer: - livrar-se do fardo da sua própria existência.

 

Expiação do Passado

A forma como os portugueses têm ao longo dos séculos reagido aos iberistas têm variado bastante. 

No passado, mais concretamente até ao século XIX, os iberistas eram frequentemente mortos. Eram vistos como elementos degenerados de um povo orgulhoso da sua história e identidade cultural. Alguns destes assassinatos ficaram célebres na História de Portugal, sendo mesmo ensinados ao longo de sucessivas gerações como actos de afirmação da dignidade de um povo (consultar). O próprio Padre António Vieira, no século XVII, chega a evocar a protecção divina para este tipo de tratamento dado pelos portugueses aos iberistas.

Esta cruel reacção da população portuguesa face aos iberistas tem uma explicação humanista. O povo português manifestava desta forma violenta, aquilo que qualquer ser humano intuitivamente sente perante alguém que o trata como uma  "mercadoria" ou uma "coisa": repulsa ! 

Na verdade, quer o negreiro, quer o iberista, não consegue ver no outro uma pessoa. O Outro é, por eles, destituído de vontade e identidade pessoal. É por isso que o iberista, nem sequer equaciona outras vontades que não a sua quando concebe a ideia de extinção de um país. Dificilmente os portugueses podiam tolerar que outros "portugueses" os tratassem dessa forma.

Ao longo de séculos, as profundas clivagens sociais na sociedade portuguesa, negaram o estatuto de plena cidadania à maior parte da população. Os iberistas são os herdeiros, psicologicamente perturbados, dos antigos súbitos, a quem a única coisa que se lhes pedia é que obedecessem aos seus senhores. É por esta razão que os iberistas surgem durante os períodos em que o Estado se revela particularmente frágil. Não sentido que existam em Portugal senhores para os conduzirem ou subjugarem, os iberistas pensam que os encontrarão em Espanha. O iberista tem medo da liberdade.

Com o fim do regime colonialismo, em 1975, criaram-se condições psicológicas propícias para a difusão dos discursos dos iberistas e dos novos negreiros.

Há quem veja na actual  complacência dos portugueses face à ignomínia de que são alvo, por parte dos iberistas e negreiros, como a manifestação de um profundo sentimento de culpa colectiva. Ao sofrerem esta ignomínia, os portugueses, estão a expiar e a libertarem-se num processo catártico do seu passado de antigos negreiros. E neste sentido, aceitam ser tratados como coisas, porque no passado também eles trataram outros seres como tais. 

Carlos Fontes

.Iberismo e Iberistas: 

1. Novos Discursos   2.Desestabilização da Sociedade Portuguesa  3. Decadência   4. Imprensa  5. Ingerências Externas. 6. Morte de Iberistas  7. Traição à Pátria  8. Alianças Políticas.  9. Imagem de Portugal. 10.  Oliveira Martins - Ideólogo do Iberismo  11. Olivença  12. Bibliografia

Para saber mais:

Tradição Totalitária e Xenófoba Espanhola

Misérias da Emigração Portuguesa em Espanha

Invasões Franco-Espanholas (1801-1813). /