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Os portugueses consideram sempre
os iberistas como elementos degenerados de um povo orgulhoso da sua história e identidade cultural.
A actuação dos iberistas na sociedade portuguesa, em cerca de 9 séculos de
História, traduziu-se sempre em divisões e conflitos que degeneraram em
guerras civis, com um cortejo interminável de mortes.
Alguns
assassinatos de iberistas ficaram célebres na História de Portugal, sendo celebrados
por inúmeros artistas portugueses ao longo dos séculos.
Não deixa de ser curioso, que os
portugueses tenham espalhado as representações destas mortes de
iberistas pelo mundo, tal era o profundo simbolismo que lhes atribuíam.
A morte dos iberistas era
entendida como um acto de defesa de valores que consideravam
fundamentais - dignidade, identidade cultural e
liberdade -, mas também uma manifestação de respeito por si próprios. Um
povo que não se respeita a si próprio, nunca será respeitado por outros. Ora, iberista
sempre manifestou um profundo desprezo pela dignidade e liberdade do povo
português, agindo de modo a destruir a comunidade que o viu nascer.
É por isso que as razões que os
portugueses apresentaram para justificar a morte dos iberistas são em tudo idênticas às
apresentadas depois da
IIª. Guerra Mundial (1939-1945), para a condenação à morte nazis e fascistas.
Em ambos os casos tratava-se de reafirmar, através destas acções violentas,
que existem princípios que não podem ser transgredidos, nomeadamente o
respeito que todos os seres humanos merecem na sua dignidade, identidade e
liberdade.
Dois
Iberistas. As
mortes de dois iberistas
assumiram uma enorme carga simbólica na história portuguesa, sendo
continuamente evocadas:
a morte do Conde João Fernandes Andeiro e a morte de Miguel de
Vasconcelos.
A morte do Conde de Andeiro,
fidalgo galego, foi
assumido como o símbolo de liberdade de um povo que recusa as ingerências externas e os
jogos palacianos para lhes imporem o que não quer. Este iberista, um típico
traidor castelhano, participou em diversas conspirações ao serviço de
Portugal e de Inglaterra. Em Lisboa, acabou por ascender a uma elevada posição
na corte, tendo recebido de D. Fernando o título de Conde de Ourém, pondo-se
durante a crise de 1383/5, ao serviço de Castela. Foi assassinado, a 6 de
Dezembro de 1383, por D. João,
mestre de Avis e futuro rei de Portugal. A sua nefasta
acção e de outros esbirros iberistas, em finais do século XIV, traduziu-se numa
violenta guerra civil que só terminou quando os portugueses exterminaram os
aliados de Castela.
A morte de Miguel de Vasconcelos
exprime simbolicamente a afirmação da identidade cultural de um povo, cuja forte individualidade
saiu reforçada após uma opressão de 60 anos. Este iberista, secretário do
governo espanhol, ficou tristemente célebre pelo ódio que nutria pelos seus
concidadãos. Em 1634 os portugueses tentaram-no matar pela primeira vez. Se o
tivessem feito, muitas vidas teriam sido provavelmente poupadas. Na manhã de 1
de Dezembro de 1640, quando os portugueses restauraram a independência de
Portugal, foi o primeiro a ser morto depois de o terem descoberto escondido
dentro de um armário. A acção deste e outros iberistas, entre 1580
e 1640, traduziu-se numa brutal opressão da população portuguesa
durante 60 anos. Após a morte deste esbirro, o povo português
travou com a Espanha, durante 28 anos, uma sangrenta guerra na Europa e na
América do Sul pela defesa da sua liberdade e dignidade.
"A Morte do Conde João
Fernandes Andeiro, pintura de A. J. S. Azevedo, Museu Nacional Soares dos Reis.
Porto
.
"Morte de Miguel de
Vasconcelos", pintura. Centro Português de Santos - São Paulo. (Brasil).
"Morte de Miguel de
Vasconcelos", painel de azulejos. Museu Militar de Lisboa.
.
É
Legitimo Condenar à Morte Responsáveis por Crimes Contra a Humanidade ?
Os iberistas
ao longo da história de Portugal, ao pretenderem criar um união contra natura
com a Espanha, acabaram por provocar enormes divisões no povo português. A
morte destes elementos foi assumida, pelos portugueses, como uma forma de
evitar males maiores. Apesar dos crimes que cometeram terá sido legitima a
sua morte ? A resposta não é consensual hoje em dia.
A longo da
história da humanidade inúmeras vezes a questão tem sido colocada.
Será que o assassinato destas
horríveis criaturas que
provocaram a morte a milhares ou milhões de pessoas é justificável ? Ou pelo
contrário, por maiores que tenham sido os seus crimes, nenhum ser humano tem
o direito de lhes tirar a vida ?
Os italianos
quando prenderam Mussolini deveriam terem-no encerrado numa prisão em vez
de o matarem ? E se Hitler tivesse sido preso pelos aliados, estes
deveriam terem-no condenado a prisão perpétua ou assassinado ?
Os vários
atentados que estes ditadores foram alvo são condenáveis, mesmo sabendo
muitas mortes que teriam sido evitadas se os mesmos tivessem sido bem
sucedidos? A pena de morte foi
abolida em Portugal pela Lei de 1 de Julho de 1867.
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Carlos
Fontes |