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As sociedades capitalistas tem
tendência a reduzir tudo a mercadorias, a dignidade, liberdade e
independências dos povos entraram nesta categoria. Tudo se vende, tudo se
compra. Nas duas últimas décadas, a
sociedade portuguesa entrou numa euforia consumista, assistindo à emergência
de uma mentalidade que tende a banalizar e
transformar tudo em mercadorias transaccionáveis. Foi neste período que também o
capitalismo se impôs de modo hegemónico. Os antigos países comunistas converteram-se ao
capitalismo. A China e a Ex-URSS estão hoje transformadas em paraísos para capitalismo
selvagem, onde as populações são brutalmente exploradas.
Em Portugal, à semelhança do
que ocorreu em outros países ocidentais, ex-comunistas convertidos aos
capitalismo, passaram a estar ligados à especulação imobiliária, falcatruas nas
autarquias e a negócios obscuros. O "Homem Novo",
fruto das doutrinas marxistas-leninistas, representa agora o pior que o
capitalismo produziu. Um homem sem respeito pelo próximo.
É neste contexto que emerge a
questão do iberismo nos últimos anos. O seu objectivo é a destruição de
Portugal sob o pretexto que os portugueses só tem a ganhar com o negócio. A
liberdade, dignidade e identidade de um povo é assim reduzida à
dimensão de uma mercadoria.
Na difusão do iberismo tem participado
alguns orgãos de comunicação social ligados a grupos económicos espanhóis, mas também
políticos e empresários envolvidos em negócios obscuros.
A estratégia iberista consiste,
no imediato, em minar a unidade da sociedade portuguesa, levando os
portugueses a não terem respeito por si próprios, nem exigindo a outros que o
tenham. 1. Banalização do Insulto.
Alguns orgãos comunicação tem promovido sondagens, debates sobre o iberismo.
Nestes forum indivíduos, em geral
não identificados, manifestam o seu desprezo por Portugal
enaltecendo as virtudes da Espanha. Tem-se assistido a tudo.
Proxenetas lamentam -se de
terem nascido em Portugal, e por esse facto estarem limitados na expansão do
seu negócio. A matéria prima em Espanha é mais abundante e diversificada e as leis que
regulam o mercado mais flexíveis. Racistas sentem-se discriminados por serem
portugueses, quando comparam as possibilidades de exercício que teriam em Espanha, onde existe um
maior número de imigrantes e de muçulmanos. Parasitas sociais, queixam-se que
tem que trabalhar em Portugal, apregoando que se fossem espanhóis viveriam à
custa do Estado com maior facilidade. Monárquicos sentem-se diminuídos,
inferiorizados, por não terem um rei para lamberem as botas como em
Espanha. No meio destes insultos, os
portugueses ainda recebem lições de espanhóis. Um deles, desempregado em
Barcelona prontificou-se a mostrar-lhes as razões do sucesso económico deste
país - aumento da precariedade laboral, escravização de imigrantes, tráfico
de seres humanos, etc -, algo que os portugueses saberiam fazer naturalmente se
tivessem continuado, depois de 1640, sob o domínio espanhol.
Nos últimos tempos, na
internet, surgiram inclusive ladrões e traficantes de droga insurgindo-se
contra a existência de fronteiras, e a teimosia dos portugueses em serem
independentes, pois se as mesmas não existissem teriam mais hipóteses de fugirem
num espaço mais amplo.
2. Inferiorização do Povo
Português.
Com
excepção do povo judeu, o português desde o século XVI que destaca por
valorizar sobretudo os seus aspectos negativos, terminando frequentemente
em atitudes pessimistas sobre as suas capacidades.
Uma coisa é um povo ser
hiper-critico sobre si próprio, outra é considerar-se inferior em relação a
outro. A diferença é enorme, mas o salto foi dado no final do século XIX por iberistas, como Oliveira
Martins, ao considerem que o
povo português não tinha energia, capacidade de organização e realização
capaz de ombrear com outros povos europeus.
O povo espanhol, segundo estes
iberistas, também padecia dos mesmos males, sobretudo depois da derrota e
humilhação da Espanha pelos EUA, em 1898, quando foi em poucos dias afastada
das América e das Filipinas. É por esta razão que alguns iberistas, como
Antero de Quental vinham defendendo que a União de Portugal e Espanha, era a
única forma de dar força a dois povos europeus decadentes.
O iberismo acabou por cair em
teorias racistas, classificando os povos em diferentes níveis. Os portugueses
eram incluídos entre as raças degeneradas, devido aos seus múltiplos
cruzamentos com outros povos, considerados inferiores. Teófilo Braga depois de
uma fase iberista, percebendo onde conduziam estas ideias em relação ao povo
português, irá tentar afirmar a sua "pureza". A sua
argumentação racista apenas servia para discriminar os povos, não para os
aproximar. Acentuava os ódios entre eles, não promovia o entendimento. O
iberismo é uma doença racista que tudo contamina.
Séc.XXI.
No início do século XXI, os iberistas deixaram de afirmar que o povo
português é inferior ao inglês, alemão, etc, para o considerarem inferior ao
espanhol. Ao nascerem os portugueses estão condenados a serem ignorantes e
miseráveis. Os seus genes estão degenerados, escrevia, em 2004, uma
iberista nas páginas do jornal Expresso.
A única forma de se regenerarem é
integrarem-se na Espanha.
Nos debates promovidos pela
imprensa ligada a grupos iberistas, o povo português é frequentemente humilhado com base numa
suposta superioridade do povo espanhol sobre o português. Apontam-se como
argumentos desta suposta superioridade, indicadores económicos, quilómetros de
auto-estradas, preço dos automóveis, da gasolina, dos detergentes, etc. Por baixo desta argumentação
ridícula estão as habituais teses racistas dos iberistas. Uma infâmia que está a ser
impunemente banalizada.
Como os Povos
Reagem à Humilhação ?
Portugal:
A onda iberista do século XIX procurou inferiorizar o povo
português, acabando por estimular um movimento de afirmação nacionalista, que
conduziu ao derrube do regime monárquico (1910) que dado que o mesmo tinha permitido a difusão das
ideias iberistas, e depois à implantação de uma ditadura (1926-1974) que cultivou um nacionalismo anti-espanhol.
Alemanha:
A humilhação que
o povo alemão sofreu com a derrota da 1ª. Guerra Mundial (1914-1918),
mas sobretudo a forma como foi tratado pelos vencedores, acabou por
estimular o desenvolvimento do nacionalismo, que conduziu ao fim da
democracia (1933) e ascensão do Hitler ao poder. Os judeus foram
apontados pelo nazismo como os culpados da humilhação do povo alemão,
gerando-se um largo consenso para a necessidade do
seu extermínio (holocausto).
A história da
Humanidade está repleta destas reacções de povos humilhados na sua
dignidade. Nestas reacções pouco conta o seu nível de desenvolvimento
económico. Hoje como no passado as reacções são
idênticas. Algumas
Reacções Previsíveis . |
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Carlos Fontes.
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