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Oliveira Martins (1845-1894) é a
melhor exemplo dos esbirros iberistas. É difícil de determinar a causa do
profundo ódio que manifestava pelos seus concidadãos e o país. Terá sido a
obrigação de ter que trabalhar, com apenas 15 anos, em consequência da morte
do pai ? Não o sabemos.
Ao contrário de outros
iberistas, não foi um iberista de circunstância, mas manteve um percurso
político coerente com esta aberração. Antero de Quental, por exemplo, em 1869
era um confesso iberista, dois anos depois já nem fala no assunto, e mais tarde
abomina semelhante ideia. Algo idêntico ocorreu com Teófilo Braga e a quase
totalidade dos iberistas.
Oliveira Martins foi um típico
vira casacas. Foi anarquista (Prodhouniano), socialista, republicano, monárquico, liberal, anti-liberal.
Defendeu a liberdade, mas também a ditadura. Atacou os ditadores, mas apoiou
também ditadores, como João
Franco. É apontado como um dos introdutores das ideias socialistas em
Portugal, mas também como um proto-fascista. Muitas das suas ideias foram
aplicadas por ditadores como Sidónio Pais ou Oliveira Salazar.
Este antigo internacionalista, a
partir da altura que exerceu funções
de administrador numa
mina em Espanha (Santa
Eufémia, na Serra
Morena, Andaluzia), entre 1870 e 1873, passa a advogar a integração de
Portugal neste país. Para justificar esta posição política anti-patriótica, cultiva
de forma sistemática uma visão doentia e pessimista sobre o passado, presente
e futuro de Portugal, nada encontrando de positivo.
O povo português é tratado como
um bando de fanáticos, criminosos, violentos, ignorantes, mas também fracos e
apáticos, sem o mínimo de energia ou iniciativa (Cfr. História de
Portugal, 1879). Os reis portugueses são ainda piores do que o
povo.
Portugal é um país decadente,
sem salvação possível. As
causas desta decadência eram múltiplas, e variaram bastante nas suas obras,
mas conduzem todas à mesma conclusão. O fim de Portugal estava próximo, nada
mais havia a esperar dos portugueses. Desta forma contribuiu para estimular
a inacção e o desleixe.
Oliveira Martins quando, em 1892, no governo de Dias Ferreira, exerceu durante quatro meses as funções
de ministro da fazenda (17 de Janeiro a 27 de Maio), as únicas medidas
políticas que tomou foram todas de carácter anti-liberal e proteccionistas. O
seu objectivo era fechar o país em relação ao exterior, regionalizando as
suas relações economicas, de forma a confinar as ligações políticas à
Península Ibérica. Ao fim de 4 meses foi posto na rua.
Denomina a geração que fez
parte de "Vencidos da Vida", nome que traduz sobretudo a sua
auto-apreciação.
No final da vida, isolado e sem
esperança no futuro, acaba corroído por uma tuberculose que o mata aos 49 anos.
Portugal suspirou de alívio, mais um esbirro iberista havia desaparecido.
1. História Iberista.
Recusando a existência de Portugal como uma nação livre e independente,
escreve vários livros onde procura construir uma história ibérica, na qual
são ignoradas todas as diferenças culturais entre portugueses e espanhóis.
Tudo o que não se encaixa neste esquema iberista é suprimido. (cfr.
História da Civilização Ibérica, 1879, etc).
2.
Totalitarismo. Inimigo
da diversidade de povos e culturas, Oliveira Martins evolui para uma visão
totalitária do Estado. Tornou-se um admirador confesso de ditadores e do regime
racista e totalitário que estava a emergir na Alemanha. É neste sentido que
advoga a criação de um Estado Único na Península Ibérica que aboliria todos
os povos e culturas decadentes, como a portuguesa.
3. Racismo.
Adepto do racismo científico, inspirado em Charles Darwin, defende a
hierarquização dos povos em raças superiores e inferiores. O povo português,
devido a misturas raciais e à sua cultura decadente, estaria condenado a desaparecer ( Elementos de
Antropologia, 1880; As Raças Humanas e a Civilização Primitiva,
1881, etc).
Carlos Fontes
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