Políticos, Empresários e
Jornalistas
com Mentalidade de Antigos Negreiros
Nos
primeiros meses de 2004, o jornal Expresso, numa atitude de completa
subserviência face ao grande capital veiculou a ideia que o futuro de Portugal
estava dependente do patriotismo de um punhado capitalistas. Nessa
época muitos capitalistas portugueses estavam a desfazerem-se das suas empresas e a
venderem-nas a outros capitalistas estrangeiros, nomeadamente espanhóis. A
conclusão que alguns jornais se apressaram a retirar é que
Portugal não tinha futuro. Desde
então a imprensa portuguesa, sobretudo a que está a soldo de grupos estrangeiros, tem
divulgado e dado particular destaque opiniões e posições de conhecidos
capitalistas que discorrem de forma catastrófica sobre o futuro de
Portugal. A sua conclusão é quase sempre a mesma: o país não tem
futuro, a questão reside apenas no preço da sua venda. Existe
um ponto em comum entre estes capitalistas, é o facto de todos terem vendido importantes
empresas a grupos espanhóis, o que não os impede de por vezes fazerem rasgados
discursos patrióticos. António
Champalimau Um símbolo sempre evocado dos
grandes capitalistas portugueses no século XX. Foi particularmente
favorecido
pela ditadura salazarista, tornando-se um dos homens mais ricos do mundo. Não consta
que alguma vez se tenha incomodado com a ausência de liberdade em Portugal ou com a desenfreada
exploração de milhões de pessoas em Portugal, Angola, Moçambique e em outras
colónias onde possuía negócios protegidos pelo regime. Este
capitalista, em 1985, insurgiu-se num discurso patriótico contra a adesão de
Portugal à União Europeia (então CEE), pois via na mesma o fim do próprio
país. A Espanha iria absorver Portugal. Uma posição que era defendida então
pelo Partido Comunista Português, onde pontificava o escritor José
Saramago. O
alegado patriotismo desta capitalista terminou poucos anos depois. Nos
anos 90
vendeu um dos
principais bancos portugueses a capitalistas espanhóis, transformando-se numa das
figuras mais odiadas da população portuguesa. Pouco antes
de morrer, em 2004, deixou parte da sua fortuna para a criação de uma Fundação
dedicada a apoiar a investigação na área da saúde. Diogo
Vaz Guedes Herdeiro de uma empresa ( Somague,
criada em 1947) que se expandiu à custa de obras
públicas promovidas pela ditadura. Nos últimos anos, numa acção de puro
oportunismo comercial promoveu com outros capitalistas uma campanha
"patriótica" denominada "Compromisso com Portugal"
(2004), cujo
objectivo era defesa do capitalismo selvagem. O seu apregoado patriotismo não tardou a
desaparecer, vendendo a sua empresa de construção, a Somague, a capitalistas
espanhóis. Desde então a população portuguesa deixou de lhe dar qualquer
crédito ao seu alegado patriotismo. Dois
anos depois da venda da Somague, as suas ideias tornaram-se mais claras. Numa entrevista ao jornal Diário Económico
(2006-11-28) afirmava já de forma conclusiva: " Quando lhe falo em
Portugal, falo em Ibéria. Portugal já não existe." .
Somague Financia
PSD
Em Agosto de
2007, os portugueses tem conhecimento que menos em 2001 e 2002, esta
empresa espanhola financiou ilegalmente um dos maiores partidos
portugueses. Quais terão sido os favores pagos com avultadas verbas ? O
jornal Público (23/8/2007) lança a hipótese de ter sido para pagar o
adiamento da concessão da Auto-Estrada A-17 por um Governo do PSD. As
hipóteses são muitas envolvendo este empresário. |
. Pais
do Amaral Capitalista e monárquico, apressou-se a vender aos espanhóis um
dos principais grupos de comunicação social portugueses (Media Capital). O
negócio nada tinha de chocante se não fosse os discursos patrióticos que
antecederam a venda das suas acções. A cena repetia-se. Ricardo
Salgado (Grupo
Espírito Santo-Bes) Estamos
perante um grupo económico que se afirma muito patriota, apoiante activo da
selecção nacional de futebol, distribuir de bandeiras gratuitas de Portugal,
etc. Foi
durante décadas particularmente protegido pela Ditadura, e recentemente pelos
diversos governos. Uma
das muitas campanhas patrióticas do BES A
PT foi sempre considerada uma empresa estratégica para
Portugal, e o BES assumiu-se como o núcleo duro português. Publicamente o seu
presidente (Ricardo Salgado), afirmou que o governo devia intervir na PT caso os
espanhóis lançassem uma oferta de compra hostil. Quando
em Junho de 2010, a Telefónica espanhola lançou uma acção hostil
contra os interesses portugueses na PT, apressou-se a dizer que estava disposto a vender as suas acções na
empresa portuguesa. "O capital não tem pátria", Karl Marx.
PSD
defende a venda da PT aos espanhóis
Passos Coelho,
o líder do PSD (ultra-liberal), não espantou ninguém quando se colocou
ao lado da acção hostil dos espanhóis. O objectivo deste partido é
liberalizar toda a economia e desregular o próprio mercado.
O seu modelo
de sociedade é o capitalismo selvagem entregue a predadores
internacionais. Este partido mostrou-se, uma vez mais, que está ao
serviço dos interesses especulativos do grande capital. |
Tratam-se
de exemplos típicos dos esquemas usados por capitalistas
para fazerem dinheiro, pouco lhes importando os meios utilizados, nem sequer as
consequências que provocam as suas acções no país
onde nasceram. Negócios.
Como
Marx disse e a história da Humanidade confirma - o capital não tem pátria. O
objectivo dos capitalistas é fazer lucro, acumular capital, mesmo que isso
signifique muitas vezes a miséria dos seus concidadãos.
Negreiros.
Em
Portugal, as declarações de diversos capitalistas mostram também que continua a persistir no inicio do
século XXI muito da mentalidade dos antigos
negreiros. Como é sabido, no final do século XVI, os negreiros portugueses
viram na integração de Portugal na Espanha uma excelente oportunidade para
expandirem os negócios de tráfico de escravos. Neste sentido conspiraram para que
Portugal perdesse a sua Independência em 1580, a qual só foi restaurada pelo
povo 60 anos depois. Os novos negreiros continuam a alimentar a veleidade de
voltarem a vender Portugal.
Infâmia.
O que é verdadeiramente vergonhoso, neste processo é a atitude de completa
subserviência da comunicação social face ao grande capital. Lendo
alguns jornais fica-se com a ideia que, a maioria dos jornalistas está
convencida que o futuro de Portugal está nas mãos de
alguns capitalistas portugueses, nomeadamente daqueles que tratam a população
como um mera mercadoria. O futuro de Portugal é reduzido a
um simples negócio. Quanto vale Portugal? Quanto vale um português? Com
quem será preferível fazer o negócio, como a Espanha ou os EUA? Ou haverá
outro potencial interessado no negócio? .
Ninguém parece ter percebido a infâmia que este tipo de discursos comporta,
pois eles negam a todo e a qualquer português a dignidade que merece qualquer ser
humano.
Carlos Fontes |