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Patriotismo ?
O historiador Hermando José
Saraiva, sustenta uma curiosa tese sobre os portugueses: as suas
"elites" deixam-se vender aos inimigos de Portugal com grande
facilidade, quem resiste e acaba por defender o próprio país é o
"Povo".
Relação afectiva. O
conceito de pátria é em primeiro lugar uma relação afectiva que se
cria pelo lugar onde se nasceu ou se adoptou. As pessoas, histórias,
paisagens, tradições e outros elementos locais passavam a fazer parte do
imaginários, preocupações e sentimentos pessoais. Esta relação afectiva faz
com que o patriota sinta como seus os problemas da sua comunidade, e se sinta a
obrigação interior de dar a sua contribuição para os resolver. O patriotismo
é, neste sentido, uma manifestação da vocação solidária e política do ser
humano, que se revela frequentemente numa partilha de sentimentos (alegrias,
tristezas, etc) dos membros de uma dada comunidade.
Esta forte relação afectiva com
a terra à qual se está ligado, para muitos filósofos é que dá
significado a grande parte da existência humana. Sócrates recusa-se a sair da
sua cidade (Atenas), quando lhe propõem a fuga. Aristóteles define o homem a
partir de um topos (lugar), porque não concebe o homem desenraizado. Bakunin
(anarquista), embora tenha assinalado a função solidária do patriotismo, não
deixou de chamar a atenção para as perversões que podem resultar do
patriotismo: a xenofobia (horror ao Outro) e nacionalismo (crença da superior
face a outros).
Relação económica.
O liberalismo, a
partir do século XVII, ao valorizar a iniciativa individual, desvalorizou a
noção de Pátria, substituindo-a pela noção de mercado. O marxismo,
no século XIX, seguindo um velha tradição materialista, negou o papel da
afectividade na política. O que movia os homens eram os seus interesses
económicos, a pátria era uma ficção. Liberais e marxistas estavam de acordo
um ponto: o capitalista não tem Pátria, tem apenas interesses próprios a
defender. O conceito de pátria era uma ilusão que importava destruir, em
especial junto dos trabalhadores.
A história das sociedades
mostram-nos que o patriotismo não significa a negação da defesa dos
próprios interesses económicos. Muitos grandes capitalistas, por exemplo, sem
nunca descurarem do seus negócios revelaram uma relação extremamente
afectiva com a sua pátria e os seus concidadãos. Uma coisa é certa, os interesses económicos sem
ligação à pátria, facilmente se transformam pura rapina, saque de pessoas. O
ser humano reduzido à sua dimensão económica torna-se num predador, vendo no
Outro não pessoas, mas caça.
Comunistas e Neoliberais.
Nas últimas décadas a situação política em Portugal revelou uma estranha
aproximação entre neoliberais e comunistas. Os primeiros (PSD) lutam pela
des-regulação do mercado de forma a facilitar o seu saque. Os segundos, ao
secundarizarem também o conceito de pátria, geraram um número muito significativo
de iberistas e ideologos do capitalismo selvagem.
Traição à
Pátria, o que é ?
Compromisso.
Trair significa quebrar um compromisso. Qualquer país assenta num compromisso
entre os seus membros actuais com outros das gerações que os precederam. Um
compromisso que é assumido por cada nova geração, no qual se comprometem a
preservar e ampliar os bens comuns (materiais, intangíveis, etc) que lhes foram
foram legados pelas gerações anteriores.
Um país
como Portugal, é uma formidável obra colectiva construída ao longo de muitos
séculos, fruto do sacrifício, vontade, trabalho, criatividade e afecto de
milhões de pessoas. Cada português é o herdeiro de um imenso património que
nenhum homem por si só seria capaz de criar e manter.
O processo de socialização,
isto é, a integração de um individuo desde que nasce numa dada comunidade, é
a forma mais imediata de tornar conscientes aos novos membros dos compromissos
que possuem com a comunidade que fazem parte. O acesso à cidadania é a plena
consciência das implicações éticas e políticas destes compromissos
colectivos. Neste sentido, os regimes democráticos são aqueles que se revelam
mais ajustados há assunção destes compromissos, porque asseguram a igualdade
e liberdade de todos os cidadãos nas deliberações sobre o seu futuro
colectivo.
Abandono.
O individuo que por uma razão qualquer abandona o seu país, não é nenhum
traidor. A mudança de país é um direito que assiste a qualquer cidadão do mundo.
Contudo, ao mudar de comunidade muda também de compromisso, passando a assumir
de novas responsabilidades pois passa a desfrutar de bens que sucessivas
gerações de outros países criaram e lhe são agora
proporcionadas.
Traição.
A traição surge quando um membro de um dada comunidade onde nasceu ou foi
acolhido, deliberadamente e através de acções conscientes concorre para
quebrar os laços de confiança, respeito mútuo e solidariedade
que unem os membros de uma comunidade, colocando em perigo o seu futuro
colectivo.
O iberista é um
traidor, porque de forma deliberada procura destruir os afectos que unem os
portugueses ao seu país (patriotismo), quebrando a ligação entre as
gerações e minando a confiança no futuro de Portugal.
Os políticos iberistas
tem neste aspecto um dupla responsabilidade. Primeiro porque são cidadãos
portugueses e depois porque os seus concidadãos lhes deram o seu voto de
confiança para os conduzirem no seu esforço colectivo de preservação e
melhoria do que receberam de gerações anteriores.
Carlos Fontes
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