Algarve e Cristovão Colombo
Colombo conhecia muito bem toda a
costa algarvia, quando foi para Castela fixou-se numa região da Andaluzia, que
ficava a curta distância do Algarve. Muitos dos marinheiros desta região que
participarem nas suas viagens, embora sejam frequentemente identificados como
espanhóis eram na realidade portugueses ou de ascendência portuguesa.
Mais
Numa carta mais intima que dirige ao
seu filho Diego Colón (Sevilha, 1/12/1504), indica que uma caravela que partiu
de Santo Domingo (Hispaniola) chegou ao Algarve, como sendo o local a partir do
qual obteve a informação.
O Algarve até ao final do seculo XV,
devido à sua posição geográfica (6),
desempenhou um papel fundamental na expansão marítima de Portugal. Em certo
sentido foi lá que tudo começou (2):
Os seus
pescadores, marinheiros e construtores navais
algarvios acumulavam, no século XV, uma longa e sólida experiência náutica. Gil
Eanes, natural de Lagos, é um dos seus maiores símbolos.
Os vários portos do Algarve
(Alcoutim, Castro Marim, Faro, Alvor, Silves, Portimão, Lagos, etc), constituíram
nesta época a estrutura logística indispensável para sustentar os descobrimentos marítimos e
as várias conquistas no Norte de Africa.
A proximidade ao norte de África,
ao estreito de Gibraltar (porta de entrada e saída do Mediterrâneo), mas também
a sua vizinhança com a Andaluzia, foram factores que estimularam o comércio
marítimo, as viagens de longas distâncias, mas também a própria
expansão.
Não nos podemos esquecer que as costas do Algarve eram pontos
de escala obrigatório dos navios que vindos do Mediterrâneo se dirigiam para o
Norte da Europa e vice-versa. A passagem do cabo de S. Vicente
obrigava frequentemente os navios a longas esperas junto ao mesmo, até que surgissem
ventos propícios para o ultrapassarem.
A abertura do Algarve ao mar,
expunham-no mais do que que qualquer outra região de Portugal a ataques de
corsários e piratas, que saqueavam as povoações e faziam milhares de cativos
(3), obrigando as suas populações a uma permanente vigilância, mas também
levando-a a desenvolver as artes da guerra. Os algarvios eram recrutados à força
em grande número para as conquistas no norte de África, mas também para a sua
defesa(4).
Foi por todas estas razões que entre 1415 e 1460,
o Infante D. Henrique, Duque de Viseu
e mestre da Ordem de Cristo (5), fez do Algarve a sua base de apoio para
desenvolver e dirigir forma sistemática os descobrimentos geográficos,
dando um impulso igualmente decisivo à colonização das ilhas dos Açores,
Madeira e Cabo Verde.
Colombo revela nos escritos um profundo conhecimento do Algarve,
região onde se inicia a sua mítica "chegada" a Portugal.
1. Cabo de São Vicente
Este era a principal referência para
os seus cálculos de navegação e sobre o globo terrestre, aparece também associado a actividades
corsárias.
Estabelece as suas coordenadas a
partir do Cabo (Diário, 27/2/1493). A 14 de Setembro de 1494, estando na ilha de
Saona (junto a Hispaniola), quando ocorreu um eclipse solar calcula a distância
entre esse ponto e o Cabo S. Vicente. Calcula a distancia de Catigara (China) a
este cabo (Textos, 488). A posição de Odemira, tem como referências extremas
Lisboa e o Cabo S. Vicente (Hernando Colon, ob.cit, cap.LXIII).
Este Cabo, os Açores, Cabo Verde e a
Serra Leoa são os seus pontos fundamentais para imaginar a forma da Terra
(Textos, 377).
Faz referencia a um ataque de
corsários franceses a um navio que ia Palos para Lisboa, carregado de trigo
(28/5/1498). A presença destes corsários leva-o a adiar a partida para a sua
terceira viagem à América. Dá conta que a sua rota habitual para as
Canárias era na direcção do Cabo de S. Vicente (Textos, 369), o que fora
obrigado a alterar. Seguiu então na direcção da Ilha da Madeira (Textos, 384).
Trata-se de uma desconexa explicação para justificar a sua longa visita às Ilhas
de Porto Santo e da Madeira.
O aparecimento de indicios a terras
e povos a Ocidente são referenciados a partir do Cabo de S. Vicente. Um
piloto do rei de Portugal - Martim Vicente - encontrou a 450 léguas a
poente deste cabo um pedaço de madeira lavrado, não com ferro (Hernando Colon,
ob. cit, cap. 9).
Faz uma descrição do próprio cabo de
S. Vicente (Diário, 1/1/1493),
A célebre historieta do naufrágio de
Colombo, em 1476, num ataque corsário a navios genoveses, teria ocorrido entre
Lagos e o Cabo de S. Vicente. Hernando Colon situa o naufrágio entre o Cabo de
S. Vicente e Lisboa.
2. Vila do Infante. Raposeira
3. Faro
No regresso da sua primeira viagem
às Indias (América), depois de sair de Lisboa, fez questão de ir a Faro.
Mais
No 13
de Março de 1493, pelas oito horas da manhã, com a maré enchente e o vento
de Noroeste levantou as ancoras e fez-se à vela para ir para Sevilha. A verdade
é que passou todo o dia em Lisboa, pois regista no dia seguinte (14 de Março):
"Ontem, depois do sol posto, seguiu o seu caminho para sul, e achou-se antes do
sol nascer sobre o Cabo de S. Vicente, que é em Portugal".
O dia 14 de Março foi passado na
cidade de Faro (Portugal),
onde só saiu no dia depois do pôr do sol.
Neste dia teve mais do que tempo
para visitar a vila da rainha Dona
Leonor de Lencastre e antiga vila dos
Conde de Faro, mas também de
alguns dos seus familiares.
Só no dia 15
de Março, pelo meio-dia, com a maré a montante entrou pela barra de
Saltés (Espanha)
4. Tavira
Tavira fazia parte dos domínios da
Ordem de
Santiago de Espada, a que estava ligado
Cristovão Colombo. Não admira pois, a multiplas referências a esta cidade
algarvia.
João Arias, grumete, português. Era
filho de Lope
Arias de Tavira (Algarve).
Consta da relação dos que foram pagos (1).
No regresso, em Março de 1493, um
familiar deste marinheiro - Pedro
de Tavira -
foi enviado por Colombo para a Galiza para informar os marinheiros e armadores
dos diversos portos que estavam proibidos de irem por sua livre iniciativa às
Indias.
Colombo apenas confia em portugueses
para esta missão. Como verificamos pelo menos três portugueses de uma mesma
família são citados a propósito desta primeira viagem às Indias. Estamos perante
mais uma demonstração do seu empenho, antes e depois no sucesso da primeira
viagem espanhola às Indias....
Recorde-se que o navio de Pizón,
perdeu-se durante a viagem de regresso e foi parar às costas da Galiza. Colombo
temia que o mesmo tivesse divulgado informações inconvenientes. Na Corte
espanhola, Alvaro de Bragança, chama também a si o controlo da família Pinzon.
Tavira aparece associada à ilha que um seu
morador e navegante - Vicente Dias
- teria descoberto a Ocidente. Uma história narrada por Hernando Colon (Colon,
cap. 9) e Las Casas (Hist. das Indias, Livro I, cap.13).
Outras das personagens ligadas a Tavira e
referidas nos escritos é a família
Corte Real, exploradores da Terra dos
Bacalhaus. Mais
p.
5. Lagos
Lagos pertencia ao Infante D.
Henrique, onde passou uma boa parte da sua vida.O infante era uma referência incontornável,
nomeadamente para datar expedições a Ocidente (Hernando Colon, ob.cit, cap. 9).
A vila e a fortaleza de Lagos foram dadas também à
rainha dona Leonor, com quem
Colombo se encontrou, em Março de 1493, no Convento de Santo António da
Castanheira.
Era também o principal porto dos
corsários e piratas portugueses, muitos dos quais foram apoiar o Duque de
Coimbra, mestre da Ordem de Aviz, quando este se tornou rei da Catalunha e
de Valência. Recorde-se que Colombo, pouco depois andou também a combater no
Mediterrcontra
Fernando de Argão e tinha como bandeira pessoal a cruz verde da
ordem de Aviz. Mais
Lagos foi também uma das bases do
célebre corsário - Colon,
o Moço - que Hernando
Colon afirma ser parente de Cristovão Colombo e com o qual andou no saquear, por exemplo, navios genoveses. Foi daqui que este corsário conduziu D.
Afonso V a França, e partiu, em 1476, acompanhado de Pedro de Ataíde, a
saquear navios genoveses. Nesta mítica batalha Colombo terá naufragado.
6. Silves
A família da esposa de Colombo -
Filipa Moniz Perestrelo - eram originários de Silves.
Mais
Carlos Fontes. |