Carlos Fontes

 

 

  

Cristovão Colombo, português ?

 

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44. Lugares de Colombo em Portugal

 

 

Açores e Cristovão Colombo

 

Este arquipélago pertencia aos Duques de Beja-Viseu. Antes de 1492 Colombo tinha seguramente um profundo conhecimento dos Açores e do seu mar.

a) Conhecimento

Para a convicção de Colombo que existiam terras a Ocidente, contribuiu de decisiva "las muchas histórias que oía contar a distintas personas y marineros que traficaban en las islas y los mares ocidentales de las Azores y Madera.", como escreve Hernando Colon (Hist. del Almirante, cap.IX).

Estes relatos transmitiam-lhe informações precisas sobre expedições realizadas, indícios recolhidos, avistamentos de ilhas, ventos, correntes marítimas, ervas, aves e seus comportamentos, etc. Informações que Colombo nunca deixou de estar particularmente atento. Ao contrário do que vulgarmente se afirma, tinha conhecimento preciso das diferentes ilhas.

Fenómenos que se podiam observar a mais de 100 léguas a Ocidente dos Açores (H.C., cap.LXIII). Esta distância serve-lhe de referência para propor aos reis espanhóis o estabelecimento de um meridiano de divisão do Atlântico (1493).

O conhecimento e experiência que obteve na Madeira, Açores e nas Canárias, como escreve H. Colon (cap.LVIII) permite-lhe explicar certos fenómenos metereológicos da Jamaica ( 22 de Julho de 1494).

Colombo em Julho de 1498 compara, por exemplo, o que acontecia com as estrelas nos Açores e em Cabo Verde (H.C., cap.LXVI).

b) Navegação

Na primeira viagem estabeleceu a rota de regresso pelos Açores (1493), tendo-a seguido na segunda (1496) e também na quarta viagem (1504). A rota que se tornou corrente nas viagens entre a América e a Espanha.

Nos vários documentos que dele possuímos, podemos afirmar sem quaisquer dúvidas sabia calcular com enorme rigor a posição das várias ilhas do arquipélago dos Açores:

No dia 4/2/1493, regista no Dário de Bordo, que observando o tempo que fazia (céu turvado, tempo chuvoso e com algum frio), concluiu que ainda não estava no Açores:

"Tuvo el cielo muy turbado y llovioso y hizo algún frío, por lo cual diz que cognoscía que no avía llegado a las islas de los Açores.", Diário, 4/2/1493.

No dia 15/2/1493, quando é avistada terra, sem hesitações afirmou tratar-se dos Açores (H.Colon, cap.XXXVII).

Colombo no regresso da sua 1ª. viagem, entre os dias 4/2/1493 e 7/2/1493, embora não tenha aportado nas ilhas das Flores, do Faial ou a da Terceira, mostra todavia que as conhecia e sabia com exactidão a sua posição em pleno atlântico. Um facto que espantava a tripulação.

Na sua segunda viagem, no dia 28 de Setembro de 1493, identifica com rigor pássaros que vinham dos Açores e que iam invernar em Africa (H. Colon, cap.XLIV).

No regresso da segunda viagem, a 22/5/1496, identifica com rigor a sua posição em relação aos Açores, e depois a partir do mesmo arquipélago dirige-se directamente para Odemira (Vila Nova de Milfontes), na costa do Alentejo, onde chega a 8 de Junho de 1496.

Apesar destes factos, Colombo para os reis espanhóis apresentou cálculos falsos sobre as distâncias das Indias espanholas e inclusive da posição dos Açores.

c) Navegadores

Chamou a atenção para o facto de a partir dos Açores, os portugueses desde há muito estarem a fazer expedições para Ocidente (Caraibas, EUA e Canadá), registando várias destas expedições.

- Diogo de Teive. 

- A familia Corte Real aparece referenciada por Cristovão Colombo. O destaque principal vai todavia para dois irmãos - Gaspar e Miguel Corte Real, ambos nascidos em Angra do Heroísmo, na Ilha de Terceira, tendo-se notabilizado na exploração da Terra Nova (Canadá). Gaspar terá morrido, em 1501, numa expedição que fez à Terra dos Bacalhaus. Miguel desapareceu, em 1502, quando o procurava (Las Casas, Hist. Indias, Livro I, cap.13). A pedra de Dighton sugere que Miguel vivia, em 1511, entre indios na Nova Inglaterra.  Eram filhos de João Vaz da Costa Corte Real, natural de Tavira, o descobridor em 1472 da Terra dos Bacalhaus. A Duquesa D. Brites, a 2/4/74, deu-lhe como recompensa a capitania do sul da Ilha Terceira. 

d) Negócios

- Simón Verde

- Francisco de Bardi, casado com Violante Moniz Perestrelo Tinha ha negócios na Ilha da S. Miguel (1).

- Violante Moniz Perestrelo, a cunhada de Colombo, em casa da qual sempre viveu em Espanha. Em 1510, ainda andava a cobrar dividas de bens de Bardi em Ponta Delgada (2).

 

Ilha das Flores

Uma das ilhas açorianas mais referidas por Colombo. Primeiro nome desta ilha foi "S. Tomás", o nome que ele deu a uma das  ilhas que descobriu.

Colombo entre os muitos indícios da existência de terras e povos a Ocidente, que recolheu nos Açores, estão dois corpos foram encontrados nestas ilhas. Eram de homens, cujas "caras" e "gestos" só de não cristãos (Las Casas, Livro I, cap.13)

Na narrativa de Colombo, destaca-se o navegador Diogo Teive que, em 1452, descobriu esta ilha. Um dos seus pilotos era Pero Vasques de Fronteira.

Ilha do Faial (Fayal)

Tudo nos leva a acreditar que Colombo conhecia eta ilha. No seu Diário de Bordo, a 6/2/1493, está associado o nome desta ilha à de "Sant Gregorio" (Textos, p.204), inexistente. Trata-se de um antigo nome pela qual era conhecida? Não sabemos.

Pessoas dos Açores, em especial das ilhas do Faial e da Graciosa, afirmavam que quando durante vários dias soprava ventos de poente, surgiam nestas ilhas pinhas, numa zona que se sabia não existirem pinheiros na ilha (H.Colon, ob. cit, cap.IX; Las Casas, Hist.Indias, Livro I, cap.13).

- A expedição de Diogo Teive, que levou como piloto Pedro Velasco e saiu desta ilha é particularmente referida. Este navegador terá estado muito perto de terras a Ocidente. (H. Colon, ob.cit., cap.IX; Las Casas, Hist. Indias, Livro I, cap.13). Nas confusões típicas de Las Casas, refere que um marinheiro chamado "Pedro Velasco, galego" terá estado na Terra dos Bacalhaus (Terra Nova, Canadá). A expedição é claramente a mesma de Diogo Teive.

- Ilha onde viveu Martim Behaim, genro de Joss Van Hurtere (Hagebroeskkasteel, Torhont,1430- Horta,1495), 1º. capitão donatário da ilha e a partir de 1482 também do Pico. Colombo usou os seus cálculos na primeira viagem.

Ilha da Graciosa.

Pedro Correia, capitão desta ilha (3), era casado com Iseu Perestrelo de Mendonça, irmã da esposa de Cristovão Colombo. Foi ele que lhe forneceu várias provas da existência de terras e povos a Ocidente. Viu em Porto Santo um pedaço de madeira lavrada e canas muitos grossas, as quais foram mandadas mostrar a Colombo por D. João II (Las Casas, Hist.Indias, Livro I, cap.13) 

Terá ficado também a residir nesta ilha - Bartolomeu Perestrelo (II), o irmão mais novo de Filipa Moniz (3).

Gaspar Frutuoso, pesquisando nos arquivos desta ilha, descobriu documentação que mostrava que o primeiro nome de Colombo era Pedro.

Ilha Terceira

A ilha da Terceira aparece também associada às expedições de Colombo, parecendo nos seus escritos ou nos que nos chegaram de Hernando Colon e Bartolomé de Las Casas.

Um piloto português - Vicente Dias, vizinho de Tavira, vindo a Guiné para a Ilha da Terceira, no percurso afastou-se para Ocidente e viu uma ilha.  Ao chegar à Terceira revelou o segredo ao mercador genovês - Lucas de Cazana. Pediram autorização ao rei para fazerem uma expedição para a des, e tentarem obter descobrir. Tentaram obter em Sevilha uma nau, mas sem êxito. Terão feito 3 ou 4 expedições  navegado para Ocidente, mas nada descobriram (Las Casas, Hist. Indias, Livro I, cap. 13).

Os irmão Corte-Real, filhos do capitão da ilha terceira, são particularmente referidos pelas expedições que realizaram para Ocidente, até que se perderem (Las Casas, Hist. Indias, Livro I, cap.13).

Ilha de São Miguel

No dia 21/2/1493 pretendeu visitar esta ilha, por considerar que o clima seria melhor, mas devido ao mau tempo que encontrou o percurso e impreparação da tripulação, voltou para a Ilha de Santa Maria.

Violante Moniz Perestrelo, cunhada de Colombo, foi casada Francisco de Bardi  que tinha negócios na ilha de S. Miguel, e em particular na em Ponta Delgada.

Ilha de Santa Maria

Aportou aqui a 17/2/1493  o capitão da ilha afirma que o conhecia muito bem. Voltou a Santa Maria a 20/5/1496, tendo partido a 24/2, dirigindo-se directamente para Lisboa.

Colombo, o Pombo dos Açores ?

Moses Bensabat Amzalak, em 1927, chamou à atenção para o facto do pseudónimo Colombo, "isto é, "Pombo" em português, poder ter sido criado a partir de uma ilha açoriana. Nos mapas do século XIV,  uma ilha dos Açores aparece mencionada como a ilha "Columbi" (a ilha do Pombo ou dos Pombos):

- O "Libro del conoscimiento", manuscrito de um frade mendicante de Sevilha (?), datado de 1345, menciona a ilha da "Colombaria" (ilha do Pico?).

- O atlas Laurentino- Mideceu, datado de 1351, existente na biblioteca Medicea Laurenziana, em Florença, menciona a ilha "Ave de Colombis" (ilha do Pico?)

- O atlas catalão, de Jahude Cresques, datado de 1375, da BNF (Paris), nomeia a "insula dei columbi"  (ilha de Santa Maria?).

- O atlas Pinelli- Walckenaer, datado de 1384, na British Library, representa também a ilha Columbi nos Açores (Ilha de Santa Maria?).

Tratam-se de ilhas míticas, cujo conhecimento real das mesmas é difícil de comprovar. A escolha do pseudónimo de "Colombo" (Pombo, em português), associava-o não apenas aos Açores, mas também à descoberta de ilhas no Atlântico. 

Não nos podemos esquecer que o Espirito Santo (representado por uma pomba), ser objecto de particular devoção de Cristovão Colombo, e constituir uma das principais manifestações da religiosidade açoriana.

 

Carlos Fontes.

 

 

Notas:

(1)Varela, Consuelo - Colón y los Florentinos. pp.97-101 . Idem, Los Negocios de Amigos e familiares de Cristobal Colón en los archipelagos de Madeira, Canárias e Açores, in, Actas de III Colóquio Internacional de Historia da Madeira, Funchal, 1966, p.48

(2) Varela, Consuelo, ob. cit., p.104-105.

(3) Pinto, Segismundo; Lamas de Mendonça, Manuel - Quatro Povoadores Açorianos. Muitas Perguntas e poucas respostas. in, Atlântida, Vol. L. 2005. pp. 139 e segs.

 

 

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