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Açores e Cristovão Colombo
Este arquipélago
pertencia aos Duques de Beja-Viseu. Antes de 1492 Colombo tinha seguramente um
profundo conhecimento dos Açores e do seu mar.
a) Conhecimento
Para a convicção de
Colombo que existiam terras a Ocidente, contribuiu de decisiva "las muchas
histórias que oía contar a distintas personas y marineros que traficaban en las
islas y los mares ocidentales de las Azores y Madera.", como escreve Hernando
Colon (Hist. del Almirante, cap.IX).
Estes relatos
transmitiam-lhe informações precisas sobre expedições realizadas, indícios
recolhidos, avistamentos de ilhas, ventos, correntes marítimas, ervas, aves e seus
comportamentos, etc. Informações que Colombo nunca deixou de estar
particularmente atento. Ao contrário do que vulgarmente se afirma, tinha
conhecimento preciso das diferentes ilhas.
Fenómenos que se
podiam observar a mais de 100 léguas a Ocidente dos Açores (H.C., cap.LXIII).
Esta distância serve-lhe de referência para propor aos reis espanhóis o
estabelecimento de um meridiano de divisão do Atlântico (1493).
O conhecimento e
experiência que obteve na Madeira, Açores e nas Canárias, como escreve H. Colon
(cap.LVIII) permite-lhe explicar certos fenómenos metereológicos da Jamaica ( 22
de Julho de 1494).
Colombo em Julho de
1498 compara, por exemplo, o que acontecia com as estrelas nos Açores e em Cabo Verde (H.C.,
cap.LXVI).
b) Navegação
Na
primeira viagem
estabeleceu a rota de regresso pelos Açores (1493), tendo-a seguido na segunda
(1496) e também na quarta viagem (1504). A rota que se tornou corrente nas
viagens entre a América e a Espanha.
Nos vários
documentos que dele possuímos, podemos afirmar sem quaisquer dúvidas sabia
calcular com enorme rigor a posição das várias ilhas do arquipélago dos Açores:
No dia 4/2/1493,
regista no Dário de Bordo, que observando o tempo que fazia (céu turvado, tempo
chuvoso e com algum frio), concluiu que ainda não estava no Açores:
"Tuvo el cielo muy
turbado y llovioso y hizo algún frío, por lo cual diz que cognoscía que no avía
llegado a las islas de los Açores.", Diário, 4/2/1493.
No dia 15/2/1493,
quando é avistada terra, sem hesitações afirmou tratar-se dos Açores (H.Colon,
cap.XXXVII).
Colombo no regresso
da sua 1ª. viagem, entre os dias 4/2/1493 e 7/2/1493, embora não tenha aportado nas ilhas das Flores, do
Faial ou a da Terceira, mostra todavia que as conhecia e sabia com exactidão a
sua posição em pleno atlântico. Um facto que espantava a tripulação.
Na sua segunda
viagem, no dia 28 de Setembro de 1493, identifica com rigor pássaros que vinham
dos Açores e que iam invernar em Africa (H. Colon, cap.XLIV).
No regresso da
segunda viagem, a 22/5/1496, identifica com rigor a sua posição em relação aos
Açores, e depois a partir do mesmo arquipélago dirige-se directamente para
Odemira (Vila Nova de Milfontes), na costa do Alentejo, onde chega a 8 de Junho de 1496.
Apesar destes
factos, Colombo para os reis espanhóis apresentou cálculos falsos sobre as
distâncias das Indias espanholas e inclusive da posição dos Açores.
c) Navegadores
Chamou a atenção
para o facto de a partir dos Açores, os portugueses desde há muito estarem a
fazer expedições para Ocidente (Caraibas, EUA e Canadá), registando várias
destas expedições.
- Diogo de Teive.
- A familia Corte
Real aparece referenciada por Cristovão Colombo. O destaque principal vai
todavia para dois irmãos - Gaspar e Miguel
Corte Real, ambos nascidos em Angra do Heroísmo, na Ilha de Terceira,
tendo-se notabilizado na exploração da Terra Nova (Canadá). Gaspar terá morrido,
em 1501, numa expedição que fez à Terra dos Bacalhaus. Miguel desapareceu, em
1502, quando o procurava (Las Casas, Hist. Indias, Livro I, cap.13). A pedra de
Dighton sugere que Miguel vivia, em 1511, entre indios na Nova Inglaterra.
Eram filhos de João Vaz da Costa Corte Real, natural de Tavira, o
descobridor em 1472 da Terra dos Bacalhaus. A Duquesa D. Brites, a 2/4/74,
deu-lhe como recompensa a capitania do sul da Ilha Terceira.
d) Negócios
- Simón Verde
- Francisco de Bardi,
casado com Violante Moniz Perestrelo Tinha ha negócios na Ilha da S. Miguel (1).
- Violante Moniz Perestrelo,
a cunhada de Colombo, em casa da qual sempre viveu em Espanha. Em 1510, ainda
andava a cobrar dividas de bens de Bardi em Ponta Delgada (2).
Ilha das Flores
Uma das ilhas
açorianas mais referidas por Colombo. Primeiro nome desta ilha foi "S. Tomás", o
nome que ele deu a uma das ilhas que descobriu.
Colombo entre os
muitos indícios da existência de terras e povos a Ocidente, que recolheu nos
Açores, estão dois corpos foram encontrados nestas ilhas. Eram de homens, cujas
"caras" e "gestos" só de não cristãos (Las Casas, Livro I, cap.13)
Na narrativa de
Colombo, destaca-se o navegador Diogo Teive que, em 1452, descobriu esta ilha. Um dos seus pilotos era
Pero Vasques de Fronteira.
Ilha do Faial (Fayal)
Tudo nos leva a
acreditar que Colombo conhecia eta ilha. No seu Diário de Bordo, a 6/2/1493,
está associado o nome desta ilha à de "Sant Gregorio" (Textos, p.204),
inexistente. Trata-se de um antigo nome pela qual era conhecida? Não sabemos.
Pessoas dos Açores,
em especial das ilhas do Faial e da Graciosa, afirmavam que quando durante vários dias soprava
ventos de poente, surgiam nestas ilhas pinhas, numa zona que se sabia não
existirem pinheiros na ilha (H.Colon, ob. cit, cap.IX; Las Casas, Hist.Indias,
Livro I, cap.13).
- A
expedição de Diogo Teive, que levou como piloto Pedro Velasco e saiu desta ilha
é particularmente referida. Este navegador terá estado muito perto de terras a
Ocidente. (H.
Colon, ob.cit., cap.IX; Las Casas, Hist. Indias, Livro I, cap.13). Nas confusões
típicas de Las Casas, refere que um marinheiro chamado "Pedro Velasco, galego"
terá estado na Terra dos Bacalhaus (Terra Nova, Canadá). A expedição é
claramente a mesma de Diogo Teive.
- Ilha onde viveu
Martim Behaim, genro de Joss Van Hurtere (Hagebroeskkasteel, Torhont,1430-
Horta,1495), 1º. capitão donatário da ilha e a partir de 1482 também do Pico. Colombo usou
os seus cálculos na primeira viagem.
Ilha da
Graciosa.
Pedro Correia,
capitão desta ilha (3), era casado com Iseu Perestrelo de Mendonça, irmã da esposa de Cristovão Colombo.
Foi ele que lhe forneceu várias provas da existência de terras e povos a
Ocidente. Viu em Porto Santo um pedaço de madeira lavrada e canas muitos
grossas, as quais foram mandadas mostrar a Colombo por D. João II (Las Casas,
Hist.Indias, Livro I, cap.13)
Terá ficado também a
residir nesta ilha - Bartolomeu Perestrelo (II), o irmão mais novo de Filipa
Moniz (3).
Gaspar Frutuoso,
pesquisando nos arquivos desta ilha, descobriu documentação que mostrava que o
primeiro nome de Colombo era Pedro.
Ilha Terceira
A ilha da Terceira
aparece também associada às expedições de Colombo, parecendo nos seus escritos
ou nos que nos chegaram de Hernando Colon e Bartolomé de Las Casas.
Um piloto português
- Vicente Dias, vizinho de Tavira, vindo a Guiné para a Ilha da Terceira, no
percurso afastou-se para Ocidente e viu uma ilha. Ao chegar à Terceira
revelou o segredo ao mercador genovês - Lucas de Cazana. Pediram autorização ao
rei para fazerem uma expedição para a des, e tentarem obter descobrir. Tentaram
obter em Sevilha uma nau, mas sem êxito. Terão feito 3 ou 4 expedições
navegado para Ocidente, mas nada descobriram (Las Casas, Hist. Indias, Livro I,
cap. 13).
Os irmão Corte-Real,
filhos do capitão da ilha terceira, são particularmente referidos pelas
expedições que realizaram para Ocidente, até que se perderem (Las Casas, Hist.
Indias, Livro I, cap.13).
Ilha de São
Miguel
No dia 21/2/1493
pretendeu visitar esta ilha, por considerar que o clima seria melhor, mas devido
ao mau tempo que encontrou o percurso e impreparação da tripulação, voltou para
a Ilha de Santa Maria.
Violante Moniz
Perestrelo, cunhada de Colombo, foi casada Francisco de Bardi
que tinha negócios na ilha de S. Miguel, e em particular na em Ponta Delgada.
Ilha de Santa
Maria
Aportou aqui a
17/2/1493 o capitão da ilha afirma que o conhecia muito bem. Voltou a
Santa Maria a 20/5/1496, tendo partido a 24/2, dirigindo-se directamente para
Lisboa.
Colombo, o Pombo
dos Açores ?
Moses Bensabat
Amzalak, em 1927, chamou à atenção para o facto do pseudónimo Colombo, "isto
é, "Pombo" em português, poder ter sido criado a partir de uma ilha
açoriana. Nos mapas do século XIV, uma ilha dos Açores aparece
mencionada como a ilha "Columbi" (a ilha do Pombo ou dos Pombos):
- O "Libro del conoscimiento", manuscrito de um
frade mendicante de Sevilha (?), datado de 1345, menciona a ilha da "Colombaria"
(ilha do Pico?).
- O atlas Laurentino- Mideceu, datado de 1351,
existente na biblioteca Medicea Laurenziana, em Florença, menciona a ilha "Ave
de Colombis" (ilha do Pico?)
- O atlas catalão, de Jahude Cresques, datado de
1375, da BNF (Paris), nomeia a "insula dei columbi" (ilha de Santa
Maria?).
- O atlas Pinelli- Walckenaer, datado de 1384, na
British Library, representa também a ilha Columbi nos Açores (Ilha de Santa
Maria?).
Tratam-se de ilhas míticas, cujo conhecimento
real das mesmas é difícil de comprovar. A escolha do pseudónimo de "Colombo"
(Pombo, em português), associava-o não apenas aos Açores, mas também à
descoberta de ilhas no Atlântico.
Não nos podemos esquecer
que o Espirito Santo (representado por uma pomba), ser objecto de particular devoção de Cristovão
Colombo, e constituir uma das principais manifestações da religiosidade açoriana.
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Carlos Fontes.
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