Arquipélago da Madeira e Cristovão
Colombo
A Madeira, cujo domínio pertencia ao
Ducado de Viseu-Beja ,
desempenhou no século XV um papel destacado nas explorações e conquistas
marítimas dos portugueses, em particular no apoio às suas praças fortes do
Norte de África, disputa das Canárias, na exploração de toda a Africa Ocidental,
mas também de terras a Ocidente.
Nos portos do Funchal, Machico e
Porto Santo, podia-se não apenas reparar navios, mas também abastecê-los de
cereais, cevada (para os cavalos), lenha, água, vinho, mel e frutos. Funcionou
como um verdadeiro laboratório para os modelos de ocupação dos novos territórios
descobertos no Atlântico.
Colombo tinha profundas ligações ao
arquipélago da Madeira, :
.
a ) Familiares. A mais
referida ligação é de natureza familiar. A sua esposa - Filipa Moniz Perestrelo
-, era filha de Isabel Moniz e e de Bartolomeu Perestrelo foi capitão e 1º.
donatário da Ilha de Porto Santo. Filipa Moniz terá provavelmente nascido
em Porto Santo. O certo é que Isabel Moniz depois da morte do esposo
(1457) vendeu os direitos sobre Porto Santo ao marido de uma das suas enteadas -
Pedro Correia da Cunha -, tendo
vindo para o continente.
Colombo após se ter casado com Filipa Moniz (c.1479), terá vivido na Ilha de Porto Santo algum tempo.
Las Casas, afirma que Diego Colon, 2º. Vice-Rei das Indias espanholas terá
nascido em Porto Santo (7).
b ) Conhecimento.
A outra ligação, não menos importante, são as informações que obteve nas ilhas
da Madeira e de Porto Santo sobre terras a Ocidente. As referências são
múltiplas:
- Isabel Moniz, segundo Hernando Colon, deu-lhe mapas e outros informações do seu marido sobre
expedições realizadas pelos navegadores da Casa dos duques de Beja-Viseu para
Ocidente (3). Um das questões que se coloca é onde terá dado estas informações.
Em Lisboa, no Paço do Lumiar ou na Ilha de Porto Santo ?
- Pedro Correia da Cunha,
capitão donatário de Porto Santo, e cunhado de
Colombo, foi outro dos que lhe deu informações e mostrou testemunhos,
como madeira lavrada e as célebres canas
que comprovavam a existência de terras a Ocidente (Hernando Colon, ob.cit,
cap.IX).
- Um piloto anónimo que,
antes de morrer nos seus braços na Ilha de Porto Santo, lhe passou a informação
do que vira a Ocidente. Uma história sobre a qual tem corrido muita tinta desde
o século XVI (5).
Colombo
não se cansa de referir outras informações que obteve de navegadores
estabelecidos na Madeira, e que realizaram viagens para Ocidente, tais como:
- Diogo de Teive. Em 1452,
este escudeiro do Infante D. Henrique fez duas expedições para Ocidente, tendo
atingido a Terra Nova (Canadá). Foi acompanhado por
Pedro Vasques de Fronteira
(4). O infante, em recompensa dos seus serviços autorizou-o a estabelecer
na Ilha da madeira um engenho de açucar. A partir de 1472 passou a residir em
Ribeira Brava. É natural que Colombo, tendo vivido e escaldo por diversas vezes
os portos da Madeira, tivesse contactado com este navegador ou o seu filho.
-
António Leme, da Ilha da Madeira, afirmava "tendo uma vez corrido com sua
caravela longo espaço ao poente, avistara três ilhas cerca de onde andava", que
se presume pertencerem ao arquipélago das Antilhas. O avistamento terá ocorrido
antes de 1484. Colombo anotou esta viagem, sendo a mesma referida por Las Casas
(Hist., Lib.1, cap.XIII) e Hernando Colón (Hist., cap.IX).
- Fernão Domingos do Arco,
morador da Ilha da Madeira - "foi pedir ao Rei uma caravela para ir descobrir
certa terra, que jurava que via cada ano e sempre de maneira" (carta régia,
20/6/1484). As terras situavam-se a Ocidente da Madeira, isto é, nas Antilhas.
Citado por Las Casas (Hist.,Liv.1, cap.XIII) e Hernando Colón (Hist.,cap.XI.)
Colombo refere
que estando em Portugal, no ano de 1484, se recorda de ter vindo alguém da
Madeira para pedir ao rei uma caravela para ir a uma terra que jurava que via
todos os anos no mesmo sítio e sempre da mesma maneira a Ocidente (Textos,98).
hal
- João Afonso do Estreito, morador no
Funchal. Em 1486, D. João II, autorizou-o a fazer com Fernão Dulmo da Ilha
Terceira (Açores), uma expedição para procurar terras a Ocidente. Os resultados
desta expedição foram transmitidos a Colombo, como refere Las Casas.
A Madeira, e em especial a Ilha do
Porto Santo estão desta forma no centro do segredo que levou à descoberta da
América.
c ) Navegação. Colombo refere
que navegou muitas vezes entre Lisboa e a Guiné, conhecendo profundamente o mar
da madeira, dos ventos, correntes e localização das suas ilhas.
Sobre uma destas viagens à Guiné,
escreve o seguinte: ..."Yo me e hallado traer dos naos y dexar la una en el
Puerto Sancto a hazer un poço en que se detuvo un día, e yo llegué a Lisboa ocho
días antes que ela, porque yo llevé tormenta de viento de Sudueste, y ella no
sintió sino poco viento Nornordeste, qu`es contrario, etc." (2).
Sobretudo na sua primeira viagem, a
localização da Madeira é tomada frequentemente como referência nas suas
navegações, nunca se confundindo sobre o seu posicionamento.
d
) Comercio. Os falsários
italianos a fim de ligarem Colombo a Génova, criarem um documento segundo o qual
este andava, por volta de 1478, a transportar açúcar entre a Madeira e Génova,
sem se perceber em que condição.
Mais
1. Ilha de Porto
Santo (Madeira)
Colombo tinha uma ligação especial a
Porto Santo, ao ponto de atribuir de logo da sua primeira viagem atribuir o seu
nome à foz d uma rio (1 de Dezembro de 1492). Outros nomes que atribuiu
correspondem igualmente a topónimos da ilha.
Não sabemos quantas vezes e durante
quanto tempo esteve nesta ilha. Duas destas estadias são particularmente
referidas:
A primeira foi logo após o seu casamento com
Filipa Moniz Perestrelo (1479 ?). A informação é dada por Hernando Colon e Las
Casas (1).
A segunda foi logo no inicio da 3ª. viagem às "Indias". Chegou ali no dia 7
de Junho de 1498, ouviu missa na Igreja de Nossa Senhora da Piedade (Vila
Baleira), abasteceu-se de água, lenha e outras coisas que necessitava (Hernando
Colon, ob.ct, cap.LXV), tendo-se
demorado pelo menos um dia, para matar saudades. Dirigiu-se depois para a Ilha da
Madeira. A
casa onde terá vivido, segundo a tradição, está hoje transformada num
"casa museu" que continua, por ignorância dos seus responsáveis, a
prestar um péssimo serviço ao conhecimento das relações deste navegador com
Portugal.
2. Ilha da
Madeira Antes
da sua primeira viagem às Indias, Colombo este certamente várias vezes na
Ilha da Madeira, nomeadamente nas diversas viagens que fez às costas da Guiné ao serviço do rei de Portugal. A
família da sua esposa eram os grandes senhores desta Ilha, assim como de Porto
Santo. Colombo
demonstra conhecer muito bem a Madeira e os seus produtos, ao ponto de propor,
em 1494,
aos reis católicos de Espanha que adquiram grandes quantidades de Mel da
Madeira, que considera o melhor alimento do mundo.
A última vez que
aqui esteve foi no inicio da 3ª. viagem à "India". Chegou a esta
ilha no dia 8 de Junho de 1498, sendo recebido de forma entusiástica pelos
seus familiares e a população. Esteve aqui durante seis dias
conversando com amigos, mas também reabastecendo os navios. Houve tempo para
tudo.
Apenas no dia 13 de Junho, a frota foi dividida, uma parte dos navios seguiu para
as Indias espanholas e a outra, comandada por Colombo, dirigiu-se para Cabo Verde.
O Funchal e Machico
eram seguramente locais que conhecia muito bem. Aqui viviam muitos familiares da
sua esposa.
Funchal:
As três casas que
segundo a tradição viveu foram todas destruídas, de forma a apagar qualquer
vestígio que o ligasse à Ilha da Madeira e a Portugal.
A principal ficava
na Rua do Esmeraldo ou Rua de Cristovão Esmeraldo, um navegador flamengo. Deste
edificio salvou-se uma janela do século XV, muito adulterada.
As duas outras casas
próximas de Igrejas - a Igreja do Socorro e a do Carmo -, mas a sua
localização é incerta.
Machico:
A sogra de Colombo -
Isabel Moniz -
provavelmente era natural de Machico. O seu pai - Vasco Martins Moniz de
Meneses, mudou-se de Silves para Machico.
Filipa de Mendonça,
filha de Catarina Furtado de Mendonça, e portanto irmã de Filipa Moniz, casou-se com João
Teixeira, filho de Tristão Vaz, 1º Capitão donatário de Machico.
O cunhado de Filipa
Moniz -
Pedro Correia da Cunha - casou-se por sua vez com Guiomar Teixeira, filha do
capitão donatário de Machico.
A existência de
muitos familiares de Colombo em Machico, terá sido uma das razões da forma
entusiástica como foi recebido na ilha
da Madeira em 1498.
Hernando Colon
recorda que durante o cerco de Arzila (1502), Colombo aproveitou para visitar os
seus familiares da Madeira que estavam cercados nesta praça do Norte de África.
3. Conflitos ?
Se D. João II
facilitou e apoio a primeira viagem de Colombo à America, tudo leva a crer
que um grupo de navegadores da Madeira não concordava com a estratégia do rei
português de dar aos espanhóis as terras descobertas a Ocidente.
Esta poderá ser a
explicação para o reparo do próprio Colombo. Em Agosto de 1493, informa os reis
espanhóis que havia saído da Ilha da Madeira uma caravela com destino às Indias
espanholas. Diz também que quando voltar às Indias, mandará navios na sua
perseguição :
"y cuanto á lo que desis vos
escribieron que el Rei de Portugal envió una carabela desde la isla de la Madera,
y que la quereis á enviar á buscar con parte de las carabelas que vos lleváredes
, muy bien nos paresce que así lo fagais" (20).
Numa carta datada de 5/9/1493, os
reis católicos informam-no que os embaixadores portugueses lhes haviam dito que
caravela que saiu da Ilha da Madeira não pertencia a D. João II, e este havia
mandado na sua perseguição três caravelas (19).
Os reis espanhóis confessam não
acreditarem nas palavras do rei português. Ordenam que nas Indias "se les tomem
los navios y personas que allá fueren". Uma
vez mais pedem-lhe que se apresse a regressar às Indias, coisa que parece não
ter pressa em fazer.
A estratégia de D. João II acabou por prevalecer,
e neste sentido, Colombo foi recebido em festa quando cinco anos depois visitou
a Madeira.
Carlos Fontes. |