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Geopolítica O
Brasil é hoje uma potência a nível mundial, decorrente sobretudo da sua
dimensão geográfica e demográfica, mais do que económica. Facto que exige
uma política externa cada vez mais global de modo a vencer os seus tradicionais
bloqueios, a fim de poder melhorar as condições de vida da
população.
As suas fragilidades
económicas do Brasil continuam a assentar na sua enorme dependência dos
agro-negócios (soja, café, açúcar, carnes, etc). Tratam-se de produtos de
baixo valor acrescentado e sujeitos a enormes flutuações nos mercados
internacionais. Basta um movimento especulativo nas bolsas internacionais, para
os rendimentos dos agricultores brasileiros caírem de forma brutal, levando à
miséria muitos milhões de pessoas. A única saída para esta situação é
diversificar os mercados de exportação, assim como o tipo de produtos
exportados. Mais
do que razões ideológicas, são estes problemas de fundo que explicam as
alianças estratégicas brasileiras à escala global. EUA.
O principal beneficiário da economia brasileira. Compra-lhe produtos baratos e
vende-lhe outros com enorme valor acrescentado. Os preços, estabelecidos em
dólares, são manipulados segundos os interesses americanos. Desde os anos 60
que o Brasil procura encontrar outros mercados alternativos, reduzindo esta
dependência. Os EUA, percebendo esta intenção brasileira, comum a outros
países da América Latina, procura integrar toda a América do Sul num mesmo
mercado livre (ALCA) reforçando as suas interdependências. O objectivo é
expandir para sul algo semelhante à NAFTA (EUA, Canadá, México). Esta
posição do Brasil face ao EUA suscita naturalmente cumplicidades em muitos
países do mundo, não apenas na américa-latina. Na Europa, a França, por
exemplo, procura igualmente incentivar o Brasil a assumir-se o líder do
"Terceiro Mundo" face à hegemonia norte-americana. É aliás o único
país na região que está em condições de o fazer, a questão é saber se
está interessado. América
Latina. O Brasil comunga de muitos dos
problemas dos restantes países da América Latina, nomeadamente a excessiva
dependência dos agro-negócios e do peso das empresas norte-americanas. Face a
estes países tem contudo alguns factores de enorme vantagem competitiva, como
uma maior dimensão geográfica, demográfica, apoiada numa forte unidade
cultural, assim como uma maior estabilidade social e política. O gigantismo do
Brasil tem gerado, entre os seus parceiros da América Latina, reacções
ambivalentes de atracção e receio. Desde
os anos 60 que procura expandir-se para esta região da América, criando um
vasto mercado de trocas comerciais. Um dos primeiros passos foi a criação da
Associação Latino Americana de Livre Comércio (ALALI), transformada depois na
Associação Latino Americana de Integração (ALADI), cujo principal resultado
foi uma redução dos controlo das pautas alfandegárias. Em meados dos anos 80,
o presidente Sarney, avançou com a articulação económica de alguns países
fronteiriços (Argentina, Paraguai e Uruguai), a que depois se agregou outros na
mesma região. O problema é a Argentina que se sente ameaçada pelo gigante
brasileiro, com o qual compete na maioria das suas exportações. O
Brasil assumiu-se hoje claramente como o líder da América do Sul, não
hesitando em apoiar intervenções militares noutros países da região (Haiti).
Os discursos ideológicos aliam-se frequentemente a medidas grande pragmatismo.
É curioso recordar que a actual posição geopolítica do Brasil foi acordado
nos princípios do século XIX, entre Thomas Jefferson e Abade Correia da Serra
(embaixador português nos EUA): Os EUA seriam os líderes da norte América do
Norte e o Brasil na do sul. África.
O Brasil é o país fora de África com maior número de negros. Facto que não
deixa de pesar nas ligações deste país aos países africanos, em especial aos
grandes produtores de petróleo da África sub-sahariana (Nigéria, Angola, Guiné Equatorial,
etc). Referira-se que a maioria destes produtores se situam justamente na costa ocidental de África mesmo em frente
do Brasil. Europa.
O velho continente
consume cada vez mais produtos brasileiros, assim como recebe um número
crescente dos seus emigrantes. O Brasil procura aqui três coisas: 1.
Mercado para os seus produtos agro-precuários, diminuindo a sua dependência
dos EUA; 2. Investimentos para diversificar o seu tecido produtivo; 3.
Turistas (sol e praia ou turismo cultural). O problema são aqui os subsídios
à agricultura da União Europeia. O principal obstáculo é a resistência da
França e dos seus agricultores. Tal
como acontece com África, os brasileiros não deixarão de explorar e
rentabilizar as suas afinidades culturais ou ligações históricas com vários
países europeus (Portugal, França, Holanda, Itália, Suíça, Alemanha,
Austria, Espanha, Inglaterra, etc). Potências
Asiáticas. A China,
India e o Japão estão na mira do Brasil. O aumento das exportações
confirmam-no. No caso do Japão trata-se também de explorar os laços culturais
decorrentes de uma intensa emigração nipónica no século XX para o Brasil.
Para além disso, o que está em jogo é o estabelecimentos de alianças visando
reforçar o novo posicionamento do Brasil no mundo. Uma situação
estratégica privilegiada. CPLP.
Esta comunidade de países de expressão portuguesa, com mais de 230 milhões de
pessoas, unidas por uma história comum em todos os continentes, não deixa de
ser um forte contributo para potenciar relações comerciais e cumplicidades
várias. O objectivo do Brasil só pode ser neste aspecto muito realista: a
lusofonia só serve se permitir conquistar mercados e captar investimentos para
o seu desenvolvimento interno. Países
muçulmanos. A recente
cimeira com os países árabes, em Brasília, mostrou claramente que o Brasil
não pretende ser apenas uma potência regional. O objectivo da Cimeira
ultrapassou a simples questão das exportações e importações com o mundo
árabe. O
Brasil procurou mostrar é que é hoje uma potência à escala global, cumprindo
justamente a sua vocação histórica. É
neste contexto que se compreende a sua pretensão (legítima) a ter um lugar
permanente no Conselho de Segurança da ONU, organização da qual é um dos
principais financiadores. Carlos
Fontes
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