1.
As personagens de portugueses são raras
nas telenovelas brasileiras. As poucas que apareceram desde 1976 são
de mulheres, em tudo idênticas as célebres Marias das piadas brasileiras.
A sua indumentária é típica de uma minhota de um rancho folclórico do norte
de Portugal. Os cabelos são tapados por um colorido lenço, as saias são compridas com
cores muito vivas, etc. Estamos
perante um vestuário remonta no mínimo ao século XIX, mas que os canais de
televisão brasileiros apresentam como actual. O desconhecimento ou
ignorância é total.
2. O espectador
português fica todavia com a
sensação que o comum dos brasileiros está convencido que algures no
Brasil existem portuguesas que andam vestidas desta maneira. A situação é ainda mais cómica quando
colocamos a hipótese dos mesmos julgarem que as pessoas em Portugal andam vestidos
com os trajes de um rancho folclórico. Ninguém pode deixar de sorrir perante estas caricaturas
deslocadas no tempo e no espaço. A verdade é que os principais canais
de televisão brasileiros, como a Globo, exportam estas caricaturas para todo
o mundo. O mais
interessante de notar é que os brasileiros parecem estar convencidos do rigor
desta forma de vestir. Em cerca de 30 anos a indumentária das portuguesas
não mudou nas telenovelas. 3.
A hipótese mais imediata é que os brasileiros revelando uma enorme
ignorância entre a indumentária tradicional e o traje quotidiano. Para eles
uma mulher portuguesa anda sempre vestida como uma minhota, um escocês de
saias, um espanhol como um toureiro, um norte-americano de chapéu,
armado de pistolas e a cavalo, etc.. 4.
Outra não menos interessante é que estas caricaturas são dirigidas à
comunidade portuguesa do Brasil, prestando-lhe uma homenagem às suas
milenares tradições. A evocação dos ranchos folclóricos do Minho faria,
neste contexto algum sentido, porque foi desta região de Portugal que saíram
centenas de milhares de pessoas para criarem e desenvolverem o Brasil. 5.
Uma última hipótese é que as histórias e as personagens das
telenovelas brasileiras se dirigem a um público pouco letrado e ilustrado, que apenas
tem capacidade para compreender histórias simples e repetitivas e personagens
reduzidas à dimensão de caricaturas. Os ricos são sempre ociosos e
mentirosos, vivendo um vida de safadezas sempre rodeados de criados
intriguistas. Estes a única preocupação que têm na vida é casarem com os
patrões para resolverem os seus problemas de subsistência. Trata-se
em todo o caso de uma forma ultrajante de estimular a cultura do povo
brasileiro, já que neste lado do atlântico estas caricaturas são
divertidas, deixando todavia no ar uma dúvida: - será que os brasileiros que
acreditam mesmo naquilo que estão a ver na televisão?
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